FORTIS SIMO
Nº 4 / 2014
maio
Sempre nossa, onde for.
MAIO 2014
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Ministério da Cultura e Governo de Minas
apresentam
S UMÁRIO A LLEG RO
8 /
MAIO
p.
Roberto Tibiriçá, regente convidado Jon Nakamatsu, piano
8
BRAGA Episódio Sinfônico GRIEG Concerto para piano em lá menor, op. 16 SCHUBERT Sinfonia nº 8 em si menor, D. 759,
“Inacabada” TCHAIKOVSKY Romeu e Julieta: Abertura-Fantasia
VIVACE
20 /
MAIO
Kazuyoshi Akiyama, regente convidado Vadim Gluzman, violino
p.
24
BRAHMS Sinfonia nº 3 em Fá maior, op. 90 BEETHOVEN Concerto para violino em Ré maior, op. 61
A LLEG RO
29 /
Kazuyoshi Akiyama, regente convidado
MAIO
HAYAKAWA As Quatro Estações no Japão ELGAR Sinfonia nº 1 em Lá bemol maior, op. 55
2
p.
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CAROS AMIGOS E AMIGAS,
Durante o mês de maio a Filarmônica receberá, mais uma vez, a visita de dois regentes convidados que retornam ao nosso palco para a realização de grandes concertos. Roberto Tibiriçá apresentará obras de Francisco Braga, além da interpretação de duas das mais populares obras do repertório sinfônico: a “Inacabada” de Schubert e Romeu e Julieta de Tchaikovsky. Ainda neste programa, apresentaremos o belo Concerto para piano de Edvard Grieg, aqui interpretado por Jon Nakamatsu, um dos pianistas mais premiados das últimas décadas. É com grande satisfação que também recebemos o venerado regente japonês Kazuyoshi Akiyama, conduzindo dois programas de suma beleza. Sob sua impecável direção a Filarmônica irá revisitar a Sinfonia nº 3 de Brahms e explorar pela primeira vez uma das sinfonias mais representativas do Romantismo tardio inglês, a Primeira de Sir Eduard Elgar. Seremos ainda premiados com a presença do exímio violinista Vadim Gluzman, que retorna a Belo Horizonte para mostrar sua versão do belíssimo Concerto para violino de Beethoven. Tenho certeza de que a famosa hospitalidade mineira irá acolher nossos especiais convidados e retribuir suas presenças com os mais entusiasmados aplausos. Nosso muito obrigado pela presença.
Fabio Mechetti DIRETOR ARTÍSTICO E REGENTE TITULAR
4 5
FOTO ALEXANDRE REZENDE
MAIO 2014
FABIO MECHE T TI Diretor Art íst ico e R egente Titula r
Natural de São Paulo, Fabio Mechetti é Diretor Artístico e Regente Titular da Orquestra Filarmônica de Minas Gerais desde sua criação, em 2008. Por esse trabalho, recebeu o XII Prêmio Carlos Gomes/2009 na categoria Melhor Regente brasileiro. É também Regente Titular e Diretor Artístico da Orquestra Sinfônica de Jacksonville (EUA) desde 1999. Foi Regente Titular da Orquestra Sinfônica de Syracuse e da Orquestra Sinfônica de Spokane, da qual é, agora, Regente Emérito. Foi regente associado de Mstislav Rostropovich na Orquestra Sinfônica Nacional de Washington e com ela dirigiu concertos no Kennedy Center e no Capitólio norte-americano. Da Orquestra Sinfônica de San Diego foi Regente Residente.
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Fez sua estreia no Carnegie Hall de Nova York conduzindo a Orquestra Sinfônica de Nova Jersey e tem dirigido inúmeras orquestras
norte-americanas, como as de Seattle, Buffalo, Utah, Rochester, Phoenix, Columbus, entre outras. É convidado frequente dos festivais de verão nos Estados Unidos, entre eles os de Grant Park em Chicago e Chautauqua em Nova York. Realizou diversos concertos no México, Espanha e Venezuela. No Japão dirigiu as Orquestras Sinfônicas de Tóquio, Sapporo e Hiroshima. Regeu também a Orquestra Sinfônica da BBC da Escócia, a Filarmônica de Auckland, Nova Zelândia, a Orquestra Sinfônica de Quebec, Canadá, e a Filarmônica de Tampere, na Finlândia. Vencedor do Concurso Internacional de Regência Nicolai Malko, na Dinamarca, Mechetti dirige regularmente na Escandinávia, particularmente a Orquestra da Rádio Dinamarquesa e a de Helsingborg, Suécia. Recentemente, estreou na Itália conduzindo a Orquestra Sinfônica de
Roma. Em 2014 voltará ao Peru, desta vez regendo a Orquestra Sinfónica Nacional del Perú, e à Espanha, onde se apresenta pela primeira vez com a Orquestra da RTV Espanhola. Acaba de estrear na Malásia, conduzindo a Filarmônica da Malásia, e em breve estreará em Israel, com a Orquestra de Câmara de Israel. No Brasil foi convidado a dirigir a Sinfônica Brasileira, a Estadual de São Paulo, as orquestras de Porto Alegre, Brasília e Paraná e as municipais de São Paulo e do Rio de Janeiro. Trabalhou com artistas como Alicia de Larrocha, Thomas Hampson,
Frederica von Stade, Arnaldo Cohen, Nelson Freire, Emanuel Ax, Gil Shaham, Midori, Evelyn Glennie, Kathleen Battle, entre outros. Igualmente aclamado como regente de ópera, estreou nos Estados Unidos dirigindo a Ópera de Washington. No seu repertório destacam-se produções de Tosca, Turandot, Carmen, Don Giovanni, Cosi fan Tutte, Bohème, Butterfly, Barbeiro de Sevilha, La Traviata e As Alegres Comadres de Windsor. Fabio Mechetti recebeu títulos de Mestrado em Regência e em Composição pela prestigiosa Juilliard School de Nova York.
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FOTO EUGÊNIO SÁVIO
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SÉRIE ALLEGRO
8/
M AIO
Roberto Tibiriçá, regente convidado Jon Nakamatsu, piano
quinta, 20h30 Grande Teatro do Palácio das Artes
PRO GR A M A
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Francisco BRAGA Episódio Sinfônico [7 min]
2
Edvard GRIEG Concerto para piano em lá menor, op. 16 [30 min] Allegro molto moderato Adagio Allegro moderato molto e marcato jon nakamatsu,
— 3
i n t e r va l o
piano
—
Franz SCHUBERT Sinfonia nº 8 em si menor, D. 759, “Inacabada” [23 min] Allegro moderato Andante con moto
4 8
Piotr Ilitch TCHAIKOVSKY Romeu e Julieta: Abertura-Fantasia [19 min]
MAIO 2014
ROBERTO TIBIRIÇÁ
Nascido em São Paulo, Roberto Tibiriçá recebeu orientações de Guiomar Novaes, Magda Tagliaferro, Dinorah de Carvalho, Nelson Freire, Gilberto Tinetti e Peter Feuchwanger. Foi discípulo do maestro Eleazar de Carvalho.
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Vencedor do concurso para Jovens Regentes da Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo em duas edições, foi maestro convidado da orquestra por quase dezoito anos. Foi regente assistente no Teatro Nacional de São Carlos, em Lisboa, Portugal, e em 1994 tornouse diretor artístico da Orquestra Sinfônica Brasileira. Também foi diretor artístico e regente titular da Orquestra Petrobras Pró Música e diretor artístico da Sinfônica Heliópolis/Instituto Baccarelli, cujo patrono é o maestro Zubin Mehta. Ocupou ainda os cargos de
regente titular e diretor artístico da Sinfônica de Campinas e da Filarmônica de São Bernardo do Campo, regente titular da Sinfônica de Minas Gerais e da Ossodre, de Montevidéu, Uruguai. No Rio de Janeiro foi eleito pela crítica Músico do Ano de 1995 e recebeu do governo do Estado o Prêmio Estácio de Sá, por seu trabalho com a Orquestra Sinfônica Brasileira. Na Orquestra Petrobras Pró Musica teve elogiadas iniciativas para divulgação e estímulo à musica brasileira, como concertos com repertório de compositores nacionais contemporâneos e concursos para jovens solistas, jovens regentes e jovens compositores. Com a orquestra, Tibiriçá gravou dois CDs com importantes obras brasileiras, sendo um deles – com
obras de Villa-Lobos e Hekel Tavares e Arnaldo Cohen ao piano – considerado um dos melhores de 2003. Dirigida por Roberto Tibiriçá, a Orquestra Petrobras Pró Música (hoje Petrobras Sinfônica) recebeu duas vezes o Prêmio Carlos Gomes de Melhor Conjunto Orquestral. A convite da própria artista, participou do Festival Martha Argerich, em Buenos Aires, regendo Martha e, em outra ocasião, a Filarmônica de Buenos Aires com o pianista Nelson Freire. Há alguns anos é convidado para o Festival Villa-Lobos, na Venezuela, regendo concertos com a Orquestra Simón Bolívar. Tibiriçá recebeu o título de Cidadão do Estado do Rio de Janeiro em 2002 e desde 2003 ocupa a Cadeira nº 5 da Academia Brasileira
de Música. Por seu trabalho com a Sinfônica Heliópolis e com a Sinfônica de Minas Gerais, conquistou o Prêmio Carlos Gomes como Melhor Regente Sinfônico e o Prêmio da Associação Paulista de Críticos de Artes (APCA). Foi condecorado com a Ordem do Ipiranga, a mais alta honraria do Estado de São Paulo, e com a Grande Medalha Presidente Juscelino Kubitschek, outorgada pelo Governo de Minas Gerais.
