NOVEMBRO 2011
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Ministério da Cultura apresenta PATrOCÍNIO
Caros amigos e amigas, Dois dos maiores nomes da música brasileira de hoje estarão se apresentando com a Filarmônica no mês de setembro. O retorno do grande pianista Arnaldo Cohen é sempre festejado e desta vez não será diferente, especialmente pela execução de um dos mais importantes concertos brasileiros escritos para o piano, o APOIO CulTurAl Concerto em formas brasileiras de Hekel Tavares. Encerrando esse programa a Filarmônica executa uma das mais belas sinfonias do Romantismo tardio, a Segunda de Rachmaninoff. Não só os mineiros terão a oportunidade de desfrutar desse concerto, pois, DIVulgAçãO logo em seguida, mostraremos nosso trabalho a várias cidades do Brasil, realizando uma série de concertos em Porto Alegre, Florianópolis, Blumenau, Curitiba, Londrina e Paulínia.
séRiEs allEgRO E ViVacE
NOVEMBRO 2011 A música sinfônica está em toda parte. Ela é presente não só na vida dos apaixonados por essa arte, como também no dia a dia de quem ainda não se sente íntimo dela. Você pode não ter percebido, mas a música sinfônica está no cinema antigo, no cinema contemporâneo, nas animações, nos comerciais de TV, nas discotecas dos anos 1970, em novelas, nas artes plásticas e até nos toques de aparelhos celulares do mundo todo. Em 2011, os cadernos das séries Allegro e Vivace vão recordar esses momentos e lugares inesperados em que a música sinfônica se apresenta para todos, mesmo aqueles que não costumam frequentar as salas de concerto. Assim, convidamos você a sempre voltar a esta sala, onde poderá sentir a força e a sutileza de obras criadas em períodos diferentes, conhecer compositores geniais e intérpretes que emocionam. São grandes as chances de você também se apaixonar. Os ritmos ouvidos nas ruas foram inspiração para inúmeros compositores ao longo dos tempos. Famosa por suas máscaras e fantasias exuberantes, a festa popular da cidade italiana de Veneza não ficou de fora, e o tema folclórico Carnaval de Veneza correu mundo com as variações para trompete criadas pelo músico francês Jean-Baptiste Arban.
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Já em fins de setembro receberemos a visita uma vez mais do maestro Isaac Karabtchevsky interpretando a famosa e admirada APOIO INSTITuCIONAl Sinfonia do Novo Mundo de Antonin Dvorák. Nesse programa subirá também ao palco um dos maiores virtuoses de instrumentos de sopro: o trompetista russo Sergei Nakariakov. Será certamente um concerto lembrado por muito tempo e, assim, espero que vocês venham nos prestigiar. Também no fim do mês de setembro anunciaremos com muito entusiasmo e alegria a Temporada 2012, celebrando o quinto rEAlIZAçãO aniversário deste projeto cultural que vem encantando os mineiros e o Brasil. Convido todos vocês a analisarem a programação para o próximo ano e renovarem suas assinaturas para que não percam um só momento de nossos concertos. Muito obrigado e bom concerto,
Fabio Mechetti
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Fabio Mechetti Diretor Artístico e Regente Titular Orquestra Filarmônica de Minas Gerais
Natural de São Paulo, Fabio Mechetti é Regente Titular e Diretor Artístico da Orquestra Sinfônica de Jacksonville desde 1999. Foi também Regente Titular da Orquestra Sinfônica de Syracuse e da Orquestra Sinfônica de Spokane, da qual é, agora, Regente Emérito. Desde 2008 é Diretor Artístico e Regente Titular da Orquestra Filarmônica de Minas Gerais, trabalho que lhe deu o XII Prêmio Carlos Gomes na categoria Melhor Regente brasileiro em 2008. Foi regente associado de Mstislav Rostropovich na Orquestra Sinfônica Nacional de Washington e com ela dirigiu concertos no Kennedy Center e no Capitólio norte-americano. Da Orquestra Sinfônica de San Diego foi Regente Residente. Fez sua estreia no Carnegie Hall de Nova York conduzindo a Orquestra Sinfônica de Nova Jersey e tem dirigido inúmeras orquestras norte-americanas, como as de Seattle, Buffalo, Utah, Rochester, Phoenix, Columbus, entre outras. É convidado frequente dos festivais de verão nos Estados Unidos, entre eles os de Grant Park em Chicago e Chautauqua em Nova York. Realizou diversos concertos no México, Espanha e Venezuela. No Japão dirigiu as Orquestras Sinfônicas de Tóquio, Sapporo e Hiroshima. Regeu também a Orquestra Sinfônica da BBC da Escócia, a Filarmônica de Auckland, Nova Zelândia, e a Orquestra Sinfônica de Quebec, Canadá. Vencedor do Concurso Internacional de Regência Nicolai Malko, na Dinamarca, Mechetti dirige regularmente na Escandinávia, particularmente a Orquestra da Rádio Dinamarquesa e a de Helsingborg, Suécia. Recentemente fez sua estreia na Finlândia dirigindo a Filarmônica de Tampere, com a qual voltará a realizar uma série de concertos em 2011. No Brasil foi convidado a dirigir a Sinfônica Brasileira, a Estadual de São Paulo, as orquestras de Porto Alegre e Brasília e as municipais de São Paulo e do Rio de Janeiro. Trabalhou com artistas como Alicia de Larrocha, Thomas Hampson, Frederica von Stade, Arnaldo Cohen, Nelson Freire, Emanuel Ax, Gil Shaham, Midori, Evelyn Glennie, Kathleen Battle, entre outros.
foto | André Fossati
Igualmente aclamado como regente de ópera, estreou nos Estados Unidos dirigindo a Ópera de Washington. No seu repertório destacam-se produções de Tosca, Turandot, Carmen, Don Giovanni, Cosi fan Tutte, Bohème, Butterfly, Barbeiro de Sevilha, La Traviata e As Alegres Comadres de Windsor. Fabio Mechetti recebeu títulos de Mestrado em Regência e em Composição pela prestigiosa Juilliard School de Nova York.
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sÉRIE ALLEGRO 10 de novembro 20h30 GRANDE TEATRO DO PALÁCIO DAS ARTES
Fabio Mechetti regente Celina Szrvinsk piano Miguel Rosselini piano Programa Henri DUTILLEUX Timbres, Espaço, Movimento (1978) [20 min] Francis POULENC (França, 1899 – 1963) Concerto para dois pianos e orquestra em ré menor (1932) [20 min] I. Allegro ma non troppo II. Larghetto III. Finale Solistas: Celina Szrvinsk e Miguel Rosselini INTERVALO Johannes BRAHMS Sinfonia nº 4 em mi menor, op. 98 (1885) [35 min] I. Allegro non troppo II. Andante moderato III. Allegro giocoso IV. Allegro energico e passionato
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CELINA Szrvinsk piano
Arnaldo Cohen foi o único aluno, na história da universidade brasileira, a graduar-se com grau máximo em piano e violino pela Escola de Música da UFRJ. Teve no grande pianista brasileiro Jacques Klein seu principal mestre. Cohen conquistou por unanimidade o 1º Prêmio no Concurso Internacional Busoni, na Itália e, desde então, apresentou-se em mais de dois mil concertos pelo mundo, como solista das mais importantes orquestras do mundo. A BBC Magazine definiu-o como um “raro fenômeno”. Para o selo sueco BIS, Cohen gravou um CD dedicado inteiramente à música brasileira e, sobre essa gravação, o crítico do jornal inglês The Times escreveu: “Cohen é possuidor de uma técnica extraordinária e capaz de chamuscar as teclas do piano ou derreter nossos corações”.
