Temporada 2011 | abril

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ABRIL 2011 A música sinfônica está em toda parte. Ela é presente não só na vida dos apaixonados por essa arte, como também no dia a dia de quem ainda não se sente íntimo dela. Você pode não ter percebido, mas a música sinfônica está no cinema antigo, no cinema contemporâneo, nas animações, nos comerciais de TV, nas discotecas dos anos 1970, em novelas, nas artes plásticas e até nos toques de aparelhos celulares do mundo todo. Em 2011, os cadernos das séries Allegro e Vivace vão recordar esses momentos e lugares inesperados em que a música sinfônica se apresenta para todos, mesmo aqueles que não costumam frequentar as salas de concerto. Assim, convidamos você a sempre voltar a esta sala, onde poderá sentir a força e a sutileza de obras criadas em períodos diferentes, conhecer compositores geniais e intérpretes que emocionam. São grandes as chances de você também se apaixonar. O cinema retratou a paixão de Igor Stravinsky pela estilista Coco Chanel. No filme e nesta sala, você poderá ouvir a música desse compositor surpreendente. A Sagração da Primavera, Sinfonia para instrumentos de sopros e Sonata, de Igor Stravinsky, entre outras composições, estão em Coco Chanel & Igor Stravinsky, do diretor Jan Kounen.

Amigos e amigas, Após um excelente início de temporada continuamos neste mês com mais uma sequência de concertos de grande porte. Recebido calorosamente quando estreou com a Filarmônica, em 2009, o violinista Nicolas Koeckert retorna ao Grande Teatro, desta vez interpretando o Concerto para violino e orquestra do compositor armênio Aram Katchaturian. No mesmo programa iniciaremos nossa homenagem aos 200 anos de Franz Liszt, com a execução de um de seus mais interessantes poemas sinfônicos, baseado no poema de Schiller, Os Ideais. Esse mesmo concerto será levado à bela cidade de Vitória, no Espírito Santo, divulgando o grande projeto cultural realizado em Minas Gerais. Recebemos também a maestrina Ligia Amadio e o pianista Fábio Caramuru, que irão apresentar um programa instigante combinando a contemporaneidade da música da brasileira Marisa Rezende, o modernismo influenciado pelo jazz de Igor Stravinsky e o romantismo de César Franck, através de sua famosa Sinfonia em ré menor. Tenham todos ótimos concertos!

Fabio Mechetti

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Fabio Mechetti Diretor Artístico e Regente Titular Orquestra Filarmônica de Minas Gerais

Natural de São Paulo, Fabio Mechetti é Regente Titular e Diretor Artístico da Orquestra Sinfônica de Jacksonville desde 1999. Foi também Regente Titular da Orquestra Sinfônica de Syracuse e da Orquestra Sinfônica de Spokane, da qual é, agora, Regente Emérito. Desde 2008 é Diretor Artístico e Regente Titular da Orquestra Filarmônica de Minas Gerais, trabalho que lhe deu o XII Prêmio Carlos Gomes na categoria Melhor Regente brasileiro em 2008. Foi regente associado de Mstislav Rostropovich na Orquestra Sinfônica Nacional de Washington e com ela dirigiu concertos no Kennedy Center e no Capitólio norte-americano. Da Orquestra Sinfônica de San Diego foi Regente Residente. Fez sua estreia no Carnegie Hall de Nova York conduzindo a Orquestra Sinfônica de Nova Jersey e tem dirigido inúmeras orquestras norte-americanas, como as de Seattle, Buffalo, Utah, Rochester, Phoenix, Columbus, entre outras. É convidado frequente dos festivais de verão nos Estados Unidos, entre eles os de Grant Park em Chicago e Chautauqua em Nova York. Realizou diversos concertos no México, Espanha e Venezuela. No Japão dirigiu as Orquestras Sinfônicas de Tóquio, Sapporo e Hiroshima. Regeu também a Orquestra Sinfônica da BBC da Escócia, a Filarmônica de Auckland, Nova Zelândia, e a Orquestra Sinfônica de Quebec, Canadá. Vencedor do Concurso Internacional de Regência Nicolai Malko, na Dinamarca, Mechetti dirige regularmente na Escandinávia, particularmente a Orquestra da Rádio Dinamarquesa e a de Helsingborg, Suécia. Recentemente fez sua estreia na Finlândia dirigindo a Filarmônica de Tampere, com a qual voltará a realizar uma série de concertos em 2011. No Brasil foi convidado a dirigir a Sinfônica Brasileira, a Estadual de São Paulo, as orquestras de Porto Alegre e Brasília e as municipais de São Paulo e do Rio de Janeiro.

foto | Eugênio Sávio

Trabalhou com artistas como Alicia de Larrocha, Thomas Hampson, Frederica von Stade, Arnaldo Cohen, Nelson Freire, Emanuel Ax, Gil Shaham, Midori, Evelyn Glennie, Kathleen Battle, entre outros.

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Igualmente aclamado como regente de ópera, estreou nos Estados Unidos dirigindo a Ópera de Washington. No seu repertório destacam-se produções de Tosca, Turandot, Carmen, Don Giovanni, Cosi fan Tutte, Bohème, Butterfly, Barbeiro de Sevilha, La Traviata e As Alegres Comadres de Windsor.

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sÉRIE VIVACE 5 de ABRIL 20H30 GRANDE TEATRO DO PALÁCIO DAS ARTES

Fabio Mechetti regência Nicolas Koeckert violino PROGRAMA Aram KATCHATURIAN Concerto para violino e orquestra em Ré maior (1940) [35 min] I. Allegro con fermezza II. Andante sostenuto III. Allegro vivace Solista: Nicolas Koeckert INTERVALO Franz LISZT Os Ideais: Poema sinfônico nº 12, S.106 (1857) [30 min] Zoltán KODÁLY Danças de Galanta (1933) [15 min]

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Nicolas Koeckert VIOLINO

Músico germano-brasileiro, Nicolas Koeckert recebeu o Primeiro Prêmio e o Prêmio Especial na Competição Internacional de Novosibirsk, na Rússia. Foi o primeiro alemão premiado na Competição Internacional Tchaikovsky em Moscou, em 2002. Foi premiado também no Concurso Internacional de Montreal e obteve o segundo lugar no Concurso Internacional de São Petersburgo. Apresentou-se com Lawrence Foster, Colin Davis, Jonathan Nott, Asher Fisch, Justus Franz, Ira Levin e com as sinfônicas de Montreal, Bamberg, Nacional Russa, da Rádio Bávara, Zagreb, Brasília, Osesp e orquestra de câmara de Munique, entre outras. Em duas ocasiões suas gravações foram eleitas “CD do mês” – na The Strad Magazine (2005) e na Naxos Alemanha (2004).

