TEMPORADA 2016 FORA DE SÉRIE
SÁBADOS, 18H
apresentam
TEMPORADA 2016 FORA DE SÉRIE
Ministério da Cultura e Governo de Minas Gerais
Sábados, 18h
P. 5 P. 12
5 MARÇO
P. 21
Menino prodígio
2 ABRIL
CAROS AMIGOS E AMIGAS Fabio Mechetti MOZART, um pouco da obra e do coração, con affetto
MARCOS ARAKAKI, regente ERIKA RIBEIRO, piano La finta semplice, K. 51: Abertura Sinfonia nº 1 em Mi bemol maior, K. 16 Concerto para piano nº 1 em Fá maior, K. 37 Divertimento nº 1 em Mi bemol maior, K. 113 Cassação nº 1 em Sol maior, K. 63
P. 29
Concertos
MARCOS ARAKAKI, regente ALMA MARIA LIEBRECHT, trompa CATHERINE CARIGNAN, fagote CÁSSIA LIMA, flauta GISELLE BOETERS, harpa Concerto para trompa nº 2 em Mi bemol maior, K. 417 Concerto para fagote em Si bemol maior, K. 191 Concerto para flauta e harpa em Dó maior, K. 299
14 MAIO
P. 38
Tudo em família
FABIO MECHETTI, regente MARK JOHN MULLEY, trombone CLÁUDIA AZEVEDO, soprano CELINA SZRVINSK, piano MIGUEL ROSSELINI, piano — A viagem musical de trenó leopold mozart — Concerto para trombone alto em Ré maior leopold mozart — Sinfonia dos Brinquedos Mia speranza adorata – Ah, non sai qual pena, K. 416 No, no, che non sei capace, K. 419 Concerto para dois pianos em Mi bemol maior, K. 365 leopold mozart
18 JUNHO Sinfonias
P. 47
FABIO MECHETTI, regente Sinfonia nº 31 em Ré maior, K. 297, “Paris” Sinfonia nº 34 em Dó maior, K. 338 Sinfonia nº 40 em sol menor, K. 550
23 JULHO
P. 53
Rivais e contemporâneos
20 AGOSTO
TOBIAS VOLKMANN, regente convidado ALEXANDRE BARROS, oboé O rapto do serralho, K. 384: Abertura antonio salieri — Sinfonia em Ré maior, “Il giorno onomastico” domenico cimarosa — Concerto para oboé em dó menor Sinfonia nº 39 em Mi bemol maior, K. 543
P. 61
Ópera
FABIO MECHETTI, regente MARINA MORA, diretora de cena GABRIELLA PACE, Fiordiligi LUISA FRANCESCONI, Dorabella CARLA COTTINI, Despina DAVID PORTILLO, Ferrando LEONARDO NEIVA, Guglielmo LICIO BRUNO, Don Alfonso Così fan tutte, K. 588
1º OUTUBRO
P. 73
29 OUTUBRO
P. 79
10 DEZEMBRO
P. 85
FABIO MECHETTI, regente Contradanças, K. 609 Idomeneo: Música de Balé, K. 367 Tamos, Rei do Egito, K. 345 Les Petits Riens, K. 299b
Música incidental
FABIO MECHETTI, regente Uma brincadeira musical, K. 522 Serenata nº 6 em Ré maior, K. 239, “Noturna” Serenata nº 9 em Ré maior, K. 320, “Posthorn”
Na corte
Último capítulo
FABIO MECHETTI, regente MARCUS JULIUS LANDER, clarinete MARIANA ORTIZ, soprano LUISA FRANCESCONI, mezzo-soprano LUCIANO BOTELHO, tenor SAULO JAVAN, baixo A Clemência de Tito, K. 621: Abertura Concerto para clarinete em Lá maior, K. 622 Requiem, K. 626
P. 94 P. 100 P. 101
PARA ASSISTIR, OUVIR E LER FILARMÔNICA online PARA APRECIAR um concerto
4
CAROS amigos e amigas Uma das perguntas mais frequentes
Ao estudar uma obra de Mozart, fico embevecido
que recebo como maestro é sobre
com a absoluta perfeição técnica que ele imprime ao
quem é o meu compositor favorito.
que faz. A despeito disso, sua música soa absolutamente
Antes fosse assim tão fácil arriscar
fluente e natural, como se cada nota escrita não pudesse
uma resposta. As razões de um suposto
pertencer a qualquer outro lugar, mas somente àquele
favoritismo podem ser de natureza
onde foi colocada, perfeita, inevitável. Seja uma simples
estética, técnica, emocional, racional;
sonata para piano ou uma dupla fuga em uma de suas
até mesmo um “sei lá” é possível.
missas, Mozart nos mostra que a perfeição é possível e, o que nos deixa ainda mais envergonhados e
Alguns compositores são sobre-
despeitados, simples e fácil.
humanos, outros nos tocam profundamente por serem vulneráveis
Ao explorar a música de Mozart nesta temporada,
e, portanto, simplesmente humanos.
a Filarmônica visitará algumas de suas obras mais
Uns evocam a conquista e o otimismo,
famosas, como sua Sinfonia nº 40, vários de seus
outros, um pessimismo inexorável.
concertos e o Requiem, mostrando a diversidade de
Vários nos apresentam a controvérsia,
sua criação, o domínio absoluto que tinha das formas
muitos, a contemplação e o prazer. Mas
musicais tradicionais, assim como a maneira clara e
talvez só um, dentre os grandes gênios
eficiente com que trabalhou desde a mais tenra idade
da música ocidental, reúna todas essas
até sua morte precoce.
(e muitas outras) qualidades: Mozart. Enfim, sua obra reflete o que há de mais sublime Considerado unanimemente um dos
no espírito humano e, ao mesmo tempo que nos
maiores prodígios que já existiram,
entretém, nos eleva, pois sabemos que estamos
dotado de singular facilidade
diante de um ser que simboliza o que há de melhor
na arte de compor, dono de uma
na humanidade. Ninguém melhor do que outro gênio,
perfeição técnica e formal absoluta,
Einstein, para enxergar na música do grande compositor
mestre em qualquer forma e gênero,
austríaco a presença de uma beleza interna universal,
incrivelmente prolífico nos 35 anos
pronta para ser revelada.
que viveu, Johannes Chrysostomus Wolfgangus Theophilus (Amadeus
É isso que pretendemos: desvendar a beleza e a verdade
em latim) Mozart deixou para nós
contidas em dezenas de obras que, como há mais de
uma obra única, capaz de, ao mesmo
duzentos anos, mostram sua relevância nos dias de hoje.
tempo, surpreender os mais exigentes críticos e amantes da música, assim como chegar diretamente aos corações dos ouvintes mais leigos.
FABIO MECHETTI
Diretor Artístico e Regente Titular
5
FOTO EUGÊNIO SÁVIO
FABIO MECHETTI
Desde 2008, Fabio Mechetti é Diretor Artístico e
diretor artístico e regente titular
nos cenários nacional e internacional e conquistou
Regente Titular da Orquestra Filarmônica de Minas Gerais, sendo responsável pela implementação de um dos projetos mais bem-sucedidos no cenário musical brasileiro. Com seu trabalho, Mechetti posicionou a orquestra mineira vários prêmios. Com ela, realizou turnês pelo Uruguai e Argentina e realizou gravações para o selo Naxos. Natural de São Paulo, Fabio Mechetti serviu recentemente como Regente Principal da Orquestra Filarmônica da Malásia, tornando-se o primeiro regente brasileiro a ser titular de uma orquestra asiática. Depois de quatorze anos à frente da Orquestra Sinfônica de Jacksonville, Estados Unidos, atualmente é seu Regente Titular Emérito. Foi também Regente Titular da Sinfônica de Syracuse e da Sinfônica de Spokane. Desta última é, agora, Regente Emérito. Foi regente associado de Mstislav Rostropovich na Orquestra Sinfônica Nacional de Washington e com ela dirigiu concertos no Kennedy Center e no Capitólio norte-americano. Da Orquestra Sinfônica de San Diego, foi Regente Residente.
6
Fez sua estreia no Carnegie Hall de Nova York
No Brasil, foi convidado a dirigir a
conduzindo a Orquestra Sinfônica de Nova Jersey e tem
Sinfônica Brasileira, a Estadual de
dirigido inúmeras orquestras norte-americanas, como as
São Paulo, as orquestras de Porto Alegre
de Seattle, Buffalo, Utah, Rochester, Phoenix, Columbus,
e Brasília e as municipais de São Paulo
entre outras. É convidado frequente dos festivais de
e do Rio de Janeiro. Trabalhou com
verão nos Estados Unidos, entre eles os de Grant Park
artistas como Alicia de Larrocha,
em Chicago e Chautauqua em Nova York.
Thomas Hampson, Frederica von Stade, Arnaldo Cohen, Nelson Freire, Emanuel
Realizou diversos concertos no México, Espanha e
Ax, Gil Shaham, Midori, Evelyn Glennie,
Venezuela. No Japão dirigiu as orquestras sinfônicas de
Kathleen Battle, entre outros.
Tóquio, Sapporo e Hiroshima. Regeu também a Orquestra Sinfônica da BBC da Escócia, a Orquestra da Rádio e TV
Igualmente aclamado como regente
Espanhola em Madrid, a Filarmônica de Auckland, Nova
de ópera, estreou nos Estados Unidos
Zelândia, e a Orquestra Sinfônica de Quebec, Canadá.
dirigindo a Ópera de Washington. No seu repertório destacam-se produções
Vencedor do Concurso Internacional de Regência
de Tosca, Turandot, Carmen, Don Giovanni,
Nicolai Malko, na Dinamarca, Mechetti dirige
Così fan tutte, La Bohème, Madame Butterfly,
regularmente na Escandinávia, particularmente a
O barbeiro de Sevilha, La Traviata e Otello.
Orquestra da Rádio Dinamarquesa e a de Helsingborg, Suécia. Recentemente fez sua estreia na Finlândia
Fabio Mechetti recebeu títulos
dirigindo a Filarmônica de Tampere e na Itália,
de mestrado em Regência e em
dirigindo a Orquestra Sinfônica de Roma. Em 2016 fará
Composição pela prestigiosa
sua estreia com a Filarmônica de Odense, na Dinamarca.
Juilliard School de Nova York.
7
8
9 FOTO RAFAEL MOTTA
10
WOLFGANG AMADEUS MOZART
Salzburgo, 27 de janeiro de 1756 — Viena, 5 de dezembro de 1791
11
Mozart
UM POUCO DA OBRA E DO CORAÇÃO, con affetto Wolfgang Amadeus Mozart,
e cotidiana do pai — bom músico
sempre tão amado, venerado pelos
e pedagogo —, os contatos que
maiores músicos de sua época, única
teve com a música e os músicos de
unanimidade na admiração dos
sua época e, principalmente, sua
grandes mestres que o sucederam,
própria intuição genial. Por esta
autor de mais de seiscentas obras
se explica a facilidade e alegria
conhecidas, morreu em Viena
com que Wolfgang se dispunha a
na miséria e no abandono, sem
escrever música quando solicitado,
completar 36 anos.
ou para seu próprio prazer, e a abordagem de todos os gêneros já na
Nunca serão demasiados os esforços
infância. Isso não impedia que, para
para restaurar-se a verdade a respeito
o instrumentista admirável que já
da pessoa do criador, distorcida
era, fosse insuportável apresentar-se
através do tempo, e para ampliar o
diante de pessoas que ele percebia
conhecimento de sua imensa obra.
desinteressadas, que não sabiam apreciar a sua música.
Que Wolfgang, criança de precocidade genial e fascinante
As viagens — não raro
personalidade, teria encontrado
decepcionantes do ponto de vista
seu irreprimível caminho na música,
prático do pai e cansativas ao
mesmo sem a onipresença do pai
extremo para a criança — foram
na infância — é uma evidência.
acima de tudo essenciais para forjar
Desde muito cedo, a consciência
a largueza do espírito de Mozart
de seu destino de compositor era
e permitir sua aproximação de
claríssima para ele.
outras escolas, de modo especial a música italiana e a escola
No entanto, para que absorvesse
de Mannheim — influências
e praticasse todo o conhecimento
fundamentais na elaboração de
musical germânico, foram condições
sua obra —, preservando sempre,
determinantes a orientação metódica
contudo, os insumos da escola alemã.
12
AMSTERDÃ (1766) HAIA
LONDRES (1764-65)
Roteiro de viagem da família Mozart às cortes da Europa, entre 1763 e 1766.
UTRECHT
ROTERDÃ
ANTUÉRPIA MALINAS GANTE LOVAINA
DUNQUERQUE
LILLE
BRUXELAS
LIÈGE
COLÔNIA BONN
AACHEN
COBLENÇA FRANKFURT
MAINZ WORMS
HEIDELBERG
MANNHEIM 1763-64
LUDWIGSBURGO PARIS
176
1766
3 AUGSBURGO
ULM 1766 SCHAFFHAUSEN
MUNIQUE
SALZBURGO WINTERTHUR
DIJON BERNA
ZURIQUE
LAUSANNE GENEBRA LYON
É bom lembrar que os trajetos, por
de ser chamado Bach de Londres, fora
mais extenuantes e demorados que
o Bach de Milão — foi especialmente
fossem, eram apenas os entreatos de
afetuoso, além de fecundo pela
longas temporadas que, estas sim,
orientação que desse mestre recebeu.
proporcionavam a Wolfgang o tempo
Dele teve as primeiras lições sobre a
de crescer aprendendo, de escutar
ópera italiana, mais especificamente
novas músicas, de ter influências e
sobre a característica ópera buffa
encontros decisivos.
napolitana. Aliás, foi de Londres que Leopold escreveu a sua mulher:
Iniciado em abril de 1764, e estando
"ele tem sempre uma ópera na
Wolfgang com oito anos, o estágio
cabeça", uma demonstração de
de dezesseis meses em Londres teve
que já aos oito anos se instalava
repercussões indeléveis. Wolfgang
no espírito de Wolfgang a paixão
compôs ali suas primeiras sinfonias,
que viria a ser avassaladora — o
ouviu oratórios de Haendel e assistiu
teatro musical, o melodrama.
a óperas italianas. Seu contato com
O que nos assombra hoje, mais que
Johann Christian Bach — que, antes
as habilidades da criança prodígio, é
13
a profundidade com que Wolfgang
ele crescia em graça e sabedoria,
processava vertiginosamente o
acumulando sem trégua experiências
seu desenvolvimento e quão reta e
extraordinárias, construindo
certeira foi a sua trajetória.
seu direcionamento estético, confirmando sua vocação dramático-
A narrativa das viagens
musical, deixando que o coração
empreendidas por iniciativa de
guiasse as suas escolhas.
Leopold, contida em suas cartas e nos bilhetes de Wolfgang e da irmã
Escutar e apreciar exemplos de
Nannerl, nos leva a conhecer o processo
suas músicas nas diferentes idades
de aprendizado musical — totalmente
nos deixa concluir que também
fora de qualquer padrão —, assim
o amadurecimento artístico de
como a formação da personalidade
Wolfgang foi espantosamente
e do coração de Mozart.
precoce e acelerado, como que numa antevisão de quão curto
Surpreende-nos ainda hoje perceber
era o prazo que lhe seria dado.
que, irrigada por sua genialidade e suas escolhas, sua obra imortal
A primeira viagem à Itália, que
estava germinando e florescendo,
se dá às vésperas de Wolfgang
sem desvio, desde os primeiros sons e
completar quatorze anos, é a
rabiscos da criança.
primeira que o menino empreende em companhia apenas do pai.
Quando Leopold dizia que o menino
As experiências dessa temporada
"tinha a música inteiramente na cabeça antes de escrevê-la", dizia-o não com incredulidade, mas sem compreender bem o que aquilo significava. Sempre foi assim para Wolfgang. Ao final, faltou-lhe força física para terminar o Requiem que desde a data da encomenda trazia acabado na cabeça. Aos olhos da aristocracia e da burguesia europeias, Wolfgang perdia, ao crescer, tanto o charme da precocidade como a perspectiva de celebridade futura. Mas, na verdade,
14
Nannerl Mozart. Pintura atribuída a Pietro Antonio Lorenzoni, 1763c.
A casa natal de Mozart, ao fundo, à esquerda, localizada na Löchelplatz, em Salzburgo. Museum Carolino Augusteum, Salzburgo.
são numerosas e especiais, pelas
alegria do jovem de quatorze anos
encomendas que cumpriu e estreou
por essa estupenda oportunidade.
(incluindo a ópera Mitridate Re
Martini será sempre uma referência
di Ponto) e pelas ocasiões de mostrar
musical e afetiva para Mozart.
quão excelente músico ele já era. Porém, mais significativos para
Acompanhar as vicissitudes da
Wolfgang foram os contatos sérios
vida de Mozart e ao mesmo tempo
e proveitosos com músicos do quilate
seguir o desenvolvimento de sua
do lendário Padre Giovanni Battista
obra é uma forma de desvendar o
Martini (1706-1784), de Bolonha.
seu coração e sua personalidade.
