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OUTUBRO 2O18 | EDIÇÃO NO 80 ANO 8 | ISSN 2237-2962
SÃOS E
SALVOS Acervo com mais de 300 espécimes de insetos raros é poupado do trágico incêndio que destruiu o Museu Nacional, no Rio de Janeiro, graças à parceria entre pesquisadores das regiões Sudeste e Norte. Agora, o material está protegido na Coleção Zoológica da Universidade do Estado do Pará e deve voltar para casa nas próximas semanas, ajudando a reconstruir o legado da instituição histórica.
NESTA EDIÇÃO
NAILANA THIELY/ ASCOM UEPA
OUTUBRO2018
UMA PUBLICAÇÃO DELTA PUBLICIDADE - JORNAL O LIBERAL OUTUBRO 2018 / EDIÇÃO Nº 80 ANO 8 ISSN 2237-2962
18 De volta
Presidente LUCIDÉA BATISTA MAIORANA
Coleção de insetos raros abrigada no Pará retorna para o Museu Nacional, no Rio de Janeiro, após incêndio na instituição carioca.
Conselho editorial RONALDO MAIORANA ROSÂNGELA MAIORANA KZAM LÁZARO MORAES
Presidente Executivo RONALDO MAIORANA Vice-Presidente ROSÂNGELA MAIORANA KZAM
pra casa
Diretora Comercial ROSEMARY MAIORANA
CAPA VANESSA VAN ROOIJEN
FERNANDO SETTE/ @EXPEDICAOPARA
IVAN DUARTE
Núcleo de Projetos Especiais FELIPE JORGE DE MELO Jornalista responsável e editor-chefe (SRTE-PA 1769) Colaboraram para esta edição O Liberal, Agência Brasil, Museu Paraense Emílio Goeldi, Universidade Federal do Pará, Universidade do Estado do Pará, Instituto Internacional de Educação do Brasil (acervo); Fernando Sette (diagramação); Abílio Dantas, Fernanda Martins, Jamille Reis, João Carlos Pereira, Vanessa Van
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NATUREZA
PRESERVAÇÃO
O veterinário Antonio
Instituições de várias
Messias da Costa divide
frentes ambientais
sua vida entre o trabalho
cobram política es-
no Parque Zoobotânico
tadual para o manejo
do Museu Goeldi e o amor
sustentável das florestas
pelos animais .
comunitárias no Pará.
QUEM É?
SUSTENTABILIDADE
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ARTE
A banda Oscaravelho se dedica à música autoral e conquista o público com canções românticas e que abordam temas sociais da atualidade. CULTURA
E MAIS
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ENTREVISTA TRÊS QUESTÕES EU DISSE MEMÓRIAS BIOGRÁFICAS OLHARES NATIVOS NOVOS CAMINHOS
Rooijen (reportagem); Ivan Duarte, Fernando Sette, Nailana Thiely, Vanessa Van Rooijen (fotos); Jamille Reis (produção), Thiago Almeida Barros (artigos) J.Bosco (ilustrações). FOTO DA CAPA Coleção de insetos do Museu Nacional do Rio de Janeiro, por Nailana Thiely. AMAZÔNIA VIVA é editada por Delta Publicidade. CNPJ (MF) 04.929.683/0001-17. Inscrição estadual: Isenta Inscrição municipal: 032.632-5 Avenida Romulo Maiorana, 2473, Marco Belém - Pará projetosespeciaisoliberal@gmail.com REALIZAÇÃO
ENTREVISTA
Sob nova
direção EMPOSSADA RECENTEMENTE, A DIRETORA DO MUSEU PARAENSE EMÍLIO GOELDI, ANA LUISA ALBERNAZ, FALA DE SUAS PERSPECTIVAS, PLANO DE GESTÃO E PRINCIPAIS ENTRAVES DA INSTITUIÇÃO, QUE COMPLETOU 152 ANOS NESTE MÊS. TEXTO JAMILLE REIS FOTOS IVAN DUARTE
O
Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações deu posse neste semestre à bióloga Ana Luisa Albernaz como diretora do Museu Paraense Emílio Goeldi no quadriênio 2018-2022. Paulista de nascimento e paraense de coração, a bióloga é pesquisadora da instituição há 16 anos. Ana Luisa é a 30ª gestora e a quarta mulher a assumir o cargo em 152 anos de história do MPEG. Na entrevista a seguir, ela revela os planos para a mais antiga instituição científica da Amazônia e também as principais dificuldades do museu.
Em um cenário onde cada vez mais as mulheres mostram sua força e atuação, você é a quarta mulher e a 30ª gestora a dirigir o Museu Emílio Goeldi. Como você encara isso? É muito bom que as mulheres passem a ocupar mais espaços nas áreas científicas. No Brasil ainda são poucas as mulheres em cargos de gestão da ciência. No Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações, por exemplo, entre as 18 instituições de pesquisa, somos só três mulheres na gestão. Assim, é uma honra poder estar neste grupo, ainda restrito,
mas que tende a aumentar e atingir maior equilíbrio com o tempo. O Museu Goeldi sempre esteve à frente neste aspecto, e teve a primeira mulher gestora de ciência na América do Sul, a pesquisadora Emilia Snethlage, em 1914. No último processo de seleção para a direção do Goeldi, a disputa foi bem equilibrada, com três mulheres e três homens inscritos. Mas, de forma geral, as mulheres ainda pleiteiam menos os cargos de gestão e ocupam apenas uma pequena fração deles. Como a maioria dos servidores do Museu Goeldi, sou uma apaixonada pela instituição, então sempre OUTUBRO DE 2018
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ENTREVISTA
me coloco à disposição para fazer o que for possível para contribuir para o seu desenvolvimento. Qual o peso científico do Museu, que completou 152 anos esse mês, para a Amazônia e para o Brasil hoje? O Museu Emílio Goeldi é referência nas ciências humanas e naturais e na educação em ciência sobre a Amazônia, onde atuamos fortemente. É a instituição mais antiga da região e seus conhecimentos e estratégias de comunicação foram sendo construídos e aprimorados ao longo de sua trajetória. Além disso, o Museu possui o maior conjunto de coleções científicas sobre a região, com cerca de 4,5 milhões de itens tombados. Quais suas perspectivas à frente da gestão do Museu no quadriênio 2018-2022? O Museu é uma instituição com ampla atuação, apesar de ter um quadro funcional relativamente pequeno. E esse vasto conjunto de atividades inclui tanto a manutenção do Parque Zoobotânico, que requer o manejo da fauna e flora silvestres, o atendimento aos visitantes e o desenvolvimento de projetos educacionais, como as pesquisas em biodiversidade e ciências humanas, principalmente, onde o Museu é referência. Pretendo trabalhar para modernizar algumas áreas de atuação do Goeldi, porque as mudanças que ocorrem no mundo precisam ser acompanhadas pela instituição. Incentivar, por exemplo, estudos sobre mudanças climáticas. Da mesma forma, precisamos intensificar os estudos em biotecnologia e bioprospecção, pois, este tema é ao mesmo tempo uma necessidade e uma oportunidade em um bioma tão rico como a Amazônia. São áreas que tendem a se tornar ainda mais relevantes no futuro. No que diz respeito à comunicação da 4 • REVISTA AMAZÔNIA VIVA •
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ciência para a sociedade, no ano que vem, provavelmente, inauguramos o novo Centro de Exposições. Pretendemos estruturar exposições com mais recursos multimídia e, assim, modernizar também nossa comunicação com o público visitante. Em 2019, lançaremos um aplicativo para o visitante do Parque, desenvolvido pela Universidade Federal do Pará com o apoio da equipe do Museu. Em síntese, espero contribuir para estimular a inovação em algumas áreas de atuação institucional. Quais são os principais entraves para o