Cohen é um dos melhores pianistas não só do nosso tempo, mas de todos os tempos. Steve Wigler, Baltimore
Em 2006, a revista Gramophone escolheu a gravação de Cohen para o selo BIS, com obras de Liszt, para integrar a prestigiosa e seleta lista do “Editor’s Choice” e justificou: “Sua interpretação de Liszt não fica nada a dever à famosa gravação feita por Horowitz, tanto em cores como em temperamento. Sua maturidade musical e virtuosidade estonteante o colocam na mesma categoria de Richter. A mesma Gramophone não poupou elogios ao CD de Cohen, que acaba de ser lançado, como solista da Orquestra Sinfônica de São Paulo (Osesp), regida por John Neschling. Sobre a execução dos dois concertos de Liszt e a Totentanz, o crítico Jeremy Nicholas resumiu: “difícil de superar”. Após viver mais de vinte anos em Londres, Cohen transferiu-se para os Estados Unidos em 2004, tornando-se o primeiro músico brasileiro a assumir uma cátedra vitalícia na Escola de Música da Universidade de Indiana. Na Inglaterra, Cohen lecionou na Royal Academy of Music e no Royal Northern College of Music, onde recebeu o título de Fellow Honoris Causa. Seu interesse pela vida acadêmica levou-o a participar, como jurado, de vários concursos internacionais, como o Concurso Chopin, em Varsóvia. Os destaques da última temporada incluem apresentações de Cohen como solista das orquestras, entre outras, de Cleveland, Filadélfia, Los Angeles e Seattle. Em dezembro de 2006, o crítico Steve Smith, do The New York Times, definiu a arte de Cohen: “Com uma técnica infalível, sua performance foi um modelo de equilíbrio e de imaginação.”
foto | Divulgação
Yehudi Menuhin, um dos mais importantes músicos do século XX, foi mais longe: “Arnaldo Cohen é um dos mais extraordinários pianistas que já ouvi”.
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Apesar do sucesso do Concerto, Hekel Tavares é discriminado por compositores acadêmicos e parte da crítica, devido à sua formação informal e linguagem híbrida, entre o popular e o erudito.
Henri DUTILLEUX (França, 1916) Timbres, Espace, Mouvement ou La Nuit Étoillée
foto | Rafael Motta ilustrações compositores | Mariana Simões
Incentivado pelo avô materno, organista e professor de música, Dutilleux, aos dezessete anos, ingressou no Conservatório de Paris, onde obteve os primeiros prêmios de Harmonia, Contraponto e Fuga. Estudioso da obra de Roussel, Webern, Bartók e Stravinsky, como compositor cultivou grande liberdade criativa, evitando ligar-se a uma corrente estética determinada. Em 1945, foi nomeado diretor responsável pelas Ilustrações Musicais da Radiodiffusion Française, cargo que ocupou até 1963 e que lhe permitiu um convívio enriquecedor com diversas tendências artísticas. Dutilleux lecionou Composição na École Normale de Musique (1961) a convite de Alfred Cortot e, entre 1970 e 1984, no Conservatório de Paris. Em 2005, aos 89 anos, tornou-se o terceiro compositor francês (depois de Olivier Messiaen e Pierre Boulez) a receber o cobiçado prêmio Ernst von Siemens, pelo conjunto de sua obra. Não especialmente vultosa, mas constante e de qualidade excepcional, a produção de Dutilleux suscitou recepção calorosa, tanto da crítica mais tradicionalista como das vanguardas, impondo-se entre as principais da música contemporânea. Sua música concilia duas principais tendências – de um lado, a liberdade de expressão, a grande curiosidade pelo inusitado e a primazia da emoção; de outro, a disposição ao “formalismo”, entendido como a preocupação de inserir o pensamento musical em uma estrutura bem definida, ainda que repudiando qualquer organização pré-fabricada. No plano técnico, o compositor ressalta, segundo suas próprias palavras, “a necessidade absoluta da escolha e da economia dos meios, sempre visando o que se pode chamar a Alegria do Som”. Timbres, espace, mouvement (dedicada à memória de Charles Münch, um dos grandes divulgadores da obra de Dutilleux) foi encomendada por Mstislav Rostropovitch, que a estreou em 7 de novembro de 1978, como regente da National Symphony Orchestra de Washing-
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ton. O subtítulo “A noite estrelada” refere-se ao famoso quadro homônimo de van Gogh – uma paisagem agitada por um torvelinho cósmico –, cuja contemplação serviu de fonte poética à partitura. Avesso a qualquer vestígio de “mensagem” ou “programa” musicais, o compositor não tentou absolutamente reproduzir sonoramente o quadro, “apenas reviver e prolongar suas ressonâncias oníricas”. Dutilleux submeteu-se ao fascínio dessa pintura visionária da Natureza, evocando-o pela formulação de uma matéria sonora inusitada, de efeito quase imaterial. O Timbre ressalta pela oposição entre os registros extremos da orquestra, dividida em dois grupos instrumentais – uma seção grave das cordas (utilizando unicamente os violoncelos e os contrabaixos) contrasta com um conjunto brilhante das madeiras, metais e percussão. A luminosidade resplandecente dos sopros se espelha nas cordas soturnas, e os jogos sonoros resultantes da singular orquestração unificam as duas partes desse díptico sinfônico, compondo uma trama musical ao mesmo tempo estática e fluida. Estática é, por exemplo, na primeira peça, a noção de Espaço infinito, inalterável (demarcado visualmente pela disposição dos violoncelos, em semicírculo ao redor do maestro). E fluido apresenta-se, sobretudo, o Movimento que domina a parte final da obra, lembrando o pontilhismo amarelo das estrelas de van Gogh. Paulo Sérgio Malheiros dos Santos
Professor na Escola de Música da Universidade do Estado de Minas Gerais
PARA ouvir_ CD Rachmaninov: Symphonie nº 2 – Berliner Philharmoniker – Lorin Maazel, regente – Deutsche Grammophon – 1999
PARA LER_ Sergei Bertensson, Jay Leyda – Sergei Rachmaninoff: a lifetime in music – Bloomington – Indiana University Press – 2001 Max Harrison – Rachmaninoff: life, works, recordings – London – Continuum – 2007
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Apesar do sucesso do Concerto, Hekel Tavares é discriminado por compositores acadêmicos e parte da crítica, devido à sua formação informal e linguagem híbrida, entre o popular e o erudito.