Para trabalhar intensivamente
Wolfgang, desde que entrara na
contraponto com Martini, de quem
adolescência, tinha o comportamento
já ouvira falar por Christian Bach,
de um músico profissional, e como
Wolfgang volta a Bolonha, "a Douta",
tal foi reconhecido na Itália. Ao
onde permanece por três meses.
mesmo tempo, com sua intuição
Pode-se imaginar o empenho e a
muito clara sobre o que queria
15
conhecer e aprender, não dissipava as oportunidades. Adquiria o equilíbrio que sempre transpareceu em sua música. Era alegre e afetuoso, desbocado nas brincadeiras e na correspondência, sempre disposto a teatralizar, generoso, dedicado aos amigos e, quanto à música, exigente e responsável. Uma espiritualidade sincera era perceptível em suas atitudes, além de um senso ético profundo que transparece à medida que, na juventude, começa a reagir
Anna Maria Mozart. Pintura de Rosa Hagenauer-Barducci.
às fraquezas e às injustiças dos ambientes nos quais convive. Um sinal, dentre muitos, de seu belo
sua personalidade musical
caráter e total falta de jactância
inconfundível bem estruturada.
é que a concessão do diploma honorífico da Academia Filarmônica
Em 1777 partiu com destino a Paris
de Bolonha, após um exame de
acompanhado apenas de sua mãe,
máximo rigor, jamais foi motivo
numa viagem muito atribulada,
de alarde ou vaidade por parte de
que se não foi particularmente
Wolfgang, que se negava a exibi-lo,
importante do ponto de vista da
assim como também recusava usar
carreira de Wolfgang, marcou-se
a insígnia de Cavaleiro da Ordem
por acontecimentos que o abalaram
da Espora de Ouro, que o Papa lhe
emocionalmente e que viriam a
concedera. Sua simplicidade não era
ter repercussão em seu futuro: o
isenta de firme senso de dignidade.
encontro com Aloysia Weber, linda
Apelava com energia a seu pai para
soprano de quinze anos por quem se
que não se rebaixasse ao tentar uma
enamora em Mannheim, sem poder
oportunidade em favor do filho.
dar continuidade ao romance, e a morte inesperada, em Paris, de sua
Wolfgang entrara para o serviço
mãe. Apesar de seu descontentamento
do Príncipe-Arcebispo aos treze
com a cidade, compôs algumas
anos, como organista sem salário.
músicas importantes, como uma
De 1773 até a viagem a Paris, quase
Sinfonia Concertante para Sopros, o
não se ausentou de Salzburgo e
belo Concerto para flauta e harpa,
compôs muita música, já com
Variações e Sonatas para piano —
16
entre as quais a surpreendente e
onde escreveu o Quarteto com oboé
dramática em lá menor e a Sonata em
K. 370, Wolfgang deixa Salzburgo
lá maior, célebre pelo rondó alla turca,
definitivamente. Rebelara-se em
e várias outras obras. Não é pouca
episódio recontado à exaustão, para
coisa para cinco meses! Na volta a
acabar sendo o primeiro músico
Salzburgo segue o mesmo trajeto e,
autônomo da história da música.
no reencontro com Aloysia, a moça se mostra indiferente.
Instala-se em 1781 em Viena e decide casar-se com Constanze
Wolfgang, de novo em Salzburgo,
Weber, irmã de Aloysia, que será
é ainda bem jovem. Começa o ano de
sua companheira até o fim.
1779 compondo a Sonata para piano e violino em si bemol e o Concerto para
Apenas dez anos para viver em
dois pianos em mi bemol. Em março
Viena, para realizar a sua obra!
escreve a Missa da Coroação, sinfonias
Viveu — nessa cidade tão alegre e tão
e cerca de cinquenta obras, a maior
triste, tão séria e tão inconsequente —
parte delas longas e complexas,
dias de exaltação e de depressão.
evidenciando sua evolução técnica.
Teve dias de glória e de penúria. Mas Mozart não expressava com
Após um retorno a Munique, aonde
sua música as circunstâncias de
foi para montar e estrear com
sua existência. Revelava, sim, a sua
grande sucesso a ópera Idomeneo, e
alma. Já escrevera de Munique a seu
Constanze Mozart. Pintura de Joseph Lange, 1782.
17
pai: "Ich bin vergnügt weil ich zu
Em mais de uma ocasião elevou a
komponieren habe, welche ist doch
voz para declarar: — Mozart é o
meine einzige Freude und Passion". —
maior compositor que já existiu!
Estou contente porque tenho o
Uma dessas vezes foi após a estreia
que compor, o que é mesmo a
de Don Giovanni.
minha única alegria e paixão. Melhor que ler sobre Mozart é escutar Wolfgang compôs nessa década
sua música, buscar aquela que não
aproximadamente trezentas obras.
se ouviu ainda, descobrir a beleza
Podemos dizer sem receio que são
incomparável de suas melodias, deixar-
trezentas obras-primas. É impossível
se emocionar com a doçura, mas
deixar de citar Don Giovanni,
também com a pungência, com tudo o
Le nozze di Figaro, Così fan tutte,
que lhe ia na alma e que se traduz em
O rapto do serralho, A Flauta Mágica;
sua obra. Felizmente existem gravações
as mais belas e fantásticas sinfonias,
de, pelo menos, essas cerca de trezentas
numerosos concertos para piano,
obras dos últimos dez anos.
música religiosa, música maçônica, inúmeros quartetos e quintetos...
Por ter vivido na segunda metade
O Requiem, obra que povoou o
do século XVIII, e por ser o
espírito de Mozart de lúgubres
menos sectário e o mais aberto
sensações e que ficou inacabada...
dos compositores, o conceito de
Tudo é insuficiente ou então demasiado e desnecessário quando se trata de falar ou escrever sobre Mozart, tanto sobre a obra quanto sobre seu espírito. Sabemos como lhe foi reconfortante, sempre, a comovente amizade e o afeto que o uniram a Haydn; Mozart jovem, Haydn já músico consumado e célebre — eles tiveram alguns contatos de profunda compreensão e admiração mútua. Mozart se influenciou por Haydn na juventude e Haydn, mais tarde, se deixou conscientemente influenciar por Mozart, o que ele próprio declarava com simplicidade.
18
Joseph Haydn. Pintura de Thomas Hardy.
O piano de Mozart. Mozart Museum, Internationale Stiftung Mozarteum, Salzburgo.
clássico é insuficiente para a sua
verdade humana das personagens
música, que, pelo elaboradíssimo
e o sentido do ritmo teatral.
uso do cromatismo como elemento expressivo, tem, sem qualquer
Wolfgang Amadeus Mozart é o
pretensão revolucionária, conotações
único grande mestre da música
românticas e trágicas que aproximam
verdadeiramente universal, por
Beethoven de sua obra. Alguns
ter criado obras-primas, com
atributos sensíveis a tornam acessível.
a mesma grandeza e a mesma
Na música instrumental, o primeiro,
dedicação, em absolutamente todos
sem dúvida, é a beleza e a perfeição
os gêneros musicais.
da melodia; outro é o equilíbrio da forma, da instrumentação, a complexa estruturação das vozes.
BERENICE MENEGALE Pianista e diretora da
Na ópera, o que mais seduz é a
Fundação de Educação Artística.
19
Menino prodĂgio
20
MARCOS ARAKAKI, regente ERIKA RIBEIRO, piano
PROGRAMA
1
5 DE MARÇO LA FINTA SEMPLICE, K. 51: ABERTURA SINFONIA Nº 1 EM MI BEMOL MAIOR, K. 16 • Allegro molto • Andante • Presto
CONCERTO PARA PIANO Nº 1 EM FÁ MAIOR, K. 37 Erika Ribeiro
• Allegro • Andante • Allegro — INTERVALO —
DIVERTIMENTO Nº 1 EM MI BEMOL MAIOR, K. 113 • Allegro • Andante • Menuetto • Allegro
CASSAÇÃO Nº 1 EM SOL MAIOR, K. 63 • Marche • Allegro • Andante • Menuetto • Adagio
• Menuetto • Finale: Allegro assai
21 FORA DE SÉRIE 5 DE MARÇO
Festival Internacional de Campos do Jordão em 2009, ambos como primeiro colocado. Foi também semifinalista no 3º Concurso Internacional Eduardo Mata, realizado na Cidade do México em 2007. Além da Orquestra Filarmônica de Minas Gerais, Marcos Arakaki tem dirigido outras importantes orquestras tanto no Brasil como no exterior. Estão entre elas as orquestras sinfônicas FOTO RAFAEL MOTTA
Brasileira (OSB), do Estado de São Paulo (Osesp), do Teatro
MARCOS ARAKAKI
Nacional Claudio Santoro, do Paraná, de Campinas, do Espírito Santo, da Paraíba, da Universidade de São Paulo, a Filarmônica de Goiás, Petrobras Sinfônica, Orquestra Experimental de Repertório, orquestras de Câmara da Cidade
Marcos Arakaki é Regente Associado
de Curitiba e da Osesp, Camerata Fukuda, dentre outras.
da Filarmônica de Minas Gerais e
No exterior, dirigiu as orquestras Filarmônica de Buenos
colabora com a Orquestra desde 2011.
Aires, Sinfônica de Xalapa, Filarmônica da Universidade
Bacharel em música pela Universidade
Autônoma do México, Kharkiv Philharmonic da Ucrânia e
Estadual Paulista, na classe de violino
a Boshlav Martinu Philharmonic da República Tcheca.
do professor Ayrton Pinto, em 2004 concluiu o mestrado em Regência
Acompanhou importantes artistas do cenário erudito, como
Orquestral pela Universidade de
Gabriela Montero, Sergio Tiempo, Anna Vinnitskaya, Sofya
Massachusetts (EUA). Participou
Gulyak, Ricardo Castro, Rachel Barton-Pine, Chloë Hanslip,
do Aspen Music Festival and School
Luíz Filíp, entre outros.
(2005), recebendo orientações de David Zinman na American Academy
Ao longo dos últimos dez anos, Marcos Arakaki tem
of Conducting at Aspen, nos Estados
contribuído de forma decisiva na formação de novas
Unidos, além de masterclasses com
plateias, por meio de apresentações didáticas, bem como
os maestros Kurt Masur, Charles Dutoit
na difusão da música de concertos através de turnês a
e Sir Neville Marriner. Sua trajetória
mais de setenta cidades brasileiras. Atua, ainda, como
artística é marcada por prêmios como
coordenador pedagógico, professor e palestrante em diversos
o do 1º Concurso Nacional Eleazar
projetos culturais e em instituições como Casa do Saber do
de Carvalho para Jovens Regentes,
Rio de Janeiro, programa Jovens Talentos de Furnas, Música
promovido pela Orquestra Petrobras
na Estrada, Universidade Federal da Paraíba, Universidade
Sinfônica em 2001, e do Prêmio
Federal do Rio Grande do Norte, Universidade Federal
Camargo Guarnieri, concedido pelo
de Roraima e em vários conservatórios brasileiros.
22 FORA DE SÉRIE 5 DE MARÇO
Conhecida pela elegância, inteligência
Atuou à frente das orquestras Filarmônica de Gaia, Portugal,
e sutileza de suas interpretações, a
Filarmônica de Kalisz, Polônia, Orquestra Sinfônica Brasileira,
pianista Erika Ribeiro é considerada
Orquestra Experimental de Repertório, Orquestra Sinfônica
uma das artistas mais expressivas de
do Espírito Santo, entre outras, e realiza com frequência
sua geração. Sua musicalidade singular
parcerias ao lado de destacados maestros e músicos, como
e grande versatilidade combinam em
Emmanuele Baldini, Claudio Cruz, Daniel Guedes, Quinteto
sua carreira trabalhos como solista,
Villa-Lobos, Carlos Prazeres, Luis Leite e Tatiana Parra.
recitalista e camerista. Erika iniciou seus estudos musicais com a mãe aos quatro anos de idade. Cursou a Escola de Música de Piracicaba e a
de piano — entre eles o III Concurso
Universidade de São Paulo (USP), concluindo seu mestrado
Nelson Freire — e premiada em
em Música sob orientação de Eduardo Monteiro. Estudou
mais de vinte, Erika tem se
durante dois anos na tradicional Hochschule für Musik
apresentado como solista na
Hanns Eisler, em Berlim, Alemanha, e participou de cursos
Sala São Paulo, Theatro Municipal
de aperfeiçoamento nos Estados Unidos, Suíça e França.
de São Paulo, Theatro São Pedro,
Atualmente leciona na Universidade Federal do Estado do
Auditório Ibirapuera, Sala Cecília
Rio de Janeiro (Unirio), onde, em 2014, assumiu a cátedra
Meireles e outros palcos.
de Música de Câmara e Recital.
FOTO ALINE MÜLLER
Vencedora de dez concursos nacionais
ERIKA RIBEIRO 23 FORA DE SÉRIE 5 DE MARÇO
LA FINTA SEMPLICE, K. 51: ABERTURA Viena, 1768 | 7 min 2 flautas, 2 oboés, 2 fagotes, 2 trompas, cordas.
SINFONIA Nº 1 EM MI BEMOL MAIOR, K. 16 Londres, 1764/1765 | 12 min 2 oboés, 2 trompas, cordas.
CONCERTO PARA PIANO Nº 1 EM FÁ MAIOR, K. 37
O
que causa assombro ao observador da História da música diante da obra de Mozart é menos o prodígio que nele se revelou muito precocemente — e que seu
pai soube potencializar, desenvolver e explorar —, mas a coesão, o acabamento, a harmonia arquitetônica, o magnífico senso de proporção e a pródiga inventividade
Provavelmente Salzburgo, 1767 | 17 min
melódica que, no conjunto de seu legado, são atemporais.
2 oboés, 2 trompas, cordas.
Em certos compositores, é possível observar, com relativa nitidez, modificações na linguagem, revelando mudanças de
DIVERTIMENTO Nº 1 EM MI BEMOL MAIOR, K. 113 Salzburgo, 1771 | 10 min 2 oboés, 2 cornes ingleses, 2 clarinetes, 2 fagotes, 2 trompas, cordas.
mentalidade e de comportamento, atestando o crescimento do homem, do artista e da personalidade. Para nos atermos apenas a um de seus contemporâneos, basta comparar o Beethoven da primeira sonata para piano, op. 2 nº 1, com o Beethoven das Bagatelas op. 126. Em Mozart, tais distinções, quando há, se há, possuem traços muito sutis. Sua obra parece apresentar-se pronta, acabada,
CASSAÇÃO Nº 1 EM SOL MAIOR, K. 63 Salzburgo, 1769 | 23 min 2 oboés, 2 trompas, cordas.
polida e lustrada, desvelando de pronto seu gênio, desde o primeiro minueto, K. 1, composto aos tenros cinco anos de idade! É claro, porém, que não se podem comparar essas pequenas obras com, por exemplo, o monumento que é Don Giovanni, sem que se guardem as devidas proporções. Mas, guardadas estas, estão em ambas as obras os mesmos traços essenciais: o mesmo Mozart. Há quem especule, não sem alguma razão, que se poderia notar algo do dedo de seu pai, Leopold Mozart, nas primeiras obras do filho. Leopold Mozart foi um respeitado violinista, um teórico importante, um grande pedagogo, mas um compositor medíocre. Era sério e meticuloso, empenhado em desenvolver — e promover — o gênio de seu filho. Poder-seia abrir, com isso, o benefício da dúvida. O argumento não
24 FORA DE SÉRIE 5 DE MARÇO
se sustenta. Basta observar as obras
abriu os olhos do menino de sete anos
que virão: elas denotam a mesma
de idade para a função poética da
linguagem, a mesma mestria, a mesma
música. Johann Christian Bach, por
inventividade melódica, o mesmo
sua vez, colocou-o em contato com a
senso de proporção, os mesmos traços
música contemporânea — sinfônica,
arquitetônicos. Se Leopold Mozart
de câmara e vocal, principalmente a
interferiu aqui ou ali na obra do filho,
ópera —, o que foi decisivo para definir
o gênio do jovem Mozart logrou
os traços fundamentais da linguagem
suplantar e eclipsar quaisquer traços
mozartiana. Desse contato nasceu a
que não os seus próprios.
Primeira Sinfonia, K. 16.
Nesse sentido, muito mais importantes
Em sua estada na Inglaterra, a família
foram os contatos que ele travou com
Mozart, no verão de 1764, mudou-se
Johann Schobert, quando em Paris, em
temporariamente para Chelsea, porque
1763, e com Johann Christian Bach,
Leopold Mozart havia contraído uma
em Londres, no ano seguinte. Schobert
infecção de garganta. Ali foi composta
Detalhe da pintura de Heinrich Lossow retrata Mozart criança tocando orgão.
