Lugar de Falas

Page 1


Coleção Deborah Neff. Registro da exposição Black Dolls la collection Deborah Neff. La Maison Rouge, 2018.



Pra quê rimar amor e dor?

“Escrever é estar no extremo de si mesmo” – João Cabral de Melo

A coletânea de textos / imagens que aqui apresentamos surgiu do desejo de registrar e compartilhar uma parcela das reflexões e criações dos alunos das 2° séries dos cursos de análises clínicas, biotecnologia e gerência em saúde da EPSJV/FIOCRUZ, nas aulas de educação artística no contexto da educação politécnica e emergencial. Lugar de Falas: expressa a afetação provocada pelo olhar sobre o acervo de bonecas negras e fotografias da coleção Deborah Neff - exibidas na exposição “Black Dolls” (Paris, 2018) / Poupées noires et photographies aux Etats Unis de 1840 à 1940 e também pelo documentário Babás, da Consuelo Lins (Brasil,2010). A criação de narrativas emocionadas em diversas linguagens põe em debate a multiplicidade de questões suscitadas nos encontros síncronos: racismo, preconceito, memoria, ancestralidade, arte e politica, arte têxtil, polissemia das imagens, legitimidade de fala, branquitude, historia da fotografia, maternidade, infância, resistência, politicas afirmativas, afetos, poesia e dor.


Esta publicação virtual representa a primeira etapa de “culminância” das oficinas de educação artística – artes cênicas (Helena Vieira), artes plásticas / visuais (Verônica Soares) e música (Jeanine Bogaerts), em dialogo com os projetos culturais integradores: som e cena, arte e saúde, semeando e sankofa, problematizando a temática da decolonização dos saberes mediada pela arte. Parceria de uma longa trajetória do CAp-UFRJ este livro foi concebido por mim e diagramado pelo Fernando Rodrigues, companheiro do projeto Investigações Fotográficas. Coube a mim a prazerosa escritura dessa apresentação de um livro virtual, que mostra os frutos da experiência e da paixão pela transformação das práticas cotidianas escolares. Este projeto multidisciplinar construído por companheiras e companheiros de trabalho na consolidação de uma proposta politico pedagógica que investe na formação de estudantes, educadores e trabalhadores na concretização da utopia de gestar uma escola publica de qualidade. - Verônica de Almeida Soares Professora de Artes plásticas e visuais da EPSJV/FIOCRUZ. Professora de Educação Física da Secretaria Estadual da Educação.


Acervo Deborah Neff. Photographer Unknown, Ninth-plate daguerreotype, United States, circa 1855 – 65. Photo : Ellen McDermott, New York City



Alicia Ribeiro Aguiar (2° Biotecnologia) Bordado sobre fotografia, 2020



Larissa Marinho (2° Gerência em Saúde). Releitura.




Tecido Caio César de Araújo Evaristo (2° ano Análises Clínicas) Presa. Amarrada. Controlada. Sem possibilidade de ser. Lá estava eu. Presa em duas realidades sanguinárias e horrendas, presa numa faceta que não me pertencia e presa em uma folha de papel, gravada na História como um ser inanimado.

A vida me mostrou que a verdade era a servidão, mas na verdade morri no exato momento que nasci. Pois tudo o que acontece no presente morre no exato momento que o presente vira passado. Então na verdade, não servi, eu existi para aquilo. Eu não sou de pano, mas me tornei tecido. Tecida com um papel. Existir para encenar uma cena macábra onde eu era apenas uma... uma... escrava.


Sem titulo Ana Clara Moreno (2° Gerência em Saúde)

Lembro-me muito bem quando a menina me pediu que fizeste uma boneca parecida com a dos criados. Talvez por pura inveja, ou por puro capricho se enfeitiçou pela boneca preta de uma maneira que não arredou o pé da barra da minha saia até conseguir minha palavra de que assim que tivesse tempo faria uma pra ela poder chamar de sua.

E fiz, como poderia negar? Fiz com os retalhos mais bonitos que tinha e a entreguei, como um presente de aniversário, algumas noites depois.


