FORTIS SIMO
Nº 2 / 2014
março
Sempre nossa, onde for.
MARÇO 2014
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Ministério da Cultura e Governo de Minas
apresentam
S UMÁRIO A LLEG RO
13 /
M A R ÇO
Fabio Mechetti, regente Jennifer Frautschi, violino
p.
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HAYDN Sinfonia nº 100 em Sol maior, “Militar” PROKOFIEFF Concerto para violino nº 1 em Ré maior, op. 19 GUARNIERI Concerto para Orquestra de Cordas e
Percussão RESPIGHI La boutique fantasque: Suíte
VIVACE
25 / M A R ÇO
Fabio Mechetti, regente Augustin Hadelich, violino BEETHOVEN Fidelio, op. 72c: Abertura BARTÓK Concerto para violino nº 2 VILLA-LOBOS Erosão, “A origem do rio Amazonas” ENESCU Rapsódia Romena nº 1 em Lá maior, op. 11
2
p.
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CAROS AMIGOS E AMIGAS,
Bem-vindos a mais um ano de atividades da Orquestra Filarmônica de Minas Gerais. Todos os anos iniciamos nossa temporada com grande energia, vontade e determinação. Afinal, compartilhar com nosso público a crença de que a música de excelência traz consigo não só momentos de puro entretenimento, mas também uma semente de transformação humana em cada um de nós, é razão suficiente para encararmos todos os nossos programas com crescente expectativa. Creio que a Temporada 2014 é emblemática. Estamos encerrando um importante capítulo de nossa história e, ao mesmo tempo, dando um novo rumo aos nossos trabalhos a partir da inauguração da Sala Minas Gerais, sede da Orquestra, num futuro bastante próximo. Ao contrário do que se ouve em relação à crise pela qual orquestras mundiais estão passando, a Filarmônica vem conquistando a admiração do público e da crítica nacional e internacional. Esse sucesso é fruto de um trabalho realizado desde 2008, cuja ênfase é a máxima qualidade em tudo o que fazemos. Desde o primeiro “lá” emitido pelo oboé na afinação da Orquestra, até o triunfal fortissimo que encerra uma grande sinfonia, passando pelo cuidado com a estética das peças de comunicação e pela relevância de nossas notas de programa, buscamos sempre atingir algo melhor, pois só assim justificamos o carinho e o apoio que nos são dados pelo público, patrocinadores, apoiadores e governos.
este texto foi publicado na edição de fevereiro e é republicado aqui para conhecimento dos assinantes allegro.
É lamentável que o imperativo de sobrevivência da maioria das orquestras internacionais faça com que elas, muitas vezes, abdiquem de seus papéis e missões fundamentais para se adequarem a necessidades mais urgentes e imediatas, perdendo, assim, sua relevância interna e a oportunidade única de contribuir para emancipar a sociedade.
MARÇO 2014
O grande trunfo das Artes é justamente sua capacidade histórica de transformar sociedades, sem passividade diante das manifestações culturais mais facilmente aceitas. Existe uma saudável dinâmica interativa entre o criador e a sociedade em que ele vive, mas acreditamos que a Arte é aquela que tem o propósito de construir uma realidade melhor. Quanto mais fortes, determinadas e focalizadas forem as organizações culturais, mais habilidades elas terão de agir positivamente nas comunidades em que atuam. Por que digo isso? Porque temos aqui, em Minas Gerais, uma oportunidade única de criar uma grande orquestra e fazer dela um instrumento de ação no processo de construção de uma sociedade emancipada. Todas as nossas atividades, sejam concertos de assinatura, praças, turnês ou programas educacionais, visam a oferecer condições para que nossa sociedade, fortemente engajada nesse processo, passe a existir dentro de uma realidade melhor, mais unida, mais harmoniosa, mais humana. Ou seja, o trabalho da Filarmônica procura ser mais que uma simples alternativa na fábrica cultural que define esta cidade e este estado. Em um paralelo com o futebol, sabemos que os grandes times são aqueles que historicamente ganham mais campeonatos, investem na qualidade de seus técnicos e jogadores, na busca constante da perfeição, na criatividade de suas estratégias e na somatória de resultados positivos. E, quanto mais campeonatos ganham, mais se espera deles. Obviamente o apoio das torcidas e seu estreito envolvimento com esse processo, acoplado à cobrança muitas vezes apaixonada de resultados, é instrumental para a realização de uma estratégia vencedora. A Filarmônica vem atuando dessa forma e tem celebrado seu merecido sucesso, ciente de que as expectativas em relação à Orquestra são cada vez maiores. Ao contrário de nos inibir, esses desafios nos estimulam. E a participação crescente e ativa de nosso público ajudará sobremaneira a atingirmos níveis ainda mais altos de evolução técnica, de realização artística e de satisfação de nossos aficionados.
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O grande regente George Szell dizia que uma grande orquestra não deveria ser julgada pelo que toca, mas sim como toca. E esse “como” é fruto de um trabalho árduo e altamente sofisticado que muitas vezes passa
desapercebido pelo público. Ele é produto de uma preparação individual intensa de nossos músicos, iniciada quando eram crianças e que nunca irá terminar; de ensaios igualmente exigentes, visando desvendar, num espaço de tempo relativamente curto, os “mistérios” de cada obra. Essa preparação é de natureza técnica, estética, histórica, social, filosófica, humanística. Em outras palavras, quando escutamos uma obra musical, não devemos apenas nos deter na beleza da melodia, na intensidade dinâmica, na velocidade das notas, na agradável harmonia ou na popularidade dos solistas convidados. Devemos aguçar nossos ouvidos (e olhos) para apreciar a concentração dos músicos e regentes, as diferentes nuances tímbricas e dinâmicas, a destreza de nossos músicos e solistas nas passagens técnicas desafiadoras, a flexibilidade estética dos artistas ao encarar repertórios de diferentes períodos e estilos. Tudo isso pode parecer ao nosso público um esforço descomunal que irá cansá-lo mais do que satisfazê-lo. Mas acredito que a tentativa paulatina de se considerar esses aspectos numa audição ativa dos concertos irá, na verdade, contribuir para um processo de descobertas e enriquecimento pessoal. A leitura regular das notas de programa é também muito importante no processo de apreciação de cada concerto. Todas as notas são concebidas com esmero e carinho e oferecem informações históricas, sociais e técnicas que contribuem para uma audição mais participativa e atuante. Queremos fazer mais e, eventualmente, com a inauguração da Sala Minas Gerais, ofereceremos outros subsídios, como palestras antes dos concertos, cursos de história da música e apreciação musical, entre outros. Unidos, músicos e plateia, faremos de cada concerto uma experiência única, não duplicável, e viveremos uma comunhão emocional e espiritual indescritível. Agradeço por sua atenção e presença neste e em futuros concertos da Filarmônica de Minas Gerais, sempre nossa, onde for.
Fabio Mechetti DIRETOR ARTÍSTICO E REGENTE TITULAR
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FOTO EUGÊNIO SÁVIO
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FABIO MECHE T TI Diretor Art íst ico e R egente Titula r
Natural de São Paulo, Fabio Mechetti é Diretor Artístico e Regente Titular da Orquestra Filarmônica de Minas Gerais desde sua criação, em 2008. Por esse trabalho, recebeu o XII Prêmio Carlos Gomes/2009 na categoria Melhor Regente brasileiro. É também Regente Titular e Diretor Artístico da Orquestra Sinfônica de Jacksonville (EUA) desde 1999. Foi Regente Titular da Orquestra Sinfônica de Syracuse e da Orquestra Sinfônica de Spokane, da qual é, agora, Regente Emérito. Foi regente associado de Mstislav Rostropovich na Orquestra Sinfônica Nacional de Washington e com ela dirigiu concertos no Kennedy Center e no Capitólio norte-americano. Da Orquestra Sinfônica de San Diego foi Regente Residente.
