Vitrais do Círio de Nazaré

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VITRAIS DA BASÍLICA

REVISTA ENCARTADA NO JORNAL O LIBERAL. NÃO PODE SER VENDIDA SEPARADAMENTE.

Círio

Luz e Fé A história da devoção à Nossa Senhora de Nazaré contada em 10 vidraças coloridas instaladas na Casa da Mãe de Deus, em Belém

EDIÇÃO ESPECIAL DO COLECIONADOR


Ensinamentos

feitos de luz Caracterizada por sua imponente arquitetura, a Basílica Santuário de Nazaré, em Belém do Pará, possui elementos que contam a história da maior festa de devoção na Amazônia, o Círio de Nazaré

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ntre os detalhes arquitetônicos da Basílica de Nazaré, os vitrais chamam a atenção dos visitantes. Estruturas de vidros coloridos inventados nos canteiros das abadias e catedrais góticas, na Idade Média, essas peças acompanharam o progresso técnico e material que o renascimento comercial havia proporcionado a partir do século X. Os vitrais são adornos comuns em templos religiosos católicos, servindo como uma maneira didática de ensinar aos fiéis as histórias da Bíblia e os dogmas da Igreja Católica. “Os vitrais eram considerados uma Bíblia feita de luz, capazes de ensinar, mesmo aos analfabetos, que eram gran-

de maioria no período medieval, as verdades da fé cristã. Os vitrais formam imensas e coloridas janelas que, muitas vezes, apresentam desenhos geométricos ou representam um santo ou uma passagem do texto bíblico”, explica o historiador e professor da Universidade Federal do Pará, Márcio Couto. Na Basílica de Nazaré existem 53 vitrais, a maioria sobre devoções populares, como Santa Rita de Cássia e São Jorge, e sobre temas bíblicos, como a vida pública de Jesus Cristo. Mas 10 deles, localizados na área em frente ao altarmor, chamada transepto, apresentam a história do Círio de Nazaré, desde o início da devoção em Portugal até os círios realizados na capital paraense, no início do século XX. Quase todos os vitrais do santuário


Lugar de reflexão A Basílica Santuário de Nazaré guarda obras de arte que revelam em detalhes a tradição cristã-católica no Estado, como elementos do Círio de outubro

mariano foram feitos em Champigneulle, França. As 10 peças que contam a história do Círio possuem forma de arco e colunas, com variação nas cores e têm também os nomes de seus benfeitores. Os vitrais foram ofertados por diversas entidades e famílias, que desejavam contribuir para a beleza da Basílica e também para agradecer por alguma graça alcançada. Os 10 vitrais sobre o Círio representam os episódios Monge abade Romano leva a salvamento a imagem; Aparição a Virgem a D. Fuas Roupinho; Plácido caçador encontra a imagem; Primeira ermida de Nazaré; Segunda ermida de Nazaré; Terceira ermida de Nazaré; Primeiro Círio de Nazaré; O milagre do barco (O brigue S. João Batista); A matriz de Nazaré; e O Círio dos nossos tempos.

Para Márcio Couto, os vitrais do templo foram encomendados pelo pároco, padre Afonso Di Giorgio, que chegou a Belém em 1918. “Não existe registro das datas de instalação de todos os vitrais na igreja. Mas é possível que tenha sido em 1923, quando o templo recebeu de Roma (Vaticano) o título de Basílica”, diz. Os vitrais, além de sinais de fé, remetem a uma longa tradição católica de evangelização. É uma forma de atingir um público maior com a mensagem cristã. No caso da Basílica Santuário, os 10 vitrais do Círio ajudam a consolidar a devoção a Nossa Senhora de Nazaré em Belém do Pará. “Os vitrais atualizam o mito, do ponto de vista antropológico, e renovam a fé dos devotos no poder miraculoso de Nossa Senhora de Nazaré”, opina o professor. OUTUBRO 2013

