Um Balan莽o Com Hist贸ria
Para que é que isto serve? Já em vários posts tenho vindo a comentar e fazer o balanço do recente ciclo eleitoral, os resultados agora obtidos (no seu mais glorioso e trágico) são resultado não apenas das respectivas campanhas mas, no meu entender, são o culminar de um percurso que se iniciou há dez anos (ou seja, não foi ontem…). São portanto fruto das escolhas que a Direcção do Bloco fez ao longo deste período e reflexo da simpatia gerada na sociedade Portuguesa e da implantação conseguida no terreno. Logo um balanço que vá para além da espuma dos dias e da mera análise dos scores eleitorais implica uma análise mais completa. È isso a que me proponho neste post, fazer uma incursão ao passado do Bloco e perceber como aqui chegámos, com um cunho necessariamente (ou não… mas este é) pessoal. Desde já faço um aviso, não farei a lista das imensas vitórias e contributos decisivos que o Bloco deu para um país mais justo, livre e fraterno, contributo que se mede não apenas naquilo que fez, mas tb no espaço que ocupou e na sua mera existência. È que ao impor-se no mapa político o Bloco ocupou um espaço que se não existisse estaria hoje ocupado por outros… Provavelmente pela direita extremista e populista. Mais, ao existir com o peso que tem e situando-se à Esquerda do PS acaba por contribuir para a deslocação do centro de gravidade do discurso (e práticas) políticas para a Esquerda, ou seja, a não existir (ou a ter falhado miseravelmente) o mais provável seria hoje ainda estarmos a viver com políticas ainda mais à direita do que já estamos, com políticas ainda mais onerosas para a maioria, com um país ainda mais sofrido e desigual… Bem, mas isto não será uma Ode Triunfal aos feitos do BE, para isso já temos os artigos de opinião do Esquerda, o que me interessa é, este momento, perceber que decisões deve o Bloco tomar face ao novo mapa político-social. Perceber o porquê de uns resultados autárquicos miseráveis, perceber o porquê de uma falta de implantação social consistente, perceber qual o papel que dentro do BE diferentes forças jogam… Espero que este texto seja um instrumento útil a todos os militantes /aderentes /Independentes /simpatizantes&CªLda, que desejam um Bloco mais forte e capaz de assumir as responsabilidades que o Povo e o momento Exigem ao “movimento”. Assim, este Balanço será focado nos problemas (não todos e a selecção é minha) e claramente construído de forma a melhor perspectivar o que teremos de fazer para ter um Bloco que seja catalizador e representante de um forte movimento popular capaz de impor as mudanças e as políticas que o País necessita pa responder à crise.
A Convenção Primeira Comecemos por aqui, pela primeira Convenção do Bloco, realizada em Janeiro de 2000, pouco depois do BE ter conseguido eleger 2 deputados para a Assembleia da República (o grande objectivo, pois possibilitava a criação de um grupo parlamentar com muito mais margem de manobra que um deputado isolado, mesmo a nível dos regulamentos da AR), que por sinal retiraram a maioria ao PS Guterrista. Neste momento fundador houve um importante e determinante debate. Em oposição às propostas de moção e estatutos da Maioria, um grupo protagonizado por Ivan Nunes, Francisco Nunes da Silva, José Manuel Pureza (actual líder da bancada parlamentar do BE) e Daniel Oliveira (entre outros), apresentou uma moção alternativa e várias alterações aos estatutos. (página seguinte)
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O debate centrou-se na discussão do Artigo 1 e Artigo 6 dos estatutos… È que no Artigo 1 às páginas tantas dizia-se (e diz-se ainda) o seguinte no ponto 3: “O Bloco de Esquerda defende e promove uma cultura cívica de participação e de acção política democrática como garantia de transformação social, e a perspectiva do socialismo como expressão da luta emancipatória da Humanidade"
Como podem ver, na imagem que coloquei acima, a proposta dos “Direitistas” para o tal Artigo 1 incluía isto no ponto 2: “O Bloco considera o socialismo como principal factor histórico de democratização e civilização do capitalismo.”
