Revista Amazônia Viva

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REVISTA ENCARTADA NO JORNAL O LIBERAL. NÃO PODE SER VENDIDA SEPARADAMENTE.

outuBRo 2o13 | EDIÇÃo No 26 | ANo 3 ISSN 2237-2962

CÍRIO um FenômenO de Fé e CIênCIa

Saiba como o conhecimento científico está envolvido na realização da maior festa religiosa da região norte do Brasil

REaLiZaÇÃO

apOiO

SETEMBRO 2012




A Ciência contribui para a vivência da festa Saiba como os conhecimentos em Física e Biologia são empregados na realização do Círio de Nazaré ASSUNTO DO MÊS, PÁG. 32

OUTUBRO 2013


EDIÇÃO Nº 26 / ANO 3

Irving Montanar, um visionário

NOSSA CAPA Multidão de 2,2 milhões de fiéis no Círio de Nazaré. FOTO: FERNANDO SETTE

outuBRo 2o13 | EDIÇÃo No 26 | ANo 3 ISSN 2237-2962

REVISTA ENCARTADA NO JORNAL O LIBERAL. NÃO PODE SER VENDIDA SEPARADAMENTE.

OUTUBRO 2O13

CÍRIO um FenômenO de Fé e CIênCIa

Saiba como o conhecimento científico está envolvido na realização da maior festa religiosa da região norte do Brasil

REaLiZaÇÃO

apOiO

SETEMBRO 2012

IDEIAS VERDES, Pág.29

Indefectível cheiro de pitiú CONCEITOS AMAZÔNICOS Pág. 17

O espetacular Joe Bennett um dedo de prosa, Pág. 52

E MAIS EDITORIAL Círio científico PRIMEIRO FOCO Notícias FATO REGISTRADO Índios Canela CARTA ABERTA Comentários dos leitores QUEM É? Luiz Braga MUDANÇA DE ATITUDE Sobre o óleo de cozinha EM NÚMEROS Cadeia da produção do dendê OLHARES NATIVOS Temas amazônicos CURIOSIDADES DA BIODIVERSIDADE Identidade animal PERGUNTA QUE NÃO QUER CALAR Túneis em Belém

TARSO SARRAF

FERNANDO SETTE

O6 O7 15 15 16 17 18 2O 42 43 44 57 58 6O 62 63 65 66

Comportamento sustentável Conheça o S11D NA LISTA Super-heróis com a cara da Amazônia ARTE REGIONAL Fotos antigas do Círio de Nazaré MEMÓRIAS BIOGRÁFICAS Armando Dias Mendes AGENDA DE EVENTOS Simpósios, congressos e arte

O desafio de educar na região amazônica

BOA HISTÓRIA Visita

Professores engajados na missão de transmitir conhecimento às novas gerações de estudantes da Amazônia têm incorporado às atividades multidisciplinares questões ligadas à sustentabilidade

NOVOS CAMINHOS Claudia Kahwage

VIDA EM COMUNIDADE, PÁG. 48

FAÇA VOCÊ MESMO Embalagem de miriti

OUTUBRO 2013


DA EDITORIA

Círio científico

Publicação mensal DELTA PUBLICIDADE - RM Graph Editora outubro 2013 / EDIÇÃO Nº 26 ANO 3 ISSN 2237-2962

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FOTOS: EVERALDO NASCIMENTO (1 e 2) E AGÊNCIA PARÁ (3)

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uando a equipe da revista Amazônia Viva se reuniu para decidir qual seria a matéria de capa de outubro, a conclusão foi óbvia e unânime: Vamos falar sobre o Círio de Nazaré! Mas como abordar de forma inovadora a maior festa religiosa da Amazônia sem cair nos já conhecidos números grandiosos que envolvem a festa? Então, resolvemos mostrar a manifestação popular sob outra ótica: a da Ciência. Para isso, fomos atrás de respostas a fenômenos que fazem parte dos elementos do Círio. Longe de querer levantar a dicotomia entre fé e razão, conversamos com profissionais ligados à área da Física e Biologia para que explicassem algumas curiosidades envolvidas na realização da procissão que leva mais de dois milhões de pessoas às ruas de Belém, no segundo domingo de outubro. O professor e físico da Universidade Federal do Pará, Elinei Santos, a médica hematologista Tereza Brito e o professor da Faculdade de Engenharia Mecânica da UFPA, Nagib Charone, responderam, dentro de suas áreas de conhecimento, a questões como número de fiéis, metabolismo dos promesseiros, peculiaridades da berlinda e imagem da santa, e, claro, a emblemática corda dos devotos, que interliga não somente os que se agarram a ela, mas a todos que, de certa forma, vivem uma experiência de Círio que não se resume aos limites da fé.

Presidente Lucidéa Batista Maiorana Presidente Executivo Romulo Maiorana Jr. Diretor Jurídico Ronaldo Maiorana Diretora Administrativa Rosângela Maiorana Kzan Diretora Comercial Rosemary Maiorana Diretor Industrial João Pojucam de Moraes Filho Diretor Corporativo de Jornalismo Walmir Botelho D’Oliveira Diretor de Novos Negócios Ribamar Gomes

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Diretor de Marketing Guarany Júnior Diretores José Edson Salame José Luiz Sá Pereira Conselho editorial Ronaldo maiorana João Pojucam de Moraes Filho Walmir Botelho D’Oliveira Guarany Júnior lázaro moraes REDAÇÃO Jornalista responsável e editor chefe Felipe Melo (SRTE-PA 1769) 3

Pesquisador e consultor técnico Inocêncio Gorayeb Editor de arte FILIPE ALVES SANCHES (SRTE-PA 2196) Colaboraram para esta edição O Liberal, Vale, Agência Pará, Agência Brasil, Museu Paraense Emílio Goeldi, Universidade Federal do Pará, Fundação Curro Velho (acervo); Thiago Barros, Vito Gemaque, Camila Machado, Fabrício Queiroz, Victor Furtado, Anderson Araújo, Moisés Sarraf, Janine Bargas (reportagem); Moisés Sarraf, Fabrício Queiroz, Janine Bargas (produção); Hely Pamplona, Fernando Sette, Everaldo Nascimento, Oswaldo Forte, Tarso Sarraf (fotos); André Abreu, Leonardo Nunes, Jocelyn Alencar, Andrey Torres, Sávio Oliveira, Márcio Euclides (ilustrações); Alexsandro Santos (tratamento de imagem).

AS FONTES Professor

AMAZÔNIA VIVA é editada por Delta Publicidade/ RM Graph Ltda. CNPJ (MF) 03.547.690/0001-91. Nire: 15.2.007.1152-3 Inscrição estadual: 158.028-9 Avenida Romulo Maiorana, 2473, Marco - Belém - Pará.

Elinei Santos, dra. Tereza Brito e engenheiro Nagib Charone: tudo sobre o Círio

amazoniaviva@orm.com.br PRODUÇÃO

FELIPE MELO Editor chefe

REALIZAÇÃO

APOIO

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OUTUBRO 2013

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Revista impressa com o papel certificado pelo FSC - Forest Stewardship Council


igor vianna / divulgação

PRIMEIRO PRIMEIROFOCO FOCO o que é notícia para a amazônia

Um rio de descobertas

Praticantes de canoagem se aventuram na Expedição Rio Amazonas, trocando experiências de vida no contato com comunidades ribeirinhas do Pará

PÔR-DO-SOL

Canoísta registra uma das inúmeras paisagens idílicas no percurso da expedição

Pós-graduação Instituto Tecnológico Vale lança edital para segunda turma de mestrado. P. 11

Fotografia Sebastião Salgado sonha em fazer um trabalho mais ousado na Amazônia P. 13 OUTUBRO 2013


PRIMEIRO FOCO

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igor vianna / divulgação

uando os espanhóis e portugueses chegaram à Amazônia tudo era deslumbrante. Os grandes rios, extensos como mar, foram uma das características que mais lhes chamaram a atenção. Os caminhos das águas encantaram, foram motivos de guerra e de estudos ao longo dos anos. Assim como os desbravadores de séculos atrás, o trio de canoístas Igor Vianna Sousa, Ivaldo Rostand e o britânico, radicado nos Estados Unidos, Murdock Henderson também percorreu uma longa distância pelas águas. A “Expedição Rio Amazonas” foi de caiaque da cidade de Santarém, no Baixo Amazonas, até a capital Belém, num percurso de 892 km. “Você não vê a outra margem do rio”, enfatiza Igor. A expedição durou mais de duas semanas. A viagem não foi à toa. O grupo tinha objetivos claros e nobres: lançar uma campanha de arrecadação de fundos para criar uma escola pública de canoagem para crianças e adolescentes de Belém e incentivar pessoas a superar suas dificuldades praticando o esporte. “A gente consegue realizar tudo aquilo que se propõe a fazer. A gente poderia ir para qualquer lugar do mundo, a ideia que sente é que você consegue ir para qualquer lugar do mundo”, ensina Igor, canoísta desde 2007, e atualmente instrutor da Escola de Canoagem Marenteza. “Somos nós mesmos que construímos nossas limitações e

AMIZADE Famílias que moram às margens do rio Amazonas receberam a equipe com surpresa conseguimos superá-las”, complementa. O integrante Murdoch Henderson é um exemplo ainda maior de superação. O inglês é surdo e fundou a Organização Não Governamental (ONG) Intaba, com o objetivo de colaborar com deficientes auditivos de países em desenvolvimento. Murdoch já atravessou os Estados Unidos de bicicleta. “Eu

fiquei muito feliz de encontrar o Murdoch, a gente tem uma semelhança muito grande de ideais. O Murdoch é surdo e fez o trajeto para mostrar que a pessoa que tem algum tipo de limitação consegue superar os seus desafios”, afirma Igor Vianna. O próximo passo para Murdoch será descer de caiaque do Peru ao Brasil, pelo rio Amazonas.

UMA AVENTURA NAS ÁGUAS Como foi a Expedição Rio Amazonas

23/7 12h CHEGADA

Almerim

Barcarena

Gurupá

Muaná Breves

Prainha

10/07 às 8h Monte Alegre

Curralinho

Melgaço

Saída

Santarém

PERCURSO

892 km de Santarém a Belém

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TEMPO

316 horas.

São Sebastião da Boa Vista

Tempo de remada De 8 a 10 horas por dia

Belém


TRÊSQUESTÕES Tecnologia reduz o lixo eletrônico A preocupação em diminuir a quantidade de resíduos jogados no lixo comum fez com que a estudante de engenharia ambiental da Universidade Federal Rural do Pará, Edkeyse Gonçalves, criasse o Web Resíduo Tecnológico. Ainda sem publicação na internet, o projeto está em busca de apoio financeiro para a causa. igor vianna / divulgação

O mais experiente da “Expedição Rio Amazonas” é Ivo Rostand, que foi um dos primeiros esportistas a fazer o trajeto de Santarém a Belém de caiaque acompanhando um amigo que queria provar o seu amor por sua namorada na época. Esta foi sua quinta travessia entre as cidades. O encontro com a fauna e a flora amazônica foi um dos momentos marcantes. “Quem sempre nos acompanhou foram os botos, eles vinham perto fazendo borrifo”, conta Igor. E viram também cobras, arraias, jacarés e pássaros. “Em determinados locais, as aves saem e voam no final da tarde, fazem um barulho e vão dormir em algum local afastado, sempre no pôr do sol. É uma das coisas mais agradáveis que sinto falta”, diz. Mas nem tudo foi diversão. Os aventureiros também tiveram que enfrentar condições desfavoráveis nas correntezas, ficar atentos ao ataque de piratas e superar suas energias em alguns momentos para chegar ao destino. “As distâncias eram muito grandes e a gente tinha que remar mais de 110 km por dia, que é a distancia de Almerim até Gurupá, nesses dias a gente precisava chegar porque senão não teríamos onde ficar e dormir”. Nestes momentos, o apoio dos ribeirinhos foi fundamental. Igor faz questão de destacar a ajuda desinteressada e amiga desse povo da Amazônia. “Os ribeirinhos foram o diferencial nessa expedição no momento que faltou água,

ACOLHIDA Igor Vianna registra visita a pescador comida e em que a gente estava longe de casa, se eles pudessem tomariam o nosso lugar e remariam para a gente. São dezenas de pessoas que receberam a nossa visita, e não tenho como agradecer a eles e dizer que estamos bem. Essas dezenas de ribeiros que receberam a gente somente com o carinho e receptivos e é isso que as pessoas urbanas precisam resgatar”, destaca. Para aqueles que se interessaram pelo esporte Igor dá a dica fundamental que é buscar instrutores treinados em uma escola profissional. “Respeite o limite que o esporte impõe, eu mesmo não comecei de forma aleatória”.

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Como surgiu a ideia de desenvolver esse projeto?

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Qual o principal objetivo dessa iniciativa?

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Quais as vantagens desse projeto para a sociedade?

O Brasil enfrenta nos últimos anos o crescimento desordenado de resíduo tecnológico. Segundo a ONU, o Brasil lidera o ranking, em consumo de resíduo tecnológico entre os países emergentes. Daí surgiu a preocupação com o tema e em ajudar a solucionar o problema.

Reduzir a quantidade de resíduos tecnológicos que são descartados de forma inadequada, minimizando os impactos no meio ambiente, além de implantar a logística de resíduo tecnológico no bairro da Terra Firme, por meio de sistemas Web Resíduo Tecnológico: WRT Estoque, Leilão on-line, e Bazar virtual.

A contribuição se dará principalmente pelos benefícios socioeconômicos e ambientais a serem gerados pela população contribuindo para a geração de emprego e renda, beneficiando diretamente catadores de lixo, além de ajudar na conscientização da população local sobre a importância da coleta dos resíduos tecnológicos, protegendo o meio ambiente.

divulgação

igor vianna / divulgação

SUPERAÇÃO Com o caiaque e a coragem, aventureiros remaram por 892 km de Santarém a Belém

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PRIMEIRO FOCO baixo amazonas BAIXO AMAZONAS

Todos sabem que em hospitais se tratam de pessoas doentes, mas em Santarém, no oeste do Pará, além dessa tarefa vital, o Hospital Regional do Baixo Amazonas também desenvolve um programa de sustentabilidade com a comunidade local. Entre as atividades do Programa de Gerenciamento de Resíduos, criado no ano passado, estão reciclagem de materiais, transformação do óleo de cozinha utilizado no hospital, campanhas educativas de educação ambiental para pacientes, servidores e comunidade, substituição de substância tóxica como

mercúrio e doação de mudas de árvores para a população. As iniciativas são planejadas pela Comissão de Gerenciamento de Resíduos Sólidos e pelo Comitê de Sustentabilidade e Responsabilidade Social da instituição. Devido ao trabalho, o Hospital ganhou o prêmio “Amigo do Meio Ambiente 2013”, sendo o único hospital do Norte, Nordeste e Centro-Oeste do país contemplado durante o VI Seminário de Hospitais Saudáveis, realizado no dia 3 de setembro deste ano, pela Secretaria de Estado de Saúde de São Paulo.

CORPO SÃO, NATUREZA SÃ Conheça algumas ações sustentáveis do Hospital Regional do Baixo Amazonas

INFOGRAFIA: FILIPE SANCHES

REutilização Reciclagem de 100 kg de invólucros das caixas cirúrgicas, que não entram em contato com os pacientes

Desperdício Campanhas educativas de orientação aos servidores sobre o impacto ambiental na área do hospital

PLÁSTICO Doação de 7,5 toneladas de plástico para a produção de mangueiras d’água

VERDE Arborização da área externa, com o plantio de árvores em extinção, como pau-rosa e preciosa

MERCÚRIO Substituição dos materiais com mercúrio por termômetros e aparelhos de pressão arterial digitais

FONTE: Hospital Regional do Baixo Amazonas

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MINERAÇÃO

Estudantes Dez escolas públicas e particulares de Belém receberam em setembro a exposição “Circuito Mineração”, que mostra como os minérios estão inseridos no dia a dia das pessoas. A exposição aposta em tecnologia, como o uso de tablets, para atrair o interesse dos estudantes (acima) em conhecer a produção mineral no Estado, além de vídeos e jogos interativos, como o jogo de chão “Ciclo Sustentável” e a roleta interativa com perguntas sobre as atividades de mineração e ações sustentáveis desenvolvidas pela Vale. Mais de dois mil alunos visitaram a exposição durante os 10 dias do “Circuito Mineração”. Além das escolas, a exposição também esteve no Bosque Rodrigues Alves. A partir da segunda quinzena deste mês, o circuito vai percorrer dez escolas de Marabá, no sul do Pará.