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Fez sua estreia no Carnegie Hall de Nova York conduzindo a Orquestra Sinfônica de Nova Jersey e tem
dirigido inúmeras orquestras norte-americanas, como as de Seattle, Buffalo, Utah, Rochester, Phoenix, Columbus, entre outras. É convidado frequente dos festivais de verão nos Estados Unidos, entre eles os de Grant Park em Chicago e Chautauqua em Nova York. Realizou diversos concertos no México, Espanha e Venezuela. No Japão dirigiu as Orquestras Sinfônicas de Tóquio, Sapporo e Hiroshima. Regeu também a Orquestra Sinfônica da BBC da Escócia, a Filarmônica de Auckland, Nova Zelândia, a Orquestra Sinfônica de Quebec, Canadá, e a Filarmônica de Tampere, na Finlândia. Vencedor do Concurso Internacional de Regência Nicolai Malko, na Dinamarca, Mechetti dirige regularmente na Escandinávia, particularmente a Orquestra da Rádio Dinamarquesa e a de Helsingborg,
Suécia. Recentemente, estreou na Itália conduzindo a Orquestra Sinfônica de Roma. Em 2014 voltará ao Peru, desta vez regendo a Orquestra Sinfónica Nacional del Perú, e estreará na Malásia e Israel, conduzindo a Filarmônica da Malásia e a Orquestra de Câmara de Israel, respectivamente. No Brasil foi convidado a dirigir a Sinfônica Brasileira, a Estadual de São Paulo, as orquestras de Porto Alegre, Brasília e Paraná e as municipais de São Paulo e do Rio de Janeiro. Trabalhou com artistas como Alicia de Larrocha, Thomas Hampson,
Frederica von Stade, Arnaldo Cohen, Nelson Freire, Emanuel Ax, Gil Shaham, Midori, Evelyn Glennie, Kathleen Battle, entre outros. Igualmente aclamado como regente de ópera, estreou nos Estados Unidos dirigindo a Ópera de Washington. No seu repertório destacam-se produções de Tosca, Turandot, Carmen, Don Giovanni, Cosi fan Tutte, Bohème, Butterfly, Barbeiro de Sevilha, La Traviata e As Alegres Comadres de Windsor. Fabio Mechetti recebeu títulos de Mestrado em Regência e em Composição pela prestigiosa Juilliard School de Nova York.
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FOTO RAFAEL MOTTA
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SÉRIE ALLEGRO
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M A RÇO
Fabio Mechetti, regente Jennifer Frautschi, violino
quinta, 20h30 Grande Teatro do Palácio das Artes PRO GR A M A
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Joseph HAYDN Sinfonia nº 100 em Sol maior, “Militar” [25 min] Adagio – Allegro
Allegretto
Menuetto: Moderato – Trio
Finale: Presto
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Sergei PROKOFIEFF Concerto para violino nº 1 em Ré maior, op. 19 [22 min] Andantino
Scherzo: Vivacissimo
Moderato – Allegro moderato jeniffer frautschi,
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i n t e r va l o
violino
—
Camargo GUARNIERI Concerto para Orquestra de Cordas e Percussão [15 min] Vigoroso
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Saudoso
Jocoso
Ottorino RESPIGHI La boutique fantasque: Suíte [21 min] Abertura Cancã
Tarantela Valsa lenta
Mazurca Noturno
Dança cossaca Galope
SÉRIE ALLEGRO
MARÇO 2014
Vencedora do prêmio Avery Fisher Career Grant, a violinista Jennifer Frautschi é aclamada por suas performances ousadas e amplo repertório. Sempre à vontade com trabalhos consagrados ou com peças do século XXI, ela interpretou, nas últimas temporadas, obras de Mozart, Tchaikovsky e Berg e também o Concerto de Britten, o Concerto nº 1 de Poul Ruders, a Sonata para Violino de Steven Mackey e o raro Concerto em ré menor de Mendelssohn.
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Frautschi tem sido muito bem recebida em suas apresentações como solista com Pierre Boulez e a Filarmônica de Los Angeles, Christoph Eschenbach e a Chicago Symphony Orchestra, no Ravinia Festival, Wigmore Hall e Mostly Mozart Festival, do Lincoln Center. Nas últimas temporadas, também se apresentou com a Orquestra de
Câmara da Filadélfia, as Orquestras de Louisville e de St. Luke e com as Sinfônicas de Cincinnati, Kansas City, San Diego e Seattle. Realizou turnê nos Estados Unidos com a Sinfônica da República Tcheca. Selecionada pelo Carnegie Hall em sua Série de Estreias, Jenniffer realizou seu recital de estreia em Nova York em 2004. Naquele mesmo ano, estreou em dez das mais reconhecidas salas de concerto do mundo, incluindo a Wigmore Hall de Londres, a Salzburg Mozarteum, Amsterdam Concertgebouw, Vienna Konzerthaus e La Cité de la Musique em Paris. Como musicista de câmara, apresenta-se regularmente nos mais importantes festivais e estreou trabalhos de Mason Bates, Oliver Knussen, Krzysztof Penderecki e Michael Hersch.
Sua discografia inclui três elogiados álbuns para o selo Artek: uma gravação do Concerto de Prokofieff com Gerard Schwarz e a Sinfônica de Seattle; um álbum com obras de Ravel e Stravinsky; e uma gravação dos grandes solos do século XX para violino. Pelo selo Naxos, gravou o Concerto para quarteto de cordas e orquestra de Schoenberg – obra indicada ao Grammy – e o Concerto para violino de Stravinsky, com a Orquestra Filarmônica de Londres, ambos regidos pelo lendário Robert Craft. Seus lançamentos recentes são uma gravação de Trios Românticos para Trompa, com o trompista Eric Ruske e o pianista Stephen Prutsman, pelo selo Albany, e o Duo Concertante de Stravinsky com o pianista Jeremy Denk, pela Naxos.
FOTO LISA-MARIE MAZZUCCO
JENNIFER FR AUTSCHI
Nascida em Pasadena, Califórnia, Jennifer Frautschi iniciou seus estudos de violino aos três anos de idade. Foi aluna de Robert Lipsett na Colburn School for the Performing Arts. Estudou também em Harvard, no New England Conservatory of Music e na Juilliard School, onde teve aulas com Robert Mann. Jennifer toca um violino Antonio Stradivarius de 1722, conhecido como “ex-Cadiz”, generosamente emprestado por uma fundação dos Estados Unidos.
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SÉRIE ALLEGRO
J OSEPH
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HAYDN
(Áus t r i a , 1732 – 18 0 9)
Sinfonia nº 100 em Sol maior, “Militar” (1794)
Instrumentação: 2 flautas, 2 oboés, 2 clarinetes, 2 fagotes, 2 trompas, 2 trompetes, tímpanos, percussão, cordas.
que constituiriam os seus (dessa linguagem) veículos de expressão. Assim, Haydn estuda cuidadosamente as suas fontes (dentre elas, a mais fundamental seja talvez C. Ph. E. Bach) e as consolida, criando sua própria linguagem e dando voz e espírito à música do período Clássico.
Para ouvir
CD Haydn, F. J. The 12 London Symphonies – Orquestra Sinfônica da Rádio da Baviera, Orquestra Filarmônica de Berlim e Orquestra Filarmônica de Londres – Eugen Jochum, regente – Deutsche Grammophon – 2003
Para ler
Karl Geiringer – Haydn: a creative life in music – University of California Press – 1982
Para assistir
Desde a redescoberta de J. S. Bach, em meados do século XIX, o espírito romântico parece ter eclipsado tudo o que havia entre o Kantor de Leipzig e Beethoven, com exceção de Mozart. Tal mentalidade musical teve reflexos até tempos bem recentes e só há relativamente pouco tempo nomes importantes, histórica e esteticamente, voltaram à luz de seu real merecimento: os filhos de Bach, Boccherini, Cimarosa, Galuppi, dentre outros.
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Talvez por não ter sido nem revolucionário nem reacionário, ou por não ter nenhum tipo de ambição quanto à posição social do músico, (via de regra, então, empregado da aristocracia ou da Igreja), ou mesmo por não ter sido um “inventor” ou um questionador de estilos, gêneros e formas, o nome de Joseph Haydn tenha caído injustamente num ostracismo reverente, mantendo-
se vivo quase apenas como nome essencial para o repertório didático. Haydn foi sobretudo um grande organizador, e com isso, de maneira metódica, sólida e tenaz (como em sua vida pessoal), tornou-se alma e símbolo do período Clássico. Não se deve a ele a criação da forma sonata, ou da sinfonia, do quarteto de cordas ou da sonata para piano, mas coubelhe o papel de sistematizá-los e de cristalizar-lhes a estrutura e as feições fundamentais. No entanto, isso em hipótese alguma significou, em Haydn, falta de originalidade: sua obra revela capacidade criativa copiosa, dentro dos limites que ela mesma se impõe. Um de seus pontos mais originais está justamente nessa capacidade de consolidar uma linguagem que já se esforçava por afirmar-se, bem como de tornar fecundos os meios e gêneros
A produção sinfônica de Haydn é pródiga e acompanha-o por toda a vida. Foram cerca de cento e seis sinfonias, a primeira datando de 1757 e a última, de 1795. Costumase localizá-las em três grandes grupos: no primeiro, as sinfonias 1 a 81; no segundo, as sinfonias 82 a 92, chamadas Sinfonias Parisienses; no último, as de número 93 a 104, chamadas Sinfonias Londrinas. Outras duas obras, compostas entre 1757 e 1760, incluem-se como obras à parte. As Sinfonias Londrinas, compostas entre 1791 e 1795, marcam um período de maturidade e de decantação do estilo haydniano. Constituem dois grupos: o primeiro, de números 93 a 98, composto durante a primeira visita de Haydn à Inglaterra, quando recebeu o título de Doutor Honoris Causa pela
The Royal Concertgebouw Orchestra – Mariss Jansons, regente | Acesse: tinyurl.com/hsinfmilitar
Universidade de Oxford; as sinfonias do segundo grupo, 99 a 104, foram compostas em Viena e Londres, para a sua segunda viagem à Inglaterra. Pertence a este grupo, portanto, a sinfonia nº 100. Escrita entre 1793 e 1794, seu apelido (“militar”) deriva do uso, no segundo movimento, de evocações de fanfarras com trompetes e efeitos da percussão. Estes também retornam ao final do último movimento, colorindo a orquestração dos tutti. Com o bom humor que o acompanhou por toda a vida e que transparece também em sua obra, Haydn sabe, na Sinfonia nº 100, transcender à regra sem transgredi-la, confirmando sua aderência completa à linguagem do Classicismo.
moacyr laterza filho | Pianista e cravista, Doutor em Literaturas de Língua Portuguesa, professor da Universidade do Estado de Minas Gerais e da Fundação de Educação Artística.
