Cinema piauiense: história, dificuldades e esperança

Cinema

Janeiro de 2015 Ano I - 1ª Edição

por Bruce Ferreira Fabricio Campos Leonardo Mendes Naftaly Nascimento Weslley Oliveira

Cinema Piauiense:

lIGUAGEM E pRODUÇÃO DE tEXTO ii - pROFª mUNA kALIL por Bruce Ferreira, Fabricio Campos, Leonardo Mendes Naftaly Nascimento, e Weslley Oliveira

e Esperança

História, Dificuldades

A produção cinematográca em Teresina nunca foi tão forte ou notória quanto a produção musical, artística e até mesmo a teatral. O que percebemos, é que, quem faz cinema na cidade é, antes de tudo, cinélo.

Aqui, alguns amantes da sétima arte transpõem a barreira da tela, e tornam-se, além de espectadores, produtores. Mesmo com a paixão pelo cinema de um grupo de indivíduos na cidade, as produções cinematográcas locais nunca conseguiram atingir público equivalente ao dos espectadores dos lmes nacionais.

Ademais, a produção cinematográgica no Estado começou tarde em relação ao resto do país. Foi em meados da década de 70 que o cinema piauiense iniciou seu primeiro ciclo de produção cinematOgráca.

Apesar de tardia em relação a boa parte do resto do país, esse primeiro ciclo de produção no estado do Piauí construiu uma cultura fílmica que inuenciou jovens amantes da sétima arte. Eles zeram história e criaram movimentos cinematográcos independentes que nem sempre

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acompanhando a produção nacional.

Durvalino Couto, Carlos Galvão, Arnaldo Albuquerque, Francisco Pereira da Silva e Paulo José Cunha foram os primeiros integrantes de um grupo de jovens cineastas que, antes de tudo, eram cinélos. Torquato Neto passou a fazer parte do grupo apresentado por Paulo José Cunha, que estudava Comunicação Social em Brasília, na UNB, e veio para Teresina gravar uma entrevista com Torquato, após sua saída do hospital psiquiátrico Meduna, onde estava se tratando de problemas psicológicos. De entrevistado, Torquato Neto passou a ser membro do grupo.

Os rapazes se encontravam para assistir lmes nos cinemas de rua da cidade; na época, o Cine Royal

REX REX

e o Cine Rex. As películas que chegavam até a capital e que encantavam o público eram, na maioria, grandes produções de Hollywood.

Reunidos à sombra das arvores da Igreja São Benedito, no Centro de Teresina, o grupo de jovens e aspirantes a cineastas se encontrava para debater os lmes que haviam assistido na sessão da noite anterior e decidir o que lmar com suas simples lmadores de 8mm. Além disso, o grupo também se preocupava em debater não apenas cinema, mas também cultura e arte Inicialmente, a magia consistia apenas em lmar cenas do cotidiano, nas quais os integrantes geralmente atuavam. Os jovens não tinham a pretensão de divulgar as produções para o grande público, apesar de promoverem exibições caseiras, apenas para as pessoas mais próximas.

A partir dessas sessões de gavação, Torquato Neto, o nome mais notório do grupo, escreveu, lmou, dirigiu e atuou em “Terror da Vermelha” e “Adão e Eva: do Paraíso ao Consumo”.

Cinema Piauiense: Em entrevista concedida à revista Desenredos (Teresina, edição de dezembro de 2012), Durvalino Couto conta mais sobre o amigo dos velhos tempos e sobre outros lmes feitos na época: “O Torquato Neto falava muito em produção artística de cinema super-8, e então Edmar, Galvão e Arnaldo zeram esse lme que sumiu, desapareceu nas mãos de uma socióloga que foi para a Europa e perdeu esse lme por lá, que é o Adão e Eva do Paraíso ao Consumo, onde Torquato fazia o papel de Adão e a Claudete Dias, que é historiadora na UFPI, fazia a Eva. Esse lme é do Edmar Oliveira e do Carlos Galvão e foi lmado pelo Arnaldo; o doutor Noronha produziu e fez o still fotográco. É o que resta desse lme – as fotograas feitas

E como anda hoje?

O que é Cinema Legal?

Kleyton Marinho, fotógrafo, cineasta, chefe do Departamento de Fotograa e cinema da Fundação Municipal de Cultura Monsenhor Chaves e diretor da ABD (Asociação Brasileira de Documentaristas) para a região Nordeste, é a fonte mais apropriada para se falar de cinema legítimo.

Conforme Kleyton, “Todo lme tem que ter um documento chamado CPB (Certicado de Produto Brasileiro), que é tirado junto a Ancine [Agência Nacional de Cinema]; é como se fosse a identidade do lme. E eu sou a favor desse sistema, porque isso abre mais possibilidades ao cineasta, como a permissão para

durante as lmagens, o still.