funcionamento da instituição? As duas maiores dificuldades são os recursos humanos e o orçamento. O quadro de servidores está cada vez menor e não se faz uma instituição sem pessoal qualificado e dedicado. Quanto ao orçamento, além de insuficiente para atender todas as necessidades, é pouco previsível. É difícil ter certeza do montante que estará disponível no ano seguinte ou daqui a dois, três anos. Para 2019, nos foi indicado que teremos um orçamento similar ao deste ano, em torno de R$ 15,4 milhões. E, mesmo que seja mantido este valor, há a necessidade de priorizar
Qual a importância dos programas de produção científica e de que forma serão conduzidos na sua gestão? É permanente a preocupação com o aumento de produção científica. Mantemos, sozinhos ou em parcerias, seis programas de Pós-Graduação. E estamos propondo uma nova pós-graduação em “Diversidade Sociocultural”. Também temos Programas de Capacitação Institucional e Iniciação Científica, ambos apoiados pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Outro objetivo da minha gestão é o de fortalecer as pesquisas de campo, em especial na Floresta Nacional de Caxiuanã, onde o Museu Goeldi tem uma Estação Científica para estudos de longo prazo sobre o funcionamento das florestas tropicais e as respostas às mudanças no ambiente.
RECONHECIMENTO
Para a diretora do Museu Goeldi, Ana Luisa Albernaz, a instituição é referência nacional nas ciências humanas e naturais e na educação em ciência sobre a Amazônia
os gastos e algumas necessidades ainda ficarão desatendidas. Existem também outros entraves, parte deles burocráticos, que tornam o trabalho institucional mais difícil. A manutenção das edificações históricas, por exemplo, requer uma série de cuidados. Qualquer intervenção no Parque Zoobotânico, que é tombado, requer negociação com vários órgãos. Também tem a regulamentação da Lei da Biodiversidade, que exige um enorme esforço institucional ao requerer o cadastramento da pesquisa em um sistema de registros extenso e pouco funcional, e cuja falta ou atraso acarreta em risco de multas.
O incêndio que destruiu o Museu Nacional acendeu o alerta para a preservação e conservação dos museus no Brasil. De que forma o Goeldi se prepara para a preservação de seu patrimônio? O incêndio no Museu Nacional foi um triste episódio para a Ciência e o Brasil. Após essa tragédia, o Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações nos solicitou um relatório detalhado sobre as condições de segurança do Museu Goeldi, incluindo tanto as coleções como as edificações históricas. Internamente, solicitei também a inclusão de um levantamento sobre a situação dos laboratórios, que necessitam de medidas de segurança específicas, e ainda sobre a segurança dos dados digitais. Hoje em dia grande parte dos acervos já está catalogada em bancos de dados digitais, e há a preocupação em proteger esses bancos de dados contra invasões de hackers e perda de armazenamento. Aproveitaremos esses levantamentos para preparar propostas direcionadas a obter financiamentos externos. Precisamos ampliar a capta-
“É muito bom que as mulheres passem a ocupar mais espaços nas áreas científicas. No Brasil ainda são poucas as mulheres em cargos de gestão da ciência. No Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações, por exemplo, entre as 18 instituições de pesquisa, somos só três mulheres na gestão.” ção de recursos para melhorar o sistema de segurança, restaurar edificações e investir na organização e ampliação de bancos de dados. Uma das áreas estratégicas do seu plano de gestão é a inovação. De que forma ela será explorada pela instituição? Precisamos trazer a inovação tanto para as pesquisas quanto para a comunicação da ciência. Além de recursos para as exposições, também queremos desenvolver novas ferramentas de comunicação. O aplicativo que mencionei acima, permitirá ao visitante ter acesso no seu próprio dispositivo móvel a informações históricas, sobre as espécies e os ambientes do Zoobotânico, etc. Já no que diz respeito às coleções científicas, invesOUTUBRO DE 2018
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EXPERIÊNCIA
Ana Luisa afirma que o o aumento da produção científica na Amazônia é uma preocupação permanente do Museu Paraense Emílio Goeldi
“Precisamos trazer a inovação tanto para as pesquisas quanto para a comunicação da ciência. Além de recursos para as exposições, também queremos desenvolver novas ferramentas de comunicação.” tiremos na digitalização e virtualização, prevendo, por exemplo, a disponibilização de algumas peças dos acervos em imagens 3D. Queremos dispor de novos serviços também para os usuários da Estação Científica em Caxiuanã. Aprimorar a infraestrutura de visitação pública também está no foco da atual gestão. Quais ações estão previstas? Além do novo Centro de Exposições, já há recurso aprovado para fazer uma nova sinalização para o Parque Zoobotânico, o que deverá começar em breve, com recursos via Celpa. Vamos cumprir todos os requerimentos necessários para manter a licença de operação, e para isso ainda precisamos de recursos para melhorar o sistema de saneamento. E, como o Parque é uma área tombada, qualquer intervenção precisa ser feita com cuidado. Estamos analisando tecnicamente como poderemos fazer isso com o menor impacto possível.
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TRÊSQUESTÕES RESPOSTAS QUE VÃO DIRETO AO PONTO
DOUTORADO INÉDITO EM COMUNICAÇÃO NA REGIÃO NORTE TEXTO ABÍLIO DANTAS
O PPGCom, da UFPA, aprovou seu curso de doutorado. Qual é a importância do feito para a Região Norte? É de uma importância extraordinária, não só porque teremos o primeiro curso de doutorado em Comunicação em uma universidade pública na Amazônia, mas principalmente porque fortaleceremos as pesquisas sobre comunicação em nossa região. Hoje, o PPGCom tem um papel nucleador na Amazônia brasileira e a aprovação do doutorado reflete essa atuação. Representa o re-
conhecimento do nosso comprometimento com a pesquisa. Quais os principais objetivos da pesquisa em comunicação na Amazônia, atualmente? No PPGCom, a Amazônia é um diferencial nos estudos sobre fenômenos comunicacionais. Buscamos compreender os processos da comunicação em suas confluências com as experiências culturais e com o próprio contexto da região. Atuamos em duas linhas de pesquisa que enfocam as intersecções entre Comunicação e Amazônia: a linha “Comunicação, Cultura e Sociabilidades na Amazônia” e “Processos Comunicacionais e Midiatização na Amazônia”.