VALE / DIVULGAÇÃO

energia Campanha de diminuição do consumo de energia com meta de 10% de redução

VALE / DIVULGAÇÃO

Hospital desenvolve programa sustentável

Exposição A produção do setor mineral no Estado é tema da exposição “As riquezas minerais do Pará” (acima). A mostra, que é realizada pelo Simineral e o Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram), ficará aberta até o dia 29 de agosto de 2014, na Casa de Mineração, em Belém. A exposição destaca o Ferro Carajás S11D, projeto que aumentará a produção de minério de ferro, em Carajás, o de maior qualidade do planeta. A visitação pode ser feita de forma agendada. Os interessados em mais informações podem entrar em contato pelo número (91) 3230-4055.


fernando sette

PÓS-GRADUAÇÃO Instituto é pioneiro no país ao oferecer um curso de mestrado vinculado à empresa de mineração e focado em sustentabilidade mercado de trabalho

ITV lança edital para 2a turma de mestrado vidade, seguindo cursos e iniciando suas pesquisas. A experiência está sendo muito positiva. Com o tema “Uso Sustentável de Recursos Naturais em Regiões Tropicais”, o curso abriu 22 vagas. Segundo o coordenador do mestrado, Roberto Dall’Agnol, a turma pioneira surpreendeu e superou as previsões, gerando uma boa perspectiva para a segunda turma. “Os alunos demostraram muito interesse e estamos bastante satisfeitos com os resultados obtidos. Por conta disso, a expectativa para a segunda turma é muito positiva”, garante. O ITV tem uma proposta interdisciplinar que enfoca temas complementares

ao desenvolvimento sustentável e à mineração. “No Brasil, não é comum uma empresa desenvolver um instituto de pesquisa, e isso já é algo extremamente positivo, pois envolve essa empresa na geração de tecnologia e inovação, ajudando-a a entender como suas atividades podem impactar na sociedade. O curso deve ampliar a formação de recursos humanos altamente qualificados na Amazônia e o instituto poderá vir a se tornar referência internacional”, disse Dall’Agnol. Os interessados em mais informações sobre o ITV e na publicação do edital de mestrado podem acessar o site www.vale.com/itv.

fernando sette

Durante o mês de outubro estarão abertas as inscrições para a segunda turma do curso de Mestrado do Instituto Tecnológico Vale (ITV). O objetivo do curso é formar profissionais aptos a enfrentarem questões relacionadas ao aproveitamento sustentável de recursos naturais, e o início das aulas está previsto para março de 2014. Reconhecido pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), do Ministério da Educação (MEC), o curso é o primeiro do gênero a ser oferecido por um instituto vinculado à empresa do setor mineral. A primeira turma de mestrado do ITV se encontra em plena ati-

fernando sette

SALA DE AULA Turma da disciplina “Sensoriamento Remoto, Princípios e Aplicações para a Sustentabilidade Ambiental”, ministrada pelo professor Pedro Walfir, do ITV DS

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PRIMEIRO FOCO VISITA REAL

Fundadora da ONG Education Above All (Educação Acima de Tudo), a rainha do Qatar, Mozah Bint Nasser Al Missned veio à Amazônia para estender as ações da organização, que tem como missão reforçar o direito à educação em áreas de conflito em todo o mundo. No Pará, a sheikha conheceu as atividades educacionais desenvolvidas na aldeia Xikrin Djudjêko, em Parauapebas, sudeste paraense. Representante de um país pequeno territorialmente, localizado na península arábica, mas rico em petróleo, Mozah foi recebida pelos caciques Botiê, Karangré e Onkrai e se mostrou sensível aos desafios e valores da educação indígena na escola Moikô Xikrin, que abriga 266 alunos no ensino fundamental e 29 no ensino médio. O resultado da visita à aldeia poderá ratificar apoio da Qatar Foundation – fundação voltada ao desenvolvimento da educação presidida pela rainha – na qualificação de professores indígenas, além de contatos para a intensificação do Pacto pela Educação no Estado.

ESPORTE

brasil vale ouro A Vale foi premiada em cinco categorias na quarta edição do Prêmio Empresário Amigo do Esporte. Reconhecida como a empresa que mais investe em iniciativas esportivas nos estados do Pará, Espírito Santo e Maranhão, a mineradora conquistou o segundo lugar na categoria Amigo do Esporte e a terceira posição no quesito Dedicação e

Dia da Ecologia Qual é a origem do termo ecologia? A palavra “Ecologia” surgiu na Grécia Antiga, originada de dois termos gregos: “oikos”, que significa casa, e “logos”, que significa saber, estudar. Segundo a bióloga e diretora executiva do Imazon, Andréia Pinto, etmologicamente, Ecologia significa o “estudo da casa”, ou seja, estudo do local onde vivemos.

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REALEZA Índios acolhem a rainha Mozah, do Qatar, que ofereceu apoio à educação das comunidades Incentivo. O programa Brasil Vale Ouro é a principal ação da Vale na área e contempla o esporte como meio de transformação social e inclusão para centenas de crianças e adolescentes e suas famílias em todo o País.

LITERATURA

consciência O biólogo paraense Andrei Simões faz mais uma incursão no campo do saber, mas agora

na literatura fantástica. Amante das artes e da ciência, ele acaba de lançar “Zon – O Rei do Nada” (Editora Empíreo, 240 páginas, R$ 39,90, com ilustrações de Lupe Vasconcelos). A obra trata sobre a investigação da consciência humana. O livro é a primeira publicação da Editora Empíreo, do paraense Filipe Larêdo, no circuito comercial nacional.

15 de outubro Dia do Educador Ambiental Qualquer professor pode falar de meio ambiente? Sim, é o que garante a Constituição Federal no artigo 205 e a lei 9.795/99 sobre os Parâmetros Curriculares. Mas é preciso dar subsídios aos professores para que possam adaptar o processo educativo, partindo, inclusive, de temas relacionados ao meio ambiente, como a poluição.

ILUSTRAções: SÁVIO OLIVEIRA

CALENDÁRIOECOLÓGICO

4 de outubro

SIDNEY OLIVEIRA / AGÊNCIA pARÁ

a Rainha solidária


FOTOGRAFIA Sebastião Salgado planeja trabalho específico na Amazônia

RESGATE

REPRODUÇÃO

Obras na cidade

Cachorro-vinagre

REDUÇÃO

Na etapa de supressão vegetal – derrubada de área verde – das obras de prolongamento da avenida João Paulo II, entre Belém e Ananindeua, mamíferos, répteis e anfíbios encontrados estão sendo catalogados e remanejados para o Parque Estadual do Utinga. Com a ampliação da João Paulo II, praticamente toda a borda leste do parque vai fazer divisa com a autoestrada. O trabalho da equipe de biólogos abrange uma área de 165 mil metros quadrados. O percentual de supressão é de 0,01%. Já foram localizados pelos biólogos preguiças, cobras, iguanas e sapos de diversas espécies. Todos os animais passarão a viver na maior área protegida da região metropolitana de Belém, que abriga os lagos Bolonha e Água Preta, responsáveis pelo abastecimento de água na capital. O Parque Estadual do Utinga já um conhecido e preservado local de abrigo de espécies nativas que convivem no coração do centro urbano da capital paraense.

O Parque Zoobotânico Vale, em Parauapebas, iniciou um programa de reprodução de mamíferos de espécie rara. Animal de médio porte, o cachorro-vinagre (Speothos venaticus) recebeu o nome popular por causa da sua pelagem marrom-avermelhada. Dois espécimes do animal chegaram ao parque. A equipe técnica do local construiu um abrigo para aumentar as chances de sucesso do processo de reprodução. No Brasil, essa espécie é encontrada na Amazônia, Cerrado, Mata Atlântica e Pantanal.

Rodolfo Oliveira/ Agência Pará

SALVAMENTO Animais encontrados nas obras da João Paulo II são remanejados para área preservada

Após concluir “Gênesis”, um de seus maiores projetos, que inclui uma exposição e livro, com patrocínio da Vale, o fotógrafo Sebastião Salgado (acima) disse que pretende fazer um trabalho específico sobre a temática amazônica. “Precisamos fazer um esforço muito grande para preservar essa integridade territorial a partir da proteção da floresta”, comentou o fotógrafo, em entrevista ao Estado de S. Paulo.

Número de focos de incêndio cai 49% em nove meses

vale / divulgação

O registro de focos de incêndio no Brasil diminuiu 49% de janeiro até setembro deste ano em comparação ao mesmo período do ano passado, quando houve 78.440 ocorrências. Pelas imagens captadas por satélites do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), foram identificados 39.253 focos de queimadas no país até o momento. Com base nesses dados, o secretário nacional de Mudanças Climáticas e Qualidade Ambiental, Carlos Klink (acima), afirmou que o Brasil chegará a um patamar inferior a 4 mil quilômetros desmatados por ano, antes de 2020 . FOTOS: agência brasil e divulgação

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PRIMEIRO PRIMEIROFOCO FOCO

EUDISSE

Zé Paulo Cardeal / Divulgação TV Globo

Mergulhei ainda mais na sustentabilidade, porque quando se tem filhos, pensa-se em deixar um legado a eles”

Rosana Jatobá, ao lançar o livro sobre sustentabilidade “Questão de Pele – A Terra como organismo vivo”. A jornalista, que é mãe de gêmeos, disse que se preocupa com o futuro verde das crianças da próxima geração. (Portal iG)

Sabem o que tem aqui? Açaí!” Jared Leto, vocalista da banda 30 Seconds to Mars, ao se apresentar no Rock In Rio 2013. O roqueiro mostrou que também foi conquistado pelo sabor da fruta paraense ao subir ao palco tomando “o ouro negro da Amazônia”. (Veja.com)

“Só vamos conseguir garantir a conservação da Calha Norte, se der à comunidade boas condições de vida” Leonardo Ferreira, do Imaflora, sobre a comercialização de produtos mais sustentáveis na merenda escolar de Cachoeira Porteira, no rio Trombetas, Pará. (O Estado de S. Paulo)

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“A iniciativa de preservação da Amazônia é global e tem que ser tratada constantemente entre os governos dos países em que a floresta está presente” Maria Cecília Wey de Brito, secretária geral da ONG WWF Brasil, alertando sobre a gestão de problemas urbanos e rurais da floresta amazônica. (Portal Terra)

“É um trabalho de coração para coração. Tudo é reutilizável e as pessoas têm de compreender isso.” Francisco Correia, catador da Associação de Catadores de Materiais Recicláveis e Reutilizáveis de Rio Branco (AC), que encaminha materiais recicláveis para Unidade de Tratamento de Resíduos Sólidos (Utri), minimizando os efeitos do acúmulo de lixo na cidade. (Portal Amazônia)

“Na sustentabilidade, o Brasil está acima da média, apesar do desmatamento” Relatório de Competitividade Global de 2013-2014, do Fórum Econômico Global. (acritica.net)

“O consumidor não quer produtos à custa do desmatamento” Wilton Batista, presidente do Sindicato de Produtores Rurais, sobre projeto de agropecuária sustentável de São Felix do Xingu, no Pará. (Agência AFP)


FATOREGISTRADO George Huebner - Um fotógrafo em Manaus

CARTA ABERTA ANO 3

Kroehle & Huebner, reprodução do livro

É com muita satisfação que vejo a Revista Amazônia Viva chegar ao terceiro ano de publicação. Ao longo desse tempo, as edições estão presentes no dia a dia de nosso escritório de advocacia, com os exemplares sempre à disposição em nossa recepção. As edições agradam muito nossos clientes com matérias bem escritas. Desejo ainda mais sucesso. Isis Gomes Belém-PA

POSE Índios Canela posam para o fotógrafo Felipe Augusto Fidanza

Cultura resistente Os olhos pequeninos focam diferentes direções e, somados aos músculos dos guerreiros, aos utensílios domésticos e às armas, compõem uma fotografia em preto e branco crucial para a história indígena no Brasil. A imagem foi registrada pelo fotógrafo Felipe Augusto Fidanza, entre 1906 e 1910, na qual aparecem quatro índios Canela, que totalizavam, à época, entre mil e 1,5 mil pessoas no território do Estado do Maranhão. O quarteto é mais que a pose de uma foto. É o registro histórico da nação Timbira, anterior ao contato com outros povos. Isso porque Canela é o nome pelo qual ficaram conhecidos dois grupos de índios Timbira. Eram os Ramkokamekrá e os Apaneykrá. Fidanza era fotógrafo português, mas radicado no Brasil – considerado o mais importante a trabalhar em Belém na virada do século XIX para o XX. Tal qual Fidanza, Nimuendajú, a partir de trabalho de campo, produziu um amplo estudo, intitulado The Eastern Timbira, no qual estudou os Canela, no decorrer de seis visitas, entre 1929 e 1936. Trabalhos produzidos antes de outros contatos, quando a cultura Canela foi dispersada com a chegada dos sertanejos, o que ges-

tou aceleradas transformações no cotidiano das aldeias. Passadas as marchas sertanejas, ambos os grupos Timbira tiveram influência por parte de agências de contato, como a Funai (Fundação Nacional do Índio), instituição responsável pela questão indígena no Brasil, além de fazendeiros e missionários. Nesse caldeirão cultural, a demarcação da Terra Indígena Canela, homologada e registrada, está do lado dos nativos. Até recentemente, essas terras compostas por cerrado, florestas-galeria e pequenas chapadas ficava no município maranhense de Barra do Corda. Hoje, localizam-se no novo município de Fernando Falcão (MA), estruturado a partir do crescimento da antiga vila Jenipapo dos Resplandes. Ao sul da terra indígena, o limite fica em grande parte circundado pela serra das Alpercatas, enquanto o rio Corda corre por fora, afastado 20 quilômetros ao longo da borda noroeste. Apesar dos fatores externos, os indígenas têm procurado reaver a autonomia do início do século passado através de atividades produtivas tradicionais e da vitalidade cultural de outrora. Atualmente, segundo o Censo 2000, do IBGE, existem pouco mais de 2 mil Canelas no país.

Parabéns por mais um ano da Revista Amazônia Viva. Essa edição de aniversário foi uma das mais interessantes das publicações, muito rica em conteúdo e bonita visualmente. Destaque para a reportagem “Amazônia em 3 pesquisas” (Assunto do mês, edição nº 25, agosto 2013). Desejo vida longa ao projeto. Lucas Pereira Belém-PA A Revista Amazônia Viva é uma forte aliada da valorização da cultura paraense. Algumas matérias mostram pontos turísticos desconhecidos ou em partes conhecidas, como Mosqueiro, em que a edição nº 23 revelou um outro lado da ilha, um lugar mais ameno, porém não menos interessante. A revista está de parabéns pelas matérias. Sugiro também que nesse tipo de reportagens sejam publicadas informações adicionais, como telefones de guias, média de custo, hospedagem, etc. Camila Nathercia Belém-PA

CARTAS para A AMAZÔNIA VIVA Para se corresponder com a redação da Amazônia Viva envie comentários, dúvidas, críticas e sugestões para o email: amazoniaviva@orm.com.br ou escreva para o endereço: Avenida Romulo Maiorana, 2473, Marco, Belém - Pará, CEP 66 093-000 ou FAX: 3216-1143.

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QUEM É?

Luiz Braga Fotógrafo tem a sensibilidade para captar a realidade da Amazônia em luz, sombras e cores

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Elaine Bayma / DIVULGAÇÃO

uiz Otávio Salameh Braga nasceu em 11 de novembro de 1956 e, aos 19 anos, em 1975, entrou para a Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Pará. Foi o passo primordial para que ele se tornasse definitivamente Luiz Braga, o fotógrafo paraense que conta a vida da Amazônia em cores vivas. Por trás da fotografia, o espírito do pesquisador viceja entre a Antropologia, Arquitetura, Sociologia e até Economia. Com as lentes voltadas para o que à primeira vista parece apenas o registro de uma rotina comum, ele atinge uma profundidade única que escancara a alma da região com sua gente simples e seu ambiente impregnado pela umidade, o sol em abundância, suas beiras de rios imensos e os mais variados sentimentos do amazônida. Já formado como arquiteto, em 1982, Luiz Braga ingressou na pesquisa “Visualidade popular na Amazônia”, um projeto coordenado por um de seus mestres, o professor Osmar Pinheiro, e financiado pela Fundação Nacional de Artes (Funarte). O fotógrafo conta que foi o primeiro grande passo para aprofundar seu interesse pela região e registrar elementos que ele acreditava ter uma carga simbólica de peso para a identidade da região. Foi a oportunidade de treinar o olhar e técnica direcionando os registros para os barcos, os portos, os vendedores de rasparaspa, os bares, os bilharitos e uma infinidade de cenários e figuras humanas comuns a cidades como Belém, Manaus, Santarém e São Luís, já no Nordeste.

