Jornalistas
Aline Souza Amanda Bernardes Anna Beatriz Cipriano Elisa Diniz Érica Fontoura Felipe Takatsu Fernanda Roza Hugo Reis João Lobato Julianna Motter Mariana Lyrio Nestor Azevedo Patrícia Lélis Pedro Lins Pedro Ricardo Rafaela Soares Thaís Betat
Professores
Vivaldo Souza Bruno Nalon
Produção
Fernanda Roza
E
m Brasília, no primeiro semestre do ano de 2014, às vésperas da segunda Copa do Mundo sediada no Brasil, já com as primeiras movimentações sociais e políticas se preparando para as eleições, surge o desafio de preparar uma revista com reportagens especiais, literalmente. Com um cenário tão propício, e direcionado a determinados assuntos, sobre o que falar? Do que tratar sem cair no óbvio, na redundância? O que dizer do que já foi dito? O que do não-dito seria possível dizer? O desafio, na verdade, foi o de apurar o suficiente o olhar de futuro jornalista que há cada um de nós e nos perguntar: o que há por detrás, ao redor desses grandes eventos? O que acontece no cenário próprio da cidade, anterior, mas vizinho a eles? O grande ponto, afinal, não foi o de elaborar apenas uma revista, mas uma certa premissa do que está por vir em uma profissão que precisa, cada vez mais, encontrar caminhos para não ser encurralada em meio a um caleidoscópio de fontes e olhares. Não fugimos da Copa, fomos a procura de seus reflexos e expectativas na economia local. Nos questionamos sobre falhas em determinadas políticas públicas. Desmistificamos o lugar da arte, da mídia, dos esportes, da moda. Questionamos o espaço e a ocupação da cidade. Falamos de medicina e de educação. Também conhecemos pessoas que fazem de suas vidas uma maneira para ajudar vidas de outros. E são a essas não-esquinas de Brasília, esses não-becos, esses não lugares que esperamos levar nossos leitores.
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Ato falho do governo na implementação da coleta seletiva de lixo
Esportes alternativos ganham espaço na capital
A casa dos ninjas
Simplesmente, ajudar
Voluntários: doadores de esperança
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A educação financeira começa ainda na infância
O comércio do DF e a Copa do Mundo
Aplicativos ajudam no cuidado com a saúde
Medicina secular revolucionando o tratamento de doenças Oftamologia, a tecnologia de ponta em Brasília
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Aceitando a realidade
Bandas autônomas ocupam espaços públicos de Brasília
A arte que se esconde nas ruas
Moda em, de e para Brasília
Fast-fashion reduz espaço de moda autoral no DF
Ato falho do governo na implementação da coleta seletiva de lixo
por Mariana Lyrio
Se a coleta seletiva de lixo tivesse de ser explicada em um conjunto de palavras aleatórias, as descrições de muitas pessoas se assemelhariam a esta: sistema implantado pelo governo, ajuda ao meio ambiente, um caminhão verde com música e reciclagem. De fato, é basicamente isso. A coleta seletiva é um sistema de reciclagem que foi implantado em fevereiro deste ano pelo Governo do Distrito Federal (GDF) e, aparentemente, não passam de meras ilusões. Guilherme de Almeida, assessor especial do Sistema de Limpeza Urbana (SLU) do GDF, explica os primeiros passos da coleta seletiva: “Os resíduos da coleta seletiva são segregados pela população e dispostos para coleta conforme dia e horário. Após a coleta, os resíduos são encaminhados às cooperativas ou associações de catadores de materiais recicláveis para triagem.” No entanto, a reportagem
descobriu, no dia 23 de maio numa
visita guiada ao Lixão da Estrutural organizada por uma ONG de proteção ao meio ambiente, que havia uma enorme falha no passo a passo descrito pelo referido assessor. O Lixão da Estrutural é o maior da América Latina. Nele tem em média 2.500 catadores, que geram uma renda de aproximadamente dois milhões de reais por mês, de acordo com Ronei Alves, que trabalhou no local e hoje é representante do Movimento Nacional dos Catadores. Para ele, o governo do GDF deveria, entre outras tarefas, aprimorar a divulgação sobre a iniciativa de coletiva seletiva. Citou o exemplo da campanha que pede que todas as embalagens sejam lavadas antes de jogadas no lixo. Isso, segundo ele, não facilita a vida dos catadores e as embalagens passam por um processo de lavagem nas cooperadoras, algo do qual o governo não se preocupou. Procurado, o SLU não se manifestou a esse respeito. Segundo o caderno especial do Cor-
reio Braziliense de fevereiro intitulado “Um problema estrutural, há mais de 30 milhões de toneladas de dejetos acumulados no Lixão, num vasto terreno que ocupa na Estrutural. Por isso provoca certo choque que a área de depósito reservada para a Coleta Seletiva seja ínfima. Talvez porque seja um sistema de reciclagem de lixo implementado há razoavelmente pouco tempo pelo GDF. Além disso, o número de catadores é relativamente pequeno –cerca de apenas uma dezena. Durante a visita guiada, dois deles já estavam prontos a conversar com o grupo e relatar o seu testemunho sobre o trabalho diário que faziam no local. A primeira informação que surgiu da conversa com os catadores foi a de que o caminhão da coleta seletiva raramente aparecia. Uma catadora, que preferiu não dizer o seu nome por estar acanhada diante do tamanho do grupo, afirmou que, nas poucas ocasiões que o caminhão passava, trazia predominantemente rejeito (tipo específico de resíduo que não tem como ser reciclado), algo não prático para os catadores. Ela almeja ver mudanças por parte do governo. O mais grave das alegações dos catadores é o fato de que de acordo com a página institucional do SLU há regularmente a realização de coleta seletiva de lixo. Com base na tabela divulgada pelo orgão, a reportagem confirmou, nos dias 2, 16 e 23 de maio, que o caminhão da coleta seletiva passou na SQS 213. Se o caminhão está passando, mas os catadores alegam que o material não está chegando ao lixão, fica a pergunta: para onde o material está sendo levado?
Para onde ele está sendo levado?
Para esclarecer essa questão, Almeida foi consultado pela reportagem por meio de e-mails enviados nos dias 29 de maio e 16 de junho. Até o fechamento desta edição, ele não havia respondido. Deve-se ainda mencionar dados do Ministério do Planejamento Orçamento e Gestão, que demonstram que a ação “Elaboração e Implementação de Planos, Projetos, Obras e Equipamentos para a Coleta Seletiva de Resíduos Sólidos
Urbanos” tem um valor de dotação atual de R$ 500.000,00, mas o valor empenhado, liquidado e pago até agora, segundo a própria página institucional do orgão, consta como R$ 0,00. Por fim, chega-se à conclusão de que, embora a iniciativa seja válida, cabe ao GDF buscar identificar as falhas atuais do sistema para aprimorá-las e assim instituir algo verdadeiramente inovador na área de preservação do meio ambiente.
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Esportes alternativos ganham espaço na capital
“Todos os esportes que eu já pratiquei eu acabei perdendo a vontade de continuar porque as pessoas acabavam se tornando muito competitivas, e eu uso o esporte como lazer, como forma de me acalmar depois de
por Felipe Takatsu e Hugo Reis
dias de tanto trabalho. No SUP cada um vai à sua velocidade, no seu tempo e apreciando uma linda vista”.
Existem vários locais que alugam o material para a prática SUP. Clubes como a Asbac e Clube Naval oferecem um preço mais acessível para sócios: na Asbac os preços são R$25,00 para sócios e R$40,00 para não sócios para uma hora e meia de aluguel. Já no Clube Naval, para uma hora de aluguel, os preços são R$20,00 para sócios e R$30,00 para não sócios. Além do caiaque, o remo é imprescindível para a prática do esporte. Existem vários tipos e preços de caiaque, os preços de novos e usados variam entre R$1.000,00 e R$3.000,00. O praticante de caiaque, Eduardo Corrêa, encara o esporte como uma terapia: “Toda vez que eu entro no caiaque e esqueço os meus problemas, ou penso em soluções para eles. O caiaque é a minha terapia, eu relaxo, é impressionante, os três dias na semana que eu pratico o esporte, eu durmo muito melhor”. Os locais mais frequentados e com melhor estrutura da cidade se localizam na orla da Ponte JK e no Deck Norte no final da L4 norte
com preços de R$20,00 e R$10,00, respectivamente, para uma hora de aluguel. A empresa “Caiaque Sport” oferece serviços como passeios e excursões para pontos turísticos como a Ermida Dom Bosco, Ponte JK e a Barragem do Paranoá, além de aulas particulares ou em grupo. “Os passeios oferecidos pela Caiaque Sport são muito interessantes porque juntam o esporte, o bem-estar do corpo com o turismo de uma forma ainda não feita, vista de dentro do Lago” disse Marcelo Patuska dono da empresa. O slackline possui características bem diferentes das outras atividades. Para a prática do esporte, é preciso uma fita elástica específica, esticada entre dois pontos fixos, o que permite ao praticante andar e fazer manobras por cima dela. A fita específica do slackline custa entre R$160,00 e R$550,00. O slackline é praticado em parques e espaços livres como nos gramados em volta do eixão. Todos os sábados a partir das 15h em frente ao estacionamento 10 do Parque da Cidade, praticantes do esporte se reúnem e disponibilizam fitas para a prática gratuita do esporte. Lucas Lopes se apaixonou pelo esporte de forma curiosa:
“Eu sempre fui fã de esportes radicais e sou paraquedista. Eu estava caminhando no parque da cidade quando vi aquilo e pensei que era impossível fazer todos aqueles movimentos, mas um amigo me convidou, eu treinei e hoje faço e amo o esporte”.
M
uitos não sabem, mas Brasília virou uma cidade de pessoas que gostam de praticar esportes chamados alternativos, pois a maioria dos praticantes são pessoas que se exercitam dos mesmos apenas nos fins de semana. O slackline, o standup paddle e o mais conhecido deles: o caiaque. Para a prática do standup paddle, é preciso uma prancha específica para o esporte, e um remo próprio para a prática e um colete salva-vidas, para iniciantes. Todo o equipamento novo varia entre R$3.000,00 e R$7.000,00, mas é possível adquiri-lo usados por um preço mais acessível, que vai de R$1.500,00 até R$5.500,00. O equipamento varia muito o preço por conta da diferença entre eles. Existem equipamentos profissionais e equipamentos para iniciantes. Para Ana Luiza Valete, o esporte possui uma característica muito importante:
Praticantes de esportes alternativos colorem a nat
Os três possuem tanto benefícios psicológicos, quanto físicos. O principal objetivo dos praticantes dos mesmos é o equilíbrio, concentração, lazer, e o corpo é que agradece a prática desses exercícios e esportes. Vejam a seguir o que se ganha com a prática desses esportes
Psicologicamente:
De acordo com a psicóloga Júlia Pacheco, os esportes são bastante importantes para proporcionar a cada praticante equilíbrio e concentração. Nos três esportes o praticante precisa se concentrar em repetir movimentos, na maioria das vezes, iguais e precisos.
Equilíbrio: O equilíbrio é aplicado e estimulado, pois estar na fita do slackline, dentro do caiaque ou em cima da prancha de standup paddle (popularmente chamado de SUP), depende muito do corpo estar bem ajustado e bem alinhado. Com a postura corporal do corpo desalinhada, o praticamente não conseguirá se manter em pé na prática do slackline ou do SUP, por isso, o exercício ajuda e muito o praticante a ter equilíbrio emocional. Os primeiros não são fáceis, porém com o tempo isso torna-se superável.
Concentração:
A concentração é outro fator importantíssimo. Sem isso, o praticante não permanece muito tempo em cima da fita, da prancha, e não consegue se movimentar com tanta velocidade no caiaque. Justamente pelo os exercícios necessitarem do equilíbrio do corpo, isso automaticamente trabalha a concentração, ou seja, sem foco não há como obter êxito nos nesses esportes.
Fisicamente:
Além de trabalhar quase todo o corpo, toda a parte aeróbica é trabalhada: pernas, coxas, panturrilha, joelhos e acima de tudo o abdômen, então já se tira uma conclusão de que acima de tudo, perde-se barriga, define músculos e mantém de uma forma generalizada, todo o corpo em forma. Os braços e trapézio também são estimulados na ação de se equilibrar.