Isto per se é verdade, mas é extraordinariamente redutor e coloca o socialismo numa posição completamente subalterna, como se o Capitalismo fosse o sistema e a realidade incontornável onde se move a sociedade humana, sendo o socialismo não uma alternativa, mas um mero factor condicionador (no bom sentido) do sistema estrutural e eterno que é o Capitalismo… Bem, o outro ponto que gerou frisson foi a proposta dos “Direitistas” de eliminação do ponto 5 do Artigo 6, nesse artigo previa-se que um dos órgãos do Bloco (para além da Convenção, Mesa Nacional, Comissão de direitos e Assembleias distritais/regionais) seriam os Núcleos de aderentes (o tal ponto 5). Os Núcleos seriam formados por aderentes nas escolas, postos de trabalho ou qualquer outro sector ou local onde um grupo de 5 ou mais militantes desejasse coordenar a sua actividade. Em síntese, tal como o Socialismo é um paliativo, a organização que fornece paliativos não necessita de uma rede social e de núcleos activos em vários sectores, afinal o que se deseja não é uma alteração do poder existente, mas apenas o seu CONDICIONAMENTO, para tal uns quantos parlamentares e uma estrutura central de assessores é mais do que suficiente… Esta visão foi completamente esmagada na Convenção (se bem me lembro em mais de 300 delegados não obtiveram mais que 10 votos pás suas propostas…), o autor destas linhas deu o seu contributo com um discurso recebido entusiasticamente pela plateia que deu direito a entrevista pá RTP1 ehehehe… Não fui o único, pelo menos mais um ou dois jovens foram dos primeiros a arrasar esta visão dando o tom à convenção, depois todos os líderes históricos (Miguel Portas, Rosas, Louçã e Fazenda) fizeram também eles inflamados discursos (nem tava à espera de tanta critica aos “Direitistas”) em defesa de um Bloco Popular, combativo e de Alternativa ao Sistema… Saí desta convenção com a convicção que estava num movimento que tinha vontade de crescer e frutificar, um Bloco que iria criar raízes no movimento popular, que iria ser muito mais que reflexo, mas o próprio catalizador e incentivador do movimento popular nas suas várias componentes (estudantil, trabalho organizado, mulheres, Gays, anti-guerra, ecologia, associações de bairro, ONGs diversas, etc…). No Diário de Notícias fizeram esta notícia acerca da convenção, gostei tanto do título que logo recortei e colei na parede do meu quarto.
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Análises e Caracterizações Germinais Mais ou menos um ano após esta convenção o PSR (agora APSR…) realizou o seu XII congresso, em Abril de 2001, nele fez-se, na minha opinião, uma rigorosa e clara análise do que significava a emergência do Bloco, qual o seu papel e como estava a ser gerido. Também se apontaram quais os fundamentais desafios com que se deparava… Nunca mais vi nenhum documento do Bloco&Cª com uma análise tão boa ao próprio BE e com tamanha honestidade! Por isso mesmo, é uma peça fundamental para a análise.
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Começo com a identificação que é feita dos maiores perigos em que, dizia a Proposta de Resolução, incorria o Bloco nos idos de 1999 e 2000… “No seu primeiro ano, 1999, o maior risco era o da grupusculização da sua intervenção, em função de conflitos latentes entre organizações que, de facto, não tinham ainda experiência razoável de trabalho em comum(…)” “No seu segundo ano, 2000, o risco maior era o da deliquescência programática: durante o debate da Convenção, em que uma vasta maioria polarizada pelas correntes fundadoras enfrentou uma minoria com posições direitistas(ehehehe como vêm n fui eu q inventei o termo), provou-se que o perigo existia mas que tinha muito pouco impacto dentro do movimento.”