Em 1996, Luiz Braga venceu um dos editais mais disputados para a pesquisa em fotografia e ganhou uma bolsa de estudos da Fundação Vitae para desenvolver o projeto “Amazônia Íntima”. Dessa pesquisa brotaram registros que são ícones da carreira do fotógrafo e deram ainda mais projeção ao profissional. Fotografias como a “Banhista” e o “Bar azul”, que circularam pelo mundo em exposições e revistas especializadas. Ao final da década de 1990, Luiz Braga começou a abandonar seus trabalhos comerciais, como eventos e fotografias oficiais de autoridades, para mergulhar definitivamente em seu trabalho autoral. Ele conta que foi a partir dessa fase que seu desenvolvimento profissional aflorou com plenitude. O contato com curadores e a concentração nos temas de seu interesse fizeram o trabalho ganhar novas e profundas dimensões. Luiz explica que a pesquisa técnica possibilitou encontrar novas linguagens, como sua descoberta das fotos em “Nightvisions”, e novos suportes para sua arte. É um esforço concentrado para associar como encontrar

a melhor forma de captar as imagens com conceitos que unem fotografia a uma infinidade de campos de saber. Para o fotógrafo, o processo inteiro finda com as exposições que têm caráter de difusão de conhecimento e formação do público visitante. Luiz Braga consegue associar beleza, pesquisa e educação sobre a identidade cultural da Amazônia com sua arte. Sua mais recente exposição, Entreato da Luz, instalada na Casa das Onze Janelas, mostra um conjunto de imagens feitas em diversas visitas ao quilombo do Pau Furado, em Salvaterra, no Marajó. A exposição fica até este mês no local.

NOME Luiz Otávio Salameh Braga IDADE 56 anos FORMAÇÃO Arquiteto TEMPO DE PROFISSÃO 31/anos


Mudança de Atitude

PRIMEIRO CONCEITOS FOCO AMAZÔNICOS

SÁVIO OLIVEIRA

Pitiú, um cheiro

que vai longe

Esteja onde estiver, seja em outros países da América, da Europa ou da Ásia, no sul do Brasil ou no Nordeste, se aquele característico cheiro de peixe emanar pelos ares, somente o amazônida vai saber o que se passa. Não que as demais pessoas tenham perdido o olfato. É que, por outras bandas, fora da Amazônia brasileira, é difícil encontrar um termo que defina com tamanha exatidão o desagradável odor que somente aqui é conhecido como o pitiú. Saindo dos estados nortistas, você, com certeza, vai ter de gastar o seu linguajar amazônico para definir o “cheiro de peixe, pitiú, olho de boto”, que aparece na letra de Márcio Montoril na música “Canto de Atravessar”. A palavra também faz parte de qualquer conversa informal sobre pescado, desde o ribeirinho ao mais urbano dos moradores das capitais da região. E o termo vem do tupi. Foram os índios falantes dessa língua que criaram a palavra para designar o cheiro de peixe. Os portugueses colonizadores também passaram a utilizá-la. Com o tempo, a aplicação do vocábulo ficou mais ampla. Além de definir o cheiro de peixe fresco, do peixe cru, também passou a designar o odor do sangue fora do corpo e do cheiro exalado com a retirada do couro de mamíferos, como o boi e a capivara. Tamanha é sua peculiaridade em definir um conceito de odor que, se um morador de Belém fosse vendado dentro de casa e levado ao Vero-Peso, o mercado seria imediatamente reconhecido a dezenas de metros de distância. O pitiú faz parte de um dos cartões-postais mais bonitos da cidade. E para classificar a ictiofauna amazônica, considerada a maior em todo o mundo, qualquer aspecto é um suporte. De certa forma, foi isso

que aconteceu com o pitiú. Seja nos rios barrentos, pretos ou cristalinos, em igarapés, igapós e pântanos, até ao desembocar no oceano, as mais de 1,2 mil espécies de peixes comestíveis na região os peixes podem ser divididos entre os insuportavelmente pitiús, os mais ou menos e aqueles com um cheiro bem discreto. A piramutaba e o curimatã, por exemplo, são considerados o ápice da “escala pitiú”, daí precisarem de um preparo especial. Cozinheiros experientes retiram dois cordões nervosos esbranquiçados, que seriam responsáveis por exalar o fedor. Os mestres no trato do peixe ainda dizem mais: um bolo pode ficar pitiú se não for preparado com perícia. Segundo os cozinheiros, as gemas de ovos utilizadas no preparo devem ser delicadamente manipuladas para a remoção da membrana que a envolve. É ela que causa o cheiro de pitiú. Há, claro, outra sugestão. Pode-se estourar as gemas em uma peneira, por exemplo, para separá-la da membrana. E, novamente no caso do peixe, também se usam folhas de vinagreira (Hibiscus sabdariffa) para exterminar o mau cheiro. O pitiú, quase onipresente nas águas amazônicas - já que elas mesmas podem exalar o cheirinho -, o boto naturalmente tem essa marca. Desde 2011, “Ih, fedeu!” é o slogan do Festival de Música Pitiú, que ocorre no Pará, reunindo metaleiros e amantes de outros ritmos. Tanta fama também transformou o cheirinho em patrimônio cultural de natureza imaterial do Pará, incluído como linguagem regional pela lei nº 7.548/2011. Mas é claro que, se estiver em peixes ou qualquer outro tipo de alimento, o pitiú só tem uma solução: tasca limão que passa.

Destino certo ao óleo de cozinha O óleo de fritura usado para deixar a comida crocante e saborosa é o mesmo que, se despejado de forma incorreta, prejudica o meio ambiente. Para evitar o problema, medidas simples podem prevenir os danos ao planeta e render benefícios para o próprio consumidor. O óleo usado, quando vai parar na galeria do esgoto, funciona como uma “cola”. Um fio de cabelo, fio dental, um pedaço de plástico, tudo isso ficará concentrado, formando uma massa que acaba entupindo a rede de saneamento das cidades. No Brasil, somente em São Paulo, o volume mensal de compra do produto é de mais de 20 milhões de litros, segundo pesquisa do instituto Nielsen, sendo que um único litro de óleo descartado de forma incorreta polui até 25 mil litros de água. Pensando nisso, a ONG Noolhar, de Belém, criou, em 2009, um projeto para conscientizar a população sobre a diminuição do impacto do óleo de cozinha no meio ambiente. Um dos voluntários da ONG, William Rocha, conta que esse ano o trabalho continua sendo feito em comunidades e escolas e explica alguns dos modos de evitar o despejo incorreto do óleo. “É um procedimento simples. Quando a pessoa usar o óleo e não precisar mais dele, ela pode despejar o resto em um recipiente e jogá-lo no lixo. Sendo assim, os catadores, que receberam treinamento, poderão dar um destino correto ao óleo”, afirma.

DESPEJO Óleo de cozinha, se descartado de forma errada, prejudica o meio ambiente

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EM NÚMEROS

NA TERRA DO Dendê

ÍNDICES DE PRODUÇÃO

600

MIL toneladas

de óleo de dendê serão produzidos por ano no Brasil até 2015.

3 MIL FAMÍLIAS

Planta é fonte para biocombustível, alimentos e cosméticos sustentáveis

poderão trabalhar com dendê, no Pará, até 2014

O Pará é o principal produtor e exportador do óleo do fruto do dendezeiro, o dendê, uma das mais promissoras e sustentáveis fontes de biocombustível no país. A planta também é matéria-prima de diversos alimentos e base para produtos cosméticos. Por essa razão, várias indústrias investem na ampliação de áreas plantadas e otimização dos processos de transformação, principalmente na extração dos óleos de palma (polpa) e palmiste (caroço), representando de 90% a 95% da produção nacional. Grande parte é produzido com programas de incentivo à agricultura familiar, principalmente do Banco da Amazônia. O óleo extraído da palma do dendê pode se tornar a base do chamado B20, um combustível brasileiro composto de 80% de diesel comum e 20% de biocombustível. A estimativa é que a utilização do B20 reduzirá a emissão de gases do efeito estufa da empresa em cerca de 20 milhões de toneladas de CO2 equivalente em 25 anos. Adicionalmente, estima-se também que 2 milhões de toneladas de CO2

é a renda mensal média, na agricultura familiar, pela produção de dendê

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poderão ser sequestrados através da plantação da palma.Os óleos também são usados em diversos produtos de grandes empresas, como Nestlé, Ferrero, Unilever e Natura. Cada vez mais, nas prateleiras de estabelecimentos comerciais há produtos à base de óleo de palma de dendê ou palmiste. Cada hectare plantado pode produzir seis toneladas de óleos. Para cada tonelada de óleo, é gerada 1,1 tonelada de resíduos. O reaproveitamento desses resíduos são o foco de diversas pesquisas acadêmicas e de empresas privadas, ressalta o doutor em Engenharia de Alimentos Luiz França, professor da Universidade Federal do Pará (UFPA). “Os estudos são sobre como aproveitar esses sólidos na indústria alimentícia. Também há pesquisas para usar o biogás gerado. A intenção não é competir, mas dar uma nova destinação a esse resíduo e gerar mais benefícios sociais e econômicos. É possível pensar em combustível de segunda geração, como é feito com a cana de açúcar, ou usar como carvão vegetal”, comenta.

R$ 2 MIL

US$ 37,3 milhões em óleos de dendê foram exportados em 2012

US$ 31,2 milhões

de óleos de dendê exportados de janeiro a agosto deste ano


53 MIL

Veja o potencial, para cada mil hectares, do cultivo do dendezeiro nos próximos anos na região Norte

HECTARES

4%

Roraima

plantados em municípios no nordeste do Pará, com expectativa para mais 7 MIL até 2014

0,5% Amapá

3,5 MIL

HECTARES

54%

Amazonas

plantados em parceria com 350 agricultores da região

5% Pará

2,5% Acre

FOTO: FERNANDO ARAÚJO / ARQUIVO O LIBERAL

BIOPALMA: A Vale e o biodiesel

CAPACIDADE DE EXPANSÃO

450 MIL 1%

2%

Tocantins

Rondônia

PRINCIPAIS COMPRADORES DO DENDÊ PARAENSE EM 2012 Holanda 31.932 toneladas = US$ 33.740.701

Itália 63 toneladas = US$ 91.747

Alemanha 1.156 toneladas = US$ 1.547.856

México 41 toneladas = US$43.164

Estados Unidos 983 toneladas = US$ 1.616.653

Tunísia 11 toneladas = US$ 27.616

Canadá 147 toneladas = US$ 255.090

TONELADAS

de cachos de fruto fresco por ano podem ser processados pela indústria extratora de óleo de palma no município

2015

é a previsão do início do uso do óleo como biocombustível com uma nova unidade

400 MIL TONELADAS

de biodiesel poderão ser produzidas em 2019

500 MIL

Mais de US$ já foram investidos FONTES: EMBRAPA, AGROLINK, BIOPALMA, AGROPALMA, GOVERNO DO PARÁ, FIEPA

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OLHARES NATIVOS

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Sentimentos irrigados pela vida O rio é vida. É amor. É sinônimo do ciclo de renovação sem fim da Amazônia. Fecundar a terra, subir aos céus e voltar sereno, macio, mágico pelas mãos da chuva para apaziguar o coração e o tempo; para trazer o alimento fresco, sadio, vivo na porta de casa. É o rio o caminho, recanto morno de brincar, a prata brilhante da lua no fundo da noite. Nele, quedam as saudades de quem partiu para longe e se guardam e resguardam as esperas dos que devem voltar em breve num eterno retorno de volta para casa. Na presença imensa, barrenta, agitada, recortado pelo pertencimento, perdem-se adeuses nas gaiolas, catraias, canoas, popopôs. Abrem-se sorrisos nos trapiches, nos portos. Suas beiras guardam o burburinho das chegadas ruidosas dos paneiros de açaí, das sacas de farinha, de muita gente de pele tostada e impregnada da floresta, dos viajantes que arregalam os olhos no deslumbre verde. É o rio, lugar de encontro, as veias líquidas para regar o bem mais precioso que floresce no chão úmido e equilibra o mundo em raiz, tronco, galhos, flores, folhas e fruto. É a vida serpenteando em braços d’água. FOTO: TARSO SARRAF

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OLHARES NATIVOS

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FORÇA A vida do amazônida está intimamente ligada ao rio. Na imagem à esquerda, pescador desencalha no braço a canoa no Ver-o-Peso, um dos principais entrepostos de comercialização de pescado da capital paraense. ABRIGO A embarcação que vira casa e no rio o pensamento voa. Um olho no peixe, outro na vida. A foto acima foi feita no cais do Ver-o-Peso. IDA E CHEGADA A rotina fluvial da Amazônia entre o preparo para partir e a chegada com os frutos da pesca. Imagem (à direita) feita às margens do rio Marapanim, na cidade que leva o mesmo nome, região do Salgado paraense. FOTOS: HELY PAMPLONA

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OLHARES NATIVOS

PARTIDA E CHEGADA O porto, caminho aberto para o rio, trampolim para idas e vindas dos que tem nas estradas de água a ponte para os sonhos. Na foto, as proximidades do Porto do Sal, um dos mais tradicionais de Belém. FOTO: OSWALDO FORTE

A revista Amazônia Viva abre espaço para a publicação de fotos com temáticas amazônicas na seção “Olhares Nativos”. Entre em contato e saiba como participar. amazoniaviva@orm.com.br

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Foto: Arquivo Vale.





IDEIAS VERDES

“A gente vem ocupando um território que antes era vegetado”

Para o pesquisador doutor em Arquitetura e Urbanismo, Irving Montanar, as cidades da Amazônia podem se tornar sustentáveis a partir de investimentos em equilíbrio ambiental e planejamento urbano Janine Bargas

Hely Pamplona

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IDEIAS VERDES

S

ustentabilidade. A palavra está cada vez mais na moda, mas o que ela realmente significa extrapola as definições do dicionário. O conceito envolve planejamento, pesquisa, gestão territorial; inclui aspectos de inúmeros campos sociais da pedagogia à nanotecnologia. Para o doutor em Arquitetura e Urbanismo e professor da Universidade Federal do Pará, Irving Montanar, a ideia de sustentabilidade tem a ver com a de se “estimular ciclos virtuosos”, capazes de garantir a capacidade de produção e manter o equilíbrio do território, do ambiente. Ainda segundo o pesquisador, “uma comunidade que trabalha esgotando o meio ambiente de seus recursos não é uma comunidade sustentável”. Em uma entrevista no laboratório de conforto ambiental do Centro de Eficiência Energética da Amazônia (Ceamazon), localizado no Parque de Ciência e Tecnologia do Guamá, em Belém, o pesquisador fala sobre as consequências do crescimento dos ambientes urbanos, a harmonia entre ventilação e sombreamento de uma cidade, a relação entre pesquisa e planejamento e gestão urbanos e a necessidade de uma busca constante pelo aperfeiçoamento científico e tecnológico da sociedade. A forma com a qual as cidades cresceram provocaram consequências ao meio ambiente. Quais são elas? A cidade, ao ocupar o território, agrega uma quantidade de material construtivo, que armazena calor. Esse calor tem que ser dissipado. A partir de certo momento, esse acúmulo de energia atinge o equilíbrio e começa a se dissipar. Isso pode ser vantajoso ou não. No caso de climas quentes, isso não é vantajoso. Porque geralmente esse calor é dissipado também para o interior dos edifícios, e o que você tem é uma condição de degradação em termos de conforto térmico. Hoje você tem uma atmosfera urbana que, praticamente, não se pode aproveitar, porque se você abrir a janela, você recebe poeira e gases. Então, tem que escolher a hora que você abre a janela. A gente vem ocupando um território que antes era vegetado, removemos a vegetação

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e substituímos por áreas edificadas. Mas o território edificado é perfeitamente adaptável às condições de eficiência energética, desde que você reproduza duas características interessantes: uma é permitir a acessibilidade ao vento, permitir que o vento passe pelos edifícios, que ele passe mais livremente pelo térreo, ao invés de emparedar-se. Outra: há como verticalizar e edificar melhorando a qualidade ambiental. Por exemplo: se eu colocar dois ou três andares de pilares, eu vou ter condição à sombra, oferecendo uma ventilação que não existia ali, quando existia o sobrado. Você teria uma camada de ar se deslocando para a cidade, que toda vez que ele entrasse na camada de influência do edifício. Quando a academia começou a repensar esses processos? Quais fatores levaram a pensar nessas soluções, nesses reaproveitamentos?