Para Geraldo Gama, professor de educação física, a concentração que pode ser obtida na prática esportiva, nos ajuda em nossas vidas:
“Mesmo para ações básicas e decisões do dia a dia a concentração é 100% necessária e os três esportes estão aí como mais uma fonte de ajuda desse item”.
tureza da capital federal nos fins de semana
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A Eles são jovens, ativistas, ante� nados, cibernéticos e moram jun� tos. Conheça a Casa das Redes Brasília, residência dos colabo� radores do coletivo Mídia NINJA
Eles são jovens, ativistas, antenados, cibernéticos e moram juntos. Conheça a Casa das Redes Brasília, residência dos colaboradores do coletivo Mídia NINJA Mídia Narrativas Independentes, Jornalismo e Ação (NINJA). Enquanto rede é composto por mais de 100 coletivos e soma, ao menos, 700 colaboradores em território nacional. Em Brasília, eles têm entre 24 e 34 anos, deixaram suas casas e vivem em um ambiente onde tudo é compartilhado: da sala ao banheiro, da comida ao dinheiro. Mas se engana quem acredita que a Casa das Redes é apenas mais uma república qualquer. Eles não compartilham espaço por neces-
sidade financeira ou por decisão individual, mas por um ideal comum: dar voz às minoras através da mídia livre. “Nossa missão é propor um jornalismo diferente, utilizando uma narrativa independente, sem os filtros convencionais dos jornais”, explica Fernanda Quevedo, uma das fundadoras do NINJA e moradora da Casa das Redes. Atualmente, nove moradores ocupam uma casa ampla no bairro da Asa Norte, com garagem para o carro coletivo, quartos, salas de reunião, cozinha, banheiros. Juntos, eles organizam a rotina e produção do coletivo. Em cada dia da semana alguém fica responsável por fazer café e almoço que
por Anna Beatriz Cipriano
casa dos ninjas sirvam a todos, como em uma casa normal. Ninguém tem salário ou conta pessoal, pois a Casa das Redes tem seu próprio banco. Os responsáveis recebem toda a receita da casa e fazem o gerenciamento das despesas. Se há uma necessidade pessoal, como a de comprar um tênis ou sair com os amigos, basta verificar se há dinheiro em caixa sobressalente, sem muita burocracia ou cerimônia. “A única coisa que a gente busca ter na hora de retirar algum valor é bom senso. Se você sabe que foi um mês de maiores despesas para a casa, certamente não vai pedir dinheiro para uma viagem, por exemplo”, explica Fernanda.
Um ou outro tem formação superior, mas a maioria optou por não ingressar na faculdade ou decidiu deixar o curso no meio do caminho. Fernanda admite que muitas pessoas ficam intrigadas com este fato, mas a verdade defende que todos buscam conhecimento de formas alternativas e, desta forma, estão conseguindo propor uma forma diferente de jornalismo. Toda a casa, de alguma forma, trabalha com Comunicação, seja no atendimento à imprensa, na atualização da página no facebook ou na relação com coletivos estrangeiros. Os colaboradores vieram do Mato Grosso, Amazonas, Acre, Rio de Janeiro e outros estados brasileiros.
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Nas estantes, livros sobre ditadura, comunicação social, culturas e literatura brasileira. Nas paredes, post-its revelam os nomes de colaboradores e apoiadores, frases de efeito e divisão de tarefas. Nos notebooks, adesivos ideológicos revelam a parcialidade do movimento. Há quem não entenda o porquê, nem como funciona essa casa ativista, mas eles garantem que convivem em harmonia justamente por compartilharem os mesmos ideais e convicções. Os colaboradores rebatem o comentário de que levam uma vida fácil e afirmam que tem compromissos e responsabilidades como qualquer outro trabalhador. Evitam saídas no meio da semana, acordam cedo e economizam para o bem comum. Em uma das salas de reunião, enquanto uma das meninas atende uma ligação em espanhol e Fernanda faz a atualização dos acontecimentos da manhã, Cleiton Nobre, jor-
Nascido do NINJA
Benjamim também é morador da Casa
das Redes, tem seu próprio cantinho e anda sempre despreocupado. Um bebê de um ano e sete meses. Filho de um casal de colaboradores NINJA, ele recebe atenção especial dos moradores da casa, que propõem novas atividades de recreação e acompanham o crescimento do Benjamim. Na parede da sala de recepção, um quadro com horários e sugestões de convivência com o pequeno. Apesar de ser a única criança da casa, Benjamim sente-se completamente à vontade para brincar e fazer sua bagunça. Na sala de recepção, uma caixa de brinquedos ganha sua atenção. Na varanda, por sua vez, o espaço amplo dá condições de que Benjamim brinque livremente e receba com sorrisos seus visitantes.
nalista de 27 anos, conta um pouco sobre a experiência de viver em uma casa coletiva. “Um dos maiores desafios é o desapego. Quem está acostumando a viver com pouco, sofre menos, mas aquele que vem com muito tem dificuldade de assimilar este estilo de vida”, explica. Cleiton explica que o clima não é de pura diversão como em uma república jovem, mas de comprometimento e engajamento com a missão social. Ele vive em coletivos de mídia desde 2009 e já passou pelas casas de Manaus, Belo Horizonte e Brasília. “Na vida, todo mundo busca fazer o que gosta, e viver aqui é uma experiência única. Estamos aqui por satisfação e realização pessoal”, acrescenta. Cleiton afirma que encontrou no coletivo uma alternativa de vida às das redações convencionais de comunicação e é muito feliz com esta decisão. O coletivo Mídia NINJA nasceu em abril de 2013 e ex-
perimentou uma rápida ascensão graças ao poder da internet. A página no facebook conta com mais de 200 mil seguidores e faz atualização em tempo real de manifestações sociais, decisões do poder legislativo e imagens de alta carga simbólica. Para a cobertura destes acontecimentos, quando possível, se dividem em cinco funções: fotógrafo, transmissor, auxiliar técnico, redator e base. Os quatro primeiros tem a missão de ir às ruas e enviar notícias e imagens à base, membro que fica em casa com internet estável para revisão do conteúdo e postagem. No entanto, não basta ser fotógrafo ou bom redator, a equipe NINJA trabalha de forma orgânica. Todos devem estar aptos para exercer qualquer uma destas funções em caso de necessidade.
Em tempo real Na quinta-feira (12), Karinny Magalhães, de 19 anos, cobria as manifestações em Belo Horizonte durante a abertura da Copa do Mundo quando foi detida pela polícia. Ela fazia a transmissão ao vivo dos acontecimentos no momento em que foi acusada de depredar o patrimônio público, diferente do que mostram as filmagens. Imediatamente, os coletivos de todo o Brasil foram mobilizados para a libertação de Karinny. Na Casa das Redes Brasília, Fernanda Quevedo e outros membros da casa passam a noite em claro acompanhando toda a articulação em Belo Horizonte.
Na manhã de sexta-feira, Fernanda recebe a notícia de que a jovem detida foi espancada na delegacia e que se encontra ferida, mas que advogados parceiros já cuidam do caso. Ao meio-dia, uma ligação da imprensa pedindo atualização dos acontecimentos com a jovem NINJA. O restante da sexta-feira foi assim, de monitoramento da situação, com atenção total a cada novo contato da capital mineira. Na madrugada seguinte, após horas de interrogatório e torturas, Karinny foi liberada e contou com detalhes seu período detida.
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Simplesmente, ajudar
por Aline Souza
A
s ONGs (Organizações não governamentais) possuem funções importantes na sociedade, seus projetos chegam a locais que são menos favorecidos, e em situação em que o Estado é pouco presente. Atuam em toda parte do mundo. São ações solidárias para grupos específicos, como crianças, idosos, meio ambiente e animais. A ONG I.S.D. S (Instituto Sobradinhense de Desenvolvimento Social), localizada na Fercal, área rural de Sobradinho-DF, tem um projeto com o propósito de formar grandes cidadãos. A ideia de ter uma ONG surgiu da Larissa Barbosa, esposa do proprietário da ONG. Ela já havia trabalhado em um projeto social e viu a necessidade que a Fercal tinha de ter uma ONG. O espaço onde é desenvolvido o projeto pertence ao seu sogro, que tem um contrato de comodato por um período de vinte anos, mas futuramente o objetivo é comprar o terreno. A ONG teve início em agosto de 2013. Nesse projeto participam crianças entre seis e quinze anos de idade. É um projeto com menos de um ano e conta com sessenta crianças e oito funcionários. Oferece duas vezes por semana no turno da manhã e a tarde aulas de karatê, artes, pedagogia e informática. Em breve, dará início a construção de campos de futebol e as crianças passarão a ter uma carga horária maior com a nova modalidade, o futebol.
“ Gosto de todas
as atividades, já fiquei um período fora do projeto, mas voltei. - Daniela da Costa
“
Daniela da Costa, 12, estuda no período da manhã e participa no turno da tarde de todas as atividades que a ONG oferece. Faz aulas de karatê, informática, artes e pedagogia. Está na ONG desde o inicio do projeto. “Gosto de todas as atividades, já fiquei um período fora do projeto, mas voltei”, diz a aluna. O projeto não tem ajuda do governo, mas pretende ter. Já foi feito um cadastro
na Secretaria de Desenvolvimento Social (Sedest), e estão aguardando para ser chamados. E estão investindo também em cadastramento em projetos liderados por outros órgãos como embaixadas e empresas privadas. No momento, a ONG é mantida com a ajuda de algumas padarias que fazem doações de pães e outros alimentos. Conta também com a ajuda do Ministério
Público, que já indicou trinta pessoas para doação de alimentos e prestação de serviços. E com recurso do presidente e proprietário da ONG, Luciano Santos. Ele afirma que, se tivessem maiores recursos, poderia receber até seiscentas crianças. Vale ressaltar que no momento são apenas sessenta crianças, e por causa do pouco recurso não pode receber mais crianças. Em agosto a ONG comple-
ta um ano de atividades. Tendo um custo mensal de mais de mil reais com passagens de funcionários, lanches, água, luz, matérias de expediente e outros. Sendo que a única doação que a ONG tem em dinheiro é de R$400,00 (quatrocentos reais) mensais de uma maçonaria, onde esse recurso é destinado para esses gastos. O projeto ainda não tem lucro. O único lucro é a satisfação de poder ajudar.
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Voluntários: doadores de esperanças
por Rafaela Soares e Amanda Bernardes
As estantes são cheias de
livros, uma cena normal quando se entra em uma biblioteca. Porém, ao se aproximar, podemos perceber que não são livros comuns já que as palavras são acompanhadas por pequenos relevos em forma de pontos aparentemente dispostos de maneira aleatória. E são esses pontos que preenchem as linhas de quase todo o acervo da Biblioteca Braille DorinaNowill. A biblioteca foi inaugurada em 17 de maio de 1995 e está localizada na CNB 1, em Taguatinga. É um local simples e que sofre com a falta de recursos: a internet é paga pelos próprios frequentadores, o único computador é ultrapassado, não há cadeiras ou mesas para estudo individual, as
aulas de braile oferecidas são ministradas em uma pequena mesa com apenas uma máquina de escrever. E foi neste ambiente que fomos recebidos por Nelson Alves dos Santos. A primeira característica que chama atenção são seus olhos, que ficam permanentemente fechados. Nelson perdeu a visão em um acidente. Sobre ele, Nelson se mostra reservado, fazendo comentários curtos e mudando a direção. Conforme a conversa foi se desenvolvendo, ele explicou que quando a pessoa fica cega, o aceitamento dessa nova realidade é muito difícil. Foi neste período, em que a depressão e a falta de perspectiva eram fatos presentes em sua vida, que ele conheceu a biblioteca.
Com um processo de reabilitação e aulas para aprender a linguagem braile, Nelson conseguiu superar este período e de frequentador passou a ser voluntário. Hoje, formado no ensino médio e estudando para o Exame Nacional do Ensino Médio (ele pretende fazer sociologia na UnB), ele ensina pessoas interessadas ou que precisam dominar a linguagem dos pontos. Quando questionado se poderia mostrar como a máquina funcionava, um sorriso apareceu em seu rosto. Sorriso que nos acompanhou por toda a visita. Nelson então mostra sua caraterística mais marcante: o bom humor. Ao pegar a máquina, seus ágeis dedos batem em algumas das poucas teclas e logo
um papel com pontos em alto relevo surge. Ele pergunta o que está escrito e diante a resposta negativa da repórter, ele reponde: “Escrevi o seu nome, não está vendo?”. E essa não foi a única vez que Nelson usa deficiência para diversão: durante as fotos, Nelson insistia que deveria sair bonito e que queria ver todas elas. Histórias de pessoas como Nelson, que ajudam pessoas sem esperar nada em troca, são mais comuns do que imaginamos. Segundo estudo realizado pela organização britânica CharitiesAid Foundation em 2012, o Brasil está entre os dez países com o maior número de voluntários – cerca de 9% da população (18 milhões de pessoas) Segundo o dicionário Au-
Trabalhos voluntários são uma realidade cada vez mais comum no Brasil. Pessoas de todas as idades que doam seu tempo, energia em troca de um simples sorriso ou a satisfação de ajudar um desconhecido. Seja em hospitais ou em grandes festas, como a Copa do Mundo, eles estão sempre dispostos a ajudar o próximo. rélio de Língua Portuguesa, voluntário é o “indivíduo que se alista espontaneamente num exército, ou que se encarrega de uma incumbência à qual não estava obrigado”. Ou seja, pessoas que doam seu tempo para ajudar uma causa, por livre e espontânea vontade. Porém, os voluntários também ganham realizando este trabalho. Segundo a professora aposentada Marília Cabral, o trabalho a ajudou a ver uma realidade que, até então, era desconhecida por ela. Voluntária na Associação Brasileira para o Adolescente e a Criança Especial (ABRACE) há 9 meses, a professora lê histórias para crianças que estão internadas para tomar a medicação contra o câncer, a quimioterapia. “Ver crianças com câncer foi muito difícil. Não só pela tristeza em si, mas pelo sofrimento, pelas alterações físicas, que com o tempo vamos vendo acontecer nelas, o sofrimento e dedicação extrema da família, principalmente das mães”, explica Marília. Para realizar este trabalho, muitas vezes chocante, a educadora passou por um treinamento. Após uma tarde de palestras sobre a ABRACE, ela teve que passar por uma entrevista com a coordenadora do hospital, além de aulas sobre infecção hospitalar. Outro importante passo que a professora aponta é o
treinamento para os contadores de histórias. Segundo Marília, eles são orientados a ficarem sempre alertas com o seu lado emocional. “Tem dias que é mais triste e levamos essa tristeza conosco. Fomos orientados a ter o cuidado para não nos deixarmos abater.” Outros exemplos de trabalho voluntário surgem com o propósito de ajudar os pacientes, acompanhantes e médicos. Um deles é o projeto Laços da Alegria, atua nos hospitais públicos para aliviar a tensão de quem convive constantemente com a dor e até mesmo com a solidão. Criado em 2011 por jovens que tinham ideias divergentes de projetos já existentes, o grupo é considerado um dos maiores do Distrito Federal, com uma média de 400 pessoas atuantes. Eles utilizam a caracterização do palhaço como forma de
chegar até as pessoas. O projeto atua em três hospitais do Distrito Federal: o Hospital Materno de Brasília, Hospital Regional do Gama e Associação Brasileira de Assistência às Pessoas Carentes. O estudante de 24 anos, Carlos Eduardo Cordeiro, é coordenador do projeto há mais de três anos, destaca que a iniciativa é bem aceita pelo público. ‘Recebemos depoimentos toda semana dos pacientes dizendo que gostam do nosso trabalho e isso é muito gratificante‘’, afirma. Todos os sábados, eles se dividem em dois grupos. Um de 20 pessoas anima as alas do Hospital Materno Infantil de Brasília (HMIB) e outro grupo de 30 pessoas vão ao Hospital Regional do Gama. No sábado (24), acompanhamos a visita dos palhaços no hospital HMIB. Ao chegarmos ao local, fo-
mos recebidos por Bruno Conduta, empresário de 28 anos, integrante do grupo desde a sua fundação. Voluntário a mais de oito anos, o empresário de Brasília diz a atividade traz benefícios para a sua vida. “É ajudando as pessoas que a gente passa a ser ajudado”, explica Bruno. O principal objetivo do grupo é assegurar de forma contínua um programa de visitação de voluntários caracterizados como palhaços nos hospitais, realizando atuações personalizadas de acordo com a situação de cada paciente, acompanhante ou funcionário do hospital.
