FORTIS SIMO
Nº 5 / 2014
junho
Sempre nossa, onde for.
JUNHO 2014
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Ministério da Cultura e Governo de Minas
apresentam
S UMÁRIO VIVACE
3 /
JUNHO
Fabio Mechetti, regente Boris Giltburg, piano
p.
J. C. BACH Sinfonia em Mi bemol maior, op. 18, nº 1 RACHMANINOFF Concerto para piano nº 1 em
fá sustenido menor, op. 1 PROKOFIEFF Sinfonia nº 7 em dó sustenido menor, op. 131
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CAROS AMIGOS E AMIGAS,
Devido à realização da Copa do Mundo, a Filarmônica apresenta neste mês apenas um concerto, dentro das nossas séries no Palácio das Artes. Iremos receber o último vencedor do concurso Rainha Elizabeth, uma das mais importantes competições internacionais de piano. Fazendo sua estreia com a Filarmônica, o pianista israelense Boris Giltburg irá tocar o Concerto para piano nº 1 de Sergei Rachmaninoff. Na mesma noite, a Filarmônica mostra sua diversidade ao explorar a última sinfonia escrita por Prokofieff e uma charmosa sinfonia de um dos filhos de Johann Sebastian Bach, Johann Christian. Mozart considerava Johann Christian um dos grandes compositores de sua época, e nesta sinfonia teremos a oportunidade de ver por quê. O compositor divide a orquestra em duas partes espelhadas e utiliza recursos bastante originais para a época, sem perder a integridade formal e a verve melódica que tanto impressionaram o jovem Mozart. Além do nosso encontro com o Romantismo tardio, em 22 de junho, no Sesc Palladium, pelos Concertos para a Juventude, a Filarmônica também dará prosseguimento às suas turnês estaduais, levando a música de concerto a vários pontos do estado. Desta vez estaremos em Uberaba, Frutal, Nova Serrana e Patos de Minas, dividindo com o público mineiro esse grande patrimônio cultural que nossa orquestra tem se tornado. Sempre nossa, onde for. Bom concerto a todos.
Fabio Mechetti DIRETOR ARTÍSTICO E REGENTE TITULAR
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FOTO ANDRÉ FOSSATI
JUNHO 2014
FABIO MECHE T TI Diretor Art íst ico e R egente Titula r
Natural de São Paulo, Fabio Mechetti é Diretor Artístico e Regente Titular da Orquestra Filarmônica de Minas Gerais desde sua criação, em 2008. Por esse trabalho, recebeu o XII Prêmio Carlos Gomes/2009 na categoria Melhor Regente brasileiro. É também Regente Titular e Diretor Artístico da Orquestra Sinfônica de Jacksonville (EUA) desde 1999. Foi Regente Titular da Orquestra Sinfônica de Syracuse e da Orquestra Sinfônica de Spokane, da qual é, agora, Regente Emérito. Foi regente associado de Mstislav Rostropovich na Orquestra Sinfônica Nacional de Washington e com ela dirigiu concertos no Kennedy Center e no Capitólio norte-americano. Da Orquestra Sinfônica de San Diego foi Regente Residente.
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Fez sua estreia no Carnegie Hall de Nova York conduzindo a Orquestra Sinfônica de Nova Jersey e tem dirigido inúmeras orquestras
norte-americanas, como as de Seattle, Buffalo, Utah, Rochester, Phoenix, Columbus, entre outras. É convidado frequente dos festivais de verão nos Estados Unidos, entre eles os de Grant Park em Chicago e Chautauqua em Nova York. Realizou diversos concertos no México, Espanha e Venezuela. No Japão dirigiu as Orquestras Sinfônicas de Tóquio, Sapporo e Hiroshima. Regeu também a Orquestra Sinfônica da BBC da Escócia, a Filarmônica de Auckland, Nova Zelândia, a Orquestra Sinfônica de Quebec, Canadá, e a Filarmônica de Tampere, na Finlândia. Vencedor do Concurso Internacional de Regência Nicolai Malko, na Dinamarca, Mechetti dirige regularmente na Escandinávia, particularmente a Orquestra da Rádio Dinamarquesa e a de Helsingborg, Suécia. Recentemente, estreou na Itália conduzindo a Orquestra Sinfônica de
Roma. Em 2014 voltará ao Peru, desta vez regendo a Orquestra Sinfónica Nacional del Perú, e à Espanha, onde se apresenta pela primeira vez com a Orquestra da RTV Espanhola. Acaba de estrear na Malásia, conduzindo a Filarmônica da Malásia, e em breve estreará em Israel, com a Orquestra de Câmara de Israel. No Brasil foi convidado a dirigir a Sinfônica Brasileira, a Estadual de São Paulo, as orquestras de Porto Alegre, Brasília e Paraná e as municipais de São Paulo e do Rio de Janeiro. Trabalhou com artistas como Alicia de Larrocha, Thomas Hampson,
Frederica von Stade, Arnaldo Cohen, Nelson Freire, Emanuel Ax, Gil Shaham, Midori, Evelyn Glennie, Kathleen Battle, entre outros. Igualmente aclamado como regente de ópera, estreou nos Estados Unidos dirigindo a Ópera de Washington. No seu repertório destacam-se produções de Tosca, Turandot, Carmen, Don Giovanni, Cosi fan Tutte, Bohème, Butterfly, Barbeiro de Sevilha, La Traviata e As Alegres Comadres de Windsor. Fabio Mechetti recebeu títulos de Mestrado em Regência e em Composição pela prestigiosa Juilliard School de Nova York.