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um rei, um monge e uma imagem escondida dos inimigos de portugal primeiro vitral que representa a origem da devoção à Virgem de Nazaré fica à esquerda do altar mor da Basílica e foi ofertado pela Diretoria da Festa de Nazaré, em 1919. A peça mostra uma cena do século VIII, em que o rei Rodrigo aparece vestido de pastor, para não ser reconhecido por seus inimigos. O monarca usa seu próprio manto para agasalhar a imagem de Nossa Senhora de Nazaré com o menino Deus nos braços. Em Portugal, dizse que a imagem que deu origem à devoção teria sido esculpida pelo esposo de Maria, São

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José, tendo a própria Virgem, Mãe de Jesus, como modelo. Depois de muitas idas e vindas, nos primeiros anos do cristianismo, a imagem chegou às mãos de São Jerônimo e de Santo Agostinho, tendo ido parar na península Ibérica e depois nas mãos do monge Romano e do rei Rodrigo, que foi derrotado pelos mouros na batalha de Guadalete. Escondida pelo rei fugitivo numa gruta, a imagem ficou perdida durante séculos, até ser encontrada por pastores. No vitral é possível ver, ao fundo, o mosteiro nos arredores da cidade de Nazaré, em Portugal, caminho de fuga indicado a Rodrigo pelo abade Romano. O vitral tem cores fortes e elementos como cavalos, céu bastante azulado, árvores e flores.


Vitral no 1 Monge abade Romano leva a salvamento a imagem OUTUBRO 2013

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à beira do abismo, o primeiro milagre sse vitral representa o famoso milagre de dom Fuas Roupinho, fidalgo português que foi salvo da queda de um abismo por intercessão de Nossa Senhora de Nazaré. Depois de ter sido deixada numa gruta pelo rei Rodrigo, a imagem ficou perdida durante quatro séculos, escondida entre rochedos, até ser encontrada por pastores, reavivandose o culto à Virgem Maria no século XII. Diz a tradição católica que Fuas Roupinho, em uma de suas saídas para caçar, tentou alcançar um veado, mas se perdeu no meio da mata. Quando acreditava que iria capturar o animal, o fidalgo percebeu-se à beira de um precipício, perto do mar. O vitral mostra dom Fuas a cavalo, no exato momento em que o veado despenca do abismo. Diante do perigo de morte, ele se lembra da imagem de Nossa Senhora de Nazaré e, com as mãos para o alto em atitude de súplica, pede a Virgem que o salve. Após o pedido de salvação, o cavalo estanca imediatamente e o cavaleiro escapa da morte. A Senhora de Nazaré aparece no vitral com manto e anjos a sua volta. O fidalgo, agradecido, passou a propagar a devoção em Portugal. A peça foi ofertada à Basílica de Nazaré pelo Banco Ultramarino, em 1919. Vitral no 2 Aparição da Virgem a D. Fuas Roupinho

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Vitral no 3 Plácido caçador encontra a imagem

a origem da devoção na amazônia terceiro vitral que homenageia o Círio de Nazaré representa o achado da imagem de Nossa Senhora pelo caboclo Plácido, às margens de um igarapé, em Belém, por volta de 1700. Oferta da Diretoria da Festa de Nazaré, em 1919, a peça mostra Plácido vestido de azul, com manta e botas até a altura dos joelhos, uma vestimenta incomum na Amazônia. Mas a representação revela a imaginação do artista francês que

produziu o vitral, talvez com base no rigoroso inverno europeu. A imagem aparece dentro de um rochedo e o caboclo tem nas mãos uma cuia, usada para beber água. Plácido é representado como caçador, carregando pólvora, espingarda e punhal. Em sua mão direita, está a cuia que ele usaria para matar a sede. Ao seu lado, aparecem alguns cachorros. A imagem de Nossa Senhora de Nazaré é representada com manto dourado e túnica azul e vermelha. Esse vitral marca o início da devoção a Nossa Senhora de Nazaré em Belém, a partir do achado de Plácido.