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Para o estudante Matheus Andrade, de 25 anos, integrante do grupo, a atividade é uma forma de sair da rotina individualista em que vivemos. “Saímos do hospital com muito aprendizado, para mim o trabalho voluntário representa fazer o bem ao próximo’’, relata Matheus”. Qualquer pessoa pode fazer parte do grupo. Com encontros todos os sábados, o grupo escolhe 10 novos voluntários a cada semana. Outro projeto com bastante visibilidade na cidade é o Projeto Risadinha. Em um esquema de duplas, os dez integrantes do grupo se revezam e se vestem de palhaços para visitar três hospitais públicos do Distrito Federal toda quinta-feira, no período da tarde. No Hospital Regional da Asa Norte, o grupo atua nas alas de pediatria, pronto socorro, queimados e cirurgia plástica, No Hospital Regional do Paranoá, circulam pelo pronto socorro adulto e infantil, pediatria e clínica médica. Já no Hospital Regional de Sobradinho, atuam na hemodiálise, clínica médica, pediatria e clínica cirúrgica. Cada apresentação tem duração de quatro horas, o que totaliza 32 horas ao mês em casa hospital, beneficiando uma média mensal de mais de mil pessoas, entre pacientes de todas as faixas etárias e funcionários. De acordo com a atriz Ana Flávia Garcia, diretora do projeto, o grupo tem conseguido contagiar os acompanhantes, os profissionais da saúde e levar
alegria aos ambientes dos hospitais, respeitando as regras do local e atuando conforme as orientações de higienização. Ainda segundo a diretora, os integrantes passam por treinos semanais de quatro horas de duração para aprimorar a ação de cada artista. “Somos palhaços e atores formados em Artes Cênicas pela UnB, nossas atividades têm sido desenvolvidas com desejo e dedicação e seguimos defendendo a nossa qualidade artística e nossa afirmação como ação social”, completa Ana Flávia. O projeto foi criado em 1998 pelo palhaço e auxiliar de enfermagem Denis Camargo. Seu principal objetivo era levar a figura do palhaço e sua arte para dentro dos hospitais. Atualmente, a iniciativa conta com a participação de outros atores. O grupo quase foi extinto em 2008 por falta de financiamento, porém conseguiu patrocínio do Fundo de Apoio à Cultura (FAC), o contrato acaba no final deste mês, mas os integrantes do projeto esperam que, com o final do patrocínio, empresários possam ajudar a continuar levando alegria a muitas pessoas.
ajudando as “ Épessoas que a gente passa a ser ajudado. - Bruno Conduta
“
Vai ter copa
O espaço onde os voluntários atuam
não se restringe somente a hospitais. Eles são parte importante na realização de grandes eventos, como a Copa do Mundo, realizada entre os dias 12 de junho a 13 de julho, no Brasil. Para organizar os interessados em trabalhar na Copa, o Governo Federal criou o programa “Brasil Voluntário”. A iniciativa selecionou pessoas para atuar nas cidades sedes do evento. Os voluntários auxiliam jornalistas, torcedores e público em geral, dando orientações sobre localização de pontos turísticos, aeroportos e entorno dos estádios. Eles também ajudam nos jogos e nas cerimônias de abertura e encerramento. Dentro deste cenário, encontramos Gabriela Varela, de 22 anos. Estudante de jornalismo, ela está auxiliando na organização da Copa do Mundo do Brasil. A experiência será o seu segundo trabalho voluntário em grandes eventos, já que ela também trabalhou na Copa das Confederações. Segundo Gabriela, auxiliar os outros foi o grande incentivador para que a antiga vontade de ser voluntária se tornasse realidade. ”Eu decidi participar de serviços voluntários porque eu gosto de servir as pessoas, não importa se vou ter um retorno financeiro ou não, eu tenho prazer de participar de atividades que é para o bem daqueles que precisam”.
Além disso, ela teve experiência em ser voluntária em um projeto social, chamado ‘’Instituto Superar’’ para crianças e adolescentes da Estrutural, localizada às margens da DF- 095. O projeto ajudava na organização de campeonatos e atividades de jiujitsu, levando as crianças para locais dos campeonatos.
‘’Era muito gratificante dar atenção para pessoas carentes, que precisavam de ajuda. É um trabalho de doação de tempo, de energia, sem esperar nada em troca. Mas só de pensar o bem que faz àquelas pessoas, qualquer cansaço vale apena’’, afirmou. A gratificação também levou a estudante de jornalismo Jéssica Valença de 21 anos, a ser voluntária. Segundo ela, o trabalho voluntário completa a vida. “Neste trabalho, busco a oportunidade de ajudar muitas pessoas e fazer novas amizades”, explica Jéssica. Ela foi voluntária na Copa das Confederações, realizada no ano passado, onde colocou em prática o inglês e teve estímulo para estudar um pouco mais o francês. Jéssica também é voluntária na Copa do Mundo, onde está ajudando os turistas de todas as partes do Brasil e do Mundo.
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S aber administrar o dinheiro é algo que começamos a aprender desde cedo, por mais que não tenhamos consiciência disso. Quando os pais deixam os filhos ficarem com o troco do pão,já é um aprendizado de como administrar bem o que se tem. Pensando nisso, algumas escolas como a Escola Americana de Brasília, incluiu no seu currículo a matéria de educação financeira desde o ano de 2012, onde os alunos aprendem a acompanhar e entender a economia não apenas do seu país, mas do mundo. Por não ser uma matéria à qual boa parte dos alunos vão se interessar, a escola pensando na melhor forma de interagir com os
alunos, c r i o u uma estratégia para que os alunos interajam mais com a disciplina. Sempre no final do semestre, valendo alguns pontos a mais na matéria, os alunos têm a oportunidade de participar de uma dinâmica, onde quem responder corretamten um maior número de perguntas ganha 1 ponto extra na média final de matematica. A coordenadora de da Escola Americana de Brasília, Banu Bchediek, explica: “Quando
vi que havia um grande interesse dos pais em que seus filhos soubessem mais sobre economia, e que isso os ajudaria futuramente no ramo profissional, decidimos incluir a disciplina financial edu-
cation no nosso currículo a partir do primeiro ano do júnior high school, mas de uma forma em que a matéria não ficasse chata ou cansativa, mas sim interativa. E obtemos um resultado muito gratificante, e até promovendo olimpíadas”. Daniel Vasconcellos, pai da aluna Isabel Vasconcellos, matriculada no do júnior high school diz, “ Quando ví que essa matéria fazia parte do currículo escolar, achei muito interessante, pois em outros colegios que trabalham com o metodo de ensino baseados em outros países, não tinham a matéria de financial education. Com apenas 5 anos, minha filha faz contas com muita facilidade, e
aprendeu que ao invés de comprar balinhas com as moedinhas do troco, colocar no cofrinho pode ser mais lucrativo em um longo prazo”. Segundo o Banco Central (www. bancocentral.com. br), “a educação financeira é o processo mediante o qual os indivíduos e as sociedades melhoram sua compreensão dos conceitos e produtos financeiros. Com informação, formação e orientação claras, as pessoas adquirem os valores e as competências necessários para se tornarem conscientes das oportunidades e dos riscos a elas associados e, então, façam escolhas bem embasadas, saibam onde procurar ajuda e adotem outras ações que melhorem o seu bem-estar”. Assim, segundo o BC, “a educa-
ção financeira é um processo que contribui, de modo consistente, para a formação de indivíduos e sociedades responsáveis, comprometidos com o futuro.” Segundo Banu Bchediek, educação sendo incluída desde cedo e sendo adotada nas escolas tanto particulares quando nas escolas do governo, pode-se pensar que futuramente teríamos uma nova realidade econômica no país, comparando o Brasil com o Estados Unidos ou países Europeus, o Brasil é um dos poucos que ainda não incluíram em todas as escolas a educação financeira, e com isso estamos ficando para trás.
O comércio do DF e a Copa do Mundo por Joã
z
sa Dini
o e Eli o Lobat
Ao contrário do esperado, março, quando o volume junho, as expectativas de cato em maio mostrou que a aproximação da Copa do Mundo reduziu as expectativas do comércio varejista do DF. Pesquisa realizada mensalmente pelo Sindicato do Comércio Varejista do DF – Sindivarejista – apontou que o índice de confiança do comerciante reduziu 4,5 pontos de abril para maio na capital federal, atingindo a neutralidade com 50,5 pontos. A redução no otimismo foi reflexo do crescimento abaixo do esperado no período. Em
de vendas se mostrou 2,7% menor do que o mesmo mês de 2013, os comerciantes nutriam a expectativa de que 53% dos estabelecimentos apresentassem crescimento nos meses de abril e maio. O resultado, no entanto, ficou aquém do esperado: apenas 37% dos estabelecimentos tiveram aumento de vendas em abril. Os dados de maio ainda não foram divulgados pelo sindicato. Para os meses de maio e
“
crescimento também foram tímidas: 47% em maio e apenas 29% em junho, mês que marca o início do campeonato mundial de futebol. Já os estabelecimentos que esperam queda de vendas em relação ao mesmo período do ano passado são, segundo o Sindivarejista, 25% em maio e 36% em junho. Para as expectativas de curto prazo (seis meses) dos varejistas, pesquisa de opinião realizada pelo Sindi-
21,6% pretendem ampliar ou abrir novas lojas, mas apenas 11,9% pretendem realizar novas contratações no mês de junho. Os que pretendem reduzir ou fechar estabelecimentos no período de seis meses são 6,2% (eram apenas 1,7% em março) e os que pretendem demitir funcionários em junho, 6,8% - pequeno crescimento em relação aos 6,3% na pesquisa anterior.
Nossas técnicas e padrões de produção são italianos, por isso a ideia de brincar com ambos os países. Acho que promove uma união saudável entre as torcidas - Rafael Faria
Mesmo não tendo con-
“Nosso anseio é que seja diferente da copa das confederações, onde Brasília não emplacou como esperávamos. Agora, com a quantidade de jogos a serem realizados na nossa cidade, a estimativa é de receber muitos turistas. Porém, quem vai permanecer abastecendo o setor são os clientes daqui mesmo”, ressalta.
Ainda há otimismo
no Piloto, é um dos estabelecimentos que está seguindo este cretizado suas expecpropósito a fim de tornar-se tativas de crescimento, campeã na venda de sorvetes em maio os varejistas premium. Para alcançar outras esperavam mudar esse regiões do DF a loja aposta no jogo. Para o Sindivareserviço de delivery, garantindo jista, a chegada de aproque o produto permanece na ximadamente 400 mil temperatura ideal por cerca de turistas em função da uma hora. “O cliente de Águas Copa tem sido aguarClaras ou Sobradinho, por exemdada com ansiedade, já plo, que quiser conhecer nossos que R$ 887 milhões degelatos, pode esperar o mesmo verão ser depositados sabor e cremosidade como se na economia local. Os estivesse pedindo no próprio principais beneficiados balcão”, garante Rafael Faria, devem ser bares, hotéis, restaurantes, lojas de A gelateria Cremositá, no Pla- proprietário da unidade. artigos esportivos e vestuário. Pesquisa realizada pelo Instituto Fecomércio do DF, entre os dias 19 e 21 de maio, ouviu 300 empresários do Plano Piloto e cidades satélites. A entidade concluiu que mesmo havendo índices significativos para os que possuem expectativa negativa (24,5%) e para os que não acreditam em mudanças por causa do mundial (14,9%), a grande maioria dos entrevistados (60,5%) declarou expectativa positiva para as vendas durante o período da Copa de 2014. O crescimento esperado nas vendas é de 34,11%, na avaliação feita pelos otimistas. Os segmentos com expectativa mais elevada são os de Material Esportivo, Calçados e Restaurantes, que estimam alta de 55%, 44,12% e 40,15%, respectivamente. Jaime Recena, presidente da Abrasel-DF, também avalia o período de forma positiva e sugere: quem quiser se dar bem, deve continuar investindo no público local.