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FOTO ALEXANDRE REZENDE
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SÉRIE VIVACE
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JUNHO
terça, 20h30 Grande Teatro do Palácio das Artes
Fabio Mechetti, regente Boris Giltburg, piano
PRO GR A M A
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Johann Christian BACH Sinfonia em Mi bemol maior, op. 18, nº 1 [12 min] Allegro spirituoso Andante Allegro
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Sergei RACHMANINOFF Concerto para piano nº 1 em fá sustenido menor, op. 1 [27 min] Vivace Andante Allegro Vivace boris giltburg,
— 3
i n t e r va l o
piano
—
Sergei PROKOFIEFF Sinfonia nº 7 em dó sustenido menor, op. 131 [31 min] Moderato Allegretto Andante espressivo
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Vivace
SÉRIE VIVACE
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BORIS GILTBURG
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Desde sua inovadora aparição com a Philharmonia Orchestra em 2007, Giltburg tem sido presença anual no Royal Festival Hall, em Londres. Fez sua estreia no BBC Proms com a BBC Scottish Symphony. Na última temporada, estreou com a Filarmônica de Londres e foi convidado de muitas orquestras do Reino Unido. Também atuou
com a DSO Berlin, Frankfurt Radio Symphony, Orchestre National du Capitole de Toulouse, Royal Philharmonic Flamengo, Swedish Radio Symphony, Danish Radio Symphony e Praga Symphony, entre outras. Na adolescência, Giltburg participou de turnês nos Estados Unidos com a Orquestra de Câmara de Israel. Sua primeira apresentação em solo norteamericano com uma orquestra local foi com a Indianapolis Symphony. Após sua estreia com a Filarmônica de Israel, o artista passou a se apresentar com as mais notáveis orquestras e na principal série de recitais de Israel. Ele já se apresentou no Japão, inclusive com a Filarmônica de Hong Kong, na China e em vários países da América do Sul. Boris Giltburg tem colaborado com regentes como Alsop, Brabbins, Dohnanyi, Entremont, Neeme Jaervi, Karabits,
FOTO CHRIS GLOAG
Nascido em 1984, em Moscou, Boris Giltburg começou seus estudos de piano com a mãe, aos cinco anos de idade. Viveu em Tel Aviv desde a primeira infância, onde estudou com Arie Vardi. Recebeu muitos prêmios em competições internacionais, como a Santander (prêmio principal e Prêmio do Público, 2002) e a Rubinstein (2º prêmio e Melhor Concerto Clássico, 2011). Em 2013 venceu o Concurso Rainha Elisabeth, em Bruxelas – resultado que alavancou sua já florescente carreira internacional.
Lintu, Luisotti, Petrenko, Pletnev, Saraste, Segerstam, Sinaisky, Sokhiev e Soustrot. O pianista se apresentou em recitais por toda a Europa nos principais espaços, como o Viena Konzerthaus, Munique Herkulessaal, Paris Louvre, Zurich Tonhalle, Wigmore Hall, Concertgebouw de Amsterdam, Southbank Centre de Londres, Teatro San Carlo de Nápoles e Sony Auditorium em Madrid. Participações em festivais incluem Klavierfest Ruhr, Schwetzingen, Luzern, Piano aux Jacobins e Cheltenham.