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SÉRIE ALLEGRO
SERGEI
MARÇO 2014
PROKOFIEFF
( Uc râ ni a , 1891 – R ú ss i a , 1953)
Concerto para violino nº 1 em Ré maior, op. 19 (1916/1917)
Instrumentação: piccolo, 2 flautas, 2 oboés, 2 clarinetes, 2 fagotes, 4 trompas, 2 trompetes, tuba, tímpanos, percussão, harpa, cordas.
Comparados aos cinco revolucionários concertos para piano, cujas audácias técnicas e sonoras causaram tanta polêmica à época de sua criação, os dois concertos para violino de Prokofieff mantêm uma perspectiva mais tradicional. Para o compositor, o violino permanecerá, predominantemente, o instrumento do canto e da flexibilidade das linhas melódicas e, em seus concertos, o lirismo se impõe sobre a virtuosidade do solista.
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O Concerto nº 1 foi concluído em 1917, quando Prokofieff, por volta dos vinte e cinco anos, completava uma série de quatro partituras orquestrais que apresentam os polos essenciais e diversos de toda a sua obra: a Sinfonia op. 25 possui uma escrita neoclássica leve, concisa e transparente; o balé Le bouffon op. 21 mostra-nos o compositor
irônico e sarcástico; na Suíte Cita op. 20 aparece o Prokofieff violento, poderoso e selvagem; enquanto o Concerto para violino op. 19 revela o músico sensível e lírico. Em razão dos acontecimentos políticos de 1917, a estreia prevista para o outono não aconteceu e o concerto só foi tocado seis anos mais tarde, em outubro de 1923, em Paris, com o violinista Marcel Darrieux e regência de Serge Koussevitsky. O Concerto possui os três movimentos tradicionais. O Andantino, em forma de sonata, inicia-se com o primeiro tema (sognando) entregue ao solista sobre trêmulos das violas. Seu caráter lírico contrasta com as linhas curiosamente angulosas do segundo tema (recitando). Prokofieff explora as potencialidades técnicas
do violino, mantendo a pureza do desenho melódico e o equilíbrio da relação solista/orquestra. Na longa Coda (Andante assai) o tema inicial é retomado pela flauta e ornamentado pelo violino sobre o suave desenho da harpa. O clima muda radicalmente com o Scherzo (Vivacissimo), cuja forma pode ser esquematizada com A - B - A - C - A. Um refrão (parte A) de humor brincalhão e irônico reaparece (sempre modificado e com cadências) após uma parte B (de ritmo mais acentuado) e uma agressiva parte C (com instrumentação percussiva e o solista tocando sul ponticello). Na última repetição do refrão, o material temático é confiado à orquestra enquanto o solista executa uma série de flajolés, imitando um flautim. O Final (Moderato) traz de volta o lirismo com uma bela cantilena sobre o fundo ritmado. O motivo do fagote, com certo humor, prefigura o tema do avô, de Pedro e o Lobo. Pouco a pouco o movimento ganha intensidade (Allegro moderato) e o solista pode exibir todo o seu virtuosismo. O tema do primeiro movimento volta com uma orquestração mais encorpada e culmina nas longas guirlandas de
Para ouvir
CD Prokofiev – Violin Concertos nº 1 e nº 2 – Polish National Radio Symphony Orchestra – Antoni Wit, regente – Tedi Papavrami, violino – Naxos – 1996
Para ler
Claude Samuel – Prokofiev – Éditions du Seuil – Solfèges – 1960 e 1995
Para assistir
Bavarian Radio Symphony Orchestra – Lorin Maazel, regente – Hilary Hahn, violino Acesse: tinyurl.com/pviolino1
escalas do violino antes que a coda feche a partitura de forma tranquila e poética. O primeiro concerto para violino pertence à primeira das três fases que dividem a carreira de Prokofieff. Essa divisão está inteiramente ligada à história de seu país. A fase “russa” compreende os primeiros anos do compositor na Rússia czarista, quando, paralelamente aos estudos no Conservatório, ele participa das Noites de Música Contemporânea. Prokofieff entra em contato com as obras inovadoras de Debussy, Richard Strauss e Schönberg, e apresenta algumas composições que causam espanto pela aspereza harmônica e rítmica. Com essas obras o compositor se associava (intuitivamente) à estética futurista da época, à pintura de Kandinsky e à literatura de Maiakovski.
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Em 1918, Prokofieff inicia seu período “ocidental”, quando abandona a Rússia para viver por muitos anos entre a França, os Estados Unidos e a Alemanha. Diferentemente de Debussy, Stravinsky, Bartók, Schönberg ou Webern, Prokofieff nunca pretendeu renovar a linguagem musical ou criar uma nova “técnica” de composição. Em linhas gerais, manteve-se fiel à tonalidade e às formas de contornos claros. Suas inovações se referem mais ao “efeito” que às estruturas musicais. Nesse aspecto sua destreza de exímio pianista lhe foi muito útil e, mesmo quando acusado pela vanguarda radical de retrógrado e conservador, suas obras foram frequentemente provocativas e “modernas”, garantindo-lhe com justiça um lugar entre os compositores mais importantes da primeira metade do século XX. A partir de 1927 Prokofieff começa a reatar contatos com a URSS. Em 1936, com objetivos pedagógicos, escreveu para o Teatro Infantil de Moscou o conto musical Pedro e o Lobo, uma das composições mais populares do século XX. Nesse ano,
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voltou definitivamente à Rússia, iniciando sua fase “soviética”, durante os mais rigorosos anos dos expurgos estalinistas. A produção desse último período, muitas vezes desigual, inclui obrasprimas instrumentais como os balés Romeu e Julieta e Cinderela, a Sinfonia nº 5, além das trilhas para os filmes de Sergei Eisenstein e as últimas sonatas para piano. De 1938 em diante Prokofieff não teve mais autorização para sair do país. Seu estilo, visando tornar-se mais compreensível para o grande público, é polido por um retorno cada vez mais claro em direção à tonalidade e pelo emprego sistemático do folclore. Continua compondo muito, sobretudo obras vocais por encomendas oficiais. Entretanto, os agentes culturais ainda o viam com desconfiança e, em 1948, no auge da campanha antiformalista, foi punido rigorosamente e obrigado a se colocar publicamente à disposição do regime. Prokofieff morreu a 5 de março de 1953, coincidentemente o mesmo dia da morte de Stalin.
FOTO EUGÊNIO SÁVIO
SÉRIE ALLEGRO
paulo sérgio malheiros dos santos | Pianista, Doutor em Letras, professor na UEMG, 18
autor dos livros Músico, doce músico e O grão perfumado – Mário de Andrade e a arte do inacabado.
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SÉRIE ALLEGRO
CA M A RGO
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GUARNIERI
(B ras il , 19 0 7 – 1993)
Concerto para Orquestra de Cordas e Percussão (1972)
Instrumentação: percussão, cordas.
Os pais de Camargo Guarnieri batizaram os filhos com nomes de compositores célebres: o mais velho, Rossini, o outro, Mozart. O pai, imigrante italiano, era flautista e a mãe, paulista, tocava piano. O nome do filho mais novo, além de prenunciar sua precoce aptidão musical, iluminou-o com extraordinária naturalidade para manipular os elementos sonoros e torná-los obras artísticas. “Música é emoção”, dizia Camargo Guarnieri. Os pais sequer imaginariam que o pequeno Mozart paulista viria a se tornar um dos compositores brasileiros mais importantes depois de Villa-Lobos e que registraria seu sobrenome na história de nossa música.