Koeckert possui um elevado senso de estilo. De refinamento impecável e um lirismo encantador, usa de seu impressionante virtuosismo e, acima de tudo, temperamento para identificar e projetar a essência espiritual da música...

Em 2008 gravou CD para Naxos com o Concerto para Violino e a Rapsódia Concertante de Katchaturian, com a Orquestra Filarmônica Real de Londres sob regência de José Serebrier, e CD em gravação ao vivo com obras de Ernest Chausson, Paul Dukas, Jaques Offenbach e Camille Saint-Saëns, com a Orquestra Filarmônica da Rádio Alemã de Saarbrücken e regência de Christoph Poppen.

foto | Thomas Dashuber

Daily Telegraph, Londres

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Katchaturian sempre foi fascinado pela música que ouvia nas ruas de sua cidade natal. O encanto do Concerto para violino e orquestra reside, especialmente, na riqueza de suas melodias e na generosidade de seus coloridos folclóricos.

Aram KATCHATURIAN (Geórgia, 1903 – Rússia, 1978) Concerto para violino e orquestra em Ré maior O compositor georgiano de origem armênia Aram Katchaturian sempre foi fascinado pela música que ouvia nas ruas de sua cidade natal quando jovem. No início do século XX, Tbilisi era uma das cidades mais vibrantes do Império Russo. Localizada no centro do Cáucaso, próxima à Turquia, Armênia, Azerbaijão e Rússia, tendo a oeste o Mar Negro e a leste o Mar Cáspio, Tbilisi foi, por séculos, um importante centro comercial. Habitada por todos os povos da região, Tbilisi era uma grande encruzilhada étnica. O jovem Katchaturian adorava passear pela cidade ouvindo a música que emanava das praças e ruelas dos bairros pobres. Em casa, passava horas tentando reproduzir, no velho piano de seu pai, as canções que ouvia nas ruas, ou batucando insistentemente na mesa e cadeiras os ritmos alucinantes das músicas populares. A música folclórica dos povos do Cáucaso o acompanharia a vida toda.

foto | Júlio Vasconcelos

Anos depois, em Moscou, no verão de 1940, o já internacionalmente conhecido Katchaturian sentava-se para compor seu Concerto para violino e orquestra, fortemente inspirado na música folclórica da sua cidade natal. Seus três concertos para solista e orquestra são o ponto máximo de sua produção composicional. O primeiro, o Concerto para piano e orquestra (1936), proporcionou-lhe o reconhecimento internacional. O segundo, o Concerto para violino e orquestra (1940), entraria para o repertório de todos os grandes violinistas do século. E o terceiro, o Concerto para violoncelo e orquestra (1946), ajudaria a estabelecer, definitivamente, seu lugar como um dos compositores mais importantes do século XX. A composição do Concerto para violino e orquestra deu-se em apenas dois meses e meio. A obra foi estreada no dia 16 de novembro de 1940, na recém-inaugurada Sala Tchaikovsky, em Moscou, pela Orquestra Sinfônica Estatal da URSS, sob a regência de Aleksandr Vassilievich Gauk. O solista foi o jovem violinista russo David Oistrakh, a quem o concerto foi dedicado e que assim comentou: “Nunca me esquecerei das celebrações da recém-inaugurada Sala Tchaikovsky, onde a

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estreia aconteceu. Prokofiev, Shostakovich e Myaskovsky estavam na plateia. Lembro-me perfeitamente bem do dia em que Katchaturian veio à nossa casa de campo, no verão de 1940. Ele estava tão entusiasmado com a sua nova composição que correu imediatamente para o piano. Seu modo intenso de tocá-la fascinou todos.” “Comecei a estudá-la tão logo consegui alguns rascunhos do compositor. Todos os amantes da música apreciaram vivamente o Concerto. Ele foi reapresentado poucos dias após a estreia” “...posso dizer com certeza que é impossível permanecer indiferente a este Concerto”. O encanto do Concerto para violino e orquestra de Katchaturian reside, especialmente, na riqueza de suas melodias e na generosidade de seus coloridos folclóricos. O primeiro movimento (Allegro con fermezza) inicia-se com uma breve introdução da orquestra, seguida da entrada do solista, que apresenta um primeiro tema intenso e vivo, acompanhado por um ritmo insistente da orquestra. Aos poucos a movimentação frenética do início dá lugar a uma atmosfera mais calma, em que o violino apresenta um segundo tema, desta vez triste, com um toque de lamento cigano. A seção central apresenta o violino em várias passagens virtuosísticas, intercaladas com breves respostas da orquestra. Na terceira e última seção ouvimos novamente a introdução e os dois temas do início, ligeiramente modificados, que desembocam em um desfecho vibrante, baseado em fragmentos do primeiro tema. A atmosfera misteriosa do segundo movimento (Andante sostenuto) é prontamente estabelecida pelas madeiras e cordas graves. O solista apresenta um longo tema melancólico, cheio de reminiscências do folclore armênio. Próximo do fim, um tutti orquestral prepara a breve volta do violino. O movimento termina tão misterioso como começou. No terceiro movimento (Allegro vivace) uma fanfarra orquestral prepara a entrada de um tema alegre tocado pelo violino. O violino nos conduz à apresentação de um segundo tema, de caráter mais lírico. Ambos os temas sofrem constantes modificações ao longo do movimento, até o ponto em que súbitos ataques da orquestra nos conduzem ao final do Concerto. Guilherme Nascimento Doutor em Composição, professor de Música da UEMG e da Fundação de Educação Artística, autor do livro Música menor.

PARA OUVIR_ CD Katchaturian – Concerto-Rhapsody in B flat minor for violin and orchestra, Violin Concerto in D minor – Royal Philharmonic Orchestra – Jose Serebrier, regente – Nicolas Koeckert, solista – Naxos CD Katchaturian – Violin Concerto, Taneyev: Suite de Concert – Philarmonia Orchestra – Aram Katchaturian, regente – David Oistrakh, solista – EMI Great recordings of the Century, 2006

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Liszt foi, sobretudo, um inovador. Criou o moderno recital pianístico, usou seu domínio sobre o público para impor ao repertório grandes mestres do passado, divulgou a obra de contemporâneos e reafirmou-se como o maior intérprete de Beethoven.

