QUANDO A PROFISSÃO RIMA COM PAIXÃO “ O professor é aquele que faz duas ideias crescerem onde antes só crescia uma.” (Elbert Green Hubbard)
POR Joana Figueira FOTOGRAFIA Sofia Doutel
Professora por opção e por vocação. Uma conversa sobre os sonhos, as escolhas e o dia a dia de Sofia Doutel, uma professora de Português na missão mais difícil de todas: ensinar os alunos a gostar da disciplina.
professora. Ainda hoje, quando os alunos “se portam mal” me vem uma pergunta à cabeça: “Onde é que estava a minha mãe quando decidi ser professora?” Já dá aulas há uns anos. Considera a sua profissão desgastante ou sente a mesma motivação dos primeiros anos?
Com a turma do 9ºA
Quando é que decidiu tornar-se professora e quem a inspirou? Segundo o que me conta a minha mãe, quando era pequena já brincava às professsoras. No entanto, também sonhava em ser trapezista ou até patinadora ... mas, sinceramente, depressa constatei que estas profissões nunca iriam passar do plano dos sonhos, pois sofro de vertigens (risos). Mais tarde, no liceu apercebime do poder que os professores tinham, pois podiam mudar a “vida” de um aluno apenas com uma palavra ou com um gesto, influenciando as suas escolhas futuras. Não foi por acaso que optei pelas “letras” e esqueci os “números”! Posso dizer que a minha mãe teve um papel fundamental nesta decisão, pois estava sempre a dizer que eu tinha nascido para ser
Já dou aulas há 21 anos. É óbvio que é uma profissão que exige muito de nós, pois o futuro de muitos jovens depende da nossa postura e motivação em sala de aula. E, às vezes, é difícil motivar alunos que se recusam a aprender e que não têm qualquer objetivo de vida. Também não podemos esquecer a pressão exercida sobre os professores, obter sucesso a todo o custo, independentemente das condições de trabalho ou da própria “matéria prima”. O nosso público é o mais difícil de agradar, facilmente passamos de “fixes” a “chatos”. Felizmente, adoro o que faço e a minha motivação mantem-se intacta, apesar das “beliscadelas” na profissão. Qual é a relação que tem com os seus alunos? A minha relação com os alunos é baseada no respeito e na confiança. Para além de lhes ensinar português,
ajudo-os a tornarem-se pessoas. Não consigo deixar de me envolver nos seus problemas e inquietações. Posso dizer que me veem como uma amiga, sem nunca ultrapassarem os limites do respeito e mantendo sempre o grau de exigência. Os alunos conseguem ver rapidamente se gostamos daquilo que fazemos e se “damos conta do recado”, eles são os nossos maiores críticos. O facto de lidar com jovens diariamente facilta-lhe a comunicação com os seus filhos? Ser professora é uma mais-valia para o papel de mãe? Ser professora passa por ser educadora e, realmente, tem sido uma mais-valia na educação dos meus filhos. Privar com os alunos ajuda-me a ter uma visão mais alargada e real dos problemas dos jovens, o que facilita a compreensão das necessidades dos meus filhos, bem como a desdramatização de certas situações.
O à vontade que os alunos têm na abordagem de determinadas questões, em sala de aula, é o mesmo que eu tenho com os meus filhos, em casa. Se tivesse a oportunidade de falar com o ministro da educação, Nuno Crato, o que é que lhe diria? É uma boa pergunta... Podia fazerlhe umas quantas reclamações e outras tantas sugestões, dependeria do tempo disponível! (risos) Pensando melhor, fazer-lhe-ia apenas um pedido: “Por favor, deixe-me continuar a ser Professora!” Imagine que podia voltar atrás no tempo, voltaria a escolher ser professora? Sem dúvida que a minha escolha seria a mesma. Adoro aquilo que faço, não me consigo imaginar a fazer outra coisa. Aqui que ninguém nos ouve, confesso que sou alunodependente!
Sofia Doutel revelou-nos os seus diferentes papéis: professora, mãe, educadora, amiga. Provou que, às vezes, os sonhos de infância podem concretizar-se e, ainda, que para ser um “bom professor” tem de se gostar do que se faz. É caso para dizer que a profissão rima mesmo com paixão!