25 FORA DE SÉRIE 5 DE MARÇO
a Primeira Sinfonia de W. A. Mozart,
K. 37: o primeiro movimento seria
estreada em 21 de janeiro do ano
a adaptação de uma sonata para
seguinte. É claro que se podem notar
violino e piano de Hermann Friedrich
traços da linguagem de Johann Christian
Raupach; o segundo movimento seria
Bach nessa obra, sobretudo na confecção
do próprio Mozart; o terceiro seria
dos temas, dado o contato tão próximo
outra adaptação, a partir de uma obra
que os dois compositores mantinham.
de Leontzi Honauer. Prática comum
Mas é espantoso que uma criança tenha
nos séculos XVII e XVIII, esse tipo de
conseguido elaborar com tamanha
apropriação não desmerece o trabalho
maturidade um plano musical tão bem
que norteia a obra.
acabado, mesmo sob as asas de um mestre. Composta em três movimentos,
A primeira ópera de Mozart, La finta
ela se assemelha formalmente aos
semplice, K. 51, foi composta por
concertos para piano que em breve
um menino de doze anos em 1768
viriam. Não é a Christian Bach que se
e estreada em maio do ano seguinte.
escuta, mas ao próprio Mozart.
Embora composta em Viena, a obra foi alvo de intrigas: músicos
O primeiro concerto para piano, K. 37,
e compositores recusavam-se a
se se pode dizer isso do compositor,
acreditar que um jovenzinho a havia
ainda não é totalmente Mozart. No
composto e atribuíam-na a seu pai.
entanto, o trabalho pianístico e o
Por isso, ao invés de encenada em
diálogo entre orquestra e solista
Viena, veio a público em Salzburgo,
demonstram o modelo que se iria firmar
a pedido do Príncipe-Arcebispo.
na Escola Vienense e que mais tarde se
Nela, desde sua abertura (ou
transformaria no grande padrão a ser
Sinfonia, como é intitulada), já
seguido ou transcendido. Seu segundo
ouvimos sem interferências o Mozart
movimento apresenta uma capacidade
que todos conhecemos! Em nada
de criação melódica surpreendente.
esta obra deixa a desejar às outras
No entanto, este concerto, bem como
que seguirão, exceto, talvez, no
os outros três que o seguiram (K. 39,
administrar das transições de um
40 e 41) são uma espécie de colagem.
episódio a outro, o que se pode
O musicólogo Alfred Einstein identificou
perceber nos claros contrastes da
três autores diferentes para o concerto
abertura, nitidamente tripartida.
26 FORA DE SÉRIE 5 DE MARÇO
Os divertimentos, como as óperas e as missas, perpassam quase toda a vida de Mozart. No primeiro deles, K. 113, já se nota a atenção que Mozart irá dedicar aos instrumentos de sopro, nomeadamente ao clarinete, pelo qual tinha predileção especial. Os divertimentos, assim como as cassações, eram gêneros ligeiros de música que, no século XVIII, aproximavam-se formalmente da suíte de danças. O título já denota a sua função original: eram destinados puramente ao prazer, seja no ambiente dos teatros, seja no dos salões. Populares no século XVIII, as cassações têm pouca diferença formal com os divertimentos. Sua principal distinção talvez esteja no ambiente a que eram primordialmente destinadas: as áreas externas. A Cassação K. 63 causa o assombro que acomete cada um que se debruça sobre a obra de Mozart, e que pode assim ser traduzido por Roland de Candé, quando a ele se refere: “o gênio não se prova, ele se afirma em todos os sentidos da palavra”.
MOACYR LATERZA FILHO Pianista e cravista, Doutor em Literaturas de Língua Portuguesa, professor da Universidade do Estado de Minas Gerais e da Fundação de Educação Artística.
Apresentação da família Mozart em Paris. Aquarela de Louis Carrogis Carmontelle, 1763/1764.
27 FORA DE SÉRIE 5 DE MARÇO
Concertos
MARCOS ARAKAKI, regente ALMA MARIA LIEBRECHT, trompa CATHERINE CARIGNAN, fagote CÁSSIA LIMA, flauta GISELLE BOETERS, harpa
PROGRAMA
2
2 DE ABRIL CONCERTO PARA TROMPA Nº 2 EM MI BEMOL MAIOR, K. 417 • Allegro maestoso Alma Maria Liebrecht
• Andante • Rondo
CONCERTO PARA FAGOTE EM SI BEMOL MAIOR, K. 191 • Allegro Catherine Carignan
• Andante ma adagio • Rondo: Tempo di menuetto — INTERVALO —
CONCERTO PARA FLAUTA E HARPA EM DÓ MAIOR, K. 299 • Allegro Cássia Lima Giselle Boeters
• Andantino • Rondo: Allegro
29 FORA DE SÉRIE 2 DE ABRIL
comunitário através da música. Integrou-se à Orquestra FOTO CHRISTIAN PERONA
Filarmônica de Minas Gerais como Trompa Principal em 2013.
ALMA MARIA LIEBRECHT
Alma tem se apresentado como solista com a Orquestra Filarmônica de Minas Gerais, New York Symphonic Arts Ensemble, Ensemble 212 e o Curtis Chamber Ensemble.
O envolvimento de Alma com a
Tocando música de câmara, tem se apresentado no Festival
música começou em seu estado natal,
Artes Vertentes e na Semana de Música de Câmara da
Maryland, nos Estados Unidos. Primeiro
Fundação de Educação Artística. Nos Estados Unidos,
através do violino, quando tinha seis
apresentou-se no Savannah Music Festival e com os grupos
anos de idade, e depois com a trompa,
Chamber Music Society of Lincoln Center, New York Wind
aos doze, sob orientação de Olivia Gutoff.
Soloists, Jupiter Chamber Players, North Country Chamber
De 2002 a 2006, estudou com
Players, Sebastian Chamber Players, Music from Angel Fire,
Jerome Ashby no Curtis Institute of
Argento New Music Project e Talea Ensemble. Também
Music. De 2006 a 2008, estudou com
realizou concertos de música de câmara no Festival Wien
William Purvis na Escola de Música da
Modern em Viena, Áustria, no Centro Niemeyer em Avilés,
Universidade de Yale, completando em
Espanha, no Contempuls Festival em Praga, República
2008 o mestrado em Música.
Tcheca, e, junto com músicos da Filarmônica de Viena, em Sapporo e Tokyo, no Japão.
Nos verões de 2003 a 2005, participou do Festival de Música do Pacífico, no
Enquanto vivia em Nova York, Alma manteve uma prolífica
Japão, onde estudou com Gunter Högner
carreira de freelancer, apresentando-se com a Orquestra de
e Wolfgang Tomböck, ambos da
Câmara Orpheus, a Orquestra da Ópera da Cidade de Nova
Filarmônica de Viena. De 2008 a 2010,
York, as sinfônicas de Princeton, Delaware, Richmond e
Alma foi bolsista do Ensemble ACJW
Harrisburg, o Ballet de Pennsylvania, a Orquestra de Câmara
do Carnegie Hall. Em 2010, ela ajudou
da Filadélfia e o Gotham Chamber Opera. Alma também
a fundar o grupo de câmara Decoda,
apresentou-se por seis semanas como Trompa Principal
coletivo dedicado ao engajamento
convidada junto à Sinfonietta de Hong Kong em 2011.
30 FORA DE SÉRIE 2 DE ABRIL
(conhecida como National Broadcast Orchestra desde 2009) e participou do Aventa Ensemble, formação dedicada à música contemporânea. Com Aventa, em fevereiro de 2008, estreou a obra Dulcian Patterns, do compositor canadense Peter Hatch, que descreve a peça como “não exatamente um concerto para fagote em si, mas que frequentemente destaca seus timbres e registros”. Como solista independente, encomendou a obra para fagote e piano Three Conjoined Trifles, do compositor e dramaturgo canadense Alex Eddington, estreando-a em
FOTO EUGÊNIO SÁVIO
abril de 2008 com a pianista Allie Cortens. Meses depois, foi aprovada em audição na Filarmônica de Minas Gerais,
CATHERINE CARIGNAN
tornando-se Fagote Principal da Orquestra. No Brasil, Catherine vem desenvolvendo atividades de performance, ensino e pesquisa paralelas à sua atuação na
Natural do Québec, Canadá, Catherine
Filarmônica. Participou das duas primeiras edições do Encontro
iniciou seus estudos de fagote aos doze
Internacional de Oboé e Fagote da Universidade Federal de
anos. Entre 1998 e 2008, foi aluna de
Santa Maria, Rio Grande do Sul, como palestrante e recitalista;
Michel Bettez, Mathieu Lussier, Mathieu
foi professora substituta de fagote na Universidade Federal de
Harel, Stéphane Lévesque, Nadina
Minas Gerais em 2013; orienta alunos de maneira independente
Mackie Jackson e Fraser Jackson. Em
em Belo Horizonte desde 2008 e mantém uma colaboração
2005, suspendeu seus estudos musicais
estreita com músicos brasileiros, desenvolvendo pesquisas
para dedicar-se a um curso de tradução,
extra-acadêmicas sobre o fagote na música brasileira. Catherine
mas continuou tocando como convidada
tem participado de apresentações de choro com colegas da
em orquestras canadenses e organizando
Filarmônica e com o Clube do Choro de Belo Horizonte.
concertos de música de câmara na sua cidade natal. Voltou para o Conservatoire
Esta é a quarta vez que Catherine se apresenta como solista
em agosto de 2006, passou em dezembro
da Filarmônica. Em 2011, executou com o clarinetista
no concurso para segundo fagote da
Dominic Desautels o Duett-Concertino de Richard Strauss,
Victoria Symphony Orchestra, na costa
sob regência do maestro Marcos Arakaki; em 2013, com o
oeste do Canadá, e concluiu bacharelado
violinista Rommel Fernandes, a violoncelista Elise Pittenger e
em Música em maio de 2007.
o oboísta Alexandre Barros, apresentou a Sinfonia Concertante em Si bemol maior de Joseph Haydn, sob regência do
Entre 2006 e 2008, Catherine foi
maestro Fabio Mechetti; e em outubro de 2015, com os
fagotista convidada da Winnipeg
colegas Marcus Julius Lander, Alexandre Barros e Alma
Symphony Orchestra, da Canadian
Maria Liebrecht, tocou a Sinfonia Concertante para sopros,
Broadcasting Company Radio Orchestra
de Mozart, com o regente convidado Christoph König.
31 FORA DE SÉRIE 2 DE ABRIL
Cássia venceu as principais competições no Brasil, tais como o Jovens Solistas da Orquestra Experimental de Repertório, onde atuou como solista, e ganhou primeiro lugar nos concursos FOTO ENK TE WINKEL
Jovens Talentos em Piracicaba e II Concurso Nacional Jovens
CÁSSIA LIMA
Flautistas, promovido pela Associação Brasileira de Flautistas. Em Nova York venceu o Mannes Concerto Competition, onde novamente atuou como solista, e o Gregory Award, por Excelência em Performance. Ainda nos Estados Unidos,
Mineira de Extrema, Cássia iniciou seus
foi bolsista do Tanglewood Music Center, onde atuou como
estudos com João Dias Carrasqueira
camerista e primeira flauta da orquestra do festival, sob
e Grace Busch. Concluiu bacharelado
regência de James Levine, Kurt Masur, Seiji Ozawa e Rafael
em Flauta pelo Instituto de Artes da
Frübehbeck. Em Minneapolis, fez parte do corpo docente
Universidade Estadual Paulista (Unesp)
da Universidade de Minnesota e também foi flautista da
como aluna de Jean-Noel Saghaard. Em
Minnesota Orchestra, sob regência de Charles Dutoit.
São Paulo, também foi aluna de Marcos Kiehl. Participou dos principais festivais
De volta ao Brasil, Cássia Lima foi primeira flauta da
de música do país, como Oficina de
Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo (Osesp), onde
Música de Curitiba, festivais de inverno
também atuou como solista. Participou da I Oferenda
de Campos do Jordão e Juiz de Fora.
Musical de São Paulo e foi professora da Oficina de Música de Curitiba. Atualmente, atua como camerista do Quinteto
Foi bolsista da Fundação Vitae durante
de Sopros da Filarmônica de Minas Gerais e participa de
os anos de estudo na Mannes College
diversos grupos camerísticos. Cássia é Primeira Flauta
of Music em Nova York, onde foi aluna
da Orquestra Filarmônica de Minas Gerais desde 2009.
de Keith Underwood e concluiu os
Com a orquestra, apresentou-se como solista no Concerto
cursos de mestrado e Artist Diploma.
para flauta em Ré, K. 314, de W. A. Mozart, sob regência
Participou de masterclasses com
de Fabio Mechetti; no Concerto para flauta e orquestra de
grandes nomes da flauta, como
Carl Nielsen, na primeira audição da obra em Belo Horizonte;
Michael Parloff, Elisabeth Rowe,
e na Suíte Orquestral nº 2 em si menor, BWV 1067, de
William Bennett, Judith Mendenhall,
Johann Sebastian Bach, sendo as duas últimas obras sob
Jeffrey Khaner e Emmanuel Pahud.
regência de Marcos Arakaki.
32 FORA DE SÉRIE 2 DE ABRIL
FOTO RAFAEL MOTTA
GISELLE BOETERS
ganhou prêmios no Nederlands Harp Concours por melhor interpretação das novas obras Quasi una Fantasia, de Daan Manneke, e Secret Garden, de Peter van Onna.
Natural da Holanda, Giselle Boeters
Como solista convidada, interpretou concertos para harpa
é Harpa Principal da Orquestra
com a Orquestra Sinfônica do Conservatório de Amsterdam,
Filarmônica de Minas Gerais desde
a Orquestra Nederlands Jeugd Strijkorkest, a Sinfônica
2012. Com esta orquestra Giselle
de Brandenburgo e a Orquestra Sinfônica de Taipei. Foi
estreou, em maio de 2013, um novo
convidada para se apresentar no Simpósio de Harpa Europeu,
concerto para harpa e orquestra escrito
em 2001, e no Congresso Mundial da Harpa, em 2008.
pelo compositor Daniel Binelli. Além de suas atividades na Filarmônica,
Antes de se mudar para o Brasil, Giselle apresentou-se
participa regularmente de projetos
regularmente com diversas orquestras na Holanda e na
nacionais e internacionais de música
Alemanha, entre elas a Radio Filharmonisch Orkest, a
de câmara. Foi convidada para as duas
Orquestra Real de Concertgebouw, NDR Radiophilharmonie,
últimas edições do Festival Internacional
Sinfônica de Hamburgo, Orquestra Sinfônica Alemã, em
Sesc de Música em Pelotas, RS, como
Berlim, Deutsche Oper Berlin e Deutsche Staatsoper Berlin.
professora de harpa e solista. Giselle Boeters formou-se no Conservatório de Amsterdam A musicista recebeu prêmios em
com a professora Erika Waardenburg e na Academia de Música
várias competições de música na
Hanns Eisler de Berlim com a professora Maria Graf,
Holanda, incluindo o Prinses Christina
graduando-se com as mais altas distinções. Foi bolsista na
Concours, Nederlands Harp Concours
orquestra acadêmica da Staatskapelle de Berlim e com o grupo
e competições internacionais em
apresentou-se em Berlim e em turnês nacionais e internacionais
Lausanne, Suíça, Bruxelas e Vresse-
sob a regência de renomados maestros, como Michael Gielen,
sur-Semois, Bélgica. Giselle também
Andris Nelsons, Simon Rattle e Daniel Barenboim.
33
VEJA A BIOGRAFIA DE MARCOS ARAKAKI NA PÁGINA 22
FORA DE SÉRIE 2 DE ABRIL
CONCERTO PARA TROMPA Nº 2 EM MI BEMOL MAIOR, K. 417 Viena, 1783 | 14 min 2 oboés, 2 trompas, cordas.
CONCERTO PARA FAGOTE EM SI BEMOL MAIOR, K. 191 Salzburgo, 1774 | 20 min 2 oboés, 2 trompas, cordas.
CONCERTO PARA FLAUTA E HARPA EM DÓ MAIOR, K. 299 Paris, 1778 | 30 min 2 oboés, 2 trompas, cordas.