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FOTO PAULO LACERDA
SÉRIE ALLEGRO
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JON NAK AMATSU
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Desde a conquista da Medalha de Ouro Van Cliburn, em 1997, a brilhante musicalidade de Jon Nakamatsu e seu repertório eclético fizeram dele um favorito em todo o mundo, nos palcos e nos estúdios. Ele tem se apresentado amplamente na América do Norte, Europa e Extremo Oriente e colaborado com maestros como James Conlon, Philippe Entremont, Marek Janowski, Raymond Leppard, Gerard Schwarz, Stanislaw Skrowaczewski, Michael Tilson Thomas e Osmo Vänskä. Nakamatsu já se apresentou no Carnegie Hall, Lincoln Center e Metropolitan Museum of Art, em Nova York; Kennedy Center, em Washington, DC; Montalvo Arts Center, em Saratoga; e em cidades como Boston, Chicago, Cincinnati, Paris, Londres, Milão e Varsóvia.
Sua agenda de turnês é quase incessante, com apresentações de orquestra, música de câmara e recitais solo. Como parte de seu Projeto Beethoven, apresentou os cinco concertos para piano de Beethoven com a Orquestra Sinfônica de Stanford, sob direção de Jindong Cai. Possui longa parceria com a Filarmônica de Rochester para apresentação do Concerto para piano de Grieg, sob direção de Arild Remmereit. Entre outros festivais, esteve em Aspen, Tanglewood, Ravinia, Caramoor, Vail, Sun Valley, Wolftrap e Britt. Nakamatsu colabora com inúmeros conjuntos de câmara, entre eles os quartetos de cordas Brentano, Júpiter, Tóquio, Prazak, St. Lawrence e Ying. Participa de turnês com o Quinteto de Sopros da Filarmônica de Berlim e esteve também na série de música de
câmara da orquestra. É parceiro do clarinetista Jon Manasse no Manasse-Nakamatsu Duo e, juntos, lançaram gravações de sucesso, entre elas o CD Brahms Sonatas for Clarinet and Piano, eleito o Melhor do Ano em 2008 pelo The New York Times Classical Music and Dance; e o CD American Music for Clarinet and Piano, um dos dez melhores álbuns de 2010 segundo The Mercury News. Nakamatsu e Manasse são diretores artísticos do Festival Cape Cod de Música de Câmara. Nakamatsu grava exclusivamente pelo selo Harmonia Mundi dos Estados Unidos, tendo lançado onze CDs até o momento. Seu recente álbum, com o maestro Jeff Tyzik, a Filarmônica de Rochester e obras de Gershwin, alcançou a terceira posição na Billboard e ganhou extraordinários elogios da crítica.
Jon Nakamatsu estudou com Marina Derryberry desde os seis anos e trabalhou com Karl Ulrich Schnabel. Estudou composição e orquestração com Leonard Stein, do Instituto Schoenberg, na Universidade do Sul da Califórnia, e também música de câmara e musicologia. O músico é bacharel graduado em Estudos Germânicos pela Universidade de Stanford e possui mestrado em Educação.
FOTO CHRISTIAN STEINER
SÉRIE ALLEGRO
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SÉRIE ALLEGRO
FR A NCISCO
MAIO 2014
BR AG A
(B ras il , 1868 – 194 5)
Episódio Sinfônico (1898)
Instrumentação: piccolo, 2 flautas, 2 oboés, corne inglês, 2 clarinetes, 2 fagotes, 4 trompas, harpa, cordas.
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“Conheces a terra onde os limoeiros florescem?”, pergunta a bela Mignon, “nesse lugar eu desejaria estar”. A famosa balada da personagem do romance Wilhelm Meister, de Goethe, serviu de texto para mais de setenta canções de compositores como Beethoven, Schubert, Schumann, Liszt e Tchaikovsky. A nostalgia da terra natal, elevada às raias da imaginação pela sonhadora Mignon, inspirou, servindo-lhe de epígrafe para a Canção do Exílio, Gonçalves Dias, poeta máximo da primeira fase do Romantismo literário brasileiro. “Minha terra tem palmeiras, onde canta o sabiá”, verso inicial do poema escrito em Portugal, em 1843, introduz a coletânea Primeiros Cantos. Do terceiro grupo de poemas do livro – Hinos – faz parte o poema O Templo, que inspirou e epigrafou
o Episódio Sinfônico, a “canção do exílio” do compositor carioca Francisco Braga. A curta obra sinfônica foi composta em Dresden, Alemanha, no ano de 1898 – o oitavo dos dez anos que o autor do nosso Hino à Bandeira viveu na Europa, sob os auspícios do governo brasileiro. Após ter estudado em Paris, fixar residência em Dresden fora mais do que apropriado, uma vez que Richard Wagner, seu ídolo, lá atuara como diretor do Teatro da Corte. Na magnífica capital saxã, Francisco Braga apreciou novas paisagens e dali se permitiu, como compositor, apesar do isolamento em que vivia, compartilhar – por meio de sua música – essas novas visões. Ao eleger o fragmento de O Templo, ele adentrou o lirismo
solene e religioso da poesia de Gonçalves Dias, bem distante das características indianistas e americanas tão frequentes no poeta maranhense. Na solidão e no contato com a natureza o homem funde-se com Deus e brota nele a paz. Escrevendo sobre o Episódio Sinfônico, o crítico Luiz Heitor Corrêa de Azevedo diz: “trata-se de uma poesia repassada de acentos místicos, de religiosidade, que o compositor muito felizmente evocou, na orquestra, sugerindo a grave atmosfera de um templo e a plenitude do órgão quando emprega toda a riqueza de sua registração”. O entendimento da obra se completa com a leitura do fragmento poético escolhido por Francisco Braga: “Só tu, Senhor, só tu, no meu deserto /Escutas minha voz que te suplica; /Só tu nutres minha alma de esperança; /Só tu, oh meu Senhor, em mim derramas /Torrentes de harmonia, que me abrasam. /Qual órgão, que ressoa mavioso, /Quando segura mão lhe oprime as teclas, /Assim minha alma, quando a ti se achega, /Hinos
Para ouvir
CD Episódio Sinfônico – Orquestra Sinfônica Municipal de Campinas – Benito Juarez, regente – Gravadora Eldorado – 1999
Para ler
Luiz Heitor Corrêa de Azevedo – 150 Anos de Música no Brasil (1800-1950) – Livraria José Olympio Editora – 1956
de ardente amor disfere grata: /E, quando mais serena, ainda conserva /Eflúvios deste canto, que me guia /No caminho da vida áspero e duro. /Assim por muito tempo reboando /Vão no recinto do sagrado templo /Sons, que o órgão soltou, que o ouvido escuta”. Nas asas desses versos, Francisco Braga criou um episódio sinfônico de oração íntima e singela. A obra foi apresentada em junho de 1944 pela Orquestra da Sociedade de Concertos Sinfônicos, fundada por Francisco Braga, no Theatro Municipal do Rio de Janeiro, sob a regência do célebre maestro austríaco Erich Kleiber.
marcelo corrêa | Pianista, Mestre em Piano pela Universidade Federal de Minas Gerais e professor na Universidade do Estado de Minas Gerais.
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SÉRIE ALLEGRO
EDVA RD
MAIO 2014
GRIEG
(No r uega , 1843 – 19 0 7)
Concerto para piano em lá menor, op. 16 (1868, versão final 1906)
Instrumentação: 2 flautas, 2 oboés, 2 clarinetes, 2 fagotes, 4 trompas, 2 trompetes, 3 trombones, tímpanos, cordas.