Franz LISZT (Hungria, 1811 – Alemanha, 1886) Os Ideais A personalidade multifacetada e cosmopolita de Liszt exerceu um fascínio irresistível sobre seus contemporâneos. Possivelmente o maior virtuose de todos os tempos, improvisador de habilidade vertiginosa, idolatrado pelo público, viajante incansável, o compositor transitou nos meios literários, artísticos, filosóficos, políticos e marcou profundamente o Movimento Romântico. Liszt foi, sobretudo, um inovador. Criou o moderno recital pianístico, usou seu domínio sobre o público para impor ao repertório de concerto grandes mestres do passado, divulgou a obra de contemporâneos e reafirmou-se como o maior intérprete de Beethoven, cujas Sonatas e Concertos apresentava, sistematicamente, com zelo missionário. Com o passar dos anos, passou a dedicar-se mais à composição. A partir de 1842, como diretor musical em Weimar, Liszt tornou-se propagandista e defensor de compositores ainda não bastante reconhecidos, principalmente os revolucionários Berlioz e Wagner. Fez da pequena cidade um dos centros musicais mais influentes da Europa, opondo-se a focos conservadores. Até então, Liszt havia composto apenas para piano; seus primeiros poemas sinfônicos, datados do final da década de 1840, caracterizam a investida tardia do compositor no campo orquestral e sinalizam sua maturidade criativa. Na música orquestral, os antecedentes mais determinantes para o compositor foram a Sinfonia Pastoral de Beethoven e a Sinfonia Fantástica de Berlioz. Sua intenção ao compor os poemas sinfônicos não seria retratar musicalmente os assuntos poéticos escolhidos, mas sim externar os sentimentos que tais enredos lhe suscitavam. Sob esse aspecto, seguiu a orientação de Beethoven para a Sinfonia Pastoral: “mais sentimento do que pintura”.

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O poema sinfônico foi fixado por Liszt como gênero musical em uma série de treze peças orquestrais, compostas em Weimar, entre 1848 e 1861. A maior inovação da obra de Liszt procede de sua recusa sistemática ao uso da forma sonata. Para ele, tal forma atingira os limites da perfeição nas sinfonias clássicas. Seria, portanto, impossível ir musicalmente à frente sem procurar outros caminhos. Liszt cultivou então a ideia do poematismo: a ordenação do discurso sonoro pela lógica motriz de ideias extramusicais. Cada obra exigia assim uma nova forma, específica, conforme seu conteúdo. A transformação constante do material temático cria a sensação de improvisação ao sabor do momento, alheia à tensão tonal e simetria clássicas. A unidade do poema se estabelece pela utilização, através de toda a obra, de núcleos temáticos. No caso de Os ideais, por exemplo, o núcleo temático é o intervalo de terça. Em 1857, Liszt apresentou em Weimar duas obras homenageando Goethe e Schiller, respectivamente a Sinfonia Fausto e Os ideais, o décimo segundo de seus poemas sinfônicos. Os versos de Schiller foram copiados por Liszt na partitura e contemplam os ideais de amor, verdade, amizade; as aspirações, lutas e realizações da vida de um homem comum. Paulo Sérgio Malheiros dos Santos Pianista, Doutor em Letras, professor de Música da UEMG, autor do livro Músico, doce músico.

O estilo das Danças de Galánta é conhecido como verbunkos e era destinado ao alistamento militar: ao som dessas danças, músicos e dançarinos percorriam as vilas ao lado das tropas, em busca de voluntários.

Zoltán KODÁLY (Hungria, 1882 – 1967) Danças de Galánta As Danças de Galánta foram escritas para o 80º aniversário da Sociedade Filarmônica de Budapeste, em 1933. À época, Kodály já havia se tornado uma das figuras mais destacadas da etnomusicologia. Seu estudo da música folclórica húngara e a reunião de cantos populares constituíram a base para suas principais composições. Nessa atividade de pesquisa o compositor firmou sólida amizade com Bartók, com quem partilhou mútua e duradoura influência. A cidade de Galánta tinha um significado especial para Kodály. Na infância, o músico lá viveu por sete anos, tendo a oportunidade de ouvir as canções folclóricas e de escutar a banda local de músicos ciganos. Foi também aí que Kodály iniciou seus estudos de violoncelo, introduzindo-se na tradição ocidental. Quatro décadas mais tarde, já professor no Conservatório de Budapeste, e certamente com os sons daquela banda em seus ouvidos, Kodály escreveu a obra aqui apresentada. O estilo das Danças de Galánta é conhecido como verbunkos e era destinado ao alistamento militar: ao som dessas danças, músicos e dançarinos percorriam as vilas ao lado das tropas, em busca de voluntários. Se bem que o verbunkos seja um gênero de música e dança magiar, era geralmente tocado por músicos ciganos.

PARA OUVIR_ CD Liszt – Symphonic Poems – Leipzig Gewandhaus Orchestra – Kurt Masur, regente – Mattias Eisenberg, solista – EMI Classics, 1996 CD Haitnik rege Liszt – Os Poemas Sinfônicos (integral) – Orquestra Filarmônica de Londres – Philips, 1973

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Kodály estruturou a obra na forma de rondó, composição desenvolvida a partir de um tema principal e alguns temas secundários. Dividida em cinco movimentos, a obra deve ser ouvida como um todo, unificado pela melodia principal e pela inspiração rítmica da peça. Ao folclore Kodály adapta suas visões sonoras exóticas, extáticas, mas ao mesmo tempo nostálgicas, realçando delicadas sombras, enquanto dá mostras de uma variedade de colorido e de estados de espírito que se alternam. Utiliza apurada técnica de composição, fundada em original fusão de seu conhecimento das tradições fol-

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clóricas do Leste Europeu com o domínio do cânone ocidental e dos avanços harmônicos do século XX. Sem ser tão revolucionário quanto Bartók, é, com este, um dos representantes perfeitos da escola nacional húngara. Após a introdução lenta nos violoncelos e a entrada dos violinos e violas, o majestoso tema principal é confiado ao solo de clarinete. Essa melodia retornará várias vezes durante a obra como tema do rondó. Dois episódios intermediários, mais rápidos, são tocados pela flauta e pelo oboé. Na parte final da obra, seu ponto culminante, Kodály faz as danças soarem cada vez mais rápidas, entremeadas por um tema mais lento. A esperada conclusão fica em suspenso por um momento, com curta intervenção do clarinete que traz de novo a melodia principal, mas volta de forma excitante produzindo efeito rítmico rápido-lento-rápido, numa síncope ao mesmo tempo sedutora, esfuziante e simples. Eminente pedagogo, Kodály contribuiu para o desenvolvimento de um sistema de educação musical difundido na Hungria e em outros países. Washington Luís de Sousa e Silva Analista de Finanças e Controle da Controladoria-Geral da União, aluno de Música da Fundação de Educação Artística.