De que maneira os estudos acadêmicos podem influenciar na realidade da população fora das universidades? A partir de uma reflexão mais crítica sobre nossa realidade, os estudos acadêmicos contribuem, significativamente, para conceber o nosso olhar sobre a sociedade. É por isso que o estudo é tão importante; é essencial, inclusive, para construir a memória da própria sociedade. Afinal, só quem não viveu ou não estudou a História deste país poderia, por exemplo, defender a volta de uma ditadura.
DIVULGAÇÃO
O Estado do Pará terá o primeiro curso de doutorado em Comunicação Social da Região Norte do Brasil. A conquista ocorreu no dia 5 de outubro, com a aprovação do projeto do Programa de Pós-Graduação de Comunicação, Cultura e Amazônia (PPGCom) da Universidade Federal do Pará (UFPA) pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes). O PPGCom, que já possui um curso de mestrado, fará o processo de seleção de sete vagas nos meses de janeiro e fevereiro de 2019. A coordenadora do Programa, a professora e pesquisadora Elaide Martins, classifica o resultado como o resultado de um trabalho coletivo de estudantes, professores e técnicos. Em entrevista à Amazônia Viva, a doutora em Comunicação detalhou o significado da conquista para a região amazônica.
COMUNICAR É PRECISO
A professora Elaide Martins coordena o Programa de Pós-Graduação de Comunicação, Cultura e Amazônia (PPGCom) da Universidade Federal do Pará (UFPA)
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EU DISSE MARCELO CAMARGO / AGÊNCIA BRASIL
“Nós conseguimos recuperar o crânio de Luzia” Cláudia Rodrigues, arqueóloga que coordena a escavação dos escombros do Museu Nacional, que pegou fogo no dia 2 de setembro. Luzia, o fóssil humano mais antigo das Américas, com cerca de 11 mil anos.
“Não existem raças humanas do ponto de vista genético”
“Sou resultado do movimento de luta”
Joênia Wapichana, primeira indígena eleita deputada federal no País. A candidata de Roraima recebeu 8.491 votos para a Câmara dos Deputados. Há 31 anos, desde que o cacique xavante Mário Juruna deixou o Congresso Nacional, em 1987, um índio não era eleito deputado federal.
“Alimentar uma população mundial de 10 bilhões de pessoas é possível, mas apenas se mudarmos a maneira como comemos e a maneira como produzimos alimentos”. Johan Rockström, do Instituto Potsdam para Pesquisa sobre o Impacto Climático na Alemanha. O pesquisador lidera um estudo sobre o impacto do consumo de carne sobre a agricultura e a relação direta entre a pecuária e as mudanças climáticas.
“Vamos ter que arcar com a adaptação pelo resto do século”. Marcos Buckeridge, pesquisador associado da Universidade de São Paulo e coordenador do programa Cidades Globais, ao comentar o relatório sobre o clima divulgado pelo Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas acerca das consequências de um aumento na temperatura na Terra.
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Sergio Pena, médico geneticista, professor titular do Departamento de Bioquímica e Imunologia da Universidade Federal de Minas Gerais, ao criticar grupos supremacistas brancos que distorcem estudos científicos na tentativa de justificar o racismo e a xenofobia.
“Somos índios, resistimos há 500 anos. Fico preocupado é se os brancos vão resistir” Ailton Krenak, líder indígena brasileiro, durante no Fórum Internacional de Festivais de Cinema de Ambiente, em Portugal, ao comentar o rumo político do Brasil e as consequências na preservação da floresta amazônica.
Epitáfio “O que sabemos é uma gota, o que ignoramos é um oceano.” Isaac Newton, cientista e filósofo inglês (1623-1727)
Nazareno Tourinho (1934-2018)
MEMÓRIAS BIOGRÁFICAS
S
e havia alguma coisa de que Nazareno Tourinho não gosta era de elogio gratuito. Sempre que alguém destacava seus méritos na literatura, balançava as mãos enormes, como se, pelo gesto, dissesse: para com isso. Também baixava os olhos e retomava a conversa, buscando apontar, na própria obra, elementos que a justificassem. Se recusava elogios, amava a justiça e sabia que o teatro que produziu, em mais de seis décadas, tinha valor. Quando era reconhecido, nesse aspecto, ficava feliz. Ao morrer, no final da tarde de 19 de outubro de 2018, vitimado por um infarto violento, trazia no rosto uma expressão de serena felicidade, própria de quem, de algum lugar, sabia que suas lutas e sua obra estavam sendo largamente reconhecidas. Nazareno Tourinho era, essencialmente, bom. Muito bom. Cristão de verdade, parecia andar sobre as pegadas de Jesus e fazia esse caminho de modo silencioso. Como se tivesse ouvido do próprio Cristo as lições de amor ao próximo, se aproximou da doutrina Espírita e criou casas onde a teoria se unia à prática, para levar amor ao próximo, sobretudo ao próximo mais necessitado. Nos seus centros espíritas, o Evangelho ganhava vida. Contestador por natureza, estava constantemente disposto a levantar questões
em nome das causas em que acreditava. Não suportava comportamentos burgueses, mas praticava o respeito a todos. Inflamado pelas convicções, chegou a propor, na juventude, a demolição do Theatro da Paz para que, naquele lugar, fosse construído um prédio mais simples, onde os pobres pudessem entrar sem constrangimento. Pessoa de muita leitura, não fazia concessões à mediocridade e sabia identificar o que era bom. Se na vida real reconhecia espaço para todos, no mundo da literatura, porém, era seletivo. Por isso, em momentos de eleição para a Academia Paraense de Letras, seu voto era um dos mais difíceis. Se algum candidato à imortalidade conseguia a aprovação do teatrólogo, podia se considerar um autor de méritos, porque ele não votava por amizade ou para atender ao pedido de um amigo. Era um voto-troféu. Valia por uma consagração. Escritor premiado no Brasil e no exterior, deixou muitos livros, entre eles “Nó de 4 Pernas”, “Amor de Louco Nunca é Pouco”, “Pai Antônio” e “Fogo Cruel em Lua de Mel”. A Universidade Federal do Pará publicou um volume de 500 páginas com suas peças e, recentemente, a obra completa foi reunida num volume de capa dura. Nazareno também escreveu muitos livros sobre o espiritismo.
