Temporada 2011 | Fora de Série: Mozart

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TEMPORADA 2016 FORA DE SÉRIE



SÁBADOS, 18H

apresentam

TEMPORADA 2016 FORA DE SÉRIE

Ministério da Cultura e Governo de Minas Gerais


Sábados, 18h

P. 5 P. 12

5 MARÇO

P. 21

Menino prodígio

2 ABRIL

CAROS AMIGOS E AMIGAS Fabio Mechetti MOZART, um pouco da obra e do coração, con affetto

MARCOS ARAKAKI, regente ERIKA RIBEIRO, piano La finta semplice, K. 51: Abertura Sinfonia nº 1 em Mi bemol maior, K. 16 Concerto para piano nº 1 em Fá maior, K. 37 Divertimento nº 1 em Mi bemol maior, K. 113 Cassação nº 1 em Sol maior, K. 63

P. 29

Concertos

MARCOS ARAKAKI, regente ALMA MARIA LIEBRECHT, trompa CATHERINE CARIGNAN, fagote CÁSSIA LIMA, flauta GISELLE BOETERS, harpa Concerto para trompa nº 2 em Mi bemol maior, K. 417 Concerto para fagote em Si bemol maior, K. 191 Concerto para flauta e harpa em Dó maior, K. 299

14 MAIO

P. 38

Tudo em família

FABIO MECHETTI, regente MARK JOHN MULLEY, trombone CLÁUDIA AZEVEDO, soprano CELINA SZRVINSK, piano MIGUEL ROSSELINI, piano — A viagem musical de trenó leopold mozart — Concerto para trombone alto em Ré maior leopold mozart — Sinfonia dos Brinquedos Mia speranza adorata – Ah, non sai qual pena, K. 416 No, no, che non sei capace, K. 419 Concerto para dois pianos em Mi bemol maior, K. 365 leopold mozart

18 JUNHO Sinfonias

P. 47

FABIO MECHETTI, regente Sinfonia nº 31 em Ré maior, K. 297, “Paris” Sinfonia nº 34 em Dó maior, K. 338 Sinfonia nº 40 em sol menor, K. 550


23 JULHO

P. 53

Rivais e contemporâneos

20 AGOSTO

TOBIAS VOLKMANN, regente convidado ALEXANDRE BARROS, oboé O rapto do serralho, K. 384: Abertura antonio salieri — Sinfonia em Ré maior, “Il giorno onomastico” domenico cimarosa — Concerto para oboé em dó menor Sinfonia nº 39 em Mi bemol maior, K. 543

P. 61

Ópera

FABIO MECHETTI, regente MARINA MORA, diretora de cena GABRIELLA PACE, Fiordiligi LUISA FRANCESCONI, Dorabella CARLA COTTINI, Despina DAVID PORTILLO, Ferrando LEONARDO NEIVA, Guglielmo LICIO BRUNO, Don Alfonso Così fan tutte, K. 588

1º OUTUBRO

P. 73

29 OUTUBRO

P. 79

10 DEZEMBRO

P. 85

FABIO MECHETTI, regente Contradanças, K. 609 Idomeneo: Música de Balé, K. 367 Tamos, Rei do Egito, K. 345 Les Petits Riens, K. 299b

Música incidental

FABIO MECHETTI, regente Uma brincadeira musical, K. 522 Serenata nº 6 em Ré maior, K. 239, “Noturna” Serenata nº 9 em Ré maior, K. 320, “Posthorn”

Na corte

Último capítulo

FABIO MECHETTI, regente MARCUS JULIUS LANDER, clarinete MARIANA ORTIZ, soprano LUISA FRANCESCONI, mezzo-soprano LUCIANO BOTELHO, tenor SAULO JAVAN, baixo A Clemência de Tito, K. 621: Abertura Concerto para clarinete em Lá maior, K. 622 Requiem, K. 626

P. 94 P. 100 P. 101

PARA ASSISTIR, OUVIR E LER FILARMÔNICA online PARA APRECIAR um concerto


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CAROS amigos e amigas Uma das perguntas mais frequentes

Ao estudar uma obra de Mozart, fico embevecido

que recebo como maestro é sobre

com a absoluta perfeição técnica que ele imprime ao

quem é o meu compositor favorito.

que faz. A despeito disso, sua música soa absolutamente

Antes fosse assim tão fácil arriscar

fluente e natural, como se cada nota escrita não pudesse

uma resposta. As razões de um suposto

pertencer a qualquer outro lugar, mas somente àquele

favoritismo podem ser de natureza

onde foi colocada, perfeita, inevitável. Seja uma simples

estética, técnica, emocional, racional;

sonata para piano ou uma dupla fuga em uma de suas

até mesmo um “sei lá” é possível.

missas, Mozart nos mostra que a perfeição é possível e, o que nos deixa ainda mais envergonhados e

Alguns compositores são sobre-

despeitados, simples e fácil.

humanos, outros nos tocam profundamente por serem vulneráveis

Ao explorar a música de Mozart nesta temporada,

e, portanto, simplesmente humanos.

a Filarmônica visitará algumas de suas obras mais

Uns evocam a conquista e o otimismo,

famosas, como sua Sinfonia nº 40, vários de seus

outros, um pessimismo inexorável.

concertos e o Requiem, mostrando a diversidade de

Vários nos apresentam a controvérsia,

sua criação, o domínio absoluto que tinha das formas

muitos, a contemplação e o prazer. Mas

musicais tradicionais, assim como a maneira clara e

talvez só um, dentre os grandes gênios

eficiente com que trabalhou desde a mais tenra idade

da música ocidental, reúna todas essas

até sua morte precoce.

(e muitas outras) qualidades: Mozart. Enfim, sua obra reflete o que há de mais sublime Considerado unanimemente um dos

no espírito humano e, ao mesmo tempo que nos

maiores prodígios que já existiram,

entretém, nos eleva, pois sabemos que estamos

dotado de singular facilidade

diante de um ser que simboliza o que há de melhor

na arte de compor, dono de uma

na humanidade. Ninguém melhor do que outro gênio,

perfeição técnica e formal absoluta,

Einstein, para enxergar na música do grande compositor

mestre em qualquer forma e gênero,

austríaco a presença de uma beleza interna universal,

incrivelmente prolífico nos 35 anos

pronta para ser revelada.

que viveu, Johannes Chrysostomus Wolfgangus Theophilus (Amadeus

É isso que pretendemos: desvendar a beleza e a verdade

em latim) Mozart deixou para nós

contidas em dezenas de obras que, como há mais de

uma obra única, capaz de, ao mesmo

duzentos anos, mostram sua relevância nos dias de hoje.

tempo, surpreender os mais exigentes críticos e amantes da música, assim como chegar diretamente aos corações dos ouvintes mais leigos.

FABIO MECHETTI

Diretor Artístico e Regente Titular

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FOTO EUGÊNIO SÁVIO

FABIO MECHETTI

Desde 2008, Fabio Mechetti é Diretor Artístico e

diretor artístico e regente titular

nos cenários nacional e internacional e conquistou

Regente Titular da Orquestra Filarmônica de Minas Gerais, sendo responsável pela implementação de um dos projetos mais bem-sucedidos no cenário musical brasileiro. Com seu trabalho, Mechetti posicionou a orquestra mineira vários prêmios. Com ela, realizou turnês pelo Uruguai e Argentina e realizou gravações para o selo Naxos. Natural de São Paulo, Fabio Mechetti serviu recentemente como Regente Principal da Orquestra Filarmônica da Malásia, tornando-se o primeiro regente brasileiro a ser titular de uma orquestra asiática. Depois de quatorze anos à frente da Orquestra Sinfônica de Jacksonville, Estados Unidos, atualmente é seu Regente Titular Emérito. Foi também Regente Titular da Sinfônica de Syracuse e da Sinfônica de Spokane. Desta última é, agora, Regente Emérito. Foi regente associado de Mstislav Rostropovich na Orquestra Sinfônica Nacional de Washington e com ela dirigiu concertos no Kennedy Center e no Capitólio norte-americano. Da Orquestra Sinfônica de San Diego, foi Regente Residente.

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Fez sua estreia no Carnegie Hall de Nova York

No Brasil, foi convidado a dirigir a

conduzindo a Orquestra Sinfônica de Nova Jersey e tem

Sinfônica Brasileira, a Estadual de

dirigido inúmeras orquestras norte-americanas, como as

São Paulo, as orquestras de Porto Alegre

de Seattle, Buffalo, Utah, Rochester, Phoenix, Columbus,

e Brasília e as municipais de São Paulo

entre outras. É convidado frequente dos festivais de

e do Rio de Janeiro. Trabalhou com

verão nos Estados Unidos, entre eles os de Grant Park

artistas como Alicia de Larrocha,

em Chicago e Chautauqua em Nova York.

Thomas Hampson, Frederica von Stade, Arnaldo Cohen, Nelson Freire, Emanuel

Realizou diversos concertos no México, Espanha e

Ax, Gil Shaham, Midori, Evelyn Glennie,

Venezuela. No Japão dirigiu as orquestras sinfônicas de

Kathleen Battle, entre outros.

Tóquio, Sapporo e Hiroshima. Regeu também a Orquestra Sinfônica da BBC da Escócia, a Orquestra da Rádio e TV

Igualmente aclamado como regente

Espanhola em Madrid, a Filarmônica de Auckland, Nova

de ópera, estreou nos Estados Unidos

Zelândia, e a Orquestra Sinfônica de Quebec, Canadá.

dirigindo a Ópera de Washington. No seu repertório destacam-se produções

Vencedor do Concurso Internacional de Regência

de Tosca, Turandot, Carmen, Don Giovanni,

Nicolai Malko, na Dinamarca, Mechetti dirige

Così fan tutte, La Bohème, Madame Butterfly,

regularmente na Escandinávia, particularmente a

O barbeiro de Sevilha, La Traviata e Otello.

Orquestra da Rádio Dinamarquesa e a de Helsingborg, Suécia. Recentemente fez sua estreia na Finlândia

Fabio Mechetti recebeu títulos

dirigindo a Filarmônica de Tampere e na Itália,

de mestrado em Regência e em

dirigindo a Orquestra Sinfônica de Roma. Em 2016 fará

Composição pela prestigiosa

sua estreia com a Filarmônica de Odense, na Dinamarca.

Juilliard School de Nova York.

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9 FOTO RAFAEL MOTTA


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WOLFGANG AMADEUS MOZART

Salzburgo, 27 de janeiro de 1756 — Viena, 5 de dezembro de 1791

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Mozart

UM POUCO DA OBRA E DO CORAÇÃO, con affetto Wolfgang Amadeus Mozart,

e cotidiana do pai — bom músico

sempre tão amado, venerado pelos

e pedagogo —, os contatos que

maiores músicos de sua época, única

teve com a música e os músicos de

unanimidade na admiração dos

sua época e, principalmente, sua

grandes mestres que o sucederam,

própria intuição genial. Por esta

autor de mais de seiscentas obras

se explica a facilidade e alegria

conhecidas, morreu em Viena

com que Wolfgang se dispunha a

na miséria e no abandono, sem

escrever música quando solicitado,

completar 36 anos.

ou para seu próprio prazer, e a abordagem de todos os gêneros já na

Nunca serão demasiados os esforços

infância. Isso não impedia que, para

para restaurar-se a verdade a respeito

o instrumentista admirável que já

da pessoa do criador, distorcida

era, fosse insuportável apresentar-se

através do tempo, e para ampliar o

diante de pessoas que ele percebia

conhecimento de sua imensa obra.

desinteressadas, que não sabiam apreciar a sua música.

Que Wolfgang, criança de precocidade genial e fascinante

As viagens — não raro

personalidade, teria encontrado

decepcionantes do ponto de vista

seu irreprimível caminho na música,

prático do pai e cansativas ao

mesmo sem a onipresença do pai

extremo para a criança — foram

na infância — é uma evidência.

acima de tudo essenciais para forjar

Desde muito cedo, a consciência

a largueza do espírito de Mozart

de seu destino de compositor era

e permitir sua aproximação de

claríssima para ele.

outras escolas, de modo especial a música italiana e a escola

No entanto, para que absorvesse

de Mannheim — influências

e praticasse todo o conhecimento

fundamentais na elaboração de

musical germânico, foram condições

sua obra —, preservando sempre,

determinantes a orientação metódica

contudo, os insumos da escola alemã.

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AMSTERDÃ (1766) HAIA

LONDRES (1764-65)

Roteiro de viagem da família Mozart às cortes da Europa, entre 1763 e 1766.

UTRECHT

ROTERDÃ

ANTUÉRPIA MALINAS GANTE LOVAINA

DUNQUERQUE

LILLE

BRUXELAS

LIÈGE

COLÔNIA BONN

AACHEN

COBLENÇA FRANKFURT

MAINZ WORMS

HEIDELBERG

MANNHEIM 1763-64

LUDWIGSBURGO PARIS

176

1766

3 AUGSBURGO

ULM 1766 SCHAFFHAUSEN

MUNIQUE

SALZBURGO WINTERTHUR

DIJON BERNA

ZURIQUE

LAUSANNE GENEBRA LYON

É bom lembrar que os trajetos, por

de ser chamado Bach de Londres, fora

mais extenuantes e demorados que

o Bach de Milão — foi especialmente

fossem, eram apenas os entreatos de

afetuoso, além de fecundo pela

longas temporadas que, estas sim,

orientação que desse mestre recebeu.

proporcionavam a Wolfgang o tempo

Dele teve as primeiras lições sobre a

de crescer aprendendo, de escutar

ópera italiana, mais especificamente

novas músicas, de ter influências e

sobre a característica ópera buffa

encontros decisivos.

napolitana. Aliás, foi de Londres que Leopold escreveu a sua mulher:

Iniciado em abril de 1764, e estando

"ele tem sempre uma ópera na

Wolfgang com oito anos, o estágio

cabeça", uma demonstração de

de dezesseis meses em Londres teve

que já aos oito anos se instalava

repercussões indeléveis. Wolfgang

no espírito de Wolfgang a paixão

compôs ali suas primeiras sinfonias,

que viria a ser avassaladora — o

ouviu oratórios de Haendel e assistiu

teatro musical, o melodrama.

a óperas italianas. Seu contato com

O que nos assombra hoje, mais que

Johann Christian Bach — que, antes

as habilidades da criança prodígio, é

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a profundidade com que Wolfgang

ele crescia em graça e sabedoria,

processava vertiginosamente o

acumulando sem trégua experiências

seu desenvolvimento e quão reta e

extraordinárias, construindo

certeira foi a sua trajetória.

seu direcionamento estético, confirmando sua vocação dramático-

A narrativa das viagens

musical, deixando que o coração

empreendidas por iniciativa de

guiasse as suas escolhas.

Leopold, contida em suas cartas e nos bilhetes de Wolfgang e da irmã

Escutar e apreciar exemplos de

Nannerl, nos leva a conhecer o processo

suas músicas nas diferentes idades

de aprendizado musical — totalmente

nos deixa concluir que também

fora de qualquer padrão —, assim

o amadurecimento artístico de

como a formação da personalidade

Wolfgang foi espantosamente

e do coração de Mozart.

precoce e acelerado, como que numa antevisão de quão curto

Surpreende-nos ainda hoje perceber

era o prazo que lhe seria dado.

que, irrigada por sua genialidade e suas escolhas, sua obra imortal

A primeira viagem à Itália, que

estava germinando e florescendo,

se dá às vésperas de Wolfgang

sem desvio, desde os primeiros sons e

completar quatorze anos, é a

rabiscos da criança.

primeira que o menino empreende em companhia apenas do pai.

Quando Leopold dizia que o menino

As experiências dessa temporada

"tinha a música inteiramente na cabeça antes de escrevê-la", dizia-o não com incredulidade, mas sem compreender bem o que aquilo significava. Sempre foi assim para Wolfgang. Ao final, faltou-lhe força física para terminar o Requiem que desde a data da encomenda trazia acabado na cabeça. Aos olhos da aristocracia e da burguesia europeias, Wolfgang perdia, ao crescer, tanto o charme da precocidade como a perspectiva de celebridade futura. Mas, na verdade,

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Nannerl Mozart. Pintura atribuída a Pietro Antonio Lorenzoni, 1763c.


A casa natal de Mozart, ao fundo, à esquerda, localizada na Löchelplatz, em Salzburgo. Museum Carolino Augusteum, Salzburgo.

são numerosas e especiais, pelas

alegria do jovem de quatorze anos

encomendas que cumpriu e estreou

por essa estupenda oportunidade.

(incluindo a ópera Mitridate Re

Martini será sempre uma referência

di Ponto) e pelas ocasiões de mostrar

musical e afetiva para Mozart.

quão excelente músico ele já era. Porém, mais significativos para

Acompanhar as vicissitudes da

Wolfgang foram os contatos sérios

vida de Mozart e ao mesmo tempo

e proveitosos com músicos do quilate

seguir o desenvolvimento de sua

do lendário Padre Giovanni Battista

obra é uma forma de desvendar o

Martini (1706-1784), de Bolonha.

seu coração e sua personalidade.

Para trabalhar intensivamente

Wolfgang, desde que entrara na

contraponto com Martini, de quem

adolescência, tinha o comportamento

já ouvira falar por Christian Bach,

de um músico profissional, e como

Wolfgang volta a Bolonha, "a Douta",

tal foi reconhecido na Itália. Ao

onde permanece por três meses.

mesmo tempo, com sua intuição

Pode-se imaginar o empenho e a

muito clara sobre o que queria

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conhecer e aprender, não dissipava as oportunidades. Adquiria o equilíbrio que sempre transpareceu em sua música. Era alegre e afetuoso, desbocado nas brincadeiras e na correspondência, sempre disposto a teatralizar, generoso, dedicado aos amigos e, quanto à música, exigente e responsável. Uma espiritualidade sincera era perceptível em suas atitudes, além de um senso ético profundo que transparece à medida que, na juventude, começa a reagir

Anna Maria Mozart. Pintura de Rosa Hagenauer-Barducci.

às fraquezas e às injustiças dos ambientes nos quais convive. Um sinal, dentre muitos, de seu belo

sua personalidade musical

caráter e total falta de jactância

inconfundível bem estruturada.

é que a concessão do diploma honorífico da Academia Filarmônica

Em 1777 partiu com destino a Paris

de Bolonha, após um exame de

acompanhado apenas de sua mãe,

máximo rigor, jamais foi motivo

numa viagem muito atribulada,

de alarde ou vaidade por parte de

que se não foi particularmente

Wolfgang, que se negava a exibi-lo,

importante do ponto de vista da

assim como também recusava usar

carreira de Wolfgang, marcou-se

a insígnia de Cavaleiro da Ordem

por acontecimentos que o abalaram

da Espora de Ouro, que o Papa lhe

emocionalmente e que viriam a

concedera. Sua simplicidade não era

ter repercussão em seu futuro: o

isenta de firme senso de dignidade.

encontro com Aloysia Weber, linda

Apelava com energia a seu pai para

soprano de quinze anos por quem se

que não se rebaixasse ao tentar uma

enamora em Mannheim, sem poder

oportunidade em favor do filho.

dar continuidade ao romance, e a morte inesperada, em Paris, de sua

Wolfgang entrara para o serviço

mãe. Apesar de seu descontentamento

do Príncipe-Arcebispo aos treze

com a cidade, compôs algumas

anos, como organista sem salário.

músicas importantes, como uma

De 1773 até a viagem a Paris, quase

Sinfonia Concertante para Sopros, o

não se ausentou de Salzburgo e

belo Concerto para flauta e harpa,

compôs muita música, já com

Variações e Sonatas para piano —

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entre as quais a surpreendente e

onde escreveu o Quarteto com oboé

dramática em lá menor e a Sonata em

K. 370, Wolfgang deixa Salzburgo

lá maior, célebre pelo rondó alla turca,

definitivamente. Rebelara-se em

e várias outras obras. Não é pouca

episódio recontado à exaustão, para

coisa para cinco meses! Na volta a

acabar sendo o primeiro músico

Salzburgo segue o mesmo trajeto e,

autônomo da história da música.

no reencontro com Aloysia, a moça se mostra indiferente.

Instala-se em 1781 em Viena e decide casar-se com Constanze

Wolfgang, de novo em Salzburgo,

Weber, irmã de Aloysia, que será

é ainda bem jovem. Começa o ano de

sua companheira até o fim.

1779 compondo a Sonata para piano e violino em si bemol e o Concerto para

Apenas dez anos para viver em

dois pianos em mi bemol. Em março

Viena, para realizar a sua obra!

escreve a Missa da Coroação, sinfonias

Viveu — nessa cidade tão alegre e tão

e cerca de cinquenta obras, a maior

triste, tão séria e tão inconsequente —

parte delas longas e complexas,

dias de exaltação e de depressão.

evidenciando sua evolução técnica.

Teve dias de glória e de penúria. Mas Mozart não expressava com

Após um retorno a Munique, aonde

sua música as circunstâncias de

foi para montar e estrear com

sua existência. Revelava, sim, a sua

grande sucesso a ópera Idomeneo, e

alma. Já escrevera de Munique a seu

Constanze Mozart. Pintura de Joseph Lange, 1782.

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pai: "Ich bin vergnügt weil ich zu

Em mais de uma ocasião elevou a

komponieren habe, welche ist doch

voz para declarar: — Mozart é o

meine einzige Freude und Passion". —

maior compositor que já existiu!

Estou contente porque tenho o

Uma dessas vezes foi após a estreia

que compor, o que é mesmo a

de Don Giovanni.

minha única alegria e paixão. Melhor que ler sobre Mozart é escutar Wolfgang compôs nessa década

sua música, buscar aquela que não

aproximadamente trezentas obras.

se ouviu ainda, descobrir a beleza

Podemos dizer sem receio que são

incomparável de suas melodias, deixar-

trezentas obras-primas. É impossível

se emocionar com a doçura, mas

deixar de citar Don Giovanni,

também com a pungência, com tudo o

Le nozze di Figaro, Così fan tutte,

que lhe ia na alma e que se traduz em

O rapto do serralho, A Flauta Mágica;

sua obra. Felizmente existem gravações

as mais belas e fantásticas sinfonias,

de, pelo menos, essas cerca de trezentas

numerosos concertos para piano,

obras dos últimos dez anos.

música religiosa, música maçônica, inúmeros quartetos e quintetos...

Por ter vivido na segunda metade

O Requiem, obra que povoou o

do século XVIII, e por ser o

espírito de Mozart de lúgubres

menos sectário e o mais aberto

sensações e que ficou inacabada...

dos compositores, o conceito de

Tudo é insuficiente ou então demasiado e desnecessário quando se trata de falar ou escrever sobre Mozart, tanto sobre a obra quanto sobre seu espírito. Sabemos como lhe foi reconfortante, sempre, a comovente amizade e o afeto que o uniram a Haydn; Mozart jovem, Haydn já músico consumado e célebre — eles tiveram alguns contatos de profunda compreensão e admiração mútua. Mozart se influenciou por Haydn na juventude e Haydn, mais tarde, se deixou conscientemente influenciar por Mozart, o que ele próprio declarava com simplicidade.