Francis POULENC (França, 1899 – 1963) Concerto para dois pianos e orquestra em ré menor Um grupo de jovens compositores franceses – Louis Durey, Arthur Honegger, Darius Milhaud, Germaine Tailleferre, Georges Auric e Francis Poulenc – passa a ser conhecido no cenário musical francês, em 1920, como Les Six, o Grupo dos Seis, numa analogia com os compositores nacionalistas russos do Grupo dos Cinco. Apesar de poéticas singulares, eles se uniam em torno dos ideais apregoados no texto de Jean Cocteau O galo e o arlequim (1918) que propunha a liberação da música francesa da arte alemã, do wagnerianismo, de Debussy, a favor de uma música nova que extraísse seus temas e estímulos da vida cotidiana, música irônica, na contramão da grandiloquência e seriedade, uma música de um enfant terrible, que tinha em Erik Satie (1866-1925) seu principal modelo. O Grupo dos Seis não chegou a se desfazer, mas cada um dos compositores seguiu o próprio rumo. Honegger, Milhaud e Poulenc alcançaram maior visibilidade. Poulenc percorreu um caminho pouco convencional em seus estudos musicais, dividindo-se entre a carreira de intérprete e compositor. Viu-se obrigado a lidar com frequentes crises de depressão, consequência da morte prematura de amigos próximos e da relação conflituosa com sua homossexualidade. Todos esses desafios fizeram dele um compositor paradoxal, capaz de sintetizar em sua obra o religioso e o irônico. Claude Rostand disse que “em Poulenc há algo de monge e algo de malandro”. Estudou piano com Ricardo Viñes, grande pianista e professor que estreou obras do jovem autor e o apresentou a Auric, Satie e Falla. Em 1921 tomou aulas com Charles Koechlin, pois declarava ter composto até então segundo os ditames do instinto ao invés dos da inteligência. Seu primeiro grande sucesso de crítica foi o balé Les biches, em parceria com Diaghilev. No verão de 1932 Poulenc compõe o Concerto para dois pianos e orquestra em ré menor, por encomenda da princesa de Polignac,
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a quem é dedicado. A obra foi estreada no Festival Internacional de Música Contemporânea de Veneza e contou aos pianos com Poulenc e Jacques Février. Apresenta o ecletismo de inspiração cotidiana característico da ideologia do Grupo dos Seis, servindo-se do vaudeville, do circo, da jazz band e dos gamelões balineses que ouviu na Exposição Colonial de Paris de 1931. Suas duas veias composicionais, o irônico e o grave, entrecruzam-se nesta obra de três movimentos:
Apesar do sucesso do Concerto, Hekel Tavares é discriminado por compositores acadêmicos e parte da crítica, devido à sua formação informal e linguagem híbrida, entre o popular e o erudito.
1. Allegro: em forma ternária, foge da tradicional forma sonata dos primeiros movimentos. À seção inicial mais rítmica sucedem-se a seção intermediária – a partir de melodia lenta – e a seção dançante anunciada por castanholas, a qual encerra-se na misteriosa coda , cujo tema hipnótico lembra gamelões balineses.
Johannes BRAHMS
2. Larghetto: um melodioso andante, evocatório do famoso andante do Concerto para Piano K. 467 de Mozart, em que Poulenc, que dizia preferir Mozart a qualquer outro músico, faz jus à fama de ser o maior melodista francês desde Fauré. Segue-se uma parte central dançante e retorna-se ao andante.
Sinfonia nº 4 em mi menor, op. 98 (1885)
3. Finale: um rondó que emerge do music-hall, passeando por todo o ecletismo do modern style, com temas novos a quase cada trecho. A energia dos padrões rítmicos mantém a vivacidade do movimento que vai das orquestras de gamelão ao ambiente de jazz característico de Gershwin, explodindo numa pequena, vibrante e virtuosística coda. “Poulenc puro”, nas palavras do próprio Poulenc. Igor Reyner Pianista e mestrando em música pela UFMG.
PARA ouvir_ CD Rachmaninov: Symphonie nº 2 – Berliner Philharmoniker – Lorin Maazel, regente – Deutsche Grammophon – 1999
(Alemanha, 1833 – Áustria, 1897)
Apesar de compor sua primeira sinfonia apenas em 1876, aos 43 anos, Brahms escreveu suas sinfonias II, III e IV nos anos seguintes (1877, 1883 e 1885), sem grandes intervalos. Segundo palavras do compositor, a influência de Beethoven era ao mesmo tempo forte e temida: “Não tem ideia de como é difícil compor quando se ouvem as pegadas daquele gigante atrás de você”. A Sinfonia nº 4 representa o ápice da produção de Brahms no gênero. Destaca-se o Finale, em forma de Passacaglia – com um tema de oito compassos e 30 variações –, que talvez seja sua tentativa mais completa de sintetizar práticas de composição antigas e modernas. Ao contrário de diversos autores, Schoenberg sempre defendeu a importância da contribuição de Brahms para a modernidade. Apesar da diferença de seus estilos musicais, esses dois compositores mantiveram-se fiéis à essência da música de câmara e a algumas de suas técnicas compositivas – como a variação contínua de motivos e a diversidade nos modos de repetição das figuras – que permitiam construir uma espécie de “prosa musical” livre dos procedimentos tradicionais da quadratura métrica. Com relação à variação contínua, pode-se dizer que a música de Brahms é geralmente feita de ideias melódicas sucintas que começam a se transformar logo depois de apresentadas, sofrendo variações e elaborações do princípio ao fim, por vezes acompanhadas de mudanças tonais abruptas. I – Allegro non troppo
PARA LER_ Sergei Bertensson, Jay Leyda – Sergei Rachmaninoff: a lifetime in music – Bloomington – Indiana University Press – 2001 Max Harrison – Rachmaninoff: life, works, recordings – London – Continuum – 2007
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O primeiro movimento utiliza a forma sonata. Na sonata clássica ouvem-se, habitualmente, dois temas contrastantes em tonalidades diferentes. Em seguida, há uma seção de desenvolvimento, onde esses temas são variados, fragmentados e elaborados em diversas tonalidades. Na seção final os mesmos temas são reapresentados no tom principal. Apesar de se reconhecer esse esquema geral no
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primeiro movimento da Sinfonia nº 4, temos, ao invés de temas, aglomerados temáticos, ou seja, cada um dos temas tem diversas partes com características contrastantes. Há também uma grande fluência temporal, com figuras melódicas diferentes se sucedendo de maneira rápida e contínua. Entretanto, o retorno estratégico de alguns elementos centrais permite que a memória organize o passar do tempo, criando um percurso balizado por referências. Por sua vez, a variação do material musical que retorna associa-se a uma carga dramática, como se as forças de transformação do mesmo não atuassem apenas sobre o som, mas também sobre o sujeito que escuta. II – Andante moderato O segundo movimento inicia-se com uma melodia de caráter antigo e cerimonial. O tema é exposto por trompa e madeiras e, logo em seguida, retomado em outro tom por clarinetes acompanhados de pizzicato nas cordas. Esse tema é repetido diversas vezes, com pequenas variações. Na última apresentação, sofre uma metamorfose mais profunda no ritmo e na melodia. A orquestração é ampla e suave – o solo nos violinos, uma sustentação harmônica nas madeiras e arpejos em pizzicato nas demais cordas. Na breve transição para o segundo tema, ouve-se o diálogo entre naipes de sopros e cordas sobre uma figura melódica em tercinas. O segundo tema é um exemplo de melodia acompanhada, onde as partes do acompanhamento se movem com grande riqueza e independência melódica, apesar de estarem em plano secundário com relação à melodia principal, a cargo dos violoncelos e fagote. A prodigiosa imaginação formal de Brahms utiliza nesse tema a mesma figura melódica da transição, só que em ritmo muito mais lento, propondo, talvez, um reconhecimento de semelhança não inteiramente consciente por parte do ouvinte. Essa seção termina com grande transparência, com um motivo de duas notas alternando-se entre violino, flauta e viola, sem acompanhamento. Na sequência, os dois temas são reapresentados com diversas transformações na orquestração e com acréscimo de novos contracantos.