FÁBIO COSTA/ ARQUIVO O LIBERAL
Um homem essencialmente barroco
O visionário que sonhava com um mundo melhor media quase um metro e noventa, era magro, andava curvado sob o peso da idade e da doença que conseguiu controlar e não o derrotou. No dia 6 de dezembro completaria 84 anos. Tinhas as feições longilíneas e conversava pausadamente. Nos últimos anos, foi perdendo a audição e, nem por isso, evitava falar com os amigos por telefone. O dia em que submetia-se à sessão de quimioterapia era como outro qualquer. Uma vez, fui entrevistá-lo sem saber que passara a tarde no hospital. No final da entrevista, me disse: “acreditas que fiz químio? Eu não sinto nada, João. Todo mundo reclama, mas eu não”. Pouca gente tão cristã, como Nazareno Tourinho, já encontrei nesta vida. Era o materialista mais espiritualizado deste mundo. Foi um barroco, na melhor definição da palavra: tinha os pés na terra e olhos voltados para Deus. Depois de tanta guerra, pode, enfim, repousar. Pelo bem que praticou, duvido que não tenha sido recebido com festas, eu diria no céu; ele, no plano espiritual, onde, com certeza, vai continuar gerando polêmicas.
*João Carlos Pereira é jornalista e professor.
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OLHARESNATIVOS
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O incrível poder da fotografia
Nesta edição, o fotógrafo Fernando Sette nos presenteia com imagens que beiram o surrealismo ao mesclar pontos turísticos de Belém com personagens conhecidos dos fãs de histórias em quadrinhos e de cinema. O ensaio fotográfico fez parte da exposição BR Toys Collections e encantou o público de todas as idades com action figures (bonecos hiper-realistas) em situações do cotidiano paraense, como a do Incrível Hulk na Feira do Açaí. Nas páginas a seguir, confira uma parte do espetacular trabalho fotográfico com um toque amazônico. FOTO: FERNANDO SETTE
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Piratas na Amazônia
OLHARES NATIVOS
Interpretado pelo ator Johnny Deep, o capitão Jack Sparrow, da série de filmes Piratas do Caribe, posa malandramente sobre um canhão do Forte do Castelo. No passado, o lugar serviu para proteger a capital paraense da invasão de mercenários na região amazônica. FOTO: FERNANDO SETTE
Um maluco no pedaço Originário das histórias em
quadrinhos na década de 80, O Máskara ganhou popularidade mundial graças à impagável interpretação do ator Jim Carrey no cinema. Neste ensaio fotográfico, o personagem passeia pela praça da República. Demais!!! FOTO: FERNANDO SETTE 12 • REVISTA AMAZÔNIA VIVA •
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Tempos estranhos
Criado por Stan Lee e Steve Ditko, o Dr. Estranho é um dos mais icônicos personagens da Marvel. Nos quadrinhos, ele é considerado o Mago Supremo, o principal protetor da Terra contra ameaças mágicas e místicas. Poderes que precisamos para proteger o Estado de todo o mal. FOTO: FERNANDO SETTE
Quem precisa de peconha? Um dos super-heróis mais famosos no planeta, o Homem-Aranha não precisou de muito esforço para subir no açaizeiro. FOTO: FERNANDO SETTE
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Tacacá em vez de pizza
OLHARES NATIVOS
Dos esgotos de Manhattan, em Nova York, as Tartarugas Ninja Michaelangelo, Donatello, Leonardo e Rafael vieram parar na Estação das Docas para experimentar um típico prato da culinária paraense. FOTO: FERNANDO SETTE
Santa paisagem, Batman! O vigilante noturno de Gotham
City, Batman, abriu uma exceção para circular à luz do dia por Belém do Pará e conhecer alguns pontos turísticos, como o mercado do Ver-o-Peso. FOTO: FERNANDO SETTE 14 • REVISTA AMAZÔNIA VIVA •
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Halloween papa-chibé
Jason Voorhees (Sexta-Feira 13), Conde Drácula, Predador, Thanos (Marvel Comics), Negan (The Walking Dead) e Freddy Krueger (A Hora do Pesadelo) tocam o terror no Bar do Parque FOTO: FERNANDO SETTE
Envie as suas fotos para a seção Olhares Nativos
Para participar da seção “Olhares Nativos” da revista Amazônia Viva basta enviar fotos com temática amazônica para o e-mail amazoniaviva@orm.com.br acompanhadas pelo nome completo do autor, número de identidade e uma breve informação sobre o contexto do registro fotográfico. As imagens devem ser autorais e com resolução de no mínimo 300 dpi. A publicação das fotos tem fins meramente de divulgação de trabalhos profissionais ou amadores, não implicando em qualquer tipo de remuneração aos autores. Participe!
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CAPA
Enquanto houver
esperança
COLEÇÃO DE INSETOS RAROS SOBREVIVE AO INCÊNDIO QUE DESTRUIU O MUSEU NACIONAL, NO RIO DE JANEIRO, GRAÇAS À PARCERIA ENTRE OS PESQUISADORES CARIOCAS E A UNIVERSIDADE DO ESTADO DO PARÁ TEXTO FERNANDA MARTINS FOTOS NAILANA THIELY
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A
segunda-feira, 3 de setembro, teve um gosto extra amargo para todos que compreendem o valor da cultura, história e da ciência para o futuro da humanidade. Ainda na noite de domingo, o brasileiro foi pego de surpresa quando imagens do Museu Nacional em chamas, no Rio de Janeiro, invadiram todos os canais de TV, portais de internet e redes sociais. Cerca de 20 milhões de peças da história do mundo se transformaram em cinzas diante dos olhares desesperados de servidores e pesquisadores do local. Enquanto isso, na sala da Coleção Zoológica da Universidade do Estado do Pará (Uepa), um pedacinho daquele legado sobrevivia na Amazônia, graças a imprevistos e à relevância científica do material. Nas próximas semanas, os 314 espécimes de insetos raros que compõem a coleção entomológica do Museu Nacional voltarão para casa, juntamente com algumas doações feitas pela Instituição, representando a difícil e árdua missão de reconstruir. Apesar do alento que a preservação da pequena coleção representa para quem trabalha no ramo, o incêndio no museu carioca foi um baque difícil de ser superado. Entre as peças perdidas no incêndio haviam itens amazônicos muito raros. “O Museu Nacional abrigava muito do que foi acumulado nestes 200 anos de pesquisas. Não tem como mensurar isso. A perda é, de fato, incalculável. São itens únicos que jamais
poderão ser repostos”, afirma a professora, bióloga e doutora em Entomologia, Ana Lúcia Gutjahr, curadora da Coleção Zoológica da Uepa. Os insetos vieram para Belém através de um empréstimo, motivado por algumas pesquisas de mestrandos e doutorandos orientados por Ana Lúcia, em 2015, mas acabaram ficando um tempo maior, pois a procura de pesquisadores pelos valiosos itens foi grande. Quis o destino que o material não retornasse ao seu local de origem antes do incidente, por conta de um imprevisto com a curadoria do Museu Nacional. “Eu já tinha comprado as passagens para o Rio de Janeiro e estava pronta pra entregar o material em mãos, mas, por
BEM GUARDADO
A doutora em Entomologia, Ana Lúcia Gutjahr, é curadora da Coleção Zoológica da Uepa está responsável pelos exemplares raros emprestados pelo Museu Nacional
impedimentos da curadora, acabei não indo e vejo hoje que isso foi uma sorte”, conta Ana Lúcia Gutjahr. Os gafanhotos-pigmeu e as esperanças são insetos miméticos, sua coloração amarronzada ou esverdeada é característica dos habitats terrestres, em meio as folhas secas. Os exemplares do pequeno acervo foram coletados em diversas regiões do Brasil e até mesmo de países da América Latina, como a Colômbia, caso do exemplar mais antigo que data o início do século XX, compondo assim, uma importância social, cultural e sobretudo, histórica, como a próOUTUBRO DE 2018
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CAPA
pria pesquisadora afirma: “Este material agora faz parte de algo que não existe mais. A importância então é histórica, foi o único material salvo deste grupo”, observa a curadora. Considerando a importância de ter tais itens sob seus cuidados, Ana Lúcia enviou sua solidariedade à curadoria do Museu via e-mail, disponibilizando também, a doação de peças com o intuito de reconstruir ao menos o mínimo do que foi perdido no desastre. “Agora eu sou a responsável pela coleção, pelo menos até o museu se reestabilizar. É uma tarefa muito nobre”, diz. A curadoria do Museu Nacional virá a Belém entre os dias 10 e 15 de novembro, para escoltar a Coleção e as doações de volta para o Rio de Janeiro, onde estão avançados os trabalhos de recuperação de tudo que não foi completamente consumido pelo fogo. Esperança - coincidentemente o nome de algumas das espécimes sobreviventes, da família Tettigoniidae -, é o que move todos os pesquisadores cujo trabalho gira em torno do material coletado pelo Museu Nacional nos últimos 200 anos. “Tenho esperanças de que parte maior da coleção ainda possa estar salva, os cofres e armários eram compactados, de um material especial. Quem sabe?”, questiona.