Além desse estímulo, outra ação da marca promete refrescar a torcida acalorada do Plano Piloto: quem for à sorveteria vestindo-se com elementos que reverenciam o Brasil ou Itália, ganhará 10% de desconto no valor do pedido.
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Opinião com estilo
Quando iniciaram um brechó alternativo na garagem de casa há dois anos, o casal Bruno Eustáquio e Clarissa Santiago tinha o desejo de empregar um conceito diferente: aproveitar roupas de segunda mão e revendê-las para estimular a sustentabilidade. Com o passar do tempo, a moda pegou e surgiu a ideia de criar a Clichê Urban Wear, produzindo roupas com uma pegada autêntica, ou como eles mesmos definem, “que dizem algo”. Às vésperas da Copa do Mundo, o espírito crítico aflorou e Bruno resolveu entrar para a torcida com um viés diferente. Apaixonado por futebol, ele questiona os altos investimentos gastos para a Copa com frases de efeito estampadas nas camisetas masculinas como “I’m brazilian and i don’t give a shit for the world cup” e “verás que um filho teu não foge à luta”. Às vésperas do início do Mundial, o jovem de apenas 22 anos lançou também sua loja virtual com entregas para todo o Brasil, possibilitando a expansão das vendas. “Como meu ponto físico é minha própria casa, um e-commerce acaba se tornando uma vitrine”, acrescenta.
“Queremos atingir o consumidor jovem e formador de opinião. Aquele que acha a copa bem vinda, mas que também quer chamar atenção do governo para as mazelas que o país ainda enfrenta” - Bruno Eustáquio Roteiro Certo A Chef brasiliense Renata Carvalho também apresentou novidades para o público do Loca Como Tu Madre, premiado recentemente como a melhor cozinha e almoço executivo pela Veja Comer e Beber Brasília 2014/2015. Durante o mundial, o gastrobar fará exibição dos jogos sem cobrança de couvert artís-
tico e contará com um lounge exclusivo da Budweiser, composto por sofás, ombrelones e bandeirolas para bares VIPs, feitas em tecido. Para harmonizar, os clientes podem servir-se com os estrelados petiscos que honram o mérito do local, como o bolinho acostelado, com massa de mandioca e
recheio de costela bovina cozida em vinho tinto e a costelinha suína assada ao molho de bloody mary, inspirada no filme Mulheres à Beira de um Ataque de Nervos. Para bebericar, a carta com mais de 90 rótulos de cervejas especiais e a sangria complementam o clima de festa.
FUNCIONAMENTO DO COMÉRCIO DO DF DURANTE OS JOGOS No dia 2 de junho, o Sindicato do Comércio Varejista do DF – Sindivarejista – e o Sindicato dos Empregados no Comércio decidiram, em conjunto, o horário de funcionamento dos estabelecimentos comerciais durante os jogos do Brasil na primeira fase da Copa. Confira na tabela abaixo:
Nos dias de jogos de outras Seleções em Brasília ou em outros estados, o comércio do DF funcionará normalmente. Para os jogos das demais fases da Copa do Mundo, haverá uma nova rodada de negociações entre os dois sindicatos. Para compensar o fechamento mais cedo do co-
mércio na primeira fase do Mundial, ficou acordado que as lojas funcionarão normalmente – das 14 às 20h – no feriado de 19 de junho, Corpus Christi, que cairá numa 5ª feira.
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m a d u j a s o v i t a tecnologia está Aplic o d a contribuindo para d i u c o n aprimoramento fíe d ú a sico, perda de peso, e muis a m co tas outras formas de cuidar
A
por Thaís Betat
da saúde. Entre as dicas de melhores aplicativos, dos editores da Play Store (loja virtual para dispositivos Android), existe o Noom Weight Loss Coach.
Além de aplicativos de entretenimento, muitos outros que ajudam na saúde e condicionamento físico.
O aplicativo ajuda as pessoas a terem uma conduta mais saudável durante as refeições do dia, incluindo receitas com menos calorias. Um ônus do aplicativo seria que apenas está disponível em inglês, mesmo assim, é gratuito. O Run Keeper é um dos aplicativos mais populares entre os corredores, segundo a descrição da Play Store, já conquistou mais de 18 milhões de usuários. Este “app” permite registrar corridas, caminhadas e percursos de bicicleta, assim o atleta pode estabelecer metas de treinamento e avaliar seu progresso. A princípio é grátis e em português, no entanto, por
vinte dólares anuais, o usuário pode baixar a versão estendida que inclui gráficos de desempenho e transmissão ao vivo de corridas. Além disso, está na lista da revista Exame que o classifica entre os 60 melhores aplicativos no ano passado. Outro de grande utilidade, principalmente para as mulheres é o Calendário WomanLog. Se trata de um calendário menstrual e de fertilidade. Por meio desse aplicativo é possível ter uma previsão de ovulação e fertilidade, um resumo trimestral do ciclo, visualização em gráficos, proteção dos
dados por senha, registro do peso. Além de marcação dos sintomas, da pílula, e do estado de espírito, entre outras funcionalidades. Está disponível na Play Store, em três versões, calendário WomanLog Pro, Pregnancy e Pregnancy Pro. O primeiro é apenas o calendário mencionado mas com
uma quantidade maior de recursos sendo assim, pago. O segundo é mais voltado para uma agenda da evolução da gravidez, podendo assim ser marcado com detalhes sobre o feto e contendo até informações importantes para a gestante e o terceiro é a evolução dele e também pago.
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Medicina secular revolucionando o tratamento de doenças por Thaís Betat
Em
abril, três pacientes paraplégicos que fazem parte do projeto “Andar de Novo” conseguiram se locomover e dar chutes pela primeira vez usando a tecnologia do exoesqueleto, com a ajuda do cientista Miguel Nicolelis. Esse é apenas um exemplo das maravilhas que a tecnologia tem trazido para a medicina. No entanto a relação da tecnologia com a medicina vem de longa data. A medicina moderna e a tecnologia parecem inseparáveis. O destaque da descoberta dos raios X pelo físico alemão Wilhelm Conrad Roentgen (1845-1923) em 1895 possibilitou a observação dos órgãos internos do corpo, método que é usado até hoje. O diagnóstico de fraturas ósseas, câncer, e de outras doenças se tornou mais eficaz. A invenção do primeiro eletrocardiógrafo, por Willem Einthoven (1860-1927), fisiologista holandês, possibilitou o monitoramento de problemas cardíacos, pois registra a atividade elétrica dos músculos do coração. Muitos dos avanços ocorre-
ram na área de investigação por imagem, permitindo aos médicos ver os órgãos sem abrir o corpo. Em matéria publicada pela Veja, em maio, classificou os dez mais importantes avanços na área da medicina. Dentre eles estão os transplantes, processos cirúrgicos, genética, entre outros. Os transplantes foram um dos destaques do avanço, por serem inicialmente feitos apenas no rim. Atualmente, já é possível transplantar coração, pulmão, fígado, tecido pancreático e medula óssea. A medicina já prevê em um futuro próximo transplantes para substituição de outros órgãos. O resultado favorável dos transplantes se deve à imunologia, pela descoberta dos antígenos de histocompatilidade, e à farmacologia, pela obtenção de drogas imunossupressoras. A evolução dos grandes processos cirúrgicos como a cirurgia cardíaca, a neurocirurgia e a oftalmologia foram possíveis graças à colaboração de disciplinas, como a anestesiologia, a
por Thaís Betat
neurofisiologia, a bacteriologia e a imunologia. O coração tornou-se acessível, graças à introdução da circulação extra-corpórea, que permitiu a correção das malformações congênitas, a revascularização e outros tipos de operações. Já a neurocirurgia e a oftalmologia se beneficiaram com o uso dos raios laser. Processos como a fecundação artificial do óvulo em laboratório, o implante intra-uterino do ovo fecundado, a clonagem de animais e de seres humanos pela manipulação celular mostrou ser possível e as células-tronco provaram seu potencial no tratamento de muitas doenças degenerativas. A engenharia genética é mais uma das
dez maiores descobertas e já colabora para a produção de hormônios, enzimas e vacinas. A fibroendoscopia representou um grande progresso nos métodos diagnósticos pois substituiu os então utilizados aparelhos metálicos, rígidos e cheios de limitações. E possibilitou a obtenção das imagens antes não alcançadas. As técnicas de alta sensibilidade contribuíram para o diagnóstico clínico. O radioimunoensaio (análise quantitativa das reações antígeno-anticorpo e pode ser utilizado para quantificar hormônios, drogas, marcadores tumorais, alérgenos e anticorpos e antígenos em doenças parasitárias) permitiu detectar substâncias
em concentrações infinitamente pequenas nos líquidos orgânicos e nos tecidos. A descoberta das vitaminas, contribuiu com a prevenção e o tratamento das doenças resultantes de carências específicas desses elementos: escorbuto, beribéri, pelagra e raquitismo, raramente encontradas hoje em dia. Os antibióticos reduziram drasticamente as taxas de mortalidade. Entretanto, algumas bactérias criaram resistência à substância, o que incentivou uma busca continuada de novos tratamentos. Uma das maiores contribuições da medicina à saúde, a imunização em massa ajudou na prevenção de doenças por meio das ações desenvolvidas sobre o meio ambiente.
Oftamologia, a tecnologia de ponta em Brasília
por Thaís Betat
A mais alta tecnologia bem mais perto do que imaginamos. Tratamentos em na área de oftamologia se encontram na capital brasileira.
A
tecnologia na medicina em Brasília é mais desenvolvida na área de oftamologia. Pessoas vêm do País todo para serem tratadas nos hospitais locais. Um exemplo desse desenvolvimento é o Hospital Oftalmológico de Braslia (HOB) que recebe inclusive pacientes do exterior, tanto para tratamento, quanto para a realização de procedimentos cirúrgicos de alta complexidade. Outro hospital de destaque em excelência em tecnologia é o Centro Brasileiro da Visão (CBV) que segundo a assessoria do estabelecimento tem por política usar tudo que há de mais moderno em equipamentos, por isso investe maciçamente em equipamentos de diagnóstico, cirúrgicos e outros procedimentos. De acordo com o presidente e chefe do setor de catarata do HOB, Takashi Hiro, Brasília é o maior pólo na área de oftamologia do Brasil, e tem o maior número de profissionais por habitante. Além disso, é destaque em tecnologias de ponta.
“Ao todo, 100% dos clientes/pacientes do CBV têm acesso aos recursos essenciais para um diagnóstico preciso e um tratamento de qualidade, seja em consultas, exames, cirurgias e em outros serviços disponibilizados pelo hospital”, informa a assessoria do hospital. Todos os pacientes tem acesso às tecnologias de ponta, seja em consultas, exames, cirurgias e em outros serviços oferecidos pelo hospital. Ainda de acordo com a assessoria, o maior benefício que a tecnologia traz é a diminuição dos riscos durante o procedimento cirúrgico, a redução do tempo de permanência no hospital, chegando a quase zero, além do tempo de recuperação dos pacientes ser bem menor, trazendo assim, esse indivíduo às suas atividades normais num tempo menor. “Pessoas vêm de países como Itália, Portugal, e também do nordeste e norte brasileiros para se tratarem em Brasília”, afirma o especialista.
Desde 1994, e com 2.400 metros quadrados de área, o HOB investiu em equipamentos da mais alta competitividade, a tecnologia de Femto Segundos. Essa tecnologia chegou recentemente no Brasil e o HOB foi um dos primeiros hospitais a planejar e executar cirurgias oftalmológicas como: transplantes de córnea, cirurgia de catarata, túneis coreanos para implante de anéis, para micro-incisões e confecções lamelas nas cirurgias refrativas. O CBV também se atualizou com essa tecnologia, em seguida, com a inauguração em 2004. Segundo a assessoria do hospital, um dos últimos equipamentos adquiridos e que detém o que há de mais modernos em cirurgias de catarata, foi o aparelho FemtoSecond Laser, que realiza tais cirurgias a laser, com uma precisão bastante superior ao método tradicional. Segundo Hiro, a tecnologia já instalada no Brasil nesse campo da medicina já se equipara as usadas na Euro-
pa e nos Estados Unidos, e com a liberação mais rápida por parte da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) dessas inovações o País consegue implantá-las antes de outros países. Por exemplo, para que os eletrônicos cheguem ao Japão são necessários cinco anos de checagem dos órgãos encarregados. Campos como laser e cirurgias de retina e glaucoma são os focos desses hospitais com alta tecnologia. Hoje, já é possível com o laser modelar a córnea sem que haja o aquecimento do tecido causando menos edema no pós cirúrgico e uma recuperação mais rápida. Além disso, já se pode com essas tecnologias aferir com precisão a curvatura e a espessura da córnea e de medidas da câmara anterior do olho, muito usada para diagnóstico no departamento de Glaucoma e Catarata, segundo a assessoria do HOB.