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Joseph Haydn. Pintura de Thomas Hardy.


O piano de Mozart. Mozart Museum, Internationale Stiftung Mozarteum, Salzburgo.

clássico é insuficiente para a sua

verdade humana das personagens

música, que, pelo elaboradíssimo

e o sentido do ritmo teatral.

uso do cromatismo como elemento expressivo, tem, sem qualquer

Wolfgang Amadeus Mozart é o

pretensão revolucionária, conotações

único grande mestre da música

românticas e trágicas que aproximam

verdadeiramente universal, por

Beethoven de sua obra. Alguns

ter criado obras-primas, com

atributos sensíveis a tornam acessível.

a mesma grandeza e a mesma

Na música instrumental, o primeiro,

dedicação, em absolutamente todos

sem dúvida, é a beleza e a perfeição

os gêneros musicais.

da melodia; outro é o equilíbrio da forma, da instrumentação, a complexa estruturação das vozes.

BERENICE MENEGALE Pianista e diretora da

Na ópera, o que mais seduz é a

Fundação de Educação Artística.

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Menino prodĂ­gio

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MARCOS ARAKAKI, regente ERIKA RIBEIRO, piano

PROGRAMA

1

5 DE MARÇO LA FINTA SEMPLICE, K. 51: ABERTURA SINFONIA Nº 1 EM MI BEMOL MAIOR, K. 16 • Allegro molto • Andante • Presto

CONCERTO PARA PIANO Nº 1 EM FÁ MAIOR, K. 37 Erika Ribeiro

• Allegro • Andante • Allegro — INTERVALO —

DIVERTIMENTO Nº 1 EM MI BEMOL MAIOR, K. 113 • Allegro • Andante • Menuetto • Allegro

CASSAÇÃO Nº 1 EM SOL MAIOR, K. 63 • Marche • Allegro • Andante • Menuetto • Adagio

• Menuetto • Finale: Allegro assai

21 FORA DE SÉRIE 5 DE MARÇO


Festival Internacional de Campos do Jordão em 2009, ambos como primeiro colocado. Foi também semifinalista no 3º Concurso Internacional Eduardo Mata, realizado na Cidade do México em 2007. Além da Orquestra Filarmônica de Minas Gerais, Marcos Arakaki tem dirigido outras importantes orquestras tanto no Brasil como no exterior. Estão entre elas as orquestras sinfônicas FOTO RAFAEL MOTTA

Brasileira (OSB), do Estado de São Paulo (Osesp), do Teatro

MARCOS ARAKAKI

Nacional Claudio Santoro, do Paraná, de Campinas, do Espírito Santo, da Paraíba, da Universidade de São Paulo, a Filarmônica de Goiás, Petrobras Sinfônica, Orquestra Experimental de Repertório, orquestras de Câmara da Cidade

Marcos Arakaki é Regente Associado

de Curitiba e da Osesp, Camerata Fukuda, dentre outras.

da Filarmônica de Minas Gerais e

No exterior, dirigiu as orquestras Filarmônica de Buenos

colabora com a Orquestra desde 2011.

Aires, Sinfônica de Xalapa, Filarmônica da Universidade

Bacharel em música pela Universidade

Autônoma do México, Kharkiv Philharmonic da Ucrânia e

Estadual Paulista, na classe de violino

a Boshlav Martinu Philharmonic da República Tcheca.

do professor Ayrton Pinto, em 2004 concluiu o mestrado em Regência

Acompanhou importantes artistas do cenário erudito, como

Orquestral pela Universidade de

Gabriela Montero, Sergio Tiempo, Anna Vinnitskaya, Sofya

Massachusetts (EUA). Participou

Gulyak, Ricardo Castro, Rachel Barton-Pine, Chloë Hanslip,

do Aspen Music Festival and School

Luíz Filíp, entre outros.

(2005), recebendo orientações de David Zinman na American Academy

Ao longo dos últimos dez anos, Marcos Arakaki tem

of Conducting at Aspen, nos Estados

contribuído de forma decisiva na formação de novas

Unidos, além de masterclasses com

plateias, por meio de apresentações didáticas, bem como

os maestros Kurt Masur, Charles Dutoit

na difusão da música de concertos através de turnês a

e Sir Neville Marriner. Sua trajetória

mais de setenta cidades brasileiras. Atua, ainda, como

artística é marcada por prêmios como

coordenador pedagógico, professor e palestrante em diversos

o do 1º Concurso Nacional Eleazar

projetos culturais e em instituições como Casa do Saber do

de Carvalho para Jovens Regentes,

Rio de Janeiro, programa Jovens Talentos de Furnas, Música

promovido pela Orquestra Petrobras

na Estrada, Universidade Federal da Paraíba, Universidade

Sinfônica em 2001, e do Prêmio

Federal do Rio Grande do Norte, Universidade Federal

Camargo Guarnieri, concedido pelo

de Roraima e em vários conservatórios brasileiros.

22 FORA DE SÉRIE 5 DE MARÇO


Conhecida pela elegância, inteligência

Atuou à frente das orquestras Filarmônica de Gaia, Portugal,

e sutileza de suas interpretações, a

Filarmônica de Kalisz, Polônia, Orquestra Sinfônica Brasileira,

pianista Erika Ribeiro é considerada

Orquestra Experimental de Repertório, Orquestra Sinfônica

uma das artistas mais expressivas de

do Espírito Santo, entre outras, e realiza com frequência

sua geração. Sua musicalidade singular

parcerias ao lado de destacados maestros e músicos, como

e grande versatilidade combinam em

Emmanuele Baldini, Claudio Cruz, Daniel Guedes, Quinteto

sua carreira trabalhos como solista,

Villa-Lobos, Carlos Prazeres, Luis Leite e Tatiana Parra.

recitalista e camerista. Erika iniciou seus estudos musicais com a mãe aos quatro anos de idade. Cursou a Escola de Música de Piracicaba e a

de piano — entre eles o III Concurso

Universidade de São Paulo (USP), concluindo seu mestrado

Nelson Freire — e premiada em

em Música sob orientação de Eduardo Monteiro. Estudou

mais de vinte, Erika tem se

durante dois anos na tradicional Hochschule für Musik

apresentado como solista na

Hanns Eisler, em Berlim, Alemanha, e participou de cursos

Sala São Paulo, Theatro Municipal

de aperfeiçoamento nos Estados Unidos, Suíça e França.

de São Paulo, Theatro São Pedro,

Atualmente leciona na Universidade Federal do Estado do

Auditório Ibirapuera, Sala Cecília

Rio de Janeiro (Unirio), onde, em 2014, assumiu a cátedra

Meireles e outros palcos.

de Música de Câmara e Recital.

FOTO ALINE MÜLLER

Vencedora de dez concursos nacionais

ERIKA RIBEIRO 23 FORA DE SÉRIE 5 DE MARÇO


LA FINTA SEMPLICE, K. 51: ABERTURA Viena, 1768 | 7 min 2 flautas, 2 oboés, 2 fagotes, 2 trompas, cordas.

SINFONIA Nº 1 EM MI BEMOL MAIOR, K. 16 Londres, 1764/1765 | 12 min 2 oboés, 2 trompas, cordas.

CONCERTO PARA PIANO Nº 1 EM FÁ MAIOR, K. 37

O

que causa assombro ao observador da História da música diante da obra de Mozart é menos o prodígio que nele se revelou muito precocemente — e que seu

pai soube potencializar, desenvolver e explorar —, mas a coesão, o acabamento, a harmonia arquitetônica, o magnífico senso de proporção e a pródiga inventividade

Provavelmente Salzburgo, 1767 | 17 min

melódica que, no conjunto de seu legado, são atemporais.

2 oboés, 2 trompas, cordas.

Em certos compositores, é possível observar, com relativa nitidez, modificações na linguagem, revelando mudanças de

DIVERTIMENTO Nº 1 EM MI BEMOL MAIOR, K. 113 Salzburgo, 1771 | 10 min 2 oboés, 2 cornes ingleses, 2 clarinetes, 2 fagotes, 2 trompas, cordas.

mentalidade e de comportamento, atestando o crescimento do homem, do artista e da personalidade. Para nos atermos apenas a um de seus contemporâneos, basta comparar o Beethoven da primeira sonata para piano, op. 2 nº 1, com o Beethoven das Bagatelas op. 126. Em Mozart, tais distinções, quando há, se há, possuem traços muito sutis. Sua obra parece apresentar-se pronta, acabada,

CASSAÇÃO Nº 1 EM SOL MAIOR, K. 63 Salzburgo, 1769 | 23 min 2 oboés, 2 trompas, cordas.

polida e lustrada, desvelando de pronto seu gênio, desde o primeiro minueto, K. 1, composto aos tenros cinco anos de idade! É claro, porém, que não se podem comparar essas pequenas obras com, por exemplo, o monumento que é Don Giovanni, sem que se guardem as devidas proporções. Mas, guardadas estas, estão em ambas as obras os mesmos traços essenciais: o mesmo Mozart. Há quem especule, não sem alguma razão, que se poderia notar algo do dedo de seu pai, Leopold Mozart, nas primeiras obras do filho. Leopold Mozart foi um respeitado violinista, um teórico importante, um grande pedagogo, mas um compositor medíocre. Era sério e meticuloso, empenhado em desenvolver — e promover — o gênio de seu filho. Poder-seia abrir, com isso, o benefício da dúvida. O argumento não

24 FORA DE SÉRIE 5 DE MARÇO


se sustenta. Basta observar as obras

abriu os olhos do menino de sete anos

que virão: elas denotam a mesma

de idade para a função poética da

linguagem, a mesma mestria, a mesma

música. Johann Christian Bach, por

inventividade melódica, o mesmo

sua vez, colocou-o em contato com a

senso de proporção, os mesmos traços

música contemporânea — sinfônica,

arquitetônicos. Se Leopold Mozart

de câmara e vocal, principalmente a

interferiu aqui ou ali na obra do filho,

ópera —, o que foi decisivo para definir

o gênio do jovem Mozart logrou

os traços fundamentais da linguagem

suplantar e eclipsar quaisquer traços

mozartiana. Desse contato nasceu a

que não os seus próprios.

Primeira Sinfonia, K. 16.

Nesse sentido, muito mais importantes

Em sua estada na Inglaterra, a família

foram os contatos que ele travou com

Mozart, no verão de 1764, mudou-se

Johann Schobert, quando em Paris, em

temporariamente para Chelsea, porque

1763, e com Johann Christian Bach,

Leopold Mozart havia contraído uma

em Londres, no ano seguinte. Schobert

infecção de garganta. Ali foi composta

Detalhe da pintura de Heinrich Lossow retrata Mozart criança tocando orgão.

25 FORA DE SÉRIE 5 DE MARÇO


a Primeira Sinfonia de W. A. Mozart,

K. 37: o primeiro movimento seria

estreada em 21 de janeiro do ano

a adaptação de uma sonata para

seguinte. É claro que se podem notar

violino e piano de Hermann Friedrich

traços da linguagem de Johann Christian

Raupach; o segundo movimento seria

Bach nessa obra, sobretudo na confecção

do próprio Mozart; o terceiro seria

dos temas, dado o contato tão próximo

outra adaptação, a partir de uma obra

que os dois compositores mantinham.

de Leontzi Honauer. Prática comum

Mas é espantoso que uma criança tenha

nos séculos XVII e XVIII, esse tipo de

conseguido elaborar com tamanha

apropriação não desmerece o trabalho

maturidade um plano musical tão bem

que norteia a obra.

acabado, mesmo sob as asas de um mestre. Composta em três movimentos,

A primeira ópera de Mozart, La finta

ela se assemelha formalmente aos

semplice, K. 51, foi composta por

concertos para piano que em breve

um menino de doze anos em 1768

viriam. Não é a Christian Bach que se

e estreada em maio do ano seguinte.

escuta, mas ao próprio Mozart.

Embora composta em Viena, a obra foi alvo de intrigas: músicos

O primeiro concerto para piano, K. 37,

e compositores recusavam-se a

se se pode dizer isso do compositor,

acreditar que um jovenzinho a havia

ainda não é totalmente Mozart. No

composto e atribuíam-na a seu pai.

entanto, o trabalho pianístico e o

Por isso, ao invés de encenada em

diálogo entre orquestra e solista

Viena, veio a público em Salzburgo,

demonstram o modelo que se iria firmar

a pedido do Príncipe-Arcebispo.

na Escola Vienense e que mais tarde se

Nela, desde sua abertura (ou

transformaria no grande padrão a ser

Sinfonia, como é intitulada), já

seguido ou transcendido. Seu segundo

ouvimos sem interferências o Mozart

movimento apresenta uma capacidade

que todos conhecemos! Em nada

de criação melódica surpreendente.

esta obra deixa a desejar às outras

No entanto, este concerto, bem como

que seguirão, exceto, talvez, no

os outros três que o seguiram (K. 39,

administrar das transições de um

40 e 41) são uma espécie de colagem.

episódio a outro, o que se pode

O musicólogo Alfred Einstein identificou

perceber nos claros contrastes da

três autores diferentes para o concerto

abertura, nitidamente tripartida.

26 FORA DE SÉRIE 5 DE MARÇO


Os divertimentos, como as óperas e as missas, perpassam quase toda a vida de Mozart. No primeiro deles, K. 113, já se nota a atenção que Mozart irá dedicar aos instrumentos de sopro, nomeadamente ao clarinete, pelo qual tinha predileção especial. Os divertimentos, assim como as cassações, eram gêneros ligeiros de música que, no século XVIII, aproximavam-se formalmente da suíte de danças. O título já denota a sua função original: eram destinados puramente ao prazer, seja no ambiente dos teatros, seja no dos salões. Populares no século XVIII, as cassações têm pouca diferença formal com os divertimentos. Sua principal distinção talvez esteja no ambiente a que eram primordialmente destinadas: as áreas externas. A Cassação K. 63 causa o assombro que acomete cada um que se debruça sobre a obra de Mozart, e que pode assim ser traduzido por Roland de Candé, quando a ele se refere: “o gênio não se prova, ele se afirma em todos os sentidos da palavra”.

MOACYR LATERZA FILHO Pianista e cravista, Doutor em Literaturas de Língua Portuguesa, professor da Universidade do Estado de Minas Gerais e da Fundação de Educação Artística.

Apresentação da família Mozart em Paris. Aquarela de Louis Carrogis Carmontelle, 1763/1764.

27 FORA DE SÉRIE 5 DE MARÇO


Concertos


MARCOS ARAKAKI, regente ALMA MARIA LIEBRECHT, trompa CATHERINE CARIGNAN, fagote CÁSSIA LIMA, flauta GISELLE BOETERS, harpa

PROGRAMA

2

2 DE ABRIL CONCERTO PARA TROMPA Nº 2 EM MI BEMOL MAIOR, K. 417 • Allegro maestoso Alma Maria Liebrecht

• Andante • Rondo

CONCERTO PARA FAGOTE EM SI BEMOL MAIOR, K. 191 • Allegro Catherine Carignan

• Andante ma adagio • Rondo: Tempo di menuetto — INTERVALO —

CONCERTO PARA FLAUTA E HARPA EM DÓ MAIOR, K. 299 • Allegro Cássia Lima Giselle Boeters

• Andantino • Rondo: Allegro

29 FORA DE SÉRIE 2 DE ABRIL


comunitário através da música. Integrou-se à Orquestra FOTO CHRISTIAN PERONA

Filarmônica de Minas Gerais como Trompa Principal em 2013.

ALMA MARIA LIEBRECHT

Alma tem se apresentado como solista com a Orquestra Filarmônica de Minas Gerais, New York Symphonic Arts Ensemble, Ensemble 212 e o Curtis Chamber Ensemble.

O envolvimento de Alma com a

Tocando música de câmara, tem se apresentado no Festival

música começou em seu estado natal,

Artes Vertentes e na Semana de Música de Câmara da

Maryland, nos Estados Unidos. Primeiro

Fundação de Educação Artística. Nos Estados Unidos,

através do violino, quando tinha seis

apresentou-se no Savannah Music Festival e com os grupos

anos de idade, e depois com a trompa,

Chamber Music Society of Lincoln Center, New York Wind

aos doze, sob orientação de Olivia Gutoff.

Soloists, Jupiter Chamber Players, North Country Chamber

De 2002 a 2006, estudou com

Players, Sebastian Chamber Players, Music from Angel Fire,

Jerome Ashby no Curtis Institute of

Argento New Music Project e Talea Ensemble. Também

Music. De 2006 a 2008, estudou com

realizou concertos de música de câmara no Festival Wien

William Purvis na Escola de Música da

Modern em Viena, Áustria, no Centro Niemeyer em Avilés,

Universidade de Yale, completando em

Espanha, no Contempuls Festival em Praga, República

2008 o mestrado em Música.

Tcheca, e, junto com músicos da Filarmônica de Viena, em Sapporo e Tokyo, no Japão.

Nos verões de 2003 a 2005, participou do Festival de Música do Pacífico, no

Enquanto vivia em Nova York, Alma manteve uma prolífica

Japão, onde estudou com Gunter Högner

carreira de freelancer, apresentando-se com a Orquestra de

e Wolfgang Tomböck, ambos da

Câmara Orpheus, a Orquestra da Ópera da Cidade de Nova

Filarmônica de Viena. De 2008 a 2010,

York, as sinfônicas de Princeton, Delaware, Richmond e

Alma foi bolsista do Ensemble ACJW

Harrisburg, o Ballet de Pennsylvania, a Orquestra de Câmara

do Carnegie Hall. Em 2010, ela ajudou

da Filadélfia e o Gotham Chamber Opera. Alma também

a fundar o grupo de câmara Decoda,

apresentou-se por seis semanas como Trompa Principal

coletivo dedicado ao engajamento

convidada junto à Sinfonietta de Hong Kong em 2011.

30 FORA DE SÉRIE 2 DE ABRIL


(conhecida como National Broadcast Orchestra desde 2009) e participou do Aventa Ensemble, formação dedicada à música contemporânea. Com Aventa, em fevereiro de 2008, estreou a obra Dulcian Patterns, do compositor canadense Peter Hatch, que descreve a peça como “não exatamente um concerto para fagote em si, mas que frequentemente destaca seus timbres e registros”. Como solista independente, encomendou a obra para fagote e piano Three Conjoined Trifles, do compositor e dramaturgo canadense Alex Eddington, estreando-a em

FOTO EUGÊNIO SÁVIO

abril de 2008 com a pianista Allie Cortens. Meses depois, foi aprovada em audição na Filarmônica de Minas Gerais,

CATHERINE CARIGNAN

tornando-se Fagote Principal da Orquestra. No Brasil, Catherine vem desenvolvendo atividades de performance, ensino e pesquisa paralelas à sua atuação na

Natural do Québec, Canadá, Catherine

Filarmônica. Participou das duas primeiras edições do Encontro

iniciou seus estudos de fagote aos doze

Internacional de Oboé e Fagote da Universidade Federal de

anos. Entre 1998 e 2008, foi aluna de

Santa Maria, Rio Grande do Sul, como palestrante e recitalista;

Michel Bettez, Mathieu Lussier, Mathieu

foi professora substituta de fagote na Universidade Federal de

Harel, Stéphane Lévesque, Nadina

Minas Gerais em 2013; orienta alunos de maneira independente

Mackie Jackson e Fraser Jackson. Em

em Belo Horizonte desde 2008 e mantém uma colaboração

2005, suspendeu seus estudos musicais

estreita com músicos brasileiros, desenvolvendo pesquisas

para dedicar-se a um curso de tradução,

extra-acadêmicas sobre o fagote na música brasileira. Catherine

mas continuou tocando como convidada

tem participado de apresentações de choro com colegas da

em orquestras canadenses e organizando

Filarmônica e com o Clube do Choro de Belo Horizonte.

concertos de música de câmara na sua cidade natal. Voltou para o Conservatoire

Esta é a quarta vez que Catherine se apresenta como solista

em agosto de 2006, passou em dezembro

da Filarmônica. Em 2011, executou com o clarinetista

no concurso para segundo fagote da

Dominic Desautels o Duett-Concertino de Richard Strauss,

Victoria Symphony Orchestra, na costa

sob regência do maestro Marcos Arakaki; em 2013, com o

oeste do Canadá, e concluiu bacharelado

violinista Rommel Fernandes, a violoncelista Elise Pittenger e

em Música em maio de 2007.

o oboísta Alexandre Barros, apresentou a Sinfonia Concertante em Si bemol maior de Joseph Haydn, sob regência do

Entre 2006 e 2008, Catherine foi

maestro Fabio Mechetti; e em outubro de 2015, com os

fagotista convidada da Winnipeg

colegas Marcus Julius Lander, Alexandre Barros e Alma

Symphony Orchestra, da Canadian

Maria Liebrecht, tocou a Sinfonia Concertante para sopros,

Broadcasting Company Radio Orchestra

de Mozart, com o regente convidado Christoph König.

31 FORA DE SÉRIE 2 DE ABRIL


Cássia venceu as principais competições no Brasil, tais como o Jovens Solistas da Orquestra Experimental de Repertório, onde atuou como solista, e ganhou primeiro lugar nos concursos FOTO ENK TE WINKEL

Jovens Talentos em Piracicaba e II Concurso Nacional Jovens

CÁSSIA LIMA

Flautistas, promovido pela Associação Brasileira de Flautistas. Em Nova York venceu o Mannes Concerto Competition, onde novamente atuou como solista, e o Gregory Award, por Excelência em Performance. Ainda nos Estados Unidos,

Mineira de Extrema, Cássia iniciou seus

foi bolsista do Tanglewood Music Center, onde atuou como

estudos com João Dias Carrasqueira

camerista e primeira flauta da orquestra do festival, sob

e Grace Busch. Concluiu bacharelado

regência de James Levine, Kurt Masur, Seiji Ozawa e Rafael

em Flauta pelo Instituto de Artes da

Frübehbeck. Em Minneapolis, fez parte do corpo docente

Universidade Estadual Paulista (Unesp)

da Universidade de Minnesota e também foi flautista da

como aluna de Jean-Noel Saghaard. Em

Minnesota Orchestra, sob regência de Charles Dutoit.

São Paulo, também foi aluna de Marcos Kiehl. Participou dos principais festivais

De volta ao Brasil, Cássia Lima foi primeira flauta da

de música do país, como Oficina de

Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo (Osesp), onde

Música de Curitiba, festivais de inverno

também atuou como solista. Participou da I Oferenda

de Campos do Jordão e Juiz de Fora.