M
ozart escreveu muitos concertos para diversos instrumentos, além de outras obras concertantes com mais de um solista. Incluídos entre as mais perfeitas
realizações sinfônicas do século XVIII, eles constituem, tanto quanto as óperas, a expressão mais natural e característica de sua personalidade artística. A aproximação com a ópera torna-se inevitável, pois os concertos demonstram brilhantemente a inigualável capacidade mozartiana de realizar a representação dramática também na música instrumental. As melodias, de caráter essencialmente vocal, associam-se facilmente ao discurso teatral; o virtuosismo — típico do gênero concertante — submete-se à dramaturgia do compositor. Por outro lado, a força retórica das intervenções orquestrais e sua grande variedade nas configurações de acompanhamento deixam claro que Mozart concebe o concerto como integração / oposição, em pé de igualdade, do solista e da orquestra. Os concertos para solistas eram muito apreciados no século XVIII. Nada mais natural que Mozart, desde criança um célebre virtuose, cedo cultivasse o gênero. Dos nove aos onze anos já escrevera seus primeiros quatro concertos, baseando-se em movimentos de sonatas de músicos contemporâneos. E continuou compondo concertos ao longo de toda a sua carreira; na maioria das vezes, obras circunstanciais, sob pressão de exigências impostas pelo mecenato aristocrático ou pela alta burguesia frequentadora de teatros. Acostumado ao sucesso, Mozart procura agradar ao público e muitas de suas criações adotam o estilo
34 FORA DE SÉRIE 2 DE ABRIL
galante, marcado por apelos típicos de
forma sonata; um segundo movimento
uma sociedade incapaz de assimilar
lento, expressivo, sonhador ou trágico;
inovações. Entretanto, mesmo com
e o final na tradição do Rondó com
tais limitações, a forte personalidade
estrofes e refrão, alegre e virtuosístico.
do gênio impõe-se, afastando-o
Entretanto, a partir dos dezessete
da falta de tensão e do formalismo
anos, quando compõe seus primeiros
mecânico encontrados em obras de
concertos realmente originais, ele
seus contemporâneos. Aos poucos e
criará, dentro dessa estrutura tripartida,
cada vez mais Mozart afastou-se do
uma solução formal particular a cada
gosto imposto pela moda. Os concertos
concerto, distinguindo-o de todas as
(mais que as sinfonias) permitem
outras obras de seu tipo.
acompanhar a evolução do compositor. Que ele se tenha servido de um gênero
Entre essas primeiras peças notáveis,
tão popular para confidenciar seus
inclui-se o Concerto para fagote K. 191,
sentimentos mais íntimos e realizar
composto em Salzburgo. O Allegro inicial
audaciosas inovações é curioso. E
possui um longo prelúdio orquestral que
trágico, pois a incompreensão crescente
expõe os dois temas desse movimento.
do público tornava-se mais dolorosa,
A complexidade de sua escritura recorre
comparada aos triunfos conquistados
ao contraponto e a uma orquestração
pelo artista quando criança. Lúcido em
bastante elaborada, atípicos para uma
sua verdade de criador, consciente de
peça do estilo galante. Trata-se
sua superioridade como músico, Mozart
da primeira obra concertante de
não retrocedeu — os últimos concertos
Mozart para instrumento de sopro, e o
possuem uma beleza transcendente,
virtuosismo do solista valoriza os recursos
obras-primas definitivas, ímpares e
contemporâneos do fagote — muito
profundamente humanas.
desenvolvidos ao longo do século XVIII, embora sem atingir ainda a forma do
Mozart manteve, como regra geral, a
instrumento atual. No Andante ma adagio,
tradicional estrutura tripartida em seus
uma bela melodia desdobra-se modulada,
concertos: o primeiro movimento em
com imaginação refinada e lirismo. O
35 FORA DE SÉRIE 2 DE ABRIL
Rondó final tem como tema principal um
Encarregado de escrever um simples
minueto em duas partes. O virtuosismo
entretenimento social, Mozart (que abriu
controlado e discreto confere-lhe um
mão dos honorários) criou uma joia de
caráter de sobriedade e elegância.
grande encanto. O primeiro movimento, Allegro, caracteriza-se pelo diálogo dos
Em 23 de setembro de 1777 Mozart
solistas — verdadeira alternância de
deixava Salzburgo para uma viagem a
personagens — com a orquestra.
Paris, em mais uma tentativa de se livrar
Há evidente apelo virtuosístico nos
dos estreitos limites musicais de sua
trechos de grande velocidade. O
cidade natal. O pai protetor permanecera
segundo movimento, Andantino, é um
em Salzburgo e a mãe, que o acompanha
idílio sonhador e terno. No Rondó final,
nessa viagem, morre em Paris, onde
o tema principal possui caráter de
o filho ganha a vida precariamente,
dança, como alegre gavota, ao gosto
compondo muito, realizando concertos
amável da aristocracia francesa.
e dando aulas para aristocratas. Entre suas alunas, a filha do Duque de Guines
No Concerto para flauta e harpa Mozart
tornara-se uma excelente harpista.
utiliza notas graves impraticáveis
Como o duque tocava flauta muito
para as flautas da época, já que o
bem, encomendou ao compositor
instrumento especial do conde de
um concerto para flauta e harpa.
Guines lhe permitia tocá-las. Essa
36 FORA DE SÉRIE 2 DE ABRIL
Paris em gravura de Jacques Rigaud.
Roteiro da viagem de Mozart com a mãe, entre 1776 e 1779. MANNHEIM PARIS NANCY ESTRASBURGO AUGSBURGO
MUNIQUE
SALZBURGO
capacidade de Mozart de adaptar-se
Viena, 27 de maio de 1783”.
às particularidades específicas de seus
O Allegro maestoso apresenta
intérpretes, cantores ou instrumentistas
modulações que lhe conferem o
é notória. Assim, as obras para trompa
caráter melancólico, inusitado para
compostas entre 1782 e 1791 e
um primeiro movimento. O breve tema
dedicadas a Joseph Leutgeb, grande
lírico do Andante retorna por três
amigo da família Mozart, respeitam
vezes, acompanhado principalmente
as limitações graduais que a idade
pelas cordas. No Rondó, o tema da
impôs ao trompista — nas últimas,
trompa anuncia uma caçada. Ele
as notas muito agudas são evitadas.
se alternará com três intermédios.
A catalogação dos quatro concertos
O final, em andamento acelerado,
para trompa não corresponde
evoca breve e animada cavalgada.
cronologicamente à sua criação. O Concerto para trompa nº 2, na verdade, foi o primeiro composto e traz no autógrafo vienense uma divertida dedicatória a um velho amigo trompista: “W. A. Mozart teve pena de Leutgeb, asno, besta e néscio, em
PAULO SÉRGIO MALHEIROS DOS SANTOS Pianista, Doutor em Letras, professor na UEMG, autor dos livros Músico, doce músico e O grão perfumado – Mário de Andrade e a arte do inacabado. Apresenta o programa semanal Recitais Brasileiros, pela Rádio Inconfidência.
37 FORA DE SÉRIE 2 DE ABRIL
FABIO MECHETTI, regente MARK JOHN MULLEY, trombone CLÁUDIA AZEVEDO, soprano CELINA SZRVINSK, piano MIGUEL ROSSELINI, piano
PROGRAMA
14 DE MAIO Leopold Mozart
A VIAGEM MUSICAL DE TRENÓ • Overture • Die Verwirrung in den Stallen | a confusão no estábulo • Die Schlittenfahrt | o passeio de trenó • Das Schütteln der Pferde | a agitação do cavalo • Aufzug | interlúdio • Festmusik | música festiva • Aufzug | interlúdio • Die Schlittenfahrt | o passeio de trenó • Das vor Kalte zitternde Frauenzimmer | tremendo de frio no quarto das mulheres
• Des Balles Anfang | o início do baile • Der Kehraus | a última dança • Die Schlittenfahrt | o passeio de trenó
Leopold Mozart Mark John Mulley 38 FORA DE SÉRIE 14 DE MAIO
CONCERTO PARA TROMBONE ALTO EM RÉ MAIOR • Allegro • Menuetto – Trio • Allegro
3
Tudo em família Leopold Mozart
SINFONIA DOS BRINQUEDOS • Allegro • Menuetto • Finale: Allegro — INTERVALO —
Cláudia Azevedo
Cláudia Azevedo
Wolfgang Amadeus Mozart
MIA SPERANZA ADORATA – AH, NON SAI QUAL PENA, K. 416 Wolfgang Amadeus Mozart
NO, NO, CHE NON SEI CAPACE, K. 419 Wolfgang Amadeus Mozart
Celina Szrvinsk Miguel Rosselini
CONCERTO PARA DOIS PIANOS EM MI BEMOL MAIOR, K. 365 • Allegro • Andante • Rondo: Allegro 39 FORA DE SÉRIE 14 DE MAIO
Mark integrou a BBC Symphony Orchestra, a Wren Orchestra, Philharmonia Orchestra, Hanover Band — tocando sackbut — e a London Festival Orchestra, em várias apresentações e gravações. Participou também da Orchestra of Nations em turnê pela Alemanha, gravando a Sinfonia nº 8 de Bruckner. No jazz, atuou na Glenn Miller Band, Andy Ross Big Band, All Jazz Quartet e em diversos festivais, como Ealing Jazz Festival e Soho Jazz Festival, tocando ao lado de West End com Carmen Jones. Também atuou como professor de música FOTO EUGÊNIO SÁVIO
no Richmond Adult College e na Brunel University, na Inglaterra.
MARK JOHN MULLEY
No Brasil, Mark participou de shows com o grupo musical Rio Bossa Jazz no Santander Cultural, em Porto Alegre, com repertório composto por clássicos do jazz, blues e
Mark John Mulley nasceu na
bossa nova. Em 2005, tocou com a Orquestra Sinfônica de
Inglaterra e iniciou seus estudos
Porto Alegre e foi professor de trombone em um workshop
em música ainda criança. Começou
na Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos), em
a tocar em brass bands até iniciar
São Leopoldo, RS. Nesse estado, na cidade de Rio Grande,
seu trabalho com a Coldstream
apresentou dois shows com o Quarteto de Jazz e o pianista
Guards Band como assistente de chefe
norte-americano Cliff Korman, em 2006.
de naipe de trombone, participando de diversas cerimônias, gravações
Durante oito anos, trabalhou como professor de trombone
e concertos. Depois formou-se
para a Orquestra Real Sinfônica em Muscate, Omã. Em
no London College of Music e fez
Muscate, Mark tocava jazz com seu próprio quarteto,
pós-graduação no Royal College of
Just Jazz, apresentando-se em vários hotéis e festivais.
Music de Londres. Mark estudou com Anthony Parsons, da BBC
Desde o início da Orquestra Filarmônica de Minas Gerais,
Symphony Orchestra; Arthur Wilson,
em 2008, Mark é Trombone Principal do grupo. Participou
da Philharmonia Orchestra; Peter
de várias gravações com a orquestra e também de turnês
Bassano, da Philharmonia Orchestra;
para as regiões Nordeste e Sul do Brasil, para o Uruguai e a
e Tom Winthorpe, da Royal Opera
Argentina. Convidado a ser solista com a Filarmônica, tocou
House. Também participou de várias
o Concertino para Trombone de Ferdinand David. Também
masterclasses de trombone, inclusive
participou como professor de trombone em workshop na
com Ian Bousfield, da London
Universidade Federal de Minas Gerais, Universidade Estadual
Symphony Orchestra, e Ralph Sauer,
de Minas Gerais, Orquestra da Polícia Militar de Minas Gerais
da Los Angeles Philharmonic.
e Festival de Metais no Conservatório de Tatuí, São Paulo.
40 FORA DE SÉRIE 14 DE MAIO
Vencedora dos concursos Audiciones Jovenes Voces Liricas del Teatro Colón 2008, Concurso Internacional de Canto Aldo Baldin 2008 e Terceiro Prêmio no Concurso Internacional de Canto Bidu Sayão 2005, Cláudia colabora regularmente com as principais orquestras brasileiras. Apresentou-se em concertos e óperas com a Filarmônica de Minas Gerais, Amazonas Filarmônica, orquestras Sinfônica Municipal de Campinas, de Porto Alegre, da Bahia, do Paraná, de Câmara Sesi-Fundarte, Teatro São Pedro e Orquestra Unisinos Anchieta. Foi intérprete em Carmina Burana de Orff; FOTO DEVON CASS
Missa de Santa Cecília de José Maurício Nunes Garcia; A Criação
CLÁUDIA AZEVEDO
e Missa in Tempore Belli de Haydn; Gloria de Vivaldi; Cantata nº 51, Cantata do Café, Cantata nº 110 e Cantata nº 208 de Bach; Nona Sinfonia e Fantasia Coral de Beethoven; Lobgesang de Mendelssohn. Foi Micaela em Carmen de Bizet; Adina em L’elisir
Cláudia Azevedo realizou seu début
d’Amore de Donizetti; Silberklang em Der Schauspiledirektor
europeu em 2006, a convite do
de Mozart; e Susana em Le nozze di Figaro de Mozart.
maestro italiano Alberto Zedda, no Rossini Opera Festival de Pesaro,
Trabalhou sob regência de Fabio Mechetti, Luiz Fernando
Itália, no papel de Corinna em Il viaggio
Malheiro, José Miguel-Pérez Sierra, Alberto Zedda, Emil
a Reims, com a Orchestra del Teatro
Tabakov, Karl Martin, Alessandro Sangiorgi, Antonio Borges
Comunale di Bologna. Primeira cantora
Cunha e Richard Cordova, entre outros.
brasileira a participar do festival dedicado a Rossini, teve sua atuação
Graduada em Música pela Universidade Federal do Rio Grande
destacada pela revista espanhola
do Sul com especialização pelo Conservatorio Superior del
Opera Actual. No mesmo ano estreia
Liceu de Barcelona, Espanha, como bolsista da Fundación
como Ännchen em Der Freischütz
Carolina-Madrid, Cláudia aperfeiçoou-se na Akademie Bel
de Weber, em Valadoli, Espanha,
Canto do Rossini Opera Festival de Wildbad, Alemanha,
e apresenta-se em recital com obras
estudou música de câmara com Dalton Baldwin e realizou
do bel canto e Mozart para os Amics
masterclasses com Marilyn Horne, Raúl Giménez, Viorica
del Gran Teatro del Liceu, Barcelona.
Cortez, Eduard Giménez e Raquel Pierotti.
O ano de 2011 marca sua estreia em Nova York como Ismene em Mitridate,
Recentemente debutou no Theatro Municipal do Rio de Janeiro
Re di Ponto, de Mozart, com enorme
como Fiorilla em Il Turco in Italia, de Rossini, regida por
sucesso junto ao público e à crítica
Yuval Zorn. E também no Theatro Municipal de São Paulo
especializada, inclusive no jornal
sob regência de John Neschling no papel de Musetta em
The New York Times.
La Bohème, de Puccini.
41 FORA DE SÉRIE 14 DE MAIO
Em 1996, os artistas concluíram mestrado e doutorado na Staatliche Hochschule für Musik Karlsruhe, Alemanha, onde gravaram CD com obras de compositores brasileiros e alemães. Um segundo CD foi citado, pelas revistas Diapason e Continente, entre as melhores gravações brasileiras do ano. (...) “Uma das melhores é a seleção de peças a quatro mãos patrocinada pela Fundep e pela Universidade Federal de Minas Gerais. Nela, o duo mineiro Celina Szrvinsk e Miguel Rosselini demonstra solidez técnica, diversidade estilística e FOTO CLEU NACIF E LUIZ RITTER
muita fluência expressiva, ao abordar, seja autores franceses,
CELINA SZRVINSK E MIGUEL ROSSELINI
seja compositores brasileiros.” (Diapason, março/2006). “O CD Piano a 4 mãos merece ser mencionado como um registro ímpar na interpretação pianística brasileira a dois.
Formado em 1984, o duo pianístico
Escolha de repertório, qualidade de som e excelência de
Celina Szrvinsk e Miguel Rosselini
execução justificam essa execução. Celina Szrvinsk e Miguel
é reconhecido como um dos mais
Rosselini dedicam a mesma sensibilidade a compositores
destacados do país, com apresentações
nacionais e europeus... com a devida leitura de filigranas.”
nas principais séries e salas de
(Continente, outubro/2006).
concerto do Brasil. No exterior, apresentou-se na Alemanha, Suíça,
Outros títulos gravados individualmente destacam-se na
Itália, Canadá, Rússia e Japão.
discografia de ambos.
Como solistas, Celina e Miguel
Desde 1985, pertencem ao quadro docente da Escola de
atuaram com as orquestras Sinfônica
Música da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG),
Estadual de São Paulo, Sinfônica
sendo muitos de seus alunos destacados musicistas e
de Minas Gerais, Filarmônica de
professores de universidades federais brasileiras. Os dois têm
Minas Gerais, Sinfônica de Campinas,
sido convidados a participar de importantes festivais de música
Filarmônica de Goiás, Sinfônica da USP,
e como jurados de concursos de piano no Brasil e no exterior.
Sinfônica Nacional, Filarmônica de Câmara da Polônia, Filarmônica
Paralelamente às atividades artísticas e de ensino, Celina e
de Baden-Baden, Bach-Orchester
Miguel desenvolvem ainda intenso trabalho como produtores,
Herzogtum-Lauenburg, dentre outras.
sendo responsáveis pelo Festival de Maio e pelas séries
Em parceria com conceituados
Concertos Didáticos e Concertos Teatro Bradesco,
músicos, integram inúmeras outras
programações de proa em Belo Horizonte, dedicadas à música
formações camerísticas.
de câmara com renomados artistas nacionais e internacionais.