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Vitral no 4 Primeira ermida de Nazaré

os humildes acolhem a virgem maria quarto vitral representa a primeira capela erguida próximo ao igarapé onde a imagem de Nossa Senhora de Nazaré foi encontrada em Belém. A peça mostra uma simples cabana de barro, coberta de palha, com cumeeira triangular, com uma cruz de madeira no alto. A imagem da Virgem Maria aparece dentro da cabana. Ao seu lado, em pé, está o caboclo Plácido e um casal em oração. A iluminação da ermida era feita por uma lan-

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terna pendurada em um braço de ferro fixado na parede frontal. O chão era de terra batida. O vitral mostra grande movimentação de devotos, alguns doentes, como um menino com o braço na tipoia e um homem com muletas amparado por uma jovem de véu na cabeça. Algumas pessoas são retratadas com os pés descalços. Essa foi a forma encontrada pelo artista francês para evidenciar as distinções sociais entre os devotos de Nazaré. Uma mulher negra com uma criança no colo também aparece no vitral, ofertado pela família Dacier Lobato.


cresce o amor entre as famílias quinto vitral, oferta do devoto Oswaldo Barboza, representa a igrejinha construída por Antonio Agostinho, que deu continuidade à devoção à Virgem de Nazaré em Belém após a morte de Plácido. As cenas também representam doentes chegando em busca de ajuda. Um senhor de barba, carregado numa espécie de maca por um monge e outro homem de pés descalços, ilustra a situação. A ermida é representada com dois compartimentos, sendo o da frente um pouco mais alto, num espaço maior do que a cabana de Plácido. Na fachada da igrejinha, vê-se uma cruz na cumeeira e uma pequena imagem da santa em um nicho. À frente da capela, vê-se grande movimentação de devotos, todas muito bem vestidos, também em busca de cura. Esse vitral representa a continuidade e o crescimento da devoção à Virgem de Nazaré em terras paraenses. Vitral no 5 Segunda ermida de Nazaré

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a fé se fortalece nos corações sse vitral, oferta da família Dacier Lobato, mostra como a devoção à Nossa Senhora de Nazaré acompanhou o crescimento de Belém, representado pelo elemento humano: à frente, uma mulher pobre com uma criança e, mais ao fundo, uma senhora bem vestida, o que mostra que a devoção à Nossa Senhora não tem classe social. Nota-se uma rua larga, que se abre em perspectiva, com algumas casas construídas em frente à ermida. A igreja construída em homenagem à Virgem é de taipa, um alpendre com telhas de argila, em forma de pórtico, para o qual as pessoas se dirigem. É bem maior que as ermidas anteriores, apresentando uma torre lateral. O chão da rua ainda é de terra batida. Próximo à igreja, vê-se uma senhora idosa amparada num cajado. Atrás dela, uma liteira carregada por homens. O cenário mostra um intenso céu azul e nuvens brancas, e ainda as frondosas mangueiras, árvores símbolo da capital paraense. O vitral representa o início da construção do que, anos mais tarde, viria a ser a Basílica de Nazaré. Vitral no 6 Terceira ermida de Nazaré

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Vitral no 7 Primeiro Círio de Nazaré

procissão inicia um novo tempo no estado sse vitral representa o primeiro Círio de Nazaré em Belém do Pará, no dia 8 de setembro de 1793. Oferta de Albino Fonseca, a peça fica ao lado da sacristia da Basílica. No primeiro plano, depois de alguns devotos que observam a cena, vê-se soldados montados e a pé. Depois, uma irmandade conduz estandartes de Nossa Senhora de Nazaré e de Jesus Crucificado. Em seguida, vê-se uma espécie de carruagem chamada de palanquim, puxado por dois bois e alguns devotos. No veículo, um capelão com vestes de cardeal aparece sentado, abençoando o povo, seguido por cavaleiros da milícia do governador. Ao fundo, vê-se a ermida, ainda a que foi construída por

Antonio Agostinho. É grande a multidão de devotos que segue a procissão atrás do palanquim. Esse é um dos vitrais mais coloridos, que reúne muitos elementos gráficos diferenciados, sendo um dos mais detalhados. Aqui, a imagem da Virgem não aparece no colo do capelão, como teria acontecido na realidade. A procissão, que teve o percurso parecido com o que existe hoje, foi resultado de um agradecimento a uma promessa feita pelo então governador do Rio Negro e do Grão-Pará, capitão geral Francisco Maurício de Sousa Coutinho, que teve a saúde reestabelecida graças à intercessão da santa. Segundo relatos históricos, a primeira procissão da Senhora de Nazaré em Belém reuniu mais de 10 mil devotos, entre autoridades, caboclos e índios.