Musical de São Paulo e foi professora da Oficina de Música de Curitiba. Atualmente, atua como camerista do Quinteto

Foi bolsista da Fundação Vitae durante

de Sopros da Filarmônica de Minas Gerais e participa de

os anos de estudo na Mannes College

diversos grupos camerísticos. Cássia é Primeira Flauta

of Music em Nova York, onde foi aluna

da Orquestra Filarmônica de Minas Gerais desde 2009.

de Keith Underwood e concluiu os

Com a orquestra, apresentou-se como solista no Concerto

cursos de mestrado e Artist Diploma.

para flauta em Ré, K. 314, de W. A. Mozart, sob regência

Participou de masterclasses com

de Fabio Mechetti; no Concerto para flauta e orquestra de

grandes nomes da flauta, como

Carl Nielsen, na primeira audição da obra em Belo Horizonte;

Michael Parloff, Elisabeth Rowe,

e na Suíte Orquestral nº 2 em si menor, BWV 1067, de

William Bennett, Judith Mendenhall,

Johann Sebastian Bach, sendo as duas últimas obras sob

Jeffrey Khaner e Emmanuel Pahud.

regência de Marcos Arakaki.

32 FORA DE SÉRIE 2 DE ABRIL


FOTO RAFAEL MOTTA

GISELLE BOETERS

ganhou prêmios no Nederlands Harp Concours por melhor interpretação das novas obras Quasi una Fantasia, de Daan Manneke, e Secret Garden, de Peter van Onna.

Natural da Holanda, Giselle Boeters

Como solista convidada, interpretou concertos para harpa

é Harpa Principal da Orquestra

com a Orquestra Sinfônica do Conservatório de Amsterdam,

Filarmônica de Minas Gerais desde

a Orquestra Nederlands Jeugd Strijkorkest, a Sinfônica

2012. Com esta orquestra Giselle

de Brandenburgo e a Orquestra Sinfônica de Taipei. Foi

estreou, em maio de 2013, um novo

convidada para se apresentar no Simpósio de Harpa Europeu,

concerto para harpa e orquestra escrito

em 2001, e no Congresso Mundial da Harpa, em 2008.

pelo compositor Daniel Binelli. Além de suas atividades na Filarmônica,

Antes de se mudar para o Brasil, Giselle apresentou-se

participa regularmente de projetos

regularmente com diversas orquestras na Holanda e na

nacionais e internacionais de música

Alemanha, entre elas a Radio Filharmonisch Orkest, a

de câmara. Foi convidada para as duas

Orquestra Real de Concertgebouw, NDR Radiophilharmonie,

últimas edições do Festival Internacional

Sinfônica de Hamburgo, Orquestra Sinfônica Alemã, em

Sesc de Música em Pelotas, RS, como

Berlim, Deutsche Oper Berlin e Deutsche Staatsoper Berlin.

professora de harpa e solista. Giselle Boeters formou-se no Conservatório de Amsterdam A musicista recebeu prêmios em

com a professora Erika Waardenburg e na Academia de Música

várias competições de música na

Hanns Eisler de Berlim com a professora Maria Graf,

Holanda, incluindo o Prinses Christina

graduando-se com as mais altas distinções. Foi bolsista na

Concours, Nederlands Harp Concours

orquestra acadêmica da Staatskapelle de Berlim e com o grupo

e competições internacionais em

apresentou-se em Berlim e em turnês nacionais e internacionais

Lausanne, Suíça, Bruxelas e Vresse-

sob a regência de renomados maestros, como Michael Gielen,

sur-Semois, Bélgica. Giselle também

Andris Nelsons, Simon Rattle e Daniel Barenboim.

33

VEJA A BIOGRAFIA DE MARCOS ARAKAKI NA PÁGINA 22

FORA DE SÉRIE 2 DE ABRIL


CONCERTO PARA TROMPA Nº 2 EM MI BEMOL MAIOR, K. 417 Viena, 1783 | 14 min 2 oboés, 2 trompas, cordas.

CONCERTO PARA FAGOTE EM SI BEMOL MAIOR, K. 191 Salzburgo, 1774 | 20 min 2 oboés, 2 trompas, cordas.

CONCERTO PARA FLAUTA E HARPA EM DÓ MAIOR, K. 299 Paris, 1778 | 30 min 2 oboés, 2 trompas, cordas.

M

ozart escreveu muitos concertos para diversos instrumentos, além de outras obras concertantes com mais de um solista. Incluídos entre as mais perfeitas

realizações sinfônicas do século XVIII, eles constituem, tanto quanto as óperas, a expressão mais natural e característica de sua personalidade artística. A aproximação com a ópera torna-se inevitável, pois os concertos demonstram brilhantemente a inigualável capacidade mozartiana de realizar a representação dramática também na música instrumental. As melodias, de caráter essencialmente vocal, associam-se facilmente ao discurso teatral; o virtuosismo — típico do gênero concertante — submete-se à dramaturgia do compositor. Por outro lado, a força retórica das intervenções orquestrais e sua grande variedade nas configurações de acompanhamento deixam claro que Mozart concebe o concerto como integração / oposição, em pé de igualdade, do solista e da orquestra. Os concertos para solistas eram muito apreciados no século XVIII. Nada mais natural que Mozart, desde criança um célebre virtuose, cedo cultivasse o gênero. Dos nove aos onze anos já escrevera seus primeiros quatro concertos, baseando-se em movimentos de sonatas de músicos contemporâneos. E continuou compondo concertos ao longo de toda a sua carreira; na maioria das vezes, obras circunstanciais, sob pressão de exigências impostas pelo mecenato aristocrático ou pela alta burguesia frequentadora de teatros. Acostumado ao sucesso, Mozart procura agradar ao público e muitas de suas criações adotam o estilo

34 FORA DE SÉRIE 2 DE ABRIL


galante, marcado por apelos típicos de

forma sonata; um segundo movimento

uma sociedade incapaz de assimilar

lento, expressivo, sonhador ou trágico;

inovações. Entretanto, mesmo com

e o final na tradição do Rondó com

tais limitações, a forte personalidade

estrofes e refrão, alegre e virtuosístico.

do gênio impõe-se, afastando-o

Entretanto, a partir dos dezessete

da falta de tensão e do formalismo

anos, quando compõe seus primeiros

mecânico encontrados em obras de

concertos realmente originais, ele

seus contemporâneos. Aos poucos e

criará, dentro dessa estrutura tripartida,

cada vez mais Mozart afastou-se do

uma solução formal particular a cada

gosto imposto pela moda. Os concertos

concerto, distinguindo-o de todas as

(mais que as sinfonias) permitem

outras obras de seu tipo.

acompanhar a evolução do compositor. Que ele se tenha servido de um gênero

Entre essas primeiras peças notáveis,

tão popular para confidenciar seus

inclui-se o Concerto para fagote K. 191,

sentimentos mais íntimos e realizar

composto em Salzburgo. O Allegro inicial

audaciosas inovações é curioso. E

possui um longo prelúdio orquestral que

trágico, pois a incompreensão crescente

expõe os dois temas desse movimento.

do público tornava-se mais dolorosa,

A complexidade de sua escritura recorre

comparada aos triunfos conquistados

ao contraponto e a uma orquestração

pelo artista quando criança. Lúcido em

bastante elaborada, atípicos para uma

sua verdade de criador, consciente de

peça do estilo galante. Trata-se

sua superioridade como músico, Mozart

da primeira obra concertante de

não retrocedeu — os últimos concertos

Mozart para instrumento de sopro, e o

possuem uma beleza transcendente,

virtuosismo do solista valoriza os recursos

obras-primas definitivas, ímpares e

contemporâneos do fagote — muito

profundamente humanas.

desenvolvidos ao longo do século XVIII, embora sem atingir ainda a forma do

Mozart manteve, como regra geral, a

instrumento atual. No Andante ma adagio,

tradicional estrutura tripartida em seus

uma bela melodia desdobra-se modulada,

concertos: o primeiro movimento em

com imaginação refinada e lirismo. O

35 FORA DE SÉRIE 2 DE ABRIL


Rondó final tem como tema principal um

Encarregado de escrever um simples

minueto em duas partes. O virtuosismo

entretenimento social, Mozart (que abriu

controlado e discreto confere-lhe um

mão dos honorários) criou uma joia de

caráter de sobriedade e elegância.

grande encanto. O primeiro movimento, Allegro, caracteriza-se pelo diálogo dos

Em 23 de setembro de 1777 Mozart

solistas — verdadeira alternância de

deixava Salzburgo para uma viagem a

personagens — com a orquestra.

Paris, em mais uma tentativa de se livrar

Há evidente apelo virtuosístico nos

dos estreitos limites musicais de sua

trechos de grande velocidade. O

cidade natal. O pai protetor permanecera

segundo movimento, Andantino, é um

em Salzburgo e a mãe, que o acompanha

idílio sonhador e terno. No Rondó final,

nessa viagem, morre em Paris, onde

o tema principal possui caráter de

o filho ganha a vida precariamente,

dança, como alegre gavota, ao gosto

compondo muito, realizando concertos

amável da aristocracia francesa.

e dando aulas para aristocratas. Entre suas alunas, a filha do Duque de Guines

No Concerto para flauta e harpa Mozart

tornara-se uma excelente harpista.

utiliza notas graves impraticáveis

Como o duque tocava flauta muito

para as flautas da época, já que o

bem, encomendou ao compositor

instrumento especial do conde de

um concerto para flauta e harpa.

Guines lhe permitia tocá-las. Essa

36 FORA DE SÉRIE 2 DE ABRIL

Paris em gravura de Jacques Rigaud.


Roteiro da viagem de Mozart com a mãe, entre 1776 e 1779. MANNHEIM PARIS NANCY ESTRASBURGO AUGSBURGO

MUNIQUE

SALZBURGO

capacidade de Mozart de adaptar-se

Viena, 27 de maio de 1783”.

às particularidades específicas de seus

O Allegro maestoso apresenta

intérpretes, cantores ou instrumentistas

modulações que lhe conferem o

é notória. Assim, as obras para trompa

caráter melancólico, inusitado para

compostas entre 1782 e 1791 e

um primeiro movimento. O breve tema

dedicadas a Joseph Leutgeb, grande

lírico do Andante retorna por três

amigo da família Mozart, respeitam

vezes, acompanhado principalmente

as limitações graduais que a idade

pelas cordas. No Rondó, o tema da

impôs ao trompista — nas últimas,

trompa anuncia uma caçada. Ele

as notas muito agudas são evitadas.

se alternará com três intermédios.

A catalogação dos quatro concertos

O final, em andamento acelerado,

para trompa não corresponde

evoca breve e animada cavalgada.

cronologicamente à sua criação. O Concerto para trompa nº 2, na verdade, foi o primeiro composto e traz no autógrafo vienense uma divertida dedicatória a um velho amigo trompista: “W. A. Mozart teve pena de Leutgeb, asno, besta e néscio, em

PAULO SÉRGIO MALHEIROS DOS SANTOS Pianista, Doutor em Letras, professor na UEMG, autor dos livros Músico, doce músico e O grão perfumado – Mário de Andrade e a arte do inacabado. Apresenta o programa semanal Recitais Brasileiros, pela Rádio Inconfidência.

37 FORA DE SÉRIE 2 DE ABRIL


FABIO MECHETTI, regente MARK JOHN MULLEY, trombone CLÁUDIA AZEVEDO, soprano CELINA SZRVINSK, piano MIGUEL ROSSELINI, piano

PROGRAMA

14 DE MAIO Leopold Mozart

A VIAGEM MUSICAL DE TRENÓ • Overture • Die Verwirrung in den Stallen | a confusão no estábulo • Die Schlittenfahrt | o passeio de trenó • Das Schütteln der Pferde | a agitação do cavalo • Aufzug | interlúdio • Festmusik | música festiva • Aufzug | interlúdio • Die Schlittenfahrt | o passeio de trenó • Das vor Kalte zitternde Frauenzimmer | tremendo de frio no quarto das mulheres

• Des Balles Anfang | o início do baile • Der Kehraus | a última dança • Die Schlittenfahrt | o passeio de trenó

Leopold Mozart Mark John Mulley 38 FORA DE SÉRIE 14 DE MAIO

CONCERTO PARA TROMBONE ALTO EM RÉ MAIOR • Allegro • Menuetto – Trio • Allegro

3


Tudo em família Leopold Mozart

SINFONIA DOS BRINQUEDOS • Allegro • Menuetto • Finale: Allegro — INTERVALO —

Cláudia Azevedo

Cláudia Azevedo

Wolfgang Amadeus Mozart

MIA SPERANZA ADORATA – AH, NON SAI QUAL PENA, K. 416 Wolfgang Amadeus Mozart

NO, NO, CHE NON SEI CAPACE, K. 419 Wolfgang Amadeus Mozart

Celina Szrvinsk Miguel Rosselini

CONCERTO PARA DOIS PIANOS EM MI BEMOL MAIOR, K. 365 • Allegro • Andante • Rondo: Allegro 39 FORA DE SÉRIE 14 DE MAIO


Mark integrou a BBC Symphony Orchestra, a Wren Orchestra, Philharmonia Orchestra, Hanover Band — tocando sackbut — e a London Festival Orchestra, em várias apresentações e gravações. Participou também da Orchestra of Nations em turnê pela Alemanha, gravando a Sinfonia nº 8 de Bruckner. No jazz, atuou na Glenn Miller Band, Andy Ross Big Band, All Jazz Quartet e em diversos festivais, como Ealing Jazz Festival e Soho Jazz Festival, tocando ao lado de West End com Carmen Jones. Também atuou como professor de música FOTO EUGÊNIO SÁVIO

no Richmond Adult College e na Brunel University, na Inglaterra.

MARK JOHN MULLEY

No Brasil, Mark participou de shows com o grupo musical Rio Bossa Jazz no Santander Cultural, em Porto Alegre, com repertório composto por clássicos do jazz, blues e

Mark John Mulley nasceu na

bossa nova. Em 2005, tocou com a Orquestra Sinfônica de

Inglaterra e iniciou seus estudos

Porto Alegre e foi professor de trombone em um workshop

em música ainda criança. Começou

na Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos), em

a tocar em brass bands até iniciar

São Leopoldo, RS. Nesse estado, na cidade de Rio Grande,

seu trabalho com a Coldstream

apresentou dois shows com o Quarteto de Jazz e o pianista

Guards Band como assistente de chefe

norte-americano Cliff Korman, em 2006.

de naipe de trombone, participando de diversas cerimônias, gravações

Durante oito anos, trabalhou como professor de trombone

e concertos. Depois formou-se

para a Orquestra Real Sinfônica em Muscate, Omã. Em

no London College of Music e fez

Muscate, Mark tocava jazz com seu próprio quarteto,

pós-graduação no Royal College of

Just Jazz, apresentando-se em vários hotéis e festivais.

Music de Londres. Mark estudou com Anthony Parsons, da BBC

Desde o início da Orquestra Filarmônica de Minas Gerais,

Symphony Orchestra; Arthur Wilson,

em 2008, Mark é Trombone Principal do grupo. Participou

da Philharmonia Orchestra; Peter

de várias gravações com a orquestra e também de turnês

Bassano, da Philharmonia Orchestra;

para as regiões Nordeste e Sul do Brasil, para o Uruguai e a

e Tom Winthorpe, da Royal Opera

Argentina. Convidado a ser solista com a Filarmônica, tocou

House. Também participou de várias

o Concertino para Trombone de Ferdinand David. Também

masterclasses de trombone, inclusive

participou como professor de trombone em workshop na

com Ian Bousfield, da London

Universidade Federal de Minas Gerais, Universidade Estadual

Symphony Orchestra, e Ralph Sauer,

de Minas Gerais, Orquestra da Polícia Militar de Minas Gerais

da Los Angeles Philharmonic.

e Festival de Metais no Conservatório de Tatuí, São Paulo.

40 FORA DE SÉRIE 14 DE MAIO


Vencedora dos concursos Audiciones Jovenes Voces Liricas del Teatro Colón 2008, Concurso Internacional de Canto Aldo Baldin 2008 e Terceiro Prêmio no Concurso Internacional de Canto Bidu Sayão 2005, Cláudia colabora regularmente com as principais orquestras brasileiras. Apresentou-se em concertos e óperas com a Filarmônica de Minas Gerais, Amazonas Filarmônica, orquestras Sinfônica Municipal de Campinas, de Porto Alegre, da Bahia, do Paraná, de Câmara Sesi-Fundarte, Teatro São Pedro e Orquestra Unisinos Anchieta. Foi intérprete em Carmina Burana de Orff; FOTO DEVON CASS

Missa de Santa Cecília de José Maurício Nunes Garcia; A Criação

CLÁUDIA AZEVEDO

e Missa in Tempore Belli de Haydn; Gloria de Vivaldi; Cantata nº 51, Cantata do Café, Cantata nº 110 e Cantata nº 208 de Bach; Nona Sinfonia e Fantasia Coral de Beethoven; Lobgesang de Mendelssohn. Foi Micaela em Carmen de Bizet; Adina em L’elisir

Cláudia Azevedo realizou seu début

d’Amore de Donizetti; Silberklang em Der Schauspiledirektor

europeu em 2006, a convite do

de Mozart; e Susana em Le nozze di Figaro de Mozart.

maestro italiano Alberto Zedda, no Rossini Opera Festival de Pesaro,

Trabalhou sob regência de Fabio Mechetti, Luiz Fernando

Itália, no papel de Corinna em Il viaggio

Malheiro, José Miguel-Pérez Sierra, Alberto Zedda, Emil

a Reims, com a Orchestra del Teatro

Tabakov, Karl Martin, Alessandro Sangiorgi, Antonio Borges

Comunale di Bologna. Primeira cantora

Cunha e Richard Cordova, entre outros.

brasileira a participar do festival dedicado a Rossini, teve sua atuação

Graduada em Música pela Universidade Federal do Rio Grande

destacada pela revista espanhola

do Sul com especialização pelo Conservatorio Superior del

Opera Actual. No mesmo ano estreia

Liceu de Barcelona, Espanha, como bolsista da Fundación

como Ännchen em Der Freischütz

Carolina-Madrid, Cláudia aperfeiçoou-se na Akademie Bel

de Weber, em Valadoli, Espanha,

Canto do Rossini Opera Festival de Wildbad, Alemanha,

e apresenta-se em recital com obras

estudou música de câmara com Dalton Baldwin e realizou

do bel canto e Mozart para os Amics

masterclasses com Marilyn Horne, Raúl Giménez, Viorica

del Gran Teatro del Liceu, Barcelona.

Cortez, Eduard Giménez e Raquel Pierotti.

O ano de 2011 marca sua estreia em Nova York como Ismene em Mitridate,

Recentemente debutou no Theatro Municipal do Rio de Janeiro

Re di Ponto, de Mozart, com enorme

como Fiorilla em Il Turco in Italia, de Rossini, regida por

sucesso junto ao público e à crítica

Yuval Zorn. E também no Theatro Municipal de São Paulo

especializada, inclusive no jornal

sob regência de John Neschling no papel de Musetta em

The New York Times.

La Bohème, de Puccini.

41 FORA DE SÉRIE 14 DE MAIO


Em 1996, os artistas concluíram mestrado e doutorado na Staatliche Hochschule für Musik Karlsruhe, Alemanha, onde gravaram CD com obras de compositores brasileiros e alemães. Um segundo CD foi citado, pelas revistas Diapason e Continente, entre as melhores gravações brasileiras do ano. (...) “Uma das melhores é a seleção de peças a quatro mãos patrocinada pela Fundep e pela Universidade Federal de Minas Gerais. Nela, o duo mineiro Celina Szrvinsk e Miguel Rosselini demonstra solidez técnica, diversidade estilística e FOTO CLEU NACIF E LUIZ RITTER

muita fluência expressiva, ao abordar, seja autores franceses,

CELINA SZRVINSK E MIGUEL ROSSELINI

seja compositores brasileiros.” (Diapason, março/2006). “O CD Piano a 4 mãos merece ser mencionado como um registro ímpar na interpretação pianística brasileira a dois.

Formado em 1984, o duo pianístico

Escolha de repertório, qualidade de som e excelência de

Celina Szrvinsk e Miguel Rosselini

execução justificam essa execução. Celina Szrvinsk e Miguel

é reconhecido como um dos mais

Rosselini dedicam a mesma sensibilidade a compositores

destacados do país, com apresentações

nacionais e europeus... com a devida leitura de filigranas.”

nas principais séries e salas de

(Continente, outubro/2006).

concerto do Brasil. No exterior, apresentou-se na Alemanha, Suíça,

Outros títulos gravados individualmente destacam-se na

Itália, Canadá, Rússia e Japão.

discografia de ambos.

Como solistas, Celina e Miguel

Desde 1985, pertencem ao quadro docente da Escola de

atuaram com as orquestras Sinfônica

Música da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG),

Estadual de São Paulo, Sinfônica

sendo muitos de seus alunos destacados musicistas e

de Minas Gerais, Filarmônica de

professores de universidades federais brasileiras. Os dois têm

Minas Gerais, Sinfônica de Campinas,

sido convidados a participar de importantes festivais de música

Filarmônica de Goiás, Sinfônica da USP,

e como jurados de concursos de piano no Brasil e no exterior.

Sinfônica Nacional, Filarmônica de Câmara da Polônia, Filarmônica

Paralelamente às atividades artísticas e de ensino, Celina e

de Baden-Baden, Bach-Orchester

Miguel desenvolvem ainda intenso trabalho como produtores,

Herzogtum-Lauenburg, dentre outras.

sendo responsáveis pelo Festival de Maio e pelas séries

Em parceria com conceituados

Concertos Didáticos e Concertos Teatro Bradesco,

músicos, integram inúmeras outras

programações de proa em Belo Horizonte, dedicadas à música

formações camerísticas.

de câmara com renomados artistas nacionais e internacionais.

42 FORA DE SÉRIE 14 DE MAIO


Leopold Mozart (Alemanha, 1719 – Áustria, 1787)

A VIAGEM MUSICAL DE TRENÓ Salzburgo, 1755 | 21 min 2 oboés, 2 fagotes, 2 trompas, 4 trompetes, tímpanos, percussão, cordas.

L

eopold Mozart tinha dezoito anos quando se instalou em Salzburgo para cursar a Universidade Beneditina. Em sua cidade natal, Augsburgo, estudara no Ginásio dos Jesuítas —

alemão, latim, grego, francês e italiano. Pensou em seguir a carreira eclesiástica e só optou definitivamente pela música

Leopold Mozart

CONCERTO PARA TROMBONE ALTO EM RÉ MAIOR Salzburgo, em torno de 1760 | 13 min 2 oboés, 2 trompas, cordas.

aos vinte anos. No ano do nascimento de Mozart, Leopold publicou um célebre tratado sobre o ensino do violino, depois traduzido em várias línguas e frequentemente reimpresso. A música de Leopold continua pouco conhecida e sem cronologia definida. Ele compôs muito em seus primeiros anos em Salzburgo, antes de dedicar-se à carreira dos filhos

Leopold Mozart

SINFONIA DOS BRINQUEDOS Salzburgo, 1769 | 10 min Cordas.