Numa carta aos pais, escrita em Roma em 1870, Grieg narra o episódio em que ele mostra a Franz Liszt seu Concerto para piano: “estávamos curiosos para ver se ele seria capaz de tocar meu concerto à primeira vista. Por mim, achava isso impossível. Liszt era de outra opinião. E pôs-se a tocar. Ao terminar, pôs-se de pé, afastou-se e, em grandes passadas pela sala, vociferava: ‘Sol, sol e não sol sustenido!’ E então, como entre parênteses, baixinho: ‘Smetana trouxe-me recentemente qualquer coisa nesse gênero’. Por fim, devolvendo-me o trabalho, disse-me com aquele seu modo estranho e profundo: ‘Continue assim, é o que lhe digo; você possui as qualidades precisas; não se deixe amedrontar’”. 16
Narrado em tom de anedota, o episódio revela pontos cruciais acerca dessa obra fundamental tanto da literatura pianística quanto do universo sinfônico. Em primeiro lugar, a grande bravura técnica que demanda do intérprete. Em segundo, a inserção de Grieg em um braço do Romantismo que se volta para origens nacionais, como uma busca por novos materiais expressivos para embasar expressões artísticas individuais. Por fim, as proféticas palavras de Liszt, que posicionam Grieg em um lugar importante da Música Ocidental, para além do próprio movimento romântico. Grieg vive em um período de grande efervescência política e cultural da Noruega, que acabara de se libertar da Dinamarca após quatro séculos de dominação.
A postura de voltar seus olhos para a imagem de uma Noruega pitoresca, alegre, poética e livre, então, parece ser quase natural. Por isso, sua atitude em relação ao folclore não toma ares de manifesto político, mas de uma necessidade interior. Assim como outros compositores contemporâneos seus, oriundos de periferias dos grandes centros culturais europeus, o movimento que realiza em relação ao folclore é o de apropriação de um material musical que ele remodela no seio de uma linguagem romântica já então plenamente consolidada. O Concerto para piano em lá menor foi composto quando Grieg contava 24 anos de idade, durante uma de suas muitas viagens à Dinamarca, aonde costumava ir em busca de um clima mais ameno. Foi estreado em Copenhagen no ano seguinte, tendo como solista Edmund Neupert, sob a batuta de Holger Simon Paulli. Várias revisões foram feitas na partitura desde a primeira execução em público, a última delas datando do ano anterior ao de sua morte. Essa última versão é a que comumente se executa.
Para ouvir
CD Edvard Grieg – Concerto para piano em lá menor – Orquestra Sinfônica de Londres – André Previn, regente – Radu Lupu, piano – Philips/Decca – 1999
Para assistir
Arthur Rubinstein, piano Acesse: tinyurl.com/gconcpiano
Para ler
Erling Dahl Jr. – Grieg: his life and works – Olav Grinde, tradução inglesa – Troldhaugen/The Edvard Grieg Museum – 2002
Formalmente, o Concerto em lá menor não traz grandes novidades, exceto pelo tratamento dado à forma sonata no primeiro movimento, que tem um desenvolvimento relativamente curto em relação às outras partes, principalmente a extensa cadência e a coda que a segue. Não é na inovação formal que Grieg se destaca, mas na riqueza de seu trabalho melódico e harmônico, e em uma rítmica viva, como a do terceiro movimento. Nesses parâmetros é que se observa sua relação com o folclore e, nela, seu próprio caminho de expressão pessoal.
moacyr laterza filho | Pianista e cravista, Doutor em Literaturas de Língua Portuguesa, professor da Universidade do Estado de Minas Gerais e da Fundação de Educação Artística.
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SÉRIE ALLEGRO
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FR A NZ
SCHUBERT (Áus t r i a , 1797 – 18 2 8)
Sinfonia nº 8 em si menor, D. 759, “Inacabada” (1822)
Instrumentação: 2 flautas, 2 oboés, 2 clarinetes, 2 fagotes, 2 trompas, 2 trompetes, 3 trombones, tímpanos, cordas.
Quando Schubert faleceu, um ano e oito meses após Beethoven, nenhum jornal de Viena reportou a morte de um grande artista, mas apenas de um músico que tivera uma vida totalmente dedicada à arte e que fora imensamente amado pelos amigos. Ao contrário de Beethoven, cujo funeral foi assistido por cerca de vinte mil pessoas, Schubert teve um funeral modesto, com a presença da família e de seu pequeno círculo de amigos.
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O tímido Schubert, que não gostava de publicidade, jamais se importou se sua música seria um dia executada. Seu interesse estava sempre na nova obra a compor. Em vida, teve publicado menos de um terço de suas canções e pouquíssimas obras instrumentais. No entanto, muitas de suas canções
circulavam em Viena em cópias manuscritas entre um seleto grupo de amigos. Após sua morte foram exatamente esses amigos, mais alguns admiradores apaixonados, tais como Mendelssohn, Robert e Clara Schumann, Brahms e Liszt, que fizeram de tudo para resgatar, restaurar, editar e difundir sua música. O mundo assistiu atordoado ao aparecimento, ano após ano, de centenas de obras inéditas. Em seus trinta e um anos de vida Schubert havia composto mais de mil obras, dentre as quais mais de seiscentas canções, quinze quartetos de cordas, sete sinfonias completas e seis incompletas, algumas óperas, seis missas e várias obras sacras, além de um grande número de obras de câmara e piano solo (incluindo sonatas, improvisos, momentos musicais e várias danças).
A Sinfonia Inacabada foi composta em Viena, em outubro de 1822. O subtítulo “Inacabada” vem do fato de existirem apenas os dois primeiros movimentos. Em uma carta de 7 de dezembro de 1822 para seu amigo Josef von Spaun, Schubert não incluiu a Sinfonia na lista de suas composições recentes, provavelmente porque, naquela data, ele ainda não a via como uma obra terminada. Porém, de acordo com Joseph Hüttenbrenner (um dos irmãos Hüttenbrenner, amigos de Schubert, especialmente Anselm, com quem tocava a quatro mãos), por volta de 1824 Schubert enviou o manuscrito dos dois movimentos a Anselm, em agradecimento pelo Diploma de Membro Honorário in absentia da Sociedade Musical da Estíria, com o qual havia sido homenageado. Se acreditarmos que Schubert dificilmente enviaria uma obra inacabada como agradecimento, é possível que ele tenha percebido que a Sinfonia já estava completa com seus dois maravilhosos movimentos, mesmo que, na época da composição, essa percepção ainda não estivesse clara (fragmentos de um Scherzo foram encontrados no verso do manuscrito).
Para ouvir
CD Schubert – 8 Symphonies – Berliner Philharmoniker – Karl Böhm, regente – Deutsche Grammophon – 2001
Para assistir
Orquestra Filarmônica de Viena – Riccardo Muti, regente | Acesse: tinyurl.com/sinacabada
Para ler
Christopher H. Gibbs (ed.) – The Cambridge companion to Schubert – Cambridge University Press – 2004 Brigitte Massin – Franz Schubert – Arthème Fayard – 1993 (nouvelle edition)
Mas, se a versão da doação da Sinfonia em agradecimento ao Diploma foi uma farsa, teríamos que supor que os irmãos Hüttenbrenner se apropriaram indevidamente do manuscrito. Afinal de contas, o fato é que Anselm reteve a Sinfonia e nunca a doou à Sociedade. Por mais de quarenta anos os dois irmãos mantiveram o manuscrito em casa sem jamais mencioná-lo a ninguém, nem a Ferdinand, irmão de Schubert, nem nas memórias que Anselm escreveu em 1854, a pedido de Liszt, nem nas inúmeras cartas que escreveram em resposta às perguntas dos primeiros biógrafos de Schubert. No final dos anos 1850 os irmãos Hüttenbrenner começaram, pouco a pouco, a mencionar a existência da Sinfonia e, apenas em 1865, trinta e sete
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anos após a morte de Schubert, o manuscrito foi entregue ao regente Johann Herbeck, que a estreou em Viena na Gesellschaft der Musikfreunde, no dia 17 de dezembro de 1865. O primeiro movimento (Allegro moderato) inicia-se com uma lenta introdução nos violoncelos e contrabaixos. O primeiro tema é primeiramente executado pelo oboé e clarinete enquanto o segundo grupo temático inicia-se com uma bela melodia nos violoncelos, prontamente respondida pelos violinos. O caráter misterioso da introdução será retomado na seção central e na coda. O segundo movimento (Andante con moto) possui dois temas: o primeiro, executado pelos violinos, e o segundo, pelo clarinete. Um episódio dramático marca a volta dos dois temas. Em sua segunda aparição, esse episódio nos conduz a um final surpreendentemente tranquilo.