Daí se tornou uma febre porque cada um queria fazer um lme. O Pereira fez um lme chamado Tupiniquim, que é muito bom – acho o melhor lme dessa série toda. O Galvão fez um outro lme que eu não lembro o nome agora; o Edmar fez um lme chamado Miss Dora – homenagem a uma menina muito doida que tinha aqui em Teresina – e eu z um lme que hoje é mais conhecido como Davi Vai Guiar ou Davi a Guiar, que no começo eu chamava de As Feras, porque resolvi lmar tudo quanto era de maluco na cidade (na época havia uma gíria, “fera”, para designar se o cara ou a garota eram malucos) e criei um personagem chamado Inspetor Pereira, que era um policial perseguindo essa galera.

História, Dificuldades

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Era um lme muito engraçado.

Nós zemos também um lme que era uma lmagem-adaptação de Coração Materno, aquela música do Vicente Celestino sobre a namorada que pede como prova de amor o coração da mãe do cara, e o cara vai e mata a mãe – daí zemos Coração Materno.

Esse lme foi uma superprodução com Pierre Baiano fazendo o papel do campônio. Mas aconteceu um imprevisto: quando nós estávamos projetando esse lme lá em casa, depois nós saímos para tomar uma cerveja e deixamos os rolos de lmes praticamente no chão do meu quarto; o cachorro do meu pai, o Mustang, mordeu os rolos de lme, comeu e destruiu quase tudo”.

Muitos anos se passaram desde a década de 70. A produção audiovisual no Piauí nunca acompanhou a nacional em relação a número de produções e público. Geralmente, os lmes produzidos em Teresina são realizados sem a estrutura necessária, nos quais os diretores acumulam funções de produtor, ator, câmera e até cantor da trilha sonora.

Além disso, outro fato preocupante para a produção audiovisual do estado é que apenas um cineasta produz cinema de forma legítima no Piauí. Trata-se do cineasta e documentarista Douglas Machado que é certamente o primeiro nome a se falar quando o assunto é cinema no Estado.

fazer cópia e comércio legal de DVD’s e exibir no cinema.”

O CPB regulariza as obras audiovisuais brasileiras. Ele garante que o produto é brasileiro e pode ser comercializado e exibido em mostras e festivais garantindo os direitos patrimoniais do diretor e produtor. O processo de emissão é simples, gratuito e pode ser realizado por Pessoa Física ou Jurídica no site da Ancine.

Kleyton infomou que há apenas um cineasta no Piauí que produz cinema de forma legítima.

“O Douglas Machado é a pessoa que faz cinema de forma legítima e legal no Piauí, porque ele registra os lmes dele com o CPB. Ele tem uma série para televisão

sobre literatura que já homenageou Ariano Suassuna, H. Dobal e agora ele está fazendo uma série sobre o escritor piauiense Wilson Martins, e está produzindo também um lme sobre o empresário João Claudino e também o documentário ‘Na estrada com Zé Limeira’”.

Douglas nem de longe é o cineasta que mais coleciona espectadores para suas obras.

Produziu e dirigiu o primeiro longa metragem do Piauí: Cipriano em 1997. Para se ter uma ideia do atraso, no Brasil, o primeiro longa metragem foi produzido ainda em 1914: "O Crime do Banhados", do português Francisco Santos, com mais de duas horas de duração. página 3

CPB

O que é preciso para tirar o CPB?

lIGUAGEM E pRODUÇÃO DE tEXTO ii - pROFª mUNA kALIL por Bruce Ferreira, Fabricio Campos, Leonardo Mendes Naftaly Nascimento, e Weslley Oliveira

O Certicado de produto brasileiro é um selo criado e emitido pela Ancine (Agência Nacional de Cinema) para regularizar as obras audiovisuais brasileiras. Ele garante que o produto é brasileiro e pode ser comer-cializado e exibido em mostras e festivais garantindo os direitos patrimoniais do diretor e produtor. O processo de emissão é simples, gratuito e pode ser realizado por Pessoa Física ou Jurídica no site da Ancine.

Mesmo não tendo o CPB e apoio do poder público para suas produções audiovisuais os cineastas piauienses não cruzam os braços. Atuam, dirigem e produzem seus lmes, muitas vezes sem estrutura, sem equipamentos e sem dinheiro.

Pirataria

Mesmo não tendo o CPB e apoio do poder público para suas produções audiovisuais os cineastas piauienses não cruzam os braços.

Atuam, dirigem e produzem seus lmes, muitas vezes sem estrutura, sem equipamentos e sem dinheiro.