MIA SPERANZA ADORATA – AH, NON SAI QUAL PENA, K. 416

Maria Anna (Nannerl) e Wolfgang. Suas diversas missas e outras peças sacras, obras de câmara, numerosos concertos e 25 sinfonias mostram as características gerais do estilo galante vienense, deliberadamente simples. Entretanto, algumas particularidades constantes chamam a atenção: peças como a Sinfonia dos Brinquedos e as Bodas Camponesas denotam a predileção do autor pelos divertimentos populares. O impacto programático-descritivo

Viena, 1783 | 9 min

de sua música sinfônica evidencia-se em A viagem musical

2 oboés, 2 fagotes,

de trenó ou na Sinfonia da caça. Em ambos os casos, a busca

2 trompas, cordas.

do realismo sonoro exige grande quantidade de instrumentos raros ou brinquedos infantis — marimba, lira, gaita de

NO, NO, CHE NON SEI CAPACE, K. 419 Viena, 1783 | 4 min 2 oboés, 2 trompas, 2 trompetes, tímpanos, cordas.

CONCERTO PARA DOIS PIANOS EM MI BEMOL MAIOR, K. 365

foles, chocalhos, flauta doce, chicotes, campainhas, apitos, pequenos trompetes — que se juntam à trama da orquestra tradicional. Note-se ainda a valorização do registro agudo dos instrumentos de metal, cujo florescimento na corte de Salzburgo, por volta de 1765, resultou em pelo menos três concertos conhecidos: dois de Michael Haydn para clarim e o Concerto para trombone alto de Leopold Mozart. A Sinfonia dos Brinquedos foi, por muito tempo, atribuída a Joseph Haydn. Somente em 1951, o musicólogo Ernst F.

Salzburgo, 1779 | 25 min 2 oboés, 2 fagotes, 2 trompas, cordas.

43 FORA DE SÉRIE 14 DE MAIO


Schmidt anunciou a descoberta, em

pianos K. 365, também destinado

Munique, de uma Cassation de Leopold

a Nannerl (o primeiro piano) e a ele

Mozart em sete movimentos, três dos quais

mesmo. Os solistas são tratados com

idênticos aos movimentos da Sinfonia. Quanto

igual importância e a influência da

à Viagem musical de trenó, sabe-se que o

Escola de Mannheim, que Mozart

compositor enviou a partitura para músicos

conhecera recentemente, é notória.

da Sociedade de Intérpretes de Augsburgo.

No Allegro inicial há um jogo fascinante

Eles a apresentaram no albergue Aos

de réplicas, ecos, adornos, alternância

Reis Magos, em janeiro de 1756, quinze

de protagonismo e acompanhamento

dias antes do nascimento de Wolfgang.

entre os dois pianistas. O Andante, em Si bemol, apresenta um melancólico

Leopold, muito religioso, sempre

tema nos violinos, logo respondido

acreditou que o filho era um dom que

pelos oboés. O segundo piano retoma

Deus lhe confiara com o dever de

o mesmo tema sobre os trinados

cultivá-lo. Dirigiu sua iniciação musical

do parceiro. Reunidos em terças e

com inegável eficiência; escolheu seus

apoiando uma melodia dos oboés,

mestres com perícia (Johann Christian

os dois chegam em arpejos até a

Bach, em Londres; o padre Martini,

tonalidade de Mi bemol. Um novo

na Itália); proporcionou-lhe o contato

tema, em dó menor, exposto pelo

com ambientes musicais diferentes,

segundo piano, é retomado e variado

técnicas e estilos variados. Mozart,

pelo primeiro solista. A conclusão

ainda adolescente, tornara-se o

é em pianíssimo. O Rondó, Allegro

músico mais cosmopolita da época.

tem espírito bastante francês tanto pelo caráter de seu refrão quanto

Leopold planejou meticulosamente as

por seu intermédio central em tom

longas turnês em que Nannerl e

menor. Há uma rica passagem em

Wolfgang conquistaram os grandes

que os dois pianos realizam uma série

centros musicais da Europa. As crianças

impressionante de modulações. No

tocavam individualmente, a quatro mãos

todo é uma peça brilhante, repleta de

ou em dois cravos. Em 1765, o pequeno

alegria. Mozart tinha especial carinho

Mozart escreveu para o duo familiar sua

por esse concerto e tocou-o várias

primeira peça para essa formação, a

vezes depois que se fixou em Viena.

Sonata K. 19d. As árias de concerto para voz e No começo de 1779, aos 23 anos,

acompanhamento orquestral constituem

Mozart iniciou o Concerto para dois

um capítulo importante e especialmente

44 FORA DE SÉRIE 14 DE MAIO


e o profundo conhecimento de suas capacidades expressivas favorecia o trabalho do compositor. Mia speranza adorata K. 416 foi composta para um recital de Aloysia Weber, cunhada de Mozart, que interpretou Madame Herz em Der Schauspieldirektor. Outras árias eram solicitadas para

Leopold Mozart. Pintura de Pietro Antonio Lorenzoni.

a inserção em óperas de outros compositores, quando as originais se mostrassem inadequadas ao conjunto pouco conhecido da obra de Mozart.

da obra ou às possibilidades de algum

O compositor dedicou-se ao gênero

determinado intérprete. Mozart compôs

desde a infância até o último ano de

árias isoladas para óperas de Cimarosa,

sua vida, deixando cerca de cinquenta

Anfossi, Martin y Soler, Paisiello e Bianchi.

títulos. Quando criança, Mozart compôs

Na apresentação vienense de O curioso

algumas árias (a primeira, aos oito anos,

indiscreto (1783) de Anfossi, Aloysia

em Londres) que lhe serviram de exercício

Weber interpretava o papel de Clorinda.

para se aperfeiçoar no ofício, adaptando

A cantora julgou as árias de Anfossi

a música aos Affekte — amor, raiva,

aquém de seus recursos e solicitou ao

ciúme — de um texto poético.

cunhado outras, que mostrassem todos os seus recursos. Mozart admirava sua

As árias de concerto cumpriram funções

voz extensa e delicada, cujo agudo

diversas ao longo do século XVIII.

ascendia até o mi 5. As três árias que

Frequentemente eram encomendadas

compôs — entre elas No, no, che non

para recitais de cantores profissionais

sei capace K. 419 — fizeram muito

ou amadores. Mozart ajustava sua

sucesso, independentemente do

escrita aos intérpretes, acentuando-lhes

fracasso da ópera.

as qualidades e considerando as limitações. Tornou-se famoso o conceito mozartiano de que “uma ária deve se adaptar ao cantor como um traje bem feito”. Muitos cantores agraciados com

PAULO SÉRGIO MALHEIROS DOS SANTOS Pianista, Doutor em Letras, professor na UEMG, autor dos livros Músico, doce músico e O grão perfumado – Mário de Andrade e a arte do

essas árias isoladas participaram de

inacabado. Apresenta o programa semanal

papéis importantes em suas óperas,

Recitais Brasileiros, pela Rádio Inconfidência.

45 FORA DE SÉRIE 14 DE MAIO


Sinfonias


FABIO MECHETTI, regente

PROGRAMA

4

18 DE JUNHO SINFONIA Nº 31 EM RÉ MAIOR, K. 297, “PARIS” • Allegro assai • Andante • Allegro

SINFONIA Nº 34 EM DÓ MAIOR, K. 338 • Allegro vivace • Andante di molto • Allegro molto — INTERVALO —

SINFONIA Nº 40 EM SOL MENOR, K. 550 • Molto allegro • Andante • Menuetto • Allegro assai

47 FORA DE SÉRIE 18 DE JUNHO


SINFONIA Nº 31 EM RÉ MAIOR, K. 297, “PARIS” Paris, 1778 | 20 min 2 flautas, 2 oboés, 2 clarinetes, 2 fagotes, 2 trompas, 2 trompetes, tímpanos, cordas.

SINFONIA Nº 34 EM DÓ MAIOR, K. 338 Salzburgo, 1780 | 21 min 2 oboés, 2 fagotes, 2 trompas, 2 trompetes, tímpanos, cordas.

P

ode-se dizer, sem muito exagero, que a sinfonia, tal como concebida em meados do século XVIII, seja a sonata transportada para o universo sinfônico. É claro que esse

universo tem certas demandas específicas e, definido em sua sonoridade pela escola de Mannheim, já havia elaborado certos aspectos idiomáticos próprios. Mas, na forma e na

SINFONIA Nº 40 EM SOL MENOR, K. 550 Viena, 1788 | 28 min

estrutura, não é demasiado generalizador afirmar que a sinfonia clássica seja uma sonata executada pela orquestra sinfônica. Sob um olhar analítico mais cuidadoso, porém, há que se notar algumas questões.

Flauta, 2 oboés, 2 clarinetes, 2 fagotes, 2 trompas, cordas.

Em primeiro lugar, a sinfonia clássica tem pouquíssimo em comum com o gênero homônimo do Barroco. Ali, o termo designava qualquer tipo de composição instrumental, em particular os trechos instrumentais de obras vocais (prelúdios ou interlúdios). No Classicismo, entretanto, ela é embasada nos dois tipos de aberturas de óperas que se constituem no século XVII: a abertura francesa e a abertura italiana. A primeira, cujo paradigma é Lully, dá à orquestra de teatro as dimensões e características fundamentais da orquestra sinfônica clássica. A segunda, que traz a assinatura de Alessandro Scarlatti, dá ao gênero uma tripartição bem definida em movimentos distintos. Deve-se aos filhos de Bach o uso da forma sonata nos primeiros movimentos. Mas é sobretudo a Johann Stamitz, fundador da Escola de Mannheim, e a seu filho, Karl Stamitz, que ali o sucedeu, que se devem as compleições definitivas da sinfonia e da orquestra sinfônica. Os Stamitz não criaram a sinfonia, mas organizaram sua prática e definiram seu caráter: a adoção de quatro movimentos, com a inserção definitiva de minueto e trio entre o movimento lento e

48 FORA DE SÉRIE 18 DE JUNHO


o movimento final; o emprego da

Tulherias. Fruto da segunda viagem de

forma sonata no primeiro movimento,

Mozart a Paris, o sucesso dessa obra

com dois temas contrastantes; o

(executada várias vezes na mesma

afastamento da escrita contrapontística;

série, nos dois anos seguintes) não

o abandono definitivo do baixo

corresponde à indiferença com que a

contínuo; a introdução do clarinete

sociedade parisiense o recebeu: já não

no naipe das madeiras.

interessava aos parisienses o jovem de vinte e dois anos, como lhes interessara

É esse modelo que Joseph Haydn

o prodígio que ali esteve entre 1763

cristaliza. Mozart, por sua vez, o

e 1764. Talvez por isso Mozart tenha

assume definitivamente a partir

substituído, na récita das Tulherias, o

de 1773, com a sinfonia K. 201.

segundo movimento (trocando, por um

De fato, as primeiras sinfonias de

andante, o andantino em seis por oito,

Mozart adotam o modelo tripartido

que não agradou aos primeiros ouvintes).

das aberturas italianas e lembram,

Ambos os movimentos são aceitos hoje

formalmente, muito mais o concerto ou

e dependem da escolha do intérprete.

as aberturas de suas primeiras óperas.

Note-se que, nessa obra, Mozart ainda não inclui o minueto da sinfonia

É, portanto, um sinfonista já maduro

clássica, atendo-se à forma tripartida.

em suas escolhas que compõe, em 1778, a sinfonia K. 297. De fato, essa

A sinfonia K. 338 data de dois anos

obra foi composta para o maior grupo

depois, pertence à fase em que

orquestral de que dispôs Mozart em

Mozart ainda residia em Salzburgo

vida: na estreia, em Paris (12 de junho

e antecede duas obras-primas: a

de 1778, em uma récita privada, na

sinfonia K. 385 (Haffner) e K. 425

casa do conde von Sickingen), havia

(Linz). Mozart também aqui atém-se

vinte e dois violinos, cinco violas,

a três movimentos, omitindo o minueto,

oito violoncelos e cinco contrabaixos,

embora o musicólogo Alfred Einstein

e é a primeira das sinfonias em que o

afirme que o minueto K. 409 foi

par de clarinetes aparece. Seis dias

composto posteriormente para ser

depois, ela foi executada em público

inserido nessa obra. Há poucos

na série Concert Spirituel, na Salle

argumentos que comprovam essa

des Cent Suisses, no Palácio das

afirmação, e alguns que o rejeitam,

49 FORA DE SÉRIE 18 DE JUNHO


a começar pela inclusão de duas flautas

ora a associam ao Sturm und Drang,

na orquestração do minueto, ausentes

ora a um sentimento trágico do

dos outros movimentos da sinfonia.

compositor em relação a si mesmo.

Note-se, antes, o trabalho com os

Alfred Einstein afirma que nem ela

sopros e a rítmica típica da fanfarra,

nem a que a seguiu (nº 41, K. 551,

no primeiro movimento, que lhe

“Júpiter”) teriam sido compostas

atribuem um caráter festivo, que

para ser executadas, mas que

contrasta com o segundo movimento.

seriam um “legado de Mozart à

Este desperta o Mozart da ópera e da

posteridade”. A afirmação é revestida

música vocal. O último movimento é

de polêmica: desde correspondências

uma dança, um tanto enérgica, bem

de contemporâneos do compositor

à maneira da tradição musical italiana.

até anúncios de concertos conduzidos

Não se sabe ao certo a data de estreia

por Salieri em Viena, assim como

dessa obra, mas pode-se supor que se

cópias de manuscritos revisados

deu na corte do Príncipe-Arcebispo de

pelo compositor atestam que ela

Salzburgo, antes de 1781.

foi executada quando Mozart ainda vivia. O fato é que ela deve ter

A obra-prima que é a sinfonia em

sido estreada entre o ano de sua

sol menor, K. 550, composta em

composição e o ano da morte de

1788, porém, é de outra grandeza

Mozart. É fato também que as três

(se é que de Mozart se pode dizer

últimas sinfonias foram compostas em

isso!...). Penúltima obra do gênero

menos de seis semanas, no mesmo ano

do compositor, pertence à fase final

de 1788. Esta obra desvela o Mozart

de sua vida e mostra o modelo de

de sempre, mas, se é permitido dizê-lo,

música que Beethoven iria seguir

menos dramático e mais trágico:

ou transcender e com o qual todo

menos persona e mais pessoa...

o sinfonismo do século XIX se veria

ainda admiravelmente clássico,

mais ou menos em débito. Sobre ela

mas surpreendentemente além disso.

escreveram desde von Nissen, primeiro biógrafo de Mozart (aristocrata que se casou com a viúva do compositor),

MOACYR LATERZA FILHO Pianista e cravista, Doutor em Literaturas de Língua Portuguesa,

a Hector Berlioz. Sobre ela ainda hoje

professor da Universidade do Estado de Minas

há os mais variados comentários, que

Gerais e da Fundação de Educação Artística.

50 FORA DE SÉRIE 18 DE JUNHO


Mozart. Pintura de Joseph Lange, 1790c. Mozart Museum, Internationale Stiftung Mozarteum, Salzburgo.

51 FORA DE SÉRIE 18 DE JUNHO


Rivais e contempor창neos

52


TOBIAS VOLKMANN, regente convidado ALEXANDRE BARROS, oboé

PROGRAMA

5

23 DE JULHO Wolfgang Amadeus Mozart

O RAPTO DO SERRALHO, K. 384: ABERTURA Antonio Salieri

SINFONIA EM RÉ MAIOR, “IL GIORNO ONOMASTICO” • Allegro, quasi presto • Larghetto • Minuetto • Allegretto e sempre l’istesso tempo

Domenico Cimarosa / Adaptação de Arthur Benjamin Alexandre Barros

CONCERTO PARA OBOÉ EM DÓ MENOR • Introduzione: Larghetto • Allegro • Siciliana • Allegro giusto — INTERVALO —

Wolfgang Amadeus Mozart

SINFONIA Nº 39 EM MI BEMOL MAIOR, K. 543 • Adagio – Allegro • Andante con moto • Menuetto: Allegretto • Finale: Allegro

53 FORA DE SÉRIE 23 DE JULHO


na célebre sala do Gewandhaus de Leipzig como convidado da temporada oficial do Coro e Orquestra da Rádio MDR. Compromissos futuros incluem as estreias como convidado da Orquestra Sinfônica Provincial de Santa Fé, Argentina, e da Orquestra Filarmônica de Minas Gerais. Apresentou-se ainda em concertos com as orquestras sinfônicas de Vaasa e Jyväskylä, Finlândia, Orquestra Lyatoshinsky de Kiev, Orquestra Sinfônica de Porto Alegre, Sinfônica Municipal de Campinas e Orquestra Sinfônica da FOTO DARYAN DORNELLES

Universidade Federal do Rio de Janeiro. É convidado frequente

TOBIAS VOLKMANN

nas temporadas da Orquestra Sinfônica Nacional-UFF e da Orquestra Sinfônica da Universidade de Cuyo, Argentina. Entre 2012 e 2014 atuou como maestro assistente do

Tobias Volkmann é um dos destaques

Theatro Municipal do Rio de Janeiro, onde esteve à frente dos

da nova geração de regentes orquestrais

balés La Bayadère e Coppelia e do acompanhamento para os

do Brasil. Desde a conquista dos

filmes mudos Nosferatu de Murnau e O Garoto de Chaplin —

principais prêmios concedidos no

espetáculos da série Música & Imagem. Atuou como maestro

Concurso Internacional de Regência

preparador em produções de ópera, destacando-se Billy Budd,

Jorma Panula 2012, Finlândia, e do

Salomé, A Valquíria, Aída, Rigoletto, Carmen e Madame Butterfly.

Prêmio de Público no Festival Musical

Entre 2009 e 2011 foi regente assistente da Orquestra

Olympus de São Petersburgo 2013,

Filarmônica Carnegie Mellon, nos Estados Unidos.

Volkmann vem atraindo atenção para uma carreira internacional em ascensão.

Tendo a versatilidade como grande qualidade artística, Tobias Volkmann se mostra igualmente à vontade no repertório

Como regente convidado, já esteve à

sinfônico, coral, no teatro de ópera e balé e na música para

frente de grandes orquestras europeias

cinema. Com especial atenção à música contemporânea,

e sul-americanas, entre elas a

dirigiu estreias nos Estados Unidos, Rússia e Brasil.

Orquestra Sinfônica do Porto Casa da Música, Orquestra Sinfônica Estatal

Realizou sua formação com grandes nomes da regência em

do Museu Hermitage e Orquestra

masterclasses internacionais ministradas por Kurt Masur,

Sinfônica Estatal de São Petersburgo,

Jorma Panula, Ronald Zollman, Isaac Karabtchevsky e

Orquestra Sinfônica do Chile e

Fabio Mechetti. Estudou canto e regência na Universidade

Orquestra Petrobras Sinfônica. Em

Federal do Rio de Janeiro e concluiu mestrado em Regência

2015 teve sua estreia alemã à frente da

Orquestral na Universidade Carnegie Mellon de Pittsburgh,

Orquestra Sinfônica de Brandemburgo

Estados Unidos, sob orientação de Ronald Zollman.

54 FORA DE SÉRIE 23 DE JULHO


(UFMG), recebeu o primeiro prêmio no V Concurso de Música de Câmara dessa instituição. Em 1996, integrando o Trio Jovem de Palhetas, obteve menção honrosa no Concurso Jovens Solistas da Faculdade Santa Marcelina de São Paulo. No mesmo ano foi premiado no Concurso Jovens Solistas da Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo (Osesp) e apresentou-se à frente da orquestra sob regência de Diogo Pacheco. Dois anos mais tarde conquistou o prêmio Eleazar de Carvalho no Festival de Inverno de Campos do Jordão.

FOTO RAFAEL MOTTA

Como solista atuou com diversas orquestras, como a Sinfônica

ALEXANDRE BARROS

de Minas Gerais, Orquestra de Câmara Sesiminas e Orquestra Filarmônica Nova. Em 2010 foi solista à frente da Filarmônica de Minas Gerais, sob regência de Rodolfo Fischer.

Nascido em uma família de músicos,

De 1996 a 1997 integrou o naipe de oboés da Osesp e com

Alexandre iniciou seus estudos musicais

a orquestra realizou turnê por diversas cidades da Europa.

com o pai, Joaquim Inácio Barros.

A convite de Roberto Minczuk, atuou como primeiro oboé

Ainda criança, acompanhava seu pai

e foi solista da Orquestra Sinfônica de Ribeirão Preto, sob

e irmãos em rodas de choro tocando

regência do maestro Minczuk. Regressando a Minas Gerais

flauta doce. Estudou flauta transversal

passou a integrar o naipe de oboés da Orquestra Sinfônica

e, aos dezessete anos, passou para

de Minas Gerais até 2008.

o oboé, seguindo seus estudos com orientação dos professores Afrânio

Atualmente, é Primeiro Oboé da Orquestra Filarmônica

Lacerda, Gustavo Napoli, Carlos Ernest

de Minas Gerais. Paralelamente, é professor do Curso de

Dias e Arcádio Minczuk. Frequentou

Formação e Aperfeiçoamento em Artes (Cefar). Foi convidado

masterclasses com renomados

a lecionar em importantes festivais no Brasil, entre eles a

oboístas internacionais, dentre eles os

Semana de Música de Ouro Branco e o Festival Internacional

professores Ingo Goritzki, Alex Klein,

Sesc de Música de Pelotas.

François Leleux e Maurizio Colasanti. Alexandre desenvolve intensa atividade camerística, Alexandre sempre mostrou facilidade

em diversas formações. Em 2011 gravou um CD com o

e intimidade com o instrumento,

pianista Miguel Rosselini com importantes obras para

destacando-se rapidamente no cenário

oboé. Em duo com o pianista, apresentou-se em destacadas

da música erudita no Brasil. Em 1993,

salas de concerto no Brasil, no Festival Rio Folle Journée,

como membro do Quinteto de Sopros da

na Semana de Música de Ouro Branco e no Projeto

Universidade Federal de Minas Gerais

Quarta Erudita da Fundação Clóvis Salgado.

55 FORA DE SÉRIE 23 DE JULHO


O RAPTO DO SERRALHO, K. 384: ABERTURA Viena, 1782 | 5 min Piccolo, flauta, 2 oboés, 2 clarinetes, 2 fagotes, 2 trompas, 2 trompetes, tímpanos, percussão, cordas.

SINFONIA Nº 39 EM MI BEMOL MAIOR, K. 543 Viena, 1788 | 28 min Flauta, 2 clarinetes, 2 fagotes, 2 trompas, 2 trompetes, tímpanos, cordas.