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Aceitando a realidade
por Nestor Azevedo
E
m uma noite agitada de sábado, jovens se aglomeram em uma rua de uma cidade “não-tão-satélite-assim” de Brasília. Nessa rua, ao longo de toda sua extensão, se agrupam diversas casas noturnas, com filas e filas de pessoas tentando abocanhar promoções oferecidas por elas. Afinal, mulher não paga até meia-noite e homens pagam ao menos metade do preço se entrarem até a entrada da madrugada.
Ao colocar o pé na rua, a impressão é de entrar em uma versão humilde da famosa Rua Augusta, em São Paulo, conhecida por ter uma badalada vida noturna. Ali, se encontram quatro casas que veneram o chamado “Sertanejo Universitário”, uma casa para a opção GLS (Gays, Lésbicas e Simpatizantes) e uma casa de rock, logo na esquina, quase no final da rua. O contraste impressiona. Enquanto centenas de pessoas disputam a entrada nas casas de sertanejo, cerca de 10 pessoas se infiltram no ambiente,
“
em frente do bar roqueiro. Dando a impressão de ser uma fila, essas pessoas estão na verdade reunidas na área de fumantes do local. Esse pequeno espaço de casas de show evidencia uma cenário muito diferente em relação a Brasília dos anos de 1980 e 1990, tempo em que o carinhoso apelido de “Capital do Rock” servia bem à cidade. Ao contrário do observado nessas décadas, as quais a capital federal exportou artistas renomados do gênero, hoje o rock já não cai tanto no gosto do público em geral.
“Aqui em bandas do. Hoje ´ o public cois
posiciona os cem artistas mais tocados em rádios no País, nove dos 10 primeiros colocados são representantes do sertanejo universitário, surgido em meados dos anos 2000. Atualmente, não existem artistas de rock brasileiro entre os cem artistas mais tocados no Brasil. Nos décadas de 1980 e 1990, sempre havia ao menos um representante do rock brasileiro entre os 100 artistas mais tocados, segundo o site Hot100Br@ sil, que também classifica as músicas mais tocadas. Um dos fatores que ajudou a dispersar o rock do público em geral, conforme apontado por figuras
do rock brasiliense ouvidos pela reportagem, foi a internet. Com o declínio das grandes gravadoras, que sentiram o impacto causado pelas possibilidades trazidas pela plataforma digital, o artista acabou obtendo mais facilidade para expor sua produção, mas ficou mais difícil criar uma identidade de marca para projetá-la junto ao público. “Hoje você tem essa realidade diferente de mercado. Soma-se isso ao próprio comportamento do jovem. O indivíduo atualmente pode conhecer música na mesma proporção que alguém pode disponibilizar música. Mas
ficou muito diluída aquela coisa da identidade, como você pegar um vinil, abrir, olhar”, disse Marcos Pinheiro, 47, um dos produtores do festival Porão do Rock e apresentador do programa Cult 22, na rádio Transamérica. Ainda de acordo com Pinheiro, essa diluição, em conjunto com a perda da identidade das bandas, ajuda a dispersar o público, fazendo com que, ao mesmo tempo em que o alcance do artista seja maior em potencial, ele crie menos identidade frente ao público em geral.
´ ´ m Brasilia o publico de autorais foi diminuinse investe mais no que co ja´ conhece. Fica uma sa muito de nicho. - Pinheiro
“
S
egundo levantamento “Tribos Musicais” realizado pelo Ibope no ano passado, indicando os estilos musicais mais ouvidos na rádio no período de sete dias, 58% das pessoas entrevistadas afirmaram ouvir com o chamado “Sertanejo universitário”, nas rádios brasileiras e 31% disseram ter escutado rock, ficando atrás da MPB (47%) e do samba e pagode (44%). O levantamento aceitava mais de uma resposta por pessoa, ao tempo em que a mesma pode ter escutado mais de um estilo durante os sete dias. No ranking semanal da revista Billboard Brasil, que
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P
ara o fotógrafo e cineasta Patrick Grosner, 43, diretor do documentário “Geração Baré-Cola”, sobre o rock no Distrito Federal durante os anos 1990, o rock no Brasil sempre esteve às margens dos estilos musicais mais popularescos, como o axé e o próprio sertanejo, mesmo quando esteve mais evidente na mídia. “Não foi só o rock que perdeu espaço no Brasil. A MPB, o samba de raiz, o reggae e muitos outros estilos do mainstream - (denominação em língua inglesa para designar uma forte tendência) do passado também perderam
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este espaço... Mas o rock ainda tem seu espaço, um espaço menor, com um público reduzido, porém mais apurado”, relativizou Grosner. É de comum acordo entre os dois roqueiros, de bastante experiência na fauna do estilo em Brasília, de que não haverá outra grande explosão de bandas autorais de rock como houve no passado. Porém, com esforço redobrado e dedicação, os artistas podem se destacar e deslanchar no mercado independente. Embora exista a possibilidade de não haver mais uma explosão do estilo no País, a percepção no
meio roqueiro é de que a efemeridade imbuída nos produtos vendidos pela indústria musical no Brasil um dia passarão a soar datados, o que reforça a esperança que o rock retome a força que mostrou em seus dias de maior expressão, mesmo que em menor grau. “Acaba que o rock ecludeceu um pouco. Acabou? Não. É muito cíclico... Em cima disso tudo existe a efemeridade, nenhuma obra vai ser definitiva sem saber a importância que aquilo teve com o passar do tempo”, teorizou Pinheiro.
As grandes estrelas ´ da musica que ´ toca na midia de hoje ~ ^ sao altamente efemeras, mudam a cada seis meses
A
inda que a indústria musical no Brasil esteja no momento mais inclinada a outras tendências, é essencial para o artista que queira se aventurar no rock saber se posicionar nesse novo mercado e utilizar as ferramentas que a internet proporciona em termos de divulgação, principalmente no espaço em que convive: o independente. “As grandes estrelas da música que toca na mídia de hoje são altamente efêmeras, mudam a cada seis meses”, sintetizou Grosner, acrescentando achar positivo que o rock permaneça underground, uma característica semelhante à raíz do estilo, o blues, uma música originalmente tocada por escravos norte-americanos, com início no no fim do século XIX, nos Estados Unidos. Grosner, entretanto, alertou que o jovem tem que fazer música além de seus quartos e computadores e profetizou. “Nunca mais o rock será mainstream”.
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Baseado no conceito do ‘’Do It Yourself’’, termo inglês cunhado da cena punk britânica da década de 1970, que traduzindo significa ‘’Faça Você Mesmo’’, alguns produtores brasilienses estão botando a mão na massa e fazendo a cena do rock independente de Brasília acontecer. Cansadas da “mesmice” da programação de pubs e festas que privilegiam bandas covers e DJ’s ao invés de bandas com músicas autorais e dos preços desses eventos, três produtores da cidade, cada um com sua organização e equipe, decidiram ocupar espaços públicos. O Calçadão da Asa Norte, o Parque da Cidade e o estacionamento do Clube do Choro, são alguns dos lugares escolhidos para levar ao público um som de qualidade e sem restrições de preços. A atitude é simples: basta juntar algumas bandas, alugar ou pegar emprestado equipamento de som, um pequeno gerador de energia movido à gasolina, encontrar o lugar certo, e con-
Bandas autônomas ocupam espaços públicos de Brasília
por Érica Fontoura e Pedro Ricardo
vidar as pessoas. Foi assim que Estevam Chezz, produtor de 23 anos, criou o evento ‘’Apenas um Show’’, que já aconteceu oito vezes, desde o final de 2013 e reúne em média 300 pessoas para celebrar a cultura alternativa. Chezz, que também é estudante de artes plásticas na Universidade de Brasília (UnB) e guitarrista da banda Magodiabo, lembra que os artistas estiveram nas ruas desde os tempos medievais e que mesmo nos dias de hoje ainda existe arte de rua. “Em países da Europa e nos Estados Unidos é muito comum ver gente tocando no metrô, avenidas, ou em qualquer lugar onde tem muita passagem de pedestres. Aqui no Brasil existe também, mas é mais raro e muitas vezes não é bem visto pela polícia, o que torna
tudo mais complicado.” No ano passado o evento “Apenas um Show’’ contou com a participação de bandas de fora, como a Test, de São Paulo, que tocou em frente ao festival Porão do Rock, gerando um contraste interessante entre uma grande produção e um evento de baixo orçamento, que mesmo assim chamou atenção de quem ainda estava do lado de fora do festival. Paulo Laércio, 26 anos, produtor cultural e baterista da banda Trio Magnata, diz que a ideia de levar o trabalho da banda para as ruas serve para ele se reinventar enquanto artista. Dessa forma, ele acredita que encontrou um jeito de se apresentar e levar para o público uma opção diferente e de iniciativa própria, o que difere dos grandes
eventos gratuitos da cidade, que normalmente são patrocinados por editais do governo. Pedro Cacaes, 25 anos, é produtor e guitarrista da banda Cadibóde. Em um dos festivais que costuma participar, Cacaes contou com a presença de Bullet Bane, banda de São Paulo que tem importante nome na cena underground do Brasil. O evento reuniu mais de 600 pessoas. Cacaes diz que qualquer um pode fazer a sua festa em qualquer lugar,
“a cidade é nossa, temos que ocupar a cidade, especialmente com cultura, e legal que seja o rock, que hoje está tão fora da mídia”.
O público que frequenta esse tipo de evento é bastante diversificado. No caso dos eventos realizados pelo produtor Paulo Laércio, que muitas vezes acontecem durante o dia, costuma ter a presença de famílias e pessoas mais velhas, além de jovens, que acabam sendo a maioria. Já o ‘’Apenas um Show’’, que é produzido por Chezz, e os eventos realizados por Cacaes, têm a predominância de jovens entre 20 e 30 anos e universitários. Daniel Mendes, 21, estudante de publicidade, diz: “É demais, a galera está movimentando a cultura de Brasília, na base do ‘Do It Yourself’. O preço das coisas só aumenta, então é legal que uma galera esteja trabalhando para oferecer um evento de qualidade e de graça’’. Quem também apoia esse tipo de iniciati-
va são as próprias bandas, que tentam encontrar espaço no meio da escassez de lugares para tocar. Além disso, as bandas que conseguem tocar em pubs, têm um público reduzido.
‘’Acho massa, tem que rolar mais e mais, é bom para as bandas e bom para o público, pois o evento é aberto e inclusivo, de fácil integração entre as pessoas’’,
diz Mickael Rabello, 21, vocalista do Pedra Preta, banda que toca constantemente no ‘’Apenas um Show’’.
Segurança e autorização de eventos em local público
Chezz diz que existe um protocolo para esse tipo de evento acontecer, mas que nunca o seguiu. Ele simplesmente chega ao local, monta o equipamento e faz o evento acontecer. Outros produtores, como Cacaes e Laércio, também trabalham do mesmo jeito. Chezz nunca teve problemas com algum tipo de fiscalização do governo, inclusive conta que a polícia normalmente aparece, fica um tempo no local e vai embora. Paulo Laércio conta que já teve problemas uma vez, quando estava fazendo um show com sua banda em uma quadra comercial do Plano Piloto. O dono de um bar próximo ao local do evento reclamou e pediu para acabarem com o show. Ele acabou chamando a polícia, que no final das contas permitiu que o evento continuasse, visto que ainda não havia passado das 22h.
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A arte que se esconde nas ruas
por Julianna Motter
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MASP está localizado na Avenida Paulista, um dos endereços mais importantes do país. O Museu do Louvre, em Paris, ocupa um perímetro enorme entre o rio Sena e a Rue de Riral, já no Champs-Élysées. O MoMA, em Nova Iorque, situado na região central de Manhattan. O próprio Museu Nacional Honestino Guimarães, em Brasília, descendo o Eixo Monumental, próximo a Catedral e ao Congresso Nacional. Contudo, hoje em dia, fica cada vez mais nítido que não são só nos pontos centrais, e em grandes museus, vive a arte. Seu habitat natural é, primordialmente, lugares a partir dos quais ela possa ser democraticamente apreciada.