PARA VISITAR_ The International Kodály Society – http://www.iks.hu

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foto | Rafael Motta

PARA OUVIR_ CD Kodály – Dances of Galanta – The London Philarmonic Orchestra – George Solti, regente – Past Classics, 2009


sÉRIE ALLEGRO 14 de ABRIL 20h30 GRANDE TEATRO DO PALÁCIO DAS ARTES

Ligia Amadio regente convidada Fábio Caramuru piano PROGRAMA Marisa REZENDE Vereda (2003) [13 min] Igor STRAVINSKY Concerto para piano e sopros (1924) [19 min] I. Largo – allegro II. Largo III. Allegro Solista: Fábio Caramuru INTERVALO César FRANCK Sinfonia em ré menor (1888) [37 min] I. Lento – allegro non troppo II. Allegretto III. Finale: Allegro non troppo

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Ligia Amadio regente convidada

Ligia Amadio é uma das mais destacadas regentes brasileiras da atualidade. Notabilizou-se internacionalmente por sua reconhecida exigência artística, seu carisma e suas vibrantes performances. Sua atuação estende-se por Alemanha, Argentina, Áustria, Bolívia, Chile, Colômbia, Croácia, Cuba, Eslovênia, Estados Unidos, França, Itália, Japão, Holanda, Hungria, Peru, Portugal, República Tcheca, Rússia, Sérvia, Tailândia e Venezuela. Premiada no célebre Concurso Internacional de Tóquio (1997) e no II Concurso Latino-americano para Regentes de Orquestra em Santiago do Chile (1998), em 2001 recebeu o prêmio Melhor Regente do Ano no Brasil, outorgado pela Associação Paulista de Críticos de Artes.

Ligia é uma das mais talentosas artistas de sua geração. Alia boas interpretações do grande repertório ao talento na escolha de um repertório inventivo, que foge do óbvio. João Luís Sampaio

foto | Daniela Fuentes

blog.estadao.com.br, 10/2/2009

Ligia Amadio ocupou o cargo de regente titular e diretora artística na Orquestra Sinfônica Nacional, na Orquestra Sinfônica da Universidade Nacional de Cuyo, em Mendoza, Argentina, e na Orquestra Sinfônica Municipal de Campinas. Em agosto de 2009 assume a regência da Orquestra Sinfônica da USP, e, em 2010, a direção artística da Orquestra Filarmônica de Mendoza, na Argentina. Teve como professores Ferdinand Leitner, Kurt Masur, Sir Edward Downes, Julius Kalmar, George Tintner e Alexander Politshuk. No Brasil, seus principais mentores foram os maestros Henrique Gregori, Eleazar de Carvalho, H. J. Koellreutter, Almeida Prado e Lutero Rodrigues. Ligia Amadio acompanhou inúmeros solistas, dentre os quais se deve citar Martha Argerich, Nelson Freire, Bruno Gelber, Boris Berezovski, Peter Donohoe, Linda Bustani, Fany Solter, Moura Castro, Fernando Lopes, Gilberto Tinetti, Sônia Goulart, Caio Pagano, Dang Thai Son, Ieva Jokubaviciute, Joseph Banowetz, Sérgio Monteiro, Yang Liu, Ray Chen, Cláudio Cruz, Yi-Jia Susanne Hou, Patrycja Piekutowska, Renaud Capuçon, Pablo Saravi, Dora Schwartzberg, Boris Pergamenschikow, Gautier Capuçon, Darrett Adkins, Alexander Kniazev, Antonio Del Claro, Anatoli Krastev, Natalie Clein, Richard Markson, Sarah Brightman, Rosana Lamosa, Fernando Portari, Claudia Riccitelli, Céline Imbert, Regina Mesquita, Inácio de Nonno, José Gallisa, Geílson Santos, Rodrigo Esteves, Rubens Medina, Dario Volonté, Marcelo Lombardero, Aniello Desiderio, Eduardo Isaak, Pablo Sainz Villegas, Mircea Ardeleanu, Thierry Miroglio. Sua discografia reúne onze CDs e cinco DVDs. Ligia Amadio realizou o Bacharelado em Música, com habilitação em regência, e o Mestrado em Artes na Unicamp.

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Fábio Caramuru PIANO

Pianista paulista de grande versatilidade, foi o último aluno brasileiro de Magda Tagliaferro em Paris, como bolsista do governo francês na década de 1980. Ganhou inúmeros prêmios no Brasil, destacando-se o APCA em 1991. Apresenta-se regularmente no Brasil, Estados Unidos e Europa em recitais solo e com orquestra. É mestre pela ECA-USP. Em 2007, dirigiu e participou de diversos eventos comemorativos aos 80 anos do nascimento de Tom Jobim, tendo sido solista da Orquestra Sinfônica da Universidade de São Paulo (OSUSP) na Sala São Paulo e da Banda Sinfônica do Estado de São Paulo no Theatro São Pedro. Como sócio da empresa Echo Promoções Artísticas, tem atuado como curador e produtor cultural, coordenando projetos em instituições como Fundação Magda Tagliaferro, Espaço Cultural Correios, Orquestra Sinfônica da USP, Centro Cultural Banco do Brasil. Nesse último, produziu Divas (2006), Líricas & Populares (2007) e Pocket Trilhas (2008).