E aqui uma parte deveras importante, mais tarde irei a ela voltar… “A minoria exprimia uma posição de cariz social-democratizante: concentração absoluta do poder de decisão em porta-vozes públicos, recusa a todas as formas de organização de base, aproximação ao PS no Orçamento de Estado, intervenção parlamentar orientada para estabelecer pontes com o poder. (…)”
Nem mais… Quanto à direcção e organização do Bloco dizia-se o seguinte: “O Bloco de Esquerda constitui-se como movimento político que tem duas características singulares. Em primeiro lugar, absorve progressivamente o espaço de representação pública das suas componentes, criando uma identidade própria.
Em segundo lugar, organiza-se mantendo uma estrutura que articula organismos e lugares próprios e que, ao mesmo tempo, respeita e mantém as formações partidárias anteriores. Essa estrutura é a mais adequada para o tempo presente e deve portanto manter as suas características fundamentais. (sublinhado do original) (…) Por razões organizativas também, a presente opção tem virtudes importantes. Porque regula o debate dentro do Bloco (à poix é bebé…), concentrandoo (e de q maneira) sobre actividades priorizadas, submetidas a um escrutínio relativamente centralizado de uma instância que é simultaneamente de direcção política efectiva do Bloco e também de conjugação das suas componentes”(o destaque é meu) ESTA CITAÇÃO ACIMA É FUNDAMENTAL!!! Ainda hoje esta é uma descrição que assenta como uma luva ao Bloco! Foi a solução milagrosa contra a grupusculização e para fornecer uma direcção (e aparência de um movimento) sólido e coerente, mas qual foi o preço a pagar? Continuando… Agora com os perigos para 2001… “No terceiro ano do Bloco, 2001, o perigo maior é a acomodação e a rotina (…) A acomodação e a rotina são perigosas por duas razões.
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Em primeiro lugar, porque o Bloco não dispõe de uma base organizada de dimensão que corresponda à sua expressão política. Por isso, a sua consistência depende fundamentalmente da capacidade de inovar o confronto político, de condicionar os adversários, de marcar os ritmos da oposição ao governo(…) Em segundo lugar, porque as instituições cujo eco aproveitamos são ao mesmo tempo uma forma (…) eficiente de integração, cuja pressão se vai exercendo sobre o Bloco, como sempre se exerceu sobre todas as correntes críticas da sociedade e da política burguesas.
A organização da acção social bem como a manutenção de um alto grau de confronto político é fundamental para a sobrevivência e para o crescimento do Bloco. Se o movimento for determinado pela mera conservação das posições que obteve, extinguir-se-à. Com a guerra de movimentos pode-se ganhar, com a guerra de posições só se pode perder. (sublinhado do texto original) Mais à frente faz se uma constatação e aponta-se um desafio, sublinhando a necessidade acima exposta de “organizar a acção social”…
“(…)Numa palavra, o Bloco funciona melhor na sua direcção do que ao nível da sua base. A identidade comum está a ser construída mais no espaço público do que no desenvolvimento da experiência sistemática e da cooperação ao nível da base, que é ainda muito desigual e limitada. (sublinhado do original) É por isso que é importante estabilizar os núcleos do Bloco, desenvolver a implantação nacional e, em particular, coordenar no movimento as intervenções sociais que têm continuado a ser essencialmente partidárias e separadas nos sectores da imigração e do trabalho”
Várias vezes na Proposta de Resolução e no balanço que é feito pelos vários grupos de trabalho, à data existentes no PSR, se reforça a necessidade de construir uma “corrente alternativa no movimento operário” (não é cindir a CGTP, em certos documentos até se refere a tragédia q foi pó movimento operário a cisão que a UGT constituí…), ou de “definir uma política clara de intervenção nas universidades e assegurar a coordenação do trabalho a nível nacional” e de em geral se conseguir maior implantação social e popular. Isto são palavras justas de 2001, mas então qual foi a actuação do Bloco face aos problemas identificados? E do PSR? Afinal estas palavras e alertas n são do BE, mas do próprio PSR, no entanto estou certo que na altura (e agora) serão partilhadas por muitos mais para além do próprio PSR, já pa não mencionar o facto de o líder máximo, de facto, do Bloco ser membro do PSR e o provável autor das linhas acima citadas… Pelo menos por enquanto, ele que não tire umas semanas pa descansar e reflectir… até o vão chupar até ao tutano (os mesmos que ele próprio andou a alimentar), mas já estou a por o carro à frente dos bois, continuando a nossa linha de raciocínio…