Aos poucos fui percebendo o afeto da menina a boneca, levava pra cima e pra baixo, pra tomar chá, andar de cavalo, passear. E me enxerguei naquela pobre boneca preta. Sem falas, sem gostos, sem destino. Apenas seguindo os caprichos dos patrões, vivendo a vida que eles queriam pra ela, a menina nunca chegou a perguntar que chá a bonequinha gostaria de tomar! Nem se tinha medo de cavalos, ou se estava muito cansada para ir a cidade. Entendi, então, o fascínio com a boneca. A menina se via como os pais, que já tinham outros criados pra mandar e desmandar, chamar de seus, e ela, como boa Linton que era e seguidora dos costumes, quis um também apesar da pouca idade.


Print Screen da versão audiovisual do texto "Por quê ?", de Eduardo Lopes, com trilha sonora da Jeanine Bogaertes e Vitória de Oliveira; Atriz: Helena Vieira.


Por quê? Eduardo Lopes (2° Gerência em saúde)

Esse é o meu melhor amigo, meu boneco. Porém, hoje me pergunto, até quando? Quando ele deixará de ser meu amigo, e virará meu escravo. Sim, me questiono se serei capaz de quebrar essa "herança de família", será que terei prazer como eles tem? De vender, maltratar, e barganhar em suas custas. Porém, hoje me pergunto, porque o meu melhor amigo de infância se torna escravo do meu povo branco?



Sem titulo Lucas Lima (2º Biotecnologia) Mais um dia o sol saiu Mais uma boneca surgiu A boneca não é bonita Mas me trás lembranças de um dia lindo Triste mesmo foi quando o meu pai fugiu Isso é apenas mais um dia no brasil.



Ao Chão Yan Ferreira Marins (2º Biotecnologia) Uma boneca ao chão Uma agora moça que passará batom Não mais irá correr descalça Brincar de casinha Ou se sujar de tinta como fazíamos Ela já é moça Agora terá que arrumar um também moço Para uma família formar E mais uma futura moça criar Enquanto eu estou aqui ao chão

Ao fundo de um baú Ou em um porão Talvez nem pareça, mas essa agora moça Uma vez já brincou comigo Já cuidou de mim Como também deixou aquela que me criou cuidá-la Onde está aquela menina? Onde está o seu carinho por mim? Onde está o seu carinho por quem um dia a cuidou? Parece que somos descartáveis como brinquedos velhos para vocês.

(Nota: Foram usadas duas imagens como inspiração nesse texto. A primeira (p.7) simbolizando a menina e a segunda (p.23) usando de um sutil detalhe que aparece no chão, à frente das crianças que me lembrou uma boneca.)


Acervo Deborah Neff. Untitled, back inscription “Helen Dorothy Elmer Jess”, NEFF 10007 (c.1908–1920)



Acervo Deborah Neff. Photographer Unknown, Cabinet Card, Burnham Studio, Norway, Maine, United States, circa 1870 – 85. Photo : Ellen McDermott, New York City



Clarisse Costa (2° Biotecnologia) Sem titulo. Intervenção s/ fotografia.




Influência Maria Letícia Conceição (2°Análises Clínicas) Desde pequena brinquei com minha boneca preta, mas quando mamãe chegava a guardava na gaveta. Ela dizia que era uma cor feia, mas fico me perguntando de onde ela tirou isso? Por onde se baseia? Foi aí que comecei a perceber que minha boneca parecia com a empregada, perguntei a mamãe se era por isso. Ela disse, calada! A partir desse dia deixei a boneca de lado, queria seguir os passos da minha mãe, portanto ouvi o que ela havia falado. Comecei a enxergar a cor da boneca de outro modo, com outros olhos, outros conceitos. Poderia até dizer...imperfeita?! E vou crescer assim! Me diz ai mamãe, satisfeita?



Sem Titulo Keila Palacio Gomes da Silva (2°Análises clínicas)

O enchimento de pano que substitui meu coração me faz ficar vazia como se nada mais importasse, porque será que me sinto sozi nha rodeada por crianças que me disseram que trariam a pureza apenas pelo seu olhar? vão me machucar com eles fazem com os outro com eu? Porque sempre tem que ser tão difícil encarar nos olhos aquele que sabemos que pode nos machucar, porque eu tenho tanto medo de olhar nos seus olho s que tem a cor do céu mas que são mais vazios do que os das bonecas que um dia você vai maltratar Consegue sentir sua pele arder como nunca antes a rdeu? Como se estive sendo punido pelo seu maior pecado? Nascer assim para ser tratado como uma criatura imunda e sem valor. Como é andar livre sem se preocupar e sem ter nada a temer doce criança. Como é ter duas mães mesmo que uma não pertença a você? E despeja a dor de perder sua herança no amor mais sincero que você sentirá? Nunca tenha medo do mundo ele não pode te machucar com me machuca, mesmo não sentindo dor quero chorar de a gonia por ver tudo o mal que no futuro você causar, não consegue notar?