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Guarnieri cunhou seu brasileirismo musical não somente sobre o folclore e o nacionalismo, mas sobre sofisticada construção. O
subúrbio paulista, os caipiras e os sertanejos, a música africana e indígena, o sotaque do nordeste estão claramente representados em texturas contrapontísticas e ritmos precisos. Mário de Andrade, grande incentivador de Camargo Guarnieri, encontrou no músico um fiel seguidor e um artista completo. Ambos se preocuparam em trazer signos da cultura brasileira para a música sem que esta perdesse seus conceitos intrínsecos como arte. Nos movimentos de suas músicas, Guarnieri quebra a formalidade dos termos italianos ou alemães, comuns às obras eruditas, e os substitui por expressões em português e bem brasileiras. Assim o allegro se torna gingando, movido, esperto, enquanto o adagio se transforma em tristonho, dengoso ou até mesmo molengamente. No Concerto para Orquestra de Cordas
e Percussão, os usuais movimentos rápido-lento-rápido são nomeados vigoroso-saudoso-jocoso. Composto em 1972 por encomenda da Orquestra Armorial de Câmara de Pernambuco, o Concerto apresenta, nos movimentos rápidos, um sotaque confessadamente nordestino, revelado por meio de escalas modais, melodias típicas do repente e da embolada e ritmos de dança. No terceiro movimento está presente o ritmo do coco – dança de roda coreografada, proveniente do canto dos tiradores de coco do litoral de Pernambuco. Ao final desse movimento, os três percussionistas realizam uma livre improvisação seguida de pequena cadenza do spalla. O movimento central é um coral elegíaco e revela a tristeza de Guarnieri pela morte de sua mãe, a quem era muito ligado. Segundo Caldeira Filho, o movimento “possui tal profundidade de significação e tal força de lirismo que causa a ilusão de estarmos ouvindo a palavra da saudade e seu universo de conotações emotivas”. Camargo Guarnieri escreveu duas obras para orquestra de
Para ouvir
CD Camargo Guarnieri – Orquestra Sinfônica da USP – Ronaldo Bologna, regente – USP/Banco de Boston – 2003
Para ler
Marion Verhaalen – Camargo Guarnieri: Expressões de uma vida – EDUSP/Imprensa Oficial – 2001 Flávio Silva (org.) – Camargo Guarnieri: O Tempo e a Música – Ministério da Cultura/Funarte/Imprensa Oficial SP – 2001
cordas: a Toada à Moda Paulista e o Concerto para Orquestra de Cordas e Percussão. Este último relembra um dos primeiros sucessos do compositor, Flor de Tremembé, para quinze instrumentos solistas e percussão. O Concerto para Orquestra de Cordas e Percussão não é uma obra concertante stricto sensu, pois não possui partes solistas delineadas. Assemelhase ao Concerto para Orquestra de Béla Bartók, que justificara o nome “concerto” pelo tratamento solístico e virtuosístico dispensado a cada naipe de instrumentos. O Concerto para Orquestra de Cordas e Percussão foi estreado em 1976 pela Orquestra Sinfônica da USP, tendo à frente o seu primeiro e mais importante maestro: Camargo Guarnieri.
marcelo corrêa | Pianista, Mestre em Piano pela Universidade Federal de Minas Gerais e professor na Universidade do Estado de Minas Gerais.
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SÉRIE ALLEGRO
OT TORINO
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RESPIGHI
dança protagonizada pelo negociante, Para ouvir seus brinquedos e o casal de bonecas CD Respighi – Ancient Airs; Suite III; La boutique fantasque – Academy of St Martin in the Fields – que reaparece para a dança final. Sir. Neville Marriner, regente – Philips – 1990
(Itáli a , 1879 – 1936)
La boutique fantasque: Suíte (1918)
Instrumentação: piccolo, 2 flautas, 2 oboés, corne inglês, 2 clarinetes, 2 fagotes, 4 trompas, 3 trompetes, 3 trombones, tuba, tímpanos, percussão, harpa, celesta, cordas.
Ottorino Respighi faz parte, juntamente com Afredo Casella, Franco Alfano, Gian Francesco Malipiero e Ildebrando Pizzetti, da chamada generazione dell’Ottanta, grupo de compositores, nascidos por volta dos anos 1880, que dominaram a cena musical italiana entre as duas guerras mundiais – período imediatamente posterior à geração de Puccini, Mascagni, Leoncavallo e Busoni. Respighi foi compositor, musicólogo, pianista e violista. Estudou com Giuseppe Martucci, em Bologna; Nicolai Rimsky-Korsakov, em São Petersburgo; e Max Bruch, em Berlim. É, provavelmente, o compositor italiano do século XX mais admirado fora da Itália, com suas obras regularmente executadas e gravadas em todo o mundo.
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Em 1918, quando sua música começava a tornar-se conhecida na Europa, Sergei Diaghlev
encomendou-lhe um balé para a companhia Balés Russos. Escrito em um ato, o balé La boutique fantasque conta a história de uma fantástica loja de bonecas mecânicas. À noite, longe dos olhares humanos, as bonecas ganham vida e vivem seus pequenos dramas. Durante o dia, ficam em exposição na vitrine, dançando para os fregueses. Quando duas famílias de turistas, uma russa e outra americana, chegam à loja, um casal de bonecas dança-lhes um cancan. Os americanos, encantados, compram o bailarino, enquanto os russos escolhem a bailarina, e decidem retirar a mercadoria no dia seguinte. À noite o casal de bonecas sofre pela separação iminente e foge. As famílias retornam no dia seguinte e se enfurecem pelo desaparecimento das bonecas. Os brinquedos ganham vida e afugentam os turistas que, uma vez do lado de fora, assistem da vitrine a uma alegre
La boutique fantasque faz parte de um grupo de balés escritos na mesma época, para os Balés Russos, que reutiliza música italiana dos séculos XVIII e XIX. Com essa destinação, em 1916 Vicenzo Tommasini orquestrou sonatas para cravo de Domenico Scarlatti; em 1919 foi a vez de Stravinsky compor Pulcinella sobre peças do século XVIII que, na época, acreditava-se serem de Pergolesi. Para La boutique fantasque Respighi arranjou e orquestrou um grande número de miniaturas compostas por Rossini em seus últimos anos.
La Boutique Fantasque: ballet – Sem referências de intérpretes | Acesse: tinyurl.com/rboutique
Para ler
Daniele Gambaro – Ottorino Respighi: un’idea di modernità del Novecento – Zecchini – 2011 Riccardo Viagrande – La generazione dell’Ottanta – Casa Musicale Eco – 2007
instrumentais, elas acabaram sendo publicadas, após a morte do compositor, sob o título de Péchés de vieillesse (Pecados da velhice).
Respighi escolheu muitas dessas miniaturas para o balé, compôs seções de ligação entre as peças e Gioacchino Rossini, após ter orquestrou o conjunto. O resultado foi interrompido uma carreira de uma música encantadora, que associa sucesso como compositor de óperas, o melodismo fluente de Rossini com o estabelecera-se em Paris, onde colorido orquestral ímpar de Respighi. viveu seus últimos anos apreciando Com coreografia de Léonide Massine a culinária francesa, organizando e cenário de André Derain, o balé La e frequentando festas e assistindo boutique fantasque teve sua primeira a espetáculos. Compôs então apresentação no Alhambra Theatre, uma miscelânea de mais de 150 em Londres, no dia 5 de junho de pequenas peças com as quais ele 1919, pela companhia Balés Russos. adorava entreter seus convidados. O sucesso foi tão grande que a obra Para as mais variadas formações ganhou logo a versão suíte de concerto. guilherme nascimento | Compositor, Doutor em Música pela Unicamp, professor na Escola de Música da UEMG, autor dos livros Os sapatos floridos não voam e Música menor.
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FOTO ALEXANDRE REZENDE
SÉRIE ALLEGRO
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SÉRIE VIVACE
25/
M A RÇO
Fabio Mechetti, regente Augustin Hadelich, violino
terça, 20h30 Grande Teatro do Palácio das Artes
PRO GR A M A
1
Ludwig van BEETHOVEN Fidelio, op. 72c: Abertura [6 min]
2
Béla BARTÓK Concerto para violino nº 2 [35 min] Allegro non troppo Andante tranquillo Allegro molto augustin hadelich,
— 3
i n t e r va l o
violino
—
Heitor VILLA-LOBOS Erosão, “A origem do rio Amazonas” [18 min]
4
George ENESCU Rapsódia Romena nº 1 em Lá maior, op. 11 [12 min]
MARÇO 2014
AUGUSTIN HADELICH
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Citado na imprensa por sua “comunicação poética” (Washington Post), “brilho de dedos rápidos” (The New Yorker) e “entonação impecável” (Vancouver Sun), Augustin Hadelich foi alçado ao escalão superior dos jovens violinistas. Após uma sensacional estreia com a Sinfônica de Boston no Festival de Tanglewood, ele estreou com sucesso nas séries de assinatura da Filarmônica de Nova York no Lincoln Center. Um impressionante número de estreias aconteceu em seguida, com as orquestras National Symphony, Los Angeles Chamber Orchestra, Buffalo Philharmonic e as sinfônicas de Dallas, Milwaukee, New Jersey, St. Louis, San Francisco e Toronto. E ainda a BBC Philharmonic/ Manchester, SWR/Stuttgart, Filarmônica de Tampere e Sinfonieta de Hong Kong.