E

m 1781 Mozart deixava Salzburgo após romper definitivamente com seu autoritário patrão, o arcebispo Colloredo. Aos 25 anos, como compositor e pianista autônomo, ele agora

dependia da renda de concertos, da venda de partituras, aulas particulares e, sobretudo, do público que determinava o êxito ou o insucesso de uma obra. A composição de O rapto do serralho coincidiu com o casamento de Mozart e Constanze (nome da heroína da ópera) Weber e o estabelecimento definitivo do compositor em Viena. Sintomaticamente, ele optou por um Singspiel — gênero dramático-musical tipicamente germânico, alternando o diálogo falado com o canto —, espetáculo de grande apelo popular. Durante toda a vida de Mozart, O rapto do serralho foi seu maior sucesso operístico. Resistiu, inclusive, a inúmeras intrigas de rivais invejosos. Sobre a partitura, o imperador Josef II fez seu famoso comentário: “Bela demais para os nossos ouvidos, meu caro Mozart, e com notas em demasia”. Ao que Mozart retrucou: “Exatamente tantas quantas são necessárias, Majestade”. Em O rapto do serralho, a trama acontece na Turquia, devido à moda contemporânea de temas orientais. A Abertura se inicia sobre um Presto muito vivo, com ritmos contrastantes, mas persistentes, enérgicos, vivos. O caráter feérico deve-se muito ao uso espetacular dos instrumentos de sopro e ao arsenal típico das turqueries da época — toda uma falange percussiva (tímpanos em dó e sol, triângulo,

56 FORA DE SÉRIE 23 DE JULHO


pratos, bumbo), evocativa de um

julga-se que o próprio Mozart não

Oriente de ópera. O poético Andante

chegou a ouvi-las. Talvez a publicação

central, em tom menor, expressão do

das Sinfonias Parisienses de Haydn,

amor de Belmonte por Constanze,

no ano anterior, tenha-lhe incentivado

não interrompe o clima de alegria

a criatividade; de fato, os dois

que logo se reinstala, com seu ritmo

compositores, apesar da diferença

desenfreado, contagiante até o final.

de idade, foram amigos constantes e admiradores mútuos.

Seis anos após o sucesso da estreia de O rapto do serralho, Mozart vivia,

As últimas sinfonias, com audácia

em meados de 1788, um período

inaudita, exibem o gênio de Mozart

extremamente difícil, início da miséria

em plenitude e revelam o alcance

humilhante que marcaria o último

de seu legado incomparável para o

capítulo de sua vida. Um dia antes de

gênero: notável percepção do equilíbrio

terminar a Sinfonia nº 39, escrevera

estrutural; um jogo fascinante das

ao amigo e credor Johann Puchberg

texturas orquestrais (sobretudo dos

solicitando mais um empréstimo;

instrumentos de sopro); a prodigiosa

três dias depois, morria sua filha

riqueza harmônica; e o surpreendente

Tereza. Entretanto, em apenas seis

e rigoroso cultivo do estilo fugato

semanas, Mozart concluiu mais duas

dos antigos mestres.

sinfonias (as de números 40 e 41), profundamente diferentes entre si e igualmente perfeitas. Fenômeno ainda mais intrigante, pois permanece enigmático o motivo de tamanho empenho composicional — essas três obras-primas incomparáveis foram criadas sem encomenda imediata e

PAULO SÉRGIO MALHEIROS DOS SANTOS Pianista, Doutor em Letras, professor na UEMG, autor dos livros Músico, doce músico e O grão perfumado – Mário de Andrade e a arte do inacabado. Apresenta o programa semanal Recitais Brasileiros, pela Rádio Inconfidência.

57 FORA DE SÉRIE 23 DE JULHO


Antonio Salieri (Itália, 1750 – Áustria, 1825)

SINFONIA EM RÉ MAIOR, “IL GIORNO ONOMASTICO” 1775 | 19 min 2 flautas, 2 oboés, fagote, 2 trompas, 2 trompetes, cordas.

Domenico Cimarosa (Itália, 1749 – 1801) Adaptação de Arthur Benjamin (1893-1960)

CONCERTO PARA OBOÉ EM DÓ MENOR 1942 | 10 min Cordas.

D

esde Amadeus, aquela deliciosa fita de Milos Forman, lançada em 1984, baseada na peça homônima de Peter Schaffer, Salieri entrou para o senso comum como o grande

vilão da história da música. É bem que se diga, porém, que a personagem de Schaffer não corresponde à figura histórica a que ela remete. Salieri foi de importância inegável, tanto como compositor quanto como mestre. Basta dizer que ele teve ascendência direta sobre a formação de Beethoven e, mais tarde, de Liszt. Seu nome foi eclipsado pela importância crucial, estética e histórica que tiveram os três integrantes da Primeira Escola de Viena. Entre Mozart e Salieri, quaisquer rivalidades não ultrapassaram os limites do saudável ou da cordialidade. Depreende-se, inclusive, da correspondência de Mozart, que este prezava muito as opiniões de Salieri, que, por sua vez, tinha grande apreço e admiração pela obra de Mozart. O estilo de Salieri, no entanto, é um pouco diferente do estilo de seus muitos compatriotas que moravam, então, em Viena: sua linguagem o aproxima muito mais da tradição germânica (como a de Gluck), que da italiana. Compositor dramático por excelência, deixou uma obra pródiga: são várias dezenas de óperas, um sem número de obras sacras, alguma música de câmara e várias obras sinfônicas, dentre as quais seis concertos e duas sinfonias completas: “La Veneziana” e

58 FORA DE SÉRIE 23 DE JULHO


Antonio Salieri. Pintura de Joseph Willibrod Mähler.

“Il giorno onomastico”. Embora o

Pergolesi, Galuppi e sobretudo Mozart,

nome seja pomposo, seu significado

o apogeu de uma tradição musical que

é bem simples: Salieri a compôs para

veria em Rossini o seu primeiro herdeiro.

comemorar seu próprio aniversário. Estruturada em quatro movimentos,

No entanto, o concerto para oboé é

já à maneira da sinfonia clássica, essa

uma obra moderna: em 1949 Arthur

obra apresenta citações de outras obras

Benjamin transcreveu, para oboé e

suas: as aberturas de La Scuola de’

orquestra de cordas, quatro sonatas

Gelosi e de La Partenza Inaspettata.

para teclado, compostas entre 1787

Ao ouvinte habituado a Haydn e Mozart,

e 1791, transformando essa colagem

essa obra há de ser a grata descoberta

em uma única obra. As sonatas de

de um Classicismo já sólido e elegante,

Cimarosa transcritas são (em ordem

mas ainda não centrado em si mesmo,

numérica, não como aparecem no

e mostra o ambiente musical vivo,

concerto) as de número 23, 24, 29 e

pulsante e rico em que cresceu a

31. É bom lembrar que esse sistema de

Primeira Escola de Viena.

colagens, apropriações e transcrições não era estranho ao espírito e à prática

Igualmente pródiga é a obra de Cimarosa:

dos séculos XVII e XVIII. A despeito da

são cerca de setenta óperas, várias

intervenção moderna, essa obra mostra

obras sacras, trinta e duas sonatas para

o caráter vocal e dramático desse

teclado, em um movimento, à maneira

contemporâneo de Mozart, com quem

de Domenico Scarlatti. Tendo construído

compartilha a mesma tradição.

uma carreira sólida, em 1791 é nomeado Mestre de Capela de Leopoldo II, em Viena, sucedendo Salieri. Seu estilo,

MOACYR LATERZA FILHO Pianista e cravista, Doutor em Literaturas de Língua Portuguesa,

porém, é inegavelmente italiano. Sua

professor da Universidade do Estado de Minas

linguagem dramática assinala, com

Gerais e da Fundação de Educação Artística.

59 FORA DE SÉRIE 23 DE JULHO


Ă“pera


FABIO MECHETTI, regente MARINA MORA, diretora de cena GABRIELLA PACE, Fiordiligi LUISA FRANCESCONI, Dorabella CARLA COTTINI, Despina DAVID PORTILLO, Ferrando LEONARDO NEIVA, Guglielmo LICIO BRUNO, Don Alfonso

PROGRAMA

6

20 DE AGOSTO COSÌ FAN TUTTE, K. 588 Ato I — INTERVALO —

COSÌ FAN TUTTE, K. 588 Ato II

61 FORA DE SÉRIE 20 DE AGOSTO


produção artístico-técnica junto a P. Domingo, E. Sagi, R. Oswald, H. De Ana, F. Sparvoli, E. Zanetti, M. Hampe, A. Heller Lopes, M. Lombardero, P. Maritano, J. D. Inella, T. Zvulun, J. L. Pichon, J. Martorell, P. Larraín, P. Nuñez e X. B. Rawson, no Teatro Colón, Teatro Municipal de Santiago do Chile, Teatro de La Plata, Teatro Calderón de Valladolid, Teatro de La Zarzuela e no Auditório Nacional, México. Nesse período, encenou O barbeiro de Sevilha, Retablo del Maese FOTO DIVULGAÇÃO

MARINA MORA

Pedro, O mestre de capela, Tristão e Isolda, Lady Macbeth de Mtsensk, Turandot, Cavalleria Rusticana, Pagliacci, Alcina, Rigoletto, Thais, Carmen, Ariadne auf naxos, Madame Butterfly, Boris Godunov, Don Pasquale, Aida, Doña Francisquita,

Marina Mora nasceu em Buenos Aires,

O rapto do serralho, Eugene Onegin, Lucrezia Borgia,

Argentina, onde formou-se em

Jenufa, Anna Bolena, Don Giovanni, Katia Kabánova, Lakmé,

Pedagogia, Educação, Música,

I Puritani, A Flauta Mágica, Lady be good, Lua de mel no

Dança e Interpretação, realizando

Cairo, The Rake´s Progress, Il Turco en Italia, Norma e Rusalka.

posteriormente a licenciatura em Artes Cênicas no Instituto

Foi diretora de cena da ópera Don Pasquale de Donizetti

Universitário Nacional de Arte.

no Teatro Espanhol da cidade de Azul, Argentina, através do Instituto Superior de Arte del Teatro Colón. Também

Depois de várias experiências como atriz,

dirigiu seminários de artes cênicas na Universidade

no teatro e no cinema, incluindo um

San Alberto Hurtado, em Santiago do Chile, e ganhou

prêmio de Melhor interpretação com a

o prêmio Fondart 2010 para música com a montagem

obra La llave en el desván, de A. Casona,

do projeto A ópera em sua cidade.

no 20º Certamen de Casas Regionales de España, estuda direção teatral com

Marina foi diretora de cena da ópera Le nozze di Figaro para

C. Ianni e com R. Szuchmacher. Em

a Pontifícia Universidade Católica do Chile, apresentada no

seguida, ingressa no Instituto Superior

Teatro Cariola de Santiago, no Teatro Municipal de Chillán, no

de Arte do Teatro Colón para cursar

Teatro Diego de Rivera na cidade de Puerto Montt e no Teatro

direção cênica de ópera.

regional de Maule, em turnê muito bem acolhida pelo público.

Paralelamente, começa uma grande

Recentemente dirigiu La Serva Padrona para o Palácio

atividade como assistente de direção,

Legislativo da Nação Argentina, montagem que será

gerente de palco e coordenadora de

reapresentada em 2016 em Nova York para a Empire Opera.

62 FORA DE SÉRIE 20 DE AGOSTO


Vencedora do Prêmio Carlos Gomes

de Mendelssohn, Requiem de Mozart, Stabat Mater de

2010 pela participação na ópera

Rossini e na Missa in Tempore Belli, A Criação e

A Menina das Nuvens, Gabriella Pace

As Estações de Haydn.

já cantou sob a regência de maestros como Lorin Maazel, Isaac Karabtchevsky,

Desde 2005 faz parte do Trio Duetos e Canções, ao

John Neschling, Roberto Minczuk,

lado do pianista Gilberto Tinetti e da mezzo-soprano

Rodolfo Fischer, Luiz Fernando

Adriana Clis, apresentando-se em recitais de música

Malheiro, Fabio Mechetti,

de câmara por todo o país.

Sílvio Viegas e Abel Rocha. Com o Quarteto Raga, Gabriella cantou o Quarteto Foi Tytania em Sonho de uma Noite

op. 10, nº 2 de Schoenberg e, com a Orquestra

de Verão de Britten, Ilia em Idomeneo,

Sinfônica do Estado de São Paulo (Osesp), gravou

Eurídice em Orfeo ed Euridice,

o Requiem Ebraico de Zeisl.

Giulietta em I Capuleti e i Montecchi, Susanna em As bodas de Fígaro,

Gabriella iniciou os estudos com o pai, Héctor Pace,

Ceci em Il Guarany, Pamina em

e foi aluna de Leilah Farah e Pier Miranda Ferraro.

A Flauta Mágica e Adina em O Elixir do Amor, dentre muitas outras. Foi solista na Quarta Sinfonia de Mahler, Nona Sinfonia de Beethoven,

FOTO HENRIQUE PONTUAL

Carmina Burana de Orff, Lobgesang

GABRIELLA PACE 63 FORA DE SÉRIE 20 DE AGOSTO


FOTO LINCOLN IFF

LUISA FRANCESCONI Luisa Francesconi tem excepcional

turnê da Cia. Brasileira de Ópera, em 2010, no papel de

capacidade para a execução de

Rosina em O barbeiro de Sevilha de Rossini.

coloratura, destacando-se no repertório rossiniano e mozartiano

Ela canta com frequência nos principais teatros brasileiros

ao interpretar papéis em óperas como

e italianos e tem se apresentado regularmente também em

Il barbiere di Siviglia, L’Italiana in

Portugal. Interpretou o Stabat Mater de Pergolesi na famosa

Algeri, Così fan tutte e Don Giovanni.

igreja Ara Coeli, em Roma, e a Missa em Dó menor de Mozart no Auditorium Verdi, em Milão.

A mezzo-soprano fez a sua estreia internacional no Teatro Argentina,

Seu repertório de concerto é vasto, com atuações marcantes

em Roma, no papel de Cherubino

em Rapsódia para Contralto e Missa em Si menor de Bach;

em Le nozze di Figaro, de Mozart.

Requiem e Missa da Coroação de Mozart; Nisi Dominus de

Representa também com grande

Vivaldi; Messias de Haendel; Nona Sinfonia, Missa em

sucesso outros papéis en travesti,

Dó maior e Fantasia Coral de Beethoven; Stabat Mater e

como Romeo em I Capuleti e

Petite Messe Solemnelle de Rossini; Sonho de uma Noite de

I Montecchi de V. Bellini, Orfeo

Verão de Mendelssohn; Te Deum de Bruckner; Les Nuits d’Été

em Orfeo ed Euridice de Gluck e

de Berlioz; Sinfonias números 2, 3 e 8 de Mahler; El Amor

Idamante em Idomeneo de Mozart.

Brujo de Falla e Floresta do Amazonas de Villa-Lobos.

Luisa interpretou Didone em

Luisa Francesconi gravou suas participações como solista

Les Troyens de Berlioz. Participou

na Nona Sinfonia de Beethoven e no Réquiem Hebraico de

com enorme sucesso da primeira

Erich Zeisl, lançadas em CD pelo selo Biscoito Fino.

64 FORA DE SÉRIE 20 DE AGOSTO


Em 2013 Carla interpretou Gretel no Palau de la Musica de Valencia, na produção espanhola de Amparo Urieta. Foi Zerlina no Theatro Municipal de São Paulo, na produção de

FOTO FERNANDO LOUZA

Don Giovanni dirigida por Pier Francesco Maestrini, ao lado de artistas como Andrea Rost, Monica Bacelli e Nicola Uliveri.

CARLA COTTINI

Em 2014, em Valencia, Espanha, interpretou a bruxa Armida de Rinaldo no Auditorio de Ribarroja e debutou como Susanna em Le nozze di Figaro, papel que interpretou também no

Vencedora do Prêmio Revelação no

Theatro São Pedro, em São Paulo, sob a direção musical de

10º Concurso de Canto Maria Callas da

Luiz Fernando Malheiro e direção cênica de Livia Sabag.

cidade de Jacareí, em 2011, Carla Cottini tem se destacado por integrar em suas

Em 2015 estreou com grande sucesso como Norina em

performances apurada técnica, belo

Don Pasquale, no Teatro Sociale di Rovigo, Itália.

timbre e marcante presença cênica. Além de sua dedicação ao canto lírico, Cottini tem formação Estreou no Teatro Municipal de

em artes cênicas, jazz dance e balé clássico na Casa de

São Paulo em dezembro de 2011

Artes OperAria. Antes de se dedicar à ópera, Carla Cottini

com grande sucesso como Ida em

participou, em São Paulo, das superproduções dos musicais

O Morcego e como Musetta em

My Fair Lady, em 2007, sob a direção de J. Takla; Esta é a

La Bohème, com a Orquestra Sinfônica

Nossa Canção, em 2009, sob a direção de Charles Randolph

do Sergipe. Em 2012 cantou a primeira

Wright, e Cats, em 2010, sob a direção de Richard Staford,

audição mundial da obra Fantasia

bem como de produções menores de musicais como

Gabriela de André Mehmari, escrita

West Side Story, Wicked e Chorus Line.

por encomenda da Orquestra Sinfônica da Bahia para as comemorações do

Carla Cottini terminou em setembro de 2014 seu mestrado

centenário de Jorge Amado. Nesse

em interpretação operística no Conservatório Superior

mesmo ano estreou no Palácio das Artes

de Música Joaquín Rodrigo de Valencia, Espanha, sob

de Belo Horizonte como Valencienne

orientação de Ana Luisa Chova. Desde 2012 tem como

na opereta A Viúva Alegre, sob direção

tutora a soprano Eliane Coelho. Seu preparador principal

de Jorge Takla.

de repertório é Rafael Andrade.

65 FORA DE SÉRIE 20 DE AGOSTO


Na temporada anterior, David Portillo retornou ao Houston Grand Opera como Tamino em A Flauta Mágica, conduzido por Roberto Spano, e estreou na Washington National Opera como Don Ramiro em La Cenerentola. Voltou ao Festival d'Aixen-Provence como Pedrillo e à Arizona Opera como Tonio em La fille du régiment, representação já aclamada pela crítica. Seus compromissos com orquestras incluem O Messias de Haendel com a St. Paul Chamber Orchestra, Kansas City FOTO KRISTEN HOEBERMANN

Symphony e Richmond Symphony e Lélio de Berlioz com a Dayton Philharmonic. Portillo também encenou Tebaldo em

DAVID PORTILLO

I Capuleti e i Montecchi, com a Washington Concert Opera, e Gastone em La Traviata com a Los Angeles Philharmonic, no Hollywood Bowl. Apresentou-se no Requiem de Verdi e na Nona Sinfonia de Beethoven com as sinfônicas de Phoenix e

Elogiado pelo Opera News pela

Elmhurst e no Colorado Music Festival, onde também esteve

"facilidade com as notas altas, cantadas

com A Criação de Haydn.

com brilho e exuberância que seduzem os ouvidos", o tenor norte-americano

Outros personagens vividos por Portillo são Trin, Renaud, Don

David Portillo se estabeleceu como um

Ottavio, Ferrando, Belmonte, Narciso e Gonzalve. Cantou na

dos principais artistas de sua geração.

Accademia Nazionale di Santa Cecilia, no Saito Kinen Festival, Wiener Staatsoper, Salzburg Festival e Opera Angers-Nantes.

Nesta temporada, ele faz sua estreia no Metropolitan Opera como Conde

Aluno do Ryan Opera Center na Lyric Opera de Chicago,

Almaviva, em O barbeiro de Sevilha.

do Merola Opera Program na San Francisco Opera e da

Retornará à Lyric Opera de Chicago como

Wolf Trap Opera em Vienna, Virgínia, Portillo acrescentou

Andres em Wozzeck, numa produção de

ao seu repertório o Chevalier de la Force em Dialogues of

David McVicar conduzida por Andrew Davis.

the Carmelites, Nadir em Les pêcheurs de perles, Fenton

E também à Palm Beach Opera estreando

em Falstaff, Alfredo em La Traviata, o papel principal em

no papel de Ernesto, em Don Pasquale.

Albert Herring e Sam Kaplan em Street Scene.

Na Europa, estreia no Théâtre des ChampsÉlysées como Pedrillo, em O rapto do

Em 2009, David Portillo recebeu prêmios da Fundação

serralho, e como solista em Das Paradies

Sullivan, da Sociedade Americana de Ópera de Chicago

und die Peri de Schumann com a

e da Fundação Shoshana, além de vencer o concurso para

Netherlands Radio Orchestra. Retorna ao

uma bolsa de estudos da Fundação Bel Canto. Em 2008 foi

Festival Glyndebourne como David

agraciado com o prêmio maior da categoria masculina da

em Os mestres cantores de Nuremberg.

União da Liga dos Jovens de Chicago.

66 FORA DE SÉRIE 20 DE AGOSTO


Nascido em Brasília, o conceituado barítono

Bizet. Apresentou-se no Teatro Nacional de São Carlos,

brasileiro Leonardo Neiva é conhecido por

em Lisboa, Portugal, em Carmina Burana de Orff;

sua desenvoltura cênica e versatilidade

no Théâtre du Capitole, em Toulouse, França, no papel

vocal. Foi revelado aos 23 anos no papel

de Cecco del Vecchio, em Rienzi de Wagner; na Opernwelt,

de Figaro, em Il barbiere di Siviglia de

Alemanha, em Tristão e Isolda de Wagner. Também cantou

Rossini. Desde então, é convidado por

em recitais e concertos na Itália, Espanha, Portugal,

teatros do Brasil e do exterior.

Colômbia e Estados Unidos.

Leonardo foi muito elogiado pela crítica

Em 2009, recebeu o XII Prêmio Carlos Gomes de melhor

ao representar o papel de Ford, em

cantor do Brasil por suas atuações como Le Grand-Prêtre

Falstaff de Verdi, na Sala São Paulo,

de Dagon, em Sansão e Dalila de Saint-Saëns, como Eneas

junto à Orquestra Sinfônica do Estado

em Dido e Eneas de Purcell, bem como o Kullervo na obra

de São Paulo (Osesp). Obteve grande

de Jean Sibelius.

êxito também ao se apresentar junto à Cia. Brasileira de Ópera, no papel título

Leonardo Neiva gravou em 2010 o CD Clamores, com canções

de Il barbiere di Siviglia, e no XV Festival

de música contemporânea do compositor Jorge Antunes.

Amazonas de Ópera, quando participou da montagem de Tristão e Isolda de Wagner, interpretando Kurwenal. Fora do Brasil, estreou no Teatro Municipal de Santiago, Chile, como

FOTO CASSIANO GRANDI

Zurga, em Les pêcheurs de perles de

LEONARDO NEIVA 67 FORA DE SÉRIE 20 DE AGOSTO


O sucesso e amplitude da carreira

Foi dirigido por ícones do teatro brasileiro — Amir Haddad,

de Licio Bruno são notáveis entre os

José Possi Netto, Jorge Takla, Gianni Rato, Sérgio Britto —

cantores brasileiros por suas atuações

e estrangeiro — Werner Herzog, Hugo de Anna, Aidan Lang.

em ópera, música sinfônica, de câmara

Cantou com renomados maestros brasileiros e estrangeiros,

e teatro no Brasil e exterior.

entre os quais Lorin Maazel e Isaac Karabtchevsky, das paixões de Bach até Beethoven, Kodály, Stravinsky e Britten, bem como

Aperfeiçoou-se na Academia Franz Liszt,

ciclos de Schubert, Mahler, Ravel e Poulenc, entre outros.