O conto de Sinhazinha Gabriela Lins e Ana Julia de Andrade (2° Análises Clínicas)

-Prazer, me chamo Sinhá, muitos me chamam apenas de boneca, mas meu verdadeiro nome, aquele que a babá que me costurou registrou no cartório aqui da Bahia, é Sinhá. Me senti honrada por ter recebido o convite através de duas alunas da Escola Politécnica de narrar hoje para vocês tudo aquilo que vi, vivenciei e presenciei. Nossa história começa há muitos anos, na época da escravidão, época em que ao contrário do que é hoje, o racismo não era mascarado, era evidente e presente na vida de cada cidadão, era algo que fazia parte da sociedade, completamente habitual, nem um pouco chocante ou comovente. Empatia? Que eu me lembre essa palavra ainda não existia na Língua Portuguesa naqueles tempos. -Fui costurada por uma babá, ela que juntou os panos que me transformaram em quem sou, devo a minha vida a ela, mas o que muit os não sabem é que não apenas bonecas de pano pretas como eu devem a vida às babás, mas também, um imenso número na época, de crianças brancas.


Os pais dessas crianças sem quase nenhuma noção de cuidado entregavam seus filhos de mãos beijadas para as babás, mais famosas como amas de leite na época, elas, escravas que na maioria das vezes eram vendidas após dar a luz a seus filhos, passavam suas vidas na ca sa de tais crianças, as amamentavam, davam amor, carinho e no decorrer do crescimento dessas crianças elas faziam, uma boneca de pano preta como form a de afeto para aquelas crianças. Muitas delas tinham seus filhos, vindos do seu ventre, tirados delas após alguns anos de cuidado, para que sua atenção fosse apenas para os filhos de seus senhores. -Eu não sou apenas uma simples boneca de pano, na época era considerada um símbolo de resistência para aquelas mulheres pretas silenciadas que viviam em um sistema opressor e racista. -Hoje em dia em pleno séc. XXI ainda vejo muitos vestígios desse racismo. Nesse momento estou em uma casa grande, de senhores brancos, em uma estante sendo guardada como artefato de um legado dessa família, mesmo nessa estante parada e estagnada, consigo observar de longe a babá das crianças da casa onde me encontro, e consigo observar que é mais explorada do que as da minha época. Além de cuidar das crianças ela lava, passa, arruma casa e ainda dorme aqui em um lugar que eles denominam como quartinho de empregada, mas que eu, ao observar, denominei de senzala, visto que esse ambiente pode facilmente trazer em mente a época da escravidão. Até quando?



Sem titulo Nicolas Palhano (2° Gerência em Saúde)

Olhava fixamente para a foto que tinha em minha gaveta, não era uma foto qualquer, era uma foto minha com minha boneca preta, boneca essa feita por minha antiga ama de leite, minha mãe preta, Dandara era o nome dela. Quando eu não não precisava mais de seu leite e já estava grande o suficiente pra não precisar de alguém me olhando o tempo todo fui afastada dela, de minha mãe, a verdadeira, que me deu amor e carinho como minha mãe branca nunca me dera. A boneca eu tenho até hoje, ela me lembra de Dandara. Guado a foto e me preocupo em achar minha boneca que está meu eu guarda roupa. Assim que a acho minha primeira reação e abraça-la, como amava fazer com minha mãe preta, embora fosse escura ela não era um preta qualquer como as outras, estaria pra sempre no meu coração.


Minha essência Tamires Costa (2°Gerência em Saúde)

Sempre enxergava o que há de mais belo em meu redor, da forma mais pura, brincava com tudo, até mesmo com bonecas, sendo pretas ou brancas. Em minha essência não havia laços e estruturas racistas, na minha sociedade sim! Mas, na minha essência não! Por qual motivo eu tinha uma boneca completamente diferente da minha aparência?? Eu não sei, creio que ela foi me presenteada com o intuito de criar ou de lembrar de laços afetivos com alguém, com alguém que queria ser lembrado de uma forma diferente do habitual.