O equilíbrio é a chave de sua interpretação. Fábio consegue imprimir a dose exata de emoção e delicadeza em cada frase. Seu piano canta com refinamento e espontaneidade. Guilherme Comte

Entre seus recentes trabalhos, destacam-se participação na gravação da obra Das lied von der erde de Mahler, em versão camerística de Arnold Schoenberg (Editora Algol), interpretação do ciclo Dichterliebe opus 48 de Schumann, com o tenor Fernando Portari na Sala São Paulo, participação como solista da OSUSP no Concerto para dois pianos e orquestra de Poulenc, na Sala São Paulo, criação de uma trilha sonora inédita para a III Jornada Brasileira de Cinema Silencioso, concertos com a Orquestra Jazz Sinfônica, como solista e arranjador de temas de música para cinema de Richard Rodgers e Nino Rota, e concertos de música brasileira na Universidade de Toronto e no Zinc Jazz Club de New York.

foto | Tutu Sartori

Digestivo Cultural, 2/3/2007

Após dedicar-se por muitos anos ao repertório tradicional e brasileiro, Caramuru passou a desenvolver também, desde 2003, um trabalho autoral diferenciado, com o lançamento do CD Moods Reflections Moods. Ultimamente, com a colaboração do contrabaixista Pedro Baldanza, intensifica e aprimora seu trabalho de criação em duo. O último lançamento do Duo CaramuruBaldanza, Bossa in the Shadows, lançado pelo selo Labor Records de Nova York, é uma coletânea de composições e improvisações originais. O estilo musical do duo, baseado em elementos da tradição brasileira, foi considerado pelo compositor e crítico norteamericano Eric Salzman uma manifestação representativa do novo Free Jazz brasileiro, original e livre de clichês.

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Quem começa a perceber em suas criações a presença traiçoeira de tradições diversas é logo surpreendido por efeitos de timbre, texturas e construções dissonantes que lhe dão um lugar muito particular na criação contemporânea brasileira.

Marisa REZENDE (Brasil, 1944) Vereda Marisa Rezende pertence à geração de compositores para a qual discussões ainda vivas sobre os rumos da música no Brasil se tornavam cada vez mais desgastadas. Distante das ideologias e mestre nas conciliações, ela soube dar atenção a estímulos diversos, sem exageros nesta ou naquela direção, e também sem preconceitos. Quem começa a perceber em suas criações a presença traiçoeira de tradições diversas é logo surpreendido por um jogo de efeitos de timbre, texturas e construções dissonantes que lhe dão um lugar muito particular na criação contemporânea brasileira.

foto | Rafael Motta

Nasce no Rio de Janeiro, onde, como pianista, pratica desde cedo sobretudo o repertório romântico. Daí derivam muitas das estruturas presentes em sua música. Segue para o Recife e desperta definitivamente para a composição musical. Nos Estados Unidos dá continuidade à sua formação instrumental e fixa sua preferência pela criação. De volta ao Rio, transforma discretamente a antiga Escola Nacional de Música – hoje parte da UFRJ – num centro heterogêneo de produção musical: cria o Grupo Música Nova, que realiza inúmeras estreias em festivais, estimula a criação do curso de música eletroacústica e forma grande parte dos compositores cariocas que hoje circulam tanto pela música popular quanto pelos laboratórios de criação do país. Sua produção recente é camerística e vocal – encomendas de grupos de todo o país, com repetidas reapresentações a cada reunião dos compositores mais ativos do momento. Contrastes para piano solo, de 2001, talvez seja a composição que ilustra melhor uma marca atual de seu processo composicional. Uma célula mínima, já em si mesma carregada de forte conteúdo emocional, é submetida à presença de configurações variadas que exigem constante reação do compositor (e do intérprete) na

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maneira de conduzi-las e dissipá-las rapidamente; o discurso se abre em ramificações diversificadas, em momentos de expressividades nem sempre unitárias... Em Vereda manifesta-se essa mesma ideia da composição musical: um conjunto restrito de sons articulados em formas compactas, ou habilmente segmentadas, predomina sejam quais forem os recursos de textura empregados. Um único intervalo é articulado obsessivamente, mantendo suspensa muitas vezes a realização do fragmento melódico completo. As formas de acompanhamento transitam da transparência tonal e rarefeita ao emprego de blocos dissonantes derivados sempre das mesmas harmonias. Esses sons estão associados a uma constante rítmica que sugere as várias facetas da valsa, em diferentes níveis de construção e percepção. Esse ritmo torna-se a razão de derivações para o emprego ritualístico e estático da percussão, para gestos eloquentes e sequências direcionadas à máxima densidade. A textura orquestral, segundo a autora, “passa por transformações frequentes e desassossegadas – no plano simbólico: um percurso entregue a divagações, sonhos... e conflitos.” Marcos Branda Lacerda Musicólogo, professor da USP

Texto originalmente elaborado para a edição de agosto/2003 do Programa de Concerto da Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo.

PARA OUVIR_ CD Marisa Rezende: música de câmera – LAMI/USP – 2003 Três Canções sobre poemas de Fernando Pessoa CD A voz da Tília – Jane Davidson, Graça Motta, Kathy Dyson – Soundingbodies, 2002 Ginga para conjunto misto de câmera – CD Grupo Música Nova – TOMSOM/UFRJ, 1998

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A primeira surpresa que a obra nos causa é a supressão das cordas da orquestra. Apenas os contrabaixos permanecem. A escrita para o piano é extremamente percussiva, em contraste com a sonoridade contínua dos sopros.

Igor STRAVINSKY (Rússia, 1882 – EUA, 1971) Concerto para piano e sopros Em 1922, Stravinsky vivia em Biarritz com a mãe, a esposa e quatro filhos e viajava constantemente a Paris, onde mantinha um estúdio sobre a fábrica de pianolas Pleyel. O número de pessoas que viviam sob seu teto era muito grande e ele não queria repetir os anos amargos da Primeira Guerra, quando tinha de recorrer aos amigos para sustentar a família. Sentiu que era hora de diversificar suas fontes de renda. Embora tivesse assinado lucrativo contrato com a Maison Pleyel para transcrever suas músicas para pianola, até então ele vivera, basicamente, dos royalties de suas obras. Desta vez, se não encontrasse algo a mais para fazer, poderia, no futuro, vir a sofrer a mesma sorte dos duros anos da Guerra. A primeira saída foi a regência; a segunda, a execução de suas obras ao piano. Seu début como regente deu-se em outubro de 1923, na estreia do Octeto. Impressionado com o sucesso da obra, Koussevitzky o convidou a compor uma nova peça para 1924. Começava a composição do Concerto para piano e sopros. Durante visita a Biarritz, Koussevitzky propôs a Stravinsky que tocasse a parte do piano na estreia. Esse Concerto foi, assim, a primeira de uma série de peças para piano, com ou sem acompanhamento, que Stravinsky comporia para seu próprio uso. A composição ficou pronta em 21 de abril de 1924. A estreia, em 22 de maio, na Ópera de Paris, com regência de Koussevitzky, lançou Stravinsky como pianista concertista. Ele deteve os direitos de exclusividade de performance por cinco anos e executou o Concerto mais de quarenta vezes em público. A primeira surpresa que a obra nos causa é a supressão das cordas da orquestra. Apenas os contrabaixos permanecem. A escrita para o piano é extremamente percussiva, em contraste com a sonoridade contínua dos sopros. Se a Sinfonia para instrumentos de sopros (1920) marca o fim da fase russa, o Concerto para piano e sopros está entre suas primeiras obras neoclássicas, ao lado da ópera