Budapeste, foi membro da Ópera Estatal Húngara e cantou na Itália, Espanha,

Licio Bruno é detentor de mais de dez primeiros prêmios em

Alemanha, Suíça, Colômbia e Argentina.

concursos nacionais e estrangeiros e recebeu, em 2004, o

No Brasil, os teatros de ópera e salas

Prêmio Carlos Gomes de Melhor Cantor Erudito.

de concerto são sua casa. Com mais de cinquenta personagens em óperas

O artista celebrou, em 2013, seus 25 anos de carreira

de diferentes autores, períodos e

dedicados à música com as óperas Aída, A Valquíria, A Serva

estilos, Licio é, até hoje na história

Patroa, O Turco na Itália, Rigoletto e Falstaff. Também fez sua

da ópera brasileira, o único cantor a

estreia na Argentina, interpretando com grande sucesso de

ter enfrentado na totalidade o Wotan /

público e crítica o papel principal de O Navio Fantasma,

Wanderer da tetralogia wagneriana.

de Wagner, no Teatro Argentino de La Plata.

68 FORA DE SÉRIE 20 DE AGOSTO

FOTO ARIANA ROSA

LICIO BRUNO


COSÌ FAN TUTTE, OSSIA LA SCUOLA DEGLI AMANTI, K. 588 Viena, 1790 | 180 min 2 flautas, 2 oboés, 2 clarinetes, 2 fagotes, 2 trompas, 2 trompetes, tímpanos, cravo, cordas.

C

osì fan tutte é a última das três obras-primas de Mozart com o libretista Lorenzo Da Ponte. O elenco se reduz a seis personagens, agrupados em três pares. Tal simetria é explorada no

libreto e fornece ao compositor — então no auge de sua criatividade — oportunidades para criar música perfeita nos menores detalhes e de grande variedade imaginativa. Na breve Abertura, após uma introdução lenta, o andamento rápido imprime o caráter feérico que dominará os dois atos da ação cênica.

Ato I Dois oficiais, Ferrando e Guglielmo, são noivos de duas irmãs, respectivamente Dorabella e Fiordiligi. Em um café, eles discutem sobre a fidelidade. Desafiados pelo cético Don Alfonso, aceitam apostar na lealdade de suas noivas, participando de um plano para prová-la. O terceto Una bela serenata fecha a cena com a alegria dos oficiais, certos da vitória. Os clarinetes, em terças sobre as cordas, transportam a cena à casa de Dorabella e Fiordiligi. As irmãs cantam os méritos de seus apaixonados no dueto Ah, guarda sorella. Don Alfonso dá início a seu plano, anunciando-lhes a falsa notícia da recente convocação dos noivos para a guerra. A ação desenvolve-se com formações musicais diversas: quintetos, um dueto para os oficiais, trios e o coro militar. Em Di scrivermi ogni giorno, sobre o fundo dos sarcásticos comentários de Don Alfonso, os namorados se despedem. Ferrando e Guglielmo partem. O fluido trio Soave sia il vento deseja-lhes boa viagem. As noivas estão inconsoláveis. Alfonso, porém, proclama um rancoroso discurso contra a inconstância das mulheres: Quante smorfie!

69 FORA DE SÉRIE 20 DE AGOSTO


A criada Despina tenta consolar

tomando um suposto veneno. As noivas

as irmãs. Dorabella extravasa

se enternecem diante da triste sorte dos

seu sentimento de abandono em

agonizantes. O artifício dos disfarces

Smanie implacabile, cujos efeitos

atinge grande comicidade quando

vocais parodiam as habituais árias

Despina, fazendo-se de médico,

trágicas. Em contraste, no cômico solo

administra seu onipotente talismã

In uomini, in soldati, Despina propõe

curativo, a pedra de Mesmer.

que as irmãs aproveitem a ausência

Recuperados, os pseudossuicidas

dos namorados... para namorar.

acordam no Olimpo e pedem beijos consoladores às duas deusas. Enfurecidas,

Alfonso suborna Despina e apresenta-lhe

as irmãs mandam os jovens às favas.

Ferrando e Guglielmo disfarçados. As irmãs mostram-se indignadas com

Ato II

a presença dos estranhos em sua casa.

A virtude das senhoras irrita

Mas Alfonso intervém saudando-os

Despina, que resume sua opinião na

como grandes amigos. Imediatamente

ária Una donna a quindici anni —

os rapazes iniciam suas declarações

por que não se deixar cortejar? As

amorosas às noivas trocadas. Fiordiligi

irmãs concordam em conversar com

declara sua inquebrantável fidelidade —

os pretendentes. Decisão tomada,

Come scoglio. Trata-se de uma ária

cada uma escolhe seu parceiro no

dificílima, que parece zombar da

dueto Prenderò quel brunettino —

virtuosidade, com largos intervalos,

Dorabella com Guglielmo; Fiordiligi

de um extremo a outro da tessitura

e Ferrando. Os apaixonados oferecem

de soprano. Guglielmo responde

uma serenata às amadas, Secondate,

com a suavidade de Non siate ritrosi.

aurette amiche, dueto de extasiante

Mas as noivas não se comovem e

melodia, com coro.

retiram-se. Diante de tal demonstração de fidelidade, o romântico Ferrando

Acanhados, os rapazes e as irmãs ficam

canta a ária Un’alma amorosa.

sem assunto, falando do tempo. Porém,

Alfonso, que não se dá por vencido,

após alguma hesitação, Guglielmo

pede a Despina um estratagema

oferece a Dorabella um medalhão em

para reverter a situação.

forma de coração, trocando-o pelo que ela trazia com o retrato do noivo

Os acontecimentos se complicam e

Ferrando. No dueto Il coro vi dono a

fornecem ao compositor um extenso

orquestra simula as palpitações de seus

finale. Os rapazes simulam suicídio,

corações apaixonados.

70 FORA DE SÉRIE 20 DE AGOSTO


Enquanto isso, Fiordiligi e Ferrando

Fra gli ampessi os dois celebram

continuam relutantes. Ele alterna

a felicidade da nova união.

dúvida e confiança: Ah, lo veggio. E ela expressa seus confusos sentimentos no

Os três apostadores se encontram.

grande rondó Per pietà, bem mio, cujas

Os rapazes estão revoltados com a

assombrosas dificuldades técnicas —

infidelidade das irmãs. Mas Alfonso

é o morceau de bravoure da ópera —

intervém com seu solo — “nem

refletem os conflitos de sua alma.

melhores, nem piores que as outras”, afirma. E obriga os oficiais a cantarem

Reunião dos dois amigos para avaliar a

juntos Così fan tutte.

situação: Ferrando traz boas notícias — a fidelidade de Fiordiligi alegra-os.

Despina comunica o casamento das

Mas ele se desespera quando o

patroas com os amigos. O brinde aos

companheiro apresenta-lhe o medalhão

noivos E nel tuo, nel mio bichiero

de Dorabella. Para consolar o amigo —

é um engenhoso cânone iniciado

e também porque se sente culpado —,

por Fiordiligi e acrescido do aparte

Guglielmo aconselha-o a não se

revoltado de Guglielmo. Despina faz

envolver tanto assim, pois as mulheres

o papel de tabelião, mas a cerimônia

sempre maltratam o coração dos

é interrompida pela banda militar

homens. A sofisticada verve desta ária,

que anuncia a volta dos oficiais. Após

Donne mie, la fate a tanti, lembra a

grande confusão, tudo se resolve com

melhor música de câmara mozartiana.

o perdão mútuo. Os amantes estão

Ferrando canta seu desespero na

novamente reunidos — não importa

sombria cavatina Tradito, schernito.

se da forma original ou se na segunda

Alfonso entra em cena e faz um

versão. O sexteto final celebra a alegria

irônico balanço da situação.

e homenageia quem enfrenta as dificuldades com bom-humor.

Despina elogia a atitude decidida que Dorabella apresenta. Fiordiligi, ao contrário, continua sofrendo com a dubiedade dos sentimentos. Num recurso derradeiro, ela toma a decisão de se disfarçar para encontrar o noivo Guglielmo no campo da guerra. Porém, Ferrando, ainda disfarçado, aparece e com a beleza avassaladora do dueto

PAULO SÉRGIO MALHEIROS DOS SANTOS Pianista, Doutor em Letras, professor na UEMG, autor dos livros Músico, doce músico e O grão perfumado – Mário de Andrade e a arte do inacabado. Apresenta o programa semanal Recitais Brasileiros, pela Rádio Inconfidência.

71 FORA DE SÉRIE 20 DE AGOSTO


MĂşsica incidental


FABIO MECHETTI, regente

PROGRAMA

7

1º DE OUTUBRO CONTRADANÇAS, K. 609 • Nº 1 em Dó maior • Nº 2 em Mi bemol maior • Nº 3 em Ré maior • Nº 4 em Dó maior • Nº 5 em Sol maior

IDOMENEO: MÚSICA DE BALÉ, K. 367 • Nº 1a – Chaconne: Allegro • Nº 1b – Larghetto pour Madame Hartig • Nº 1c – Chaconne, qui reprend: Allegro • Nº 2 – Pas seul • Nº 3 – Passepied • Nº 4 – Gavotte • Nº 5 – Passacaille — INTERVALO —

TAMOS, REI DO EGITO, K. 345 • Maestoso – Allegro • Andante • Allegro • Allegro vivace assai

LES PETITS RIENS, K. 299b • Overture: Allegro • Largo • Gavotte • Andantino • Allegro • Larghetto • Gavotte ( joyeuse): Allegro • Adagio • Intermezzo • Gavotte gracieuse • Pantomine • Passepied • Gavotte • Andante

73 FORA DE SÉRIE 1º DE OUTUBRO


CONTRADANÇAS, K. 609 Viena, 1791 | 7 min Flauta, percussão, cordas.

IDOMENEO: MÚSICA DE BALÉ, K. 367 Munique, 1781 | 25 min 2 flautas, 2 oboés, 2 clarinetes, 2 fagotes, 2 trompas, 2 trompetes, tímpanos, cordas.

TAMOS, REI DO EGITO, K. 345 Salzburgo, 1773/1779 | 19 min 2 oboés, 2 fagotes, 2 trompas, 2 trompetes, tímpanos, cordas.

M

ozart compôs música de dança desde os cinco anos, incluindo nove pequenos minuetos transcritos pelo pai no álbum de partituras de sua irmã Nannerl. Mas

foi a partir dos treze anos que começou a escrever música para ser dançada — dedicada ao Carnaval em Salzburgo —, atividade que manteve durante toda a vida. Compôs cerca de duzentos títulos isolados, sem contar os minuetos e outros movimentos de dança integrantes de suas sonatas, quartetos e sinfonias. Era ele próprio um entusiástico dançarino. Em uma carta do começo de 1783, conta ao pai

LES PETITS RIENS, K. 299b Paris, 1778 | 20 min 2 flautas, 2 oboés, 2 clarinetes, 2 fagotes, 2 trompas, 2 trompetes, tímpanos, cordas.

como comemorou seu aniversário: “Dei um baile em casa; começamos às seis horas da tarde e terminamos às sete. O quê? Somente uma hora! Não, não... às sete da manhã”. Para festas como essa, as danças eram apresentadas em sua habitual formação de câmara — o trio de cordas formado por dois violinos e baixo. A orquestração posterior, com o acréscimo dos instrumentos de sopro e percussão, mantinha a seção das cordas sem as violas. As partes centrais frequentemente incluíam instrumentos exóticos como gaitas de foles, cornetas de postilhão ou guizos de trenós. Na década de 1780, em Viena, a dança era um divertimento social muito popular. Sob o reinado liberal de Josef II, os bailes oficiais foram abertos a todas as camadas da sociedade — iniciava-se, então, a longa associação de Viena com a dança. Patrocinada pela corte, a temporada do Carnaval acontecia de janeiro até a Quaresma. A Mascarada constituía o ponto alto da estação, atraindo pessoas que podiam se divertir incógnitas, sob o disfarce das fantasias.

74 FORA DE SÉRIE 1º DE OUTUBRO


Também era uma fantasia o título de Kammermusicus oferecido a Mozart em 1787 — na verdade, o compositor recebia honorários exclusivamente relativos às danças do próximo Carnaval, geralmente compostas durante o dezembro anterior. Conforme o planejamento financeiro da corte, tratava-se de um artifício para impedir que um músico tão famoso abandonasse Viena. Não lhe encomendavam óperas ou sinfonias, e ficou célebre o comentário de Mozart

ao receber seu primeiro pagamento: “Demasiado para o que faço; demasiadamente pouco para o que eu poderia fazer”. Entretanto, compor danças nunca lhe pareceu ocupação secundária; ele a encarava com seriedade. Dedicou-se especialmente a quatro gêneros: as Marchas frequentemente tinham caráter militar. O aristocrático Minueto, destinado a morrer com o Antigo Regime, ainda guardava muito do seu refinamento e formalismo bicentenários. Mais vigorosas, as Danças alemãs ou Ländler dançavam-se aos pares, com maior contato físico, saltos e batidas de pé. As populares e antigas Contradanças — cujo compasso binário contrastava com o ternário dos minuetos e das Ländler — foram importadas da Inglaterra. O nome se originou de Country dance, traduzido contredanse para o francês (franglais) do século XVII. É interessante observar o uso dessas danças nas três últimas

Anton Raaff como personagem título de Idomeneo na estreia da ópera de mesmo nome. Autor desconhecido.

sinfonias de Mozart. O movimento Finale da Sinfonia nº 39 tem o espírito de uma contradança, enquanto o Minueto da mesma sinfonia é uma dança alemã. Já o

75 FORA DE SÉRIE 1º DE OUTUBRO


Minueto da Sinfonia Júpiter é um

estava fora de moda no século da

verdadeiro minueto, enquanto o

Revolução Francesa. Apenas duas

da Sinfonia nº 40 foge a qualquer

composições de Mozart para balé são

convenção, com sua irregularidade

conhecidas integralmente: Les Petits

métrica e rica escrita contrapontística.

Riens e Idomeneo.

As cinco Contradanças K. 609

Quando residiu em Paris, Mozart

tradicionalmente se enquadram

planejou compor uma ópera em

no ano de 1791, entre as últimas

francês, Alexandre et Roxane, confiante

escritas por Mozart. Outros estudiosos

no apoio decisivo do célebre bailarino

sugerem 1787 e, nesse caso, seriam

e coreógrafo Jean Georges Noverre.

as primeiras do compositor como

Para esse grande reformador da

Kammermusicus. A de nº 1, em Dó

dança Mozart escreveu, junto com

Maior, traz o tema Ne più andrai de

outros compositores, Les Petits Riens,

As bodas de Fígaro, muito conhecido

interlúdio a ser dançado em uma

em Viena. A segunda dança é em

ópera de Piccinni. Com a música e a

Mi bemol maior. Os tambores são muito

coreografia atribuídas a Noverre, o balé

marcantes nas danças 3 e 4. A quarta,

obteve sucesso. Dos 21 números que

em compasso ternário, é realmente um

o compõem, apenas a Abertura e oito

Ländler com três alternativos (trios),

peças são com certeza de Mozart. E

respectivamente em Dó, Fá e em lá

elas demonstram com que originalidade

menor. A última da série, composta

ele conseguiu apropriar-se do estilo

anteriormente em Salzburgo, recebeu

galante francês.

o título de Les filles malicieuses e, reorquestrada, foi registrada como

Aos 25 anos, em Munique, o compositor

K. 610. Possui um curioso efeito de

escreveu outro balé, agora para uma

gaitas de foles na seção central.

criação própria, Idomeneo, sua terceira e mais importante investida na opera

Ao contrário das danças para bailes,

seria, com enredo histórico ou mitológico.

o Grand Ballet — como cultivado

Idomeneo representou um grande

na corte francesa do século XVII —

impulso na produção mozartiana,

76 FORA DE SÉRIE 1º DE OUTUBRO


Viena. Desenho de Carl Schütz.

síntese muito particular de marcantes

final de 1773, foram retrabalhados em

experiências: a ópera séria italiana, as

1779 por ocasião da reapresentação

conquistas orquestrais de Mannheim e

em Salzburgo. O exame comparativo

a influência de Gluck, reminiscência da

das duas versões permite avaliar o

estação parisiense. Apesar do sucesso

imenso progresso realizado entre

da estreia, a obra passou por longo e

elas. Ciente da superioridade de sua

lamentável período de esquecimento.

música sobre o texto, Mozart procura

Só após a Primeira Guerra, Richard

libertá-la da tendência estritamente

Strauss, quando dirigia a Ópera

programática. Assim, à parte os três

de Viena, redescobriu por acaso a

magníficos coros, os quatro números

partitura. Os cinco números dançantes

puramente instrumentais soam, em

encerram festivamente Idomeneo, com

sequência, como movimentos de uma

uma grande celebração popular.

pequena sinfonia.

Ao contrário de sua intensa e constante dedicação à ópera, Mozart escreveu apenas uma música para teatro: Tamos, Rei do Egito. Os coros e números instrumentais para o drama de Tobias von Gebler, compostos no

PAULO SÉRGIO MALHEIROS DOS SANTOS Pianista, Doutor em Letras, professor na UEMG, autor dos livros Músico, doce músico e O grão perfumado – Mário de Andrade e a arte do inacabado. Apresenta o programa semanal Recitais Brasileiros, pela Rádio Inconfidência.

77 FORA DE SÉRIE 1º DE OUTUBRO


Na corte


FABIO MECHETTI, regente

PROGRAMA

8

29 DE OUTUBRO UMA BRINCADEIRA MUSICAL, K. 522 • Allegro • Menuetto: Maestoso • Adagio cantabile • Presto

SERENATA Nº 6 EM RÉ MAIOR, K. 239, “NOTURNA” • Marcia: Maestoso • Menuetto • Rondo: Allegretto – Adagio – Allegro — INTERVALO —

SERENATA Nº 9 EM RÉ MAIOR, K. 320, “POSTHORN” • Adagio maestoso – Allegro con spirito • Menuetto: Allegretto • Concertante: Andante grazioso • Rondo: Allegro ma non troppo • Andantino • Menuetto • Finale: Presto 79 FORA DE SÉRIE 29 DE OUTUBRO


UMA BRINCADEIRA MUSICAL, K. 522 Viena, 1787 | 20 min 2 trompas, cordas.

SERENATA Nº 6 EM RÉ MAIOR, K. 239, “NOTURNA” Salzburgo, 1776 | 13 min Tímpanos, cordas.

SERENATA Nº 9 EM RÉ MAIOR, K. 320, “POSTHORN” Salzburgo, 1779 | 42 min Piccolo, 2 flautas, 2 oboés, 2 fagotes, 2 trompas, 2 trompetes, posthorn, tímpanos, cordas.

N

o Classicismo, há diversos gêneros musicais que se confundem em forma e estrutura. Eles são uma espécie de válvula de escape da etiqueta solene dos salões aristocráticos ou

dos esquemas já pré-definidos da música dramática, mas ainda assim não se veem livres do formalismo que norteia a mentalidade musical do século XVIII: a forma sonata ainda impera na maior parte das vezes, quando não há uma aproximação com a suíte de danças; os procedimentos se mantêm. Conserva-se, na maior parte dos casos, a estrutura formal do século XVIII, em quatro movimentos, como na sonata, no quarteto de cordas ou na sinfonia. Ainda assim, a funcionalidade dessa música a poderia perigosamente rotular em música ligeira: divertimento, serenata, cassação, notturno, Nachtmusik, ou, ainda no século XVII, Tafelmusik (“música para a mesa”). Em Haydn, por exemplo, divertimento se confunde em nomenclatura com suas primeiras sonatas para piano. O fato é que esse gênero de música difere dos demais, no Classicismo (excluam-se disso a ópera e a música religiosa), apenas pela funcionalidade ou pelo ambiente a que se destinam. Raramente em forma ou em estrutura. Os ambientes externos, as diversões da aristocracia, os prazeres da mesa, tudo, nas altas rodas do século XVIII, era partilhado com boa música. Entende-se, com isso, o porquê de Haendel ter composto a Música para os Reais Fogos de Artifício... Entendem-se, igualmente, os vários divertimenti e serenatas de Mozart, compostos para diversas formações instrumentais. Nesses gêneros, evita-se, via de regra, o uso da intrincada linguagem polifônica, e neles não é raro que se encontrem citações de temas ou canções populares.

80 FORA DE SÉRIE 29 DE OUTUBRO


Palácio Imperial de Viena por Joseph Schütz.

No conjunto da obra de Mozart, o mais

viola(s), violoncelo(s) e tímpanos.

célebre deles é obviamente Eine Kleine

Das serenatas de Mozart, talvez essa

Nachtmusik (uma musiquinha noturna...

seja a que se assemelhe mais com

ou, como foi já traduzido, uma pequena

a suíte de danças, a despeito de sua

serenata noturna). São cerca de duas

brevidade. Não obstante, seu caráter

dezenas de divertimentos e mais

concertante lhe confere um aspecto

de uma dúzia de serenatas, à parte

arcaizante (no procedimento! Não no

algumas outras obras do gênero.

estilo ou na linguagem!) raro de se observar no Classicismo. Igualmente

A Serenata K. 239 (Noturna) foi

raro é o nítido trabalho com o espaço: o

composta em Salzburgo, em janeiro

diálogo entre dois grupos instrumentais,

de 1776. Uma curiosidade é que,

posto que já explorado desde pelo

no manuscrito, título e data estão

menos o século XVI, constitui uma clara

grafados na caligrafia de Leopold

experiência com efeitos acústicos. Fato

Mozart. Mas ela tem o diferencial de

importante é notar que o Rondó final

(fato raro no século XVIII, mas não

insere (ou cita), claramente, algum

invulgar no Barroco) ter sido composta

tema de origem popular.

para dois grupos instrumentais: o primeiro é formado por dois violinos

Encomendada para a cerimônia

solistas, primeira viola e contrabaixo;

de encerramento do ano letivo da

o segundo é composto por primeiro(s)

Universidade de Salzburgo, a Serenata

e segundo(s) violino(s), segunda(s)

em Ré maior K. 320 foi composta e

81 FORA DE SÉRIE 29 DE OUTUBRO


estreada em 1779, quando o compositor

(uma brincadeira musical), K. 522,

ainda aí residia. Na sua instrumentação,

composta em junho de 1787, para duas

que valoriza particularmente

trompas e quarteto de cordas. Mozart,

determinados instrumentos de sopro,

ao que parece, nunca teve a intenção

Mozart elabora trechos relevantes

de satirizar ninguém com essa obra,

para a flauta e o oboé (como no

que, a despeito disso, tem algo de

terceiro e quarto movimentos) e inclui

claramente irônico, tanto no tratamento

inusitadamente partes para o flautim,

das trompas, quanto no caráter. Vinda

no primeiro trio do segundo minueto e

de Mozart, essa ironia poderia soar,

um solo para a trompa de posta. Em

hoje, ao ouvinte desatento, como uma

uma época em que o e-mail sequer

ousadia profética. Não se trata de

era concebido e na qual a eletricidade

nada disso! Mozart era um compositor

era curiosidade de circo, a chegada

de teatro, e sua música transpira,

e saída dos correios, único meio de

em cada poro, a arte dramática, seja

comunicação a distância, era um

em seu aspecto comovente, seja no

evento importante. Ele era anunciado,

trágico ou no burlesco.

dentre outras coisas, por um toque de trompa. Da mesma forma que, em

Mozart brinca, aqui, com o próprio

nossas cidades históricas, cada tipo de

sistema tonal, com a quadratura da

badalada dos sinos das igrejas tem um

estrutura melódica clássica, com o

significado específico, o toque da trompa

estilo concertante, enfim, com todo

de posta era imediatamente reconhecível

o mundo musical que ele próprio

e distinto do toque da trompa de caça,

dominava e em que se inseria!...

usado obviamente para as caçadas.