IV – Allegro energico e passionato Essa elegia solene é uma sequência de variações construída sobre um tema de Bach. Brahms organiza a forma definindo texturas polifônicas que se transformam a cada bloco de oito compassos. O tema passa por instrumentos diferentes, sofre deslocamentos rítmicos e é eventualmente submerso na textura devido à profusão das linhas melódicas que surgem. A estratégia do compositor para evitar a monotonia consiste, justamente, em deslocar a escuta para outros elementos da textura, construindo uma espécie de narrativa musical evolutiva, em contraposição ao retorno obstinado do mesmo tema em algum plano sonoro da orquestra. Na evolução do discurso musical, há momentos de grande delicadeza – quase como ilhas sonoras transparentes – que interrompem o crescendo dramático em direção ao final do movimento. A estreia da Sinfonia nº 4 deu-se em Meiningen, em 25 de outubro de 1885, com regência do próprio compositor. Rogério Vasconcelos
Professor na Escola de Música da Universidade Federal de Minas Gerais
III – Allegro giocoso O movimento, de caráter brilhante e festivo, incorpora contrafagote, flautim e triângulo à orquestra, expandindo a sonoridade dos graves e agudos. Os aglomerados temáticos são formados de diversos elementos que se sucedem de modo veloz e imprevisto. Há também uma seção de desenvolvimento, onde as figuras melódicas são transpostas em diversas tonalidades e submetidas a diálogos de grupos instrumentais diferentes. O movimento vertiginoso só se apazigua por um momento, na transição que precede a retomada do material inicial.
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PARA OUVIR_ CD Grandes Pianistas Brasileiros: Concerto em Formas Brasileiras – Orquestra Sinfônica Nacional – H. Tavares, regente – Souza Lima, piano – Gravado no Teatro Municipal do Rio de Janeiro – 1959
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sÉRIE VIVACE 22 de NOVEMBRO 20h30 GRANDE TEATRO DO PALÁCIO DAS ARTES
Stefan Sanderling regente convidado Anthony Flint violino João Carlos Ferreira viola Programa Wolfgang Amadeus MOZART La clemenza di Tito: Abertura (1791) [5 min] Wolfgang Amadeus MOZART Sinfonia concertante em Mi bemol maior, K. 364 (1780) [25 min] I. Allegro m aestoso II. Andante III. Presto Solistas: Anthony Flint e João Carlos Ferreira INTERVALO Sergei PROKOFIEFF Sinfonia nº 6 em mi bemol menor, op. 111 (1947) [40 min] I. Allegro moderato II. Largo III. Vivace
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Stefan Sanderling regente convidado Isaac Karabtchevsky é Diretor Artístico e Regente Titular da Orquestra Petrobras Sinfônica do Rio de Janeiro desde 2004. Foi diretor artístico da Orquestra Sinfônica de Porto Alegre durante sete anos e em 2011 assumiu a direção artística do Instituto Baccarelli, instituição formada na maior comunidade carente de São Paulo, com quatro orquestras sinfônicas e 17 corais. Gravou com a Osesp, em fevereiro de 2011, as Sinfonias nos 3, 4, 6 e 7 de Villa-Lobos, dando início ao projeto de registro do ciclo completo das sinfonias até 2016. Foi diretor artístico da Orchestre National des Pays de la Loire, França, e recebeu do governo francês a comenda Chevalier des Arts et des Lettres em reconhecimento ao seu trabalho. Na Áustria, onde foi diretor artístico da Orquestra Tonkünstler, de Viena, foi o primeiro artista brasileiro a ser condecorado com a medalha Grande Mérito à Cultura. Como diretor artístico do Teatro La Fenice, em Veneza, realizou uma ousada programação e turnês na Europa, Japão e Coreia.
Isaac Karabtchevsky conduziu a Kennedy Center Opera House Orchestra com conhecimento e autoridade eloquentes, e os músicos deram o máximo de si por ele. Tim Page, The Washington Post, fevereiro de 1999.
De 1969 a 1996 participou ativamente da vida musical brasileira, dirigindo a Orquestra Sinfônica Brasileira. Com a OSB gravou todas as Bachianas Brasileiras de Villa-Lobos, uma referência ainda hoje. Em turnês na Europa e nos Estados Unidos, recebeu excelentes críticas. Sua carreira internacional levou-o a dirigir concertos e óperas nos mais prestigiosos teatros e orquestras, como a Staatsoper e o Musikverein, Viena, o Concertgebouw, Amsterdan, o Royal Festival Hall, Londres, a Salle Pleyel, Paris, o Kennedy Center, Washington, o Carnegie Hall, Nova York, a Accademia de Santa Cecilia, Roma, o Teatro Comunal, Bolonha, o Teatro Real, Madrid, a RAI, Turin, a Deutsche Oper am Rhein, Dusseldorf, a Orquestra Gurzenich, Colônia e a Orquestra Filarmônica de Tóquio. Foi também diretor artístico do Theatro Municipal de São Paulo, onde realizou a primeira audição de Wozzek, de Alban Berg, e do Navio Fantasma, de Wagner. Desde 2000 dirige, no Musica Riva Festival, Itália, masterclasses para maestros do mundo inteiro. Na Mostra Internacional de Música de Olinda realiza o mesmo curso com enorme sucesso.
foto | Rosalie O’Connor
Com Roberto Marinho e Péricles de Barros, foi o criador do Projeto Aquarius, o maior movimento de popularização da música clássica no Brasil. Isaac Karabtchevsky foi considerado, em 2009, pelo jornal inglês The Guardian, um dos “ícones vivos” do país.