42 FORA DE SÉRIE 14 DE MAIO
Leopold Mozart (Alemanha, 1719 – Áustria, 1787)
A VIAGEM MUSICAL DE TRENÓ Salzburgo, 1755 | 21 min 2 oboés, 2 fagotes, 2 trompas, 4 trompetes, tímpanos, percussão, cordas.
L
eopold Mozart tinha dezoito anos quando se instalou em Salzburgo para cursar a Universidade Beneditina. Em sua cidade natal, Augsburgo, estudara no Ginásio dos Jesuítas —
alemão, latim, grego, francês e italiano. Pensou em seguir a carreira eclesiástica e só optou definitivamente pela música
Leopold Mozart
CONCERTO PARA TROMBONE ALTO EM RÉ MAIOR Salzburgo, em torno de 1760 | 13 min 2 oboés, 2 trompas, cordas.
aos vinte anos. No ano do nascimento de Mozart, Leopold publicou um célebre tratado sobre o ensino do violino, depois traduzido em várias línguas e frequentemente reimpresso. A música de Leopold continua pouco conhecida e sem cronologia definida. Ele compôs muito em seus primeiros anos em Salzburgo, antes de dedicar-se à carreira dos filhos
Leopold Mozart
SINFONIA DOS BRINQUEDOS Salzburgo, 1769 | 10 min Cordas.
MIA SPERANZA ADORATA – AH, NON SAI QUAL PENA, K. 416
Maria Anna (Nannerl) e Wolfgang. Suas diversas missas e outras peças sacras, obras de câmara, numerosos concertos e 25 sinfonias mostram as características gerais do estilo galante vienense, deliberadamente simples. Entretanto, algumas particularidades constantes chamam a atenção: peças como a Sinfonia dos Brinquedos e as Bodas Camponesas denotam a predileção do autor pelos divertimentos populares. O impacto programático-descritivo
Viena, 1783 | 9 min
de sua música sinfônica evidencia-se em A viagem musical
2 oboés, 2 fagotes,
de trenó ou na Sinfonia da caça. Em ambos os casos, a busca
2 trompas, cordas.
do realismo sonoro exige grande quantidade de instrumentos raros ou brinquedos infantis — marimba, lira, gaita de
NO, NO, CHE NON SEI CAPACE, K. 419 Viena, 1783 | 4 min 2 oboés, 2 trompas, 2 trompetes, tímpanos, cordas.
CONCERTO PARA DOIS PIANOS EM MI BEMOL MAIOR, K. 365
foles, chocalhos, flauta doce, chicotes, campainhas, apitos, pequenos trompetes — que se juntam à trama da orquestra tradicional. Note-se ainda a valorização do registro agudo dos instrumentos de metal, cujo florescimento na corte de Salzburgo, por volta de 1765, resultou em pelo menos três concertos conhecidos: dois de Michael Haydn para clarim e o Concerto para trombone alto de Leopold Mozart. A Sinfonia dos Brinquedos foi, por muito tempo, atribuída a Joseph Haydn. Somente em 1951, o musicólogo Ernst F.
Salzburgo, 1779 | 25 min 2 oboés, 2 fagotes, 2 trompas, cordas.
43 FORA DE SÉRIE 14 DE MAIO
Schmidt anunciou a descoberta, em
pianos K. 365, também destinado
Munique, de uma Cassation de Leopold
a Nannerl (o primeiro piano) e a ele
Mozart em sete movimentos, três dos quais
mesmo. Os solistas são tratados com
idênticos aos movimentos da Sinfonia. Quanto
igual importância e a influência da
à Viagem musical de trenó, sabe-se que o
Escola de Mannheim, que Mozart
compositor enviou a partitura para músicos
conhecera recentemente, é notória.
da Sociedade de Intérpretes de Augsburgo.
No Allegro inicial há um jogo fascinante
Eles a apresentaram no albergue Aos
de réplicas, ecos, adornos, alternância
Reis Magos, em janeiro de 1756, quinze
de protagonismo e acompanhamento
dias antes do nascimento de Wolfgang.
entre os dois pianistas. O Andante, em Si bemol, apresenta um melancólico
Leopold, muito religioso, sempre
tema nos violinos, logo respondido
acreditou que o filho era um dom que
pelos oboés. O segundo piano retoma
Deus lhe confiara com o dever de
o mesmo tema sobre os trinados
cultivá-lo. Dirigiu sua iniciação musical
do parceiro. Reunidos em terças e
com inegável eficiência; escolheu seus
apoiando uma melodia dos oboés,
mestres com perícia (Johann Christian
os dois chegam em arpejos até a
Bach, em Londres; o padre Martini,
tonalidade de Mi bemol. Um novo
na Itália); proporcionou-lhe o contato
tema, em dó menor, exposto pelo
com ambientes musicais diferentes,
segundo piano, é retomado e variado
técnicas e estilos variados. Mozart,
pelo primeiro solista. A conclusão
ainda adolescente, tornara-se o
é em pianíssimo. O Rondó, Allegro
músico mais cosmopolita da época.
tem espírito bastante francês tanto pelo caráter de seu refrão quanto
Leopold planejou meticulosamente as
por seu intermédio central em tom
longas turnês em que Nannerl e
menor. Há uma rica passagem em
Wolfgang conquistaram os grandes
que os dois pianos realizam uma série
centros musicais da Europa. As crianças
impressionante de modulações. No
tocavam individualmente, a quatro mãos
todo é uma peça brilhante, repleta de
ou em dois cravos. Em 1765, o pequeno
alegria. Mozart tinha especial carinho
Mozart escreveu para o duo familiar sua
por esse concerto e tocou-o várias
primeira peça para essa formação, a
vezes depois que se fixou em Viena.
Sonata K. 19d. As árias de concerto para voz e No começo de 1779, aos 23 anos,
acompanhamento orquestral constituem
Mozart iniciou o Concerto para dois
um capítulo importante e especialmente
44 FORA DE SÉRIE 14 DE MAIO
e o profundo conhecimento de suas capacidades expressivas favorecia o trabalho do compositor. Mia speranza adorata K. 416 foi composta para um recital de Aloysia Weber, cunhada de Mozart, que interpretou Madame Herz em Der Schauspieldirektor. Outras árias eram solicitadas para
Leopold Mozart. Pintura de Pietro Antonio Lorenzoni.
a inserção em óperas de outros compositores, quando as originais se mostrassem inadequadas ao conjunto pouco conhecido da obra de Mozart.
da obra ou às possibilidades de algum
O compositor dedicou-se ao gênero
determinado intérprete. Mozart compôs
desde a infância até o último ano de
árias isoladas para óperas de Cimarosa,
sua vida, deixando cerca de cinquenta
Anfossi, Martin y Soler, Paisiello e Bianchi.
títulos. Quando criança, Mozart compôs
Na apresentação vienense de O curioso
algumas árias (a primeira, aos oito anos,
indiscreto (1783) de Anfossi, Aloysia
em Londres) que lhe serviram de exercício
Weber interpretava o papel de Clorinda.
para se aperfeiçoar no ofício, adaptando
A cantora julgou as árias de Anfossi
a música aos Affekte — amor, raiva,
aquém de seus recursos e solicitou ao
ciúme — de um texto poético.
cunhado outras, que mostrassem todos os seus recursos. Mozart admirava sua
As árias de concerto cumpriram funções
voz extensa e delicada, cujo agudo
diversas ao longo do século XVIII.
ascendia até o mi 5. As três árias que
Frequentemente eram encomendadas
compôs — entre elas No, no, che non
para recitais de cantores profissionais
sei capace K. 419 — fizeram muito
ou amadores. Mozart ajustava sua
sucesso, independentemente do
escrita aos intérpretes, acentuando-lhes
fracasso da ópera.
as qualidades e considerando as limitações. Tornou-se famoso o conceito mozartiano de que “uma ária deve se adaptar ao cantor como um traje bem feito”. Muitos cantores agraciados com
PAULO SÉRGIO MALHEIROS DOS SANTOS Pianista, Doutor em Letras, professor na UEMG, autor dos livros Músico, doce músico e O grão perfumado – Mário de Andrade e a arte do
essas árias isoladas participaram de
inacabado. Apresenta o programa semanal
papéis importantes em suas óperas,
Recitais Brasileiros, pela Rádio Inconfidência.
45 FORA DE SÉRIE 14 DE MAIO
Sinfonias
FABIO MECHETTI, regente
PROGRAMA
4
18 DE JUNHO SINFONIA Nº 31 EM RÉ MAIOR, K. 297, “PARIS” • Allegro assai • Andante • Allegro
SINFONIA Nº 34 EM DÓ MAIOR, K. 338 • Allegro vivace • Andante di molto • Allegro molto — INTERVALO —
SINFONIA Nº 40 EM SOL MENOR, K. 550 • Molto allegro • Andante • Menuetto • Allegro assai
47 FORA DE SÉRIE 18 DE JUNHO
SINFONIA Nº 31 EM RÉ MAIOR, K. 297, “PARIS” Paris, 1778 | 20 min 2 flautas, 2 oboés, 2 clarinetes, 2 fagotes, 2 trompas, 2 trompetes, tímpanos, cordas.
SINFONIA Nº 34 EM DÓ MAIOR, K. 338 Salzburgo, 1780 | 21 min 2 oboés, 2 fagotes, 2 trompas, 2 trompetes, tímpanos, cordas.
P
ode-se dizer, sem muito exagero, que a sinfonia, tal como concebida em meados do século XVIII, seja a sonata transportada para o universo sinfônico. É claro que esse
universo tem certas demandas específicas e, definido em sua sonoridade pela escola de Mannheim, já havia elaborado certos aspectos idiomáticos próprios. Mas, na forma e na
SINFONIA Nº 40 EM SOL MENOR, K. 550 Viena, 1788 | 28 min
estrutura, não é demasiado generalizador afirmar que a sinfonia clássica seja uma sonata executada pela orquestra sinfônica. Sob um olhar analítico mais cuidadoso, porém, há que se notar algumas questões.
Flauta, 2 oboés, 2 clarinetes, 2 fagotes, 2 trompas, cordas.
Em primeiro lugar, a sinfonia clássica tem pouquíssimo em comum com o gênero homônimo do Barroco. Ali, o termo designava qualquer tipo de composição instrumental, em particular os trechos instrumentais de obras vocais (prelúdios ou interlúdios). No Classicismo, entretanto, ela é embasada nos dois tipos de aberturas de óperas que se constituem no século XVII: a abertura francesa e a abertura italiana. A primeira, cujo paradigma é Lully, dá à orquestra de teatro as dimensões e características fundamentais da orquestra sinfônica clássica. A segunda, que traz a assinatura de Alessandro Scarlatti, dá ao gênero uma tripartição bem definida em movimentos distintos. Deve-se aos filhos de Bach o uso da forma sonata nos primeiros movimentos. Mas é sobretudo a Johann Stamitz, fundador da Escola de Mannheim, e a seu filho, Karl Stamitz, que ali o sucedeu, que se devem as compleições definitivas da sinfonia e da orquestra sinfônica. Os Stamitz não criaram a sinfonia, mas organizaram sua prática e definiram seu caráter: a adoção de quatro movimentos, com a inserção definitiva de minueto e trio entre o movimento lento e
48 FORA DE SÉRIE 18 DE JUNHO
o movimento final; o emprego da
Tulherias. Fruto da segunda viagem de
forma sonata no primeiro movimento,
Mozart a Paris, o sucesso dessa obra
com dois temas contrastantes; o
(executada várias vezes na mesma
afastamento da escrita contrapontística;
série, nos dois anos seguintes) não
o abandono definitivo do baixo
corresponde à indiferença com que a
contínuo; a introdução do clarinete
sociedade parisiense o recebeu: já não
no naipe das madeiras.
interessava aos parisienses o jovem de vinte e dois anos, como lhes interessara
É esse modelo que Joseph Haydn
o prodígio que ali esteve entre 1763
cristaliza. Mozart, por sua vez, o
e 1764. Talvez por isso Mozart tenha
assume definitivamente a partir
substituído, na récita das Tulherias, o
de 1773, com a sinfonia K. 201.
segundo movimento (trocando, por um
De fato, as primeiras sinfonias de
andante, o andantino em seis por oito,
Mozart adotam o modelo tripartido
que não agradou aos primeiros ouvintes).
das aberturas italianas e lembram,
Ambos os movimentos são aceitos hoje
formalmente, muito mais o concerto ou
e dependem da escolha do intérprete.
as aberturas de suas primeiras óperas.
Note-se que, nessa obra, Mozart ainda não inclui o minueto da sinfonia
É, portanto, um sinfonista já maduro
clássica, atendo-se à forma tripartida.
em suas escolhas que compõe, em 1778, a sinfonia K. 297. De fato, essa
A sinfonia K. 338 data de dois anos
obra foi composta para o maior grupo
depois, pertence à fase em que
orquestral de que dispôs Mozart em
Mozart ainda residia em Salzburgo
vida: na estreia, em Paris (12 de junho
e antecede duas obras-primas: a
de 1778, em uma récita privada, na
sinfonia K. 385 (Haffner) e K. 425
casa do conde von Sickingen), havia
(Linz). Mozart também aqui atém-se
vinte e dois violinos, cinco violas,
a três movimentos, omitindo o minueto,
oito violoncelos e cinco contrabaixos,
embora o musicólogo Alfred Einstein
e é a primeira das sinfonias em que o
afirme que o minueto K. 409 foi
par de clarinetes aparece. Seis dias
composto posteriormente para ser
depois, ela foi executada em público
inserido nessa obra. Há poucos
na série Concert Spirituel, na Salle
argumentos que comprovam essa
des Cent Suisses, no Palácio das
afirmação, e alguns que o rejeitam,
49 FORA DE SÉRIE 18 DE JUNHO
a começar pela inclusão de duas flautas
ora a associam ao Sturm und Drang,
na orquestração do minueto, ausentes
ora a um sentimento trágico do
dos outros movimentos da sinfonia.
compositor em relação a si mesmo.
Note-se, antes, o trabalho com os
Alfred Einstein afirma que nem ela
sopros e a rítmica típica da fanfarra,
nem a que a seguiu (nº 41, K. 551,
no primeiro movimento, que lhe
“Júpiter”) teriam sido compostas
atribuem um caráter festivo, que
para ser executadas, mas que
contrasta com o segundo movimento.
seriam um “legado de Mozart à
Este desperta o Mozart da ópera e da
posteridade”. A afirmação é revestida
música vocal. O último movimento é
de polêmica: desde correspondências
uma dança, um tanto enérgica, bem
de contemporâneos do compositor
à maneira da tradição musical italiana.
até anúncios de concertos conduzidos
Não se sabe ao certo a data de estreia
por Salieri em Viena, assim como
dessa obra, mas pode-se supor que se
cópias de manuscritos revisados
deu na corte do Príncipe-Arcebispo de
pelo compositor atestam que ela
Salzburgo, antes de 1781.
foi executada quando Mozart ainda vivia. O fato é que ela deve ter
A obra-prima que é a sinfonia em
sido estreada entre o ano de sua
sol menor, K. 550, composta em
composição e o ano da morte de
1788, porém, é de outra grandeza
Mozart. É fato também que as três
(se é que de Mozart se pode dizer
últimas sinfonias foram compostas em
isso!...). Penúltima obra do gênero
menos de seis semanas, no mesmo ano
do compositor, pertence à fase final
de 1788. Esta obra desvela o Mozart
de sua vida e mostra o modelo de
de sempre, mas, se é permitido dizê-lo,
música que Beethoven iria seguir
menos dramático e mais trágico:
ou transcender e com o qual todo
menos persona e mais pessoa...
o sinfonismo do século XIX se veria
ainda admiravelmente clássico,
mais ou menos em débito. Sobre ela
mas surpreendentemente além disso.
escreveram desde von Nissen, primeiro biógrafo de Mozart (aristocrata que se casou com a viúva do compositor),
MOACYR LATERZA FILHO Pianista e cravista, Doutor em Literaturas de Língua Portuguesa,
a Hector Berlioz. Sobre ela ainda hoje
professor da Universidade do Estado de Minas
há os mais variados comentários, que
Gerais e da Fundação de Educação Artística.
50 FORA DE SÉRIE 18 DE JUNHO
Mozart. Pintura de Joseph Lange, 1790c. Mozart Museum, Internationale Stiftung Mozarteum, Salzburgo.