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Mavra (1922), o Octeto (1923), Sonata para piano (1924) e Serenata para piano (1925). No Concerto para piano e sopros percebe-se a utilização consciente de material musical à moda de Bach e Haendel. Stravinsky, no entanto, procede de acordo com seu próprio espírito, de tal modo que o resultado sonoro é sempre stravinskiano, nunca bachiano ou haendeliano. O primeiro movimento tem uma introdução lenta nos sopros que lembra a abertura francesa barroca. Com a entrada do piano surge uma vibrante toccata que desembocará, mais tarde, em fragmentos da introdução. O segundo movimento inicia-se com um tema lírico ao piano, respondido, volta e meia, pela orquestra. Após breve cadência do piano, orquestra e solista seguem se alternando. No terceiro movimento, tem lugar nova toccata. Ao final, trechos da introdução do primeiro movimento se desmancham em brevíssima pausa quando, de repente, espetacular irrupção de todos os instrumentos conduz ao final da obra. Guilherme Nascimento Doutor em Composição, professor de Música da UEMG e da Fundação de Educação Artística, autor do livro Música menor.

PARA OUVIR_ CD Stravinsky – Symphony of Psalms, Concerto for piano & Wind instruments, Pulcinella suite – New York Philharmonic Orchestra – Leonard Bernstein, regente – Seymour Lipkin, piano – Sony Classical, 1993 PARA LER_ Stravinsky – Eric W. White & Jeremy Noble – Porto Alegre, L&PM, 1991 Stravinsky: Crônica de uma Amizade – Robert Craft – São Paulo, Difel, 2002 PARA VISITAR_ Igor Stravinsky Foundation – http://www.fondation-igor-stravinsky.org/web PARA ASSISTIR_ Filme Coco Chanel & Igor Stravinsky – Eurowide Film Production / Hexagon Pictures – Jan Kounen, diretor – França – 2009

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Em seus últimos anos, César Franck dedicava-se cada vez a um gênero, para nele lapidar uma obra-prima. Assim surgiu a Sinfonia, obra que marca um ponto culminante na renovação da música orquestral francesa do final do século XIX.

César FRANCK (Bélgica, 1822 – França, 1890) Sinfonia em ré menor César Franck mudou-se para Paris, aos onze anos, levado pelo pai, que queria fazer do talentoso filho um grande pianista. Tímido, retraído, avesso aos palcos, o menino descobriu seu verdadeiro instrumento ao frequentar as classes de órgão no Conservatório. Como organista de igreja, César Franck levava uma vida metódica. Profundamente religioso, exercia seu trabalho como uma missão; dava aulas particulares e compunha regularmente, sobretudo obras corais e peças para o órgão, transformado em seu confidente cotidiano. Aceitou com imensa satisfação o cargo de organista titular da igreja de Sainte-Clotilde, onde um instrumento maravilhoso, recentemente construído, correspondia à sua inigualável mestria de intérprete e improvisador. O reconhecimento público traduzia-se na gratidão dos fiéis e dos músicos que frequentavam a igreja para ouvi-lo. Entre eles, Franz Liszt, para quem as obras organísticas de Franck poderiam colocar-se ao lado das de Bach. A influência de Liszt foi preponderante para César Franck, principalmente para a elaboração da forma “cíclica”, presente em todas suas obras-primas finais. As preferências afetivas e modelares do compositor belga sempre foram Bach e Beethoven, mas ele soube contemporizá-los, de maneira muito pessoal, com seu gosto pelo cromatismo e pelas modulações incessantes. Aos cinquenta anos, César Franck foi nomeado professor de órgão pelo Conservatório de Paris. Sob o pretexto de ensinar o instrumento, suas aulas transformaram-se em verdadeiras classes de composição para uma geração de alunos que o adoravam – Duparc, d’indy, Ropartz, Chausson, Pierné, Lekeu. Era o começo de um reconhecimento tardio e que só se consolidou após sua morte. César Franck, por longo tempo condenado à obscuridade, habituara-se a longas reflexões; tornou-se extremamente meditativo, meticuloso e exigente como compositor. Em seus últimos anos, dedicava-se de cada vez

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a um gênero, para nele lapidar apenas uma e definitiva obra-prima. Assim surgiram o Quinteto para piano e cordas (1879), as Variações sinfônicas (1885) o Quarteto em Ré maior (1889), o Prelúdio, coral e fuga (1884), a Sonata para violino e piano (1886) e a Sinfonia em ré menor (1888). A importância histórica dessas obras é enorme – elas foram decisivas para a mudança do cenário musical parisiense, indiferente ou até hostil à música instrumental sinfônica e camerística. A Sinfonia de César Franck marca um ponto culminante na renovação da música orquestral francesa do final do século XIX. Foi elaborada dentro dos princípios “cíclicos” – a semelhança entre os elementos básicos (motivos intervalares e rítmicos) dos temas de todos os movimentos cria uma sintonia entre as seções, dando maior unidade à composição. O primeiro movimento, Lento – Allegro non troppo, inicia-se com a apresentação, nas cordas graves, de um dos temas-chave da obra, em ré menor, sombrio e interrogativo. Um crescendo conduz ao Allegro non troppo. Há uma repetição de todo o material, mas em outro tom, fá menor. Na sequência dessa reprise, os violinos e as madeiras agudas apresentam um dos temas mais marcantes da Sinfonia e que se convencionou chamar Motivo da Fé. O desenvolvimento combina os vários temas, alternados, modulados, modificados. Note-se a volta do tema lento em cânone nos instrumentos de sopro. A reexposição termina com um coral e se liga à coda que, condensando os principais motivos, conclui o movimento de maneira apoteótica. Ao longo do segundo movimento, Allegretto, o andamento mantémse inalterado, mas apresenta um duplo caráter, de forma a cumprir o papel do andante e do scherzo das sinfonias clássicas. Sobre essas duas seções, absolutamente simétricas quanto ao número de compassos, sobrepõe-se o maravilhoso canto confiado ao corne-inglês, em clima de intensa poesia. O terceiro movimento, seguindo o princípio cíclico, recapitula as ideias dos movimentos precedentes, enquanto introduz seus novos temas, fazendo uma síntese de toda a composição. A rica orquestração e a tonalidade de Ré maior levam a uma conclusão grandiosa, repleta de alegria. Paulo Sérgio Malheiros dos Santos

PARA OUVIR_ CD César Franck – Symphony in D minor – Royal Philharmonic Orchestra – Raymond Leppard, regente – Edição brasileira: SUM Records, 1955

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foto | Rafael Motta

Pianista, Doutor em Letras, professor de Música da UEMG, autor do livro Músico, doce músico.