“Se você tem um resíduo energético que não é aproveitado, porque está usando um equipamento pouco eficiente, você está jogando dinheiro fora”

Tem a ver com o ciclo da eficiência, que muitas vezes, está ligado ao ciclo da mais-valia. Porque se você tem um resíduo energético que você não aproveita, porque está usando equipamento pouco eficiente, você pode estar jogando dinheiro fora. Se você tem um resíduo energético que não é aproveitado, porque está usando um equipamento pouco eficiente, você está jogando dinheiro fora. É a ideia de se estimular ciclos virtuosos. Se você estimula um ciclo virtuoso, certamente você gera margem de segurança para os processos produtivos, para os ciclos de sustentabilidade. Uma comunidade que trabalha esgotando o meio ambiente de seus recursos não é uma comunidade sustentável. Por exemplo, vamos pensar no ciclo da produção agrícola no sul do Pará: a produção bovina. Os pastos degradados estão ficando para trás. Alguém vai ter que recompor essa pastagem em algum momento. Se é mais barato abrir um novo pasto do que recompor a pastagem, você vai abrir um novo pasto, mas vai chegar um momento que essa lógica não é viável: “opa, eu não posso mais abrir pasto, não está tão fácil”. Pior: ficou mais caro abrir pasto. Então, começa a haver a necessidade de revisitar uma técnica e às vezes abandonar a mais agressiva em prol de uma técnica mais sustentável de se pensar o território.


A relação entre a qualidade de vida está diretamente relacionada a projetos que agregam aspectos da sustentabilidade? Pode ou não ser elemento principal, mas todos têm um contato com a sustentabilidade, querendo ou não. Quanto mais próximo ao esgotamento da qualidade ambiental ou da sustentabilidade, mais premente vai ser o apelo da sociedade para que se implementem ações de sustentabilidade. Eu acho que o transporte colapsado, por exemplo, induz à verticalidade. Porque a pessoa não quer se deslocar, ela quer morar próximo de onde circula. Aí, inflaciona o mercado da construção e é uma lógica perversa que começa a ir contra o bom senso. É o esgotamento de fluidez dessas pessoas. Fica aquela atmosfera de carro parado, aquele calor, aquele ruído enorme, que persiste por mais tempo porque o trânsito não fluiu, então você tem o colapso de vários sistemas do ponto de vista do conforto ambiental. A qualidade do ar, o ponto de vista acústico, o térmico e o psicossocial, porque todo mundo fica agressivo. Você já tem uma rotina pesada e isso só contribui para a agressividade. Para o conforto térmico você tem que ter vento, para um clima equatorial quente-úmido, você precisa ter vento e sombra, senão você não atinge o conforto térmico humano.

e vamos criando uma aproximação sucessiva para delinear os processos da metodologia científica aplicados na investigação e na descrição desses temas. Pesquisar conforto ambiental aqui na Amazônia tem alguma diferença em relação a outras regiões? Em relação às ferramentas em si, acredito que não. Montar um laboratório lá no Sul ou aqui no Norte seria a mesma coisa. Mas, as ênfases talvez fossem um pouco diferentes. Em um laboratório com uma ênfase voltada a características mais específicas da Amazônia, como a refrigeração, você não trabalha com muita preocupação em termos de condicional ambiente, em termos de aquecimento, por exemplo. Aqui se preocupa em rejeitar calor, em não armazená-lo. Essa é a nossa borda. O conforto termigromérico aqui é algo particular, que são as características específicas voltadas ao clima, onde a umidade nunca está abaixo de 70%, e que tem uma disponibilidade de energia da forma térmica e luminosa muito elevada, o padrão de céu para Belém, na área da capital, extremamente nublado. Agora têm regiões da Amazônia que não são tão nubladas quanto Belém. São coisas específicas.

Dentro da Universidade, quais projetos têm sido desenvolvidos nesse sentido?

Existe uma distância muito grande entre o que é pensado nas universidades e o que vemos nas ruas, nos edifícios ou nas casas?

Talvez devêssemos fazer um seminário para mostrar para a sociedade através de todas as pesquisas e de painéis abertos à sociedade para se ver o que está sendo feito, para poder ensejar as carreiras dos jovens, com uma visão um pouco além da graduação, pensando no mestrado, no doutorado, na iniciação científica e nas demandas que a sociedade tem hoje, na tangência com a ciência e com a produção tecnológica. Têm grupos que trabalham com madeiras, tem gente que trabalha com infraestrutura, tem gente que trabalha com fundações, com a parte pedagógica educacional voltada à sustentabilidade, com eficiência energética, propriamente dita. No nosso caso, tentamos expandir o horizonte do conceito do que seja conforto ambiental e agregando as demandas que os nossos alunos de pós-graduação e graduação apresentam como eletivas,

É feito um esforço muito grande para a certificação. A UFPA tem dado muito apoio. Parte dessa normatização vem das universidades, como a de Santa Catarina. Mas a aplicação dessas normas somente será efetiva quando houver um incentivo. Então, a força motriz da economia e da produção da cidade, e das tomadas de decisão somente vai seguir as normas, quando elas apresentarem uma vantagem clara, nítida, do ponto de vista econômico. Aplicar as normas e conceitos tem a ver com a disponibilidade que a sociedade tem de buscar um nível permanente de aperfeiçoamento, de mitigação de passivos. E o passivo pode ser até do ponto de vista do afetivo, do espaço afetivo. Tudo isso implica numa mudança de conceito, num impacto de conceito. Isso pode ser determinado pela sociedade.

“Quanto mais próximo ao esgotamento da qualidade ambiental, mais premente vai ser o apelo da sociedade para que se implementem ações de sustentabilidade”

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ASSUNTO DO MÊS

A ciência que move o Círio Fabrício Queiroz

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Fernando Sette

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Jocelyn Alencar


Conhecimentos científicos no campo da Física e Biologia também são empregados na realização da maior festa religiosa da Amazônia

F

ruto da devoção dos católicos paraenses à Nossa Senhora de Nazaré, o Círio chega neste ano à 220ª edição. Nesse período, a manifestação de fé da população de Belém se transforma em uma das maiores procissões religiosas do mundo. Um crescimento percebido ao observar os milhões de fiéis que acompanham as romarias, bem como pelo volume de recursos que a festa mobiliza, além dos esforços empregados para dar conta da grandiosidade do acontecimento religioso e cultural. Mas a Ciência também contribui com a realização do Círio, pois responde a alguns fenômenos e mitos que atiçam as curiosidades sobre a maior festa do Estado e também encontrou soluções para alguns problemas enfrentados nas romarias. A Amazônia Viva foi atrás de algumas respostas que nos ajudam a ver o Círio pelos olhos da ciência.

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ASSUNTO DO MÊS

Magnetismo da festa Manifestação da fé popular, o Círio, assim como outras grandes peregrinações, tem suas histórias marcadas pelas tradições. Mas à medida que elas vão ganhando popularidade e reconhecimento, investimentos em inovação são necessários. Foi assim que muitos símbolos da festa foram inseridos ao longo da história, sempre se adaptando às novas necessidades. A berlinda, por exemplo, foi introduzida em 1855 por ser uma melhor forma de transporte e por oferecer segurança à imagem. Atualmente, dentro dela, um aspecto chama a atenção: o dispositivo que fixa a imagem da santa à berlinda. O recurso é bem simples, já que utiliza a força magnética. Na berlinda, uma placa de ímã está instalada e permite a fixação da imagem peregrina, feita de madeira, mas que tem em sua base uma chapa de metal. Segundo o físico Elinei Santos, a solução é comum, mas também criativa e garante a segurança do maior símbolo da festa. “Hoje, são vendidos ímãs em forma de placas, como as pequenas placas de ímãs de enfeites de geladeiras. Desse modo, placas maiores podem ser usadas para fixar objetos maiores como a imagem à berlinda. A força de atração é grande, além de introduzir uma força de atrito entre as superfícies o que evita escorregamento da imagem”, diz.

PODER DE ATRAÇÃO

PODER DE ATRAÇÃO

Veja como funciona o sistema para prender a imagem à berlinda Veja como funciona o sistema para prender a imagem à berlinda

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Uma placa de metal é afixada na base da imagem

2

Uma placa de ímã é presa no assoalho da berlinda

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O magnetismo ocorre entre as duas placas, segurando a imagem mesmo com o sacolejo da berlinda na procissão


ONDE ESTÁ A BERLINDA?

Localizando a santa

No ano passado, o Círio de Nazaré incorporou mais uma inovação tecnológica em sua história. Um aparelho GPS foi instalado na berlinda para que a diretoria da festa possa controlar o andamento da procissão. Para isso, foi desenvolvido um aplicativo para celulares, tablets e computadores, em que se pode acessar as informações atualizadas do GPS da berlinda e, assim, saber a sua localização exata. Também conhecido como Sistema de Posicionamento Global, o GPS é uma tecnologia criada na década de 1970 e que já e usada há pelo menos 20 anos por oferecer dados de navegação mais precisos e confiáveis que outros sistemas. Basicamente, os dados de posicionamento são obtidos a partir de informações trocadas entre o aparelho e satélites localizados na órbita da Terra. São necessários ao menos três satélites para realizar um processo de triangulação, que garante maior precisão para as informações. O aplicativo “KD a Berlinda”, criado pela Empresa de Processamento de Dados do Estado (Prodepa) para permitir ao romeiro acompanhar a localização exata da berlinda no trajeto do Círio, é distribuído gratuitamente e pode ser baixado nas lojas de aplicativos de cada sistema operacional.

Entenda como é feita a localização da imagem

ONDE ESTÁ A BERLINDA? Entenda como é feito o rastreamento da imagem

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1

Um satélite emite ondas eletromagnéticas, que são captadas pelo aparelho GPS na berlinda

2

O aparelho GPS calcula o tempo que as ondas eletromagnéticas levaram de um ponto a outro, e reconhece a distância entre ele e o satélite. Essa distância gera um círculo na superfície da Terra

Outro satélite manda o mesmo tipo de sinal para o GPS criando outro raio. Uma interseção se forma entre os dois círculos na superfície da Terra

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5

O terceiro satélite vai fazer o mesmo procedimento que os dois satélites, encontrando um ponto comum entre os três círculos. Com esse ponto, tendo como referência o centro da Terra, obtém-se a latitude e a longitude do ponto onde se encontra a berlinda

A margem de erro na precisão da posição da berlinda é de até 10 metros

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ASSUNTO DO MÊS

TANTA GENTE

Número de romeiros Um dos aspectos que mais dá a noção da grandiosidade do Círio de Nazaré é a quantidade de pessoas que acompanham a romaria no segundo domingo de outubro. As estimativas oficiais do Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (Dieese-Pará) indicam que na grande procissão são cerca de 2,2 milhões de fiéis nas ruas da capital. Um número bem maior que as 1.410.430 pessoas que moram em Belém, segundo a estimativa do IBGE, feita em 2012. Para entender o número de pessoas em tão pouco espaço físico, especialistas fazem um cálculo simples em que consideram que um metro quadrado comporta até cinco pessoas em pé, segundo o professor e físico da Universidade Federal do Pará, Elinei Santos. O percurso total do Círio, desde a saída, na Igreja da Sé, até a chegada, na Basílica de Nazaré, corresponde a quase 4 km. Ajustando as medidas, o cálculo aponta que cada quilômetro comportaria 100 mil pessoas. Ou seja, para um percurso de cerca de 4 Km, seriam 400 mil pessoas ocupando o percurso entre o local de saída da procissão, a Catedral de Belém, e o ponto de chegada, a Basílica de Nazaré. Mas esse número corresponde a um público mí-

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No Brasil, pelo menos seis capitais têm o número de habitantes TANTA GENTE bem menor em comparação ao de romeiros do Círio. Seis capitais do país têm o número de habitantes menor do que a quantidade de romeiros no Círio

SÃO LUÍS (MA)

MANAUS (AM)

1.039.610

1.861.838

HABITANTES

HABITANTES

RECIFE (PE)

1.555.039 HABITANTES

GOIÂNIA (GO)

1.333.767 HABITANTES

nimo ao longo da romaria, pois para o cálculo, o professor considerou o Círio de Nazaré como um evento estático, sem levar em conta o fluxo de pessoas percorrendo o trajeto e a ocupação de ruas transversais e praças ao longo da procissão. Logo, para se chegar aos números oficiais dos participantes do Círio, 2,2 milhões, é necessário multiplicar a quantidade mínima de fiéis, 400 mil pessoas, por quase seis vezes.

CURITIBA (PR)

1.776.761 HABITANTES

PORTO ALEGRE (RS)

1.416.714 HABITANTES

FONTE: ESTIMATIVA 2012 IBGE


CORPO AQUECIDO

Calor humano Com tanta gente nas ruas de Belém sob condições climáticas de alta umidade e temperatura, não é de hoje que se ouve falar do calor humano do Círio. O que a ciência nos ajuda a entender é que nesse fator o Círio também é grandioso. Esse aspecto pode ser explicado pelo fato de que “o ser humano é uma máquina térmica. Toda hora nos estamos dissipando calor”, esclarece o professor Elinei Santos. Nesse contexto, o físico compara o comportamento do organismo humano a uma lâmpada que nessas condições teria uma potência média de 100 watts. A comparação pode parecer absurda, mas o homem gasta energia para qualquer atividade que exerça e ela é dissipada para o ambiente sem que percebamos. “É por isso que a gente cria uma ilha de calor ao redor da procissão. Porque além de os prédios não permitirem o fluxo de ar, todas essas pessoas estão jogando calor para o ambiente. Se a gente tirasse uma foto com infravermelho, a gente veria uma ilha de calor”, exemplifica. Mas essa energia dissipada não pode ser aproveitada, por ser lançada no meio ambiente, lembra o físico.

A energia dissipada pelos romeiros, entretanto, não pode ser aproveitada, já que é lançada no meio ambiente. Caso fosse possível dar utilidade a ela, o professor Elinei Santos, com base nos conhecimentos da Física Termodinâmica, propõe uma interpretação que ajuda a perceber o potencial desse recurso pegando Vejaexemplo como A energia pelos como o públicodissipada mínimo de 400 mil pessoas no Círio:

CORPO AQUECIDO romeiros poderia ser reaproveitada caso fosse possível utilizá-la

100 watts

1

pessoa

400

400

pessoas

watts

mil

mil

de energia calorífica

500 mil

litros de água

1000 caixas d’água de

500 litros

poderiam ser aquecidas por hora

Como a duração média da procissão é de

6

horas

3 MILHÕES de litros de água poderiam ser aquecidos numa manhã

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SUADEIRA ASSUNTO DO MÊS

Suor e mais suor Dentro da ilha de calor que é o Círio de Nazaré, o corpo humano executa uma tarefa corriqueira para manter o conforto diante dessa condição. A geração de suor tem como função manter o resfriamento da pele, buscando manter a temperatura entre 36,5°C e 37°C. A médica hematologista Tereza Brito explica que a ordem vai do cérebro até as glândulas sudoríparas, que estão espalhadas por toda a pele. Essas glândulas produzem o suor que é eliminado pelos poros na superfície do corpo. Em contato com a pele, o suor evapora para dissipar o calor e resfriar o corpo. O nível de transpiração varia de acordo com as condições climáticas enfrentadas e com a disposição do organismo, por isso é difícil precisar quanto uma pessoa normalmente produz de suor. “O suor se livra do calor interno produzido pelo metabolismo ou pelo esforço muscular, logo depende de pessoa para pessoa, das condições climáticas, da dosagem hormonal, principalmente em mulheres, da vestimenta que está usando, do grau de hidratação, entre outros fatores”, diz. Porém, considerando o grande esforço físico exigido dos promesseiros que vão segurando a corda do Círio durante o percurso de quase 4 Km, a médica faz uma aproximação com o esforço exigido de um atleta, que normalmente transpira cerca de 500 ml a cada hora. Assim, diante de um clima quente e úmido, Tereza Brito avalia que a produção de calor do corpo e a consequente elevação da temperatura corporal são grandes durante o Círio.