Em 2012, Giltburg lançou em álbum as sonatas War de Prokofieff sob o selo Orchid, figurando na Gramophone como Escolha do Editor e recebendo cinco estrelas no Daily Telegraph. Foi o primeiro lançamento do selo Orchid a figurar no Specialist Classical Album Chart. O artista também gravou pelo selo EMI Debut e tem um DVD ao vivo disponível no Video Artists International. Boris Giltburg foi indicado ao Prêmio Jovem Artista da Royal Philharmonic Society em 2008.
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SÉRIE VIVACE
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J OH A NN CHRISTIA N
ao qual se dedicou vivamente, tanto na Itália quanto na Inglaterra, onde veio a fixar residência a partir de 1762. Note-se, com isso, que as semelhanças entre a linguagem de J. C. Bach e a de Mozart estão para muito além das meras coincidências.
BACH
(Ale m a nh a , 173 5 – Ingl a ter ra , 178 2)
Sinfonia em Mi bemol maior, op. 18, nº 1 (1770/1781)
Instrumentação: 2 flautas, 2 oboés, 2 fagotes, 2 trompas, cordas.
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Dos vinte filhos que teve Johann Sebastian Bach, pelo menos três tornaram-se grandes compositores: seu filho mais velho, Wilhelm Friedmann Bach (cuja música era a preferida do pai), Carl Philipp Emmanuel Bach, seu segundo filho, e Johann Christian Bach, seu filho caçula. Do ponto de vista das transformações históricas, estes dois últimos foram determinantes, talvez bem mais que o pai. Philipp Emmanuel, dentre outras razões, por ter sido a fonte fundamental de Joseph Haydn, lapidador do Classicismo musical; Johann Christian, pela ascendência que exerceu sobre W. A. Mozart, com quem teve o primeiro contato em 1764, em Londres, onde residia, durante uma das muitas turnês que o jovem músico fazia pela Europa, sob a tutela do pai.
Se a linguagem de Friedmann, apesar de sólida, soa anacrônica, e embora a música de Philipp Emmanuel traga a ambiguidade e a complexidade do Rococó, Johann Christian não deixa margem a dúvidas: seu idioma já é genuinamente Clássico, formal, tímbrica e estruturalmente, abraçando, na sua música instrumental, a forma sonata e a melodia acompanhada (em detrimento da polifonia). Isso talvez em decorrência de sua formação musical ligada à Escola Italiana (Johann Christian Bach esteve de 1754 a 1762 na Itália, aonde fora para estudar contraponto com o Padre Martini, e ali cumpriu diversas funções, dentre as quais a de organista da Catedral de Milão) e também talvez por seu envolvimento com a ópera, gênero
Sua obra, como a de seus contemporâneos, é pródiga: obras para piano, concertos para instrumentos solistas, obras de música de câmara, diversas peças de música sacra e uma infinidade de óperas. As seis sinfonias abrigadas sob o op. 18 não têm data precisa de composição, mas, ao que parece, foram escritas entre 1770 e 1781 e publicadas nesse último ano. Esta série está entre as obras instrumentais mais bem-acabadas de Johann Christian Bach. A primeira das seis sinfonias op. 18 traz o diferencial de ter sido composta para orquestra dupla, como serão a terceira e a quinta da mesma série. Isso não foi exatamente novidade no repertório orquestral, mas teve
Para ouvir
J. Ch. Bach – Complete Symphonies op. 6, 9 & 18 – Netherlands Chamber Orchestra – David Zinman, regente – Newton Classics – 2011 Orquestra de Câmara Failoni de Budapeste – Hanspeter Gmur, regente | Acesse: fil.mg/bsinf1
Para ler
Karl Geiringer – Bach Family: seven generations of creativity – Oxford University Press – 1971
a graça de trazer algo do idioma concertante e da prática do diálogo entre dois grupos instrumentais, herança da Escola Veneziana. J. C. Bach faz a seguinte distribuição entre os dois grupos: no primeiro, cordas, dois oboés, fagote e duas trompas; no segundo, cordas e duas flautas. Resta dizer que os instrumentos de sopro têm, nessas obras, uma função significativa. Com isso, J. C. Bach se põe em uma posição ambígua: por um lado, ele lança possibilidades expressivas para a orquestra sinfônica. Por outro, ele faz uma releitura, à maneira do século XVIII, de toda a sua herança barroca.
moacyr laterza filho | Pianista e cravista, Doutor em Literaturas de Língua Portuguesa, professor da Universidade do Estado de Minas Gerais e da Fundação de Educação Artística.