Se eu lembro da pessoa? Acho que sim! Mas, não enxergo ela da mesma forma. Não, com tanto afeto, sabe aquela minha essência? Bem, ela foi corrompida por ideias e estruturas racistas! A boneca foi importante, porém, ela por si só não é o elemento central que poderia tirar essas estruturas!

A boneca tem um sonho? Qual é o sonho? De que todos aqueles que deram a boneca ou deixaram a inocente criatura brincar com o brinquedo, ensinassem a criança amar as pessoas da mesma forma que ela amava a boneca, sem racismo, sem descriminação, simplesmente amando. Esse era o sonho da boneca!



Olhar Ana Julia Amorim (2° Analises clinicas)

a vejo todos os dias sempre acompanha uma criança que cria e cuida muito bem. assim como também cuida de mim. me parece uma mulher forte, não sei o que pensa, e nem o que passa mas seu olhar trás uma imensidão triste e vazia

o tom de dores que escurece mais ainda seus olhos castanhos queria ter consciência e direito as minhas próprias decisões dedicaria a minha vida pela causa dessa triste mulher que me identifico pela cor da pele mas no fundo do meu peito que não me foi permitido um coração talvez sinta, que a história desse olhar vá muito além do que uma boneca de pano compreenda.


Print Screen da versão audiovisual do texto "Não acredito!", de Matheus Badaró, produzido por Lenise Cardoso. Link para assistir: https://padlet-uploads.storage.googleapis.com/896977990/c0f986e48969f1f3da15bb152be187a1/texto_matheus_badar__video_Lenise.mp4


Não acredito! Mateus Badaró (2º Gerência em Saúde) Não acredito, meu Deus do céu, não é possível que eu nunca tenha percebido... A verdade vem diante dos meus olhos só agora. Por que fizeram isso? eu não entendo... Como puderam me enganar? Como papai e mamãe puderam me presentear com uma boneca... negra? Como puderam me incentivar a tratar a boneca negra como se fosse gente? Como se fosse igual? Como se fosse normal? Como puderam me enganar, fazendo com que eu tratasse com amor, carinho e respeito uma boneca de cor negra? Será que eles não me amam? Bom, essa seria uma justificativa plausível, porque só me odiando poderiam me enganar dessa forma. Como puderam fazer isso? Me fazer tratar bem uma boneca negra... isso seria como tratar as cozinheiras, lavadeiras, empregadas negras, de maneira normal. Seria como se eu tivesse que respeitar os negros. Se eu continuar tratando bem a boneca negra, se eu continuar dando carinho, atenção e afeto, se eu continuar respeitando a boneca negra, e tratando ela como se fosse igual a mim... Se eu continuar agindo com a boneca negra do mesmo jeito que eu ajo com outras crianças branca, dentro em breve o pior vai acontecer.... em pouco tempo passarei a tratar dessa forma, não só a boneca...


Sem titulo Letícia K. Dias Araújo (2° Gerência em Saúde)

Em seu aniversário, os pais de uma menina branca e rica a presentearam com uma boneca de pano negra, diferente do habitual. O curioso, é que aos poucos a menina foi se habituando a levar sua boneca para onde quer que ela fosse. Até isso se tornar sua rotina, a menina fo i criando afeição à boneca. Porém, conforme foi crescendo, aos poucos perdia sua inocência. A forma que seus pais tratavam os servos, cujo tinham a mesma cor que sua adorável boneca de pano, era diferente. Então, como qualquer criança que procura se espelhar em alguém que admira, a menina, por mais que adorasse sua boneca, começou a impor certas coisas sobre ela. Algo como "Hoje, você não brincará no parque comigo, muito menos tomará noss o chá mágico da tarde."


Apesar disso, a menina não queria se desfazer de sua boneca, então por mais que a mesma não fosse participar de toda a divers ão, a deixou lá, esperando por ela. Suas regras e imposições começaram a aumentar mais e mais, conforme a menina ia crescendo. Quando se tornou uma moça, essa menina teve que se casar. Para o bem de sua família, claro, se casou com um homem que possuía um bom número de escravos. E então, a jovem moça finalmente pôde entender o motivo de tal presente ser tão especial. Afinal, seus pais prezara m para que a mesma fizesse um bom papel como senhora. E então, a menina finalmente pôde se desfazer de sua boneca de pano e colocar tudo que aprendeu em prática.