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Anthony flint violino
Sergei Nakariakov quebrou não poucas das barreiras que demarcavam o mundo do trompete na música clássica. Apelidado pela imprensa finlandesa de “o Paganini do trompete” e de “Caruso do trompete” pela revista Musik und Theater, Sergei desenvolveu uma voz musical ímpar que é muito mais que um veículo para sua impressionante virtuosidade. Seu repertório inclui toda a gama da literatura original para trompete e se expande em direção a outros territórios, incluindo várias transcrições fascinantes, numa busca incessante de novas formas de expressão musical. Nascido em Gorky em 1977, começou a tocar piano aos seis anos, passando depois ao trompete. Serguei deve muito aos dons técnicos e musicais recebidos de seu pai, Mikhail Nakariakov, que transcreveu um largo repertório de concertos clássicos para o trompete – e com quem estudou diariamente desde o início.
Isaac Karabtchevsky conduziu a Kennedy Center Opera House Orchestra com conhecimento e autoridade eloquentes, e os músicos deram o máximo de si por ele. Tim Page, The Washington Post, fevereiro de 1999.
A partir dos dez anos de idade Sergei começou a se apresentar com orquestras nas maiores salas de concerto da União Soviética e aos onze obteve um diploma numa competição de metais para adultos. Apresentou-se com sucesso na Alemanha e na Áustria e em 1992 recebeu o Prix Davidoff no Schleswig – Holstein Musikfestival. Desde então, esteve nos principais centros da música mundial, incluindo o Hollywood Bowl em Los Angeles, o Lincoln Center em Nova York, e, em Londres, o Royal Festival Hall e o Royal Albert Hall. Todos os anos, faz turnês no Japão e é solista convidado nos Estados Unidos e Canadá. Sergei colabora com alguns dos músicos, orquestras e regentes mais aclamados do mundo, caso mais recente em Paris, no Théâtre des Champs Élysées, com a Filarmônica de St. Petersburgo e Yuri Temirkanov. Estreou com a Orquestra de Câmara de Munique concerto composto por Jörg Widmann especialmente para ele, obra que destaca a incomum respiração circular de Serguei. A discografia de Sergei Nakariakov na gravadora Teldec Classics International é sucesso de público e crítica e incorpora, além dos mais famosos concertos para trompete, dois álbuns com recitais para trompete de Bizet, Paganini, de Falla, Gershwin e Rimski-Korsakov, em que é acompanhado pelo pianista Alexander Markovitch. Seu CD mais recente é Echoes from the past, com concertos de trompete escritos originalmente para fagote por Hummel, Mozart, Weber e Saint-Saëns.
foto | Huggett
Premiado com o ECHO Klassik 2002 como instrumentista do ano pela Fono-Academia Alemã, Sergei Nakariakov toca instrumentos de Antoine Courtois Paris.
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João Carlos Ferreira violA
Sergei Nakariakov quebrou não poucas das barreiras que demarcavam o mundo do trompete na música clássica. Apelidado pela imprensa finlandesa de “o Paganini do trompete” e de “Caruso do trompete” pela revista Musik und Theater, Sergei desenvolveu uma voz musical ímpar que é muito mais que um veículo para sua impressionante virtuosidade. Seu repertório inclui toda a gama da literatura original para trompete e se expande em direção a outros territórios, incluindo várias transcrições fascinantes, numa busca incessante de novas formas de expressão musical. Nascido em Gorky em 1977, começou a tocar piano aos seis anos, passando depois ao trompete. Serguei deve muito aos dons técnicos e musicais recebidos de seu pai, Mikhail Nakariakov, que transcreveu um largo repertório de concertos clássicos para o trompete – e com quem estudou diariamente desde o início.
Isaac Karabtchevsky conduziu a Kennedy Center Opera House Orchestra com conhecimento e autoridade eloquentes, e os músicos deram o máximo de si por ele. Tim Page, The Washington Post, fevereiro de 1999.
A partir dos dez anos de idade Sergei começou a se apresentar com orquestras nas maiores salas de concerto da União Soviética e aos onze obteve um diploma numa competição de metais para adultos. Apresentou-se com sucesso na Alemanha e na Áustria e em 1992 recebeu o Prix Davidoff no Schleswig – Holstein Musikfestival. Desde então, esteve nos principais centros da música mundial, incluindo o Hollywood Bowl em Los Angeles, o Lincoln Center em Nova York, e, em Londres, o Royal Festival Hall e o Royal Albert Hall. Todos os anos, faz turnês no Japão e é solista convidado nos Estados Unidos e Canadá. Sergei colabora com alguns dos músicos, orquestras e regentes mais aclamados do mundo, caso mais recente em Paris, no Théâtre des Champs Élysées, com a Filarmônica de St. Petersburgo e Yuri Temirkanov. Estreou com a Orquestra de Câmara de Munique concerto composto por Jörg Widmann especialmente para ele, obra que destaca a incomum respiração circular de Serguei. A discografia de Sergei Nakariakov na gravadora Teldec Classics International é sucesso de público e crítica e incorpora, além dos mais famosos concertos para trompete, dois álbuns com recitais para trompete de Bizet, Paganini, de Falla, Gershwin e Rimski-Korsakov, em que é acompanhado pelo pianista Alexander Markovitch. Seu CD mais recente é Echoes from the past, com concertos de trompete escritos originalmente para fagote por Hummel, Mozart, Weber e Saint-Saëns.
foto | Rafael Motta
Premiado com o ECHO Klassik 2002 como instrumentista do ano pela Fono-Academia Alemã, Sergei Nakariakov toca instrumentos de Antoine Courtois Paris.
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Hummel era um músico completo, no sentido da abrangência de seus interesses. Escreveu preferentemente para o seu instrumento [piano], mas compôs também para instrumentos de sopro, missa, balés e óperas
Wolfgang Amadeus MOZART (Áustria, 1756 – 1791) La Clemenza di Tito: Abertura, K. 320 Sinfonia Concertante para Violino, Viola e Orquestra, K. 364 Na música, a “faxina” que o espírito iluminista do século XVIII se propôs a promover na linguagem excessivamente complexa do Barroco se trata, por um lado, de um movimento de reação, por outro, de um trabalho de redimensionamento de elementos que o próprio Barroco gerou ou conquistou. Assim, certos gêneros ou procedimentos musicais que têm sua origem no período anterior são conservados pelo Classicismo Musical, que os trata à sua maneira, conservando-lhes princípios fundamentais. A própria ideia de melodia acompanhada, em substituição a uma polifonia extremamente prolixa, embora abraçada fortemente pelo Classicismo – que faz dela um de seus principais paradigmas –, nasce efetivamente no Barroco, associada à ópera, que tem também aí o seu berço. No Classicismo, conservam-se da ópera os procedimentos fundamentais. No entanto, embora aí os seus trechos puramente instrumentais sejam menos explorados, a “Abertura” se mantém importante e passa a ser tratada com maior cuidado, trabalhando tematicamente os elementos que no decorrer do enredo serão apresentados pelas partes vocais.