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SERGEI
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R ACHMANINOFF
(R ú ss i a , 1873 – Esta d os Uni d os, 1943)
Concerto para piano nº 1 em fá sustenido menor, op. 1 (1891, versão final 1919)
Instrumentação: 2 flautas, 2 oboés, 2 clarinetes, 2 fagotes, 4 trompas, 2 trompetes, 3 trombones, tímpanos, percussão, cordas.
O Concerto para piano nº 1 possui o vigor e a energia próprios de Rachmaninoff. Trata-se de uma obra de juventude que o autor compôs aos dezoito anos de idade, enquanto ainda aluno do Conservatório de Moscou. A estreia, apenas do primeiro movimento, deu-se em 17 de março de 1892, no Conservatório, com a orquestra de alunos sob a regência do Diretor, Vasily Safonov, com Sergei Rachmaninoff ao piano. A versão que hoje conhecemos é de 1917, após a extensiva revisão que Rachmaninoff fez do Concerto, meses antes de deixar a Rússia. A nova versão foi apresentada pela primeira vez em Nova York, em 1919, pela Sociedade Sinfônica Russa sob a direção de Modest Altschuler, tendo igualmente o compositor como solista.
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O intenso diálogo entre o piano solista e a orquestra é a marca
registrada do primeiro movimento (Vivace), com a brilhante escrita virtuosística típica do compositor. No segundo movimento (Andante), os temas confiados ao piano, que reina praticamente absoluto, são de um lirismo ímpar, apenas encontrados nas mais belas páginas do próprio Rachmaninoff. O terceiro e último movimento (Allegro vivace) é feito de esfuziante energia. Música intensa, cheia do entusiasmo da juventude, que o compositor soube manter, mesmo após as severas revisões realizadas na obra. Apesar do enorme sucesso alcançado no século XX – tanto por seus concertos como por suas sinfonias, sua música para solista, música de câmara, óperas e música litúrgica –, Rachmaninoff foi relativamente negligenciado pelos estudos musicológicos ocidentais,
Para ouvir em razão do preconceito vigente, Rachmaninoff plays Rachmaninoff – The 4 piano que o considerava um compositor concertos – Philadelphia Orchestra – Eugene ultraconservador, um homem do Ormandy e Leopold Stokowski, regentes – RCA século XIX vivendo em pleno século Victor – 1994 XX. Em um século praticamente Para assistir todo dividido entre “progressistas” Orquestra Sinfônica Nacional da RAI de Turim Karl Martin, regente – Nikita Magaloff, piano e “conservadores”, as melhores Acesse: fil.mg/rconcpiano1 considerações foram sempre reservadas aos ditos “modernos” e a Para ler Sergei Bertensson e Jay Leyda – Sergei sua música de caráter experimental Rachmaninoff: a lifetime in music – Indiana e revolucionário, enquanto as University Press – 2009 conquistas de seus antagonistas Sergei Rachmaninoff – Rachmaninoff’s recollections eram atenuadas, por serem eles told to Oskar von Riesemann – Macmillan – 1934 avaliados, de antemão, como “menos originais” que seus pares.
A concepção de que a música de Rachmaninoff pertence ao século XIX é um daqueles erros históricos que acabaram tornando-se verdades absolutas de tanto serem repetidos. Na verdade, Rachmaninoff jamais se preocupou com as oscilações da moda e procurou apenas seguir seu próprio caminho individual. Sua música foi nada mais que a expressão sincera de sua personalidade, seus sentimentos e ideias. Escreveu sobre seus contemporâneos: “A nova música parece vir não do coração, mas da mente. Seus compositores
pensam, ao invés de sentir. Eles não têm a capacidade de fazer obras encantadoras, como dizia Hans von Bülow. Eles advogam, protestam, analisam, argumentam, calculam e experimentam – mas não encantam”. Se a música de Rachmaninoff é realmente ultrapassada, o mesmo poderia ser dito do gosto de seus milhões de admiradores ao longo de todo o século. Para a crítica especializada, seriam todos um pouco démodés. Mas, sem dúvida, que música encantadora!
guilherme nascimento | Compositor, Doutor em Música pela Unicamp, professor na Escola de Música da UEMG, autor dos livros Os sapatos floridos não voam e Música menor.
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SÉRIE VIVACE
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SERGEI
concebida segundo os processos formais de Haydn, tornou-se amplamente conhecida como Sinfonia clássica.
PROKOFIEFF
( Uc râ ni a , 1891 – R ú ss i a , 1953)
Sinfonia nº 7 em dó sustenido menor, op. 131 (1951/1952)
Instrumentação: piccolo, 2 flautas, 2 oboés, corne inglês, 2 clarinetes, clarone, 2 fagotes, 4 trompas, 3 trompetes, 3 trombones, tuba, tímpanos, percussão, harpa, piano, cordas.