Lembranças esquecidas Daniela Máximo (2° Análises Clínicas) Texto e imagem Estava com ela o tempo todo, Quando a pegava não largava, Cuidava tanto dela Eu a amava. Ela me lembrava muito aquela moça

Que sempre cuidou de mim, Que sempre brincou, Sempre me ensinou e me amou O tempo passou e eu cresci, Não brinco mais e nem a reconheço, Mas levo comigo essa fotografia



Acervo Deborah Neff. Photographer Unknown, Cabinet Card, Carrington family album, Norwich, Connecticut, United States, circa 1910-20. Photo : Ellen McDermott, New York City



Alicia Ribeiro Aguiar (2° Biotecnologia). Bordado sobre fotografia, 2020




Dandara, 1837 Vênus Ferreira (2° Gerência em Saúde) Hoje é domingo, dia de irmos a igreja, pois é o único dia em que somos livres. Mamãe disse que devemos ir bem arrumados para adoramos a Deus, Deus esse branco igual aos nossos donos.

Mas tenho comigo minha boneca branca, aqui eu sou a dona e ela deve obediência a mim. Só aqui no meu mundinho uma preta é dona de alguém .



Sem Titulo Ana Carolina Mauricio de Andrade (2° Gerência em Saúde) Acho que não vai mudar... Sempre foi assim, e sempre será. Meus avós, meus pais, todos os meus antepassados foram escravizados. Todos foram tirados de suas casas, de suas famílias, para serem escravos de brancos ricos em países distantes. Sempre foi assim, e não vai mudar. O sistema funciona assim. Minha mãe trabalha na casa dos patrões, meu pai trabalha na lavoura, e eu fico aqui brincando... Quer dizer, treinando! Eu hoje tenho essa boneca branca, que dizem que eu tenho que usar pra aprender a cuidar dos filhos da patroa... Pode até ser, mas na verdade eu gosto muito de ter essa boneca branca, porque pelo menos quando estou com ela, posso ter a sensação de brincar com a vida dos brancos, igual eles fazem com as nossas... Mas sabe de uma coisa? Não é tão legal quanto parece. Talvez algo devesse mudar...


Acervo Deborah Neff. ST, vers 1860 – 1880. Ferrotype, 8,5 x 6 cm.



Solidão Ana Beatriz Domingues e Giovanna Machado (2°Análises clínicas) Quero escrever algo novo Que mande embora toda a solidão Que traga alegria e renovo E preencha o vazio do meu coração Quero sentir uma coisa boa Que me impulsione a escrever! Se continuar nesta solidão Sinto que vou enlouquecer Me sinto em um calabouço Não encontro forma de me libertar Só vejo prisões e nada ouço Para destes grilhões me livrar

Olho ao meu redor Só vejo solidão E essa falta de alguém Faz gelar o meu coração Nesta solidão minha cabeça se complica Não sei o que fazer, tantas coisas para resolver Fico esperando, mas ninguém explica Como se faz neste mundo para sobreviver Mas uma luz deslumbrante brilhou Foi Jesus que me tocou E a solidão se foi, acabou Quando o sol em minha vida raiou




Do outro lado do balanço Marcos André e Rafaela Marcelino (2° Análises Clínicas) A solidão vista pelo olhar da criança remete a ela tudo oque lhe foi tirado desde o ventre que o gerou, e não esta aqui pois lhe foi roubado, e foi escravizado para servi ao fruto de outro ventre, criando um laço de afeto com aquele que esta servindo não só o seu alimento, mas também a sua afeição em meio a dor da separação e a dor da perda tentando encontrar nesse vazio um pouco do amor que lhe foi tirado, e nesse balanço da vida ele lembra de sua mãe que por obrigação, o deixou e ficou na solidão.


Acervo Deborah Neff. J.C. Patton, sem tĂ­tulo, IndianĂĄpolis, Indiana, cerca de 1915. Patricia Moribe



Sem Titulo Leonardo William (2° Gerência em Sáude)

Maryene: Charlotte estou com tédio... Pai: Comporte-se Maryene, uma jovem deve se comportar e ser disciplinada. Babá: Oh Maryene, venha ler um livro comigo, ele fala sobre as incríveis aventuras de Dora e a boneca Emília, boneca a qual é bem parecida com a sua Maryene. Forte e corajosa.