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L'ÉTAT C'EST MOI e a terra queimada
Esta proposta de criação de núcleo foi feita uns meses depois da referida convenção primeira, onde uma das grandes batalhas foi exactamente a de um Bloco com bases activas agrupadas em núcleos (e grupos de trabalho, sim pq os “direitistas” tb n queriam os grupos de trabalho consagrados nos estatutos). Apresentada a proposta em Assembleia de Lisboa e após acalorada rejeição a proposta foi REJEITADA!!! Os maiores opositores vieram da UDP e sobretudo, PSR… O argumento era que ao se estar a legitimar um órgão dos Bancários do BE esse órgão (Núcleo) poderia vir se a substituir-se à própria Direcção eleita em Convenção e tentar ser ele a definir as políticas do BE para o sector bancário. Seria portanto, mais que um órgão de coordenação dos Bloquistas Bancários, uma plataforma para oposição política à Direcção. É que a hegemonia nesse núcleo era da Corrente Ruptura…
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Este caso dá o tom para o que foi e é a actuação da Direcção do Bloco e das correntes UDP e PSR (sobretudo PSR)… É verdade que muitos núcleos se criaram, até este dos Bancários, que hoje em dia é dos mais dinâmicos e com peso! Mas a verdade, a TRAGÉDIA, é que a Direcção do BE (corporizada, sobretudo, nessas duas correntes) sempre que confrontada com a escolha entre: 1 - apoiar e possibilitar a criação de dinâmica local e sectorial mais ou menos autónoma, a tal “acção social organizada”, a tal “implantação no terreno”, não directamente subjugados à Direcção Central; ou 2 - a eliminação/oposição frontal (ou por decreto, ou por sabotagem, ou por greve de zelo, conforme a origem e força da tal “dinâmica local/sectorial” diferentes tácticas foram utilizadas) àquilo que é percepcionado como emergência de centros de poder, ou actividade, alternativos à Direcção Central. Escolhe, em regra, a segunda opção. Foi assim com o exemplo dos Bancários, foi assim qd se decretou em Convenção que a Coordenadora de Trabalho era nomeada e não eleita, foi assim em inúmeras regiões sempre que a maioria no local tomava decisões contrárias ao centro, foi assim (numa longa telenovela de enganos e dissimulações com os Jovens) … Foi e é assim com todas as acções que partam de fora da direcção e fujam ao “canónico”, por vezes, após árdua discussão é possível chegar a um compromisso (foi ocaso da acção de 2001 mencionada neste post)… O que nunca aconteceu foi a Direcção ter uma estratégia consequente e não apenas passiva (qd não contrária!) face à construção da organização de base do Bloco e à sua influência social no terreno. Entre as justas e correctas apreciações do XII congresso do PSR e o medo de se perder poder, de perder controle face à corrente, pelo menos nominalmente, mais à Esquerda, ou pura e simplesmente aos “Bárbaros” que iam aparecendo no Bloco e queriam organizar coisas, mas não eram da “família”, o medo prevaleceu sobre a justa apreciação. È que muito disto deve-se ao facto de aliada a uma brilhante Direcção Política, o PSR não ter nunca deixado de ser uma seita (onde nunca há conflitos, por isso é q tão sempre em purgas e cisões) e é complicado a quem sempre se moveu numa seita adaptar-se àquilo que é a política de massas… Mais fácil e instintivo é nem deixar que isso aconteça, sobretudo quando já há (e é verdade) incontáveis problemas e desafios que exigem resposta no palco da “grande política” televisivó-parlamentar. É assim que o medo da perda de controlo, da grupusculização, da disseminação de centros de poder, dos supostos “Enráges/Herbertistas” e porque nunca se deu continuação séria às acutilantes reflexões do XII congresso e assim nunca se conseguiram encontrar ferramentas de gerir o crescimento da organização social do bloco… Com medo, sem instrumentos para gerir a expansão, a solução encontrada foi a da terra queimada! É que mais do que passiva, a Direcção activamente e em vários momentos amputou a organização do Bloco…
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Heróis e Políticas O Bloco cresce então num paradoxo, por um lado a linha direitista é derrotada à nascença e é seguida a linha de “a manutenção de um alto grau de confronto político” com o poder. De facto, o Bloco é até acusado (inclusive por notórios “direitistas” Bloquistas) de ser um “partido de protesto”. Louçã sempre tornou claro que o Bloco está aqui para construir a “esquerda grande” que irá ocupar muito do espaço social do PS e protagonizar a ruptura com o rotativismo ao centro e o fim do domínio das velhas (e decadentes) elites económicas que asfixiam o país.