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Com o volume de suor expelido durante uma hora por um promesseiro na corda você poderia preencher:

SUADEIRA

Com o volume de suor expelido durante uma hora por um promesseiro na corda seria possível preencher

500 ml de suor

500 ml

Um copo de refrigerante

100 ml 250 ml

250 ml

Dois vidros de azeite de oliva português

100 100 ml ml 100 100 ml ml

Cinco frascos de perfume


OLHA A ÁGUA MINERAL

Água e solidariedade Mais natural que a própria fé dos devotos seja a solidariedade de quem acompanha de fora a grande multidão. Um ato marcado especialmente pela doação de água mineral para refrescar a sede e o calor de quem está bem próximo da corda. Nas vésperas da procissão, as vendas de garrafas de 300 ml são comuns em todos os supermercados e depósitos de bebidas da cidade. Para dar conta dessa demanda, a produção de água mineral chega a 9 milhões de litros entre os meses de agosto e outubro, somente em uma das indústrias do setor no Pará, que recebe encomendas de pagadores de promessas do Círio. Como Belém é mercado para pelo menos outras três indústrias semelhantes, podemos estimar que essa produção ultrapassa facilmente os 30 milhões de litros de água mineral nesse período. Um número expressivo. Para se ter uma ideia, em média, uma piscina olímpica de 50 metros de comprimento comporta em torno de 2,5 mil m³ ou 2,5 milhões de litros de água. Dessa forma, os mais de 30 milhões de litros de água distribuídos durante o Círio poderiam abastecer até 12 piscinas olímpicas. É um “complexo aquático” para um mar de gente.

Veja os números correspondentes à distribuição de água no Círio OLHA A ÁGUA MINERAL

Veja os números Correspondentes à distribuição de água no Círio

LITROS COMERCIALIZADOS NO PERÍODO DO CÍRIO

VOLUME PRODUZIDO EM UMA INDÚSTRIA NO ESTADO (DE AGOSTO A OUTUBRO)

9

MAIS DE

30

MILHÕES DE LITROS

MILHÕES

EM MÉDIA

DE LITROS EM MÉDIA

COM ESSE VOLUME DARIA PARA ENCHER

12

PISCINAS OLÍMPICAS

50 METROS , MILHÕES DE

25

DE COMPRIMENTO

COM

DE LITROS DE ÁGUA CADA

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ASSUNTO DO MÊS

Unidos por uma corda de 2,2 milhões de devotos Símbolo de fé e do elo entre a imagem e os devotos, a corda dos promesseiros também pode ser considerada símbolo da contribuição da ciência à procissão. O responsável pela atual formatação da corda é o professor da Faculdade de Engenharia Mecânica da UFPA, Nagib Charone, que foi convidado pela diretoria da festa para propor soluções para alguns problemas enfrentados na romaria. O Círio de 2004 entrou para a história como a procissão mais demorada em dois séculos de festa. Foram 9h15 de duração. Depois do ocorrido, a preocupação era dar ritmo para que a romaria fosse cumprida em menos tempo e dar mais segurança a quem paga sua promessa no objeto. Para isso, Charone avaliou o uso da

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corda de forma linear, antes ela era posicionada na romaria em forma de “U”, e projetou cinco estações, que ajudam a dar tração na corda. “Não se pode colocar um trator lá na frente, então a gente tem que usar a própria força dos romeiros para levar a corda do Círio. Foi aí que nós colocamos as estações, que foram dimensionadas para agrupar romeiros em condição de puxar o Círio”, explica. No total, são cinco estações com capacidade de agrupar até 40 pessoas. Para não exigir um esforço desnecessário, as estações foram construídas em alumínio de aviação, material com mais resistência e mais leve. No quesito segurança, foi avaliada a resistência da corda que tem 800 metros de extensão e cerca cinco centímetros de diâmetro. Desse total, metade

é usada na Trasladação e a outra, no Círio. Charone diz que aproximadamente sete mil pessoas seguram diretamente a corda, mas outros 14 mil estão agarrados a esses promesseiros que, no entanto, não são capazes de forçar o rompimento do objeto, já que ele tem resistência de 24 toneladas. “Cada pessoa produz uma força de no máximo 20kg. Os que estão agarrados fazem a metade disso ou mesmo um terço. Então, o número de pessoas na corda chega a atingir de 12 a 14 toneladas”, explica. Longe do risco de ser rompida pelos fiéis, a corda é um dos maiores símbolos de fé. “Contra o ceticismo de quem achava que não se podia controlar a procissão, hoje o Círio está controlado e que a ciência contribuiu para isso”, opina Charone.


LÁ VEM A CORDA Conheça os números ligados à corda do Círio

LÁ VEM ELA

Conheça os números ligados à Corda do Círio

A corda tem e

400 metros de extensão

5 centímetros de diâmetro

14 toneladas correspondem à força empregada pelos romeiros para dar ritmo à procissão

24 toneladas equivalem à resistência total da corda

7 mil pessoas seguram a corda e outras 14 mil estão

em segundo ou terceiro níveis, segurando-se uns nos outros

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CURIOSIDADES DA BIODIVERSIDADE fotos: vale / divulgação

parque zoobotânico vale

Identificação animal e vegetal

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vada nas dependências do parque. “Esse trabalho é primordial para o funcionamento e operacionalização do zoo. É com base nele que são feitos os planejamentos de compra de alimentos e medicamentos, dimensionamento de recintos, definição de demanda de mão de obra de tratadores. Além disso, é uma das exigências do Ibama para manutenção do funcionamento de qualquer zoológico”, explica o biólogo responsável pela fauna do PZV, Leandro Maioli. O acervo do PZV conta, também, com mais de 300 espécies de árvores, sem contar arbustos, herbáceas e trepadeiras. O maior número de espécies pertence à família Leguminosae, com 18% das espécies arbóreas. Os indivíduos mais comuns são o louro-preto (Ocotea nigrescens), para-pará (Jacaranda copaia), freijó (Cordia bicolor) e timborana (Pseudopiptadenia suaveolens). O herbário do parque possui mais de 3 mil amostras de plantas regionais e um orquidário com 450 orquídeas agrupadas em 60 espécies. No PZV, os visitantes podem observar alguns dos mais importantes representantes da nossa floresta, como o mogno, cedro, jatobá, piquiá e a castanha-do-pará. Além desses, o parque possui alguns indivíduos da Flor de Carajás (Ipomoea cavalcantei), a planta símbolo de Carajás.

VISITAS O PZV mantém uma infraestrutura para o público com zoológico, orquidário, sala de coleções, auditório, área de exposição e sala de educação ambiental. Há programação diversificada de atendimento ao público, com destaque para recreação e educação ambiental. É parte do roteiro de visita à Floresta Nacional e ao Complexo de Carajás. Aberto ao público todos os dias, das 9h às 15h30, na estrada Raimundo Mascarenhas, s/n, KM 26 - Núcleo Urbano de Carajás - PA. Informações e agendamentos pelo telefone (94) 3327-4878. FOTOS: ARQUIVO VALE

O Parque Zoobotânico Vale (PZV), na Floresta Nacional de Carajás, rotineiramente faz um levantamento de controle de plantel, uma forma de estabelecer identidade e situação médica com um microchip instalado. Grande parte do plantel do PZV origina-se de apreensões do feitas pelo Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama). Logo, é muito comum chegarem animais desnutridos, doentes, feridos, mutilados e com distúrbios comportamentais. Uma vez identificados, são tratados adequadamente. Alguns deles podem ser observados pelos mais de 10 mil visitantes mensais. No plantel do PZV, atualmente, são mantidos 254 animais silvestres da região amazônica. Dentre eles estão 103 mamíferos, 69 aves - entre elas um gavião-real (Harpia harpyja), que virou tema de livro - e 82 répteis. Chegando ao parque, todo animal deve ser identificado por espécie e sexo. Em seguida, é inserido microchip com um número que a identificação individual do animal. O número é anotado num caderno de controle, que deve ficar disponível para acesso do órgão ambiental, caso necessário. Todas essas informações, além da origem, data de chegada, idade, tipos de cuidados veterinários e quaisquer outras pertinentes, são descritas em uma ficha individual que fica arqui-


PERGUNTA QUE NÃO QUER CALAR

Existem túneis debaixo de Belém?

DEBAIXO DA TERRA Sob a Catedral de Belém, reside a lenda de uma cobra gigante adormecida

áreas das avenidas Nazaré e Braz de Aguiar. Porém, na Cidade Velha, certamente, os canais subterrâneos estão em desuso. Mas realmente se conectam, assim como qualquer sistema de esgotos. “A função dessas galerias era apenas fazer fluir as águas pluviais. Porém, são galerias grandes, com mais de um metro de altura por um metro de largura, então cabem pessoas lá. Meu bisavô conta de um assalto a uma joalheria no centro comercial, provavelmente era ali pela João Alfredo, e supostamente os assaltantes conseguiram fazer toda a ação via galerias. Então essas histórias vão aumentando e vão se sustentando no imaginário popular. Há uma mais mirabolante, de que os túneis sempre existiram, pois eram os caminhos da

OSWALDO FORTE

Pode parecer coisa de filme ou de livros de ficção e fantasia, mas muito se fala sobre um sistema de túneis que conecta pontos estratégicos da cidade de Belém. O imaginário, nesses casos, leva a pensar em passagens secretas e a formular diversas teorias conspiratórias sobre o que acontece no subsolo da capital paraense. Mas o que ocorre debaixo do asfalto é a passagem de água da chuva e esgotos. Isso mesmo. E nada mais. De fato existe uma série de conexões, mas que apenas fazem parte dos primeiros sistemas de saneamento da capital paraense, construído no final do século XIX, durante a Belle Époque e a gestão do intendente Antônio Lemos - que hoje dá nome ao palácio sede da Prefeitura de Belém -, um entusiasta de construções semelhantes à de outros países. O que leva a população a imaginar sistemas de segurança contra ataques e rotas de fuga, para o arquiteto e professor Flávio Nassar, é a construção luxuosa e detalhada demais para um simples esgoto. A obra é de origem inglesa. E isso explica um tijolo inglês que ele ganhou de presente de um conhecido, após uma obra da Companhia de Saneamento do Pará (Cosanpa) na Cidade Velha. O arquiteto acredita que apenas uma parte das galerias funcione ainda, nas

Cobra Grande”, analisa Nassar, ao citar a lenda do monstro que adormece com a cabeça posicionada debaixo da Catedral de Belém. “Conta-se também que há túneis ligando as igrejas das Mercês e do Carmo, que serviam de rota de fuga dos padres jesuítas. Enfim, são muitas histórias”, completa. Verdadeiramente, longe de Belém, o que há sistemas de túneis especiais é o metrô de Moscou. Nassar observa que as linhas se conectam de todas as formas e foram preparadas com o propósito de serem abrigos antibomba e antinucleares em caso de guerras. As estações são grandes obras de arte e inspiraram romances russos e até games, como “Metro 2033”. Porém, muito distante dos sombrios esgotos pluviais da capital paraense.

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VALE / DIVULGAÇÃO

COMPORTAMENTO SUSTENTÁVEL

Bem perto do futuro

PLANEJAMENTO Módulos da usina de beneficiamento do S11D, da mineradora Vale, já estão em fase de montagem em um canteiro de obras no sudeste do Pará

O programa Ferro Carajás S11D é o maior da história da Vale e o maior da indústria de minério de ferro em volume, custo e qualidade. A sustentabilidade também é um diferencial. Fabrício Queiroz

I

novação, produção de alto nível e sustentabilidade estão juntas no desenvolvimento do programa Ferro Carajás S11D. A iniciativa é da Vale e visa à produção e ao beneficiamento de minério de ferro de alta qualidade, com um grande investimento em estrutura de produção e logística com menor impacto sobre o meio ambiente. A principal área de atuação será nos municípios de Parauapebas e Canaã dos Carajás, no sudeste do Pará, onde a empresa opera, atualmente, cinco minas de ferro a céu aberto, que, em 2011, produziram 109,8 milhões de toneladas de minério de alto teor. Na mesma região, mas em território não explorado pela mineradora encontra-se uma área geologicamente conhecida

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como corpo S11, cujo potencial mineral é de 10 bilhões de toneladas. Dentro do corpo S11, somente um de seus blocos, o D, tem reservas estimadas em 3,59 bilhões de toneladas de minério. Por isso, a denominação S11D em referência a esse potencial mineral amazônico no Pará. A partir de 2016, quando devem começar as operações do S11D, o volume de produção da Vale em Carajás deve aumentar para 230 milhões de toneladas, sendo 90 milhões somente da nova área. Com essa produção, a região será equivalente ao Quadrilátero Ferrífero, em Minas Gerais, em patamar de importância, tornando-se uma das duas maiores províncias minerais brasileiras. Com a experiência de quem já atua na

Amazônia há quase 30 anos, a Vale incorpora ao empreendimento tecnologias que permitirão uma produção com impacto ambiental bastante reduzido e melhor aproveitamento do potencial mineralógico da região. Para o desenvolvimento do projeto foram necessários cinco anos de estudos ambientais e de engenharia, viabilizados em parceria com equipes técnicas do Brasil, do Canadá e da Austrália. O resultado é um grande e ousado projeto de produção mineral pautado por uma forte política de desenvolvimento sustentável, segundo orientações internacionais. A usina de beneficiamento, por exemplo, usará a umidade natural ao invés de adicionar água. Nesse processo, o consumo de água será bem menor.


Comparado aos métodos convencionais, o S11D vai reduzir em 93% o consumo de água, uma economia de 19,7 milhões de metros cúbicos, suficientes para abastecer uma cidade com 400 mil habitantes, equivalente a Macapá, capital do Amapá. Haverá, ainda, o reaproveitamento de quase 86% da água captada nas instalações da mineradora. Além disso, a usina será instalada em antigas áreas de pastagem, evitando o desmatamento na Floresta Nacional (Flona) de Carajás. Aliado aos benefícios desse empreendimento inovador, o S11D utiliza o sistema truckless, ou seja, sem caminhões. Também conhecido como In-Pit Crushing and Conveying, o transporte do minério da mina para a usina será feito ao longo de 37 quilômetros de Transportadores de Correias de Longa Distância (TCLD), substituindo o trabalho que seria feito por cerca de 100 caminhões. Isso permitirá uma redução de 77% no consumo de diesel, o principal combustível usado em operações de transporte. Quando estiver em atividade, o sistema vai reduzir em 50% o volume das emissões de gases do efeito estufa (118 mil toneladas de CO2). Esse tipo de processo apresenta vantagens, já que grande parte do sistema utilizará energia elétrica. Em tratores de esteiras, motoniveladoras e outras máquinas auxiliares que ainda serão utilizadas na operação, a Vale empregará o uso de biodiesel, o que permitirá uma redução maior nas emissões de gases do efeito estufa. Em todo o sistema, a economia de energia será de 18 mil megawatts.

INVESTIMENTO SOCIAL

Como parte da política de investimento social, a Vale também oferece, ações de defesa de crianças e adolescentes, esporte, cultura e valorização de etnias indígenas. Além disso, a empresa também colabora com a preservação de quase 9 km de floresta nativa no sudeste paraense. Ações que reforçam o empenho em contribuir com o desenvolvimento sustentável local.