51 FORA DE SÉRIE 18 DE JUNHO
Rivais e contempor창neos
52
TOBIAS VOLKMANN, regente convidado ALEXANDRE BARROS, oboé
PROGRAMA
5
23 DE JULHO Wolfgang Amadeus Mozart
O RAPTO DO SERRALHO, K. 384: ABERTURA Antonio Salieri
SINFONIA EM RÉ MAIOR, “IL GIORNO ONOMASTICO” • Allegro, quasi presto • Larghetto • Minuetto • Allegretto e sempre l’istesso tempo
Domenico Cimarosa / Adaptação de Arthur Benjamin Alexandre Barros
CONCERTO PARA OBOÉ EM DÓ MENOR • Introduzione: Larghetto • Allegro • Siciliana • Allegro giusto — INTERVALO —
Wolfgang Amadeus Mozart
SINFONIA Nº 39 EM MI BEMOL MAIOR, K. 543 • Adagio – Allegro • Andante con moto • Menuetto: Allegretto • Finale: Allegro
53 FORA DE SÉRIE 23 DE JULHO
na célebre sala do Gewandhaus de Leipzig como convidado da temporada oficial do Coro e Orquestra da Rádio MDR. Compromissos futuros incluem as estreias como convidado da Orquestra Sinfônica Provincial de Santa Fé, Argentina, e da Orquestra Filarmônica de Minas Gerais. Apresentou-se ainda em concertos com as orquestras sinfônicas de Vaasa e Jyväskylä, Finlândia, Orquestra Lyatoshinsky de Kiev, Orquestra Sinfônica de Porto Alegre, Sinfônica Municipal de Campinas e Orquestra Sinfônica da FOTO DARYAN DORNELLES
Universidade Federal do Rio de Janeiro. É convidado frequente
TOBIAS VOLKMANN
nas temporadas da Orquestra Sinfônica Nacional-UFF e da Orquestra Sinfônica da Universidade de Cuyo, Argentina. Entre 2012 e 2014 atuou como maestro assistente do
Tobias Volkmann é um dos destaques
Theatro Municipal do Rio de Janeiro, onde esteve à frente dos
da nova geração de regentes orquestrais
balés La Bayadère e Coppelia e do acompanhamento para os
do Brasil. Desde a conquista dos
filmes mudos Nosferatu de Murnau e O Garoto de Chaplin —
principais prêmios concedidos no
espetáculos da série Música & Imagem. Atuou como maestro
Concurso Internacional de Regência
preparador em produções de ópera, destacando-se Billy Budd,
Jorma Panula 2012, Finlândia, e do
Salomé, A Valquíria, Aída, Rigoletto, Carmen e Madame Butterfly.
Prêmio de Público no Festival Musical
Entre 2009 e 2011 foi regente assistente da Orquestra
Olympus de São Petersburgo 2013,
Filarmônica Carnegie Mellon, nos Estados Unidos.
Volkmann vem atraindo atenção para uma carreira internacional em ascensão.
Tendo a versatilidade como grande qualidade artística, Tobias Volkmann se mostra igualmente à vontade no repertório
Como regente convidado, já esteve à
sinfônico, coral, no teatro de ópera e balé e na música para
frente de grandes orquestras europeias
cinema. Com especial atenção à música contemporânea,
e sul-americanas, entre elas a
dirigiu estreias nos Estados Unidos, Rússia e Brasil.
Orquestra Sinfônica do Porto Casa da Música, Orquestra Sinfônica Estatal
Realizou sua formação com grandes nomes da regência em
do Museu Hermitage e Orquestra
masterclasses internacionais ministradas por Kurt Masur,
Sinfônica Estatal de São Petersburgo,
Jorma Panula, Ronald Zollman, Isaac Karabtchevsky e
Orquestra Sinfônica do Chile e
Fabio Mechetti. Estudou canto e regência na Universidade
Orquestra Petrobras Sinfônica. Em
Federal do Rio de Janeiro e concluiu mestrado em Regência
2015 teve sua estreia alemã à frente da
Orquestral na Universidade Carnegie Mellon de Pittsburgh,
Orquestra Sinfônica de Brandemburgo
Estados Unidos, sob orientação de Ronald Zollman.
54 FORA DE SÉRIE 23 DE JULHO
(UFMG), recebeu o primeiro prêmio no V Concurso de Música de Câmara dessa instituição. Em 1996, integrando o Trio Jovem de Palhetas, obteve menção honrosa no Concurso Jovens Solistas da Faculdade Santa Marcelina de São Paulo. No mesmo ano foi premiado no Concurso Jovens Solistas da Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo (Osesp) e apresentou-se à frente da orquestra sob regência de Diogo Pacheco. Dois anos mais tarde conquistou o prêmio Eleazar de Carvalho no Festival de Inverno de Campos do Jordão.
FOTO RAFAEL MOTTA
Como solista atuou com diversas orquestras, como a Sinfônica
ALEXANDRE BARROS
de Minas Gerais, Orquestra de Câmara Sesiminas e Orquestra Filarmônica Nova. Em 2010 foi solista à frente da Filarmônica de Minas Gerais, sob regência de Rodolfo Fischer.
Nascido em uma família de músicos,
De 1996 a 1997 integrou o naipe de oboés da Osesp e com
Alexandre iniciou seus estudos musicais
a orquestra realizou turnê por diversas cidades da Europa.
com o pai, Joaquim Inácio Barros.
A convite de Roberto Minczuk, atuou como primeiro oboé
Ainda criança, acompanhava seu pai
e foi solista da Orquestra Sinfônica de Ribeirão Preto, sob
e irmãos em rodas de choro tocando
regência do maestro Minczuk. Regressando a Minas Gerais
flauta doce. Estudou flauta transversal
passou a integrar o naipe de oboés da Orquestra Sinfônica
e, aos dezessete anos, passou para
de Minas Gerais até 2008.
o oboé, seguindo seus estudos com orientação dos professores Afrânio
Atualmente, é Primeiro Oboé da Orquestra Filarmônica
Lacerda, Gustavo Napoli, Carlos Ernest
de Minas Gerais. Paralelamente, é professor do Curso de
Dias e Arcádio Minczuk. Frequentou
Formação e Aperfeiçoamento em Artes (Cefar). Foi convidado
masterclasses com renomados
a lecionar em importantes festivais no Brasil, entre eles a
oboístas internacionais, dentre eles os
Semana de Música de Ouro Branco e o Festival Internacional
professores Ingo Goritzki, Alex Klein,
Sesc de Música de Pelotas.
François Leleux e Maurizio Colasanti. Alexandre desenvolve intensa atividade camerística, Alexandre sempre mostrou facilidade
em diversas formações. Em 2011 gravou um CD com o
e intimidade com o instrumento,
pianista Miguel Rosselini com importantes obras para
destacando-se rapidamente no cenário
oboé. Em duo com o pianista, apresentou-se em destacadas
da música erudita no Brasil. Em 1993,
salas de concerto no Brasil, no Festival Rio Folle Journée,
como membro do Quinteto de Sopros da
na Semana de Música de Ouro Branco e no Projeto
Universidade Federal de Minas Gerais
Quarta Erudita da Fundação Clóvis Salgado.
55 FORA DE SÉRIE 23 DE JULHO
O RAPTO DO SERRALHO, K. 384: ABERTURA Viena, 1782 | 5 min Piccolo, flauta, 2 oboés, 2 clarinetes, 2 fagotes, 2 trompas, 2 trompetes, tímpanos, percussão, cordas.
SINFONIA Nº 39 EM MI BEMOL MAIOR, K. 543 Viena, 1788 | 28 min Flauta, 2 clarinetes, 2 fagotes, 2 trompas, 2 trompetes, tímpanos, cordas.
E
m 1781 Mozart deixava Salzburgo após romper definitivamente com seu autoritário patrão, o arcebispo Colloredo. Aos 25 anos, como compositor e pianista autônomo, ele agora
dependia da renda de concertos, da venda de partituras, aulas particulares e, sobretudo, do público que determinava o êxito ou o insucesso de uma obra. A composição de O rapto do serralho coincidiu com o casamento de Mozart e Constanze (nome da heroína da ópera) Weber e o estabelecimento definitivo do compositor em Viena. Sintomaticamente, ele optou por um Singspiel — gênero dramático-musical tipicamente germânico, alternando o diálogo falado com o canto —, espetáculo de grande apelo popular. Durante toda a vida de Mozart, O rapto do serralho foi seu maior sucesso operístico. Resistiu, inclusive, a inúmeras intrigas de rivais invejosos. Sobre a partitura, o imperador Josef II fez seu famoso comentário: “Bela demais para os nossos ouvidos, meu caro Mozart, e com notas em demasia”. Ao que Mozart retrucou: “Exatamente tantas quantas são necessárias, Majestade”. Em O rapto do serralho, a trama acontece na Turquia, devido à moda contemporânea de temas orientais. A Abertura se inicia sobre um Presto muito vivo, com ritmos contrastantes, mas persistentes, enérgicos, vivos. O caráter feérico deve-se muito ao uso espetacular dos instrumentos de sopro e ao arsenal típico das turqueries da época — toda uma falange percussiva (tímpanos em dó e sol, triângulo,
56 FORA DE SÉRIE 23 DE JULHO
pratos, bumbo), evocativa de um
julga-se que o próprio Mozart não
Oriente de ópera. O poético Andante
chegou a ouvi-las. Talvez a publicação
central, em tom menor, expressão do
das Sinfonias Parisienses de Haydn,
amor de Belmonte por Constanze,
no ano anterior, tenha-lhe incentivado
não interrompe o clima de alegria
a criatividade; de fato, os dois
que logo se reinstala, com seu ritmo
compositores, apesar da diferença
desenfreado, contagiante até o final.
de idade, foram amigos constantes e admiradores mútuos.
Seis anos após o sucesso da estreia de O rapto do serralho, Mozart vivia,
As últimas sinfonias, com audácia
em meados de 1788, um período
inaudita, exibem o gênio de Mozart
extremamente difícil, início da miséria
em plenitude e revelam o alcance
humilhante que marcaria o último
de seu legado incomparável para o
capítulo de sua vida. Um dia antes de
gênero: notável percepção do equilíbrio
terminar a Sinfonia nº 39, escrevera
estrutural; um jogo fascinante das
ao amigo e credor Johann Puchberg
texturas orquestrais (sobretudo dos
solicitando mais um empréstimo;
instrumentos de sopro); a prodigiosa
três dias depois, morria sua filha
riqueza harmônica; e o surpreendente
Tereza. Entretanto, em apenas seis
e rigoroso cultivo do estilo fugato
semanas, Mozart concluiu mais duas
dos antigos mestres.
sinfonias (as de números 40 e 41), profundamente diferentes entre si e igualmente perfeitas. Fenômeno ainda mais intrigante, pois permanece enigmático o motivo de tamanho empenho composicional — essas três obras-primas incomparáveis foram criadas sem encomenda imediata e
PAULO SÉRGIO MALHEIROS DOS SANTOS Pianista, Doutor em Letras, professor na UEMG, autor dos livros Músico, doce músico e O grão perfumado – Mário de Andrade e a arte do inacabado. Apresenta o programa semanal Recitais Brasileiros, pela Rádio Inconfidência.
57 FORA DE SÉRIE 23 DE JULHO
Antonio Salieri (Itália, 1750 – Áustria, 1825)
SINFONIA EM RÉ MAIOR, “IL GIORNO ONOMASTICO” 1775 | 19 min 2 flautas, 2 oboés, fagote, 2 trompas, 2 trompetes, cordas.
Domenico Cimarosa (Itália, 1749 – 1801) Adaptação de Arthur Benjamin (1893-1960)
CONCERTO PARA OBOÉ EM DÓ MENOR 1942 | 10 min Cordas.
D
esde Amadeus, aquela deliciosa fita de Milos Forman, lançada em 1984, baseada na peça homônima de Peter Schaffer, Salieri entrou para o senso comum como o grande
vilão da história da música. É bem que se diga, porém, que a personagem de Schaffer não corresponde à figura histórica a que ela remete. Salieri foi de importância inegável, tanto como compositor quanto como mestre. Basta dizer que ele teve ascendência direta sobre a formação de Beethoven e, mais tarde, de Liszt. Seu nome foi eclipsado pela importância crucial, estética e histórica que tiveram os três integrantes da Primeira Escola de Viena. Entre Mozart e Salieri, quaisquer rivalidades não ultrapassaram os limites do saudável ou da cordialidade. Depreende-se, inclusive, da correspondência de Mozart, que este prezava muito as opiniões de Salieri, que, por sua vez, tinha grande apreço e admiração pela obra de Mozart. O estilo de Salieri, no entanto, é um pouco diferente do estilo de seus muitos compatriotas que moravam, então, em Viena: sua linguagem o aproxima muito mais da tradição germânica (como a de Gluck), que da italiana. Compositor dramático por excelência, deixou uma obra pródiga: são várias dezenas de óperas, um sem número de obras sacras, alguma música de câmara e várias obras sinfônicas, dentre as quais seis concertos e duas sinfonias completas: “La Veneziana” e
58 FORA DE SÉRIE 23 DE JULHO
Antonio Salieri. Pintura de Joseph Willibrod Mähler.
“Il giorno onomastico”. Embora o
Pergolesi, Galuppi e sobretudo Mozart,
nome seja pomposo, seu significado
o apogeu de uma tradição musical que
é bem simples: Salieri a compôs para
veria em Rossini o seu primeiro herdeiro.
comemorar seu próprio aniversário. Estruturada em quatro movimentos,
No entanto, o concerto para oboé é
já à maneira da sinfonia clássica, essa
uma obra moderna: em 1949 Arthur
obra apresenta citações de outras obras
Benjamin transcreveu, para oboé e
suas: as aberturas de La Scuola de’
orquestra de cordas, quatro sonatas
Gelosi e de La Partenza Inaspettata.
para teclado, compostas entre 1787
Ao ouvinte habituado a Haydn e Mozart,
e 1791, transformando essa colagem
essa obra há de ser a grata descoberta
em uma única obra. As sonatas de
de um Classicismo já sólido e elegante,
Cimarosa transcritas são (em ordem
mas ainda não centrado em si mesmo,
numérica, não como aparecem no
e mostra o ambiente musical vivo,
concerto) as de número 23, 24, 29 e
pulsante e rico em que cresceu a
31. É bom lembrar que esse sistema de
Primeira Escola de Viena.
colagens, apropriações e transcrições não era estranho ao espírito e à prática
Igualmente pródiga é a obra de Cimarosa:
dos séculos XVII e XVIII. A despeito da
são cerca de setenta óperas, várias
intervenção moderna, essa obra mostra
obras sacras, trinta e duas sonatas para
o caráter vocal e dramático desse
teclado, em um movimento, à maneira
contemporâneo de Mozart, com quem
de Domenico Scarlatti. Tendo construído
compartilha a mesma tradição.
uma carreira sólida, em 1791 é nomeado Mestre de Capela de Leopoldo II, em Viena, sucedendo Salieri. Seu estilo,
MOACYR LATERZA FILHO Pianista e cravista, Doutor em Literaturas de Língua Portuguesa,
porém, é inegavelmente italiano. Sua
professor da Universidade do Estado de Minas
linguagem dramática assinala, com
Gerais e da Fundação de Educação Artística.
59 FORA DE SÉRIE 23 DE JULHO
Ă“pera
FABIO MECHETTI, regente MARINA MORA, diretora de cena GABRIELLA PACE, Fiordiligi LUISA FRANCESCONI, Dorabella CARLA COTTINI, Despina DAVID PORTILLO, Ferrando LEONARDO NEIVA, Guglielmo LICIO BRUNO, Don Alfonso
PROGRAMA
6
20 DE AGOSTO COSÌ FAN TUTTE, K. 588 Ato I — INTERVALO —
COSÌ FAN TUTTE, K. 588 Ato II
61 FORA DE SÉRIE 20 DE AGOSTO
produção artístico-técnica junto a P. Domingo, E. Sagi, R. Oswald, H. De Ana, F. Sparvoli, E. Zanetti, M. Hampe, A. Heller Lopes, M. Lombardero, P. Maritano, J. D. Inella, T. Zvulun, J. L. Pichon, J. Martorell, P. Larraín, P. Nuñez e X. B. Rawson, no Teatro Colón, Teatro Municipal de Santiago do Chile, Teatro de La Plata, Teatro Calderón de Valladolid, Teatro de La Zarzuela e no Auditório Nacional, México. Nesse período, encenou O barbeiro de Sevilha, Retablo del Maese FOTO DIVULGAÇÃO
MARINA MORA
Pedro, O mestre de capela, Tristão e Isolda, Lady Macbeth de Mtsensk, Turandot, Cavalleria Rusticana, Pagliacci, Alcina, Rigoletto, Thais, Carmen, Ariadne auf naxos, Madame Butterfly, Boris Godunov, Don Pasquale, Aida, Doña Francisquita,
Marina Mora nasceu em Buenos Aires,
O rapto do serralho, Eugene Onegin, Lucrezia Borgia,
Argentina, onde formou-se em
Jenufa, Anna Bolena, Don Giovanni, Katia Kabánova, Lakmé,
Pedagogia, Educação, Música,
I Puritani, A Flauta Mágica, Lady be good, Lua de mel no
Dança e Interpretação, realizando
Cairo, The Rake´s Progress, Il Turco en Italia, Norma e Rusalka.
posteriormente a licenciatura em Artes Cênicas no Instituto
Foi diretora de cena da ópera Don Pasquale de Donizetti
Universitário Nacional de Arte.
no Teatro Espanhol da cidade de Azul, Argentina, através do Instituto Superior de Arte del Teatro Colón. Também
Depois de várias experiências como atriz,
dirigiu seminários de artes cênicas na Universidade
no teatro e no cinema, incluindo um
San Alberto Hurtado, em Santiago do Chile, e ganhou
prêmio de Melhor interpretação com a
o prêmio Fondart 2010 para música com a montagem
obra La llave en el desván, de A. Casona,
do projeto A ópera em sua cidade.
no 20º Certamen de Casas Regionales de España, estuda direção teatral com
Marina foi diretora de cena da ópera Le nozze di Figaro para
C. Ianni e com R. Szuchmacher. Em
a Pontifícia Universidade Católica do Chile, apresentada no
seguida, ingressa no Instituto Superior
Teatro Cariola de Santiago, no Teatro Municipal de Chillán, no
de Arte do Teatro Colón para cursar
Teatro Diego de Rivera na cidade de Puerto Montt e no Teatro
direção cênica de ópera.
regional de Maule, em turnê muito bem acolhida pelo público.