Brinca, ainda, com a tradição

Ouve-se esse solo de trompa no

polifônica, em que tinha mestria:

segundo trio do segundo minueto,

basta ouvir suas missas... Ao ouvinte

o que conferiu o subtítulo à obra.

desatento, a primeira audição dessa obra há de causar imediatamente um

“Satírica” foi como alguns críticos

estranhamento: não será demasiado

classificaram Ein Musikalischer Spass

vislumbrar alguém que imagine que os

82 FORA DE SÉRIE 29 DE OUTUBRO


músicos possam ter se enganado em

desalinho com o contexto musical, tudo

alguma passagem, ou que as trompas

isso constitui uma grande brincadeira.

estejam desafinadas. Àquele que tenha alguma formação musical, porém, o

E ainda assim essa brincadeira soa

resultado dessa obra soa como um

profética. Os acordes do último

paradoxo, aliás bem moderno: ao

movimento o comprovam! Já se disse

mesmo tempo elegante e grotesco,

que o presente é que elabora seus

como se a maquilagem do século XVIII

precursores. Na Brincadeira Musical

estivesse borrada, revelando um rosto

K. 522, o passado se antecipou.

desgastado. Dissonâncias insólitas, a representação irônica (no sentido teatral do termo) de um frustrado contraponto

MOACYR LATERZA FILHO Pianista e cravista, Doutor em Literaturas de Língua Portuguesa,

imitativo, o relevo dado às trompas, que

professor da Universidade do Estado de Minas

parecem ora perder o siso, ora estar em

Gerais e da Fundação de Educação Artística.

O imperador Josef II (à direita) e seu irmão, arquiduque Leopold. Pintura de Pompeo Batoni.

83 FORA DE SÉRIE 29 DE OUTUBRO


Último capítulo

84


FABIO MECHETTI, regente MARCUS JULIUS LANDER, clarinete MARIANA ORTIZ, soprano LUISA FRANCESCONI, mezzo-soprano LUCIANO BOTELHO, tenor SAULO JAVAN, baixo

PROGRAMA

9

10 DE DEZEMBRO A CLEMÊNCIA DE TITO, K. 621: ABERTURA Marcus Julius Lander

CONCERTO PARA CLARINETE EM LÁ MAIOR, K. 622 • Allegro • Adagio • Rondo: Allegro — INTERVALO —

REQUIEM, K. 626 • Introitus – Requiem – Kyrie

Mariana Ortiz Luisa Francesconi Luciano Botelho Saulo Javan

• Dies irae

Tuba mirum Rex tremendae Recordare Confutatis Lacrimosa

• Offertorium

Domine Jesu Christe Hostias

• Sanctus • Benedictus • Agnus Dei • Communio – Lux Aeterna 85 FORA DE SÉRIE 10 DE DEZEMBRO


Integrou ainda a Orquestra Acadêmica da Cidade de São Paulo e o Quarteto Paulista de Clarinetas. Foi também professor de clarinete e teoria musical no curso superior do Conservatório Dramático e Musical de São Paulo, professor assistente no projeto social Orquestra do Amanhã, oferecido FOTO MARIANA GARCIA

pelo Instituto Baccarelli na comunidade de Heliópolis,

MARCUS JULIUS LANDER

São Paulo, e artista residente no II Festival de Verão Maestro Eleazar de Carvalho, na cidade de Itu. Marcus foi bolsista de importantes festivais brasileiros,

Bacharel em Clarinete pela

como o Internacional de Campos do Jordão e o Música

Universidade Estadual Paulista, na

nas Montanhas, em Poços de Caldas. Participou de

classe do professor Sérgio Burgani,

masterclasses com renomados clarinetistas internacionais,

Marcus Julius iniciou seus estudos em

como Paul Meyer, Michael Collins, Munfred Pries, François

1996 com Edmilson Nery na Escola

Benda, Donald Montanaro e Michael Norsworthy.

Municipal de Música de São Paulo. Foi também aluno de Luis Afonso

Vencedor do Prêmio Isolisti (Brasil), na categoria Música

“Montanha” no curso de difusão da

Instrumental Erudita, retornou ao Brasil em 2009 e fixou

Escola de Comunicação e Artes da

residência em Belo Horizonte, onde integra a Orquestra

Universidade de São Paulo em 2001.

Filarmônica de Minas Gerais. Na Filarmônica, inicialmente

Agraciado com uma bolsa de estudos

atuou na função de Principal Assistente e em outubro de

por mérito no The Boston Conservatory,

2012 passou a Clarinete Principal.

Estados Unidos, cursou parte de seu mestrado na classe do professor

No âmbito internacional, Marcus participou de concursos e

Jonathan Cohler no ano de 2008.

audições nos Estados Unidos e França. Em viagens à China, foi artista residente no 8º Festival Internacional de Clarinete

O clarinetista atuou como spalla na

e Saxofone de Nan Ning em 2010, no Festival Internacional de

Banda Sinfônica Jovem do Estado

Clarinetes de Pequim em 2014 — cujo Concerto de Gala se deu

de São Paulo e como chefe de naipe

no anfiteatro da Cidade Proibida — e, em 2015, foi professor

das orquestras Jovem de Guarulhos,

palestrante nos conservatórios de Shenyang e Tai-Yuan.

do Instituto Baccarelli e da Sinfônica Jovem do Estado de São Paulo.

86 FORA DE SÉRIE 10 DE DEZEMBRO

Marcus Julius Lander é artista Gao Royal e D’addario Woodwinds.


Così fan tutte de Mozart; Salud, em La Vida Breve de Falla; Poppea, em L’Incoronazzione di Poppea de Monteverdi. No gênero da Zarzuela interpretou Lota em La Corte del Faraón, Aurora em Las Leandras e a Duquesa Carolina em Luisa Fernanda, esta última em uma coprodução entre o FOTO LUIS CORONA

Teatro Teresa Carreño, o Teatro Real de Madrid e a

MARIANA ORTIZ

Fundação SaludArte, sob direção de Pablo Mielgo. Em seu repertório estão ainda A Criação de Haydn, Carmina Burana de Orff, Requiem de Fauré, Sinfonia nº 2

Considerada uma das melhores vozes

de Mahler e a Nona Sinfonia de Beethoven. Interpretou

venezuelanas de sua geração, Mariana

também Canções Negras de Montsalvatge.

Ortiz estudou canto no Conservatório de Música do Estado de Aragua com Lola

Mariana Ortiz apresentou-se em importantes salas, como

Linares. Fez licenciatura em Educação

o Teatro Teresa Carreño, em Caracas, Thèatre des Champs

Musical na Universidade de Carabobo

Elysées, Paris, Staatsoper, Berlim, Thèatre de la Monnaie,

e obteve um master degree em Canto

Bruxelas, Royal Danish Opera da Dinamarca, Palácio

no Koninklijk Conservatorium Brussel,

das Artes, Belo Horizonte, Hollywood Bowl, Los Angeles,

Bélgica. Estudos de aperfeiçoamento

cantando sob a batuta de reconhecidos maestros, como

foram feitos com os maestros Isabel

Gustavo Dudamel, Diego Matheuz, Christian Vásquez,

Palacios (Venezuela), Mirella Freni e

Renè Jacobs, Simon Rattle, Lars Ulrik Mortensens,

Vittorio Terranova, entre outros.

Roberto Tibiriçá, Manuel Hernández Silva, Andrés Orozco Estrada, José Luis Rodilla, Rafael Frühbeck de Burgos,

Entre os papéis que interpretou estão

Helmuth Rilling, Evelino Pidò.

Proserpina e Messagera em L’Orfeo de Monteverdi; Mimi e Musette, em

Por sua interpretação de Manuela Saenz, na ópera

La Bohème de Puccini; Comtessa, em

Bolívar, de Darius Milhaud, recebeu excelente crítica da

As bodas de Fígaro de Mozart; Donna

revista francesa Opera Magazine: “A revelação é, no entanto,

Anna, em Don Giovanni de Mozart;

o canto luminoso e frutado de Mariana Ortiz, capaz de

Micaela, em Carmen de Bizet; Violeta

pianíssimos encantadores e de amplos agudos, e que

Valery, em La Traviata de Verdi; Gilda,

empresta sua beleza e seu engajamento a Manuela,

em Rigoletto de Verdi; Fiordiligi em

última companheira do Libertador”.

87 FORA DE SÉRIE 10 DE DEZEMBRO


Florença de Rota, em São Paulo. Em 2007, representou o Brasil no renomado concurso internacional de canto BBC Cardiff Singer of the World Competition. Durante os últimos anos, Luciano vem formando uma sólida carreira internacional e, recentemente, interpretou Giacomo, em La donna del Lago de Rossini, no Teatheran der Wien e no Grand Theatre du Geneve. Também foi Elvino, em La Sonnambula de Bellini, e Orphée, em Orphée et Euridice de Gluck, em Stuttgart Staatstheatre. Conde Almaviva, FOTO ROB MOORE

LUCIANO BOTELHO

em O barbeiro de Sevilha de Rossini, no Royal Opera House, Londres. Conde de Chalais, em Maria di Rohan de Donizetti, no Caramoor Festival, em Nova York. Em Genebra e Nantes, cantou o papel título em Conde Ory de Rossini. Foi Ramiro

Luciano Botelho é graduado em Canto

em Glyndebourne, Nancy e Malmo. Nemorino, em L’elisir

pela Unirio e em Música Sacra pelo

d’Amore de Donizetti, em Dijon e na English National Opera.

STBSB. Obteve, em 2006, o mestrado

Giannetto, em La gazzaladra de Rossini, na Opera de Massy.

em performance e o Curso de Ópera, na

Gennaro, em Lucrezia Borgia de Donizetti, em Varsóvia.

Guildhall School of Music and Drama,

Leicester, em Maria Stuarda de Donizetti, em Manheim.

como bolsista da Fundação Vitae,

Ferrando, em Così fan tutte de Mozart, no Festival de Verbier.

complementando seus estudos na

Percy, em Anna Bolena de Donizetti, com a English Touring

Cardiff International Academy of Voice.

Opera. E também foi Tonio, em La fille du regiment de Donizetti, no Holland Park.

O tenor fez sua estreia na cena lírica interpretando o papel de Tamino, em

No Brasil, o tenor se apresentou nas principais casas de

A Flauta Mágica de Mozart, no

ópera, cantando Nadir, em Les pêcheurs des perles de Bizet;

V Festival Amazonas de Ópera.

Nemorino e Tamino, além de Tebaldo, em I Capuleti e

Em outras edições do mesmo festival

I Montecchi de Bellini, no Theatro Municipal do Rio de

também foi Don Ottavio em Don Giovanni

Janeiro. No Palácio das Artes, em Belo Horizonte, cantou

de Mozart, Ramiro em La Cenerentola

Fenton, em Falstaff de Verdi. E no Teatro da Paz, em Belém,

de Rossini, e Conde Almaviva em

viveu Tamino. No Theatro Municipal de São Paulo destacam-

O barbeiro de Sevilha de Rossini.

se suas apresentações no papel título de Orfeo de Monteverdi,

Em 2003 foi aclamado pela crítica

Fadinard e Tybalt, em Romeu e Julieta de Gounod. Além disso,

brasileira como “um dos maiores

Luciano participou de concertos com a Osesp, Orquestra

talentos do país” por sua interpretação

Petrobrás Sinfônica, Orquestra de Câmara do Amazonas,

de Fadinard em O Chapéu de Palha de

Amazonas Filarmônica e Orquestra Sinfônica da USP.

88 FORA DE SÉRIE 10 DE DEZEMBRO


FOTO CASSIANO GRANDI

SAULO JAVAN Saulo Javan apresentou-se

Don Bartolo em O barbeiro de Sevilha. Dulcamara, em

recentemente com a Orquestra

L’elisir d’Amore, ele interpretou no Teatro da Paz, em Belém,

Sinfônica do Estado de São Paulo

no Theatro São Pedro, em São Paulo, e no Theatro Carlos

(Osesp) e gravou com a orquestra,

Gomes de Vitória. Apresentou-se na estreia nacional da

sob regência de Isaac Karabtchevsky,

ópera Dulcineia e Trancoso de Eli-Eri Gomes, no papel de

a Décima Sinfonia de Villa-Lobos.

Bozo, no XII Festival Virtuosi de Recife.

Interpretou Padre José na ópera Magdalena de Villa-Lobos, no Theatro

Javan cantou na ópera Salomé de Richard Strauss com

Municipal de São Paulo, e integrou o

a Osesp e na Petite Messe Solennelle de Rossini, sob

elenco da Cia. Brasileira de Ópera,

a regência de Naomi Munakata, na Sala São Paulo.

sob direção de John Neschling, no

Foi solista do concerto inaugural da Orquestra do Theatro

papel de D. Bartolo na ópera O barbeiro

São Pedro e nesse mesmo teatro interpretou Simone em

de Sevilha de Rossini, em turnê por

Gianni Schicchi de Puccini.

todo o Brasil. Interpretou também Trulove, em The Rake's Progress de

Em apresentações anteriores, Javan interpretou Salieri na

Stravinsky, no Theatro Municipal de

ópera Mozart e Salieri de Rimsky-Korsakov, O Franco-atirador

São Paulo. Ramphis, em Aida de Verdi,

de Weber, Don Giovanni de Mozart e Alcina de Haendel em

em Aracaju, sob direção de Guilherme

estreia brasileira.

Mannis. No Theatro São Pedro, em São Paulo, viveu o papel título da

Saulo Javan foi o vencedor do XIX Concurso Nacional de

ópera Don Pasquale de Donizetti e

Canto Heitor Villa-Lobos, em Araçatuba, SP, em 2002.

89

VEJA A BIOGRAFIA DE LUISA FRANCESCONI NA PÁGINA 64

FORA DE SÉRIE 10 DE DEZEMBRO


A CLEMÊNCIA DE TITO, K. 621: ABERTURA Viena, 1791 | 5 min 2 flautas, 2 oboés, 2 clarinetes, 2 fagotes, 2 trompas, 2 trompetes, tímpanos, cordas.

CONCERTO PARA CLARINETE EM LÁ MAIOR, K. 622 Viena, 1791 | 29 min 2 flautas, 2 fagotes, 2 trompas, cordas.

REQUIEM, K. 626 Viena, 1791 | 48 min

É

curioso que a missa mais famosa de Mozart, e uma das suas obras mais celebradas, não tenha sido totalmente composta por ele. Hoje, o mistério que a literatura (incluindo a História)

soube pintar com muita tinta sobre o Requiem K. 626 está quase todo esclarecido. A história do Requiem, embora romanesca, é simples: em julho de 1791, quando ainda trabalhava n’A Flauta Mágica, Mozart recebeu a encomenda de compor uma missa de réquiem. Uma vez composta, a

2 fagotes, 2 trompetes, 3 trombones,

obra deveria ser entregue a um emissário. O compositor

2 corni di basseto, tímpanos, cordas.

estava livre para compô-la como bem entendesse, mas não deveria jamais procurar saber o nome de quem a encomendara. Após a morte de Mozart, soube-se que o autor da encomenda era o Conde de Walsegg sur Stuppach, que era um falsário: encomendava secretamente, pagando bom preço, obras que fazia executar como suas. Antes de ir a Praga, para assistir ao doloroso fracasso da première de A Clemência de Tito, Mozart já havia começado a compor o Requiem. Pode-se concluir, portanto, que ele trabalhou nessa obra de forma intermitente, entre julho e novembro de 1791. Quando ele morreu, em cinco de dezembro, a obra ainda estava incompleta. Dois meses depois da sua morte, Constanze, sua viúva, remeteu ao emissário do conde de Walsegg a partitura completa de uma missa de réquiem. O fato é que, em dezembro de 1791, ela havia pedido ao mestre de capela Joseph Eybler, por quem Mozart tinha grande consideração, o favor de completá-la. Após algumas tentativas, Eybler desistiu da empresa. Aparentemente, Constanze recorreu a vários outros compositores antes de finalmente conferir a tarefa a Franz Xaver Süssmayr, discípulo de Mozart.

90 FORA DE SÉRIE 10 DE DEZEMBRO


Depreende-se, de uma carta de Süssmayr aos editores Breitkopf & Mozart em seus últimos anos de vida. Pintura de Johann Georg Edlinger.

Härtel, datada de fevereiro de 1800, até onde vão os originais de Mozart: o Requiem e o Kyrie são integralmente de Mozart; das cinco primeiras partes da Sequentia, Mozart compôs as partes vocais, deixou o baixo cifrado e algumas diretrizes para a orquestração. As últimas partes da Sequentia também são de Mozart, até o oitavo compasso, onde se ouve “judicandus homo reus”; todo o resto é de Süssmayr. Mozart esboçou as duas partes do Ofertório, mas a orquestração é toda de Süssmayr. Sanctus, Benedictus e Agnus Dei foram compostos por Süssmayr, que afirma ter repetido a fuga do Kyrie na parte final para dar maior coesão à obra. Sabe-se, porém, que essa repetição teria sido determinada pelo próprio Mozart. A orquestração do Requiem é um caso à parte: mesmo nos trechos orquestrados por Mozart, predominam os timbres escuros: não há oboés, flautas ou trompas, e a indicação original na parte dos clarinetes é para um par de cors de basset, da família dos clarinetes, mas com timbre um pouco mais grave.

91 FORA DE SÉRIE 10 DE DEZEMBRO


A despeito da intervenção de

A Clemência de Tito é uma opera seria,

Süssmayr, nota-se, porém, na

com libretto de Catterino Mazzolà

estrutura da obra, uma organização

(baseado em outro libreto, de

claramente mozartiana: a divisão

Metastasio), que trata da vida de Tito,

musical do texto, principalmente na

imperador romano. A despeito do

Sequentia, com seus claros e grandes

fracasso que foi sua estreia em Praga,

contrastes, mostra, para abordar uma

a seis de setembro, alcançou grande

mínima parte, o aspecto dramático que

popularidade após a morte de Mozart.

permeia a música de Mozart, em cada

Sua Abertura segue alguns padrões

uma de suas inflexões e em cada

consagrados pela ópera clássica, em

elemento constitutivo.

que os elementos temáticos que mais tarde tomarão lugar no drama já são

A partir de 1970 foram feitas várias

insinuados, e elaborados, de forma a

novas tentativas de se completarem os

introduzir o perfil dramático do enredo.

esboços do Requiem. A mais célebre, porém, a mais executada e a mais

No entanto, há que se destacar a

aceita é mesmo a versão de Süssmayr.

semelhança entre os materiais e os tratamentos temáticos desta Abertura

O ano da morte de Mozart foi um

e os da última sinfonia do compositor.

período de trabalho vário e árduo:

Coincidência ou não, o ouvinte

além do Requiem, são de 1791

familiarizado com a música de Mozart

A Flauta Mágica e A Clemência de

há de perceber claramente elementos do

Tito, o Concerto para clarinete, a

primeiro tema da Sinfonia nº 41, “Júpiter”

cantata maçônica O Elogio da Amizade

K. 551 e certas modulações que aí são

K. 623, o moteto Ave Verum Corpus

aspecto característico. Além disso, na

K. 618, além de alguma música

forma, embora superficialmente ela se

ligeira. Essa capacidade de trabalho,

assemelhe muito a outras aberturas de

mesmo em meio à adversidade

Mozart, em profundidade nota-se uma

pessoal e financeira, isso sim é

aproximação com a forma sonata, o que

um assombroso mistério!

por si só é fato raro na música dramática.

92 FORA DE SÉRIE 10 DE DEZEMBRO


Litografia de Eduard Friedrich Leybold, sobre imagem de Franz Schramms, retrata os últimos dias de Mozart.

Já é conhecida a predileção de Mozart

orquestral. É dispensável dizer que

pelo clarinete, instrumento nascido no

Mozart explora, nessa obra, os recursos

século XVIII. Para ele, Mozart fez duas

do instrumento. Mais importante

obras definitivas: o quinteto, K. 581, e

seria ressaltar o lirismo do segundo

o concerto, K. 622.

movimento, em que Mozart faz cantar o clarinete como nunca antes e raramente

Desse concerto não nos chegou

depois! Para este concerto, Mozart

nenhum manuscrito. A única pista

não compôs as cadências. Isso não

de sua origem, além da sua primeira

era fato raro no século XVIII, mas, via

edição, feita depois da morte de

de regra, os concertos eram executados

Mozart, é um fragmento, na caligrafia

pelos próprios compositores. Deixando

de Mozart (K. 584b / 621b), muito

a cargo de Stadler as cadências,

similar a um trecho do concerto para

Mozart revela não apenas a confiança

clarinete propriamente dito.

que depunha no executante, mas, numa visão moderna, abre as portas,

Composto para o notório clarinetista

mesmo no Classicismo, para as

Anton Stadler, que o estreou em

possibilidades de uma obra aberta.

Praga, em outubro de 1791, esse concerto é a sua última obra puramente instrumental. Embora siga a forma e a estrutura do concerto clássico,

MOACYR LATERZA FILHO Pianista e cravista, Doutor em Literaturas de Língua Portuguesa,

é de se notar a delicadeza com que,

professor da Universidade do Estado de Minas

aqui, o solista dialoga com o grupo

Gerais e da Fundação de Educação Artística.