Para a concretização do S11D, o investimento previsto é de US$ 8 bilhões e mais US$ 11 bilhões em infraestrutura logística para a expansão da Estrada de Ferro Carajás e do Terminal Portuário de Ponta da Madeira, no Maranhão. Os investimentos estruturais, entretanto, são apenas uma face desse grandioso projeto. A expectativa é que até 30 mil pessoas sejam empregadas no Pará e no Maranhão, privilegiando a população local. Guilherme Pires de Souza, líder do projeto de comissionamento e prontidão operacional do S11D, diz que “a ideia da empresa é captar pessoas da região para trabalhar na mina e na usina de beneficiamento, fortalecendo o compromisso com a capacitação de profissionais, oferecendo cursos gratuitos”. O S11D recebeu licença para implantação do projeto em julho deste ano, o que indica a viabilidade da operação. Com isso, a mineradora construiu um canteiro de apoio para a pré-montagem da planta industrial, já que as estruturas seguem um sistema modular em que podem ser montadas previamente para depois serem encaixadas às demais. E na área onde ficará a usina já estão em execução as primeiras obras que darão o suporte necessário para sua instalação. “Isso também é uma inovação no projeto e vai fazer com que a gente consiga antecipar o início das operações”, ressalta Guilherme Souza, referindo-se ao cronograma previsto para ter início em 2016.

“A ideia da empresa é captar pessoas da região para trabalhar na mina e na usina de beneficiamento, fortalecendo o compromisso com a capacitação de profissionais, oferecendo cursos gratuitos” GUILHERME PIRES DE SOUZA Líder do projeto de comissionamento e prontidão operacional do S11D VALE / DIVULGAÇÃO

SUSTENTÁVEL Em Canaã dos Carajás, na região sudeste do Estado, está o principal projeto de tecnologia verde da Vale no Pará

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COMPORTAMENTO SUSTENTÁVEL

POR DENTRO DO S11D

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Entenda o programa de produção de minério de ferro feito pela Vale na região sudeste do Pará

O QUE É Um projeto de expansão da atividade e escoamento da produção de minério de ferro na região Norte do país a partir de 2016. O projeto prioriza questões ambientais, sociais e trabalhistas e prevê a instalação de uma mina e de uma usina para extração e beneficiamento.

INFOGRAFIA: MÁRCIO EUCLIDES E VICTOR FURTADO

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EXTENSÃO Remodelagem dos 226 km da ferrovia de Carajás e expansão em 504 km e construção de um ramal ferroviário no sudeste paraense de 101 km, indo de São Luís (MA) a Canaã dos Carajás (PA). Inclui a construção do terminal portuário de Ponta da Madeira, em São Luís.

INVESTIMENTO US$ 19,49 bilhões. A mina e a usina custarão US$ 8,04 bilhões. A infraestrutura e a logística custarão US$ 11,45 bilhões.

4 REDUÇÃO DA POLUIÇÃO DO AR E DE RESÍDUOS O S11D utiliza o sistema Truckless, ou seja, sem caminhões, reduzindo em 75% o gasto em combustível. A extração e movimentação do minério, atualmente feita com caminhões, iria requerer cerca de 100 desses veículos para o transporte. Com a substituição de caminhões por esteiras, reduz-se a poluição do ar com gases do efeito estufa em 50% (118 mil toneladas de CO2 por ano) e da geração de resíduos como óleo, lubrificantes e restos dos pneus.

FLORESTA As atuais instalações da mineradora ocupam apenas 3% da área da floresta nacional de Carajás. Com a presença na área, a Vale colabora com a preservação das unidades de conservação da região de Carajás, que incluem 8.679,5 km de extensão ao longo das florestas nacionais de Carajás (4.119,5 km), Itacaiunas (1.414 km), Tapirapé-Aquiri (1.900 km), da reserva biológica do Tapirapé (1.030 km) e a área de proteção ambiental do Igarapé do Gelado (216 km).

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ÁGUA O processo de beneficiamento do minério produzido substituirá a água pela umidade natural. Com isso, O S11D vai reduzir em 93% o consumo desse recurso em relação aos procedimentos tradicionais. Em números, seriam 19,7 milhões de metros cúbicos de água, suficientes para abastecer uma cidade com 400 mil habitantes por um ano.

ENERGIA Com o uso de tecnologias modernas é possível economizar 18 mil megawatts (mW) de energia

Em detalhes

Veja como funciona o S11D São instalados módulos de trabalho locais por etapas, aumentando a segurança dos trabalhadores e controle do fluxo de trabalho Depois de instalados e testados, inicia-se a lavra dos minérios

MINÉRIO Com alto teor de ferro (média de 66%) e baixa concentração de impurezas.

SOCIEDADE Atuando em parceria com entidades locais, a Vale tem investido na qualificação da população de Canaã dos Carajás por meio do Programa de Preparação para o Mercado de Trabalho (PPMT), que visa atender às necessidades de mão de obra das indústrias locais. Somente em 2012, em parceria com o Senai (Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial) e o Senac (Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial) foram beneficiadas, no município, 520 pessoas, representando um aumento de mais de 265% em relação aos 196 alunos que concluíram o curso no ano anterior. Até o momento, mais de 900 pessoas já foram formadas.

Os minérios extraídos são transportados por esteiras até a usina de beneficiamento Os minérios são processados utilizando a umidade natural A produção é escoada por ferrovias e pelo porto FONTE: VALE.

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VIDA EM COMUNIDADE

Educadores do cidadão amazônico

Professores engajados contribuem para a superação de problemas socioambientais que cercam a comunidade, definindo novos rumos da região Janine Bargas

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Tarso Sarraf


N

o mês em que se comemora o Dia do Professor, em 15 de outubro, o papel da profissional da Educação na Amazônia é lembrado pelo esforço homérico com que esses profissionais se dedicam à formação de crianças, jovens e adultos. Os mestres fazem do processo de ensino de aprendizagem uma verdadeira missão em solo amazônico. Na Universidade Federal do Pará, há 15 anos, surgiu o Grupo de Estudos em Educação, Cultura e Meio Ambiente, o GEAM. A proposta é, a partir das atividades acadêmicas, promover a produção de conhecimento sobre as mais distintas realidades sociais da região amazônica e fazer sair de dentro das salas da universidade lições de sensibilização e educação ambiental. Numa sociedade em que a relação entre o homem e a natureza necessita de constantes adaptações, a proposta da educação ambiental é nada mais do que contribuir para a formação de pessoas capazes de agirem de forma responsável, compreendendo melhor seus problemas e de sua comunidade, em vista da sustentabilidade. De acordo com a professora doutora Marilena Loureiro (na foto à direita, à frente com sua equipe), coordenadora do GEAM, para os educadores ambientais, de um modo geral, a defesa da biodiversidade natural, está necessariamente associada à defesa da sociodiversidade. “Isso significa dizer que a cultura das populações locais e sua valorização é condição para a valorização da natureza”, analisa a pesquisadora. Para ela, a educação deve se responsabilizar mais pela garantia do equilíbrio ambiental, lançando mão das mais distintas ferramentas. No GEAM, vários projetos são desenvolvidos, envolvendo alunos de graduação, pósgraduação, professores e pesquisadores, voltados, especialmente, para a transformação de práticas institucionais ligadas à dimensão ambiental. As ações, desenvolvidas com princípios da interdisciplinaridade no diálogo com os saberes tradicionais, são destinadas a escolas, comunidades e órgãos públicos e privados. Para Cássio Campelo, aluno concluinte do curso de Pedagogia da UFPA, bolsis-

ta no GEAM desde 2011, a experiência de educação ambiental do grupo ampliou as possibilidades de sua formação e levou o tema a outros cantos da Amazônia. “Eu tive a oportunidade de atuar em um ambiente empresarial, quando participei do programa de educação ambiental do porto de Belém. Foi desse programa que eu escrevi meu trabalho de conclusão de curso, com um tema de pouca discussão na minha área, que é a gestão ambiental”, conta. “O grupo me proporcionou meios para que eu desenvolvesse ainda mais minha criatividade, criando diversos materiais midiáticos voltados para a educação ambiental”, completa. A formação de novos profissionais da Educação conscientes de sua responsabilidade social e ambiental se tornou um dos maiores resultados do GEAM. O engenheiro ambiental e sanitarista Hilário Vasconcelos também contribuiu com o grupo e destaca a visão adquirida sobre o papel do educador no mundo social. “Aprendi o conceito social de meio ambiente, aliando prudência ecológica e justiça social. Hoje, como profissional atuante no mercado, ponho em prática os conceitos de sustentabilidade com o olhar dinâmico e vanguardista”, diz o ex-bolsista. Na pesquisa, destacam-se os projetos “A Educação entre Rios e Florestas: Imagens Amazônicas” (2000-2002) e “O que fazem as escolas que dizem que fazem Educação Ambiental” (2006-2007). Na extensão universitária, o GEAM já desenvolveu projetos em terminais portuários, como o porto de Vila do Conde, no município de Barcarena, nordeste paraense, e no terminal de Miramar, em Belém, e em escolas localizadas no entorno desses locais. Mais recentemente, o grupo trabalha na região da BR230, a Transamazônica, chegando a onze municípios entrecortados pela rodovia, promovendo cursos para lideranças locais, professores e alunos. A ênfase das aulas sempre é voltada para a superação de problemas socioambientais da região. No cenário amazônico, onde os índices sociais, econômicos, ambientais e educacionais revelam uma ampla desigualdade regional, o papel do educador é cada vez mais importante e uma atuação engajada

“Aprendi o conceito social de meio ambiente, aliando prudência ecológica e justiça social. Hoje, como profissional atuante no mercado, ponho em prática os conceitos de sustentabilidade com o olhar dinâmico” Hilário Vasconcelos

Educador e engenheiro ambiental

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VIDA EM COMUNIDADE

vale / divulgação

CAPACITAÇÃO

Programa de Gestão Educacional, da Vale, já formou mais de 7O profissionais de escolas públicas nos municípios do Pará e Maranhão

é urgente. “É um papel que ainda precisa ser mais bem assumido, e que implica não somente uma boa formação dos educadores, mas, necessariamente, muito compromisso político com um projeto de sociedade amazônica que reconheça e valorize nossa diversidade cultural e nosso patrimônio cultural como elementos associados a compor as realidades amazônicas”, afirma Marilena Loureiro.

gestão educacional

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em que os próprios alunos apontaram suas necessidades de aprendizagem. “Para melhorar o processo é preciso saber o que está e o que não está bom, e ninguém melhor que o aluno para falar. Assim, o aluno se torna protagonista do seu aprendizado”, enfatiza a gerente. Essas experiências de gestão educacional mostram que a partir de ações e propostas inovadoras que apostam no crescente aperfeiçoamento e no incentivo à tomada de iniciativas dos profissionais da educação, é possível chegar à solução de problemas locais por meio da produção de conhecimento. “O professor é um instrumento para a boa formação do aluno”, resume Janaína Pinheiro. vale / divulgação

Os baixos Índices da educação básica alcançados pelo Pará e a busca por uma melhor formação para a realização do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), uma das principais provas de avaliação do país, motivaram a Vale a desenvolver um programa de formação de gestores educaionais nas unidades onde a mineradora está presente. O Programa de Gestão Educacional (PGE) formou 64 profissionais no Pará, nos municípios Canaã dos Carajás, Parauapebas, Moju, Tomé-Açu e Marabá. Outros 64 profissionais foram formados no Maranhão, em São Luís, Açailândia e Santa Inês. Foram ofertados cursos de aperfeiçoamento com duração de 16 meses, que visaram à atualização e à qualificação dos educadores na formação dos alunos, dando ênfase ao papel das lideranças escolares, como diretores, vice-diretores e

orientadores pedagógicos. De acordo com a gerente de RH de Projetos Educacionais, Janaína Pinheiro, é fundamental trabalhar com a capacitação das lideranças. “São elas que alavancam os alunos os professores e os pais também. A formação serve para que líderes, por meio de ações inovadoras e de planejamento estratégico, possam elevar os indicadores educacionais dessas escolas”, afirma. No início do projeto, foi feito um convênio com a Secretaria de Estado de Educação do Pará (Seduc) quando foram identificadas as escolas e as lideranças a serem formadas. A partir daí, a participação dos gestores e dos alunos propiciou um processo participativo de formação,

REFORÇO

Alunos de escolas assistidas têm uma melhor formação para a realização do Enem


JOE BENnETt / DIVULGAÇÃO

PENSELIMPO PRIMEIRO FOCO arte | cultura | reflexão

Quadrinhos made in Pará O lucrativo e admirado universo de heróis super-poderosos mantido pelas grandes editoras de HQs do mundo conta com o talento de Joe Bennett, paraense que já desenhou Superman, Homem-Pássaro e outros personagens

Olhar da comunidade Mostra fotográfica e em vídeo reúne registros sobre o Círio. P. 58

O pensador Conheça a vida do economista paraense Armando Dias Mendes. P. 50 OUTUBRO 2013

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UM DEDO DE PROSA


Os poderes de Joe Bennett Vito Gemaque

Tarso Sarraf

O quadrinhista paraense Benedito Jos茅 Nascimento 茅 o principal representante da Amaz么nia no universo mundial das grandes editoras de HQs dos Estados Unidos, conhecidas pelo seu plantel de super-her贸is.

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UM DEDO DE PROSA

PARA O ALTO E AVANTE Joe Bennett começou a desenhar profissionalmente aos 22 anos e, desde então, só fez crescer na profissão

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e suas mãos não saem garras inquebráveis, raios magnéticos nem possuem superforça para levantar um carro. O paraense Benedito José da Conceição Nascimento, mais conhecido pelo codinome Joe Bennett, não tem nenhum superpoder. Mas, de suas mãos, surgem desenhos de vários super-heróis admirados por crianças, adolescentes e adultos em todo o mundo. Aos 22 anos, Joe começou sua carreira de desenhista de HQs. Desde a década de 1990 trabalha com as grandes editoras deste universo e já desenhou uma extensa gama de heróis como O Espetacular Homem-Aranha, Capitão América, Quarteto Fantástico, O Incrível Hulk, Thor, Capitão América e Conan, o Bárbaro. Trabalhou para as importantes editoras de quadrinhos do mundo Marvel, DC Comics, Chaos! Comics, CroossGen, Dark Horse e Vertigo. Joe recentemente produziu a nova série do Homem de Ferro, ainda sem data de

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publicação nos Estados Unidos e, também uma história do Superman de 30 páginas. Os dois super-heróis fazem parte do grupo de personagens que têm retornado às telas do cinema em grandes e caras produções, apresentando-se a uma nova geração de fãs. Em uma conversa descontraída com a Revista Amazônia Viva, o quadrinhista falou sobre como começou a desenhar transformando seu hobby em profissão e como avalia o mercado brasileiro e regional de quadrinhos. Seu nome é Benedito José da Conceição Nascimento. Por que adotou a alcunha Joe Bennett? Quando eu comecei, há 20 anos, fui um dos primeiros brasileiros a trabalhar com o mercado americano de quadrinhos, então os meus agentes tinham receio que os americanos não conseguissem falar Benedito. O que aconteceu? Eles disseram, “olha vamos dar uma americanizada no seu nome, vamos

“O quadrinho me deu tudo, me deu meu trabalho, deu a minha cultura, deu o gosto pela leitura, o quadrinho me levou até a gostar de cinema.”


traduzí-lo para ver se a gente consegue penetrar mais fácil no mercado”. Com isso, o Benedito virou Bennett, o José virou Josef, e abreviando o Josef, fica Joe. Ficou assim: Joe Bennett. E como foi que você começou a desenhar? O que o levou a esse universo da arte dos quadrinhos? Simples. Quadrinhos. O quadrinho me deu tudo, me deu meu trabalho, deu a minha cultura, deu o gosto pela leitura, o quadrinho me levou até a gostar de cinema. Meu pai me incentivava muito, comprava gibi quando eu tinha cinco anos. A primeira vez que ganhei um gibi achei fascinante. Pensei: “é isso aqui que eu quero fazer”. Enquanto outros garotos diziam que queriam ser médico, advogado, eu dizia que queria trabalhar para a Marvel, desenhando o Thor. E conseguiu atingir o objetivo, não é? Sim. Eu consegui desenhar Thor, Homem de Ferro, Super-Homem, Novos Titãs, Conan. Ainda hoje, muita gente não considera quadrinhos uma arte pop, já consideram uma arte da contemporaneidade. Como é isso para você? Como é que você busca te inspiração para desenhar personagens? A inspiração vem de tudo aquilo que eu já li, que eu já vi, tanto no cinema quanto no quadrinho. Vem de tudo isso. Na verdade, o processo criativo vem quando chega o próprio roteiro, você lê e começa a internalizar as cenas. Acaba sendo uma coisa muito profissional, não tem como você falar “ah, eu sou um artista”. Não, você não é um artista, você tem que acordar de manhã, sentar numa cadeira e fazer. Você não pode dizer que não está inspirado, por isso não vai trabalhar. E como é esse processo de produção do quadrinho? A cadeia produtiva começa com o editor, que tem uma ideia, passa para o escritor, o escritor desenvolve essa ideia, depois é feita um script (roteiro), e vem para o desenhista, que é meu caso, que faço só a lápis. Depois que eu faço o desenho, vem o arte-finalista, que põe a tinta preta (nanquim). Depois disso, vem mais uma pessoa chamada colorista, que coloca a cor, por fim vem o letrista. Por último vai à gráfica. É essa cadeia de produção dos quadrinhos.