As sete sinfonias de Prokofieff permitem uma visão bastante abrangente de sua evolução pessoal e de suas preocupações estéticas, diretamente relacionadas com a história de seu país. Sob essa perspectiva, a carreira do compositor divide-se em três períodos bem distintos – a fase russa, a ocidental e a soviética.
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A fase russa compreende os anos de aprendizado e afirmação no cenário musical da Rússia czarista. Sua mãe era excelente pianista amadora e Prokofieff, aos seis anos, já usava o instrumento para compor pequenos esboços musicais, como um curioso Galope hindu (escrito no modo lídio de fá, para evitar as teclas pretas). Aos treze, ingressou no
Conservatório de São Petersburgo, tornando-se o aluno mais rebelde dessa conceituada instituição, então sob a direção de RimskiKorsakov. Paralelamente, o jovem compositor participa das Noites de Música Contemporânea, entrando em contato com as obras inovadoras de Debussy e Schoenberg. Intuitivamente, a música de Prokofieff se associa à estética futurista da época, à pintura de Kandinsky e à literatura de Maiakovsky. Algumas de suas recentes composições (entre elas, a violenta Suite Cita, de 1915) causavam espanto pela aspereza harmônica e rítmica. Alguns críticos o acusavam de maquinismo futurista e de iconoclastia revolucionária. A Primeira Sinfonia foi a resposta do compositor –
Em 1918 o compositor inicia seu período “ocidental”, quando abandona a Rússia para viver por muitos anos entre a França, os Estados Unidos e a Alemanha. Aos poucos, impõe-se nos principais centros culturais. Entretanto (diferentemente de Debussy, Stravinsky ou Schoenberg), Prokofieff nunca pretendeu renovar a linguagem musical ou criar uma nova “técnica” de composição. Suas inovações se referem mais ao “efeito” do que às estruturas musicais. Nesse aspecto, a destreza de exímio pianista lhe foi muito útil e, mesmo quando acusado pela vanguarda radical de retrógrado e conservador, suas obras foram frequentemente provocativas e “modernas”. As três sinfonias “ocidentais” são muito diferentes entre si. A Segunda Sinfonia tem caráter ruidoso, áspero e provocativo. Prokofieff visa à crítica vanguardista francesa e compõe uma obra “moderna, de ferro e aço”. O dramatismo da Terceira Sinfonia deve muito ao contexto de sua ópera O anjo
Para ouvir
Prokofiev – Symphonies Nos. 3 & 7 – Ukraine National Symphony Orchestra – Theodore Kuchar, regente – Naxos UK – 1995 Orquestra Filarmônica de Berlim – Seiji Ozawa, regente | Acesse: fil.mg/psinf7
Para ler
Claude Samuel – Prokofiev – Éditions du Seuil – Solfèges – 1995
de fogo, à qual está ligada em sua gênese. É um dos trabalhos mais ousados e experimentais do compositor. A Quarta Sinfonia também se associa a uma obra cênica, no caso, o balé O filho pródigo. Mas seu caráter despojado é diametralmente oposto ao da sinfonia anterior. A partir de 1927 Prokofieff começa a reatar contatos com a URSS. Em 1936, com objetivos pedagógicos, escreveu para o Teatro Infantil de Moscou o conto musical Pedro e o Lobo, uma das composições mais populares do século XX. Nesse ano voltou definitivamente à Rússia, iniciando sua fase “soviética”, durante os mais rigorosos anos dos expurgos stalinistas. A produção desse último período, muitas vezes desigual, inclui obras-primas instrumentais como o balé Romeu e Julieta, as trilhas para os filmes
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de Sergei Eisenstein e as últimas sonatas para piano. Na Quinta Sinfonia, o compositor busca tornar-se mais compreensível ao grande público e, mesmo mantendo altíssimo nível compositivo, seu estilo mostra-se polido pelo predomínio de ocorrências melódicas e pela estrutura formal clássica. O objetivo foi alcançado – a Quinta figura entre as melhores obras de Prokofieff, além de ser a mais frequentemente interpretada. As duas sinfonias seguintes procuram manter-se no mesmo caminho. A Sexta Sinfonia possui uma mordacidade implícita – o compositor parece zombar dos próprios recursos usados. Um ano depois de sua estreia, em 1948, no auge da campanha antiformalista, Prokofieff foi punido e obrigado a se colocar publicamente à disposição do regime. A Sétima Sinfonia, composta poucos meses antes da morte do compositor, nasceu de uma encomenda da Seção de Música
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FOTO EUGÊNIO SÁVIO
SÉRIE VIVACE
para a Juventude da Rádio de Moscou. Prokofieff utilizou uma linguagem simples, destituída de conflitos, de energia positiva e controlada. Tendo em mente uma plateia jovem, evita o tom bombástico ou patético e valoriza a limpidez de extensas linhas melódicas (o modelo assumido é Tchaikovsky). O poético primeiro andamento utiliza todos os recursos instrumentais da palheta russa tradicional, valorizando a separação dos timbres. O segundo possui caráter otimista, jovial e despreocupado, mostrando a alegria de viver de um compositor que, entretanto, se encontrava doente, amargurado e cético. O terceiro movimento faz uma apologia da valsa, lembrando o Prokofieff dos bailados. O final, simultaneamente lírico e festivo, oferece sonoridades cintilantes obtidas pelo emprego inusitado das campanas. Prokofieff morreu a 5 de março de 1953, coincidentemente o mesmo dia da morte de Stalin. A Sétima Sinfonia recebeu, postumamente, o Prêmio Lênin, em 1957.