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FOTO RAFAEL MOTTA
SÉRIE ALLEGRO
A Sinfonia “Inacabada” (D. 759), embora composta em 1822, foi a oitava sinfonia de Schubert a ser descoberta, por isso recebeu o título de Sinfonia nº 8. Na época, a Sinfonia nº 7 era a “Grande” Sinfonia em Dó maior (D. 944), que havia sido composta entre 1825 e 1828. Tal inversão se deu pelo fato da “Grande” ter sido descoberta décadas antes, em 1839, por Robert Schumann, e já se encontrar publicada quando da descoberta da “Inacabada”. Com o tempo, por uma questão cronológica, a “Grande” acabou sendo chamada de Sinfonia nº 9, e o esboço de uma sinfonia (D. 729) de 1821 acabou preenchendo o lugar vago do nº 7. No entanto, em 1978, os editores do Catálogo Temático de Schubert resolveram não mais contar os vários esboços de sinfonias deixados por Schubert. Dessa maneira, a Sinfonia “Inacabada” passou a ser chamada de nº 7 e a “Grande”, de nº 8, embora muitos ainda se refiram a elas pela antiga numeração.
guilherme nascimento | Compositor, Doutor em Música pela Unicamp, professor na 20
Escola de Música da UEMG, autor dos livros Os sapatos floridos não voam e Música menor.
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SÉRIE ALLEGRO
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PIOTR ILITCH
TCHAIKOVSK Y (R ú ss i a , 1840 – 1893)
Romeu e Julieta: Abertura-Fantasia (1880)
Instrumentação: piccolo, 2 flautas, 2 oboés, corne inglês, 2 fagotes, 4 trompas, 2 trompetes, 3 trombones, tuba, tímpanos, percussão, harpa, cordas.
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A abordagem de Tchaikovsky à composição musical, mesmo à chamada música absoluta, era antes de tudo um gesto autobiográfico, confessional, ao qual confiava todo seu mundo interior. Em seus escritos, ele se refere frequentemente ao Destino (o Fatum), transformando-o em motivo programático gerador de temas musicais. Entretanto, o compositor soube conciliar a concepção intimista de sua arte com o culto rigoroso da forma. Mesmo encontrando dificuldades em moldar o anseio de exprimir emoções e sentimentos pessoais à tradicional e característica forma sonata, Tchaikovsky insistiu em cultivá-la, pois a considerava um poderoso fator de unidade e coerência textual. Por mais deliberadamente descritiva que seja em sua gênese, a obra de Tchaikovsky impõe-se por
suas qualidades especificamente musicais, sobretudo pela beleza melódica, pelo domínio magistral da orquestração e pela prodigiosa intuição do poder expressivo dos instrumentos. Entre os muitos textos literários que lhe serviram de inspiração, Tchaikovsky se comovia particularmente com a estória de Romeu e Julieta, a obra mais popular de Shakespeare. Para escrevê-la, em versos de um lirismo inigualável, o grande escritor seguiu fielmente o enredo de uma peça de Artur Brooke, publicada em 1562. Mas enquanto a versão moralista desse autor atribui o trágico desenlace da história ao fato dos jovens amantes desobedecerem à vontade de seus pais, Shakespeare desloca o foco narrativo para o ódio entre
as famílias rivais, transformando os namorados em vítimas de um destino cruel. Já nas palavras do Prólogo, com a afirmativa de que as estrelas fizeram nascer “um par de amantes desditosos”, o Destino torna-se protagonista da tragédia. Em sua Abertura, Tchaikovsky não se propõe a ilustrar ou seguir a narrativa de toda a peça de Shakespeare. Preferiu evocar a tragédia, fundamentando sua composição em três temas que retratam: o frade Lourenço; a guerra entre os Montéquio e os Capuleto; e o amor dos jovens amantes. O uso desses três temas permite uma ampliação da forma sonata, com uma prodigiosa riqueza de ideias. Assim, o motivo de Frei Lourenço, testemunha do destino implacável, é um coral (instrumental) solene e religioso que serve de prólogo e de epílogo para toda a obra. Após o prólogo, a discórdia entre as duas famílias é retratada pelo tema A da forma sonata. Apresenta-se ritmicamente animado, pontuado
Para ouvir
Ouverture Solennelle 1812 – Berliner Philharmoniker – Claudio Abbado, regente – Deutsche Grammophon – 2000
Para assistir
Orquestra da Rádio da Suíça Italiana – Leopold Stokowski, regente Acesse: tinyurl.com/romeuejulieta
Para ler
Michel Rostislav Hofmann – Tchaikovsky – Éditions du Seuil – Collections Microcosme/ Solfèges – 1979
por golpes de pratos que evocam os choques das espadas inimigas. O belíssimo tema B (o do amor) confia aos violoncelos uma melodia doce e envolvente, cantada sobre os acordes da harpa. Divide-se em duas partes – o motivo do amor de Julieta (a ternura) e o motivo da morte de Romeu (a paixão). Na reexposição, esses dois elementos aparecerão em ordem inversa. No final, o canto de amor transforma-se em dueto de adeus, desaparecendo sob acordes fúnebres associados aos golpes que fecham os caixões. E a variação do tema coral de frei Lourenço sugere, então, uma prece pelo triste destino dos jovens amantes.
paulo sérgio malheiros dos santos | Pianista, Doutor em Letras, professor na UEMG, autor dos livros Músico, doce músico e O grão perfumado – Mário de Andrade e a arte do inacabado.
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SÉRIE VIVACE
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M AIO
Kazuyoshi Akiyama, regente convidado Vadim Gluzman, violino
terça, 20h30 Grande Teatro do Palácio das Artes
PRO GR A M A
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Johannes BRAHMS Sinfonia nº 3 em Fá maior, op. 90 [35 min] Allegro con brio Andante Poco allegretto Allegro
— 2
i n t e r va l o
—
Ludwig van BEETHOVEN Concerto para violino em Ré maior, op. 61 [42 min] Allegro ma non troppo Larghetto Rondo: Allegro
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vadim gluzman,
violino
MAIO 2014
K A ZUYOSHI AKIYAMA
Nascido em 1941, Kazuyoshi Akiyama teve a sua formação musical na Escola de Música Toho Gakuen, onde, influenciado pelas atividades de um estudante, Seiji Ozawa, transferiu-se do departamento de piano para estudar regência musical com o maestro Hideo Saito. Em fevereiro de 1964, um ano depois de se formar, Akiyama fez sua estreia com a Orquestra Sinfônica de Tóquio. O tremendo sucesso dessa colaboração levou à sua nomeação para os cargos de diretor musical e maestro permanente apenas dois meses depois.
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No exterior, o sucesso como maestro começou em suas turnês com a Orquestra da Escola de Música Toho Gakuen pelos Estados Unidos e países da Europa. Rapidamente, Akiyama
passou a reger várias orquestras no Canadá e nos Estados Unidos. O sucesso dessas parcerias levou-o a ser convidado a ocupar cargos profissionais como maestro assistente da Sinfônica de Toronto (1968-1969), diretor musical da Orquestra Sinfônica da América (1973-1978) e diretor musical da Orquestra Sinfônica de Vancouver (1972-1985). Posteriormente, tornou-se Maestro Laureado na Sinfônica de Vancouver. Entre 1985 e 1993, Akiyama ocupou o cargo de diretor musical da Orquestra Sinfônica de Siracuse. Durante esse tempo, a reputação de Akiyama espalhou-se pela Europa e pelos Estados Unidos, onde foi convidado a conduzir orquestras como a Royal Philharmonic, Cologne Radio Symphony, o Bayerischer Rundfunk, NDR Symphony Orchestra Hamburg, a
FOTO DIVULGAÇÃO
SÉRIE VIVACE
Orchestre de la Suisse Romande, as sinfônicas de Boston e San Francisco, as filarmônicas de Los Angeles e de Nova York e as orquestras de Cleveland e da Filadélfia. O maestro regeu a Filarmônica de Minas Gerais em maio de 2012. Atualmente Akiyama é Maestro Laureado na Orquestra Sinfônica de Tóquio e na Orquestra Sinfônica de Kyushu. Também é diretor musical e regente principal permanente da Orquestra Sinfônica de Hiroshima, além de diretor artístico e regente principal da Orquestra Filarmônica de Chubu. Akiyama recebeu vários prêmios, incluindo o 6º Suntory Music Award (1975), o Prêmio de Incentivo às Artes do Ministro da Educação (1995) e, junto com Orquestra Sinfônica de Tóquio,
o Kyoto Music Award (1993), o Mainichi Arts Award (1994), o Mobile Music Award (1996) e o 29º Suntory Music Award (1997). Ele foi laureado pelo governo japonês com a Japan’s Medal with Purple Ribbon (2001), com a Ordem do Sol Nascente e a Gold Rays with Rosette (2011), honras de maior prestígio no Japão, por suas realizações de destaque na sociedade musical japonesa.