Então, os quadrinhos são uma composição coletiva? É um trabalho de grupo e em se tratando de quadrinhos americanos é um processo industrial, e todo esse processo se desenrola em um mês, entre a concepção do editor ao letramento da página. Você já desenvolveu uma marca? Algo que as pessoas possam ver o desenho e dizer: “esse daqui é o Joe Bennet”? Sim, cada desenhista tem o seu estilo, independente se seu estilo é mega hiperpopular ou é um estilo mediano, mas cada artista tem o seu. As pessoas identificam o meu trabalho e gostam. Há quem desgoste também, ninguém é unanimidade. Mas, na verdade, eu prefiro pensar que eu faço cinema e não quadrinhos. Eu faço um cinema em formas de páginas, um storyboard, porque é isso que tento passar na minha história, no meu trabalho. Fazer um trabalho bem cinematográfico. Eu faço voltado para esse objetivo. Hoje, a gente tem uma nova leva de antigos super-heróis indo para o cinema. E voltando com histórias diferentes das originadas nas décadas anteriores, como 60, 70, 80 e 90. O que você acha disso? Os quadrinhos hoje estão modificando as histórias ou mantém uma tradição? O quadrinho de super-herói vai ser sempre um quadrinho de super-herói, o que muda são os tempos, a forma como o leitor vê, lê, absorve e exige. A forma do quadrinho não vai mudar nunca. É uma fórmula que se criou lá na década de 40, com o Superman. Hoje em dia está se criando um novo fã de super-herói, é aquele que diz que gosta do Homem de Ferro, do Batman, do HomemAranha, mas não viu um gibi. Isso pelo menos é valido. Mantém a indústria aquecida. Nós, desenhistas, passamos a ter um olhar do público um pouco mais respeitoso. Eu acho interessante. O quadrinho de superherói não mudou muito na essência e não vai mudar, o que está mudando é a mídia. A forma como ele é produzido e distribuído. Eu, por exemplo, produzo, tradicionalmente, com lápis, borracha, papel. Há amigos meus que produzem direto no computador, no tablet. A forma como esse material é divulgado pode ser no papel tradicional, ou pode ser via digital.

No traço do paraense Conheça alguns super-heróis desenhados por Joe Bennett

Capitão América é um dos principais personagens da editora Marvel e ganhou a arte de Joe

O Homem-Pássaro faz parte do time da DC Comics, que mantém o grupo de heróis, como Batman e Superman

Um dos personagens mais lucrativos da história do cinema, o Homem de Ferro é o novo trabalho do paraense

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UM DEDO DE PROSA

ARTE FINAL Desenho de Joe Bennett em dois momentos: À esquerda, no traço puro, feito pelo paraense. À direita, colorizado por outro artista.

“Existe uma gama de assuntos que você pode elaborar. Eu espero que o quadrinho evolua, seja respeitado como mídia e como arte. Eu espero que o Brasil encare isso e as pessoas tenham uma abertura de mente, não ficar só no super-herói.” 56

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Você tem planos para produzir algo novo? Algo que está engavetado, mas que queira colocar em prática? Todo desenhista que é contratado para desenvolver o seu trabalho para uma companhia, quer desenvolver um dia seu próprio material. Mas depende do tempo, de oportunidade, de muitos fatores. Mas que eu tenho projeto eu tenho. Muitos projetos engavetados. Não faço mais prognóstico de quando. Só sei que eu quero, agora quando... Você pode adiantar mais ou menos o que é? É uma coisa que envolve a Amazônia, que envolve mitos, que nos envolve aqui, que envolve esse universo que eu trabalho de aventura, super-herói. A Amazônia tem uma exposição mundial há algum tempo. Como é que você vê um trabalho que valoriza esse aspecto? Há 13 anos, eu desenvolvi um trabalho publicitário para uma companhia telefônica de Belém. Eu criei um grupo de super-heróis que se chamava o “Esquadrão Amazônia” e foi um grande sucesso. As pessoas achavam até que ia haver sequência, número dois, numero três, e eu tinha que explicar que “não gente, isso aqui é uma campanha publicitá-

ria, não vai ter número dois, número três, número quatro, não vai ter nada”. É como se fosse uma brincadeira mesmo de fazer uma revista de super-heróis e todo mundo gostou muito. Na época todo mundo achou um negócio superlegal. Infelizmente, foi há 13 anos. Acho que se fosse hoje, com a força das redes sociais, com certeza, isso ia virar uma coisa muito maior, que iria explodir no mundo inteiro. Você acha que ainda pode expandir esse mercado para eixos mais regionais? O quadrinho é uma mídia que há muito tempo foi relegada a último plano, mas hoje em dia está ganhando um pouco mais de importância. Chegará o dia em que o quadrinho será incorporado como mídia, como uma forma de arte, sem preconceito algum. Mas, ainda existem certas barreiras, até mesmo sobre a figura do super-herói. O Brasil, na verdade, se fechou achando que quadrinhos é só super-herói e quadrinhos não é só isso. Existe uma gama de assuntos que você pode abordar. Eu espero que o quadrinho evolua, seja respeitado como mídia e como arte. Eu espero que o Brasil encare isso e as pessoas tenham uma abertura de mente, não ficar só no super-herói. Olhar para outros lados, para outros caminhos, como a migração do HQ do papel para o digital.


NA LISTA

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super-heróis com poderes da Amazônia

Misturamos dois universos fantásticos: o dos heróis superpoderosos das editoras Marvel e DC Comics e o das lendas amazônicas. Como seriam essas HQs por aqui? texto: victor furtado/ ilustrações: andré abreu

Curupiman e Robinpora

Superboto Curupiman é inteligente e misterioso, cheio de habilidades para dominar caçadores. Com seus pés virados para trás, faz trilhas confusas para confundir seus inimigos. Já Robinpora, a lenda-prodígio, é mais sutil na batalha contra o mal. Juntos, são uma dupla dinâmica, que age incansavelmente nas trilhas da floresta.

Com dupla identidade, ora um boto cor-de-rosa, ora um jornalista bonitão, que usa chapéu e roupas brancas, o Superboto é um herói educado e solidário, com poderes de encantar quem se aproxima dele. Protege as águas amazônicas e as comunidades ribeirinhas dos exploradores. Só possui um ponto fraco: donzelas amazônicas, principalmente se vestidas de verde-kriptonita.

Iara Maravilha

Capelobo de Ferro Grande parceira do Superboto na defesa das águas, a Iara Maravilha possui um canto capaz de enfeitiçar seus oponentes. Por ser muito bonita, ela confunde os adversários por parecer frágil, mas esconde muita força. Consegue se comunicar com os animais aquáticos fluentemente, que podem atender ao seu chamado e ajudar a combater a pesca predatória.

Duas formas de combater o mal, humana e animal, se unem à tecnologia para criar um defensor da fauna e da flora. O Capelobo de Ferro é uma mistura turbinada de tamanduá, anta, lobo e homem. Possui habilidade para manipular diversas ferramentas de alta tecnologia para combater a biopirataria e a caça predatória, além de ajudar a ciência.

Saciranha Picado por uma aranha caranguejeira encantada da Amazônia, o Saci-Pererê ganhou a habilidade de pular muito mais alto com sua única perna, escalar as mais altas samaumeiras e disparar teias. Adora pregar peças nos seus adversários para confundi-los e então ridicularizá-los para que nunca mais voltem a atacar as matas, os animais e os povos nativos.

Mapinguarine

Lamparina Verde Lamparina Verde tem tudo para ser uma perfeita espiã. Na forma de uma idosa insuspeita é capaz de imobilizar seus adversários com assobios atordoantes de matintapereira e vagar pela escuridão com o poder de seu anel cósmico. Protege o bem-estar dos idosos e dos povos antigos.

Vothulk Força bruta que se esconde nas matas amazônicas, Vothulk surgiu como uma resposta da natureza para combater o mal causado por quem devasta, polui e maltrata os povos locais. Por ser muito feroz, é visto como um monstro, mas esconde uma personalidade neutra e justa.

Mapinguarine é outro feroz defensor das matas amazônicas. Com suas garras compridas, possui poder de ataque. O único olho tem visão noturna e de calor. A boca voraz facilita a captura de bandidos fugitivos. Uma verdadeira entidade de combate à caça predatória e devastação.

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ClÁUDIA SÁ / acervo sesc janduari simões / acervo sesc

ARTE REGIONAL

PATRICK PARDINI / acervo sesc

Olhar

coletivo Projeto artístico conta a história do Círio de Nazaré, reunindo fotografias e vídeos de quem já viveu a maior manifestação religiosa e cultural da Amazônia Janine Bargas

M acervo sesc

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emória. As definições acadêmicas do termo apontam que se trata de construções cognitivas e discursivas sobre as experiências vividas em nossa trajetória. Ela pode ser uma construção individual ou coletiva e tem a capacidade de manter vivas essas experiências, marcado-as no tempo. Um projeto desenvolvido pelo Centro Cultural Sesc Boulevard, em Belém, quer desvendar a memória coletiva sobre a maior procissão religiosa do planeta e também uma das mais complexas manifestações culturais: o Círio de Nazaré.

No projeto Círio de Memórias, audiovisual e fotografia são as linguagens utilizadas para o registro. A ideia é justamente trazer à tona os vários olhares sobre a festa. A proposta é reunir, principalmente, materiais de fotógrafos e cinegrafistas amadores, deixando a sensibilidade e o “olhar ingênuo” contribuirem para a construção da história da grande festividade amazônica. Para a assessora técnica responsável pelo projeto, Carol Abreu, “o mais interessante são os modos de pensar o Círio. Círio não é somente a procissão do domingo. É também ela, mas nós queremos mostrar,


Theodor de Bry Eldorado / British Library / editora bamboo

Este ano, outra frente de atuação: a intenção é reunir vídeos, que resultarão em uma mostra de algumas dezenas deles, aberta no dia 3 de outubro. “O critério é muito livre. Só não será exposto se não houver sentido. Muita gente pensa que a ideia é fazer cinema, na verdade, a gente parte para o vídeo arte. Vamos colocar esses vídeos em forma de instalação”, diz Carol. Além dos vídeos selecionados por meio de inscrições neste ano, o produto final terá também a participação de alguns artistas convidados. Idealizar e concretizar um projeto de construção coletiva artística sobre uma manifestação cultural e religiosa, como o Círio de Nazaré, que consegue congregar milhares de pessoas na capital paraense, não poderia ser mais coerente. A avaliação dos organizadores da experiência é boa. “Os trabalhos que recebemos foram de alta qualidade. Às vezes ficávamos na dúvida de qual fotografia escolher, por que muita gente se inscrevia com mais de uma. Foi uma demanda muito grande. A ideia é continuar”, conclui Carol Abreu.

Serviço O Círio de Memórias 2013 continua em exposição até 25 de outubro, no Sesc Boulevard, localizado na Boulevard Castilho França, 522. O projeto pode ser visitado de terça a sábado, das 10 às 18 horas, e no domingo, das 9 às 13 horas e das 15 às 21 horas. Mais informações pelos telefones (91) 3224-5305 e 3224-5654 ou pelo email sescboulevard@gmail.com.

Irene Almeida / acervo sESC

ainda, os outros círios: o auto do Círio, o Arraial do Pavulagem, o almoço do Círio, a Festa da Chiquita. Na verdade, tudo que envolve o mês de outubro”, diz. O projeto Círio de Memórias chega este ano à quarta edição. Ele foi idealizado pelos fotógrafos Miguel Chikaoka e Paula Sampaio, que propuseram a reunião de materiais fotográficos de quem vive as emoções do Círio. Em 2010 e em 2011 o projeto tinha como tema “Meu Primeiro Círio”, que procurou revelar fotografias antigas, de quem conheceu o Círio décadas atrás, valorizando a relação afetiva com a manifestação cultural, a partir da reunião de acervos de profissionais e amadores. No ano passado, uma oficina que faz parte do Círio de Memórias foi levada para o município de Abaetetuba, no nordeste paraense, a cerca de 50 km de Belém. Lá, existe um polo de produção cultural típico da região. Os objetos de miriti, fibra de palmeira de mesmo nome comumente encontrada na Amazônia, são produzidos por artesãos. Pessoas que vivem na relação com o lugar, imbuídos de histórias e olhares puderam mostrar o seu ponto de vista sobre o Círio. A partir de oficinas de “pinhole”, (máquina fotográfica sem lentes), câmera obscura e pincel de luz, ministradas ao longo do ano por Chikaoka, os artesãos confeccionaram suas próprias câmeras. “A gente não estava tratando com os artistas, com fotógrafos. Eles tinham um olhar mais puro. Foram conhecer o princípio da fotografia e brincar com a luz”, afirma Carol Abreu. O resultado foi uma exposição de sucesso montada em Belém.

patricia gouveia / acervo sesc

NAIR BENEDICTO / acervo sesc

janduari simões / acervo sesc


MEMÓRIAS BIOGRÁFICAS

Armando Dias Mendes (1924-2O12)

O sábio homem da Amazônia

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ILUSTRAçÕES: JOCELYN ALENCAR

Economista, Armando Mendes dedicou sua vida acadêmica à análise do Ciclo da Borracha na região e fundou o Núcleo de Altos Estudos da Amazônia, o Naea


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os 88 anos, o economista Armando Dias Mendes fez mais uma conferência brilhante sobre o assunto que mais gostava e que lhe serviu de investigação, interesse, paixão e objeto principal das reflexões sobre seu tempo: a Amazônia. Numa palestra em Manaus, no Amazonas, no 6o Encontro de Entidades de Economistas da Região Norte (Enam), o pesquisador presenteou a plateia com inteligência, humor e erudição, marcas de uma personalidade construída pela vivência na região e uma cultura vasta e a produção de livros. Aquele foi o último grande encontro de Armando com seus colegas. Nove dias depois, no dia 2 de junho de 2012, um infarto vitimou para sempre o pesquisador. A figura do economista, no entanto, ecoa na eternidade como outros grandes sábios que dedicaram a vida à Amazônia. E a lista é de notória grandeza, que inclui Benedito Nunes, Vicente Salles, Roberto Santos, José Marcelino Monteiro da Costa, Samuel Bachelar e Artur César Ferreira Reis. Dentre feitos memoráveis de Armando Mendes está a criação do Núcleo de Altos Estudos da Amazônia (Naea) da Universidade Federal do Pará (UFPA), um centro de referência e excelência para pesquisas na região. A derradeira palestra de Armando teve o nome de “Amazônia: Cidadania ou Capitulação” com um subtítulo bem humorado de “Uma involuntária alegoria amazônica produzida em parceria por poetas, prosadores e políticos não amazônicos”. Foi baseada em seu artigo, publicado no livro “1912-2012, Cem anos da crise da borracha: do retrospecto ao prospecto”, organizados por João Tertuliano Lins Neto e Maria Lúcia Bahia Lopes. João, ex-aluno, amigo pessoal do pesquisador e testemunha da conferência, conta que ele foi brilhante em sua explanação e defendeu com uma crítica prática e direcionada um novo pacto federativo para o Brasil, colocando a Amazônia como uma região privilegiada devido às riquezas naturais e à dimensão de seu território, sendo mais da metade de toda a extensão do solo brasileiro.