paulo sérgio malheiros dos santos | Pianista, Doutor em Letras, professor na UEMG, 18
autor dos livros Músico, doce músico e O grão perfumado – Mário de Andrade e a arte do inacabado.
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olá, assinante Conheça algumas alternativas de uso de táxi nos dias de concerto, para sua comodidade.
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ACOMPA NHE A FIL A RMÔNIC A EM
OUTR AS SÉRIES DE CONCERTOS Concertos para a Juventude
Laboratório de Regência Atividade
Realizados em manhãs de domingo, são concertos dedicados aos jovens e às famílias, buscando ampliar e formar público para a música clássica. As apresentações têm ingressos a preços populares e contam com a participação de jovens solistas.
inédita no Brasil, este laboratório é uma oportunidade para que jovens regentes brasileiros possam praticar com uma orquestra profissional. A cada ano, quinze maestros, quatro efetivos e onze ouvintes, têm aulas técnicas, teóricas e ensaios com o regente Fabio Mechetti. O concerto final é aberto ao público.
Clássicos na Praça Realizados em praças da Região Metropolitana de Belo Horizonte, os concertos proporcionam momentos de descontração e entretenimento, buscando democratizar o acesso da população em geral à música clássica.
Concertos de Câmara Realizados
Concertos Didáticos Concertos
Turnês Estaduais As turnês estaduais
destinados exclusivamente a grupos de crianças e jovens da rede escolar, bem como a instituições sociais, mediante inscrição prévia. Seu formato busca apoiar o público em seus primeiros passos na música clássica.
levam a música de concerto a diferentes cidades e regiões de Minas Gerais, possibilitando que o público do interior do Estado tenha contato direto com música sinfônica de excelência.
para estimular músicos e público na apreciação da música erudita para pequenos grupos. A Filarmônica conta com grupos de Metais, Cordas, Sopros e Percussão.
Turnês Nacionais e Internacionais Festival Tinta Fresca Com o objetivo
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de fomentar a criação musical entre compositores brasileiros e gerar oportunidade para que suas obras sejam programadas e executadas em concerto, este Festival é sempre uma aventura musical inédita. Como prêmio, o vencedor recebe a encomenda de outra obra sinfônica a ser estreada pela Filarmônica no ano seguinte, realimentando o ciclo da produção musical nos dias de hoje.
Com essas turnês, a Orquestra Filarmônica de Minas Gerais busca colocar o Estado de Minas dentro do circuito nacional e internacional da música clássica. Em 2014, a Orquestra volta a se apresentar no Festival de Campos do Jordão.