Na atual temporada, entre outras performances, Hadelich estreará no Kennedy Center a obra multimídia Tango Song, and Dance, inspirada em sonata para violino de André Previn, com o violonista Pablo Sáinz Villegas e a pianista Joyce Yang. O artista já se apresentou com as mais importantes orquestras nos Estados Unidos, como a Orquestra de Cleveland, Pacific Symphony, filarmônicas de Los Angeles e Rochester, sinfônicas do Alabama, Atlanta, Baltimore, Cincinnati, Colorado, Columbus, Florida, Fort Worth, Houston, Indianapolis, Jacksonville, Kansas City, Louisville, National Nashville, New Jersey, New Orleans, Phoenix, San Diego, Seattle, Syracuse, Utah e Saint Paul Chamber Orchestra. Ao redor do mundo, esteve na Europa, Américas e Ásia. Com a Filarmônica de Minas Gerais, Hadelich apresentou-se em 2010 e 2012.
Hadelich colaborou com regentes como Kazuyoshi Akiyama, Lionel Bringuier, Justin Brown, Mei-Ann Chen, Karel Mark Chichon, James Conlon, JoAnn Falletta, Rafael Frühbeck de Burgos, Alan Gilbert, Hans Graf, Giancarlo Guerrero, Miguel Harth-Bedoya, Hannu Lintu, Jun Märkl, Fabio Mechetti, Juanjo Mena, Kazushi Ono, Peter Oundjian, Vasily Petrenko, Christoph Poppen, Carlos Miguel Prieto, Larry Rachleff, Stefan Sanderling, Michael Stern, Yan Pascal Tortelier, Bramwell Tovey, Mario Venzago e Kazuki Yamada. Medalhista de ouro na Competição Internacional de Violino de Indianápolis 2006, Hadelich recebeu o prêmio Martin E. Segal do Lincoln Center 2012, um Avery Fisher Career Grant 2009 e o Borletti Buitoni Trust Fellowship 2011. Tem cinco CDs gravados
FOTO ROSALIE O’CONNOR
SÉRIE VIVACE
pelos selos Naxos e AVIE. O artista é também entusiasmado recitalista e músico de câmara. Nascido na Itália em 1984, filho de pais alemães, Augustin Hadelich possui Artist Diploma pela The Juilliard School, onde foi aluno de Joel Smirnoff. Ele toca o violino Stradivari “Ex-Kiesewetter” de 1723, emprestado por Clemente e Karen Arrison com o esforço generoso da Sociedade Stradivari.
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SÉRIE VIVACE
LUDWIG VA N
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BEE THOVEN
(Ale m a nh a , 1770 – Áus t r i a , 18 27)
Fidelio, op. 72c: Abertura (1814)
Instrumentação: 2 flautas, 2 oboés, 2 clarinetes, 2 fagotes, 4 trompas, 2 trompetes, 2 trombones, tímpanos, cordas.
Beethoven compôs apenas uma ópera: Fidelio. Trata-se, na verdade, de um singspiel, um subgênero da ópera, originário dos países de língua alemã. A diferença entre o singspiel e o que genericamente se convencionou chamar de ópera está no fato de que, grosso modo, a ópera alterna momentos de canto (reflexão psicológica) com recitativo (ação dramática), enquanto o singspiel alterna momentos de canto com o diálogo falado. O singspiel é um ancestral direto da opereta do século XIX e dos modernos musicais da Broadway. O rapto do serralho e A flauta mágica, de Mozart, assim como O francoatirador, de Carl Maria von Weber, são alguns exemplos de singspiel.
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Para o seu Fidelio Beethoven gerou três versões diferentes e compôs quatro aberturas independentes. Em Viena, no início de 1804, ele
começou a compor a primeira versão da ópera, sobre a peça Léonore ou l’amour conjugal, do escritor francês Jean-Nicolas Bouilly, com tradução para o alemão de Joseph Sonnleithner. A história conta o drama de Florestan, injustamente encarcerado na prisão de Sevilha por seu adversário político, Pizarro. A esposa de Florestan, Eleonora, decide salválo. Para tal ela se disfarça de homem, adota o nome Fidelio e convence Rocco, o carcereiro, a empregá-la na prisão, para poder, em segredo, socorrer o marido. Concluída em setembro de 1805, a primeira versão da ópera Leonore/ Fidelio, com a abertura hoje conhecida como Leonore nº 2, foi estreada em novembro no Theater an der Wien. A obra teve fria recepção e, após três récitas, foi retirada de cartaz. Em dezembro do mesmo ano Beethoven
aceitou, com relutância, a ideia de revisar a ópera. O libretista Stephan von Breuning encurtou a ação de três para dois atos e Beethoven compôs uma nova abertura, hoje conhecida como Leonore nº 3. A estreia se deu em março de 1806 e teve recepção um pouco melhor. Mas, infelizmente, seria apresentada apenas mais uma vez, em razão de um desentendimento de Beethoven com o diretor do teatro. No ano seguinte ele comporia, ainda, uma terceira abertura, hoje conhecida como Leonore nº 1, para uma apresentação em Praga que acabou por não acontecer. A ópera parecia fadada ao esquecimento. No entanto, em 1814, o diretor do Theater am Kärntnertor procurou o compositor para uma nova apresentação da ópera. Beethoven relutou, mas acabou aceitando, com a condição de poder retrabalhar a obra. Contratou um novo libretista, Georg Friedrich Treitschke, com a missão de dar mais agilidade à trama, e compôs uma nova abertura. A estreia se deu no dia 23 de maio do mesmo ano, sem a nova abertura, ainda não finalizada. Em 26 de maio aconteceu
Para ouvir
CD Beethoven – Ouvertüren – Berliner Philharmoniker – Herbert von Karajan, regente – Deutsche Grammophon – 1989 Wiener Philharmoniker – Claudio Abbado, regente Acesse: tinyurl.com/bfidelio
Para ler
Barry Cooper (org.) – Beethoven, um compêndio – Jorge Zahar Editor – 1996 Maynard Solomon – Beethoven: vida e obra – Jorge Zahar Editor – 1987
então a apresentação da ópera com a nova abertura, hoje conhecida como Fidelio. Os esforços valeram a pena. A nova versão foi um sucesso e a ópera, reapresentada inúmeras vezes. Ao contrário das três aberturas Leonore, a abertura Fidelio não apresenta explicitamente o conteúdo musical da ópera. Apenas alude a alguns trechos. É a mais coesa, festiva e brilhante das quatro, e a mais curta. Trata-se da abertura perfeita para introduzir a ópera, pois, ao invés de tirar a surpresa da trama, prepara o que está por vir. Como as outras três, ganhou as salas de concerto e é hoje, dentre elas, a mais conhecida.
guilherme nascimento | Compositor, Doutor em Música pela Unicamp, professor na Escola de Música da UEMG, autor dos livros Os sapatos floridos não voam e Música menor.
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SÉRIE VIVACE
BÉL A
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BARTÓK
(R o m êni a , 18 81 – Esta d os Uni d os, 194 5)
Concerto para violino nº 2 (1937/1938)
Instrumentação: piccolo, 2 flautas, 2 oboés, corne inglês, 2 clarinetes, clarone, 2 fagotes, contrafagote, 4 trompas, 2 trompetes, 3 trombones, tímpanos, percussão, harpa, celesta, cordas.
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Bartók fez seu primeiro recital aos dez anos, preparado pela mãe, competente professora de piano. Aos dezoito anos, estudando com Istvan Thoman, ex-aluno de Liszt, o jovem compositor começou a pesquisar metodicamente as manifestações musicais populares de seu país. Liszt escrevera um livro sobre o virtuosismo dos violinistas ciganos, inspiradores de suas célebres Rapsódias Húngaras. E até o começo do século XX, a música húngara (all’ongarese) confundia-se com a música cigana (alla zingarese). Bartók ampliou as pesquisas em direção ao autêntico folclore magiar. Ao incorporar elementos “primitivistas” à melhor tradição erudita ocidental, renunciou aos efeitos fáceis de exotismo superficial e contribuiu decisivamente para a renovação da linguagem musical contemporânea.