foto | André Fossati
Outros gêneros, porém, que têm origem no Barroco, são relidos pela linguagem clássica, que lhes dá nova roupagem associando-os não raro a procedimentos de sua própria predileção: o concerto grosso (em que a parte solista é compartilhada por dois ou mais instrumentos), um dos ícones da música instrumental do Barroco, muitas vezes aparece, aí, travestido em sinfonia. A Sinfonia Concertante, assim, associa, a uma estrutura fundamental, clássica por natureza (a Forma Sonata), o procedimento básico do concerto grosso: o de opor dois ou mais instrumentos solistas ao todo da orquestra. Das cerca de vinte e três óperas compostas por Mozart, La Clemenza di Tito foi escrita num período de intensa atividade, que produziu, dentre obras instrumentais importantes, também Così fan tutte e A Flauta
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Mágica. Estreada em Praga em 1791, La Clemenza di Tito foi composta nesse mesmo ano, quando já se encontrava avançado o trabalho com a Flauta Mágica. Essa opera seria, com libretto de Catterino Mazzolà (baseado em outro libreto, de Metastasio), trata da vida de Tito, imperador romano, e alcançou grande popularidade, mesmo após a morte de Mozart. Sua abertura segue os padrões consagrados pela ópera clássica, em que os elementos temáticos que mais tarde tomarão lugar no drama já são insinuados, e elaborados, aqui, de forma a introduzir o perfil dramático do enredo da obra. Mozart compôs duas “sinfonias concertantes”. Delas, a segunda, composta em 1779, período em que o compositor estava em tournée que incluía Mannheim e Paris, explora como solistas o violino e a viola, instrumento a que, no Classicismo, raramente se atribui uma parte principal. O fato de ter ouvido orquestra da corte de Mannheim, cujo nível técnico era célebre por toda a Europa, teve reflexos importantes na música instrumental de Mozart e é provável que, por isso, ele se tenha empenhado em atribuir papel solista também a um instrumento que até então era tratado, na maior parte das vezes, como coadjuvante. À parte isso, a obra não apresenta grandes inovações formais, como, aliás, é característico na linguagem mozartiana. No entanto, sua rica franqueza melódica, tão típica em Mozart, faz dela, ainda hoje, obra das mais caras dentre o repertório sinfônico. Moacyr Laterza Filho Professor na Universidade do Estado de Minas Gerais e na Fundação de Educação Artística
PARA OUVIR_ CD Classic Winton – Johann Nepomuk Hummel: Concerto for Trumpet & Orchestra in E-Flat Major – English Chamber Orchestra – Raymond Leppard, regente – Winton Marsalis, trompete – Sony Classical – 1998
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Hummel era um músico completo, no sentido da abrangência de seus interesses. Escreveu preferentemente para o seu instrumento [piano], mas compôs também para instrumentos de sopro, missa, balés e óperas
Serguei PROKOFIEFF (Ucrânia, 1891 – Rússia, 1953) Sinfonia no 6 (1947) Quando Prokofieff, aos treze anos de idade, passou nos exames para estudar no Conservatório de São Petersburgo, já havia composto quatro óperas, uma sinfonia, duas sonatas e várias obras para piano. Embora se tratasse de composições de juventude, é de se admirar o conjunto de obras compostas com tão pouca idade. Aluno de Rimsky-Korsakov, Anatoly Lyadov e Nikolai Tcherepnin, Prokofieff soube construir, ao longo dos anos, uma carreira de sucesso internacional como compositor, pianista e regente. Quando estourou a Revolução de 1917, Prokofiev encontrava-se em turnê pela Europa, Japão e Estados Unidos. Sem planos imediatos de retornar à Rússia ele, primeiramente, resolveu ficar nos Estados Unidos. Mas sua música não era apreciada pelos americanos. Os críticos eram duros com suas obras e seu jeito de tocar piano era considerado extremamente seco. Para piorar, a estreia de sua ópera O amor das três laranjas, em Chicago, no dia 30 de dezembro de 1921, foi um fracasso total. Em 1922 ele resolveu voltar à Europa e se estabelecer em Paris, onde sua música era largamente aceita pelo público e pela crítica. Longe da censura excessiva das autoridades soviéticas, Prokofieff pôde descobrir seu estilo e compor à sua própria maneira. Vivendo em Paris com a esposa e os dois filhos, e se apresentando regularmente por todo o mundo, inclusive na União Soviética, Prokofieff era um homem livre e bem-sucedido. Por isso o mundo jamais compreendeu a razão pela qual, em 1936, ele resolveu se estabelecer, definitivamente, em Moscou. As promessas das autoridades soviéticas poderiam tê-lo seduzido ao ponto de abandonar sua careira de sucesso por um futuro incerto na União Soviética? Dentre os privilégios estava a garantia de manter a posse do passaporte. De fato, isso permitiu que ele fizesse PARA OUVIR_ algumas turnês pela Europa e Estados Unidos sem ter de se humilhar CD Classic Winton – Winton Marsalis, trompete – às autoridades de seu país. Mas, em poucos anos, seu passaporte foi Sony Classical – 1998
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solicitado para conferências e nunca mais devolvido. Começavam, ali, os anos de chumbo: a patrulha ideológica, a censura, as perseguições, as prisões e a necessidade de se produzir, constantemente, música de propaganda para um regime cada vez mais brutal. Seria ele ingênuo ao ponto de acreditar nas promessas de Stalin, ou teria sido sua transferência para Moscou uma escolha calculada? Nos Estados Unidos, onde sua música era mal tolerada, Rachmaninoff era um sucesso. Na Europa, Stravinsky já estava estabelecido como o maior compositor russo vivo. Sua volta para a União Soviética, em 1936, coincidiu com a época em que, após dois ataques no Pravda (26 de janeiro e 6 de fevereiro), a música de Shostakovich caía em desgraça. Calculada, ou não, sua volta foi muito arriscada. Na sua terra natal ele se tornou o maior compositor soviético, mas amargou as mesmas dores dos outros.
