Shows no Pelourinho celebram Dia Internacional das Mulheres

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SALVADOR SÁBADO 8/3/2014

Gildo Lima / Ag. A TARDE /20.10.2011

MÚSICA Programação cultural do Pelourinho oferece três shows nas principais praças

Vozes femininas celebram o Dia das Mulheres no Pelourinho FERNANDA SOARES

Em comemoração ao Dia Internacional da Mulher, hoje, a programação cultural no Pelourinho traz três shows gratuitos em homenagem a todas as mulheres, principalmente aquelas que gostam de dançar e se divertir. A festa começa às 20h30, simultaneamente, em dois lugares, com Carla Lis levando seu samba moderno para o Largo PedroArchanjo–seguidodebaile especial com a Orquestra Paulo Primo – e Gal do Beco cantando suas músicas autorais e os grandes sucessos do samba no Largo Quincas Berro D’Água. Já às 21 horas, a cantora Cláudia Cunha apresenta o seu projeto Show Solar, com as convidadas Márcia Castro, Marcela Bellas e Taís Nader, no Largo Tereza Batista. O evento é realizado pelo Centro de Culturas

Cantoras da nova geração da música baiana fazem shows e diferentes homenagens ao Dia Internacional da Mulher SHOWS DE HOJE NO PELÔ CARLA LIS / ORQUESTRA PAULO PRIMO Largo Pedro Archanjo, 20h30 GAL DO BECO / BIRA E NEGROS DE FÉ Largo Quincas Berro D’Água, 20h30 CLÁUDIA CUNHA Largo Tereza Batista, 21h

Cláudia Cunha apresenta o Show Solar no Largo Tereza Batista

Populares e Identitárias (CCPI), órgão da Secretaria de Cultura do Estado da Bahia.

Repertório

Vocalista da Banda Didá, Carla Lis apresenta show solo, com sua voz marcante resgatando sambas inesquecíveis e cantando suas músicas autorais no estilo da MPB.

Com duas décadas de carreira, Carla domina o microfone e mostra o seu talento único, com influências de Elis Regina, Caetano Veloso, Gilberto Gil e Maria Bethânia. E não é só a MPB que envolve o seu show, a cantora também é influenciada pelo samba-reggae. Considerada a Dama do Samba da Bahia e legítima repre-

Poesia para quando tudo é abismo e respirar é cair

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Luciano da Matta / Ag. A TARDE

Divulgação

Carla Lis, da Banda Didá, faz show no Largo Pedro Archanjo

Gal do Beco mostra seu samba no Largo Quincas Berro D’Água

sentante feminina do samba de raiz, Gal do Beco ficou conhecida com o projeto Beco do Gal, que foi realizado durante anos na Avenida Vasco da Gama. Seu repertório inclui autorais e músicas que se tornaram sucesso na voz de Arlindo Cruz, Jorge Aragão e Alcione. A atração encerra-se ao som da banda Bira e Negros de Fé.

Bellas e Taís Nader e do ator Jackson Costa. A festa abordará o universo feminino e as suas particularidades. O ator Jackson Costa recitará poemas, de escritoras como Cecília Meireles e Elisa Lucinda, entre outras. Cláudia diz que está preparando uma homenagem especial. "Além da alegria de comemorar o nosso dia e trazer convidadas maravilhosas, meu intuito de realizar esse show foi trazer a Tropicália e os anos 70. Mostrar o trabalho maravilhoso de Gal Costa”. “A festa não trata apenas disso”, prossegue ela, “mas da violência contra a mulher que acontece em suas residências, nas ruas, a liberdade do corpo feminino, que ainda é alvo de preconceitos. Sejam mães, artistas, profissionais, todas precisamos do nosso espaço”, afirma.

Show Solar

Estreando sua carreira com o CD Responde a Roda em 2009, Cláudia Cunha centra sua música na MPB acústica, com sambas e cirandas. A artista estreia a primeira edição de 2014 do seu projeto Show Solar, evento tributo a Gal Costa, abordando a fase tropicalista e as músicas que se tornaram sucesso na voz desta artista. O show terá participação das cantoras Márcia Castro, Marcela