Paralelamente, começa uma grande
Recentemente dirigiu La Serva Padrona para o Palácio
atividade como assistente de direção,
Legislativo da Nação Argentina, montagem que será
gerente de palco e coordenadora de
reapresentada em 2016 em Nova York para a Empire Opera.
62 FORA DE SÉRIE 20 DE AGOSTO
Vencedora do Prêmio Carlos Gomes
de Mendelssohn, Requiem de Mozart, Stabat Mater de
2010 pela participação na ópera
Rossini e na Missa in Tempore Belli, A Criação e
A Menina das Nuvens, Gabriella Pace
As Estações de Haydn.
já cantou sob a regência de maestros como Lorin Maazel, Isaac Karabtchevsky,
Desde 2005 faz parte do Trio Duetos e Canções, ao
John Neschling, Roberto Minczuk,
lado do pianista Gilberto Tinetti e da mezzo-soprano
Rodolfo Fischer, Luiz Fernando
Adriana Clis, apresentando-se em recitais de música
Malheiro, Fabio Mechetti,
de câmara por todo o país.
Sílvio Viegas e Abel Rocha. Com o Quarteto Raga, Gabriella cantou o Quarteto Foi Tytania em Sonho de uma Noite
op. 10, nº 2 de Schoenberg e, com a Orquestra
de Verão de Britten, Ilia em Idomeneo,
Sinfônica do Estado de São Paulo (Osesp), gravou
Eurídice em Orfeo ed Euridice,
o Requiem Ebraico de Zeisl.
Giulietta em I Capuleti e i Montecchi, Susanna em As bodas de Fígaro,
Gabriella iniciou os estudos com o pai, Héctor Pace,
Ceci em Il Guarany, Pamina em
e foi aluna de Leilah Farah e Pier Miranda Ferraro.
A Flauta Mágica e Adina em O Elixir do Amor, dentre muitas outras. Foi solista na Quarta Sinfonia de Mahler, Nona Sinfonia de Beethoven,
FOTO HENRIQUE PONTUAL
Carmina Burana de Orff, Lobgesang
GABRIELLA PACE 63 FORA DE SÉRIE 20 DE AGOSTO
FOTO LINCOLN IFF
LUISA FRANCESCONI Luisa Francesconi tem excepcional
turnê da Cia. Brasileira de Ópera, em 2010, no papel de
capacidade para a execução de
Rosina em O barbeiro de Sevilha de Rossini.
coloratura, destacando-se no repertório rossiniano e mozartiano
Ela canta com frequência nos principais teatros brasileiros
ao interpretar papéis em óperas como
e italianos e tem se apresentado regularmente também em
Il barbiere di Siviglia, L’Italiana in
Portugal. Interpretou o Stabat Mater de Pergolesi na famosa
Algeri, Così fan tutte e Don Giovanni.
igreja Ara Coeli, em Roma, e a Missa em Dó menor de Mozart no Auditorium Verdi, em Milão.
A mezzo-soprano fez a sua estreia internacional no Teatro Argentina,
Seu repertório de concerto é vasto, com atuações marcantes
em Roma, no papel de Cherubino
em Rapsódia para Contralto e Missa em Si menor de Bach;
em Le nozze di Figaro, de Mozart.
Requiem e Missa da Coroação de Mozart; Nisi Dominus de
Representa também com grande
Vivaldi; Messias de Haendel; Nona Sinfonia, Missa em
sucesso outros papéis en travesti,
Dó maior e Fantasia Coral de Beethoven; Stabat Mater e
como Romeo em I Capuleti e
Petite Messe Solemnelle de Rossini; Sonho de uma Noite de
I Montecchi de V. Bellini, Orfeo
Verão de Mendelssohn; Te Deum de Bruckner; Les Nuits d’Été
em Orfeo ed Euridice de Gluck e
de Berlioz; Sinfonias números 2, 3 e 8 de Mahler; El Amor
Idamante em Idomeneo de Mozart.
Brujo de Falla e Floresta do Amazonas de Villa-Lobos.
Luisa interpretou Didone em
Luisa Francesconi gravou suas participações como solista
Les Troyens de Berlioz. Participou
na Nona Sinfonia de Beethoven e no Réquiem Hebraico de
com enorme sucesso da primeira
Erich Zeisl, lançadas em CD pelo selo Biscoito Fino.
64 FORA DE SÉRIE 20 DE AGOSTO
Em 2013 Carla interpretou Gretel no Palau de la Musica de Valencia, na produção espanhola de Amparo Urieta. Foi Zerlina no Theatro Municipal de São Paulo, na produção de
FOTO FERNANDO LOUZA
Don Giovanni dirigida por Pier Francesco Maestrini, ao lado de artistas como Andrea Rost, Monica Bacelli e Nicola Uliveri.
CARLA COTTINI
Em 2014, em Valencia, Espanha, interpretou a bruxa Armida de Rinaldo no Auditorio de Ribarroja e debutou como Susanna em Le nozze di Figaro, papel que interpretou também no
Vencedora do Prêmio Revelação no
Theatro São Pedro, em São Paulo, sob a direção musical de
10º Concurso de Canto Maria Callas da
Luiz Fernando Malheiro e direção cênica de Livia Sabag.
cidade de Jacareí, em 2011, Carla Cottini tem se destacado por integrar em suas
Em 2015 estreou com grande sucesso como Norina em
performances apurada técnica, belo
Don Pasquale, no Teatro Sociale di Rovigo, Itália.
timbre e marcante presença cênica. Além de sua dedicação ao canto lírico, Cottini tem formação Estreou no Teatro Municipal de
em artes cênicas, jazz dance e balé clássico na Casa de
São Paulo em dezembro de 2011
Artes OperAria. Antes de se dedicar à ópera, Carla Cottini
com grande sucesso como Ida em
participou, em São Paulo, das superproduções dos musicais
O Morcego e como Musetta em
My Fair Lady, em 2007, sob a direção de J. Takla; Esta é a
La Bohème, com a Orquestra Sinfônica
Nossa Canção, em 2009, sob a direção de Charles Randolph
do Sergipe. Em 2012 cantou a primeira
Wright, e Cats, em 2010, sob a direção de Richard Staford,
audição mundial da obra Fantasia
bem como de produções menores de musicais como
Gabriela de André Mehmari, escrita
West Side Story, Wicked e Chorus Line.
por encomenda da Orquestra Sinfônica da Bahia para as comemorações do
Carla Cottini terminou em setembro de 2014 seu mestrado
centenário de Jorge Amado. Nesse
em interpretação operística no Conservatório Superior
mesmo ano estreou no Palácio das Artes
de Música Joaquín Rodrigo de Valencia, Espanha, sob
de Belo Horizonte como Valencienne
orientação de Ana Luisa Chova. Desde 2012 tem como
na opereta A Viúva Alegre, sob direção
tutora a soprano Eliane Coelho. Seu preparador principal
de Jorge Takla.
de repertório é Rafael Andrade.
65 FORA DE SÉRIE 20 DE AGOSTO
Na temporada anterior, David Portillo retornou ao Houston Grand Opera como Tamino em A Flauta Mágica, conduzido por Roberto Spano, e estreou na Washington National Opera como Don Ramiro em La Cenerentola. Voltou ao Festival d'Aixen-Provence como Pedrillo e à Arizona Opera como Tonio em La fille du régiment, representação já aclamada pela crítica. Seus compromissos com orquestras incluem O Messias de Haendel com a St. Paul Chamber Orchestra, Kansas City FOTO KRISTEN HOEBERMANN
Symphony e Richmond Symphony e Lélio de Berlioz com a Dayton Philharmonic. Portillo também encenou Tebaldo em
DAVID PORTILLO
I Capuleti e i Montecchi, com a Washington Concert Opera, e Gastone em La Traviata com a Los Angeles Philharmonic, no Hollywood Bowl. Apresentou-se no Requiem de Verdi e na Nona Sinfonia de Beethoven com as sinfônicas de Phoenix e
Elogiado pelo Opera News pela
Elmhurst e no Colorado Music Festival, onde também esteve
"facilidade com as notas altas, cantadas
com A Criação de Haydn.
com brilho e exuberância que seduzem os ouvidos", o tenor norte-americano
Outros personagens vividos por Portillo são Trin, Renaud, Don
David Portillo se estabeleceu como um
Ottavio, Ferrando, Belmonte, Narciso e Gonzalve. Cantou na
dos principais artistas de sua geração.
Accademia Nazionale di Santa Cecilia, no Saito Kinen Festival, Wiener Staatsoper, Salzburg Festival e Opera Angers-Nantes.
Nesta temporada, ele faz sua estreia no Metropolitan Opera como Conde
Aluno do Ryan Opera Center na Lyric Opera de Chicago,
Almaviva, em O barbeiro de Sevilha.
do Merola Opera Program na San Francisco Opera e da
Retornará à Lyric Opera de Chicago como
Wolf Trap Opera em Vienna, Virgínia, Portillo acrescentou
Andres em Wozzeck, numa produção de
ao seu repertório o Chevalier de la Force em Dialogues of
David McVicar conduzida por Andrew Davis.
the Carmelites, Nadir em Les pêcheurs de perles, Fenton
E também à Palm Beach Opera estreando
em Falstaff, Alfredo em La Traviata, o papel principal em
no papel de Ernesto, em Don Pasquale.
Albert Herring e Sam Kaplan em Street Scene.
Na Europa, estreia no Théâtre des ChampsÉlysées como Pedrillo, em O rapto do
Em 2009, David Portillo recebeu prêmios da Fundação
serralho, e como solista em Das Paradies
Sullivan, da Sociedade Americana de Ópera de Chicago
und die Peri de Schumann com a
e da Fundação Shoshana, além de vencer o concurso para
Netherlands Radio Orchestra. Retorna ao
uma bolsa de estudos da Fundação Bel Canto. Em 2008 foi
Festival Glyndebourne como David
agraciado com o prêmio maior da categoria masculina da
em Os mestres cantores de Nuremberg.
União da Liga dos Jovens de Chicago.
66 FORA DE SÉRIE 20 DE AGOSTO
Nascido em Brasília, o conceituado barítono
Bizet. Apresentou-se no Teatro Nacional de São Carlos,
brasileiro Leonardo Neiva é conhecido por
em Lisboa, Portugal, em Carmina Burana de Orff;
sua desenvoltura cênica e versatilidade
no Théâtre du Capitole, em Toulouse, França, no papel
vocal. Foi revelado aos 23 anos no papel
de Cecco del Vecchio, em Rienzi de Wagner; na Opernwelt,
de Figaro, em Il barbiere di Siviglia de
Alemanha, em Tristão e Isolda de Wagner. Também cantou
Rossini. Desde então, é convidado por
em recitais e concertos na Itália, Espanha, Portugal,
teatros do Brasil e do exterior.
Colômbia e Estados Unidos.
Leonardo foi muito elogiado pela crítica
Em 2009, recebeu o XII Prêmio Carlos Gomes de melhor
ao representar o papel de Ford, em
cantor do Brasil por suas atuações como Le Grand-Prêtre
Falstaff de Verdi, na Sala São Paulo,
de Dagon, em Sansão e Dalila de Saint-Saëns, como Eneas
junto à Orquestra Sinfônica do Estado
em Dido e Eneas de Purcell, bem como o Kullervo na obra
de São Paulo (Osesp). Obteve grande
de Jean Sibelius.
êxito também ao se apresentar junto à Cia. Brasileira de Ópera, no papel título
Leonardo Neiva gravou em 2010 o CD Clamores, com canções
de Il barbiere di Siviglia, e no XV Festival
de música contemporânea do compositor Jorge Antunes.
Amazonas de Ópera, quando participou da montagem de Tristão e Isolda de Wagner, interpretando Kurwenal. Fora do Brasil, estreou no Teatro Municipal de Santiago, Chile, como
FOTO CASSIANO GRANDI
Zurga, em Les pêcheurs de perles de
LEONARDO NEIVA 67 FORA DE SÉRIE 20 DE AGOSTO
O sucesso e amplitude da carreira
Foi dirigido por ícones do teatro brasileiro — Amir Haddad,
de Licio Bruno são notáveis entre os
José Possi Netto, Jorge Takla, Gianni Rato, Sérgio Britto —
cantores brasileiros por suas atuações
e estrangeiro — Werner Herzog, Hugo de Anna, Aidan Lang.
em ópera, música sinfônica, de câmara
Cantou com renomados maestros brasileiros e estrangeiros,
e teatro no Brasil e exterior.
entre os quais Lorin Maazel e Isaac Karabtchevsky, das paixões de Bach até Beethoven, Kodály, Stravinsky e Britten, bem como
Aperfeiçoou-se na Academia Franz Liszt,
ciclos de Schubert, Mahler, Ravel e Poulenc, entre outros.
Budapeste, foi membro da Ópera Estatal Húngara e cantou na Itália, Espanha,
Licio Bruno é detentor de mais de dez primeiros prêmios em
Alemanha, Suíça, Colômbia e Argentina.
concursos nacionais e estrangeiros e recebeu, em 2004, o
No Brasil, os teatros de ópera e salas
Prêmio Carlos Gomes de Melhor Cantor Erudito.
de concerto são sua casa. Com mais de cinquenta personagens em óperas
O artista celebrou, em 2013, seus 25 anos de carreira
de diferentes autores, períodos e
dedicados à música com as óperas Aída, A Valquíria, A Serva
estilos, Licio é, até hoje na história
Patroa, O Turco na Itália, Rigoletto e Falstaff. Também fez sua
da ópera brasileira, o único cantor a
estreia na Argentina, interpretando com grande sucesso de
ter enfrentado na totalidade o Wotan /
público e crítica o papel principal de O Navio Fantasma,
Wanderer da tetralogia wagneriana.
de Wagner, no Teatro Argentino de La Plata.
68 FORA DE SÉRIE 20 DE AGOSTO
FOTO ARIANA ROSA
LICIO BRUNO
COSÌ FAN TUTTE, OSSIA LA SCUOLA DEGLI AMANTI, K. 588 Viena, 1790 | 180 min 2 flautas, 2 oboés, 2 clarinetes, 2 fagotes, 2 trompas, 2 trompetes, tímpanos, cravo, cordas.
C
osì fan tutte é a última das três obras-primas de Mozart com o libretista Lorenzo Da Ponte. O elenco se reduz a seis personagens, agrupados em três pares. Tal simetria é explorada no
libreto e fornece ao compositor — então no auge de sua criatividade — oportunidades para criar música perfeita nos menores detalhes e de grande variedade imaginativa. Na breve Abertura, após uma introdução lenta, o andamento rápido imprime o caráter feérico que dominará os dois atos da ação cênica.
Ato I Dois oficiais, Ferrando e Guglielmo, são noivos de duas irmãs, respectivamente Dorabella e Fiordiligi. Em um café, eles discutem sobre a fidelidade. Desafiados pelo cético Don Alfonso, aceitam apostar na lealdade de suas noivas, participando de um plano para prová-la. O terceto Una bela serenata fecha a cena com a alegria dos oficiais, certos da vitória. Os clarinetes, em terças sobre as cordas, transportam a cena à casa de Dorabella e Fiordiligi. As irmãs cantam os méritos de seus apaixonados no dueto Ah, guarda sorella. Don Alfonso dá início a seu plano, anunciando-lhes a falsa notícia da recente convocação dos noivos para a guerra. A ação desenvolve-se com formações musicais diversas: quintetos, um dueto para os oficiais, trios e o coro militar. Em Di scrivermi ogni giorno, sobre o fundo dos sarcásticos comentários de Don Alfonso, os namorados se despedem. Ferrando e Guglielmo partem. O fluido trio Soave sia il vento deseja-lhes boa viagem. As noivas estão inconsoláveis. Alfonso, porém, proclama um rancoroso discurso contra a inconstância das mulheres: Quante smorfie!