O terceiro movimento (Vivace), mais alegre que os anteriores, inicia-se com um tema vivo nos violinos, respondido por um ritmo vigoroso no grave. O segundo tema, mais lírico, é apresentado pelas madeiras sobre um acompanhamento vigoroso. Uma nova seção tem início, onde ouvimos os dois temas constantemente modificados. Esta seção nos conduz à aparição, inusitada, do tema do oboé do primeiro movimento (Andante tenero). Estamos a um minuto do fim e uma nova agitação nos leva ao final majestoso. Guilherme Nascimento Professor na Universidade do Estado de Minas Gerais e na Fundação de Educação Artística
Prokofieff foi um dos primeiros compositores do século XX a retornar às estruturas e maneirismos do período clássico. Ele era um excelente orquestrador, capaz de criar atmosferas tão inusitadas quanto as de seu mestre Rimsky-Korsakov. Suas melodias são intensas e cheias de uma vivacidade típica da música russa. Sua Sexta Sinfonia começou a ser esboçada pouco depois do fim da Segunda Guerra Mundial, no verão de 1945. A orquestração só seria finalizada em 1947. Em Mi bemol maior, a Sinfonia no 6 de Prokofieff é escrita na mesma tonalidade da Sinfonia no 6 de seu amigo Nikolai Myaskovski, a quem ela foi dedicada. A primeira apresentação teve lugar em Leningrado, em 11 de outubro de 1947, pela Orquestra Filarmônica de Leningrado, sob a regência de Evgeny Mravinsky. O público da estreia a recebeu sem muito entusiasmo. Sua reputação só se estabeleceria, nas salas de concerto, após a morte do compositor. O primeiro movimento (Allegro moderato) inicia-se com uma breve introdução constituída de ataques secos nos metais. As cordas logo apresentam o primeiro tema, que será repetido e constantemente modificado pela orquestra até atingirmos o segundo tema, um lamento anunciado no oboé e reapresentado nas cordas (Moderato). Um terceiro tema (Andante molto), uma bela melodia no corne inglês e violas, surge sobre um pano de fundo marcial. Uma seção central tumultuada, onde elementos do primeiro tema são trabalhados, nos leva ao clímax do movimento. Logo após um momento tranquilo temos a reapresentação do segundo e terceiro temas, que nos conduzem a um final calmo e misterioso. O segundo movimento (Largo) inicia-se com o primeiro tema: blocos sonoros imensos nos metais e madeiras que nos remetem à música litúrgica russa. Os violoncelos anunciam o segundo tema, lírico e apaixonado. Uma curta seção central tem início, onde ataques súbitos nos lembram tiros de fuzil. Somos, pouco a pouco, conduzidos à reapresentação do segundo tema para, logo depois, ouvirmos o primeiro tema, que fecha o segundo movimento, tão misterioso quanto o primeiro.
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PARA OUVIR_ CD Grandes Pianistas Brasileiros: Concerto em Formas Brasileiras – Orquestra Sinfônica Nacional – H. Tavares, regente – Souza Lima, piano – Gravado no Teatro Municipal do Rio de Janeiro – 1959
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ANUNCIO PAGINA DUPLA
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Qual a diferença entre Orquestra Sinfônica e Orquestra Filarmônica? Não existe diferença entre uma orquestra e outra se a dúvida é sobre seu tamanho ou composições que cada uma pode tocar. Uma orquestra pode ser de câmara se tem um número pequeno de instrumentos, mas, se for completa, com todas as famílias de instrumentos, ela será sinfônica ou filarmônica. Esses prefixos serviram, durante muitos anos, para designar a natureza da orquestra, se “pública” ou “privada”. Isso porque se convencionou chamar de filarmônica a orquestra mantida por uma sociedade de amigos admiradores da música, enquanto sinfônica era a orquestra mantida pelo Estado. Hoje não se pode mais fazer essa distinção, seja no Brasil ou em outros países, já que ambas dependem do auxílio tanto da iniciativa privada como dos governos.
foto | André Fossati
Originalmente, a palavra orquestra vem do grego para se referir a um grupo de instrumentistas tocando juntos. Sinfônico quer dizer “em harmonia” e filarmônico, “amigo da harmonia”. Uma orquestra filarmônica é, portanto, sinfônica, pois seus músicos devem tocar em harmonia e ser capazes de executar as composições sinfônicas criadas pelos compositores de todos os períodos da música clássica, especialmente as mais complexas, a partir do século XIX. Queremos que a nova orquestra de Minas seja de todos nós, amigos da harmonia, o que motivou a escolha do nome Orquestra Filarmônica de Minas Gerais.
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PARA APRECIAR UM
CONCERTO Silêncio
Programa
Em uma sala de concerto, o silêncio é fundamental para que você possa ouvir cada detalhe da música. Ruídos incomodam e dificultam a apreciação das obras e a concentração dos músicos.
A leitura do programa oferece uma oportunidade de conhecer um pouco mais sobre a música, os compositores e os intérpretes que se apresentam. Ele será seu guia para a boa compreensão das obras executadas. Você também poderá consultá-lo no site antes de vir para o concerto.
Aparelhos eletrônicos O celular perturba o silêncio necessário à apreciação do concerto. Tenha certeza de que o seu está desligado.
Aplausos O aplauso é o elogio da plateia. E, como todo elogio, faz toda a diferença usá-lo na hora certa. É tradição na música clássica aplaudir apenas no final das obras, que, muitas vezes, se compõem de duas, três ou mais partes. Quando uma dessas partes termina, não significa que a música chegou ao fim. Consulte o programa para saber o número de movimentos e o final de cada obra e fique de olho na atitude e gestos do regente e dos músicos.
Tosse Tosse chama a atenção. Como um apreciador da música, você não vai querer desviar os olhares para sua direção. Por isso, se estiver com tosse, experimente usar uma pastilha antes do concerto e aliviar alguma irritação na garganta antes de entrar na sala e durante os intervalos.
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Pontualidade Atraso e procura de lugares As portas do Grande Teatro são fechadas após o terceiro sinal. Depois do início da apresentação, a entrada só é permitida em momentos que não interrompam o concerto. Quando você puder entrar, escolha silenciosamente um lugar vago ao fundo da sala. Evite andar e trocar de poltrona durante a execução das músicas. Se tiver de sair antes do final da apresentação, aguarde o término de uma peça.
Outras recomendações Crianças Se você estiver com crianças muito novas, prefira os assentos próximos aos corredores. Assim, você consegue sair rapidamente se a criança se sentir desconfortável. Registros Fotos e gravações em áudio e vídeo não são permitidos. Aproveite o concerto ao vivo.
Comidas e bebidas O consumo de comidas e bebidas não é permitido no interior da sala de concerto.
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SÉRIES E OUTROS
PRÓXIMOS
Concertos
Concertos NOVEMBRO
Allegro e Vivace São séries realizadas em noites de terça (Vivace) e quinta-feira (Allegro), no Grande Teatro do Palácio das Artes. Ambas apresentam repertório que inclui sinfonias e outras músicas de diferentes períodos históricos, trazendo frequentemente obras pouco conhecidas e inéditas, com a presença de convidados de renome internacional.
Série Vivace 22 de novembro, terça-feira, 20h30, Palácio das Artes Stefan Sanderling, regente convidado Anthony Flint, violino João Carlos Ferreira, viola MOZART / PROKOFIEFF Concertos para a Juventude 27 de novembro, domingo, 11h, Sesc Palladium Marcos Arakaki, regente Ronaldo Rolim, piano ROSSINI / DOHNANYI / GRIEG / KATCHATURIAN
Concertos para a Juventude A iniciativa recupera a tradição de concertos sinfônicos nas manhãs de domingo, dedicados à família. As apresentações têm ingressos a preços populares e contam com a participação de jovens solistas.