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VADIM GLUZMAN
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A extraordinária arte de Vadim Gluzman une a tradição violinística dos séculos XIX e XX ao dinamismo de hoje. O violinista israelense já se apresentou com as sinfônicas de Chicago, San Francisco, Minnesota, Cincinnati, Detroit, Houston, Seattle, Toronto e Vancouver e a Orquestra de Câmara Orpheus, na América do Norte. Na Europa, as filarmônicas de Dresden e da República Tcheca, a Sinfônica e a Filarmônica de Londres, BBC Symphony, Royal Scottish National Orchestra, Leipzig Gewandhaus, Munique, Stuttgart Radio Orchestra, Deutsches Symphonie Orchester Berlin, Orchestre de la Suisse Romande, Orquestra Nacional do Capitólio de Toulouse e a Sinfônica da Rádio Finlandesa. Em Israel, a Filarmônica de Israel e a Sinfônica de Jerusalém. Na Ásia, as orquestras da NHK e da KBS.
Gluzman colabora com importantes regentes, como Neeme Järvi, Michael Tilson Thomas, Andrew Litton, Marek Janowski, Paavo Järvi, Rafael Frühbeck de Burgos, Itzhak Perlman, Hannu Lintu, Kazushi Ono, Kristjan Järvi, Peter Oundjian, Vassili Sinaisky, Tugan Sokhiev e Michail Jurowski. Atuante em festivais, fundou, com sua esposa e parceira, a pianista Angela Yoffe, o North Shore Chamber Music Festival. É sócio criativo e principal artista convidado da Orquestra de Câmara ProMusica. Além de interpretar obras consagradas ou redescobertas, Gluzman é defensor apaixonado da música experimental e colabora com compositores da atualidade, como Arvo Pärt, Peteris Vasks, Lera Auerbach, Giya Kancheli, Michael Daugherty, Sofia Gubaidulina, Menachem
Wiesenberg e Richard Rodney Bennett. Gravou também Barber, Bernstein, Bloch, Dvarionas, Glazunov, Korngold, Shostakovich e Tchaikovsky. Seu CD com obras de Max Bruch motivou, por parte de críticos, comparações com artistas do “período de ouro”, como Kreisler e Oistrakh. Na França, foi homenageado com o Diapason d’Or de l’Année 2011, a Clef de l’Année 2011 e com o Choc de Classica 2011. No Reino Unido, foi nomeado Escolha do Editor pela Classic FM Magazine, Orchestral Choice pela BBC Music Magazine e Seleção do Mês pela Strad Magazine. Vadim Gluzman nasceu em 1973 na antiga União Soviética e começou a estudar violino aos sete anos. Antes de se mudar para Israel, onde foi aluno de Yair Kless, estudou com Roman Sne na Letônia e com Zakhar Bron na Rússia. Nos Estados Unidos,
FOTO MARCO BORGGREVE
SÉRIE VIVACE
seus professores foram Arkady Fomin e, na Juilliard School, Masao Kawasaki e Dorothy DeLay. No início de sua carreira, recebeu incentivo e apoio de Isaac Stern e, em 1994, o prestigioso Henryk Szeryng Foundation Career Award. Vadim Gluzman se apresenta com o violino do célebre violinista Leopold Auer, um Stradivarius de 1690, generosamente cedido pela Sociedade Stradivari de Chicago.
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J OH A NNES
BR AHMS
(Ale m a nh a , 1833 – Áus t r i a , 1897)
Sinfonia nº 3 em Fá maior, op. 90 (1883)
Instrumentação: 2 flautas, 2 oboés, 2 clarinetes, 2 fagotes, contrafagote, 4 trompas, 2 trompetes, 3 trombones, tímpanos, cordas.
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As sinfonias de Brahms foram concebidas sob o signo do paradoxo. Nelas, o compositor verte a alma romântica que perpassa sua extensa produção de canções, sem deixar de lado a missão que se impôs de dar seguimento à longa tradição sinfônica, representada por Schumann, Schubert e, em seu caso particular, por Beethoven. Se Brahms, como habitualmente se afirma, encontrava-se mais à vontade na composição de Lieder, é precisamente a conformidade à adoção de parâmetros formais clássicos que torna ainda mais notável sua produção sinfônica. Aqui, o universo da canção invade a sinfonia, agora sem palavras, fazendo ecoarem suas paixões, um raro humor, as respostas musicais às reflexões sobre a morte e um sem-número de manifestações de uma visão de mundo e modo de
ser que merecem atenção, se não quisermos incorrer em imputar, ao autor de Ein Deutsches Requiem, o epíteto de neoclássico e outros rótulos simplificadores e restritivos. Se Brahms ama a concisão, o recolhimento, a gravidade, a introspecção, é precisamente seu recato diante dos arroubos românticos que valoriza e acentua sentimentos vistos por inteiro, a distância. Sua aproximação aos padrões formais clássicos não é acomodação, e não deve ser vista de fora. Brahms quase nada acrescenta ao efetivo orquestral beethoveniano, mas aprende a lição deste que, em cinco de suas sinfonias, emprega a orquestra de Haydn, mas o faz com um espírito único, integrador da ideia musical e de sua orquestração. Mais ainda, Beethoven busca, a cada nova obra, recriar a Sinfonia,
dando-lhe vida e personalidade próprias. Brahms procede de modo semelhante. Suas quatro sinfonias não representam números a mais: são criações individuais, fruto de uma elaboração longa e cuidada. Sua orquestra explora uma técnica instrumental em desenvolvimento, como podemos observar nesta Terceira Sinfonia, levando os violinos ao registro extremo-agudo, ou dando relevo, como no terceiro movimento, a melodias entregues às trompas. Além disso, em diversas passagens, a orquestração de Brahms mostra uma rara habilidade na transposição de uma escritura pianística. Nesse sentido, podemos salientar os arpejos, distribuídos entre as cordas, no início do terceiro movimento ou, no segundo, após o primeiro fortíssimo, o acompanhamento, também nas cordas, que faz pano de fundo para o retorno da melodia inicial. Do ponto de vista da linguagem musical, Brahms se afasta do percurso apontado pelos arautos de uma nova música – naquele momento representados por Liszt e Wagner. Apontado por Hans von Bülow como o terceiro B da música germânica, ao lado de Bach e de Beethoven, Brahms
Para ouvir
CD Johannes Brahms – 4 Symphonien – Berliner Philharmoniker – Eugen Jochum, regente – Deutsche Grammophon Gesellschaft – 1996
Para assistir
Orquestra Filarmônica de Viena – Leonard Bernstein, regente Acesse: tinyurl.com/bsinf3
Para ler
D. J. Grout e C. V. Palisca – História da Música Ocidental – Gradiva – 1994 Roland de Candé – História Universal da Música – Martins Fontes – 1994
viu seu nome indissoluvelmente ligado à tradição, e o discurso que poderia ser um elogio foi um passo para a associação de seu nome a posicionamentos estéticos conservadores, associação de que se valeram os detratores do compositor. No entanto, uma necessária reavaliação do lugar que Brahms ocupa na História da Música logo se fez notar já nos primeiros decênios do século XX. Ao falar dos caminhos para a composição musical na Segunda Escola de Viena, Webern chama atenção para complexidades das relações harmônicas em Brahms, exemplificadas com o final de Parzenlied, op. 89, e ressalta o fato de que sua escolha não recaiu em alguma obra wagneriana.
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Alban Berg mostra, em sua Sonata em si menor, o quanto deve à escritura pianística de Brahms. Mas é Schoenberg que, ao falar de seu próprio percurso composicional, ressalta o aprendizado com a obra brahmsiana. Aponta, inclusive, alguns traços distintivos, possíveis de ser detectados na Terceira Sinfonia: “a irregularidade do número de compassos” – presente, após os dois acordes de abertura dos sopros, já no primeiro tema, que, além disso, está em compasso binário composto e sua resultante rítmica é em compasso ternário simples -; a peculiaridade de “não regatear, não economizar quando a clareza exige mais espaço e levar cada figura às suas últimas consequências” – como podemos constatar pelos processos de desenvolvimento temático e pela presença e transformações do mesmo tema inicial, ao longo do primeiro movimento e por seu retorno, com nova textura, para a conclusão da Sinfonia.
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FOTO ANDRÉ FOSSATI
SÉRIE VIVACE
Para o ouvinte, esta Terceira Sinfonia apresenta inúmeras outras particularidades possíveis de ser observadas, mesmo em uma primeira audição. Chama atenção, por exemplo, o fato de que todos os movimentos terminam em dinâmicas suaves. Por outro lado, impossível não apreciar a cantilena singela que abre o segundo movimento, ou mesmo não reter a melodia de abertura do terceiro. Melodias que, diga-se de passagem, exemplificam um dos aspectos mais ricos e pregnantes das obras de Brahms, ao lado de uma orquestração que alterna passagens em tutti e em meias-tintas. A forma fica apenas como referência. O todo da composição fica como um testemunho do rigor que, paradoxalmente, não impediu o exercício da liberdade.
oiliam lanna | Compositor e regente, Doutor em Linguística (Análise do Discurso), 32
professor da Escola de Música da UFMG
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SÉRIE VIVACE
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LUDWIG VA N
BEE THOVEN
(Ale m a nh a , 1770 – Áus t r i a , 18 27)
Concerto para violino em Ré maior, op. 61 (1806)
Instrumentação: flauta, 2 oboés, 2 clarinetes, 2 fagotes, 2 trompas, 2 trompetes, tímpanos, cordas.