O violino era o instrumento principal dos verbunkos, dança propagada pelas orquestras ciganas da Hungria. Bartók confirmaria as origens dessa dança entre as formas instrumentais praticadas havia séculos pelos camponeses húngaros e a utilizou em algumas de suas importantes obras para o instrumento, como as Rapsódias para violino e orquestra e os Contrastes para piano, violino e clarineta. Note-se que o primeiro movimento do Concerto para violino nº 2 deveria originalmente chamar-se Tempo de verbunkos. Somente após a morte de Bartók esse Concerto passou a ser conhecido como o de nº 2, devido à descoberta de um concerto anterior, escrito em 1908. Possui três movimentos. Na orquestração são usados alguns efeitos ousados, como o pizzicato em fortissimo da
seção de cordas, quase ao final do primeiro movimento. Este Allegro ma non troppo estrutura-se na forma clássica de sonata, com seus dois temas e desenvolvimento. A harpa desenha o fundo rítmico de acordes perfeitos, estabelecendo um clima de recolhimento para o solo do violino, repleto de melancólico lirismo – um primeiro tema cantante, amplo, caracterizado por intervalos de quartas e quintas. Juntos, solista e orquestra iniciam uma passagem marcada risoluto. O segundo tema, também confiado ao solista, comporta uma sequência das doze notas cromáticas, sem repetição. Não há, porém, a intenção de desenvolver uma construção dodecafônica e a série se dissolve em trinados. Alguns críticos sugeriram que o autor ironizava aí a Segunda Escola de Viena (movimento estético liderado por Schönberg, criador do dodecafonismo), mas Bartók respeitava Schönberg e seus seguidores e, na audição do concerto, o (improvável) caráter satírico é imperceptível. Após um clímax, os glissandos da harpa servem novamente de acompanhamento para uma versão do primeiro tema que marca o início do desenvolvimento formal.
Para ouvir
CD Bartók – Violin Concerto no. 2 – Tonhalle Orchester Zürich – David Zinman, regente – Valeriy Sokolov, violino – EMI Records Ltd/ Virgin Classics – 2011
Para ler
Pierre Citron – Bartók – Éditions du Seuil – Solfèges – 1963
Para assistir
Orchesta Nacional de España – Josep Pons, regente – Frank Peter Zimmermann, violino Acesse: tinyurl.com/bviolino2
O tempo é acelerado e, em uma surpreendente passagem, com acompanhamento da celesta e da harpa, o violino exibe no registro agudo uma inversão do tema. Quando este retorna, está a uma oitava superior e sem o acompanhamento da harpa. Outros materiais também são recapitulados até que a longa e virtuosística cadência do solista, composta pelo autor, anteceda a conclusão. O segundo movimento, em Sol maior (Andante tranquillo), consiste de uma série de seis variações sobre um tema de natureza rapsódica e cantante anunciado pelo violino. As variações permitem apreciar a versatilidade de uma instrumentação de nuanças notáveis, sobretudo pelo uso surpreendente da percussão.
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Na primeira variação, o solista é inicialmente acompanhado apenas por golpes isolados dos tímpanos, reforçados pelos contrabaixos. A variação 2 se inicia com a flauta repetindo longas notas sobre as quais se destacam o solista, a harpa e depois a celesta. A variação 3 privilegia as trompas, ao lado do violino. Na variação 4 a melodia é inicialmente confiada aos violoncelos e contrabaixos, enquanto o solista os acompanha com trinados. Triângulo e caixa entram na leve variação 5 (scherzando). Na variação 6, as cordas e os tambores acompanham o violino. Quando a percussão silencia, o solista faz uma expressiva e lenta escala descendente, preparando a reexposição do tema inicial, que, gradativamente, diminui até chegar a uma única nota Sol aguda para concluir o movimento. O movimento final (Allegro molto) tem o caráter de um rondó, embora seja construído como um allegro de sonata. Após alguns enérgicos compassos da orquestra, o violino inicia o tema principal – derivado
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do tema do primeiro movimento. Essa semelhança temática caracteriza a forma “em arco”, bastante apreciada por Bartók e responsável pela unidade estrutural do concerto. As variantes do tema principal são, sobretudo, rítmicas. Somadas às mudanças abruptas de andamento e expressão, exigem excepcional virtuosismo do solista. O concerto foi publicado com dois finais alternativos, um dos quais somente para orquestra e o outro que inclui a participação do solista. O final sem solista apresenta um formidável glissando dos metais. Em ambas as opções, o tema principal prende a atenção do ouvinte até a conclusão da obra.
FOTO ALEXANDRE REZENDE
SÉRIE VIVACE
O Concerto para violino nº 2 desenvolve admiravelmente a estética da variação. Escrevê-lo em forma de Variações era, a princípio, aliás, a intenção de Bartók; a forma tradicional adotada, em três movimentos, foi sugerida por Zoltán Székely, violinista húngaro a quem o autor dedicou a obra e que a estreou, em março de 1939, em Amsterdam, sob a regência de Willem Mengelberg.
paulo sérgio malheiros dos santos | Pianista, Doutor em Letras, professor na UEMG, 34
autor dos livros Músico, doce músico e O grão perfumado – Mário de Andrade e a arte do inacabado.
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HEITOR
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VILL A-LOBOS
(B ras il , 18 87 – 1959)
Erosão, “A origem do rio Amazonas” (1950)
Instrumentação: 2 piccolos, 2 flautas, 2 oboés, corne inglês, 2 clarinetes, clarone, 2 fagotes, contrafagote, 4 trompas, 4 trompetes, 4 trombones, tuba, tímpanos, percussão, harpa, celesta, piano, cordas.
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“Há muitos anos, a lua era noiva do sol, que com ela queria se casar, mas, se isso acontecesse (...), destruir-se-ia o mundo. O amor ardente do sol queimaria o mundo e a lua, com suas lágrimas, inundaria toda a terra; por isso, não puderam se casar. A lua apagaria o fogo; o fogo evaporaria a água. Separaramse, então, a lua para um lado e o sol para outro (...). A lua chorou todo o dia e toda a noite, e foi então que as lágrimas correram por cima da terra até o mar. O mar embraveceu e por isso não pôde a lua misturar as lágrimas com as águas do mar, que meio ano corre para cima, meio ano, para baixo. Foram as lágrimas da lua que deram origem ao nosso rio Amazonas”. Assim Barbosa Rodrigues reconta a tradição indígena que motivou a composição de Erosão. Em outra tradição, citada por Kleide Ferreira do Amaral
Pereira, “os Andes elevaram-se do mar e uma grande massa d’água desceu para o país das amazonas, tudo destruindo e deixando em seu lugar um rendilhado de rios, igapós e igarapés, afluentes e subafluentes do majestoso Amazonas cuja força é tão grande que afasta por vários quilômetros a força do mar na sua foz. O estrondo do encontro desses gigantes foi chamado de ‘a pororoca’ pelos indígenas”. Motivação (ou, antes, mote) seria o termo mais adequado para definir a presença de elementos tradicionais indígenas na música de Villa-Lobos. Certas escalas, ritmos ou melodias de origem ameríndia só aparecem na obra do compositor como uma espécie de evocação afetiva, que açula a sua intuição criadora, e não como citação ou como material bruto
para trabalhos de reelaboração. Papel mais importante, para ele, do que o do material musical, é talvez o das lendas e tradições orais. A Amazônia, para Villa-Lobos, é como uma pátria subjetiva. Assim, os índios e suas bagagens culturais ocupam um papel ambíguo em sua linguagem: não são estilizados ou romantizados como pelos nossos escritores e compositores do século XIX, mas tampouco se prestam a observações reverentes de trabalhos etnográficos.
Para ouvir
CD Villa-Lobos – Erosão, Amazonas e outras obras – Orquestra Sinfônica da Rádio da Bratislava – Roberto Duarte, regente – Marco Polo – 1992 Orquestra Sinfônica Brasileira – Sergio Magnani, regente | Acesse: tinyurl.com/vlerosao
Para ler
David P. Appleby – Heitor Villa-Lobos: a bio-bibliography – Greenwood – 1988
citações de melodias do universo infantil aderem e se entrelaçam a um construto original, em que forma e conteúdo são uma coisa só. Em Erosão, o aspecto narrativo, Um lapso de cinco anos se abre desde característico do poema sinfônico, a conclusão das Bachianas Brasileiras, dissolve-se, aí, na exploração de em 1945, até a próxima composição materiais sonoros abstratos, em sinfônica de Villa-Lobos, Erosão, nada descritivos, abordados sob poema sinfônico encomendado pela parâmetros então muito modernos, Orquestra de Louisville. Concluída em como densidade, volume, tessitura, 1950, Erosão foi estreada em Louisville timbrística, as sobreposições no ano seguinte, sob a regência de melódicas e a própria rítmica, Robert Whitney. trabalhados como elementos de um discurso sonoro próprio. Com isso, A forma e o gênero, como e com certas construções melódicas quase tudo em Villa-Lobos, angulosas, Villa-Lobos consegue nunca se reduzem a esquemas afastar-se até mesmo da tonalidade preestabelecidos. Em boa parte (da qual nunca conseguiu de todo das Cirandas, por exemplo, uma se desvencilhar), reinventando-se a forma-canção transfigura-se em si próprio e definindo um caminho um processo de colagem em que as autônomo para a Música Brasileira. moacyr laterza filho | Pianista e cravista, Doutor em Literaturas de Língua Portuguesa, professor da Universidade do Estado de Minas Gerais e da Fundação de Educação Artística.