Sem o CPB os cineastas não podem fazer cópias originais de suas obras, mas isso não impede que a população tenha acesso aos lmes.

A pirataria também se modernizou com o passar dos anos.

No Shopping da Cidade, CDs, DVDs e outros produtos

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Após a conclusão do cadastro da obra no sistema, é necessário enviar para a ANCINE os seguintes documentos exigidos pela Instrução Normativa 25/2004: • Anexo I da Instrução Normativa 25/2004 (disponível online), devidamente preenchido e assinado; • Cópia da obra, preferencialmente em DVD ou cópia da Nota Fiscal de 1ª cópia emitida pelo laboratório de imagem; • Contrato rmado com o diretor ou, quando não houver, declaração de prestação de serviços assinada pelo próprio; • Contrato rmado com o roteirista ou, quando não houver, declaração de prestação de serviços assinada pelo próprio; • Cópia da cédula de identidade do diretor; • Declaração de titularidade patrimonial, informando a quem pertencem os direitos patrimoniais sobre a obra e na proporção de quanto; • Cópia do contrato de coprodução, quando for obra realizada em coprodução por duas ou mais empresas; • Cópia do documento de transferência de direitos patrimoniais, quando houver titular de direito patrimonial que não tenha atuado como produtor da obra.

Os documentos são enviados para a Superintendência de Registro –Coordenação de Registro de Obras Audiovisuais, em um dos seguintes endereços: • Av. Graça Aranha, 35 / 3º andar – Centro - 20030-002 - Rio de Janeiro – RJ • SRTV Sul Conjunto E, Edifício Palácio do Rádio, Bloco I, Cobertura – 70340-901 – Brasília/DF • Rua Formosa 367, conjunto 2160, Centro, Vale do Anhangabaú 01049-911 - São Paulo/SP Após análise da documentação, a Coordenação de Registro de Obras envia, por correio eletrônico, um comunicado com o nº do CPB liberado ou com eventuais pendências documentais ou divergências de informações a serem solucionadas. piratas são facilmente encontrados a poucos metros da Delegacia de Combate aos Crimes Contra a Ordem Tributária e Relações de Consumo (Decoterc), que é responsável pela apreensão de produtos pirateados.

A dona de uma tradicional locadora da Zona Sudeste de Teresina, Izabel Carvalho, a pirataria em conjunto com outros fatores foi determinante para a quase extinção desse tipo de comércio na cidade. “A pirataria e a ampliação da internet zeram com que as locadoras quase desaparecem”, declarou.

Mas a pirataria não tem apenas o seu lado negativo. O lme “Ai que Vida!” teve apenas 300 cópias originais disponibilizadas para o comércio. No entanto a obra foi vista por milhares de pessoas em vários estados do Nordeste.

Segundo Franklin Pires se for só para a obra car conhecida e conseguir lucros com as peças pirateadas é ótimo. “Eu gosto. Mas a partir do momento que há investimento no lme e o retorno não vem para o investidor é complicado”, armou.

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Quem faz filme hoje na Capital?

Frankl i n Pires

Mont e i r o Junior

Franklin Pires é piauiense e tem em seu currículo várias produções audiovisuais. É principalmente ator de Teatro, mas costuma transformar suas peças em lmes. Produz lmes, musicais, peças de Teatro como Corpúsculo, Mocambinho – O lme. Atualmente está nalizando “Todo Mundo Mora no Dirceu”, que era uma peça e foi adaptada para o cinema. Tem previsão de lançamento para Maio de 2015.

“Somos bem atrasados quando o assunto é cinema porque poucos acreditam ou sabem como fazer. É difícil mesmo. Estou tentando estudar os mecanismos de produção”, mas é difícil fazer tudo sozinho. Também estou estudando como conseguir o (CPB) Certicado de Produto Brasileiro. Antes preciso registrar empresa na Ancine e enfrentar uma burocracia imensa. Até isso acontecer vou produzindo”, diz Franklin.

Francisco Monteiro Junior ministra um minicurso de cinema na Casa da Cultura há mais ou menos três anos. As turmas são semestrais, e em todo inicio de turma há uma seleção de dez pessoas dentre os interessados, que deverão enviar argumentos (uma espécie de roteiro, esboço da ideia de um lme). O curso consiste em ensinar todos os processos de produção de um lme: roteiro, direção, trilha sonora, iluminação, edição, fotograa.

“O pessoal do Piauí não manda projetos pro ministério da cultura. Basta mandar, salientando a relevância cultural e argumentos para defender a ideia. O problema não é fazer arte, é ser o produtor da sua arte. No Piauí não existe a gura do produtor, aquele que cuide de todos os aspectos técnicos e burocráticos do lme”, arma Monteiro em tom de indignação.

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