PRÓXIMOS CONCERTOS JUNHO Dia 6 Turnê Estadual Uberaba sexta, 20h, Praça Nossa Senhora da Abadia
Dia 27 Turnê Estadual Patos de Minas sexta, 20h, Praça Irmãos Sol
Marcos Arakaki, regente AMARAL VIEIRA / RIMSKY-KORSAKOV / GNATTALI / GRIEG / SAINT-SAËNS
Marcos Arakaki, regente AMARAL VIEIRA / RIMSKY-KORSAKOV / GNATTALI / GRIEG / SAINT-SAËNS
Dia 7 Turnê Estadual Frutal sábado, 20h, Praça da Prefeitura Marcos Arakaki, regente AMARAL VIEIRA / RIMSKY-KORSAKOV / GNATTALI / GRIEG / SAINT-SAËNS
Dia 22 Concertos para a Juventude Encontro com o Romantismo tardio domingo, 11h, Sesc Palladium Marcos Arakaki, regente WAGNER / VERDI / RIMSKY-KORSAKOV / TCHAIKOVSKY / BRAHMS / SAINT-SAËNS
Dia 26 Turnê Estadual Nova Serrana quinta, 20h, Praça da Lagoa Marcos Arakaki, regente AMARAL VIEIRA / RIMSKY-KORSAKOV / GNATTALI / GRIEG / SAINT-SAËNS
ORQUESTR A FIL ARMÔNICA DE MINAS GER AIS / JUNHO 2014 Diretor Artístico e Regente Titular
Regente Associado
Fabio Mechetti
Marcos Arakaki
Primeiros Violinos Anthony Flint – Spalla Rommel Fernandes – Spalla Associado Ara Harutyunyan – Assistente de Spalla Ana Zivkovic Arthur Vieira Terto Baptiste Rodrigues Bojana Pantovic Dante Bertolino Eliseu Martins de Barros Hyu-Kyung Jung Marcio Cecconello Megumi Tokosumi Rodrigo Bustamante Rodrigo Monteiro Braga Segundos Violinos Frank Haemmer * Leonidas Cáceres ** Jovana Trifunovic Leonardo Ottoni Luka Milanovic Marija Mihajlovic Martha de Moura Pacífico Mateus Freire Radmila Bocev Rodolfo Toffolo Rodrigo de Oliveira Tiago Ellwanger Valentina Gostilovitch
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Violas João Carlos Ferreira * Roberto Papi ** Flávia Motta Gerry Varona *
principal
**
Clarinetes Marcus Julius Lander * Jonatas Bueno ** Ney Campos Franco Alexandre Silva
Gilberto Paganini Juan Castillo Marcelo Nébias Nathan Medina Katarzyna Druzd Kamila Druzd ****
Contrabaixos Colin Chatfield * Nilson Bellotto ** Brian Fountain Hector Manuel Espinosa Marcelo Cunha Pablo Guiñez William Brichetto
Oboés Alexandre Barros * Ravi Shankar ** Israel Muniz Moisés Pena
principal assistente
Conselho Administrativo presidente emérito
Jacques Schwartzman presidente
Roberto Mário Soares
Violoncelos Elise Pittenger *** Camila Pacífico Camilla Ribeiro Eduardo Swerts Eneko Aizpurua Pablo Lina Radovanovic Robson Fonseca Francisca Garcia ****
Flautas Cássia Lima * Renata Xavier ** Alexandre Braga Elena Suchkova
Percussão Rafael Alberto * Daniel Lemos ** Werner Silveira Sérgio Aluotto
INSTITUTO CULTUR AL FIL ARMÔNICA / JUNHO 2014
Fagotes Catherine Carignan * Andrew Huntriss Cláudio de Freitas Trompas Alma Maria Liebrecht * Evgueni Gerassimov ** Gustavo Garcia Trindade José Francisco dos Santos Lucas Filho Fabio Ogata
Harpa Giselle Boeters * Teclados Ayumi Shigeta * gerente
Jussan Fernandes inspetora
Karolina Lima assistente administrativo
Débora Vieira Trompetes Marlon Humphreys * Érico Fonseca ** Daniel Leal Trombones Mark John Mulley * Wagner Mayer ** Renato Lisboa Tuba Eleilton Cruz *
conselheiros
Berenice Menegale Bruno Volpini Celina Szrvinsk Fernando de Almeida Ítalo Gaetani Marco Antônio Drumond Marco Antônio Pepino Marcus Vinícius Salum Mauricio Freire Octávio Elísio Paulo Paiva Paulo Brant Sérgio Pena
analista
Merrina Godinho Delgado
administrativo
gerente de produção
Paulo Baraldi
musical
analista contábil
Claudia da Silva Guimarães
Graziela Coelho
assessora de
Thais Boaventura
programação musical
analista de
Carolina Debrot
recursos humanos
produtores
Quézia Macedo Silva
Geisa Andrade Luis Otávio Rezende Narren Felipe
secretária executiva
analistas de
administrativos
comunicação
Cristiane Reis João Paulo de Oliveira
Ana Lúcia Kobayashi Claudio Starlino Jônatas Reis
diretor presidente
supervisor de
administrativo-
montagem
financeiro
Rodrigo Castro
Estevão Fiuza
analista de marketing
montadores
Igor Araujo Jussan Meireles Risbleiz Aguiar
Diomar Silveira diretor
assistentes
auxiliar administrativo
Vivian Figueiredo recepcionista
Lizonete Prates Siqueira auxiliares de serviços gerais