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PARA APRECIAR UM

CONCERTO Silêncio

Programa

Em uma sala de concerto, o silêncio é fundamental para que você possa ouvir cada detalhe da música. Ruídos incomodam e dificultam a apreciação das obras e a concentração dos músicos.

A leitura do programa oferece uma oportunidade de conhecer um pouco mais sobre a música, os compositores e os intérpretes que se apresentam. Ele será seu guia para a boa compreensão das obras executadas. Você também poderá consultá-lo no site antes de vir para o concerto.

Aparelhos eletrônicos O celular perturba o silêncio necessário à apreciação do concerto. Tenha certeza de que o seu está desligado.

Aplausos O aplauso é o elogio da plateia. E, como todo elogio, faz toda a diferença usá-lo na hora certa. É tradição na música clássica aplaudir apenas no final das obras, que, muitas vezes, se compõem de duas, três ou mais partes. Quando uma dessas partes termina, não significa que a música chegou ao fim. Consulte o programa para saber o número de movimentos e o final de cada obra e fique de olho na atitude e gestos do regente e dos músicos.

Tosse Tosse chama a atenção. Como um apreciador da música, você não vai querer desviar os olhares para sua direção. Por isso, se estiver com tosse, experimente tomar uma pastilha antes do concerto e aliviar alguma irritação na garganta antes de entrar na sala e durante os intervalos.

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Pontualidade Atraso e procura de lugares As portas do Grande Teatro são fechadas após o terceiro sinal. Depois do início da apresentação, a entrada só é permitida em momentos que não interrompam o concerto. Quando você puder entrar, escolha silenciosamente um lugar vago ao fundo da sala. Evite andar e trocar de poltrona durante a execução das músicas. Se tiver de sair antes do final da apresentação, aguarde o término de uma peça.

Outras recomendações Crianças Se você estiver com crianças muito novas, prefira os assentos próximos aos corredores. Assim, você consegue sair rapidamente se a criança se sentir desconfortável. Registros Fotos e gravações em áudio e vídeo não são permitidos. Aproveite o concerto ao vivo.

Comidas e bebidas O consumo de comidas e bebidas não é permitido no interior da sala de concerto.

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SÉRIES E OUTROS

Concertos Qual a diferença entre Orquestra Sinfônica e Orquestra Filarmônica? Não existe diferença entre uma orquestra e outra se a dúvida é sobre seu tamanho ou composições que cada uma pode tocar. Uma orquestra pode ser de câmara se tem um número pequeno de instrumentos, mas, se for completa, com todas as famílias de instrumentos, ela será sinfônica ou filarmônica. Esses prefixos serviram, durante muitos anos, para designar a natureza da orquestra, se “pública” ou “privada”. Isso porque se convencionou chamar de filarmônica a orquestra mantida por uma sociedade de amigos admiradores da música, enquanto sinfônica era a orquestra mantida pelo Estado. Hoje não se pode mais fazer essa distinção, seja no Brasil ou em outros países, já que ambas dependem do auxílio tanto da iniciativa privada como dos governos. Originalmente, a palavra orquestra vem do grego para se referir a um grupo de instrumentistas tocando juntos. Sinfônico quer dizer “em harmonia” e filarmônico, “amigo da harmonia”. Uma orquestra filarmônica é, portanto, sinfônica, pois seus músicos devem tocar em harmonia e ser capazes de executar as composições sinfônicas criadas pelos compositores de todos os períodos da música clássica, especialmente as mais complexas, a partir do século XIX. Queremos que a nova orquestra de Minas seja de todos nós, amigos da harmonia, o que motivou a escolha do nome Orquestra Filarmônica de Minas Gerais.

Allegro e Vivace São séries realizadas em noites de terça (Vivace) e quinta-feira (Allegro), no Grande Teatro do Palácio das Artes. Ambas apresentam repertório que inclui sinfonias e outras músicas de diferentes períodos históricos, trazendo frequentemente obras pouco conhecidas e inéditas, com a presença de convidados de renome internacional.

Concertos para a Juventude A iniciativa recupera a tradição de concertos sinfônicos nas manhãs de domingo, dedicados à família. As apresentações têm ingressos a preços populares e contam com a participação de jovens solistas.

Clássicos no Parque Com um repertório que abrange música sinfônica diversificada, os concertos proporcionam momentos de descontração e entretenimento a um público amplo e heterogêneo. Realizados aos domingos, nos parques da cidade.

Concertos Didáticos São concertos de caráter didático, com entrada franca, para grupos de crianças e jovens da rede escolar pública e particular, instituições sociais e universidades. Além de apreciar a boa música, o público recebe informações sobre a orquestra, os instrumentos e as diversas formas musicais.

Festivais São eventos idealizados para oferecer ao público experiências musicais específicas. O Festival Tinta Fresca procura identificar e promover novos compositores mineiros ou residentes no estado. O Laboratório de Regência tem por finalidade dar oportunidade a jovens regentes brasileiros, de comprovada experiência, de desenvolver, na prática, a habilidade de lidar com uma orquestra profissional.

Turnês Estaduais As turnês estaduais levam a música de concerto a diferentes regiões de Minas Gerais, possibilitando que novos públicos tenham o contato direto com música sinfônica de excelência.