DEZEMBRO
Clássicos no Parque Com um repertório que abrange música sinfônica diversificada, os concertos proporcionam momentos de descontração e entretenimento a um público amplo e heterogêneo. Realizados aos domingos, nos parques da cidade.
Concertos Didáticos São concertos de caráter didático, com entrada franca, para grupos de crianças e jovens da rede escolar pública e particular, instituições sociais e universidades. Além de apreciar a boa música, o público recebe informações sobre a orquestra, os instrumentos e as diversas formas musicais.
Série Vivace 6 de dezembro, terça-feira, 20h30, Palácio das Artes Fabio Mechetti, regente MAHLER Série Allegro 15 de dezembro, quinta-feira, 20h30, Palácio das Artes Fabio Mechetti, regente Vanessa Cunha, piano Martin Mühle, tenor Coral lírico (masculino) LISZT
Festivais São eventos idealizados para oferecer ao público experiências musicais específicas. O Festival Tinta Fresca procura identificar e promover novos compositores brasileiros. O Laboratório de Regência tem por finalidade dar oportunidade a jovens regentes brasileiros, de comprovada experiência, de desenvolver, na prática, a habilidade de lidar com uma orquestra profissional.
Turnês Estaduais As turnês estaduais levam a música de concerto a diferentes regiões de Minas Gerais, possibilitando que novos públicos tenham o contato direto com música sinfônica de excelência.
Turnês Nacionais A Orquestra Filarmônica de Minas Gerais percorre importantes regiões e centros culturais do Brasil, a fim de divulgar a boa música e representar o estado no cenário nacional erudito.
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ORQUESTRA FILARMÔNICA DE MINAS GERAIS | Setembro | 2011 Primeiros Violinos
Anthony Flint spalla
Eliseu Martins de Barros concertino
Rommel Fernandes assistente de spalla
Arthur Vieira Terto Bojana Pantovic Marcio Cecconello Martha de Moura Pacífico Mateus Freire Patrick Desrosiers Rodolfo Marques Toffolo Rodrigo de Oliveira Anderson Farinelli **** Elias Martins de Barros **** Luciana Arraes **** Pedro Della Rolle **** Thiago Paganini **** Segundos Violinos
Frank Haemmer * Jovana Trifunovic ** Eri Lou Miyake Nogueira Gláucia de Andrade Borges José Augusto de Almeida Leonardo Ottoni Luka Milanovic Marija Mihajlovic Radmila Bocev Tiago Ellwanger Valentina Gostilovitch Anderson Cardoso **** Luiza de Castro **** Rodrigo Bustamante **** Violas
João Carlos Ferreira * Bruno Leandro da Silva Cleusa de Sana Nébias Glaúcia Martins de Barros Marcelo Nébias Nathan Medina Katarzyna Druzd Vitaliya Martsinkevich William Martins Violoncelos
Elise Pittenger ***
Fabio Mechetti
REGENTE ASSISTENTE
Camila Pacífico Camilla Ribeiro Lina Radovanovic Matthew Ryan-Kelzenberg Pedro Bielschowsky Renato de Sá **** Robson Fonseca ****
Marcos Arakaki
Daniel Leal Romilso Curvelo **** Trombones
Mark John Mulley * Wagner Mayer ** Renato Lisboa
PatrocÍNIO
Tuba
Contrabaixos
Colin Chatfield * Mark Wallace ** Brian Fountain Hector Manuel Espinosa Marcelo Cunha Nilson Bellotto Valdir Claudino
Eleilton Cruz * Tímpanos
Ambjorn Lebech * Percussão
Cássia Lima* Renata Xavier ** Alexandre Braga Caroline Lohmann
Rafael Costa Alberto * Daniel Lemos ** Werner Silveira Sérgio Aluotto Fernando Rocha **** John Boudler **** Leonardo Gorosito **** Piero Guimarães ****
Oboés
Harpa
Alexandre Barros * Ravi Shankar ** Israel Silas Muniz Moisés Pena
Mareike Burdinski * Jennifer Campbell ****
Clarinetes
Gerente
Flautas
Dominic Desautels * Marcus Julius Lander ** Ney Campos Franco Alexandre Silva
Teclados
Ayumi Shigeta * Jussan Fernandes Inspetora
Karolina Lima Assistente Administrativo
Fagotes
Catherine Carignan * Laurence Messier ** Raquel Carneiro Ariana Pedrosa Romeu Rabelo Trompas
Evgueni Gerassimov * Ailton Ramez Ferreira Gustavo Garcia Trindade ** José Francisco dos Santos André Gonçalves **** Trompetes
Marlon Humphreys * Erico Oliveira Fonseca **
Débora Vieira Arquivista
Vanderlei Miranda Assistentes
Klênio Carvalho Sergio Almeida Yan Vasconcellos Supervisor de Montagem
Rodrigo Castro MONTADORES
Carlos Natanael Felix de Senna Matheus Luiz Ferreira
Apoio Cultural
*chefe de naipe **assistente de chefe de naipe ***chefe/assistente substituto ****músico convidado
DIRETOR ARTÍSTICO e REGENTE TITULAR
Divulgação
APOIO INSTITUCIONAL
REALIZAÇÃO
INSTITUTO CULTURAL FILARMÔNICA Diretoria Executiva Diretor Presidente
Produtor
Luis Otávio Amorim
Diomar Silveira
Auxiliar de Produção
Diretor Administrativo-financeiro
Analista de Comunicação
Tiago Cacique Moraes Diretor de Comunicação
Fernando Lara
Analista Financeiro
Thais Boaventura
Andréa Mendes
Analista Administrativo
Eliana Salazar
Analista de Comunicação
Marcela Dantés
Analista de Marketing de Relacionamento
Mônica Moreira
Thiago Nagib Hinkelmann
Mariana Theodorica
Gerente de Produção Musical
Claudia Guimarães
Analista de Recursos Humanos
Quézia Macedo Silva
Lucas Barbosa
Diretor de Marketing e Relacionamento
Equipe Técnica
Equipe Administrativa
Analista de Marketing e Projetos Assistente de Comunicação
Mariana Garcia
Assistente de Programação Musical
Francisco César Araújo
Gerente de Comunicação
Secretária Executiva
Flaviana Mendes Auxiliares Administrativos
Cristiane Reis, João Paulo de Oliveira e Vivian Figueiredo Recepcionista
Lizonete Prates Siqueira Auxiliar de Serviços Gerais
Ailda Conceição Mensageiro
Merrina Godinho Delgado
Jeferson Silva
Produtora
Estagiário
Carolina Debrot
Alexandre Moreira
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www.filarmonica.art.br R. Paraíba, 330 | 120 andar | Funcionários Tel. 31 3219 9000 | Fax 31 3219 9030 CEP 30130-917 | Belo Horizonte | MG contato@filarmonica.art.br
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