Esta mensagem política fez o seu rumo e conquistou os brilhantes resultados das Europeias e Legislativas (aí devido a erros tácticos, que derivam de estratégicos, mas enfim… ficou-se um pouco abaixo do possível), mas em 10 anos o Bloco a única coisa que construiu foi exactamente isso, mensagem… È que para lá das intenções declaradas o que vale são os actos concretos, mais uma vez voltando à primeira convenção, às tantas pode-se ler o seguinte na Moção de Orientação da Maioria, no ponto 5.5.1, “Movimento e activistas”: “(…)na lógica de movimento do Bloco de Esquerda, teremos que privilegiar o papel do activismo político e social não profissionalizado. No Bloco cada um terá de encontrar o seu próprio espaço, e diferentes disponibilidades não podem ser penalizadoras do direito de participação. Feita esta escolha, o Bloco terá activistas profissionalizados na equipa central, mas eles deverão estar em minoria nos órgãos de decisão.”
Money Talks and Bull sheet walks, como dizem os gringos, ou seja, não há funcionários pa construir a organização, apenas há para manter a equipe central e foi isso mm q aconteceu no terreno... Esta escolha criou uma deformidade que nem sei até que ponto é fruto de uma profunda ingenuidade (que tb existe por baixo de todo o brilhantismo intelectual da actual Direcção, que é a mesma de há 10 anos…). Atão é porque o Bloco “escolhe” e porque o “decreta” numa resolução que como por magia, “diferentes disponibilidades não podem ser penalizadoras do direito de participação”??? Mas é que são, obviamente que a disponibilidade, até no clube de dominó, é amplamente condicionante da participação, a não ser que entendamos os “direitos de participação” como abstracções vazias de substância…
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Para mais gostava de saber nos órgãos dirigentes do BE se a máxima de que os funcionários devem estar em minoria se mantém, mas mesmo que estejam, qualquer pessoa que já militou sabe que a voz de um funcionário (pelo acesso à informação e até ser o veículo dela e pela DISPONIBILIDADE) por mais básico que seja, acaba por ter um peso determinante em qualquer reunião… Esta decisão de não ter funcionários para construir a “organização social” do Bloco, mas apenas assessores parlamentares e responsáveis pela logística, afunilou ainda mais a vontade e os recursos que deveriam e tinham de ser encaminhados para o desenvolvimento de uma rede de activistas locais e sectoriais. Em conjunto com os medos de perda de poder e desintegração foi elemento essencial para se perceber como o Bloco em 2009 tem menos influência social (em determinados sectores, nomeadamente no movimento estudantil do superior) do que no seu início. Por isso mesmo gostei deste (e muitos outros…) texto do Zé Neves, acertou bem… E lá está, procurando sempre o confronto político, mas para tentar alargar a sua área de influência e conseguir convergências (o que, obviamente é fundamental!), em vez de movimentos pela base, em vez de construir essas convergências por meio de campanhas e movimentos populares, o Bloco tentou cobrir essa necessidade promovendo como porta vozes, simpáticos e telegénicos “dirigentes instantâneos” que foi buscar às prateleiras da academia… De lealdade duvidosa, alguns (como Miguel Vale de Almeida ou Joana Amaral Dias), e invariavelmente na área de influência “direitista”… Uma nota… é que o Bloco pouco ganhou com essas operações de promoção, onde o Bloco de facto alargou e conquistou terreno, foi