Turnês Nacionais A Orquestra Filarmônica de Minas Gerais percorre importantes regiões e centros culturais do Brasil, a fim de divulgar a boa música e representar o estado no cenário nacional erudito. 32

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PRÓXIMOS

Concertos ABRIL

Vitória 7 de abril, quinta-feira, 20h30, Teatro Carlos Gomes Fabio Mechetti regência Nicolas Koeckert violino KATCHATURIAN / LISZT / KODÁLY

Série Allegro 14 de abril, quinta-feira, 20h30, Palácio das Artes Ligia Amadio regente convidada Fábio Caramuru piano RESENDE/STRAVINSKY / FRANCK

Clássicos no Parque 17 de abril, domingo, 11h, Parque Lagoa do Nado Marcos Arakaki regência SHOSTAKOVICH / J. STRAUSS / KODÁLY / VERDI / TCHAIKOVSKY / CARLOS GOMES

Inauguração Sesc Palladium 27 de abril, quarta-feira, 20h30, Sesc Palladium Marcos Arakaki regência SHOSTAKOVICH / KODÁLY VERDI / TCHAIKOVSKY / CARLOS GOMES

MAIO

Clássicos no Parque 1 de maio, domingo, 11h, Praça Marechal Deodoro Marcos Arakaki regência SHOSTAKOVICH/J. STRAUSS / KODÁLY / VERDI / TCHAIKOVSKY / CARLOS GOMES

Série Vivace 3 de maio, terça-feira, 20h30, Palácio das Artes Marcos Arakaki regência Cássia Renata Lima flauta MOZART / NIELSEN / VILLA-LOBOS

Concertos para a Juventude 8 de maio, domingo, 11h, Sesc Palladium Marcos Arakaki, regência Djavan Caetano, violino RAVEL / SAINT-SAËNS / VILLA-LOBOS / J. STRAUSS

Turnê Estadual 12 a 14 de maio Ipatinga, Governador Valadares e Teófilo Otoni Marcos Arakaki regência CIRO PEREIRA / J. STRAUSS / CARLOS GOMES / MASCAGNI DVORÁK / BRAHMS / BORODIN

Série Allegro 19 de maio, quinta-feira, 20h30, Palácio das Artes Fabio Mechetti regência Daniel Binelli bandoneon

foto | Rafael Motta

SCHUMANN / PIAZZOLLA / R. STRAUSS

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Turnê Estadual 25 a 28 de maio Montes Claros e região Marcos Arakaki regência CIRO PEREIRA / J. STRAUSS / CARLOS GOMES / MASCAGNI / DVORÁK / BRAHMS / BORODIN

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ORQUESTRA FILARMÔNICA DE MINAS GERAIS | Abril | 2011 Primeiros Violinos

Anthony Flint spalla

Eliseu Martins de Barros concertino

Rommel Fernandes assistente de spalla

Arthur Vieira Terto Bojana Pantovic Leonidas Cáceres Carreño Luis Felipe Damiani Marcio Cecconello Martha de Moura Pacífico Mateus Freire Patrick Desrosiers Rodolfo Marques Toffolo Rodrigo de Oliveira Sandra Aquino **** Segundos Violinos

Frank Haemmer * Jovana Trifunovic ** Eri Lou Miyake Nogueira Gláucia de Andrade Borges José Augusto de Almeida Leonardo Ottoni Luka Milanovic Marija Mihajlovic Radmila Bocev Tiago Ellwanger Valentina Gostilovitch Violas

João Carlos Ferreira * Nathan Medina *** Bruno Leandro da Silva Cleusa de Sana Nébias Glaúcia Martins de Barros Marcelo Nébias Katarzyna Druzd Vitaliya Martsinkevich William Martins Gilberto Paganini **** Violoncelos

Elise Pittenger *** Camila Pacífico

Fabio Mechetti

REGENTE ASSISTENTE

Lina Radovanovic Matthew Ryan-Kelzenberg Pedro Bielschowsky Felipe Aquino **** Gretel Paganini **** Sueldo Nascimento Francisco****

Marcos Arakaki

Trombones

Mark John Mulley * Wagner Mayer ** Renato Lisboa

PatrocÍNIO

Tuba

Eleilton Cruz * Tímpanos

Contrabaixos

Colin Chatfield * Mark Wallace ** Brian Fountain Hector Manuel Espinosa Marcelo Cunha Nilson Bellotto Valdir Claudino Flautas

Cássia Renata Lima* Renata Xavier ** Alexandre Braga Oboés

Alexandre Barros * Ravi Shankar ** Moisés Pena Clarinetes

Dominic Desautels * Marcus Julius Lander ** Ney Campos Franco

Ambjorn Lebech * Percussão

Daniel Lemos ** Werner Silveira Sérgio Aluotto Harpa

Mareike Burdinski * Ayumi Shigeta * Gerente da Orquestra

Jussan Fernandes Inspetora da Orquestra

Karolina Cordeiro Assistente Administrativo da Orquestra

Débora Vieira Arquivista

Vanderlei Miranda

Fagotes

Assistentes de Arquivista

Catherine Carignan * Laurence Messier ** Raquel Carneiro Ariana Pedrosa

Klênio Carvalho Sergio Almeida

Trompas

Evgueni Gerassimov * Ailton Ramez Ferreira Gustavo Garcia Trindade ** José Francisco dos Santos

Apoio Cultural

Teclados

Supervisor de Montagem

Rodrigo Castro MONTADORES

Carlos Natanael Felix de Senna Matheus Luiz Ferreira

Trompetes

Marlon Humphreys * Erico Oliveira Fonseca ** Daniel Leal

*chefe de naipe **assistente de chefe de naipe ***chefe/assistente substituto ****músico convidado

DIRETOR ARTÍSTICO e REGENTE TITULAR

Divulgação

APOIO INSTITUCIONAL

Instituto Cultural Filarmônica Diretoria Executiva Diretor Presidente

Diomar Silveira

Diretor Administrativo-financeiro

Tiago Cacique Moraes

Diretor de Comunicação

Fernando Lara

Diretor de produçÃO MUSICAL

Richard Santana

Diretor de Projetos E Marketing

Thiago Nagib

Equipe Técnica

Produtora

Equipe Administrativa

Analista de Comunicação Pleno

Quézia Macedo Silva

Analista de Comunicação Pleno

Thais Boaventura

Carolina Debrot

Analista de Recursos Humanos Sênior

Andréa Mendes

Analista Financeiro Sênior

Marcela Dantés

AnalISTA ADMINISTRATIVO Sênior

Analista de Marketing de Relacionamento Pleno

Mônica Moreira

Analista de Marketing e Projetos Pleno

Mariana Theodorica

Assistente de Comunicação

Pedro Leone

Gerente de Produção Musical

Assistente de Programação Musical

Gerente de Comunicação

Estagiário

Claudia Guimarães

Merrina Godinho Delgado

REALIZAÇÃO

Francisco César Araújo

Marcos Sarieddine

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Eliana Salazar

Secretária Executiva

Flaviana Mendes

AuxiliarES AdministrativoS

Vivian Figueiredo e Cristiane Reis

Auxiliar de Serviços Gerais

Lizonete Prates Siqueira Mensageiros

Lucas Barbosa e João Paulo de Oliveira ESTAGIÁRIO

Alexandre Moreira

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