Em grandes cidades, a cultura da arte já vem, há anos, se aproximando daquilo que seria uma arte de habitar, de ocupar os espaços urbanos. E isto não só através das intervenções urbanas, manifestações da “arte de rua” - que vem pintando, grafitando, intervindo no cenário da cidade, nos prédios, casas -, mas através da vizinhança artística, da arte de vizinhança que permite, em um bairro de maioria residencial, que apareçam pequenas, médias, ou até inesperadamente grandes, galerias de arte, ou mesmo centros culturais, que além de mostras e exposições, possibilitem o contato com a prática ou o estudo da arte. A própria arte de rua deixou de ser a vizinha que dormiria dia e noi-
Foi caminhando pela W3 Norte, entrando por detrás das lojas, que percorri a calçada que parece rua, ou a rua que parece calçada, onde me deparei com o Elefante Centro Cultural, sinalizado, no percurso, por folhas de papel A4 presas nas pilastras e paredes. Camuflada, a placa que intitula a casa é pequena, pouco chamativa, do mesmo tamanho das placas que indicam o número das outras, quase que nem se nota que há um Centro Cultural entre o “6” e o “8”. Toquei a campainha para entrar. Fui recebida por um dos dois sócios do lugar, Matias Mesquita,
que até então estava em seu ateliê no subsolo. Enquanto se apresentava e me convidava para descer para a entrevista, precisou dividir, por uns minutos, minha atenção com o som provocado pelo grupo de estudos que acontecia, ao mesmo tempo, ali no térreo. E com o próprio lugar que, a priori, não parecia um centro cultural. O lugar mantém a disposição de uma casa, o que parece uma sala de estar, estava sendo utilizada pelo grupo, reunido ao redor de uma mesa grande de jantar. Nas paredes em torno deles, os primeiros quadros da
te do lado de fora das construções, para se proteger das interferências climáticas e se expor ao público na qualidade de obra de arte. Habitando a cidade, desde a centralidade dos grandes e suntuosos monumentos e complexos culturais, até as galerias adaptadas a escassez dos espaços urbanos. Existentes e sobreviventes, nas localidades mais inusitadas, os ambientes de difusão artística se espalham pelas cidades, indo do óbvio ao oculto, dividindo seus espaços com cafés, restaurantes, lojas, feiras de artes, shows musicais, saraus, grupos de estudo. Dividindo seus espaços com os habitantes e com a própria cidade.
exposição que acontecia na época: Clarice Gonçalves: sutilezas e ilusões. Um pequeno banheiro, e no cômodo seguinte, outras peças. Logo ao lado, perto da escada, uma cozinha, mantendo os utensílios próprios, mas acrescida de uma estante repleta de livros, cartões de visita e pôsteres. Fomos para o subsolo, para iniciar a entrevista e conhecer o ateliê de Matias, que é artista plástico. Comecei perguntando sobre a casa, tentando entender como foram parar ali. “Tem muito artista aqui, nesse beco”, me localiza, chamando atenção para “beco”,
termo dificilmente associado a Brasília, e completando: “essa casa aqui também foi de um artista plástico, então esse aqui já é um ponto conhecido, na verdade, no meio artístico”. Idealizado e inaugurado no final de 2013, o Elefante Centro Cultural só entrou em funcionamento no início de 2014. A consolidação do espaço como é hoje levou um tempo, foi preciso encontrar sua própria dinâmica, ir criando contatos e esta-
belecendo devagar parcerias e projetos diferentes, fugindo da ideia inicial de manter apenas uma galeria para exposições e o ateliê, conta Matias. Para ele, no começo, estavam tateando no escuro, foi necessário amadurecer a ideia e criar não só um lugar de exposição, ou criação, mas um espaço de desenvolvimento, disponível para exposições, cursos, cine-clubes, grupos de estudos, e até mesmo residências artísticas. “O que eu entendo é o seguinte, é que não adianta você enfurnar, ter cinco gale-
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rias por quadra, não adianta. O que você tem que ter é um movimento cultural. Você tem que ter uma ebulição, gente fazendo, entendeu?”, completou, reforçando que o princípio fundamental do centro culturalnão é só de trazer movimento para dentro de si, mas de ajudar a movimentar o cenário cultural de Brasília. Pela localização, eles tem enfrentado dificuldades em receber aquilo que chamam de visitas espontâneas, que são geralmente feitas por
Associação dos Servidores do Banco Central de Brasília (ASBAC), um dos principais clubes da capital, conhecido pelas piscinas, quadras poliesportivas, salões para festas e espaços ao ar-livre, onde são realizados alguns dos maiores eventos da cidade. Lá também está a primeira filial do Dom Francisco, um dos mais tradicionais e importantes restaurantes da cidade. A escolha do lugar foi, em boa parte, pela vista privilegiada que se tem do Lago Paranoá. E foi ali, com a porta de frente para o restaurante, divididos por uma enorme janela com vista para lago, que o fotógrafo Kazuo Okubo decidiu abrir, em 2009, A Casa da Luz Vermelha, primeira e única galeria especializada em fotografia de Brasília. A galeria, a primeira vista, diferentemente do Elefante Centro Cultural, chama atenção pela fachada, que realmente conta com uma luz vermelha, vinda de uma placa de neon acesa, anunciando o funcionamento do lugar. Lá, fui recebida pela assistente de
curiosos ou passantes. “A rotatividade do lugar ainda é pouca e a visibilidade na mídia só começou a acontecer agora, depois do lançamento dessa exposição, quando começaram a aparecer mais pessoas interessadas em nos conhecer”, acrescentou. Nossa conversa foi interrompida para que pudesse subir ao térreo e abrir a porta para os integrantes do grupo de estudo que já estavam de saída. Quando retornou, Matias pediu
desculpas pela interrupção e falou um pouco sobre esse tipo de atividade que podia parecer inesperada, mas que acontece sempre por lá. “É que assim, é tudo muito orgânico, entendeu? Na verdade, a gente está muito aberto para tudo. É deixar a porta aberta para o que aparecer e a gente ver o que acontece, entendeu?”. Então me levou ao primeiro andar e me pediu para que ficasse à vontade para
galeria, Annima de Mattos. Que primeiro me mostrou a disposição do lugar: uma recepção, uma pequena galeria de exposições, um espaço mais lateral para reuniões, uma sala para impressão em fine art e o estúdio de Kazuo. São 36 artistas que já fazem parte da galeria, e a proposta da Casa, já antecipa Annima, é vender as obras que são expostas ali ou que constem em seu acervo digital - e que são impressas, de acordo com a demanda, nos tamanhos e nas tiragens determinados pelo artista. “A gente foca nessa coisa de vender, pra não deixar a obra parada aqui também. Pra que ela seja vista, seja movimentada”. Por causa do local, algumas visitas acabam acontecendo espontaneamente. São pessoas que passam por ali enquanto passeiam pelo clube, ou para ir ao restaurante, muitos turistas e curiosos. Mas as visitas pontuais para aquisição de obras são as mais frequentes. Segundo Annima, o mais frequente é a chegada de pessoas já decididas por uma obra específica, em determinado tamanho, “é muito comum chegar algum cliente e interessado em comprar uma obra específica, e consultar sobre os tamanhos
conhecer o resto do espaço, ver a parte mais substancial da exposição e tirar fotos de tudo, se assim quisesse. Fiz o que me foi recomendado, e o chamei do ateliê para que abrisse a porta. Quando saí, o cenário do lado de fora, pareceu um pouco mais adequado que eu imaginava, afinal, para um centro cultural.
disponíveis para compra imediata ou para impressão”. Para manter a galeria, me conta, foi preciso ir além das vendas, então buscaram aproveitar a própria estrutura. Acabaram começando a realizar impressões em fine art de materiais externos. Esse tipo de impressão garante a maior durabilidade e a estética das obras, já que é feita por equipamentos e produtos de mais alta qualidade, me explica Annima. “Os pa-
péis fotográficos são diferentes do que estamos acostumados, eles tem ph neutro, que garante a proteção e conservação, e as tintas conseguem de maneira fiel as cores e contrastes da imagem. São fotografias que duram anos com a mesma qualidade e não se danificam com o tempo, vem com marca d’água e assinatura do artista como uma garantia e para sua legitimidade como obra”. Também passaram a disponibilizar para aluguel o estúdio e o espaço para exposição, trazendo uma dinâmica maior para dentro da galeria e a colocando, cada vez mais, no circuito das artes que acontece externamente.
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“Com o tempo, nós estabelecemos parcerias com escolas de fotografia, colocamos nosso nome em outras coisas, fizemos exposições fora de Brasília, assinamos contratos com lojas e shoppings. É necessário um fluxo contínuo, é como a gente se mantém”. Saí de lá com o convite para prestigiar a SP-Arte Brasília, primeira edição da feira de artes mais importante do país, que aconteceria, pela primeira vez, fora de São Paulo e para qual A Casa da Luz Vermelha havia sido convidada, junto com 34 galerias de todo o país, sendo apenas outras 3 de Brasília.
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a entrequadra comercial da 307 sul, uma das primeiras superquadras de Brasília, no subsolo de uma loja, a Endossa, foi onde nasceu a Galeria Inverso. Dividindo o lugar com algumas das marcas que alugam espaços para vender seus produtos na loja – desde roupas, acessórios, artesanatos até pequenos objetos de arte que não encontraram espaço em galerias. Na verdade, antes mesmo de entrar, a curiosidade pelo local já é atiçada pela definição na fachada, uma “loja colaborativa”. Única desse tipo em Brasília, me explica Luana Isidro, gerente da loja. A proposta mercadológica é de disponibilizar pequenos espaços – caixas em três tamanhos diferentes – para aluguel por um preço baixo a marcas que tenham interesse em vender seus pro-
dutos e se promover. Sem uma curadoria interna, os produtos são ofertados independentemente uns dos outros, recebendo seu feedback direto do público.
recem para visitar a galeria ou que a descobrem por acaso, perguntam a respeito do funcionamento, sobre como expor aqui, demonstram interesse”, conta.
A Galeria Inverso surgiu como uma consequência da atmosfera da Endossa, pretendendo democratizar a exposição: a de valor artístico tanto quanto a comercial. “É uma loja que tem o intuito de vender, claro, mas que tem também essa parte artística envolvida. Isso de atrair artistas, tanto para expor quanto para vender”, comenta.
Sobre as visitações, Luana ressalta a natureza primeira do lugar que, por se tratar inicialmente de uma loja, já tem clientes fixos, que reagiram bem a proposta de manter uma galeria de arte, e que acabaram divulgando o lugar no boca-a-boca. Então as pessoas deixaram de ouvir falar só da loja, ou de algum produto, e passaram a aparecer não só para comprar algo, mas para conferir a exposição que estiver acontecendo. “E o mais interessante são os curiosos que entram para conhecer a loja e se deparam com obras de arte no subsolo”.
A maior dificuldade é sempre a de encontrar artistas que já tenham todos os trabalhos prontos em um curto período de tempo – a rotatividade das exposições tem sido grande para manter a dinâmica do lugar. “Mas muitas pessoas que apa- A galeria, junto com
a loja, tem fechado parcerias com diversos lugares da cidade, sem se limitar aos espaços focados nas artes visuais, elaborando projetos com produtoras musicais, de eventos, e mesmo com agentes culturais da cidade. “A gente quer isso. Brasília tem muito isso de cada um fazer o seu, então a gente está juntando os braços de todos os lados e firmando mais parcerias para continuar juntando o criativo, a arte, e as vendas, que são importantes para todo mundo”. Fundamental para a Galeria Inverso foi encontrar o equilíbrio entre o lugar, o valor e o preço da arte. Estas visitas, em três lugares tão distintos, nada mais fez que corroborar a arte, em suas inumeráveis representações, como democrática, factível e sobretudo deleitan-
te. Reforçando a necessidade de espaços que consigam abarcar sua multiplicidade, função que cabe muito bem a Brasília, museu a céu aberto, através do qual é possível, para galerias e para os próprios artistas, dividir os olhares com obras como as de Oscar Niemeyer, Lúcio Costa e Athos Bulcão.
“Teve uma exposição antes aqui que um quadro custava 25 mil, e isso não é acessível para a galera que vem aqui comprar uma camiseta de 50 reais. Agora, os preços são muito mais acessíveis. O espaço alternativo para disseminação e cultivo da arte tem crescido. E espero que continue, que aumente, e que a galera visite, aprecie e consuma mais. Que exista um lugar para essa arte mais rentável e menos elitista. O essencial da arte é que ela se torne mais acessível para todo mundo”, completa Luana, apontando para os quadros da exposição que acontecia no momento “cada um desses custa entre 80 e 150 reais, é um objeto de arte possível de se levar para casa. Isso é arte”.
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por Fernanda Roza
A moda, da mesma maneira que inúmeros outros mercados, surgiu da necessidade. Ao analisarem as pinturas nas cavernas dos povos primitivos, pesquisadores descobriram que ali já existia uma cultura de vestimenta. O ser humano precisava acobertar seu corpo para não congelar no frio. A partir disso, a caça não era apenas para a alimentação, mas também para o vestuário. Dessa forma, podemos observar que a moda em forma de roupa é um dos segmentos mais antigos da Terra.
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esde a sua existência, a moda foi assimilada à riqueza e à ostentação. Quanto mais rico o homem, mais pano tinha o vestido da mulher. Quanto mais dinheiro, mais joias. Na Idade Média, as pessoas eram diferenciadas pelas roupas que vestiam, e todos sabiam quem fazia parte da nobreza, da burguesia e quem não pertencia a nenhuma destas classes. Foi assim que a moda como negócio apareceu. As profissões do segmento, a exemplo dos estilistas, dos costureiros, dos alfaiates e de seus ajudantes vieram à tona. Então, a necessidade se jun-
tou ao prazer e, juntos, obtiveram como resultado o lucro. No século XIX, o costureiro e estilista inglês Charles Worth iniciou o que hoje conhecemos como “desfile de moda”. A partir de 1858, graças ao apoio de Eugênia, esposa de Napoleão III, encantou a alta sociedade parisiense. Mais tarde, abriu outra loja em Londres e conquistou também as ricas e poderosas inglesas. No auge das vendas, sua loja em Paris empregou cerca de 1.200 funcionários, que produziam mais de cem vestidos por semana no eixo Paris-Inglaterra. Como qualquer outro
mercado, a moda evoluiu. Vieram as máquinas, que facilitaram a produção; as revistas, que instigavam o consumo e dissipavam os acontecimentos, os novos cortes, que fugiam do comum; os tecidos que marcavam as classes sociais, e, principalmente, o interesse dos consumidores. A moda sempre acompanhou o que acontece no mundo e soube se adaptar aos momentos vividos regionalmente nos âmbitos econômico e social. Se a economia estava ruim, menos materiais eram utilizados. Se os homens fossem à guerra, o vestuário feminino ficava propí-
cio para trabalho. Não é à toa que este mercado continua, ainda hoje, em ascensão. A indústria da moda se alastrou da Europa para todos os outros continentes. Primeiro, de maneira mais particularizada. A moda europeia destoava da norte-americana, por exemplo. Depois, porém, também a moda se globalizou. Assim, rapidamente, o que toma conta de Milão ou Paris é vendido em Tóquio, em Nova Iorque e em São Paulo na mesma estação do ano. Não há mais um intervalo temporal. O Brasil é considerado um ótimo mercado e também uma inspiração, sobretudo em
razão das brasileiras, que, além de serem consumidoras de primeira hora, têm a sua beleza e vaidade realçadas internacionalmente. Por isso, cada vez mais, o País faz parte do circuito internacional da moda e já abriga várias maisons famosas e eventos de grande porte. Destacam-se nesse setor sobretudo São Paulo e Rio de Janeiro, mas muitas cidades do Nordeste e do interior do Sudeste fazem parte da produção de moda de maneira bastante significativa.