Maryene: Nossa Charlotte que incrível, e eu posso mesmo ler com você? Babá: Mas é claro Maryene, venha cá e não esqueça de trazer a sua companheira.... como se chama mesmo? Maryene: Sophia, ela se chama Sophia. Charlotte. Babá: Pois muito bem, traga Sophia aqui para que possamos desfrutar de um momento de leitura sereno e agradável. Fim.


Acervo Deborah Neff. David A. Warlick, sem tĂ­tulo, Marietta, GeĂłrgia, 1891.




Sem Titulo Guilherme Peres de Oliveira (2° Gerência em Saúde) Não sou bom em criar histórias e diálogos, mas analisando essa foto, e pensando que é uma foto de uma época em que uma pessoa tinha seu valor determinado na cor de sua pele, lembro de uma frase que já li muitas vezes na internet "ninguém nasce racista". Essas babás provavelmente ficavam muito tempo com essas crianças, alimentando, brincando ou ensinando. Essas crianças tinham uma ligação com as babás, as crianças ti nham um vínculo muito forte, e talvez, isso explique por que essas crianças nas fotos estão com bonecas pretas, feitas à mão, e não as de porcelana. Mas por que quando crescem tratam essas mesmas babás que acompanhou toda a infância como um nada ? Uma pessoa sem nenhum valor ? Por que quando crescerem, vão ter prazer em maltratar ou vender outras mulheres pretas ? Elas não tem nenhuma lembrança de sua infância ? De como essas babás foram im portantes em sua vida ?!. É, por conta de uma sociedade racista, uma criança ingênua e sem maldade no coração, aprendeu a odiar...



Sem titulo Mariana Mathias (2° Analises Clinicas)

Referências Nascemos racistas? Que referências temos quando crianças? Aversão a alguém que me criou como se tivesse saído de seu próprio ventre Por quê? Nascemos livres Mas desde sempre com o “certo” e “errado”

O branco ensina O preto aprende Então Como aprendi tanto sobre a vida Com uma mulher negra E uma boneca preta na mão?



A QUEM AMO? Samuel Cabral (2⁰ ano Análises Clínicas)

A quem devo amar?

não a conheço mais

como ela

A que me gerou

Porém

E assim

ou a que me amamentou?

lembranças me marcaram

Talvez

Mesmo tão diferentes

Mesmo ela estando em servidão

terei vergonha

me apeguei a que me deu colo e aconchego

Me envergonho em saber

Mas nunca deixarei de amá-la

Embora

Que ao crescer

Como sempre

tenha frieza e rancor no olhar

Serei padronizado por uma sociedade

irei ressaltar

Não consegui desapegar

Onde eu teria que me impor

A quem devo amar?

Hoje

sobre pessoas


Augusto Gomes Leal e a ama de leite Mônica. Recife/PE, 1860. Fundação Joaquim Nabuco.




A minha mucama Rafaela Batista Oliveira (2° Biotecnologia)

Com seus largos braços quem me embalam com carinho E sua doce voz que me acalma de mansinho Minha mucama que me alimenta de amor E volta suas memórias com tanto fervor Que mostra em sua pele A força de seu amor



Carta ao filho desconhecido Sophia Martins de Aguiar (Biotecnologia)

Eu morreria por essa criança. Se eu não morresse, morreria de outro modo, sufocada pelo ruído ensurdecedor das chibatas, e da dor excruciante que consigo sentir a cada golpe.. Eu morreria por essa criança, branca, que nada minha é além de minha possuinte. Ela não é nada minha, nada. Talvez o único resquício de bondade que a maré branca trás, sufocando minha melanina com lentidão. Cada dia mais eu morro, sufocada, convulsionando, como alguém que se afoga em alto mar. Você gostaria dela, ela tem a sua idade. Eu morreria por ela, mas já vivi por você. Meu filho, minha real criança. Nunca saberei sua cor favorita, se você sonha em ser livre como eu. Só sei que tenho que sobreviver mais um dia, para te conhecer do outro lado, quando essa maré branca passar.