O período de 1804 a 1808 foi um dos mais fecundos na vida de Beethoven, com uma série impressionante de obras-primas: as Sonatas para piano Appassionata e Aurora, os três Quartetos de cordas Rasumovski, op. 59, a ópera Fidelio, as Sinfonias nos 4, 5 e 6, o Concerto para piano nº 4 e o único Concerto para violino.
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Quando o concerto estreou a 23 de dezembro de 1806, a crítica se surpreendeu com sua inusitada concepção – um tecido sinfônico em que o violino e a orquestra se associam e dividem igualmente as tarefas. A obra não visa à exibição do virtuosismo do solista. Ao contrário, confia-lhe a nobre missão de vencer consideráveis dificuldades técnicas e musicais sem a necessidade de brilhar
individualmente. Os atributos virtuosísticos do violino são usados para iluminar a expressividade do discurso orquestral. Talvez por isso, o atual sucesso do Concerto só viesse a se consolidar quarenta anos após sua estreia, principalmente pelo empenho do violinista Josef Joachim. O Concerto apresenta os três movimentos característicos do gênero: o primeiro, um amplo Allegro ma non troppo em forma de sonata bitemática, inicia-se com misteriosos golpes de tímpano – um motivo rítmico de quatro notas que reaparecerá periodicamente ao longo de todo o movimento, como verdadeiro motivo condutor. A orquestra apresenta os temas principais em longa introdução eminentemente lírica. A amplitude
de um tutti orquestral condensa o material temático e cria o suspense preparatório para a entrada do solista – uma volata em oitavas quebradas, do grave ao agudo. Somente então ocorre a verdadeira exposição formal dos temas que, sobre hábil acompanhamento sinfônico, serão repartidos – de um lado, os fagotes e os clarinetes; do outro, o violino solista. Elementos temáticos serão engenhosamente trabalhados no desenvolvimento, com as ornamentações do violino contribuindo para tornar mais gracioso o desenho das linhas melódicas. O motivo rítmico inicial, com suas quatro notas, anuncia a reexposição dos temas, agora apresentados com modificações significativas na interação de solista e orquestra. À cadência conclusiva do solista segue-se uma coda que, de tão ampla, parece um novo desenvolvimento. Esse primeiro andamento culmina em poderosos acordes conclusivos. O Larghetto é um tema variado, com caráter de romanza. O clima é de comovente poesia. A orquestra introduz o tema
Para ouvir
Beethoven: Violin Concerto/2 Romances – Royal Concertgebouw Orchestra – Bernard Haitink, regente – Henryk Szeryng, violino – Philips Classics – 1994
Para assistir
Orquestra Sinfônica da Rádio de Saarbrucken – Hans Zender, regente – Henryk Szeryng, violino Acesse: tinyurl.com/bconcviolino
Para ler
Lewis Lockwood – Beethoven, a música e a vida – Lúcia Magalhães e Graziela Somaschini, tradução – Editora Códex – 2004
pianissimo nas cordas. Em seis variações decorativas, o solista traça arabescos melódicos unindose às trompas, aos clarinetes e ao fagote. No final, uma cadência viva do solista conduz ao rondó seguinte, um Allegro de contagiante alegria, construído por um tema principal e duas estrofes. Em uma delas, o violino canta sustentado pelas trompas, até entregar a lírica melodia ao fagote. Esse movimento contém alguns dos momentos mais belos do concerto. Ao final da curta cadência do solista, a coda recorda o tema do refrão, antes que a partitura termine com dois acordes vigorosos.
paulo sérgio malheiros dos santos | Pianista, Doutor em Letras, professor na UEMG, autor dos livros Músico, doce músico e O grão perfumado – Mário de Andrade e a arte do inacabado.
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M AIO
quinta, 20h30 Grande Teatro do Palácio das Artes
Kazuyoshi Akiyama, regente convidado
PRO GR A M A
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Masaaki HAYAKAWA As Quatro Estações no Japão [35 min] Primavera I. Hana (A flor) II. Sakura-sakura (Flores de cerejeira) III. Haru ga kita (Chegou a Primavera)
Verão I. Ware wa umi no ko (Sou um menino do mar) II. Ame (A chuva) III. Umi (O mar)
Outono I. Mushi no koe (O zunido dos insetos) II. Koujou no tsuki (A lua sobre um castelo em ruínas) III. Mura-matsuri (A celebração na aldeia)
Inverno I. Yuki (A neve) II. Pechka (O fogão da Manchúria) III. Haru yo koi (Eu anseio pela chegada da Primavera)
— 2
i n t e r va l o
—
Edward ELGAR Sinfonia nº 1 em Lá bemol maior, op. 55 [46 min] Andante: Nobilmente e semplice
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Adagio
Lento – Allegro
Allegro molto
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M ASA A KI
Para ouvir
HAYAK AWA
CD Masaaki Hayakawa – Japanese Four Seasons in Baroque Style – New Vivaldi Ensemble – Masaaki Hayakawa, regente – CTA Co. PD-1017 (gravado em Kawasaki entre 25 de abril e 19 de maio de 1987)
( Jap ã o, 1934)
As Quatro Estações no Japão (1975/1989)
Instrumentação: cravo, cordas.
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O compositor e regente Masaaki Hayakawa (ou Hayakawa Masaaki, como em japonês), nasceu em Ichikawa, nas proximidades de Tóquio. Começou a compor por volta dos cinco anos de idade e graduou-se em Ciências pela Universidade de Tóquio, antes de passar a estudar música na Universidade de Artes de Tóquio, onde, em 1960, obteve o diploma de Composição. Hayakawa fundou o Vivaldi Ensemble Tokyo em 1961 e, em 1964, regeu suas obras na capital. Excursionou pela Europa como regente da Orquestra Sinfônica da Universidade de Tóquio, apresentando seu Concerto para Marimba. Nos anos 1970 visitou Alemanha, Áustria, Inglaterra, Bélgica e Itália com o Vivaldi Ensemble Tokyo para divulgar o Requiem santi, escrito em
1970, além de outras composições de sua autoria. Desde então, passou a realizar turnês sucessivas como regente convidado, em apresentações de suas obras pelos Estados Unidos, pela Alemanha, Rússia e Suíça. Professor honorário da Universidade de Hiroshima, onde reside, Hayakawa é também regente titular do New Vivaldi Ensemble, grupo de virtuoses em instrumentos barrocos, fundado por ele em 1979. Tem-se apresentado como regente convidado da Sinfônica Metropolitana de Tóquio e da Nova Filarmônica do Japão. Seus Três Movimentos para Cordas foram impressos pela casa Ongaku no Tomo Sha, de Tóquio, em 1968. Parte de sua obra tem sido publicada pela editora Wilhelm Zimmermann, de Frankfurt: o
Requiem santi, para flauta de bambu e orquestra; a Toccata para Marimba; os Dois Improvisos para Harpa; e o Concerto para Marimba e Orquestra. Outras obras saíram pela Federação de Compositores do Japão, em Tóquio, entre 1975 e 2008: os Quatro pequenos poemas: Distrofia muscular progressiva, para voz e conjunto instrumental; Gen’ei, para flauta de bambu, violino, percussão e cordas; e a Sonata para Viola Solo. Para a flauta de bambu, ou shakuhashi – instrumento pentatônico que permite a execução de escalas cromáticas e portamentos –, Hayakawa escreveu, além do Requiem santi e de Gen’ei, obras solísticas como Visum e Hachigatsu no shura.
O compositor declara ter composto As Quatro Estações no Japão “para que a música barroca se tornasse mais amplamente conhecida pelos japoneses”. Tomando doze melodias japonesas, arranjou-as para cordas nos estilos de Corelli, Vivaldi, Bach, Haendel e outros compositores do período Barroco. A obra, concluída em 1987, foi sendo publicada entre os anos de 1975 e 1989 pela Academia Music, de Tóquio. Cada estação – Primavera, Verão, Outono, Inverno – tem três partes.
carlos palombini | Musicólogo, professor da Escola de Música da Universidade Federal de Minas Gerais.
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EDWA RD
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ELG AR
vigor, organizados com cantores locais e a participação de solistas e orquestras convidados.