nas campanhas populares… No movimento por Timor (logo em 1999), no movimento contra a guerra, na campanha do Aborto, nas aproximações ao “Alegrismo” (pena é q tenham ficado a olhar pó bezerro mm depois de ele ter ido pastar pa outras paragens) … è por aqui q se constrói e alarga… Não pela promoção de carinhas larocas (digo isto, porque já usaram a “abrangência” como argumento para estas “escolhas de casting”) Atenção, não é que o Bloco não deva “captar jovens talentos”, deve-o, já agora confesso que nas reuniões prévias à V Convenção sugeri os nomes de Rui Tavares e Ricardo Araújo Pereira para a Mesa Nacional, fiquei contente pelo Rui T. ser convidado pa deputado, mais, mm no caso Joana Amaral Dias se nota a dificuldade da Direcção do BE em lidar com o conflito e o contraditório (é a seita, pronto), agora é impressionante como não há ninguém, nenhum deputado que seja claro representante das lutas sociais (bem há a Mariana Aiveca, mas nem se dá por ela…e o Chora tb passou por lá, mas foi num flash). Não há quadros de valor, que sabem mt mais de política do que “celebridades instantâneas”? Não há a geração que protagonizou a luta contra as propinas? Não há gente dos movimentos Gay (bem menos paneleiros da tanga, desculpem a expressão mas axo que percebem, que o Miguel Vale de Almeida)? Não há gente da luta contra o racismo? Não há ninguém de nenhuma comissão de moradores ou coisa que o valha? Não houve até um jovem de Visei que protagonizou lutas do Secundário que envolveram a mobilização de milhares de estudantes? Há, mas não sei pq não ficam bem, dá um ar demasiado “Enráges/Herbertistas” à coisa? Se calhar tb mais facilmente polarizariam discursos autónomos face à direcção… E, sobretudo no caso do PSR, a verdade é que existe uma espécie de cultura masoquista/auto-mutiladora em que os próprios quadros do partido são constantemente empurrados pa canto… o resultado é que em 2009 o PSR tem menos quadros com dimensão política do que tinha em 1999 ou 2001, e o processo autofágico encontra-se em rápida progressão para o topo… Este é um processo típico do PSR, a UDP tb foi implacável com os seus militantes que mijaram fora do penico, mas sabe muito melhor conservar e promover quadros, pelo menos não tem a notável capacidade auto-destrutiva do PSR. O que é facto, é que dos parlamentares do Bloco apenas dois são jovens que surgiram da anémica “organização social” do Bloco, Rita Calvário, muito ligada às questões de ecologia, mas que qd primeiro conheci estava ligada ao movimento anti-racista e José Soeiro dos Jovens do Porto (um meio q necessitaria de um post à parte para caracterizar sem dar ideias erradas…). Há 2 independentes que n devem ter surgido há muito (nº 2 do Porto e Aveiro) que n conheço, e o resto
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são dirigentes das correntes fundadoras, ou que entraram no Bloco directamente para a Direcção (caso dos ex-PCP). Chega-se, portanto, a um ponto em que, comé q eles diziam… “concentração absoluta do poder de decisão em porta-vozes públicos, recusa a todas as formas de organização de base”