Sem titulo Alison Arcoverde (2° Biotecnologia) Minha história Minha raiz Minha herança Onde estão minhas crianças? Me orgulho de minha bela formada matriz Onde está minha criança?! Que sua de mim

Da minha cor. Cuido de sua cria como cuido da minha dor Rezo à noite aos meus pais de espírito Para que a pequena branca não tenha rancor Quando dos meus fartos seios se alimentou OH, oxalá! Que minhas breves heranças consigam amor.



Sem Titulo Larissa Marinho (2º Gerência em Saúde) Diferente da maioria dos meus amigos, eu fiz o processo de tentar entender a imagem, já que não sou tão boa assim em criar hi stórias. Pra mim, a última foto, com o auxilio da legenda dela, representa importância da babá, que apesar de ser negra (levando em co nsideração o contexto da época, onde a cor da pessoa determinava o valor dela), tinha um papel essencial na vida daquela criança, talvez bem mais essencial que o da mãe dela, pois a babá era quem cuidava, amava e ensinava. Talvez isso explique o porquê de algumas crianças terem tanto carinho p elas suas bonecas negras e pelas suas babás (como eu consigo enxergar nessa foto e nas outras).



Sem Titulo Quezia Luiza Barbosa (2° Gerência em Saúde) Ao visualizar essas fotos consigo perceber o relacionamento afetuoso entre as crianças "brancas" e suas babás "negras". Será enquanto somos crianças o afeto não tem cor ? E por que quando crescemos muitas delas deixam de amar as suas babás ? Nas imagens também podemos observar a relação afetiva demonstradas por aquelas bonecas "feias". Quando paramos e pensamos que aquelas crianças tinham condições para comprar bonecas de porcelanas "lindas e caras", mas preferiam brincar com bonecas "feias e baratas" pois só assim conseguiam demonstrar os seus sentimentos por quem dedicavam as suas vidas por elas.


Taiza Mello (2° Biotecnologia). Print screen do vídeo. Link para assistir trecho da obra: https://youtu.be/QlBKBrTICS4




Sem Titulo Pedro Felipe de Abreu (2° Biotecnologia) Texto e fotografia

A imagem que eu produzi mostra (hipoteticamente) o olhar da baba da exposição "Black Dolls". Dentro do cenário em que criei, ela está olhando do "quartinho de empregada" através da fechadura, espreitando a luz branca do lado fora e ao mesmo tempo segurando uma colher de pau. A luz branca por de traz da fechadura, representa ao mesmo tempo sua vontade de ter um pouco do mundo "dos brancos" e sua dor pelo mesmo. A fechadura e o quartinho trazem a ideia de que, mesmo com o fim da escravidão a babá continua trancafiada. Além disso, a fec hadura representa o acesso que os brancos tem a babá e ao seu corpo. Por fim, a colher de pau simboliza o afeto que a babá teria desenvolvido pela criança branca, seja porque seu filho foi arrancado de ti e a criança de quem cuida "ocupe" esse vazio, ou até mesmo porque era a única na casa com quem poderia dar e receber afeto.


Foto montagem a partir de apropriaçþes de imagens da internet de babas e crianças, feita pela aluna Ana Carolina Moraes.




Foi roubado de mim Ana Carolina Moraes (2º Análises Clínicas) Não pude te sentir Não lhe vi Muito menos reconheci

Não te salvei Não lhe dei Muito menos chorei

Aquele que me foi tirado Para que outro fosse criado Aquele que não senti em meus braços E que sente uma inveja pura daquele que foi amamentado.

Aquele que não bordei Para que outro ganhasse o bordado Aquele que nem um boneco dei Para que a outro fosse dado.


Ana Beatriz da Silva Matos (2° Analises Clínicas), desenho


Sem Titulo Larissa Santana Machado (2⁰ Análises Clínicas)

Eu fui criada por uma mulher sonhadora Para alegrar o coração da criança Vi de perto o amor Trazendo consigo a esperança Quem dera se debaixo desse amor Não houvesse tanta dor. Eu fui criada por uma mulher sofredora Para representar a alegria E com o tempo a criança crescia Já não reconhecia nossa afeição

Sinto que sou parte desses afetos Que se tornaram apenas passageiros Ainda me lembro do olhar da criança Puro , inocente e verdadeiro Bom seria se as crianças fossem eternas E os adultos fossem iguais a elas Aquela criança ainda existe Presa a esse adulto repleto de intolerância só precisa ser resgatada Esperando voltar à sua essência


Coleção Deborah Neff. Registro da exposição Black Dolls la collection Deborah Neff. La Maison Rouge, 2018.