(Ingl a ter ra , 1857 – 1934)
Sinfonia nº 1 em Lá bemol maior, op. 55 (1907/1908)
Instrumentação: piccolo, 3 flautas, 2 oboés, corne inglês, 2 clarinetes, clarone, 2 fagotes, contrafagote, 4 trompas, 3 trompetes, 3 trombones, tuba, tímpanos, percussão, 2 harpas, cordas.
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Edward Elgar foi o primeiro compositor inglês moderno a garantir um lugar fixo no repertório sinfônico internacional, e sua obra foi decisiva para o renascimento da música britânica a partir dos últimos anos do reinado da rainha Vitória. Desde a morte de Purcell, em 1695, passaramse quase dois séculos sem que a Inglaterra (que outrora tivera influentes músicos medievais e renascentistas) produzisse um compositor à altura de seus contemporâneos continentais. O império britânico, paralelamente ao seu desenvolvimento econômico, tornara-se grande importador de talentos, desenvolvendo suas manifestações musicais em torno, sobretudo, de compositores e empresários estrangeiros. Haendel, Haydn, Weber, Mendelssohn e
Berlioz receberam na Inglaterra os merecidos aplausos que lhes foram, muitas vezes, recusados por seus compatriotas. No século XIX, os ingleses consolidaram uma verdadeira “Civilização do Concerto”, com iniciativas sociais que viabilizavam o acesso da população à cultura musical. Os primeiros concertos populares foram criados em Londres e em Manchester (respectivamente sob a direção de um empresário francês e um regente alemão). Os Promenade Concerts tornaram-se uma tradição na vida musical britânica (atualmente sob o controle da BBC). E inúmeros corais populares, disseminados em cidades provincianas, se orgulhavam de seus festivais, alguns ainda hoje em
Edward Elgar foi fruto dessa efervescência cultural. Filho do organista da igreja de Worcester, nunca teve formação musical regular, mas, aos dezesseis anos já trabalhava como arranjador, violinista e regente no festival da cidade. O futuro compositor percorreria longo caminho até se livrar do estigma de músico de festivais. A consagração definitiva aconteceu em 1899, quando o célebre regente Hans Richter apresentou as Variações Enigma para um público entusiasmado. A partir dessa data, Elgar se tornaria o compositor mais agraciado da época eduardiana. Ele retomou a longa tradição inglesa dos oratórios, escreveu obras corais sobre temas nacionalistas e suas Marchas de Concerto para orquestra adquiriram o estatuto de hinos nacionais. Embora impregnado de tradição germânica (Brahms, Wagner, Richard Strauss), Elgar manteve-se original e soube reencontrar a sonoridade e o sentimento particulares à música inglesa. Sua imagem popular ainda é a do compositor que conseguiu
Para ouvir
In the South (Alassio) – Symphonie no. 1 – London Philharmonic Orchestra – Sir George Solti, regente – Decca Classics - 2013
Para assistir
Orquestra Sinfônica da BBC – Martyn Brabbins, regente | Acesse: tinyurl.com/esinf1
Para ler
Ralph Hill – Sinfonia – Editora Ulisseia – 1959
expressar o orgulho e o patriotismo dos súditos da rainha Vitória e de Eduardo VII. A Sinfonia nº 1 estreou em Manchester, em dezembro de 1908, sob a regência de Richter. A obra divide-se em quatro movimentos e seduz pelo senso formal e pela monumentalidade. Uma longa introdução (Andante: nobilmente e semplice) apresenta um denso e sinuoso tema, tocado dolce nas madeiras e nas violas, depois em tutti. Essa melodia coral, frequentemente colocada em evidência, como um lema recorrente de autoafirmação (Lá bemol maior) servirá de motivo condutor para toda a sinfonia. Com mudança para ré menor, o Allegro inicia seu tema sinuoso, impregnado de cromatismo. Esse episódio doloroso é respondido
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por novo motivo (Fá maior) em lírico desenho descendente. O desenvolvimento é impetuoso. No final da reexposição, o lema condutor da introdução retorna como tema principal e o movimento termina majestoso e sereno, lógico e completamente satisfatório. O segundo movimento, Allegro molto, em fá sustenido menor, tem o espírito de um scherzo, com o desenrolar rápido das semicolcheias iniciais. A seção contrastante tem caráter nostálgico e bucólico. No episódio conclusivo, as rápidas semicolcheias do início apresentamse mais largas como semínimas e, sem interrupção, dissolvem-se no terceiro movimento. A terna melodia inicial do magnífico Adagio é constituída pelas mesmas notas com que o fogoso e caótico scherzo começara. As durações são diferentes e o contraste das emoções que elas despertam é completo. O finale começa com uma introdução (Lento) misteriosa e tensa. Fragmentos de temas,
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aos poucos, tomam consistência. Quando o tempo torna-se Allegro reiniciam-se as lutas do primeiro movimento de forma implacável. Só depois de decorridos três quartos do andamento chega-se à tônica Lá bemol. E a obra culmina com o retorno triunfal do tema condutor, ornado e enriquecido com suntuosa orquestração.
FOTO RAFAEL MOTTA
SÉRIE ALLEGRO
O ritmo de produção do compositor tornou-se bem mais lento depois da Primeira Guerra Mundial. Sua crença no progresso e na boa convivência entre os homens estava abalada. A Inglaterra não era mais aquela que ele celebrara e recolocara no cenário musical internacional. Elgar voltou-se para uma nova direção, dedicando-se à música de câmara (a Sonata para piano e violino, o Quarteto de cordas, o Quinteto para piano e cordas) e ao Concerto para violoncelo e orquestra. Essas obras do chamado Período Outonal mostram-se austeras, despojadas, repletas de tristeza e ternura. O compositor passou seus últimos quinze anos num silêncio quase total.
paulo sérgio malheiros dos santos | Pianista, Doutor em Letras, professor na UEMG, 42
autor dos livros Músico, doce músico e O grão perfumado – Mário de Andrade e a arte do inacabado.
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Laboratório de Regência Atividade
Realizados em manhãs de domingo, são concertos dedicados aos jovens e às famílias, buscando ampliar e formar público para a música clássica. As apresentações têm ingressos a preços populares e contam com a participação de jovens solistas.
inédita no Brasil, este laboratório é uma oportunidade para que jovens regentes brasileiros possam praticar com uma orquestra profissional. A cada ano, quinze maestros, quatro efetivos e onze ouvintes, têm aulas técnicas, teóricas e ensaios com o regente Fabio Mechetti. O concerto final é aberto ao público.
Clássicos na Praça Realizados em
M AIO
JUNHO
Dia 11 Clássicos na Praça domingo, 11h, Praça da Liberdade
Dia 3 Vivace 5 terça, 20h30, Palácio das Artes
Marcos Arakaki, regente J. STRAUSS JR. / F. BRAGA / J. WILLIAMS / GERSHWIN
Fabio Mechetti, regente Boris Giltburg, piano J. C. BACH / RACHMANINOFF / PROKOFIEFF
Dia 20 Vivace 4 terça, 20h30, Palácio das Artes
praças da Região Metropolitana de Belo Horizonte, os concertos proporcionam momentos de descontração e entretenimento, buscando democratizar o acesso da população em geral à música clássica.
Concertos de Câmara Realizados para estimular músicos e público na apreciação da música erudita para pequenos grupos. A Filarmônica conta com grupos de Metais, Cordas, Sopros e Percussão.
Kazuyoshi Akiyama, regente convidado Vadim Gluzman, violino BRAHMS / BEETHOVEN
Concertos Didáticos Concertos
Turnês Estaduais As turnês estaduais
destinados exclusivamente a grupos de crianças e jovens da rede escolar, bem como a instituições sociais, mediante inscrição prévia. Seu formato busca apoiar o público em seus primeiros passos na música clássica.
levam a música de concerto a diferentes cidades e regiões de Minas Gerais, possibilitando que o público do interior do Estado tenha contato direto com música sinfônica de excelência.
Marcos Arakaki, regente J. STRAUSS JR. / F. BRAGA / J. WILLIAMS / GERSHWIN
Turnês Nacionais e Internacionais Festival Tinta Fresca Com o objetivo
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PRÓXIMOS CONCERTOS
de fomentar a criação musical entre compositores brasileiros e gerar oportunidade para que suas obras sejam programadas e executadas em concerto, este Festival é sempre uma aventura musical inédita. Como prêmio, o vencedor recebe a encomenda de outra obra sinfônica a ser estreada pela Filarmônica no ano seguinte, realimentando o ciclo da produção musical nos dias de hoje.
Com essas turnês, a Orquestra Filarmônica de Minas Gerais busca colocar o Estado de Minas dentro do circuito nacional e internacional da música clássica. Em 2014, a Orquestra volta a se apresentar no Festival de Campos do Jordão.