É
impossível comparar o mercado da moda de Brasília com o de outros lugares. Afinal, a capital foi fundada em 1960, cinquenta anos depois que a francesa Coco Chanel, ainda hoje um dos maiores ícones do mundo fashion, abriu sua primeira loja. Ou seja, Brasília ainda não conquistou uma identidade própria no que se refere à moda, ao contrário do que acontece com sua arquitetura, tão reconhecida mundo afora. Não há na capital lojas de roupa que tenham conquistado um lugar de destaque, como a pizzaria Dom Bosco e o restaurante Roma, que se tornaram ícones da gastronomia candanga. As poucas pessoas que mostraram interesse na área foram buscar seus sonhos em outros lugares do Brasil ou no exterior, fazendo suas carreiras sem olhar para trás. Contudo, a moda está entre os cinco mercados que mais crescem na Terra — e em Brasília não poderia ser diferente. O DF não parou no
Moda em brasília tempo. Na verdade, ocorre exatamente o oposto disso, apenas o boom da moda brasiliense ainda não alcançou o seu auge. Agora, em pleno ano de 2014, quem deseja seguir carreira no ramo não precisa necessariamente arrumar as malas, despedir-se dos entes queridos e ir embora. Apesar de em menores quantidades, no DF também há cursos na área, por exemplo: extensão em design de moda e profissionalizantes em produção de moda. Além do Fashion Campus/ Fashion Teen, onde as aulas abrangem desde a história até o desenvolvimento de coleções, sem contar os cursos menores, tais como o de jornalismo voltado para a moda e até de cool hunting (a arte de analisar e perceber o que será tendência no futuro). As brasilienses Sabrina Pessoa e Jéssica Alves, graduadas em desenho de moda pelo IESB, analisam que, em sua cidade natal, há uma entra-
da, mas que ainda precisam buscar caminhos alternativos para se profissionalizarem. Com 21 anos cada uma e graduadas há um ano e meio, as duas contam que fizeram um workshop de estamparia em Brasília, porém foi no Rio que passaram três meses aprendendo sobre o assunto e agora estão projetando a abertura de uma microempresa. “É difícil achar mão de obra, financiamento e matéria-prima no DF, eu vou a Goiânia ou a São Paulo de três a cinco vezes por mês para conseguir os materiais necessários. O processo é lento, mas estou persistindo”, completou Sabrina. Alguns estilistas que vivem em Brasília têm recebido destaque além do quadrado do Distrito Federal. Anna Paula Osório, Fernanda Ferrugem, Romildo Nascimento e Akihito Hira, por exemplo, fazem carreira em Brasília há algum tempo. Cada um deles tem seu estilo, método, linha de trabalho e segredo-chave que os
permitiram adaptar suas particularidades para um mercado novo e ramificado. Então, tem ou não tem moda em Brasília? Para quem olha de fora, a reposta certamente será negativa. Pois a semana de moda da capital é um espetáculo minúsculo, que não chega nem aos pés do São Paulo Fashion Week e tampouco do Fashion Rio. No DF, a semana de moda acontece em dois dias, cada ano com uma localização diferente. Já em São Paulo, sempre na Bienal do Parque Ibirapuera, dura seis dias e conta com a cobertura dos grandes veículos impressos, como a Vogue e a Elle. Vale ressaltar que não é por escassez de talento dos candangos, mas pela pouca publicidade, marketing pobre e falta de incentivos, não só do GDF, como também de empresas grandes. Há oito anos, foi criado o Polo de Moda de Brasília, que pleiteava gerar empregos e expandir o comércio. Contudo, a ideia foi
extremamente mal executada e não está nem ao menos completa — o polo é hoje um lugar invisível e precário. A princípio deveria contar com 489 confecções, mas até agora só abriram 329 e os ambientes voltados para a moda não chegam a 200. Pouquíssimas pessoas sabem da sua existência, no Guará II. O local, que deveria conter apenas lojas que seguem a linha de tecidos, roupas, equipamentos etc., acabou abrigando outros estabelecimentos com ideias opostas, como da área de construção (vidraçarias e gessos são bem comuns), além de oficinas, igrejas evangélicas e até pensões. A presidente da Associação do Polo de Moda, Maria Lourdes Coelho, diz que as pessoas precisam ter paciência, que a estrutura do polo está sendo montada aos poucos e que a falta de verba dificulta uma divulgação mais concisa.
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De acordo com o público candango, Brasília segue um pensamento desmotivador “Quer moda? Vá aos shoppings centers”. Porém, ao chegarmos lá, deparamo-nos com lojas previamente vistas em outras regiões. Não têm cara própria, não têm exclusividade, não têm absolutamente nada que chame atenção do turista. São lojas facilmente encontradas em outras regiões, como a Renner e a M.Officer ou em outros continentes, a Zara e as recém abertas marcas de luxo no Iguatemi. Diferente dos bordados do Ceará e das biojoias (produzidas a partir de elementos naturais combinados com pedras preciosas) de Manaus, os quais são conhecidos no mercado internacional. Mariana Guerrero, colombiana que veio a Brasília com a família assistir aos jogos da Copa, diz que esperava encontrar peças diferentes nos shoppings, que mostrassem que ela viajou e trouxe artefatos exclusivos. “No hotel que estou hospedada, recomendaram o Iguatemi e o Conjunto Nacional. No entanto, foi na Feira da Torre que encontrei algo mais ou menos parecido com o que eu estava buscando. Comprei uma mochila de couro, mas nada que eu não pudesse encontrar em
Medeline”, lamenta Mariana. Ainda assim, os brasilienses estão vivendo um momento interessante da indústria criativa. Apenas uma pequena parte da população consegue perceber o que está acontecendo. É novo e acanhado, mas, finalmente, é de verdade. Um grupo de pessoas acordou e iniciou projetos alternativos que incluem moda. São eventos que estão tomando força, chamando atenção de mais habitantes e, assim, crescendo. O Picnik e o Bazar Dazamigas, que adicionam também gastronomia, música e design, são excelentes exemplos. Eles acontecem duas ou três vezes por ano e estão em suas 10ª e 11ª edições, respectivamente. Esse presente na Capital possui semelhanças, mesmo que distantes, com o passado de Londres. Quando a tribo dos Mods (inúmeros jovens britânicos) tomava conta dos espaços públicos ingleses em busca da liberdade. Agora, são os brasilienses, espalhados pelo gramado do CCBB, Funarte, ermida Dom Bosco, ao longo do calçadão da Asa Norte e dentro dos cafés Objeto Encontrado e Senhoritas, que procuram suas identidades, partilham interesses e se curtem nas redes sociais.
M o d a brasiliense dentro de um mercado mundial
C
omo mostrado, o mercado da moda em Brasília está se ampliando, e há indícios que a moda brasiliense começou a surgir. Todavia, os obstáculos também fazem parte do pacote. Durante uma entrevista sobre o Empório ReK – Consultoria em varejo, a empresária Karla Rosa ressalta alguns pontos: “Nossa capital é inspiradora, mas trabalhar com moda aqui é um grande desafio, pois toda cadeia produtiva é deficiente. Quase tudo tem que vir de fora e, infelizmente, a mão de obra é pouco qualificada. Sendo este, um ponto fraco da confecção local. Temos boas marcas na cidade, porém todas se tornam refém do fast fashion traduzido pelas cópias da moda de outros países”. Por falar em fast fashion, moda rápida, deparamo-nos com uma faca de dois gumes. O prêt-à-porter, como também é conhecido, alavanca o consumo por um lado, mas, pelo outro, desbanca aqueles que são contrários a essa corrente. No Brasil, esse lado da moda não é apresentado como nos outros países. Suas características primordiais são a rapidez, a produção em larga escala, a qualidade inferior e, principalmente, o preço baixo. Por aqui, o preço ainda é caro (grande parte da culpa é dos impostos) e, em BSB, mais ainda devido em especial à falta de produção local. No coração político do País, os empresários sabem que podem cobrar caro— e, claramente, cobram. A maior par-
te da mercadoria é importada, e o preço é muito mais do que dobrado. O BSB Mix, por exemplo, está na cidade desde 1996, e mais da metade do que é vendido lá é comprado em Goiânia e revendido por até 400% do seu preço anterior. A última tendência que vimos na cidade foi uma blusa de renda, modelo encontrado de todas as cores. A roupa em Goiânia custava até R$ 49,90. Já em Brasília, a loja Armário de Liz, na 111 sul, vendia a mesma blusa por R$ 239,90. O fato é que o consumidor candango é assíduo, porém diversificado. Ele pode ser divido em três segmentos: o invisível aos olhos do mercado de luxo; o alternativo e o AAA. O primeiro abrange a classe baixa; o segundo, a
classe média e uma parte da média alta, e o terceiro inclui a outra parte da média alta e a classe A. Por essa separação, as demandas são distintas, mas vamos direcionar o foco para as classes média e alta. Voltando ao pensamento “Quer moda? Vá aos shoppings centers”, logo, é percebido que Brasília é diferente dos outros lugares. Na Capital, o templo do consumo está cercado por quatro paredes, não em uma rua (como a Champs-Elysées, em Paris; a Rodeo Drive, em Los Angeles e a Quinta Avenida, em Nova Iorque). As outras cidades contam com shoppings centers também, como a grande Galeria Lafayette em Paris. Todavia, eles não ofuscam as ruas. Pelo ao contrário, nessas ou-
tras cidades os shoppings são um complemento. As street stores são sempre mais movimentadas, maiores e com mais produtos. O que tem em Brasília que mais se aproxima das ruas citadas acima é o comércio entre a QI 3 e QI 5 do Lago Sul. Porém, a proposta não é a mesma da Oscar Freire, em São Paulo. Na Capital, o comércio fashion a céu aberto não é uma rua e conta com grifes caras: a Magrella, a Amelie e a Maison Ana Paula. Estas três são conhecidas por venderem produtos importados, de marcas que ainda não possuem lojas próprias no DF. Estrategicamente, elas estão localizadas numa área de residências de alto poder aquisitivo da elite brasiliense, e as três dão um tratamento especial para suas high clientes — uma espécie de lounge e/ou um ambiente externo com jardim.
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shopping Iguatemi abriga as lojas de luxo recém-chegadas à Capital. Mesmo com o preço elevado pelos impostos, a demanda das marcas Louis Vuitton e Gucci, por exemplo, é bastante favorável, ambas as lojas chegam a ter lista de espera nas suas it-bags (bolsas mais desejadas). O fator que motiva os candangos é a possibilidade de parcelar a compra em até três vezes sem juros, o que não acontece fora do Brasil. Ainda assim, a diferença entre os preços é gritante. O modelo Speedy 25 da Louis Vuitton em Brasília custa R$ 2.380,00; nos Estados Unidos, U$ 855,00, e na Europa, 580,00 euros. Já o Park Shopping concentra as três maiores lojas de departamento no Brasil (Renner, C&A e Riachuello) e cerca de dez lojas exclusivas em BSB. Além disso, foi o ponto escolhido para abrigar a loja eleita pela Forbes como uma das 122 maiores empresas privadas da América: a esperada e temida Forever 21, que emprega aproximadamente 35 mil funcionários e vendeu 3,7 bilhões de dólares ano passado. Recentemente, houve o boom dos e-commerces, o que alterou a maneira como os empresários lidam com seus negócios. A princípio, o marketing teve que ser aumentado, a inclusão nas redes sociais tornou-se essencial, a propaganda e a parceira com blogueiras e figuras famosas também são práticas que tiveram de ser aplicadas. A Biruta e a Basic Collection são lojas brasilienses que estão no mercado desde a década de 90, possuem confecção própria e se expandiram desde então, com três e cinco endereços cada uma, na devida ordem. Os produtos são exclusivos e seguem o que é tendência nas estações. Embora nenhuma delas possua comércio online, elas mantêm conta no Instagram e página no Facebook atualizadas. A estratégia adotada para alavancar os negócios é renovar coleções quinzenalmente, estar a par do que está in vogue (na moda) e, no fim de cada coleção, colocar descontos de até 70% nas peças.