PERDAS AMAZÔNICAS
Apesar de toda a esperança, a história do Museu Paraense Emílio Goeldi seguiu na direção contrária. Criado em 1866, o segundo museu de ciências mais antigo no Brasil tem caminhos cruzados com 18 • REVISTA AMAZÔNIA VIVA •
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o Museu Nacional. As trocas de pesquisadores, acervos, documentos e técnicas progrediram no decorrer das décadas. A destruição de grande parte dos acervos do Museu Nacional levou junto alguns testemunhos da história institucional do Museu Goeldi, como mais de 100 peças arqueológicas coletadas por Domingos Soares Ferreira Penna no século XIX. “Cada museu tem sob a sua salvaguarda objetos e valores fundamentais da sociedade a que servem. O seu desaparecimento apaga o esforço de gerações, some com testemunhos únicos, afeta a capacidade de construir e consolidar o conhecimento e de narrar histórias locais, regionais, nacionais ou mundiais. Não podemos aceitar essas perdas como algo natural. A política de corte de investimentos no setor público nos deixou a todos com os olhos e a boca cheios de cinzas”, clamava a nota emitida pela ins-
ACERVO ESPECIAL
Os 314 espécimes de insetos raros que compõem a coleção entomológica do Museu Nacional voltarão para o Rio de Janeiro nas próximas semanas
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HALLEY PACHECO DE OLIVEIRA / WIKI COMMONS
CAPA
UANDERSON FERNANDES / AGENCIA O GLOBO / ARQUIVO O LIBERAL
TRAGÉDIA NA HISTÓRIA
O Museu Nacional em três momentos: antes do incêndio, durante e após o acidente. Instituição era uma das mais antigas do País e foi fundada por Dom João VI, em 1818.
tituição depois de comprovada a perda da coleção cedida. A comunidade do Museu Goeldi fez questão de expressar sua solidariedade com a comunidade do Museu Nacional e reforçou publicamente o compromisso de continuar lutando pela conservação do patrimônio cultural e ambiental nacional e pelo avanço do conhecimento.
MAIS ESPERANÇA
Este mês, a equipe do Museu Nacional divulgou uma notícia que trouxe alento para a comunidade científica brasileira. Luzia vive! O fóssil humano mais antigo encontrado nas Américas, o crânio e outras partes do esqueleto de uma mulher, batizada de Luzia, foram descobertos em Minas Gerais e teriam cerca de 11.300 anos. Desde o incêndio, a perda de Luzia era uma das mais lamentadas pelo mundo afora. 20 • REVISTA AMAZÔNIA VIVA •
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THIAGO RIBEIRO / AGIF AE/ ARQUIVO O LIBERAL
LEO RODRIGUES / AGENCIA BRASIL
LUZIA VIVE!
A equipe do Museu Nacional comemorou o achado, nos escombros da instituição, de fragmentos do crânio e outras partes do esqueleto do fóssil humano mais antigo encontrado nas Américas. Batizada de Luzia, a espécime teria cerca de 11.300 anos.
Tanto a parte frontal quanto a lateral do crânio de Luzia foram encontradas, assim como um fragmento do fêmur do fóssil. Segundo especialistas, mais da metade das partes localizadas já foi identificada e o próximo passo é iniciar a montagem dos fragmentos. “O crânio foi encontrado fragmentado. Já achamos praticamente todo ele e 80% dos fragmentos já foram identificados e podemos aumentar esse número”, informou Alexander Kellner, diretor do Museu Nacional, durante o anúncio do achado. O crânio estava novamente em pedaços, como quando foi encontrado, pois o calor do fogo derreteu a cola especial que os mantinha unidos. Descoberto na década de 1970, o fóssil de Luzia tem im-
portância histórica mundial e foi responsável por mudar a teoria da povoação do continente americano. Além disso, toda a seção de meteoritos, incluindo o Bendegó, meteorito de 5 toneladas que é o maior já encontrado no Brasil, descoberto em 1888. Único item intacto após o incêndio, ele representou a esperança de sobrevivência de outras peças. Parte da coleção de zoologia, a Biblioteca Central do museu, outros minerais e algumas cerâmicas também foram resgatados das cinzas. Por estar geograficamente distante, o Herbário também sobreviveu, bem como o Departamento de Zoologia de Vertebrados. O trabalho de resgate segue no local e, devido às condições de armazenamento, os pesquisadores acreditam que outros itens possam ser recuperados. Criado por D. João VI em 1818, o Museu Nacional completou 200 anos em junho
deste ano. Seu acervo continha coleções de geologia, paleontologia, botânica, zoologia, antropologia biológica, arqueologia e etnologia, somando mais de 20 milhões de itens que contavam a história não apenas do Brasil, mas de outros países, como por exemplo a maior coleção de peças raras egípcias e múmias, adquiridas por Dom Pedro I e Dom Pedro II, compondo a maior coleção egípcia da América Latina. Naquele prédio ocorreu ainda um dos episódios mais marcantes da história brasileira: a assinatura da Declaração de Independência do País, assinada pela princesa Leopoldina, esposa de Dom Pedro I, em 1822. Sempre testemunhando as transformações do Brasil, o Museu recebeu a primeira Assembleia Constituinte da República, entre novembro de 1890 e fevereiro de 1891, marcando mais um capítulo da formação do Brasil que conhecemos hoje. OUTUBRO DE 2018
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QUEM É
grande Amor por todos os animais
O veterinário do Parque Zoobotânico do Museu Emílio Goeldi Antonio Messias da Costa é exemplo de dedicação TEXTO JAMILLE REIS FOTO IVAN DUARTE
O responsável técnico pela fauna do Parque Zoobotânico do Museu Emílio Goeldi, Antonio Messias da Costa, não imaginava que dedicaria sua vida aos animais. Convicto de que nasceu para ser psicólogo, ele dividiu as faculdades de Psicologia e Medicina Veterinária, na Universidade Federal de Minas Gerais, 22 • REVISTA AMAZÔNIA VIVA •
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até o amor pela natureza e os animais falar mais alto. Mestre em Ciência Animal pela Universidade Federal do Pará e Universidade Federal da Hungria, e com diversas especializações em clínica, saúde e manejo de animais silvestres, Antonio se autointitula como um “apaixonado pela floresta”.