93


para

ASSISTIR E OUVIR

1 — MENINO PRODÍGIO La finta semplice Orquestra de Câmara San Giorgio – Andrea Fornaciari, regente. Acesse: fil.mg/mfinta CD Mozart – La Finta Semplice – Carl Philipp Emmanuel Bach Kammerorchester – Peter Schreier, regente – Phillips – 1991

Sinfonia nº 1 Orquestra Acadêmica de São Francisco – Andrei Gorbatenko, regente. Acesse: fil.mg/msinf1 CD Mozart – Complete Symphonies – Academy of Saint Martin in the Fields – Neville Marriner, regente – Phillips – 1996

Concerto para piano nº 1 Orquestra Sinfônica do Japão Shinsei – Rudolf Barshai, regente – Sviatoslav Richter, piano. Acesse: fil.mg/mpiano1 CD W. A. Mozart – The Piano Concertos – English Chamber Orchestra – Jeffrey Tate, regente – Mitsuko Uchida, piano – Philips – 2006 (8 CDs) VINIL Mozart – The Complete Piano Concertos – Academica Wien; Orquestra Sinfônica de Londres – Eduard Melkus; Alceo Galliera; Witold Rowicki; Colin Davis, regentes – Ingrid Haebler, piano – Capella Phillips – 1978

Divertimento nº 1 Orquestra de Câmara Carl Philipp Emanuel Bach – Hartmut Haenchen, regente. Acesse: fil.mg/mdivertimento1

94

CD Mozart – The complete Mozart Divertimenti – New York Philomusica – NY Philomusica – 2002

Cassação nº 1 Orquestra de Câmara de Stuttgart – Wolfram Christ, regente. Acesse: fil.mg/mcassacao1 CD Mozart – Cassations K. 63, 99 e 100 – Salzburg Chamber Orchestra – Harald Nerat, regente – Naxos – 1994

2 — CONCERTOS Concerto para trompa nº 2 Orquestra de Câmara de Mito – Seiji Ozawa, regente – Radek Baborák, trompa. Acesse fil.mg/mtrompa2a e fil.mg/mtrompa2b CD Mozart – Concertos para Trompa – Orquestra Philharmonia de Londres – Herbert von Karajan, regente – Dennis Brain, trompa – EMI Records – 1953 (remasterização 1997, Inglaterra)

Concerto para fagote Orquestra da Suíça Romanda – Gilbert Audin, fagote. Acesse: fil.mg/mfagote CD Mozart – Concertos para clarinete, oboé e fagote – Wiener Philharmoniker – Karl Böhm, regente – Alfred Prinz, clarinete – Gerhard Turetschek, oboé – Dietman Zeman, fagote – Deutsche Grammophon Collection, 1975 – Ediciones Altaya, Barcelona, 1999 – Edição Brasileira, Manaus, 1999

Concerto para flauta e harpa


Orquestra RTSI - Neville Marriner, regente – Patrick Gallois, flauta – Fabrice Pierre, harpa. Acesse: fil.mg/mflautaharpa CD Mozart – Flute Concertos no. 1 and 2; Concerto for Flute and Harp – Swedish Chamber Orchestra – Patrick Gallois, regente / flauta – Fabrice Pune, harpa – Naxos, Estados Unidos – 2004

3 — TUDO EM FAMÍLIA A viagem musical de trenó A viagem musical de trenó – Grupo Eduard Melkus. Acesse: fil.mg/mtreno

Concerto para trombone

CD W. A. Mozart – Airs de concert – Orchestre de l’Opéra de Lyon – Theodor Guschlbauer, regente – Natalie Dessay, soprano – EMI Records Ltd, 2005 – EMI Music França, 1995

No, no, che non sei capace Les Ambassadeurs – Alexis Kossenko, regente – Sabine Devieilhe, soprano. Acesse: fil.mg/mcapace

Concerto para dois pianos Daniel Barenboim, regente – Vladimir Ashkenazy e Daniel Barenboim, pianos. Acesse: fil.mg/mdoispianos CD W. A. Mozart – Complete Piano Concertos – vol. 10 – Concertus Hungaricus – Mátyas Antal, regente – Jenö Jandó, piano – Dénes Várjon, piano – Naxos, Alemanha – 1991

Ricardo Mollá, trombone. Acesse: fil.mg/mtrombone CD Concerto Brasileiro – Leopold Mozart – Concerto para Trombone e Orquestra – Camerata Brasílica – Radegundis Feitosa, trombone – CPC-UMES, São Paulo – 2002

4 — SINFONIAS CD Mozart – Complete Symphonies

Sinfonia dos Brinquedos

– Academy of Saint Martin in the Fields – Neville Marriner, regente – Phillips – 1996

Denis Stevens, regente – Orquestra da BBC de Londres. Acesse: fil.mg/mbrinquedos

Sinfonia nº 31

CD Leopold Mozart – Toy Symphony; New Lambach and others symphonies – Toronto Chamber Orchestra – Kevin Mallon, regente – Naxos, Alemanha – 2008

Mia speranza adorata Les Ambassadeurs – Alexis Kossenko, regente – Sabine Devieilhe, soprano. Acesse: fil.mg/msperanza

Filarmônica de Viena – Karl Böhm, regente. Acesse: fil.mg/msinf31

Sinfonia nº 34 Filarmônica de Viena – Karl Böhm, regente. Acesse: fil.mg/msinf34

Sinfonia nº 40 Orquestra do Século XVIII – Frans Brüggen, regente. Acesse: fil.mg/msinf40

95


para

ASSISTIR E OUVIR

5 — RIVAIS E CONTEMPORÂNEOS O rapto do serralho DVD Mozart na Turquia: O Rapto no Harém – Orquestra de Câmara Escocesa – Charles Mackerras, regente – Paul Groves, tenor – Yelda Kodalli, soprano – Magnus Opus, Brasil – 2010 (Filmado no Palácio de Topkapi, Turquia, 2000, Antelope Films) Orquestra do Maggio Musicale de Florença – Zubin Mehta, regente. Acesse: fil.mg/mserralho

Il giorno onomastico CD Antonio Salieri – Il Giorno Onomastico; Sinfonia Veneziana; Variazione Sull’aria La Follia di Spagna – Orquestra Sinfônica de Londres – Zoltan Pesko, regente – Columbia – 2005. ÁUDIO Salieri – Il giorno onomastico London Mozart Players – Matthias Bamert, regente. Acesse: fil.mg/sonomastico

Concerto para oboé Orquestra de Câmara da Cidade de Hong-Kong – Jean Thorel, regente – François Leleux, oboé. Acesse: fil.mg/coboe CD The Oboe: Concertos by Bellini, Cimarosa, Donizetti, Dittersdorf e Salieri – Orquestra Sinfônica de Bamberg; Camerata de Berna – Thomas Furi; Peter Maag, regentes – Heinz Holliger, oboé – Deutsche Grammophon – 2007

CD W. A. Mozart – Symphonies nos. 34, 35 (Haffner) and 39 – Capella Istropolitana, Bratislava – Barry Wordsworth, regente – Naxos, Alemanha – 1988

6 — ÓPERA Così fan tutte DVD Mozart – Così fan tutte – Wiener Philharmoniker – Adam Fisher, regente – Miah Persson, Isabel Leonard, Florian Boesch, Topi Lehtipuu, Patricia Petibon, Bo Skovhus, solistas – ORF, Áustria – 2010 Orquestra Estatal da Ópera de Viena – Riccardo Muti, regente. Acesse: fil.mg/mcosi1 (Ato I) e fil.mg/mcosi2 (Ato II)

7 — MÚSICA INCIDENTAL Contradanças CD W. A. Mozart – The Dances & Marches – Complete Mozart Edition, vol. 3 – Wiener Mozart Ensemble – Willi Boskovsky, regente – Philips – 2006 VINIL W. A. Mozart – Marcha KV. 335; Cinco Contradanças KV. 609 – Orquestra Pro-Arte de Munique – Kurt Redel, regente – Erato – 1975 ÁUDIO Contradanças – Wiener Mozart Ensemble – Willi Boskovsky, regente. Acesse: fil.mg/mcontradancas

Sinfonia nº 39

Idomeneo

Orquestra de Câmara da Europa – Nicolaus Harnoncourt, regente. Acesse: fil.mg/msinf39

Orquestra Sinfônica da Rádio e Televisão Espanhola – Ignacio García Vidal, regente. Acesse: fil.mg/midomeneo

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DVD W. A. Mozart – Idomeneo Kv. 366 –The Metropolitan Orchestra and Chorus – James Levine, regente – Luciano Pavarotti, tenor – Hildegard Behrens, soprano – Deutsche Grammophon, Estados Unidos – 2006

Tamos, Rei do Egito CD W. A. Mozart – Thamos, king of Egypt – English Baroque Soloists; Monteverdi Chorus – John Eliot Gardner, regente – Polygram, Reino Unido – 2008

Serenata nº 9 Orquestra Sinfônica da Rádio da Baviera – Colin Davis, regente. Acesse: fil.mg/mserenata9

9 — ÚLTIMO CAPÍTULO A Clemência de Tito Orquestra da Ópera de Zurich – Franz Welser-Möst, regente. Acesse: fil.mg/mtito

ÁUDIO Tamos, Rei do Egito – Orquestra Sinfônica de Londres – Peter Maag, regente. Acesse: fil.mg/mtamos

CD Wolfgang Amadeus Mozart – La Clemenza di Tito – Orquestra e Coro da Ópera de Zurique – Nikolaus Harnoncourt, regente – Teldec – 1993

Les Petits Riens

Concerto para clarinete

Orquestra da Rádio e Televisão da Suíça Italiana – Ricardo Correa, regente. Acesse: fil.mg/mriens

Orquestra Filarmônica Tcheca – Manfred Honeck, regente – Sharon Kam, clarinete. Acesse: fil.mg/mclarinete

CD W. A. Mozart – Les Petits Riens; German Dances; Marches; Minuets – Symphony Nova Scotia – Georg Tintner, regente – Naxos, Estados Unidos – 2004

CD Mozart, Weber & Spohr – Clarinet Concertos – Orquestra Sinfônica de Londres – Colin Davis; Peter Maag, regentes – Gervase de Peyer, clarinete – London – 2005

8 — NA CORTE CD Mozart – Serenades – Academy of Saint Martin in the Fields – Neville Marriner, regente – Phillips – 1995

Uma brincadeira musical ÁUDIO Brincadeira – Intérpretes não identificados. Acesse: fil.mg/mbrincadeira

Requiem Sinfônica de Viena – Karl Böhm, regente. Acesse: fil.mg/mrequiem CD Wolfgang Amadeus Mozart – Requiem – Orquestra Filarmônica de Viena – Coro da Ópera Estatal de Viena – Karl Böhm, regente – Edith Mathis, Julia Hamari, Wieslaw Ochman, Karl Riederbusch, solistas – Deutsche Grammophon – 1985

Serenata nº 6 Filarmônica de Viena – Karl Böhm, regente. Acesse: fil.mg/mserenata6

97


para

VISITAR

www.mozart.com www.mozartproject.org

para

LER

Muito se escreveu sobre Mozart. As indicações procuram contemplar os livros mais recomendados, mesmo que alguns só estejam disponíveis em sebos ou bibliotecas.

C. M. Girdlestone – Mozart et ses Concertos

Henri Ghéon – Promenades avec Mozart –

pour piano – Desclée de Brouwer – 1953

Desclée de Brower – 1988

Camille Bellaigue – Mozart – Coleção

Kurt Pahlen – Mozart, crônica de vida

Les Musiciens Célèbres – Henri Laurens

e obra – Dante Pignatari, tradução –

Éditeur – 1935

Ed. Melhoramentos – 1991

Cliff Eisen (org.) – Wolfgang Amadeus

Norbert Elias – Mozart, sociologia de um

Mozart: a life in letters – Versão inglesa de

gênio – Sérgio Goes de Paula, tradução –

Stewart Spencer – Penguin Classics – 2007

Jorge Zahar Ed. – 1994

François-René Tranchefort – Guia da Música

Olívio Tavares de Araújo – Procurar Mozart –

Sinfônica – Nova Fronteira – 1990

Métron/Editora Síntese – 1991

H. C. Robbins Landon – 1791: o último ano

Richard Baker – Wolfgang Amadeus Mozart –

de Mozart – Newton Goldman, tradução –

Marco Antônio Esteves da Rocha, tradução –

Nova Fronteira – 1990

Jorge Zahar Ed. – 1985

H. C. Robbins Landon (org.) – Mozart, um

Roland de Candé – História Universal da

compêndio. Guia completo da música e da

Música – Eduardo Brandão, tradução –

vida de Wolfgang Amadeus Mozart – Mauro

Martins Fontes – 1994

Gama, Cláudia Martinelli Gama, tradução – Jorge Zahar Ed. – 1996

Wolfgang Amadeus Mozart – Cartas Vienenses – Gabor Aranyi, tradução –

Henri de Curzon – Vida de Mozart – Edite Magarino Tôrres, tradução – Atena – 1959

98

Ed. Veredas – 2004


Legendas das imagens PÁGINAS 10 E 11

Primeira página do manuscrito da Sinfonia Júpiter, K. 551. PÁGINAS 13 E 37

Mapas das viagens de Mozart desenhados a partir do livro de Jean-Victor Hocquard, Mozart, Coleção Solfèges, vol. 8, Éditions du Seuil, 1958. PÁGINA 20

The boy Mozart. Autor anônimo, possivelmente Pietro Antonio Lorenzoni. PÁGINA 28

Mozart. Pintura de Burchard Dubeck. PÁGINA 39

Família Mozart. Pintura de Johann Nepomuk della Croce. PÁGINA 46

Primeira página do manuscrito da Sinfonia Paris, K. 297. PÁGINA 52

Mozart. Autor desconhecido. PÁGINA 60

Cartaz da estreia de Così fan tutte no Burgtheater, em Viena, em 1790. PÁGINA 72

Mozart. Pintura de Barbara Krafft. PÁGINA 78

Mozart. Desenho de Doris Stock, 1789. PÁGINA 84

Partitura do Requiem com entrada do coro no início da obra. PÁGINA 99

Carta de Mozart a sua prima Maria Anna Thekla, 1779.

99


Filarmônica online WWW.FILARMONICA.ART.BR

OLÁ,   A SSINANTE

AMIGOS DA FILARMÔNICA

Bem-vindo(a) à Temporada 2016!

Nosso especial obrigado aos 114

Este ano, para ampliar sua

primeiros amigos da filarmônica.

experiência de concerto dentro e

Vocês tornaram possível a

fora da Sala Minas Gerais, propomos

arrecadação inicial, já depositada,

utilizar um meio mais ágil de

de R$ 138.548,11, muito importantes

comunicação entre nós: a área do

para o orçamento anual do

assinante, a página de nosso site

Instituto Cultural Filarmônica.

que é dedicada a você. Ela está disponível 24 horas por dia em

O Programa permanece aberto ao

www.filarmonica.art.br/

longo do ano. Todos aqueles que

assinaturas/area-do-assinante.

queiram participar são bem-vindos

Se preferir, você também pode

e imprescindíveis para a ampliação

continuar a entrar em contato com

da atuação de nossa Filarmônica.

a gente, de segunda a sexta, de 9h Conheça os Amigos da Filarmônica

a 18h, pelo telefone 3219-9009.

e as formas de colaboração em www.filarmonica.art.br/apoie/

Seja como for, é sempre um prazer atendê-lo.

doacao-de-pessoa-fisica.

CONHEÇA   A S  APRESENTAÇÕES  DA  FILARMÔNICA • Séries de assinatura: Allegro, Vivace,

• Turnês estaduais

Presto, Veloce, Fora de Série

• Turnês nacionais e internacionais

• Concertos para a Juventude

• Concertos de Câmara

• Clássicos na Praça • Concertos Didáticos

Visite www.filarmonica.art.br/

• Festival Tinta Fresca

filarmonica/sobre-a-filarmonica e

• Laboratório de Regência

conheça cada uma delas.

100


Para apreciar um concerto

CUMPRIMENTOS

APLAUSOS

Após o concerto, caso queira

Aplauda apenas no final das obras.

cumprimentar os músicos e convidados,

Veja no programa o número de

dirija-se à Sala de Recepções.

movimentos de cada uma e fique de olho na atitude e gestos do regente.

ESTACIONAMENTO Para seu conforto e segurança, a

CONVERSA

Sala Minas Gerais possui estacionamento,

A experiência do concerto inclui o encontro

e seu ingresso dá direito ao preço especial

com outras pessoas. Aproveite essa troca

de R$ 15 para o período do concerto.

antes da apresentação e no seu intervalo, mas nunca converse ou faça comentários durante a execução das obras. Lembre-se

PONTUALIDADE

de que o silêncio é o espaço da música.

Uma vez iniciado um concerto, qualquer movimentação perturba a execução da obra. Seja pontual e respeite o

CRIANÇAS

fechamento das portas após o terceiro

Caso esteja acompanhado por criança,

sinal. Se tiver que trocar de lugar ou

escolha assentos próximos aos corredores.

sair antes do final da apresentação,

Assim, você consegue sair rapidamente

aguarde o término de uma peça.

se ela se sentir desconfortável.

APARELHOS   C ELULARES

COMIDAS   E   B EBIDAS

Confira e não se esqueça, por

Seu consumo não é permitido no

favor, de desligar o seu celular ou

interior da sala de concertos.

qualquer outro aparelho sonoro.

TOSSE FOTOS  E  G RAVAÇÕES EM  Á UDIO  E  V ÍDEO

Perturba a concentração dos músicos

Não são permitidas na sala

e da plateia. Tente controlá-la com

de concertos.

a ajuda de um lenço ou pastilha.

101


Orquestra Filarmônica de Minas Gerais

DIRETOR ARTÍSTICO E REGENTE TITULAR

Fabio Mechetti REGENTE ASSOCIADO

Marcos Arakaki

PRIMEIROS VIOLINOS

Marcelo Nébias

FAGOTES

HARPA

Anthony Flint – Spalla

Nathan Medina

Catherine Carignan *

Giselle Boeters *

Rommel Fernandes – Spalla

Victor Morais ***

Associado

VIOLONCELOS

Andrew Huntriss

TECLADOS

Ara Harutyunyan – Spalla

Philip Hansen *

Francisco Silva

Ayumi Shigeta *

Assistente

Felix Drake ***

Ana Zivkovic

Camila Pacífico

TROMPAS

GERENTE

Arthur Vieira Terto

Camilla Ribeiro

Alma Maria Liebrecht *

Jussan Fernandes

Bojana Pantovic

Eduardo Swerts

Evgueni Gerassimov ***

Dante Bertolino

Emilia Neves

Gustavo Garcia Trindade

INSPETORA

Hyu-Kyung Jung

Eneko Aizpurua Pablo

José Francisco dos Santos

Karolina Lima

Joanna Bello

Lina Radovanovic

Lucas Filho

Matheus Braga

Robson Fonseca

Fabio Ogata

Rodrigo Bustamante

CONTRABAIXOS

TROMPETES

Rodrigo M. Braga

Colin Chatfield *

Marlon Humphreys *

ARQUIVISTA

Rodrigo de Oliveira

Nilson Bellotto ***

Érico Fonseca **

Ana Lúcia Kobayashi

Marcelo Cunha

Daniel Leal ***

SEGUNDOS VIOLINOS

Marcos Lemes

Tássio Furtado

Frank Haemmer *

Pablo Guiñez

Leonidas Cáceres ***

Rossini Parucci

TROMBONES

Gideôni Loamir

Walace Mariano

Mark John Mulley *

ASSISTENTE ADMINISTRATIVA

Roberta Arruda

Débora Vieira

Jovana Trifunovic

ASSISTENTES

Claudio Starlino Jônatas Reis

Diego Ribeiro **

SUPERVISOR DE MONTAGEM

Luka Milanovic

FLAUTAS

Wagner Mayer ***

Rodrigo Castro

Martha de Moura Pacífico

Cássia Lima *

Renato Lisboa

Mateus Freire

Renata Xavier ***

Radmila Bocev

Alexandre Braga

TUBA

André Barbosa

Rodolfo Toffolo

Elena Suchkova

Eleilton Cruz *

Hélio Sardinha

OBOÉS

TÍMPANOS

Klênio Carvalho

Alexandre Barros *

Patricio Hernández Pradenas *

Risbleiz Aguiar

MONTADORES

Tiago Ellwanger

Jeferson Silva

Valentina Gostilovitch VIOLAS

Ravi Shankar ***

João Carlos Ferreira *

Israel Muniz

PERCUSSÃO

Roberto Papi ***

Moisés Pena

Rafael Alberto *

Flávia Motta

Daniel Lemos ***

Gerry Varona

CLARINETES

Sérgio Aluotto

Gilberto Paganini

Marcus Julius Lander *

Werner Silveira

Juan Díaz

Jonatas Bueno ***

Katarzyna Druzd

Ney Franco

Luciano Gatelli

Alexandre Silva

102

* PRINCIPAL

** PRINCIPAL ASSOCIADO

*** PRINCIPAL ASSISTENTE

**** PRINCIPAL / ASSISTENTE SUBSTITUTO


GOVERNADOR DO ESTADO DE MINAS GERAIS

SECRETÁRIO DE ESTADO DE CULTURA DE MINAS GERAIS

Fernando Damata Pimentel

Angelo Oswaldo de Araújo Santos

VICE-GOVERNADOR DO ESTADO DE MINAS GERAIS

SECRETÁRIO ADJUNTO DE ESTADO DE CULTURA DE MINAS GERAIS

Antônio Andrade

João Batista Miguel

Instituto Cultural Filarmônica

(OSCIP – Organização da Sociedade Civil de Interesse Público – Lei 14.870 / Dez 2003)

Conselho Administrativo PRESIDENTE EMÉRITO

Jacques Schwartzman PRESIDENTE

Roberto Mário Soares CONSELHEIROS

Angela Gutierrez Berenice Menegale Bruno Volpini Celina Szrvinsk Fernando de Almeida Ítalo Gaetani Marco Antônio Pepino Marcus Vinícius Salum Mauricio Freire Mauro Borges Octávio Elísio Paulo Brant Sérgio Pena

Diretoria Executiva DIRETOR PRESIDENTE

Diomar Silveira DIRETOR ADMINISTRATIVOFINANCEIRO

Estêvão Fiuza DIRETORA DE COMUNICAÇÃO

Jacqueline Guimarães Ferreira DIRETORA DE MARKETING E PROJETOS

DIRETOR DE OPERAÇÕES

ASSISTENTE DE MARKETING

AUXILIARES DE

Ivar Siewers

DE RELACIONAMENTO

SERVIÇOS GERAIS

Eularino Pereira

Ailda Conceição Márcia Barbosa

DIRETOR DE PRODUÇÃO MUSICAL

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Equipe Técnica

Equipe Administrativa

GERENTE DE COMUNICAÇÃO

Merrina Godinho Delgado

Bruno Rodrigues Serlon Souza MENOR APRENDIZ

GERENTE ADMINISTRATIVOFINANCEIRA

GERENTE DE

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Sala Minas Gerais

GERENTE DE

GERENTE DE

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Jorge Correia

PRODUÇÃO MUSICAL

Claudia da Silva Guimarães ASSESSORA DE PROGRAMAÇÃO MUSICAL

Carolina Debrot PRODUTORES

Paulo Baraldi

Luis Otávio Rezende Narren Felipe

TÉCNICO DE ANALISTA CONTÁBIL

ÁUDIO E ILUMINAÇÃO

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Marciana Toledo (Publicidade)

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ANALISTAS DE MARKETING E PROJETOS

RECEPCIONISTA

Mozart 2016

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Lizonete Prates Siqueira

COORDENADORA

Mariana Theodorica

Zilka Caribé

DA EDIÇÃO Merrina

AUXILIAR ADMINISTRATIVO

Godinho Delgado

Pedro Almeida EDIÇÃO DE TEXTO

Berenice Menegale

TIRAGEM DE 2.000 EXEMPLARES PRODUZIDA EM PAPEL IMUNE.

103


MANTENEDOR

APOIO CULTURAL

APOIO INSTITUCIONAL

DIVULGAÇÃO

REALIZAÇÃO

SALA MINAS GERAIS Rua Tenente Brito Melo, 1.090 | Barro Preto | CEP 30.180-070 | Belo Horizonte - MG

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(31) 3219.9000 | Fax (31) 3219.9030




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