660,00 euros 975,00 dólares 2.400,00 reais 1.400,00 euros 1.200,00 dólares 6.200,00 reais
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580,00 euros 855,00 dólares 2.380,00 reais
Como se o susto das lojas online não tivesse sido grande o suficiente, os lojistas agora vão lidar com a abertura da famosa fast fashion, Forever 21. O que é apenas uma prévia do que está por vir quando outras lojas do ramo resolverem abrir suas portas no território candango (a sueca H&M e a britânica TopShop serão as próximas a aterrissar aqui). Como competir com elas? Como permanecer no mercado quando as outras contornaram os impostos e permanecem com os preços baixíssimos pelos os quais são conhecidas e — claro — amadas? Por hora, a competição aparenta ser, de fato, desleal. Em Brasília, os empresários estão estudando em silêncio o plano de contra-ataque, pois a Forever 21 ainda está em construção. No momento, eles capricham nas vitrines, decoram as lojas, convidam celebridades para coquetéis e trunk shows (evento reservado para mostrar o que só será vendido dias depois), contratam especialistas para pro-
duzir os lookbooks e fazem sorteios por meio das redes sociais. “Um dos maiores problemas de Brasília é a falta de incentivo econômico e político que a produção criativa do País enfrenta na sua totalidade. Nada é feito para que nossa moda se torne competitiva. A nossa moda é cara, o nosso produto é caro, ele ainda é restrito a matéria-prima e inovação de ponta, porque o Brasil não desenvolveu ainda um plano de economia, um plano de desenvolvimento industrial, pensando em possíveis criatividade. A Forverer 21 produz em grande escala, mas apenas 30% de suas peças são produzidas em Los Angeles. O resto é feito em países como China, Paquistão e até Vietnã, o que torna os preços mais accessíveis. Isso desmotiva os empresários do mercado daqui no geral, pois não tem como vencer esta concorrência”, lamenta a empresária Karla Rosa.
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Fast-fashion reduz espaço de moda autoral no DF
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~
por Pedro Lins
realidade não se restringe à capital federal. Brasília reflete em parte a crise empresarial vivida pelo país e, principalmente, a estagnação da economia criativa em uma indústria que poderia render mais frutos ao Brasil. Com um faturamento anual avaliado em US$ 53 bilhões e 1,7 milhão de empregos diretos apenas em 2013, segundo dados do Programa de Internacionalização da Indústria da Moda Brasileira (Texbrasil), o setor não recebe a devida atenção do governo federal, de acordo com a opinião geral dos profissionais da área e, além de ter de se sustentar com base no consumo interno, é obrigado a lidar com o excesso de tributação e burocracia que funcionam como obstáculos para o trabalho dos empresários.
N
o país que é o quinto maior produtor têxtil do mundo e tem nessa indústria o quinto maior parque produtivo de confecção, a moda ainda caminha para ser enxergada como cultura e como um parque industrial importante para o PIB (Produto Interno Bruto), o que explica o investimento tardio. Hoje, apenas 1% da captação de recursos do governo federal é destinado à moda, segundo a ministra da cultura, Marta Suplicy.
de um projeto de fomento. “Antes de falar sobre, a gente faz economia criativa. Economia depende de modens que façam a conexão entre as redes. Elas sozinhas não funcionam. A SPFW trabalha desde o início pela formação de uma cultura de moda pelo país e ela é um processo. É um projeto de economia criativa com um prazo inicial de 30 anos, ou seja, tem um tempo de maturação”, completa. As “redes” as quais Graça Cabral se re-
moda de passarela e moda como negócio. O CEO da Luminosidade, Paulo Borges, avalia que problema encontrado no Brasil é a falta do fator essencial para que aqui a indústria de moda se desenvolva com força: o produtor. Ele é quem pode investir no talento do designer, transformando a criação em produto e o distribuindo com a divisão dos lucros. No Brasil, na maioria das vezes, é o próprio estilista quem exerce essa função por uma razão simples: não há incentivos necessários para se investir em moda no país. “Hoje, em qualquer lugar que você vá, tem o conhecimento de que o Brasil faz moda e uma moda diversa, que atinge a todos os gostos. A dificuldade é que aqui nós enfrentamos um custo Brasil muito alto, o que tem onerado bastante as empresas. Elas têm dificuldade em ser competitivas pela invasão dos conglomerados internacionais, que têm muito poder de investimento. A gente está diante de desafios que são econômicos, demanda uma questão de política e estratégia de governo que deve ser pensada”, finaliza Graça.
“A moda não é só estilismo. Você tem gestão de produto, toda a área de comunicação e prestação de serviços relacionados à moda. Ela é uma área cara, que demanda muito investimento” esclarece Graça Cabral, sócia fundadora da empresa Luminosidade, proprietária da São Paulo Fashion Week. Com mais de 20 anos no mercado, a empresária trabalha no desenvolvimento da moda brasileira como indústria e, principalmente, em uma cultura de moda no país. Os selos criados por ela e Paulo Borges (SPFW, FFW Mag e Movimento HotSpot) são parte
fere condizem com o grupo de fatores necessários para se desenvolver uma indústria de economia criativa. Há o fomento da cultura, o incentivo para a criação e todos os vários recursos necessários para se construir um ciclo empresarial. Partindo da criação do estilista há ainda o showroom e a venda. É um longo percurso entre o que o brasileiro está acostumando a ver como
Do nacional para o local Quando as atenções se concentram no mercado local, a situação é ainda mais preocupante. Sem indústria, cultura e tradição em moda, Brasília se vê refém tanto dos preços abusivos no setor têxtil como um todo, quanto das invasões dos grandes conglomerados internacionais. Ao menos duas gigantes do fast fashion, indústria varejista de moda a preços populares, já estão confirmadas para chegar à capital. São elas: Forever 21, já na ativa em São Paulo e Rio de Janeiro, e H&M.
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ara o pesquisador e consultor em negócios e design de moda, Marco Antônio Vieira, esse é um momento de grandes transformações para a economia criativa local: “Existe uma série de contradições. Se por um lado o peso desses conglomerados ameaça os talentos autorais, há uma série de emergências que não estão ligadas a esse centro da moda que muda a todo instante. Se pensarmos de maneira bastante realista, hoje a possibilidade de ser autoral na moda ficou restrita às marcas mais poderosas do mundo porque elas não vivem dos desfiles, unicamente. Elas têm um poder de estruturação já estabelecido”. Ao ser feita a comparação em suas devidas proporções, essa seria a expertise
que falta em grande parte dos profissionais da economia criativa brasiliense. Na maioria dos casos de selos autorais que não conseguem sobreviver ao mercado local não há um planejamento de branding, uma relação entre o objetivo da venda e o público-alvo além do desfile. Fora isso, não há políticas por parte do governo distrital para o fomento da moda como economia criativa. Nas cartilhas do GDF engloba-se apenas gastronomia, turismo, música e arquitetura como atividades do setor. A única semana de moda que existe na capital não vai além do show proporcionado pelos desfiles e é uma iniciativa totalmente privada onde o que se faz para a formação de novos talentos não é suficiente.
Sobre o assunto, Marco Antônio é categórico: “Estamos em um período de grande penúria. Não tem mais semanas de moda na cidade e as que existiam, estavam cada vez mais fragilizadas. As pessoas haviam perdido o interesse, o que é um sintoma espalhado no Brasil inteiro, mas aqui é mais grave porque o nível de profissionalismo é bem menor. As iniciativas mais significativas de moda em Brasilia não são autorais; elas são mais domesticadas, com características já existentes na moda”. O pesquisador se refere à infestação de multimarcas no comércio local, o que conferiu a identidade de moda brasiliense. Desde as de luxo, como Magrella, até as que atendem às novas ricas, como a Avanzzo,
condizem com uma visão de moda domesticada, ou seja, ditada por padrões de estilo que não abrem margem para a ousadia de criação. Além de tudo vir de uma fórmula padrão, há certa repulsa da elite local pelo o que é produzido aqui. Segundo Marco Antônio, as pessoas em Brasília não têm educação para lidar com uma moda muito densa porque não vivem em uma cidade cosmopolita. Aqui há circulação de dinheiro, mas não de informação. “Nós vivemos em uma cidade que ainda tem muito a avançar. Por isso o que se apresenta na passarela às vezes está muito a frente do que as pessoas conseguem absorver”, finaliza o pesquisador.
Confronto com os gigantes
E
m termos de indústria, definitivamente não há como competir com os grandes conglomerados da moda. A produção em larga escala não é uma realidade brasileira, diferentemente da China, que vem dominando a demanda das confecções internacionais. Enquanto o estilista brasileiro obtém lucro por peça vendida, as redes de fast fashion o conseguem por quantidade. Por isso os 35% de impostos embutidos na importação dessas marcas não as afetam tanto e transformam a intenção de compra do consumidor. “Essas marcas invadem o país e as pessoas vão pelo consumo, não pelo estilo. O preço sai na frente de tudo. Porém você consegue não perder mercado quando se tem um produto de qualidade”, completa a estilista Anna Paula Osório. Mineira radicada em Brasília, ela está há sete anos no mercado e hoje tem duas marcas voltadas para públicos distintos. A Osório foca os homens e a Osório Princesas, o segmento feminino infantil. Ainda na faculdade, Anna Paula despontou para a semana de moda local e depois chegou a desfilar na Casa de Criadores, importante evento de moda realizado anualmente em São Paulo. Anna Paula pôde custear sozinha todas as coleções que lançou até hoje, o que não ocorre com a maioria dos novos estilistas.
“A questão do patrocínio sempre foi muito difícil em Brasília”, diz. “Ninguém investe em nada hoje em dia. Sempre fiz tudo com o meu dinheiro. Eu tive vários parceiros, mas para as minhas coleções, o tecido eu paguei, a mão-de-obra, as confecções... Tudo era meu. Isso tudo foi muito caro, mas eu tinha que fazer um experimento. Não me deu o retorno esperado, mas foi um investimento essencial porque hoje meu trabalho é reconhecido por conta dos desfiles”, conclui a estilista que movimentava cerca de 50 profissionais por temporada de criação e produção. Uma alternativa para Anna Paula e os profissionais de economia criativa que necessitam captar recursos seria se beneficiar da Lei de Incentivo à Cultura, a Lei Rouanet, que concede incentivos fiscais às iniciativas culturais. Questionada sobre o uso da lei, a estilista se queixa da falta de transparência. Osório considera que a burocracia embutida na aprovação de um projeto é o principal empecilho. “A lei não é clara. Tem uma verba governamental separada para isso, mas nada é transparente”, critica a estilista. Inicialmente, a Lei Rouanet contemplou três consagrados estilistas brasileiros com recursos para o desenvolvimento de desfiles que construam a marca Brasil, item de interesse do governo federal, segundo a ministra da cultura, Marta Suplicy, que considera a moda como o setor da economia que mais cresce no mundo. Pedro Lourenço conseguiu a captação de R$ 2,8 milhões; Alexandre Herchcovitch, R$ 2,6 milhões e Ronaldo Fraga, R$ 2,1 milhões. Os recursos são específicos para que os designers criem coleções baseadas em fatores historicamente brasileiros, ou que apresentem referências claras à cultura nacional. Por exemplo, para desfilar na semana de moda de Paris, Pedro Lourenço desenvolverá duas coleções a partir de Carmen Miranda, enquanto Herch-
covitch tratará da antropofagia cultural na SPFW e na semana de moda de Nova York. Para o governo federal existe esse interesse em internacionalizar o Brasil como marca e a lei é o meio destinado para possibilitá-lo. Aos poucos ações estão sendo tomadas pela Secretaria de Economia Criativa do Ministério da Cultura, criada em 2012, para fortalecer a indústria. A Rede Brasil Criativo é um projeto implementado desde o início de 2014 para a criação de espaços de capacitação, formação e incentivo a futuros profissionais da cultura. A terceira incubadora foi inaugurada recentemente em Salvador – BA com cerca de R$ 1,5 milhão para o funcionamento de 30 cursos que atendam 10 mil pessoas em uma primeira fase do projeto. Ainda assim, a tendência para os estilistas locais será trabalhar com uma estrutura reduzida e mais concentrada no público alvo. Seguindo a premissa, a estilista da Osório Princesas teve de remodelar o planejamento da marca para se manter no mercado. A Osório, masculina, perdeu as atenções e um atelier com confecção sob medida para as meninas está em construção. “É a minha marca que mais dá retorno em desfile e pedidos. É difícil ter que dar mais importância a uma marca do que a outra, mas a moda é um negócio e é difícil manter esse negócio”, conclui a estilista. Na mesma corrente que ela, Marco Antônio Vieira enxerga um cenário inconstante, mas controlável para os novos empreendedores: “Para essa poética da moda, não é o cenário mais promissor, mas ela também tem essa característica de ser resistente. Nós vivemos um período de ilusão em que acreditávamos que o momento da passarela teria outro momento de retorno, mas não houve um planejamento adequado para isso. Esqueceram que a moda
deve ter uma estrutura de negócios além do espetáculo. Acho que uma nova geração devidamente advertida pode vir a trabalhar dentro de um quadro mais realista”.
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Os repórteres se dividem em três categorias: o repórter, que escreve o que viu; o repórter interpretativo, que escreve o que viu e o que ele acha que isso significa; e o repórter especialista, que escreve a respeito do significado do que ele não viu. - Abbott Joseph Liebling
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