diretora de comunicação
Mônica Moreira
Jacqueline Guimarães Ferreira
mensageiros
analista de
Jeferson Silva Pablo Faria
diretora de marketing
marketing e projetos
Mariana Theodorica
menor aprendiz
assistente de
Pedro Almeida
Zilka Caribé diretor de operações
Marcos Souza músico convidado
Flaviana Mendes
Ailda Conceição Claudia Regina
e projetos
****
analista financeiro
de relacionamento
diretor de produção
assistente substituto
comunicação
Diretoria Executiva
Sergio Almeida
Ivar Siewers
/
Equipe Administrativa
assistentes
arquivista
Tímpanos Patricio Hernández Pradenas *
principal
gerente de
Andréa Mendes – Imprensa Marciana Toledo – Publicidade Mariana Garcia – Multimídia Renata Romeiro – Design gráfico
musical
***
Equipe Técnica
comunicação
Renata Gibson assistente de marketing de relacionamento
André Rozenbaum
FOR TI S SIMO junho Nº 5 / 2014 ISSN 2357-7258
editora
Merrina Godinho Delgado edição de texto
Berenice Menegale
PA R A A PRECIA R UM CONCERTO
Fotos e gravações em áudio e vídeo
Pontualidade
Aparelhos celulares
Uma vez iniciado um concerto, qualquer movimentação perturba a execução da obra. Seja pontual e respeite o fechamento das portas após o terceiro sinal. Se tiver que trocar de lugar ou sair antes do final da apresentação, aguarde o término de uma peça.
Confira e não se esqueça, por favor, de desligar o seu celular ou qualquer outro aparelho sonoro. E também evite usar o celular durante o concerto, pois a luz atrapalha quem está perto de você.
Aplausos
Tosse
Crianças
Comidas e bebidas
Aplauda apenas no final das obras, que, muitas vezes, se compõem de dois ou mais movimentos. Veja no programa o número de movimentos e fique de olho na atitude e gestos
Perturba a concentração dos músicos e da plateia. Tente controlá-la com a ajuda de um lenço ou pastilha.
Caso esteja acompanhado por criança, escolha assentos próximos aos corredores. Assim, você consegue sair rapidamente se ela se sentir desconfortável.
Seu consumo não é permitido no interior da
Não são permitidas na sala de concertos.
FOTO EUGÊNIO SÁVIO
JUNHO 2014
Conversa A experiência do concerto inclui o encontro com outras pessoas. Aproveite essa troca antes da apresentação e no seu intervalo, mas nunca converse ou faça comentários durante a execução das obras. Lembre-se de que o silêncio é o espaço da música.
sala de concerto.
do regente.
CUIDE DO SEU PROGR A M A DE CONCERTOS O programa mensal é elaborado com a participação de diversos especialistas e oferece uma oportunidade a mais para se conhecer música, compositores e intérpretes. Desfrute da leitura e estudo. Em 2014, ele ganha o nome Fortissimo e o registro do ISSN, um código que o identifica, permite a citação de seus textos como referência intelectual e acadêmica e sua indexação nos sistemas nacional e internacional de pesquisa. Para evitar o desperdício, traga sempre o seu programa. Caso o esqueça, use o exemplar entregue pelas recepcionistas e, ao final, deposite-o em uma das caixas colocadas à saída do Grande Teatro. 26
Programa disponível no site: www.filarmonica.art.br//index.php/blog/programas
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em julho você tem um encontro especial
F E S T I VA L RICHARD S TR AUSS
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JUNHO 2014
Compositor singular de uma obra plural
DIA 3 fa b i o m e c h e t t i
Sinfonia nº 2
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arnaldo cohen
Burleske
Don Juan
DIA 15 fa b i o m e c h e t t i
/
a d ri a n e q u eiroz
O Burguês Fidalgo: Suíte
Capriccio: Cena f inal
Serenata em Mi bemol maior
Quatro Últimas Canções
DIA 24 fa b i o m e c h e t t i
Da Itália
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sz abolcs zempléni
Concerto para trompa nº 1
IMAGEM SOBRE FOTO DE GESS FORD
Salomé: Dança dos Sete Véus
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CA 0230/001/2013
PAT R O C Í N I O
A P O I O C U LT U R A L
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