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Vitral no 8 O milagre do barco (O brigue S. João Batista)

do meio das tormentas, surge a esperança ferta da família Pombo, esse vitral representa um dos milagres mais famosos atribuídos à Nossa Senhora de Nazaré, que teria ocorrido com um dos pequenos barcos do brigue São João Batista, em 1848. Segundo a tradição, a embarcação teria ido ao fundo durante uma tempestade. A tripulação lançou-se ao mar em pequenos barcos em busca de salvação, mas apenas um deles chegou à terra firme. Os marinheiros

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lembraram-se que foi exatamente naquele barco que a pequena imagem original de Nazaré havia sido conduzida até o porto, em Lisboa, na ocasião em que foi enviada à Europa para ser restaurada. Os marujos, então, resolveram levar o barco até a Basílica de Nazaré, como forma de agradecimento. O vitral apresenta, em primeiro plano, o mar revolto e os homens implorando proteção à Virgem Maria. No segundo plano, já em terra firme, os marinheiros aparecem conduzindo o barco nos ombros, em direção à igreja de Nazaré.


A casa da mãe de deus sse vitral, oferta do coronel Porphyrio Miranda, representa a igreja construída em alvenaria, em 1884. No alto, vê-se a imagem de um anjo entre nuvens, segurando uma faixa com a frase: “Nossa Senhora de Nazaré do Desterro”, título dado à paróquia de Nazaré, em 1861. O grande destaque dessa peça é a igreja matriz de Nazaré, iniciada em 1852 e entregue em 1884. Ela é imponente, de alvenaria, com uma grande torre, que hoje não existe mais. A rua em frente ao templo é pavimentada. Um padre conversa com uma mulher e uma criança em frente à Basílica, observando-se a movimentação de outras pessoas ao redor. A igreja em alvenaria representa a consolidação da devoção a Nossa Senhora de Nazaré em Belém do Pará.

Vitral no 9 A matriz de Nazaré

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o povo, o círio e a padroeira sse vitral, oferta da família Lobato de Miranda, representa o Círio de Nazaré como o conhecemos, com a berlinda dourada, adornada com a imagem de quatro anjos e a coroa no centro do carro. A decoração do veículo pode ser vista nos vasos com flores nos quatro cantos do andor. No fundo, as mangueiras de Belém, emoldurando a

cena com o verde escuro das folhas. Uma multidão observa a passagem da procissão. A corda dos promesseiros tem destaque, e é segurada pelos devotos de pés descalços, ao redor da berlinda, todos homens, mulatos, vestidos de forma igual. Mulheres com chapéus de abas largas observam a cena. Dentro da berlinda pode-se ver a imagem de Nossa Senhora de Nazaré com seu manto dourado. O vitral representa a grandeza da devoção do povo paraense à Mãe de Deus.

Esta publicação é editada por RM Graph Ltda. CNPJ (MF) 03.547.690/001-91. Nire 15.2.007.1152-3 Inscrição estadual: 158.028-9 Avenida Romulo Maiorana, 2473 Marco - Belém - Pará Telefone: (91) 3216-1004 14 VITRAIS DA BASÍLICA

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Edição: Felipe Melo (SRTE-PA 1769) Coordenação de Projetos Especiais: Luciana Sarmanho Edição de arte: Filipe Sanches (SRTE-PA 2196) Textos : Dominik Giusti Fotos: Fernando Sette Tratamento de Imagem: Alexsandro Santos


Vitral no 1O O Círio dos nossos tempos OUTUBRO 2013

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ELA É A SANTA.

NÓS, O MANTO.

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GRIFFO

É Círio. Em cada um, em todos nós. Homenagem do Governo do Estado à maior festa do Pará e uma das mais bonitas do Brasil.


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