Dia 22 Turnê Estadual Betim quinta, 20h, Praça Milton Campos
Dias 6, 7 e 8 Turnê Estadual Uberaba, Frutal, Patos de Minas Marcos Arakaki, regente AMARAL VIEIRA / RIMSKY-KORSAKOV / GNATTALI / GRIEG / SAINT-SAËNS
Dia 22 Concertos para a Juventude Encontro com o Romantismo tardio domingo, 11h, Sesc Palladium
Dia 25 Clássicos na Praça domingo, 11h, Barragem Santa Lúcia
Marcos Arakaki, regente WAGNER / VERDI / RIMSKY-KORSAKOV / TCHAIKOVSKY / BRAHMS / SAINT-SAËNS
Marcos Arakaki, regente J. STRAUSS JR. / F. BRAGA / J. WILLIAMS / GERSHWIN
Dias 26 e 27 Turnê Estadual Nova Serrana e Patos de Minas
Dia 29 Allegro 5 quinta, 20h30, Palácio das Artes
Marcos Arakaki, regente AMARAL VIEIRA / RIMSKY-KORSAKOV / GNATTALI / GRIEG / SAINT-SAËNS
Kazuyoshi Akiyama, regente convidado HAYAKAWA / ELGAR
ORQUESTR A FIL ARMÔNICA DE MINAS GER AIS / M AIO 2014 Diretor Artístico e Regente Titular
Regente Associado
Fabio Mechetti
Marcos Arakaki
Primeiros Violinos Anthony Flint – Spalla Rommel Fernandes – Spalla Associado Ara Harutyunyan – Assistente de Spalla Ana Zivkovic Arthur Vieira Terto Baptiste Rodrigues Bojana Pantovic Dante Bertolino Eliseu Martins de Barros Hyu-Kyung Jung Marcio Cecconello Mateus Freire Megumi Tokosumi Rodrigo Bustamante Rodrigo Monteiro Braga Rodrigo de Oliveira Segundos Violinos Frank Haemmer * Leonidas Cáceres ** Jovana Trifunovic Leonardo Ottoni Luka Milanovic Marija Mihajlovic Martha de Moura Pacífico Radmila Bocev Rodolfo Toffolo Tiago Ellwanger Valentina Gostilovitch Luiza Anastácio **** Luiza Castro ****
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principal
**
Violas João Carlos Ferreira * Roberto Papi ** Flávia Motta Gerry Varona Gilberto Paganini Juan Castillo Marcelo Nébias Nathan Medina Katarzyna Druzd Iberê Carvalho **** Violoncelos Elise Pittenger *** Camila Pacífico Camilla Ribeiro Eduardo Swerts Eneko Aizpurua Pablo Lina Radovanovic Robson Fonseca Emilia Neves **** Francisca Garcia **** Contrabaixos Colin Chatfield * Nilson Bellotto ** Brian Fountain Hector Manuel Espinosa Marcelo Cunha Pablo Guiñez William Brichetto Flautas Cássia Lima * Renata Xavier ** Alexandre Braga Elena Suchkova
principal assistente
***
Oboés Alexandre Barros * Ravi Shankar ** Israel Muniz Moisés Pena Clarinetes Marcus Julius Lander * Jonatas Bueno ** Ney Campos Franco Alexandre Silva Fagotes Catherine Carignan * Andrew Huntriss Cláudio de Freitas
Tímpanos Patricio Hernández Pradenas * Percussão Rafael Alberto * Daniel Lemos ** Werner Silveira Sérgio Aluotto Harpa Giselle Boeters * Teclados Ayumi Shigeta * gerente
Trompas Alma Maria Liebrecht * Evgueni Gerassimov ** Gustavo Garcia Trindade José Francisco dos Santos Lucas Filho Fabio Ogata Trompetes Marlon Humphreys * Érico Fonseca ** Daniel Leal Trombones Mark John Mulley * Wagner Mayer ** Renato Lisboa Tuba Eleilton Cruz *
principal
/
assistente substituto
Jussan Fernandes
INSTITUTO CULTUR AL FIL ARMÔNICA / M AIO 2014
Conselho Administrativo
Equipe Técnica gerente de
Equipe Administrativa
presidente emérito
comunicação
analista
Jacques Schwartzman
Merrina Godinho Delgado
administrativo
presidente
gerente de produção
Paulo Baraldi
Roberto Mário Soares
musical
analista contábil
conselheiros
Claudia da Silva Guimarães
Graziela Coelho
assessora de
Thais Boaventura
programação musical
analista de
Carolina Debrot
recursos humanos
produtores
Quézia Macedo Silva
Geisa Andrade Luis Otávio Rezende Narren Felipe
secretária executiva
analistas de
administrativos
comunicação
Cristiane Reis João Paulo de Oliveira
Berenice Menegale Bruno Volpini Celina Szrvinsk Fernando de Almeida Ítalo Gaetani Marco Antônio Drumond Marco Antônio Pepino Marcus Vinícius Salum Mauricio Freire Octávio Elísio Paulo Paiva Paulo Brant Sérgio Pena
analista financeiro
Flaviana Mendes assistentes
administrativo
Diretoria Executiva
Débora Vieira
diretor presidente
arquivista
Diomar Silveira
Sergio Almeida
diretor
Andréa Mendes – Imprensa Marciana Toledo – Publicidade Mariana Garcia – Multimídia Renata Romeiro – Design gráfico
assistentes
administrativo-
analista de
Ana Lúcia Kobayashi Claudio Starlino Jônatas Reis
financeiro
marketing de
Ailda Conceição Claudia Regina
Igor Viana
relacionamento
mensageiros
diretora de
Mônica Moreira
supervisor de
comunicação
analista de
Jeferson Silva Pablo Faria
montagem
marketing e projetos
menor aprendiz
Rodrigo Castro
Jacqueline Guimarães Ferreira
Mariana Theodorica
Pedro Almeida
montadores
diretora de
assistente de
Igor Araujo Jussan Meireles Risbleiz Aguiar
marketing e projetos
comunicação
Zilka Caribé
Renata Gibson
diretor de produção
assistente de
musical
marketing de
Marcos Souza
relacionamento
inspetora
Karolina Lima assistente
****
André Rozenbaum músico convidado
auxiliar administrativo
Vivian Figueiredo recepcionista
Lizonete Prates Siqueira auxiliares de serviços gerais
FOR TI S SIMO maio Nº 4 / 2014 ISSN 2357-7258
editora
Merrina Godinho Delgado edição de texto
Berenice Menegale
PA R A A PRECIA R UM CONCERTO
Fotos e gravações em áudio e vídeo
Pontualidade
Aparelhos celulares
Uma vez iniciado um concerto, qualquer movimentação perturba a execução da obra. Seja pontual e respeite o fechamento das portas após o terceiro sinal. Se tiver que trocar de lugar ou sair antes do final da apresentação, aguarde o término de uma peça.
Confira e não se esqueça, por favor, de desligar o seu celular ou qualquer outro aparelho sonoro.
Aplausos
Tosse
Crianças
Comidas e bebidas
Aplauda apenas no final das obras, que, muitas vezes, se compõem de dois ou mais movimentos. Veja no programa o número de movimentos e fique de olho na atitude e gestos
Perturba a concentração dos músicos e da plateia. Tente controlá-la com a ajuda de um lenço ou pastilha.
Caso esteja acompanhado por criança, escolha assentos próximos aos corredores. Assim, você consegue sair rapidamente se ela se sentir desconfortável.
Seu consumo não é permitido no interior da
Não são permitidas na sala de concertos.
FOTO ANDRÉ FOSSATI
MAIO 2014
Conversa A experiência do concerto inclui o encontro com outras pessoas. Aproveite essa troca antes da apresentação e no seu intervalo, mas nunca converse ou faça comentários durante a execução das obras. Lembre-se de que o silêncio é o espaço da música.
sala de concerto.
do regente.
CUIDE DO SEU PROGR A M A DE CONCERTOS O programa mensal é elaborado com a participação de diversos especialistas e oferece uma oportunidade a mais para se conhecer música, compositores e intérpretes. Desfrute da leitura e estudo. Em 2014, ele ganha o nome Fortissimo e o registro do ISSN, um código que o identifica, permite a citação de seus textos como referência intelectual e acadêmica e sua indexação nos sistemas nacional e internacional de pesquisa. Para evitar o desperdício, traga sempre o seu programa. Caso o esqueça, use o exemplar entregue pelas recepcionistas e, ao final, deposite-o em uma das caixas colocadas à saída do Grande Teatro. 50
Programa disponível no site: www.filarmonica.art.br//index.php/blog/programas
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MAIO 2014
52
53
CA 0230/001/2013
PAT R O C Í N I O
A P O I O C U LT U R A L
DIVULGAÇÃO
INCENTIVO
APOIO INSTITUCIONAL
w w w. i n c o n f i d e n c i a . c o m . b r
RE ALIZ AÇÃO
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