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SÉRIE VIVACE
GEORGE
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ENESCU
(R o m êni a , 18 81 – Fra nça , 1955)
Rapsódia Romena nº 1 em Lá maior, op. 11 (1901)
Instrumentação: piccolo, 3 flautas, 2 oboés, corne inglês, 2 clarinetes, 2 fagotes, 4 trompas, 4 trompetes, 3 trombones, tuba, tímpanos, percussão, 2 harpas, cordas.
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George Enescu foi o mais importante compositor da Romênia e um dos maiores violinistas de seu tempo. Menino prodígio, iniciou seu aprendizado de violino aos quatro anos de idade. Aos cinco compunha suas primeiras peças e, aos sete, entrava para o Konservatorium der Gesellschaft der Musikfreunde, em Viena, onde estudou violino, piano, órgão e violoncelo, além das disciplinas teóricas. Graduouse ali aos doze anos de idade e, aos quatorze, ingressou no Conservatório de Paris onde, além de estudar piano e violino, foi aluno de composição de Jules Massenet e Gabriel Fauré. Dentre seus colegas do Conservatório estavam Maurice Ravel, Alfredo Casella, Charles Koechlin e Florent Schmitt, compositores que viriam a ter importante lugar na história da música, no período que vai do final
do século XIX à primeira metade do século XX. Além de grande violinista, foi também excelente maestro e pedagogo. Seus mais brilhantes alunos foram Yehudi Menuhin e Arthur Grumiaux. Enescu dividiu a maior parte de sua vida entre Paris e seu país natal. Com o fim da Segunda Guerra e a ascensão do Partido Comunista na Romênia, George Enescu exilou-se na França. Seus últimos anos foram difíceis: além do gradual empobrecimento da família, causado pela diminuição de concertos e gravações, ele e a esposa sofreram sérios problemas de saúde. Faleceu em Paris, aos setenta e três anos de idade. Embora compor fosse sua maior paixão, Enescu nos deixou pouquíssimas obras, principalmente por duas razões: além de ter sido
um perfeccionista que revisava constantemente suas composições, sua intensa agenda de concertos não lhe permitia dedicar muito tempo ao trabalho de composição. Sua primeira obra publicada foi composta aos quinze anos de idade e a última, aos setenta e três. Nesses quase sessenta anos de atividade, publicou apenas trinta e três obras, dentre elas uma ópera, três sinfonias, várias peças para coro, algumas canções, algumas peças para orquestra e um número maior de música de câmara. Sua produção compreende os mais variados estilos, desde música com inspiração folclórica a obras com forte influência moderna, não deixando de aproximarse do romantismo alemão e do impressionismo francês, assim como do neoclassicismo e do romantismo tardio. Enescu compôs as duas Rapsódias Romenas em Paris, em 1901, pouco antes de completar vinte anos de idade. Ambas foram estreadas no mesmo concerto, no Ateneul Român, em Bucareste, no dia 8 de março de 1903, sob a
Para ouvir
CD Famous Rhapsodies – Liszt: Hungarian Rhapsodies nos 1, 2 & 4; Enescu: Rumanian Rhapsodies nos 1 & 2; Chabrier: España; Alfvén: Swedish Rhapsody – Philadelphia Orchestra – Eugene Ormandy, regente – New York Philharmonic – Leonard Bernstein, regente – Sony – 2009
Para ler
Bernard Gavoty – Les souvenirs de Georges Enescu – Kryos – 2006
Para assistir
Bucharest George Enescu Philharmonic Orchestra – Sergiu Celibidache, regente Acesse: tinyurl.com/erapsodia
regência do compositor. Trata-se de suas obras mais conhecidas. A Rapsódia Romena nº 1, a mais famosa das duas, é um conjunto de danças folclóricas romenas divinamente arranjadas e orquestradas. A música iniciase com uma melodia folclórica alternada entre o clarinete e o oboé. Desenvolve-se em várias seções, algumas rápidas, outras lentas, até desembocar em uma dança folclórica trepidante e num final surpreendente: após um momento estrondoso, quando se pensa que a obra terminou, as madeiras iniciam uma seção alegre que então a conduz a um rápido desfecho.
guilherme nascimento | Compositor, Doutor em Música pela Unicamp, professor na Escola de Música da UEMG, autor dos livros Os sapatos floridos não voam e Música menor.
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olá, assinante BEM-VINDO ( A) À TEMPORADA 2014 É sempre um prazer receber você em nossos concertos. Quando não puder vir, sugerimos que você compartilhe essa experiência com outra pessoa, doando seu ingresso.
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L EMBRE-SE Esta página é sua! Nela são publicadas informações sobre tudo o que envolve a Filarmônica. Você também pode conversar com a Assessoria de Relacionamento, por email ou telefone. E não se esqueça de acessar nosso site para se manter por dentro do que acontece com a sua Orquestra.
É com muito orgulho que a Rádio Inconfidência apoia a Orquestra Filarmônica de Minas Gerais
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3219-9009 (segunda a sexta, 9h a 18h)
www.filarmonica.art.br 41
ACOMPA NHE A FIL A RMÔNIC A EM
OUTR AS SÉRIES DE CONCERTOS Concertos para a Juventude
Laboratório de Regência Atividade
Realizados em manhãs de domingo, são concertos dedicados aos jovens e às famílias, buscando ampliar e formar público para a música clássica. As apresentações têm ingressos a preços populares e contam com a participação de jovens solistas.
inédita no Brasil, este laboratório é uma oportunidade para que jovens regentes brasileiros possam praticar com uma orquestra profissional. A cada ano, quinze maestros, quatro efetivos e onze ouvintes, têm aulas técnicas, teóricas e ensaios com o regente Fabio Mechetti. O concerto final é aberto ao público.
Clássicos na Praça Realizados em praças da Região Metropolitana de Belo Horizonte, os concertos proporcionam momentos de descontração e entretenimento, buscando democratizar o acesso da população em geral à música clássica.
Concertos de Câmara Realizados
Concertos Didáticos Concertos
Turnês Estaduais As turnês estaduais
destinados exclusivamente a grupos de crianças e jovens da rede escolar, bem como a instituições sociais, mediante inscrição prévia. Seu formato busca apoiar o público em seus primeiros passos na música clássica.
levam a música de concerto a diferentes cidades e regiões de Minas Gerais, possibilitando que o público do interior do Estado tenha contato direto com música sinfônica de excelência.
para estimular músicos e público na apreciação da música erudita para pequenos grupos. A Filarmônica conta com grupos de Metais, Cordas, Sopros e Percussão.
Turnês Nacionais e Internacionais Festival Tinta Fresca Com o objetivo
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de fomentar a criação musical entre compositores brasileiros e gerar oportunidade para que suas obras sejam programadas e executadas em concerto, este Festival é sempre uma aventura musical inédita. Como prêmio, o vencedor recebe a encomenda de outra obra sinfônica a ser estreada pela Filarmônica no ano seguinte, realimentando o ciclo da produção musical nos dias de hoje.
Com essas turnês, a Orquestra Filarmônica de Minas Gerais busca colocar o Estado de Minas dentro do circuito nacional e internacional da música clássica. Em 2014, a Orquestra volta a se apresentar no Festival de Campos do Jordão.