Mineiro, o veterinário trabalhou com animais exóticos em um museu de Belo Horizonte até vir parar em Belém, onde já atua há mais de 30 anos. “Cheguei aqui em 1987. Foi um momento de muita dúvida, pois fiz o concurso apenas como teste, mas a Amazônia me seduziu”, relembra Messias. Na infância, o veterinário foi obrigado pelo pai a devolver o primeiro cão que ganhou. Mesmo contrariado, seu amor pelos animais só aumentou, seja no lado profissional, ao cuidar de diversos espécies silvestres, como gorilas e elefantes, ou na vida pessoal. Antonio já teve quatro poodles e hoje a cadela sem raça definida, Paula, desfruta de todo seu carinho. “Ela foi achada na rua e hoje obedece a 14 comandos. Os animais, muitas vezes, são nossos companheiros de vida”, destaca o profissional. Já no Parque Zoobotânico, as ariranhas criadas desde pequenas por ele, Pupunha e Castanha, e a garça Clock, estão entre os animais de maior afinidade do veterinário. Messias também divide a paixão pela
profissão com o amor pela fotografia, quase sempre voltada para os animais e a natureza. “Comecei a fotografar em 2010, de lá pra cá já foram milhares de fotografias. Observar o comportamento das garças e fotografar vitórias-régias são algumas das minhas paixões”, comenta. Entre as contribuições do veterinário ao longo de três décadas no Museu Emílio Goeldi estão uma série de modificações operacionais, entre elas a separação do setor de nutrição com o de manejo da fauna externa do parque, que levou a diminuição significativa da mortalidade dos animais. Ele também criou a disciplina de manejo de animais selvagens na Universidade Federal Rural da Amazônia (Ufra), onde lecionou por cinco anos. “A disciplina ainda existe, trazendo benefício profissional e para formar competências para a própria região amazônica, o que, sem dúvidas, é muito importante”, pontua. A vida profissional permitiu ainda que Messias viajasse diversas vezes pela Floresta Amazônica, a estudo e para prestar consultorias. Hoje, ele orienta duas bolsistas, uma na área de biologia e outra de veterinária. “Agradeço imensamente a oportunidade do aprendizado ao longo desses anos na Amazônia, tanto cultural, com toda riqueza da região, com cheiros, sabores, cores, povo alegre, características essas que fazem parte do contexto do
ZELO PATERNO
Antonio Messias cuida da coruja Muru (à direita, na página anterior), do jacaré Alcino, da garça Clock e das ariranhas Pupunha e Castanha com verdadeiro amor: “Os animais nos ensinam. A relação homem-animal é uma troca de energia”
museu, quanto científico, de modo que me sinto envolvido, motivado e comprometido em corresponder a tudo isso”, afirma. Um dos momentos marcantes vividos pelo veterinário foi ter operado duas vezes o jacaré-açu Alcino, que pesa mais de 500 quilos, e também na captura de uma onça em fuga dentro do parque, três anos após ele chegar a Belém. Parte do legado de Messias estará no
livro “Reflexos Amazônicos: Um Jeito Diferente de Ver, Sentir e Compreender a Natureza Animal”, escrito por ele, que está em fase final de produção. A obra reúne registros de 80 espécies amazônicas e fotos feitas pelo próprio autor. Além do livro, o veterinário possui diversos artigos e contribuições científicas publicadas em revistas e livros nacionais e internacionais. OUTUBRO DE 2018
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FERNANDO SETTE/ @EXPEDICAOPARA
SUSTENTABILIDADE
Ao Marajó, com carinho Instituições cobram política estadual para o manejo sustentável das florestas comunitárias no Pará
N
o dia 3 de outubro, foi enviado para os candidatos ao governo do Pará uma carta que cobra efetividade na criação da Política Estadual de Manejo Florestal Comunitário e Familiar (PEMFCF). O processo de discussão do tema ocorre desde 2012 com a participação de mais de mil pessoas em diferentes territórios paraenses. Os números confirmam a importância do mercado de produtos florestais na região. O Pará, com 1,3 milhão de quilômetros quadrados (cerca de 25% da Amazônia Legal), é o principal produtor de madeira em tora da Amazônia: responde por 47% do volume consumido anualmente no país, segundo números do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon). 24 • REVISTA AMAZÔNIA VIVA •
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Dados da Confederação Nacional da Indústria indicam que em 2010 o Estado produziu em torno de 6,6 milhões de metros cúbicos de madeira em tora e 2,6 milhões de metros cúbicos de madeira processada, gerando uma renda estimada em R$ 1,1 bilhão e aproximadamente 92 mil empregos. Para as Nações Unidas - no seu plano estratégico direcionado às Florestas, 2017-2030 – é importante que todos os tipos de árvores sejam manejadas de forma sustentável para promover benefícios sociais, econômicos, ambientais e culturais para as futuras gerações. “Ao longo dos anos as florestas sustentam as populações tradicionais da Amazônia. Por sua diversidade de espécies de madeira e produtos da sociobiodiversidade, o Pará
tem tudo para dinamizar sua economia de base florestal”, afirma Milton Kanashiro, pesquisador da Embrapa Amazônia Oriental. “Encontrar um equilíbrio entre o uso e a conservação das florestas é o grande desafio”, ressalta o pesquisador. A carta aos candidatos foi elaborada pelo Observatório do Manejo Florestal Comunitário e Familiar do Estado do Pará, uma rede criada há dois anos, composta por 25 instituições, dentre organizações comunitárias, ONGs e Instituições de Ensino e Pesquisa. O grupo espera que as mudanças no executivo e legislativo não retardem ainda mais o trabalho de construção da PEMFCF. “O observatório busca inf luenciar políticas públicas para garantir um
IEB BRASIL / DIVULGAÇÃO
ambiente propício ao Manejo Florestal Comunitário e Familiar. Queremos seguir com esse diálogo junto aos gestores públicos, visando a efetividade da política estadual”, explica Katiuscia Miranda, coordenadora do Instituto Internacional de Educação do Brasil (IEB) e secretária executiva do Observatório. O documento possui 15 itens que refletem as principais demandas das organizações comunitárias que fazem o manejo de produtos florestais no Pará. Os membros do Observatório esperam que o próximo governo priorize o assunto de modo a construir uma agenda florestal ampla e ambientalmente sustentável para o Estado.