CURTAS

Valorização da Mulher no Campo Marcos Dias mdias@grupoatarde.com.br

Inicialmente, é difícil se reconhecer nos poemas do livro de estreia de Paulo Nunes, O Corpo no Escuro. É como se, também eles, como dizem os versos do poema-título, independessem das formas, procurassem um centro e ignorassem por quê. E é bom que seja assim. Senão, seria um pouco mais da gosma gelatinosa que tem impregnado a poesia brasileira contemporânea. O umbigão de uma falsa subjetividade em que se revela, em bloco, a insignificância da experiência. Aos 49 anos, o poeta mineiro revela uma voz que não se dobra ao seu tempo: desliza na tradição da língua portuguesa, ordenando o próprio caos na crispação de uma fala própria. É raro sentir essa coragem num primeiro livro. Sobretudo quando a longa convivência com a própria voz demora vir a

público, ou quer apagar o instante em que nasce a solidão. A primeira parte, OBVNI, reúne poemas de 1990 a 1995. Há quase 20 anos, portanto, foram agrupados e estabelecem uma primeira visão do poeta, que escreve desde a adolescência. Horto das Oliveiras deixa ver como o tempo estava ali na encruzilhada do significado. “Mas o minuto, álbum com sessenta fotografias/ mostra o pânico no rosto// do ladrão órfão de pai/ tanta alegria e dor/ que sem ser julgado/ crucificou-se nos ponteiros de um relógio imenso / e só por isso se movimenta”. É de outra ordem, assim, a tensão que Nunes estabelece nas categorias subjetividade e objetividade. E talvez seja esse o traço do seu lirismo. Nos objetos que ele cria, como traduzir a visão ilimitada do que é sem contorno, mas brilha esplendidamente? Nesta parte, é como se os poemas só se mostrassem à leitura. Em voz alta, procuram um fluxo (uma saída) que não se realiza. Alguma coisa na poesia de Nunes não quer, ainda e ter-

A QUEDA

o amor tombou das nuvens / até hoje está caindo: / sinta a vertigem / e o pelo que se arrepia objeto indefinido/ que se perde na viagem / do olho ao pensamento / e nenhum sentido entende o amor, não aquele vulto / outra coisa, essa dor / paira e atrapalha as pessoas e os pássaros entre vários sóis e luas lembra / flutua, cala: nunca volta ao céu / nem se espatifa no chão

rivelmente, ser dita. Como em Limite: “A ave empalhada estremece e não voa — e o mundo se acaba num terremoto”. Já em Tempo das Águas, com poemas de 1998 a 2002, tudo se transforma. É força verbal e oral. Outro livro. O mundo se acaba. Gaston Bachelard disse sobre certo temperamento poético: “O ser ligado à água é um ser em vertigem. Morre a cada minuto, alguma coisa de sua substância desmorona constantemente”. Nunes admite em Adão: “Sentimentos derretem/ impossível defini-los/ quando tudo é abismo / e respirar é cair”. E porque não morre para sempre, e sim a cada minuto, em A Queda (veja ao lado) é o amor que permanece suspenso. Assustam o salto filosófico e a morte espreitando em cada canto. O Círculo Habitado, Um Indeciso, Á e o espetacular Da Pontuação, são testemunhas do método em que, agora sim, voa um corpo no escuro.

O Instituto Mauá Pelourinho recebe a exposição fotográfica Valorização da Mulher no Campo, em homenagem às mulheres, nos dias 10 a 21, das 9 às 17h30, na Galeria Mestre Abdias.

O CORPO NO ESCURO, DE PAULO NUNES /COMPANHIA DAS LETRAS / 120 P. / R$ 36 WWW.COMPANHIADASLETRAS.COM.BR Aurelino Xavier / Divulgação

TELEVISÃO

Que país é este Hélio Pólvora Escritor, membro da Academia de Letras da Bahia

Se ainda está vivo (e suponho que sim, porque a vida, pelo menos a política, sempre lhe foi leve), Francelino Pereira deverá apagar este ano 93 velinhas. Foi tomado por fantasma no velório do presidente Itamar Franco, no Palácio da Liberdade, em Belo Horizonte, mas, segundo o testemunho do jornalista Carlos Newton, tinha ótima disposição física e sorriso desabrochado. É do interior do Piauí (Angical), passou por Teresina e Fortaleza e fixou-se com a família na capital mineira, certamente atraído pelo tutu e torresmo. Veio a ser vereador, deputado federal (reeleito), governador de Minas e senador. Até hoje recebe aposentadoria do cargo executivo e o dizem ligado à Cemig. Ainda assim, premido por