Luis Eduardo (2° Biotecnologia). Desenho: Um Simples menino sem nome.



Sem Titulo Yan Matheus (2° Biotecnologia)

Essa fotagrafia do boneco me disparou um gatilho, de lembranças de um amigo, baixinho e cabeçudinho. Ele tem uma classe de vida bem mais luxuosa que a minha mas sempre teve um carinho e acolhimento por mim.



Coleção Deborah Neff. Registro da exposição Black Dolls la collection Deborah Neff. La Maison Rouge, 2018.




Sem Titulo Mariana Reis (2° ano Análises Clínicas) Bonecas negras e feita de pano couro e madeira, muitas das vezes esses objetos eram feitos de muito racismo, opressão e violência seu olhar traz um vazio e angústia por trás disso tinha uma história cultural e política crianças brancas agarrando

bonecas negras uma ligação afetividade entre as duas mostra uma relação que a babá negra que à criou a menina mas tudo isso não passa de uma fantasia.


J.H. PAPF, Babá brincando com criança em Petrópolis, 1899. Coleção G. Ermakoff.




Sem Titulo Giovanna Mendes e Jessica Isabela (2° Analises Clínicas) Olhar para a imagem e imediatamente passar pela cabeça algo que ocorre constantemente em famílias negras. As histórias na qual já aconteceram e acontecem são assustadoras, pois quem iria imaginar que alguém lhe pararia na rua por estar apenas dando uma volta com sua neta e ser confundida com uma babá por simplesmente ter o tom de pele retinta? De certa forma modifica nossa realidade de pensamento e percepção. Esse preconceito, infelizmente está tão impregnado e enraizado na sociedade que os tornam ocultos e a recorrência dos fatos nem assustam mais os tribunais. Século 21, 2020, Miguel de 5 anos morre por descuido da patroa de sua mãe que apenas tinha lhe pedido para que ficasse com o menino por alguns minutos enquanto ela caminhava com seus cachorros! Novidade não é, mas até quando negros serão lembrados apenas no Dia da Consciência Negra?


Print screen do filme Babรกs, 2010. Diretora: Consuelo Lins. Brasil.




Sem Titulo Kauã Brito (2° Biotecnologia) Acordo e logo penso, ´´Como meu filho deve estar?``, não termino o raciocínio, pois preciso trabalhar. Tudo começa com uma panela, logo antes do amanhecer, preparo a mesa, para os meus senhores. Com a chaleira em mãos, os aguardo, não importa quanto tempo, cá eu preciso estar. Após servir os meus senhores, visto aquele que me chama de mãe, mas não qualquer mãe, a mãe preta. Vestida de branco, levo-o à escola, num carrinho tão luxuoso, quanto meu verdadeiro filho nunca imaginaria. ´´Como meu filho deve estar?``. Ao chegar da escola, meu jovem senhor corre em direção aos meus grandes senhores, que logo o afastam dizendo ´´precisamos trabalhar``. Em prantos, o jovem vem aos meus braços que o consolam sem exitar. Após por o jantar na mesa, me dirijo à cozinha, onde sento sozinha. Ao fim da noite, vou ao meu pequeno quarto, onde deito e tento pensar em meu verdadeiro filho, penso, penso, penso, penso, penso, até perceber que não consigo mais pensar, afinal, amanhã cedo, eu preciso trabalhar.


Print screen do vídeo: Ela se Foi. Atriz: Rayssa Raposo e Trilha Sonora: Pedro Felipe (2° Biotecnologia). Link para assistir o vídeo: https://youtu.be/AvISNDiznOA



João Vitor Souza (2° Biotecnologia). Desenho.



Raiane Ribeiro (2° Biotecnologia). Desenho.



Vitória Rodrigues (2° Gerência), colagem e recorte.



Escola Politênica de Saúde Joaquim Venâncio Diretora Anakeila de Barros Stauffer Coordenação Geral do Ensino Técnico Ingrid D´Avilla Freire Pereira Laboratório de Formação Geral e Educação Profissional em Saúde (Labform) André Vianna Dantas Organizadora Verônica S0ares Diagramador Fernando Rodrigues Rio de Janeiro, 2020




Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.