POLÍTICA NA COMUNIDADE
As discussões relacionadas à PEMFCF iniciaram em 2012, durante oficinas regionais promovidas pelo Grupo de Trabalho da Política Estadual do Manejo Florestal Comunitário e Familiar, coordenado pelo Instituto de Desenvolvimento Florestal do Pará (Ideflor-Bio) em parceria com o Instituto Internacional de Educação do Brasil (IEB). Em 2015 e 2016 a articulação para criar a política foi retomada com a realização de dois Seminários e duas oficinas de trabalho sobre o tema, realizadas em Portel e Santarém, promovidos pelo IEB. O objetivo desses eventos foi resgatar o protagonismo da sociedade civil na discussão da PEMFCF, revisitando e atualizando as informações levantadas em 2012 e 2013. Os debates resultaram na consolidação de uma Carta Compromisso contendo as diretrizes da política de MFCF e uma Agenda Mínima para o fortalecimento do MFCF no estado. Essa carta foi enviada para todos os órgãos governamentais responsáveis pela gestão florestal no Estado. Para os membros do Observatório a comercialização de madeira e de outros produtos florestais, a exemplo do açaí e da castanha do Pará, carece de um normativo único que impulsione a produção e a conservação ambiental. “Uma política para o setor deve refletir, principalmente, as necessidades daqueles (as) que estão mais próximos dos recursos flores-
tais”, ressalta Manuel Amaral Neto, coordenador executivo do IEB. Resultados econômicos são consequência, pois a prioridade é resguardar os povos que dependem das florestas. Esse é um dos principais parâmetros do normativo a ser criado. “Nesse sentido, a proposta da política enfatiza o respeito e o fortalecimento do saber tradicional das comunidades”, ressalta Manuel. Mesmo sob forte pressão da extração ilegal de madeira, as comunidades têm caminhado em direção a manutenção do equilíbrio ecológico e do bioma Amazônia. Na Reserva extrativista Verde para Sempre, no município de Porto de Moz (PA), as populações locais têm se dedicado a usufruir dos recursos florestais de maneira planejada. “Aproveitamos de forma equilibrada nossa floresta, a partir de planos de manejo para a exploração sustentável da madeira”,
explica Maria Creusa, presidente da Cooperativa Mista Agroextrativista Floresta Sempre Viva. A organização comunitária possui autorização dos órgãos ambientais federais para extração em uma área equivalente a 40 mil campos de futebol. São seis planos de manejo florestal sustentável, o equivalente a uma produção anual média de 13 a 20 mil metros cúbicos de madeira. Contudo esse cenário é muito restrito, ainda não atinge os grupos que estão em áreas de responsabilidade do Estado. “Outras comunidades no Pará ainda não avançaram por falta de apoio e de uma legislação que normatize o manejo de florestas comunitárias estaduais”, lamenta Maria Creusa. Para acompanhar a construção da Política Estadual de Manejo Florestal Comunitário e Familiar acesse: sites.google.com/ view/pmfcf/ OUTUBRO DE 2018
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CULTURA
Experiência e originalidade A banda Oscaravelho divulga sua música autoral como forma de criar laços afetivos entre as pessoas TEXTO E FOTOS VANESSA VAN ROOIJEN
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eve a vida do seu jeito, do jeito que der. Leve a vida, leve a vida, como der e vier [...]”. Esse é o refrão da música “Seguindo o caminho”, de composição da banda Oscaravelho. Composta por experientes músicos de Belém, a banda autoral de pop rock conquista o público 26 • REVISTA AMAZÔNIA VIVA •
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com músicas românticas e que abordam temas sociais. Assim como Oscaravelho, diversas bandas autorais da capital e do Estado do Pará ganham espaço entre o público paraense. Músicas originais, com toques e características diversas, englobam o universo da música e, como diz a letra da
canção “Seguindo o Caminho”, proporciona a quem ouve a vivência do que é natural e original durante o dia a dia. Augusto Mácola, vocalista d’Oscaravelho, afirma que o trabalho autoral vai além de apenas presenciar e produzir canções. “A música autoral é uma maneira de provocar e exercitar a mente. Compor é fascinante, cansativo e desafiador, mas nos coloca na posição de sermos avaliados e isso nos faz ser mais tolerantes e observadores”, afirma. Para ele, as mensagens transmitidas pelas músicas visam inspirar as pessoas para o amor e sobre questões sociais. A banda busca despertar nas pessoas o que há de melhor. “Oscaravelho vem para mostrar que nunca é tarde, por isso: ‘vai la e faça por você mesmo, se agradar os outros que bom, mas nunca deixe de fazer’. Todos temos um pouco de arte, musica, quadros, dança, poesia, faça chegar nas pessoas a sua arte, coloque-se a prova. Esta é a mensagem da banda”, reflete. As composições da banda têm referências do rock, MPB, blues e pop. Eliana Cutrim, coordenadora do Curso de Música da Universidade Estadual do Pará (Uepa) lembra que a música autoral possui como uma de suas características a mistura de gêneros. “Não podemos rotular: ‘essa música é melhor que a outra’. Acredito que quando a música é bem feita ela tem um valor importante para a cultura. Além disso, é importante que nossa música regional seja reconhecida”. A coordenadora acredita que o artista precisa ter o reconhecimento do seu público de nascimento. “Essa é a prova de que valeu a pena o que foi feito, podendo se projetar em outros lugares, até pelo mundo. Há bastante compositores que já são reconhecidos e é importante que essa produção continue cada vez mais forte para incentivar novas gerações”, opina. De acordo com a coordenadora, a música autoral reflete a cultura local para engrandecer as características e os artistas
da região. A professora explica que existe uma tradição na música brasileira desde o início do século XIX, que vem do sul e sudeste, por isso, a forte presença dessas referências na região Norte e outras. “Naquele período os chorões se reuniam nas casas das famílias com composições que até hoje fazem sucesso na música brasileira. A partir deles começou a luta por espaço e isso se refletia para outras regiões, por isso, a grande presença de músicas de fora do Pará”. Ela explica que desde a década de 1950 o Pará vem intensificando a produção da música autoral e isso vai ganhando espaço nacionalmente. “Nilson Chaves e Pedrinho Callado, por exemplo, são cantores e compositores que já possuem espaço fora do Estado. Acredito que a música paraense, hoje, começa a criar uma identidade dentro da nossa cultura. Se você faz muito bem determinado gênero, como rock ou carimbó, então pode fazer trabalhos muitos bons nos determinados segmentos. Os artistas têm elevado a música paraense. Todos tem lutado pelo reconhecimento da obra e produção musical”. A professora afirma também que hoje há uma aceitação maior do público paraense pelo o que é feito. “Podemos dizer que nossa música está sendo aceita nacionalmente e até internacionalmente devido a globalização. Tudo chega rápido hoje em dia com a internet, mídia e comunicação. Eu diria que nossa música tem ganhado um espaço grande e expressivo no cenário nacional. A música brasileira de modo geral é muito bem aceita, seja qual for o ritmo e gênero, por todos”, afirma.