tantos afazeres, cheio de responsabilidades que exigem sacrifícios, tornou-se famoso, de estalo, por obra de uma simples frase. Essa frase, emitida em 1976 contra os que duvidavam da distensão política atribuída aos desejos do general Ernesto Geisel, então presidente, foi a seguinte: — Que país é este? Os brasileiros se espantaram. Sim, que país era aquele? Pensando a fundo no assunto, concluíram que viviam numa ditadura de prazo indefinido, porque Geisel, ao contrário do que se comentava, em vez de trazer liberdades fechou o Congresso. Seguiu-se um período de governadores nomeados — os biônicos. Francelino tornou-se governador indireto de Minas e emplacou uma senatoria. O general gostava dele, tinha-o em alta conta. No partido dominante, a Arena, o piauiense batia-se com um denodo de gladiador. Quando avistei Francelino, diante de mim, a uma mesa de conferências, na redação do Jornal do Brasil, que o convi-

dara, ele era uma celebridade. A frase admirável, verdadeiro achado, corria de boca em boca, provocava debates acalorados. Apurei os sentidos. Magro de carnes, com a cabeça grande e plana que identificava os cearenses e nordestinos em geral, Francelino não tinha o porte de um Nabuco, de um Patrocínio, de um Mangabeira. E o que dizia, de maneira entrecortada e prosaica, desmerecia a cobrança de direitos autorais. Ela ainda ressoa, a frase coruscante, a indagação de alto coturno existencial e patriótico. Que país é este?, continuamos todos a perguntar, perplexos e desarvorados. Há os mais ati-

Ela ainda ressoa, a frase coruscante, a indagação de alto coturno existencial e patriótico. Que país é este?

lados, ou apenas generalistas, que aprofundam a escavação: que mundo é este? O compositor Renato Russo repetiu-a numa canção popular. E como sempre acontece, o enunciado francelínico, de tão repetido a propósito de qualquer perplexidade, seja de origem sexual ou ideológica, expandiu-se no universo de dúvidas e inquietações. Mas a frase, tal e qual o seu presuntivo autor, é imbatível. Digo imbatível porque encontra a cada dia mil razões para que a profiram. Digo presuntivo porque, num desses dias, ao folhear um romance de Benito Pérez Galdós (1843-1920, para mim o maior ficcionista espanhol pós-Cervantes, em quem, aliás, se nutriu), dei com a infalível questão. Surge no diálogo de dois personagens: — Que país! — exclama um, horrorizado. — Isso mesmo, que país! — brada o outro, cheio de asco. Ambos se referiam à Espanha. La Desheredada, que assim se chama a obra, está repleta de indagações e rogos insistentes, o que facilmente se

entenderá: Galdós (que tinha imaginação fecunda, na escrita, mas fugia de discursos, sobretudo os próprios) foi o décimo filho de um tenente-coronel aguerrido e de uma mãe autoritária, filha, nada mais nada menos, de um alto dignitário da Inquisição. Não resisto a transcrever alguns de seus conceitos, no romance atrás citado. “Só pode haver más ações e pensamentos pouco delicados onde se ouve linguagem soez. Que há de encontrar-se, senão charcos e lodaçal onde coaxam rãs?” Outro: “Aqui há dois papéis: o de vítima ou de verdugo. Qual deles vale mais? O de verdugo. Sugar e sugar tudo o que se possa. O povo está sacrificado. Os graúdos comem tudo o que produz a nação”. E este, para findar: “Ouve bem. Se queres trabalhar, trabalha; se não queres trabalhar, não trabalhes. Neste mundo, quem mais trabalha tem probabilidades de morrer de fome, se não o acodem a Loteria ou alguma herança.” Grande Galdós, grande Francelino!

Pela 1ª vez, duas mulheres dividirão a bancada do Jornal Nacional FOLHAPRESS São Paulo

A Globo exibe hoje uma série de ações especiais para o Dia Internacional da Mulher. Uma delas é um marco na história do canal. É que o principal telejornal da emissora, o Jornal Nacional, que completa 45 anos, vai ser apresentado por duas mulheres pela primeira vez. Assim, Patrícia Poeta, que já comanda o noticiário, dividirá a bancada com a jornalista Sandra Annenberg. “Nós temos colegas editoras, operadoras, engenheiras, redatoras, maquiadoras, técnicas e diretoras. Ter duas mulheres na bancada do JN é um ato simbólico, de reconhecimento da grande contribuição diária dessas mulheres à produção do nosso jornalismo”, diz Patrícia. Os demais homens que apresentam os telejornais também darão espaço às mulheres.


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