PRÓXIMOS CONCERTOS M A RÇO Dia 25 Vivace 2 terça, 20h30, Palácio das Artes Marcos Arakaki, regente Augustin Hadelich, violino BEETHOVEN / BARTÓK / VILLA-LOBOS / ENESCU
A BRIL Dia 3 Allegro 2 quinta, 20h30, Palácio das Artes Fabio Mechetti, regente Cássia Lima, flauta Renata Xavier, flauta Anthony Flint, violino HAYDN / BACH / DVORÁK
Dia 6 Concertos para a Juventude 2 Encontro com o Clássico domingo, 11h, Sesc Palladium Marcos Arakaki, regente Colin Chatfield, contrabaixo MOZART / DITTERSDORF / BOCCHERINI / HAYDN
Dias 11 e 12 Turnê Estadual Tiradentes e São João del-Rei sexta e sábado, 20h, Matriz de Santo Antônio e Igreja de São Francisco Marcos Arakaki, regente Melina Peixoto, soprano Luciana Monteiro, alto Marcos Liesenberg, tenor Misael dos Santos, baixo Coral Ars Nova J. S. BACH / J. PAULA SOUZA
Dia 12 Turnê Estadual Barroso Concerto de Câmara Quinteto de Sopros sábado, 11h30, Paróquia de Sant’Ana IBERT / D’RIVERA / FARKAS / BARROSO / ABREU
Dia 17 Allegro 3 quinta, 20h30, Palácio das Artes Marcos Arakaki, regente Anna Malikova, piano BRAHMS / SAINT-SAËNS / NEPOMUCENO
Dia 29 Vivace 3 terça, 20h30, Palácio das Artes Fabio Mechetti, regente Ian Parker, piano GUERRA-PEIXE / GERSHWIN
ORQUESTR A FIL ARMÔNICA DE MINAS GER AIS / M A RÇO 2014 Diretor Artístico e Regente Titular
Regente Associado
Fabio Mechetti
Marcos Arakaki
Primeiros Violinos Anthony Flint – Spalla Rommel Fernandes – Spalla Associado Ana Zivkovic Arthur Vieira Terto Baptiste Rodrigues Bojana Pantovic Dante Bertolino Eliseu Martins de Barros Hyu-Kyung Jung Marcio Cecconello Mateus Freire Megumi Tokosumi Rodrigo Bustamante Rodrigo Monteiro Rodrigo de Oliveira Segundos Violinos Frank Haemmer * Leonidas Cáceres ** Leonardo Ottoni Luka Milanovic Marija Mihajlovic Martha de Moura Pacífico Radmila Bocev Rodolfo Toffolo Tiago Ellwanger Valentina Gostilovitch Elias Martins de Barros **** Laura von Atzingen ****
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Violas João Carlos Ferreira * Roberto Papi ** Flávia Motta Gerry Varona *
principal
**
Gilberto Paganini Juan Sebastian Castillo Diaz Marcelo Nébias Nathan Medina Katarzyna Druzd Violoncelos Elise Pittenger *** Camila Pacífico Camilla Ribeiro Eduardo Swerts Eneko Aizpurua Pablo Lina Radovanovic Robson Fonseca Emilia Neves **** Contrabaixos Colin Chatfield * Nilson Bellotto ** Brian Fountain Hector Manuel Espinosa Marcelo Cunha Pablo Guiñez William Brichetto Flautas Cássia Lima * Renata Xavier ** Alexandre Braga Elena Suchkova Oboés Alexandre Barros * Ravi Shankar ** Israel Muniz Moisés Pena
principal assistente
***
Clarinetes Marcus Julius Lander * Jonatas Bueno ** Ney Campos Franco Alexandre Silva Fagotes Catherine Carignan * Russell Riding Andrew Huntriss Cláudio de Freitas Trompas Alma Maria Liebrecht * Evgueni Gerassimov ** Gustavo Garcia Trindade José Francisco dos Santos Lucas Filho Fabio Ogata
Percussão Rafael Alberto * Daniel Lemos ** Werner Silveira Sérgio Aluotto Felipe Kneipp **** Harpa Giselle Boeters * Teclados Ayumi Shigeta * Patrícia Valadão **** gerente
Jussan Fernandes inspetora
Trombones Mark John Mulley * Wagner Mayer ** Renato Lisboa Marcos Flávio **** Tuba Eleilton Cruz *
Conselho Administrativo
Equipe Técnica gerente de
Equipe Administrativa
presidente emérito
comunicação
analista
Jacques Schwartzman
Merrina Godinho Delgado
administrativo
presidente
gerente de produção
Paulo Baraldi
Roberto Mário Soares
musical
analista contábil
conselheiros
Claudia da Silva Guimarães
Graziela Coelho
assessora de
Thais Boaventura
programação musical
analista de
Carolina Debrot
recursos humanos
produtores
Quézia Macedo Silva
Luis Otávio Rezende Narren Felipe
secretária executiva
analistas de
assistentes
comunicação
administrativos
Cristiane Reis João Paulo de Oliveira
Berenice Menegale Bruno Volpini Celina Szrvinsk Fernando de Almeida Ítalo Gaetani Marco Antônio Drumond Marco Antônio Pepino Marcus Vinícius Salum Mauricio Freire Octávio Elísio Paulo Paiva Paulo Brant Sérgio Pena Diretoria Executiva
Sergio Almeida
diretor presidente
assistentes
Diomar Silveira
Ana Lúcia Kobayashi Claudio Starlino Jônatas Reis
diretor
analista de
serviços gerais
administrativo-
marketing de
Ailda Conceição
financeiro
relacionamento
mensageiros
supervisor de
Igor Viana
Mônica Moreira
montagem
diretora de
analista de
Jeferson Silva Pablo Faria
Rodrigo Castro
comunicação
marketing e projetos
menor aprendiz
montadores
Jacqueline Guimarães Ferreira
Mariana Theodorica
Pedro Almeida
diretora de
comunicação
marketing e projetos
Renata Gibson
assistente
Débora Vieira
Igor Araujo Jussan Meireles Risbleiz Aguiar
Tímpanos Patricio Hernández Pradenas * /
assistente substituto
Flaviana Mendes
arquivista
Karolina Lima
Zilka Caribé
principal
analista financeiro
Andréa Mendes – Imprensa Marciana Toledo – Publicidade Mariana Garcia – Multimídia Renata Romeiro – Design gráfico
administrativo
Trompetes Marlon Humphreys * Érico Fonseca ** Daniel Leal Jessé Sadoc ****
INSTITUTO CULTUR AL FIL ARMÔNICA / M A RÇO 2014
diretor de produção musical
Marcos Souza ****
músico convidado
assistente de
auxiliar administrativo
Vivian Figueiredo recepcionista
Lizonete Prates Siqueira auxiliar de
FOR TI S SIMO março Nº 2 / 2014 ISSN 2357-7258
editora
Merrina Godinho Delgado consultora de programa
Berenice Menegale
PA R A A PRECIA R UM CONCERTO
Fotos e gravações em áudio e vídeo
Pontualidade
Aparelhos celulares
Uma vez iniciado um concerto, qualquer movimentação perturba a execução da obra. Seja pontual e respeite o fechamento das portas após o terceiro sinal. Se tiver que trocar de lugar ou sair antes do final da apresentação, aguarde o término de uma peça.
Confira e não se esqueça, por favor, de desligar o seu celular ou qualquer outro aparelho sonoro.
Aplausos
Tosse
Crianças
Comidas e bebidas
Aplauda apenas no final das obras, que, muitas vezes, se compõem de dois ou mais movimentos. Veja no programa o número de movimentos e fique de olho na atitude e gestos
Perturba a concentração dos músicos e da plateia. Tente controlá-la com a ajuda de um lenço ou pastilha.
Caso esteja acompanhado por criança, escolha assentos próximos aos corredores. Assim, você consegue sair rapidamente se ela se sentir desconfortável.
Seu consumo não é permitido no interior da
Não são permitidas na sala de concertos.
FOTO EUGÊNIO SÁVIO
MARÇO 2014
Conversa A experiência do concerto inclui o encontro com outras pessoas. Aproveite essa troca antes da apresentação e no seu intervalo, mas nunca converse ou faça comentários durante a execução das obras. Lembre-se de que o silêncio é o espaço da música.
sala de concerto.
do regente.
CUIDE DO SEU PROGR A M A DE CONCERTOS O programa mensal é elaborado com a participação de diversos especialistas e oferece uma oportunidade a mais para se conhecer música, compositores e intérpretes. Desfrute da leitura e estudo. Em 2014, ele ganha o nome Fortissimo e o registro do ISSN, um código que o identifica, permite a citação de seus textos como referência intelectual e acadêmica e sua indexação nos sistemas nacional e internacional de pesquisa. Para evitar o desperdício, traga sempre o seu programa. Caso o esqueça, use o exemplar entregue pelas recepcionistas e, ao final, deposite-o em uma das caixas colocadas à saída do Grande Teatro. 46
Programa disponível no site: www.filarmonica.art.br//index.php/blog/programas
47
MARÇO 2014
EM 2013 A FUNDAÇÃO CLÓVIS SALGADO RECEBEU MAIS DE 1 MILHÃO DE VISITANTES NAS SUAS MAIS DE 3.500 ATIVIDADES OFERECIDAS. COMPARTILHAMOS COM TODOS VOCÊS ESSA CONQUISTA.
O OS IUS ULT TÁCUL M PE TES AÇO ESP DE ES LIZAN • O O A ATIV DUÇÃ SION C U S O I D R E F AÇO DE P PRO ESP NICO UPOS OV.BR • A C .G R NEM TRO TÉ S • G CS.MG I C O |F TE • CEN TIC E AR FIA • ARTÍS ÚSICA D S M A S ERIA TOGR ORPO ÇA E L A N O G C F A • A E TE • O, D OS ATR RÂNE E POR EATR E T T L D PO URA NTEM GRAN ÃO EM T L O NS DE CU XO ARTE C NTOS EXTE E L E P E D VE COM TRO D ARA E RSOS N U P CE AÇO OM C ESP OLA C is. ESC era G s ina M e ad nic ô m r Fila a r t es rqu O aa poi a o ad alg S s vi Cló o ã aç und AF 48
FUNDAÇÃO
49
CA 0230/001/2013
PAT R O C Í N I O
A P O I O C U LT U R A L
DIVULGAÇÃO
INCENTIVO
APOIO INSTITUCIONAL
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