João Tertuliano expõe que Armando Dias Mendes deixou 24 livros como referência em pesquisa e planejamento e todos voltados para a reflexão sobre a Amazônia. “Armando demonstrou grande preocupação com a repetição do que ocorreu com o Ciclo da Borracha, que findou definitivamente após a Segunda Guerra Mundial e, após seu declínio, o Pará saiu da condição de exportador para importador de látex”, diz Tertuliano, organizador do livro com o último ensaio do economista. Armando Dias Mendes nasceu no dia 3 de junho de 1924, 12 anos após a definitiva crise do Ciclo da Borracha. Morreu no dia 15 de junho de 2012, falando justamente do centenário da derrocada dos anos em que a Amazônia esteve no foco da economia mundial como grande produtora de látex. Amazonólogo apaixonado, o pesquisador se formou pela Faculdade Livre de Direito, ainda na década de 1940, e, em seguida, fez o curso de planejamento regional, ofertado pela Fundação Getúlio Vargas. Foi o primeiro passo para nunca mais abandonar a Economia. Pesquisador de referência em assuntos de meio ambiente e desenvolvimento sustentável, Armando Mendes foi doutor honoris causa pela UFPA e também pela Universidade da Amazônia (Unama), membro emérito do Conselho Regional de Economia do Pará (Corecon-Pa) e fundador da Faculdade de Economia do Pará. Sua atuação política também o elevou aos cargos de vereador e deputado estadual. Seu trabalho originou o Naea em 1973 e sua carreira acadêmica inclui participações como pró-reitor de Planejamento da UFPA na gestão do reitor Aloysio da Costa Chaves (1969-1973), professor colaborador da Universidade de Brasília (UNB) e secretário geral do Ministério da Educação (MEC). Dentre os livros publicados, os destaques são “A invenção da Amazônia” (1974); “Ciência, Universidade e Crise” (1981); “A cidade transitiva” (1998); “O Economista e o Ornitorrinco” (2001); “A invenção da Amazônia: alinhavos para uma história de futuro (2006); e “A cidade transversa” (2006) sobre o NAEA.

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SIDNEY OLIVEIRA / AGÊNCIA PARÁ

AGENDA DE EVENTOS

IGREJA DO CARMO

As visitas às obras de restauração da Igreja do Carmo continuam durante esse mês. A iniciativa proporciona novos conhecimentos aos envolvidos, além de estimular a forma como os moradores de Belém se relacionam com a rica herança arquitetônica da cidade. As visitas são guiadas por um grupo de estudantes de Arquitetura e Engenharia Civil da UFPA e da Unama; e de jovens da Cidade Velha; que foram capacitados em uma iniciativa da Vale. A igreja está sendo restaurada por meio do patrocínio da Vale, em parceria com a Arquidiocese de Belém e o Iphan. As pessoas interessadas em participar da visitação podem fazer agendamento por meio do telefone (91) 3255-8816.

CAXIUANÃ

EXPERIÊNCIA Projeto R.U.A. revitaliza parte da Cidade Velha, o bairro mais antigo de Belém

Como parte da programação do 20° aniversário da Estação Científica Ferreira Penna do Museu Goeldi, a Rede de Núcleos de Inovação Tecnológica da Amazônia Oriental e a Embaixada Britânica no Brasil promovem, até o dia 4 de outubro, o Workshop Biodiversidade, Inovação e Sustentabilidade. Quatro livros publicados sobre a Flona Caxiuanã, diversas teses, artigos e descobertas científicas são algumas das significativas contribuições da Estação para o avanço da ciência. Mais informações no site www. museu-goeldi.br/ukamazonia/

antropologia

Fachadas e muros coloridos, cheios de arte e histórias Fachadas e muros coloridos, cheios de arte e histórias de vida. A essência do projeto R.U.A. (Rota Urbana pela Arte), agora está em vários cantos da Cidade Velha, o bairro mais antigo de Belém. O local renasce pela criatividade e pelos trações e tintas dos participantes do projeto, que oferecem visitas monitoradas aos pontos revitalizados até o dia 6 de outubro. A inter venção urbana foi organizada pelos artistas Drika Chagas, John Fletcher, Sue Costa e Emanoel de Oliveira Júnior, com apoio do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) e do projeto Biizu, desenvolvido pela Secretaria de Estado de Comunicação (Secom). A partir de entrevistas

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com vários moradores do bairro, o projeto R.U.A., segundo os organizadores, é uma forma plástica de experimentar a cidade “como um local de encontros e traduções”. Além de modificar o cenário de alguns pontos da Cidade Velha com pinturas em grafite retratando personagens da cultura, da religiosidade e da histórica do local, o projeto resgata histórias passadas de geração a geração pelos moradores. A maioria dos participantes do projeto é oriunda das oficinas do projeto Biizu. Os grafites homenageiam o padre Gabriel Malagrida, um dos fundadores da escola jesuíta em Belém, e o padre Antônio Vieira, que ficou preso na Igreja de São João. Também há referência à história da “moça do táxi” e de Bettina Ferro, uma médica atuante no bairro, que ajudou muitos moradores dali. Mais informações sobe a exposição estão disponíveis no site www.projetorua.com.br.

Estão abertas até o dia 18 de outubro as inscrições ao Programa de Pós-Graduação e Antropologia da Universidade Federal do Pará (UFPA). As áreas de concentração são Antropologia Social, Arqueologia e Bioantropologia, sendo 24 vagas para mestrado e 15 vagas para doutorado. O edital completo pode ser acessado no site www.portal.ufpa.br.

cogumelos

Com o objetivo de debater a importância dos cogumelos comestíveis e medicinais para a Amazônia e promover a interação entre pesquisadores brasileiros e estrangeiros, o Instituto Nacional de Pesquisa da Amazônia (Inpa/MCTI) realiza, o Vll Simpósio Internacional sobre Cogumelos no Brasil e o Vl Simpósio Nacional sobre Cogumelos. Os eventos serão realizados de 12 a 15 de outubro. Mais informações no site 7sicog.inpa.gov.br. Envie sugestões de eventos acadêmicos, científicos e culturais para o nosso e-mail amazoniaviva@orm.com.br


FAÇA VOCÊ MESMO

Embalagem de miriti No mês do Círio de Nazaré, vamos dar outra utilidade para as peças do famoso miriti

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arquinhos, cobras, bonequinhos soca-soca são produtos do artesanato de miriti conhecidíssimos da população paraense, mas não é só isso que a matéria-prima tem a oferecer. É que a maleabilidade desse material expande a produção ao limite da imaginação, tanto que, nesta edição da revista Amazônia Viva, a Fundação Curro Velho apresenta o passo a passo da confecção de embalagens em miriti. Benefícios? Os de sempre: diminuição do custo e do impacto ambiental. E, no caso do miriti, o resultado final poderia até receber um selo de “100% verde”. Isso porque o material vem das folhas do buriti, termo utilizado para designar as plantas de variados gêneros ( Mauritia, Mauritiella, Trithrinax e Astricaryum ) e da família das arecáce-

as, anteriormente conhecidas como palmáceas. Do buriti nada se cria, tudo se transforma. Nas folhas está uma fibra fina, a chamada seda de buriti, utilizada pelos artesãos para a produção de peças de capim-dourado. Fibra essa aproveitada para uma infinidade de aplicações como bolsas, tapetes, toalhas de mesa, brinquedos, bijuterias. Mas o passo a passo dessa edição reside noutro lugar. É dos talos dessa planta que sai o miriti para a confecção de móveis e, também, para a produção da embalagem a seguir. Para segurança das crianças, é melhor que essa atividade seja acompanhada por um adulto responsável. Lembre-se também de antes de iniciar a confecção da embalagem, colocar uma máscara de proteção. Então, mãos à obra!

DO QUE VAMOS PRECISAR?

- 1 vara de miriti

- 1 cabo de aço do freio de bicicleta - 1 faca pequena

- 1 estilete - 1 esquadro

- 1 lápis - 1 pedra de esmeril para am olar a faca - 1 alicate pequeno - 1 régua de aço - Lixa - 1 caixa de ½ esquadria (pa ra o corte dos cantos) - Cola de contato - 1 máscara para proteger o nariz

Instrutor: João Gomes Colaboração: Deusarina Vasconcelos Fotografia: Ionaldo Rodrigues Modelo: Thayssa Andréa Saraiva

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Para começar, pegue a vara de miriti e corte-a em dois pedaços de 30 cm cada

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Com a lixa apoiada numa superfície plana, inicie o processo nas lâminas de miriti para dar o primeiro acabamento

Agora, cole as lâminas uma ao lado da outra, enfileirando-as para formar a base da embalagem

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Chegou a hora de unir as lâminas laterais. Passe a cola nas pontas da base e nas lâminas, conforme o passo 6. Depois cole a base nas lâminas de miriti.

Para saber mais

Essa atividade pode ser feita por crianças, desde que estejam acompanhadas por um adulto responsável

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Desfie o cabo de aço do freio de bicicleta de modo a extrair o arame fino central que será utilizado como instrumento de corte

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Depois de lixar as lâminas, faça o enquadramento e corte-as para deixar em ângulo reto cada tira de miriti. Diminua as lâminas conforme o tamanho que desejar a embalagem

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Com a base pronta, faça o enquadramento dos quatro lados

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Agora, para fazer a tampa siga os passos 6, 7, 8 e 9. As lâminas laterais devem ter largura menor. Já o tampo (base) tem de ser levemente maior que a caixa (embalagem).

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Agora, amarre uma extremidade do arame numa base firme. Em seguida, recorte as lâminas de miriti com o arame, conforme a imagem.

Passe a cola nas laterais das lâminas e deixe agir entre cinco a sete minutos

Utilize a caixa ½ esquadria para recortar os cantos das lâminas laterais, encaixando as partes

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A embalagem de miriti está pronta. Você pode fazer a decoração da forma que preferir. Há varias possibilidades, como serigrafia, pintura e colagem.

Quem quiser conhecer mais técnicas artísticas pode se inscrever nas oficinas da Fundação Curro Velho. Crianças com idade a partir de 12 anos podem participar. A Fundação Curro Velho fica localizada na rua Professor Nelson Ribeiro, nº 287, esquina com a travessa Djalma Dutra, bairro do Telégrafo. Telefones: (91) 3184-9100 e 3184-9109.

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RECORTE AQUI

FAÇA VOCÊ MESMO


BOA HISTÓRIA

A tarde estava abafada como sem-

ILUSTRAÇÃO LEONARDO NUNES

Anderson Araújo é jornalista, escritor e blogueiro

pre, mas na varanda o vento chegava sem obstáculo e era lá o melhor lugar para a sesta sagrada depois do almoço. Com quase 40 anos de serviço, ele havia abandonado a rotina estressante do banco onde contava dinheiro, aturava clientes e dava desculpas esfarrapadas sobre as altas taxas de juros e de serviços. Dois anos antes da aposentadoria, decidiu-se: pediu as contas e largou tudo para realizar o sonho da vida inteira. Chegou ao vilarejo ainda com a matutez da cidade grande, as camisas sociais, o cabelo arrumadinho. Instalou-se na única pensão do lugar e iniciou a busca para erguer o paraíso particular, pertinho do deslumbre da floresta, dos cantos dos pássaros. Depois de alguns dias, Macedinho, o dono da venda mais próxima, ofereceu um terreno ocioso, herança de família, meio abandonado, mas produtivo e bonito. Nem quis medir. Pagou à vista e escafedeu-se mato adentro. Seis meses depois, a casa empenada, quase em ruínas e ares de assombro, estava um brinco. Nem parecia com a que foi entregue pelo proprietário anterior. Surgiu resplandescente num sobradinho muito simpático, bem caiado, com antena parabolíca no telhado, água fresca do poço puxada pela bomba, gerador de luz elétrica, telefone via satélite. Era um nicho urbanóide enfiado na imensidão verdade. O novo morador escolheu a solidão e estabeleceu um trato com a família: visitas mês a mês. E sempre que voltava ao antigo

endereço estava mais moço, o rosto mais corado e os gestos mais expansivos, menos formal, mais amoroso com os filhos já adultos. Foi perdendo a capa pálida de escritório e ganhando a cor. Sentia falta de todos, contudo o exílio voluntário era a paixão acalentada por anos e agora realizada em plenitude. Sentia-se em paz. Satisfeito do almoço, dormitava dentro da rede na varandinha, bem longe das cédulas novas que costumava contar naquele horário havia alguns anos. Foi o momento em que ela descortinou a mata e veio andando em passo leve e elegante. O olhar fixo de quem já escolheu o alvo, a postura solene das rainhas. O homem a enxergou e prendeu a respiração para soltá-la dois minutos depois suavemente, com cuidado para não desarrumar o ar. Deitou-se embaixo dele e se espreguiçou devagar e se acomodou de lado, lambendo os dentes, em pose de modelo em comercial de lingerie. Ficou ali olhando no rumo da trilha por onde veio, como quem não quer nada e, de fato, não queria mesmo. Era a quarta visita. O ex-bancário evitava tremer, porque poderia contrariar o animal e não seria de bom tom tratá-la com tamanha descortesia. Acima do pavor, vigorava um orgulho estranho de ter a amizade de um felino tão fabuloso. A sensação era a de ser um rei, quase um tarzan recém-saído da agência bancária já meio enrugado e sem força para o berro típico. Já ela, nem aí: cansava da companhia e seguia de volta para o mato, indiferente como os gatos de qualquer tamanho.

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NOVOS CAMINHOS

Uma ferramenta para a gestão ambiental

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período que compreende a metade da década de 1990 até os dias atuais foi fundamental para viabilizar a demarcação e a regularização de grande parte das Reservas Indígenas da Amazônia. Hoje, superado o problema das demarcações, os estados têm o desafio de executar a recente Política Nacional de Gestão Ambiental e Territorial das Terras Indígenas (PNGATI, Decreto 7.747 de 5/06/2012), que tem o objetivo de garantir e promover a proteção, a recuperação, a conservação e o uso sustentável dos recursos naturais das terras e territórios indígenas, assegurando a integridade do patrimônio indígena, a melhoria da qualidade de vida e as condições plenas de reprodução física e cultural das atuais e futuras gerações indígenas. Os etnomapeamentos e etnozoneamentos são as ferramentas dessa política. O etnozoneamento é definido como instrumento de planejamento participativo que visa à categorização de áreas de relevância ambiental, sociocultural e produtiva para os povos indígenas, desenvolvido a partir do mapeamento indígena. A Secretaria de Estado de Meio Ambiente do Pará realizou a primeira experiência de execução dessa política, finalizando com positiva participação de indígenas o mapeamento e zoneamento das Terras Indígenas Trombetas e Nhamundá Mapuera, localizadas na região da Calha Norte do Rio Amazonas, município de Oriximiná, onde se localizam também sete unidades estaduais de conservação da natureza, tendo em vista a gestão integrada de áreas protegidas deste amplo território.

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OUTUBRO 2013

No início do mês passado, 15 representantes de órgãos de governo participaram de uma expedição e subiram as impressionantes corredeiras do rio Mapuera para participar, na aldeia Mapuera, da festa de lançamento dos livros que contêm os resultados desse importante trabalho. O livro “Etnozoneamento da Porção Paraense das Terras Indígenas Trombetas e Nhamundá Mapuera” traz um amplo diagnóstico da situação social e ambiental dessas terras indígenas, expõem as demandas das comunidades indígenas da região e também expõem o zoneamento e regras de uso territorial, que deverão ser acatadas pelos indígenas, visando uma melhor gestão dos recursos destes territórios. Também, na ocasião comemorativa, foi lançado o livro bilíngue “Narrativas Wai Wai”, sobre a biodiversidade, com histórias míticas e ecológicas sobre a fauna e flora local. A obra foi organizada em parcerias com professores indígenas, para que sirva como material paradidático nas escolas indígenas da região e leitura familiar. Esse foi o primeiro trabalho voltado para gestão ambiental e territorial de terras indígenas do Pará realizado com sucesso por um órgão de governo do Estado. Também foi um dos maiores mapeamentos e zoneamentos participativos de terras indígenas já executado no planeta e esperase que seja um exemplo a ser seguido em outras terras indígenas, para que possamos ter as comunidades indígenas como aliadas na conservação da rica biodiversidade do nosso Estado, uma vez que é no âmbito desses territórios que a diversidade se expressa de maneira impressionante, estando, por força dos processos de desenvolvimento econômico, profundamente ameaçada.

O etnozoneamento é o instrumento de planejamento participativo que visa à categorização de áreas de relevância ambiental, sociocultural e produtiva para os povos indígenas, desenvolvido a partir do mapeamento indígena

CLÁUDIA KAHWAGE é bióloga e antropóloga. Trabalha na Gerência de Povos Indígenas e Comunidades Tradicionais, Diretoria de Áreas Protegidas da Sema-Pará.


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