A BANDA
A banda Oscaravelho teve início em 2010 com a proposta de fazer música autoral que mesclava pop, rock, blues e MPB. O primeiro CD foi gravado em 2012, intitulado “Volume I”, que conta com 13 faixas. Após ajustes na formação em 2015, foi lançado o segundo trabalho autoral: o CD “Seguindo o caminho”, com 12 faixas
inéditas. Algumas das canções de mais sucesso são “Amor sem fim” e “Nas estações”, ambas com produção audiovisual. Atualmente a banda finalizou a gravação de novas canções, com uma formação nova. Os integrantes da banda são Augusto Mácola, voz; Alexandre Ribeiro; guitarra e voz; Jorge Kingmel, baixo; Rui Paiva, bateria; e Sergio Cardoso, violão e voz. Para Augusto Mácola, a banda vai além de produção de discos e composição de músicas. “A banda representa uma quitação de dívida com a juventude que estava na garagem, o CD 1 então é a materialização disso, hoje com a ajuda dos meninos posso dizer o que sempre quis dizer. Faço parte de uma banda de rock”. Alexandre Ribeiro, guitarrista, conta que a amizade e o amor pela música foram o fatores motivacionais para o início da banda. “O Oscaravelho começou comigo e com o Mácola, quando sugeri formarmos uma banda. Sempre gostei de música e de compor, hoje ter o privilégio de estar em uma banda, tocando com pessoas que gosto e gratificante. Os integrantes têm experiência com música autoral e cover, mas no Oscaravelho o foco é a produção autoral”, afirma. Alexandre sente falta de mais incentivos para a produção autoral. “Acho que é importante dar espaço para a música autoral nas mídias, sem uma vitrine não há como o público ter a oportunidade de conhecer as bandas. Não é preciso impor nada, se as mídias derem espaço, naturalmente o público vai descobrir a ampla e variada produção autoral. Só dessa forma será possível ter uma música brasileira autêntica que não seja criada em laboratório”. O guitarrista acredita que é necessário mais incentivo público e privado para as bandas autorais, como festivais, que para ele, são poucos e não conseguem dar suporte para todos os artistas. “Só a produção de material de qualidade e autêntico pode resgatar o interesse do público pela música autoral, que mesmo presente, ainda está longe do que todos os artistas autorais querem e merecem”, reflete.
DE BEM COM BOA MÚSICA A banda Oscaravelho foi formada em 2010 com a proposta de fazer música autoral que mesclava pop, rock, blues e MPB
ONDE OUVIR:
As músicas da banda Oscaravelho estão disponíveis em várias plataformas de música online, dentre as três principais: Spotify, Deezer e Itunes. Os clipes também podem ser assistidos pelo Youtube. Informações e novidades sobre a banda podem ser acessadas nas redes sociais: Facebook: /Oscaravelhopoprock/ Instagram: @bandaoscaravelho OUTUBRO DE 2018
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NOVOS CAMINHOS
“Eu não sou índio”
THIAGO BARROS
é jornalista, mestre em Planejamento do Desenvolvimento Sustentável (NAEA-UFPA) e professor da Universidade da Amazônia @thiagoabarros
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Daniel é doutor em Educação pela Universidade de São Paulo (USP), um dos mais prestigiados centros de ensino superior e produção de conhecimento da América Latina. Também pós-doutor em Literatura, é autor de 52 livros. Recebeu diversas premiações nacionais e internacionais e tem o título de comendador da Ordem do Mérito Cultural da Presidência da República. Em artigos e palestras, Daniel, de 54 anos, costuma repetir a frase – uma afirmação constante do avô: “Se o momento atual não fosse bom, não se chamaria presente”. Para ele, o presente é o momento certo para atuar politicamente, sobretudo para reforçar a necessidade de descolonização do pensamento fixado no DNA cultural brasileiro. Em um evento literário internacional no ano passado, em Cachoeira (BA), com desenhos no rosto e colares, Daniel afirmou: “Apesar dessa minha aparência eu não sou índio. Não existem índios no Brasil”. Daniel, na verdade, se identifica como Daniel Munduruku, com sobrenome homônimo à etnia da qual faz parte. No momento em que levanta um debate sobre a problemática da identidade indígena no mundo contemporâneo, Daniel abre espaço para outra discussão recorrente quando se trata da cultura do outro, sobre enxergar a cultura do outro a partir de uma cultura que faz parte de estrutura dominante que invisibiliza identidades. Daniel é Munduruku, etnia que habita em maior número áreas nos estados do Mato Grosso, Amazonas e Pará e que começou a ter contato mais OUTUBRO DE 2018
intenso com não-índios a partir da intensificação do ciclo da borracha. Desde então, as relações reproduzem a lógica colonizadora que subalterniza os sujeitos à classificação de “índio”, com toda a carga estereotipada e abastecida por um histórico genocida da empreitada portuguesa e dos “brasileiros natos”. A denominação “índio” e todos os elementos que ela carrega fazem parte de uma criação que inviabiliza história, cultura, língua e saberes de centenas de etnias. Uma classificação que inferioriza, na qual não se vê o outro como consciente da própria história, cultura, língua e saberes. Ao afirmar que não é “índio”, Daniel Munduruku nega a identificação que lhe é imposta por outros – no âmbito civil e até institucional. “A palavra ‘índio’ não retrata a minha experiência”, reforça o escritor, que também é graduado em filosofia e licenciado em história e psicologia. Ele reforça que não existe unidade dentro do comum indígena. Pelo contrário, como enquadrar as experiências de centenas de etnias em um padrão, por mais que compartilhem regiões geográficas e seus modos de vida partam de alguns troncos semelhantes? Como o tempo do indígena é o tempo presente, Daniel Munduruku, a exemplo de várias lideranças indígenas, atua politicamente como representante de si mesmo, de seu povo, sem a intermediação de terceiros, e se posiciona discursivamente com destaque pela produção literária. Parafraseando o filósofo Jacques Rancière, a política faz aparecer sujeitos antes não considerados como interlocutores.
“A denominação ‘índio’ e todos os elementos que ela carrega fazem parte de uma criação que inviabiliza história, cultura, língua e saberes de centenas de etnias. Uma classificação que inferioriza.”
P.S.: Com agradecimento especial às contribuições do professor-doutor Leandro Lage.