È mais ou menos isto e assim, sem base, qualquer política “confrontacional” com o poder está condenada, porque nenhum grupo dirigente, por mais brilhante q seja, sem apoio popular organizado, consegue fazer face ao poder. Ou será destruído ou engolido… Aliás, na campanha das legislativas, fruto da sua pulsão autofágica e medo da perda de controlo, o núcleo duro que conduziu a campanha central era reduzidíssimo, era o Louçã, mais um ou dois para assessoria política e uma mão cheia pá logística… Em campanha desde Maio não é para menos que a Setembro tenha chegado exausto e com um discurso mais vazio… pelo caminho ficou o nº 3 das listas em Setúbal, q pouco teve em Setúbal pq tinha de assessorar o grande líder. Em Lisboa onde o peso da “equipa central” se faz mais sentir e consequentemente maior é o abafamento da dinâmica basista a campanha foi uma miragem do que se fez em 1999, 2001 ou 2004… é que isto não há super-homens… E sobre lideranças deixo o seguinte “statement”, eu q até sou Chavista, mas tento ler minimamente a realidade onde estou inserido… e as necessidades da luta social…
(cartaz da lista vencedora à Direcção da AEIST mandato 1999-2000)
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A Teia de Penélope Voltando à questão da “terra queimada”, uma coisa é certa se queimaram é pq à partida havia alguma coisa pa queimar, é pq, apesar de tudo o que foi dito, no Bloco em vários momentos e locais houve condições para se desenvolver um notável trabalho de base. Em certos sectores chegou-se a ter uma influência e implantação considerável, vou ao de leve falar de dois casos, das autarquias e dos Jovens, em ambos os casos uma imagem que me ocorre é a da “Teia de Penélope”…
Enquanto Ulisses combatia em Tróia e percorria a Odisseia de regresso a casa a mulher em casa esperava… só que muitos eram os q julgavam Ulisses morto e lhe pediam a mão em casamento, então Penélope arranjou um “esquema”, começou a fazer uma peça de roupa (ou um lençol n sei bem, whatever…) e disse aos pretendentes que escolheria um entre eles assim que termina-se a peça… O “esquema” é que enquanto de dia Penélope tecia aos olhos de todos, de noite desfazia tudo o que fizera durante o dia, assim nunca mais ficava pronta a peça… Por vezes o Bloco parece a Penélope com a sua teia…
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Esta imagem é de uma brochura publicada pelo BE em 2001, realizou-se nessa altura uma conferência autárquica para enquadrar todas as candidaturas e este seria o ponto de partida para a criação de uma ética, ou um modus operandis, Bloquista nas questões autárquicas… Depois de 2001 axo q ainda se chegou a fazer mais qq coisa nesse sentido, talvez por tar em Lisboa não esteja bem a par, mas ideia que tenho é que este trabalho iniciado em 2001 foi posto completamente no caixote do lixo (corrijam-me se n tenho razão). Abaixo coloco as capas de uns jornais editados pelo “Núcleo de Estudantes do IST”, tinha o sugestivo nome de “68-17-74”, lá está são uns “Enráges” e “Herbertistas”... A verdade é que no mesmo ano tínhamos tado na Direcção da AEIST onde, entre outras coisas, paralisámos o técnico e fizemos uma assembleia seguida de manifestação com 1000 estudantes (do IST), um número nunca antes atingido. Outra das imagens é de um cartaz a anunciar um debate aquando dos bombardeamentos no Afeganistão (no pós 11 de Setembro), lembro-me q tínhamos sempre stresses com a Direcção do IST que não queria “eventos partidários” no Técnico. De tal forma q quando o Miguel Portas chegou pa falar trancaram à chave a sala que tínhamos reservado (um anfiteatro), não tivemos com nada e fomos para o bar de “civil” onde há um anfiteatro a céu aberto q raramente é utilizado… foi um sucesso, nessa altura os dirigentes do Bloco eram presença habitual n apenas no Técnico, mas por várias Universidades e Faculdades de Lisboa… e agora?
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Nos primeiros anos do BE, havia trabalho coordenado em várias faculdades de Lisboa e por esse país (herança em grande medida da implantação estudantil do PSR), lembro-me de termos grupos activos no Técnico, em Letras, no ISCTE, na FCSH, em Ciências, no ISCSP e pontualmente em muitas outras… de tal forma que em 2003 qd o governo Barroso decide aumentar brutalmente as propinas (de 400 pa cerca de 900 euros) conseguimos dinamizar um potente movimento. É que a maior, repito, a maior manifestação estudantil alguma vez realizada em Portugal se dá nessa luta, com 15 a 20 mil estudantes nas ruas de Lisboa. Isso só aconteceu pq por toda a Lisboa e País houve grupos do Bloco que estavam coordenados e começaram:
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1- Invadir as reuniões dos conselhos directivos onde eram afixadas os valores das propinas (o governo deu um tecto mínimo e máximo e os conselhos directivos é q decidiam); 2- Criar Colectivos para organizar a luta em todo o lado pressionando as AEs. Enfim… o que resta??? E porquê??? Só vos digo que após essa mega manifestação não me lembro da comissão política querer se reunir com os Jovens para discutir como prosseguir a luta … Nem depois das várias bem conseguidas acções na campanha autárquica de 2001 em Lisboa. Aliás, lembro-me de algumas boas dicas serem dadas em reuniões do Secretariado do PSR, por veteranos da luta das propinas dos anos 90, mas da parte da direcção do BE não me lembro de uma única discussão séria sobre qq luta ou o rumo dos jovens… Impressionante é q lá por 2006-2007 (com uma dinâmica a anos luz do passado) lá se lembraram que os Jovens existiam e para quê? Marcaram uma reunião pa sugerir que os Jovens do Bloco em Lisboa deixassem de organizar coisas como Bloco mas apenas como corrente da maioria, isto porque sempre que os jovens organizavam qq coisa estavam a dar palco à corrente Ruptura/FER… É a terra queimada no seu melhor… Agora parece que as coisas no Superior estão a reanimar um pouco, e noto sobretudo um influxo de putos do secundário… espero sinceramente que ao menos os deixem fazer “tipo cenas fixes”, ao menos deixem os putos se organizar!!! Peeeleaseee…
Em Conclusão No seu décimo ano, em 2009, o perigo é duplo: Primeiro é o da asfixia da organização do Bloco protagonizado pelas correntes que detêm a direcção do Bloco à 10 anos… Nomeadamente se as correntes da “Hegemonia Partilhada” não derem espaço de manobra à recentemente chegada militância que apareceu no decorrer deste círculo eleitoral. Neste momento um salto quantitativo e qualitativo é urgente em termos organizativos, esta tem de ser uma prioridade política e de recursos (q nem são poucos) da Direcção do Bloco. O segundo é o de virar costas à realidade envolvente. O Bloco em 1999 nasceu num contexto bastante diferente do actual. Em termos mundiais vivia-se ainda o consulado Clintoniano pré-11 de Setembro e emergência das novas potências (Brasil, Rússia, Índia e China); no plano interno estávamos no auge da década de ouro portuguesa, acabadinhos de sair da expo; organicamente existiam dois partidos, um movimento difuso e muitos independentes, cada qual com estruturas e alguma militância. Desde esses anos que não se faz uma profunda reflexão estratégica e uma análise rigorosa ao que é o Bloco, ao que é que quer chegar e como. Sem isso o Bloco caminhará para derrotas bem piores que as autárquicas, que originarão um período de guerra civil interna, provavelmente seguido da desintegração a prazo do Bloco, a não se desintegrar será o “Direitismo” que prevalecerá no confronto e a dominar o BE… o que a prazo conduzirá à sua dissolução no PS. Qualquer destes futuros terá trágicas consequências nos destinos do país…
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PS 1 – Ao contrário de uma notícia/reportagem do Expresso de 17-10-2009, Louçã e Miguel Portas não levaram cacetadas (literalmente) da Guardia Civil quando iam para um “Fórum Social” em Barcelona, iam com muitos mais para Sevilha a uma manifestação “antiglobalização”(axo q era uma cimeira da União Europeia). PS 2 – Sobre a ala “Direitista” registo que daí têm saído as vozes que oiço a pedir um urgente debate interno... De notar que Miguel Portas não se encontrava com os “Direitistas” na 1ª Convenção (nunca percebi bem o rancor que há altura – 1999-2000 - alguns jovens do PSR tinham a Miguel Portas, era mais freaKalhoquice inconsequente q outra coisa…). Não percebo pq é q as correntes, ou as listas opostas à direcção estão caladas que nem ratos. Nomeadamente a Ruptura/FER q já tantas críticas (muitas correctas) fizeram à direcção, neste momento n diz nada… bem, veremos…
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