69 FORA DE SÉRIE 20 DE AGOSTO
A criada Despina tenta consolar
tomando um suposto veneno. As noivas
as irmãs. Dorabella extravasa
se enternecem diante da triste sorte dos
seu sentimento de abandono em
agonizantes. O artifício dos disfarces
Smanie implacabile, cujos efeitos
atinge grande comicidade quando
vocais parodiam as habituais árias
Despina, fazendo-se de médico,
trágicas. Em contraste, no cômico solo
administra seu onipotente talismã
In uomini, in soldati, Despina propõe
curativo, a pedra de Mesmer.
que as irmãs aproveitem a ausência
Recuperados, os pseudossuicidas
dos namorados... para namorar.
acordam no Olimpo e pedem beijos consoladores às duas deusas. Enfurecidas,
Alfonso suborna Despina e apresenta-lhe
as irmãs mandam os jovens às favas.
Ferrando e Guglielmo disfarçados. As irmãs mostram-se indignadas com
Ato II
a presença dos estranhos em sua casa.
A virtude das senhoras irrita
Mas Alfonso intervém saudando-os
Despina, que resume sua opinião na
como grandes amigos. Imediatamente
ária Una donna a quindici anni —
os rapazes iniciam suas declarações
por que não se deixar cortejar? As
amorosas às noivas trocadas. Fiordiligi
irmãs concordam em conversar com
declara sua inquebrantável fidelidade —
os pretendentes. Decisão tomada,
Come scoglio. Trata-se de uma ária
cada uma escolhe seu parceiro no
dificílima, que parece zombar da
dueto Prenderò quel brunettino —
virtuosidade, com largos intervalos,
Dorabella com Guglielmo; Fiordiligi
de um extremo a outro da tessitura
e Ferrando. Os apaixonados oferecem
de soprano. Guglielmo responde
uma serenata às amadas, Secondate,
com a suavidade de Non siate ritrosi.
aurette amiche, dueto de extasiante
Mas as noivas não se comovem e
melodia, com coro.
retiram-se. Diante de tal demonstração de fidelidade, o romântico Ferrando
Acanhados, os rapazes e as irmãs ficam
canta a ária Un’alma amorosa.
sem assunto, falando do tempo. Porém,
Alfonso, que não se dá por vencido,
após alguma hesitação, Guglielmo
pede a Despina um estratagema
oferece a Dorabella um medalhão em
para reverter a situação.
forma de coração, trocando-o pelo que ela trazia com o retrato do noivo
Os acontecimentos se complicam e
Ferrando. No dueto Il coro vi dono a
fornecem ao compositor um extenso
orquestra simula as palpitações de seus
finale. Os rapazes simulam suicídio,
corações apaixonados.
70 FORA DE SÉRIE 20 DE AGOSTO
Enquanto isso, Fiordiligi e Ferrando
Fra gli ampessi os dois celebram
continuam relutantes. Ele alterna
a felicidade da nova união.
dúvida e confiança: Ah, lo veggio. E ela expressa seus confusos sentimentos no
Os três apostadores se encontram.
grande rondó Per pietà, bem mio, cujas
Os rapazes estão revoltados com a
assombrosas dificuldades técnicas —
infidelidade das irmãs. Mas Alfonso
é o morceau de bravoure da ópera —
intervém com seu solo — “nem
refletem os conflitos de sua alma.
melhores, nem piores que as outras”, afirma. E obriga os oficiais a cantarem
Reunião dos dois amigos para avaliar a
juntos Così fan tutte.
situação: Ferrando traz boas notícias — a fidelidade de Fiordiligi alegra-os.
Despina comunica o casamento das
Mas ele se desespera quando o
patroas com os amigos. O brinde aos
companheiro apresenta-lhe o medalhão
noivos E nel tuo, nel mio bichiero
de Dorabella. Para consolar o amigo —
é um engenhoso cânone iniciado
e também porque se sente culpado —,
por Fiordiligi e acrescido do aparte
Guglielmo aconselha-o a não se
revoltado de Guglielmo. Despina faz
envolver tanto assim, pois as mulheres
o papel de tabelião, mas a cerimônia
sempre maltratam o coração dos
é interrompida pela banda militar
homens. A sofisticada verve desta ária,
que anuncia a volta dos oficiais. Após
Donne mie, la fate a tanti, lembra a
grande confusão, tudo se resolve com
melhor música de câmara mozartiana.
o perdão mútuo. Os amantes estão
Ferrando canta seu desespero na
novamente reunidos — não importa
sombria cavatina Tradito, schernito.
se da forma original ou se na segunda
Alfonso entra em cena e faz um
versão. O sexteto final celebra a alegria
irônico balanço da situação.
e homenageia quem enfrenta as dificuldades com bom-humor.
Despina elogia a atitude decidida que Dorabella apresenta. Fiordiligi, ao contrário, continua sofrendo com a dubiedade dos sentimentos. Num recurso derradeiro, ela toma a decisão de se disfarçar para encontrar o noivo Guglielmo no campo da guerra. Porém, Ferrando, ainda disfarçado, aparece e com a beleza avassaladora do dueto
PAULO SÉRGIO MALHEIROS DOS SANTOS Pianista, Doutor em Letras, professor na UEMG, autor dos livros Músico, doce músico e O grão perfumado – Mário de Andrade e a arte do inacabado. Apresenta o programa semanal Recitais Brasileiros, pela Rádio Inconfidência.
71 FORA DE SÉRIE 20 DE AGOSTO
MĂşsica incidental
FABIO MECHETTI, regente
PROGRAMA
7
1º DE OUTUBRO CONTRADANÇAS, K. 609 • Nº 1 em Dó maior • Nº 2 em Mi bemol maior • Nº 3 em Ré maior • Nº 4 em Dó maior • Nº 5 em Sol maior
IDOMENEO: MÚSICA DE BALÉ, K. 367 • Nº 1a – Chaconne: Allegro • Nº 1b – Larghetto pour Madame Hartig • Nº 1c – Chaconne, qui reprend: Allegro • Nº 2 – Pas seul • Nº 3 – Passepied • Nº 4 – Gavotte • Nº 5 – Passacaille — INTERVALO —
TAMOS, REI DO EGITO, K. 345 • Maestoso – Allegro • Andante • Allegro • Allegro vivace assai
LES PETITS RIENS, K. 299b • Overture: Allegro • Largo • Gavotte • Andantino • Allegro • Larghetto • Gavotte ( joyeuse): Allegro • Adagio • Intermezzo • Gavotte gracieuse • Pantomine • Passepied • Gavotte • Andante
73 FORA DE SÉRIE 1º DE OUTUBRO
CONTRADANÇAS, K. 609 Viena, 1791 | 7 min Flauta, percussão, cordas.
IDOMENEO: MÚSICA DE BALÉ, K. 367 Munique, 1781 | 25 min 2 flautas, 2 oboés, 2 clarinetes, 2 fagotes, 2 trompas, 2 trompetes, tímpanos, cordas.
TAMOS, REI DO EGITO, K. 345 Salzburgo, 1773/1779 | 19 min 2 oboés, 2 fagotes, 2 trompas, 2 trompetes, tímpanos, cordas.
M
ozart compôs música de dança desde os cinco anos, incluindo nove pequenos minuetos transcritos pelo pai no álbum de partituras de sua irmã Nannerl. Mas
foi a partir dos treze anos que começou a escrever música para ser dançada — dedicada ao Carnaval em Salzburgo —, atividade que manteve durante toda a vida. Compôs cerca de duzentos títulos isolados, sem contar os minuetos e outros movimentos de dança integrantes de suas sonatas, quartetos e sinfonias. Era ele próprio um entusiástico dançarino. Em uma carta do começo de 1783, conta ao pai
LES PETITS RIENS, K. 299b Paris, 1778 | 20 min 2 flautas, 2 oboés, 2 clarinetes, 2 fagotes, 2 trompas, 2 trompetes, tímpanos, cordas.
como comemorou seu aniversário: “Dei um baile em casa; começamos às seis horas da tarde e terminamos às sete. O quê? Somente uma hora! Não, não... às sete da manhã”. Para festas como essa, as danças eram apresentadas em sua habitual formação de câmara — o trio de cordas formado por dois violinos e baixo. A orquestração posterior, com o acréscimo dos instrumentos de sopro e percussão, mantinha a seção das cordas sem as violas. As partes centrais frequentemente incluíam instrumentos exóticos como gaitas de foles, cornetas de postilhão ou guizos de trenós. Na década de 1780, em Viena, a dança era um divertimento social muito popular. Sob o reinado liberal de Josef II, os bailes oficiais foram abertos a todas as camadas da sociedade — iniciava-se, então, a longa associação de Viena com a dança. Patrocinada pela corte, a temporada do Carnaval acontecia de janeiro até a Quaresma. A Mascarada constituía o ponto alto da estação, atraindo pessoas que podiam se divertir incógnitas, sob o disfarce das fantasias.
74 FORA DE SÉRIE 1º DE OUTUBRO
Também era uma fantasia o título de Kammermusicus oferecido a Mozart em 1787 — na verdade, o compositor recebia honorários exclusivamente relativos às danças do próximo Carnaval, geralmente compostas durante o dezembro anterior. Conforme o planejamento financeiro da corte, tratava-se de um artifício para impedir que um músico tão famoso abandonasse Viena. Não lhe encomendavam óperas ou sinfonias, e ficou célebre o comentário de Mozart
ao receber seu primeiro pagamento: “Demasiado para o que faço; demasiadamente pouco para o que eu poderia fazer”. Entretanto, compor danças nunca lhe pareceu ocupação secundária; ele a encarava com seriedade. Dedicou-se especialmente a quatro gêneros: as Marchas frequentemente tinham caráter militar. O aristocrático Minueto, destinado a morrer com o Antigo Regime, ainda guardava muito do seu refinamento e formalismo bicentenários. Mais vigorosas, as Danças alemãs ou Ländler dançavam-se aos pares, com maior contato físico, saltos e batidas de pé. As populares e antigas Contradanças — cujo compasso binário contrastava com o ternário dos minuetos e das Ländler — foram importadas da Inglaterra. O nome se originou de Country dance, traduzido contredanse para o francês (franglais) do século XVII. É interessante observar o uso dessas danças nas três últimas
Anton Raaff como personagem título de Idomeneo na estreia da ópera de mesmo nome. Autor desconhecido.
sinfonias de Mozart. O movimento Finale da Sinfonia nº 39 tem o espírito de uma contradança, enquanto o Minueto da mesma sinfonia é uma dança alemã. Já o
75 FORA DE SÉRIE 1º DE OUTUBRO
Minueto da Sinfonia Júpiter é um
estava fora de moda no século da
verdadeiro minueto, enquanto o
Revolução Francesa. Apenas duas
da Sinfonia nº 40 foge a qualquer
composições de Mozart para balé são
convenção, com sua irregularidade
conhecidas integralmente: Les Petits
métrica e rica escrita contrapontística.
Riens e Idomeneo.
As cinco Contradanças K. 609
Quando residiu em Paris, Mozart
tradicionalmente se enquadram
planejou compor uma ópera em
no ano de 1791, entre as últimas
francês, Alexandre et Roxane, confiante
escritas por Mozart. Outros estudiosos
no apoio decisivo do célebre bailarino
sugerem 1787 e, nesse caso, seriam
e coreógrafo Jean Georges Noverre.
as primeiras do compositor como
Para esse grande reformador da
Kammermusicus. A de nº 1, em Dó
dança Mozart escreveu, junto com
Maior, traz o tema Ne più andrai de
outros compositores, Les Petits Riens,
As bodas de Fígaro, muito conhecido
interlúdio a ser dançado em uma
em Viena. A segunda dança é em
ópera de Piccinni. Com a música e a
Mi bemol maior. Os tambores são muito
coreografia atribuídas a Noverre, o balé
marcantes nas danças 3 e 4. A quarta,
obteve sucesso. Dos 21 números que
em compasso ternário, é realmente um
o compõem, apenas a Abertura e oito
Ländler com três alternativos (trios),
peças são com certeza de Mozart. E
respectivamente em Dó, Fá e em lá
elas demonstram com que originalidade
menor. A última da série, composta
ele conseguiu apropriar-se do estilo
anteriormente em Salzburgo, recebeu
galante francês.
o título de Les filles malicieuses e, reorquestrada, foi registrada como
Aos 25 anos, em Munique, o compositor
K. 610. Possui um curioso efeito de
escreveu outro balé, agora para uma
gaitas de foles na seção central.
criação própria, Idomeneo, sua terceira e mais importante investida na opera
Ao contrário das danças para bailes,
seria, com enredo histórico ou mitológico.
o Grand Ballet — como cultivado
Idomeneo representou um grande
na corte francesa do século XVII —
impulso na produção mozartiana,
76 FORA DE SÉRIE 1º DE OUTUBRO
Viena. Desenho de Carl Schütz.
síntese muito particular de marcantes
final de 1773, foram retrabalhados em
experiências: a ópera séria italiana, as
1779 por ocasião da reapresentação
conquistas orquestrais de Mannheim e
em Salzburgo. O exame comparativo
a influência de Gluck, reminiscência da
das duas versões permite avaliar o
estação parisiense. Apesar do sucesso
imenso progresso realizado entre
da estreia, a obra passou por longo e
elas. Ciente da superioridade de sua
lamentável período de esquecimento.
música sobre o texto, Mozart procura
Só após a Primeira Guerra, Richard
libertá-la da tendência estritamente
Strauss, quando dirigia a Ópera
programática. Assim, à parte os três
de Viena, redescobriu por acaso a
magníficos coros, os quatro números
partitura. Os cinco números dançantes
puramente instrumentais soam, em
encerram festivamente Idomeneo, com
sequência, como movimentos de uma
uma grande celebração popular.
pequena sinfonia.
Ao contrário de sua intensa e constante dedicação à ópera, Mozart escreveu apenas uma música para teatro: Tamos, Rei do Egito. Os coros e números instrumentais para o drama de Tobias von Gebler, compostos no
PAULO SÉRGIO MALHEIROS DOS SANTOS Pianista, Doutor em Letras, professor na UEMG, autor dos livros Músico, doce músico e O grão perfumado – Mário de Andrade e a arte do inacabado. Apresenta o programa semanal Recitais Brasileiros, pela Rádio Inconfidência.
77 FORA DE SÉRIE 1º DE OUTUBRO
Na corte
FABIO MECHETTI, regente
PROGRAMA
8
29 DE OUTUBRO UMA BRINCADEIRA MUSICAL, K. 522 • Allegro • Menuetto: Maestoso • Adagio cantabile • Presto
SERENATA Nº 6 EM RÉ MAIOR, K. 239, “NOTURNA” • Marcia: Maestoso • Menuetto • Rondo: Allegretto – Adagio – Allegro — INTERVALO —
SERENATA Nº 9 EM RÉ MAIOR, K. 320, “POSTHORN” • Adagio maestoso – Allegro con spirito • Menuetto: Allegretto • Concertante: Andante grazioso • Rondo: Allegro ma non troppo • Andantino • Menuetto • Finale: Presto 79 FORA DE SÉRIE 29 DE OUTUBRO
UMA BRINCADEIRA MUSICAL, K. 522 Viena, 1787 | 20 min 2 trompas, cordas.
SERENATA Nº 6 EM RÉ MAIOR, K. 239, “NOTURNA” Salzburgo, 1776 | 13 min Tímpanos, cordas.
SERENATA Nº 9 EM RÉ MAIOR, K. 320, “POSTHORN” Salzburgo, 1779 | 42 min Piccolo, 2 flautas, 2 oboés, 2 fagotes, 2 trompas, 2 trompetes, posthorn, tímpanos, cordas.
N
o Classicismo, há diversos gêneros musicais que se confundem em forma e estrutura. Eles são uma espécie de válvula de escape da etiqueta solene dos salões aristocráticos ou
dos esquemas já pré-definidos da música dramática, mas ainda assim não se veem livres do formalismo que norteia a mentalidade musical do século XVIII: a forma sonata ainda impera na maior parte das vezes, quando não há uma aproximação com a suíte de danças; os procedimentos se mantêm. Conserva-se, na maior parte dos casos, a estrutura formal do século XVIII, em quatro movimentos, como na sonata, no quarteto de cordas ou na sinfonia. Ainda assim, a funcionalidade dessa música a poderia perigosamente rotular em música ligeira: divertimento, serenata, cassação, notturno, Nachtmusik, ou, ainda no século XVII, Tafelmusik (“música para a mesa”). Em Haydn, por exemplo, divertimento se confunde em nomenclatura com suas primeiras sonatas para piano. O fato é que esse gênero de música difere dos demais, no Classicismo (excluam-se disso a ópera e a música religiosa), apenas pela funcionalidade ou pelo ambiente a que se destinam. Raramente em forma ou em estrutura. Os ambientes externos, as diversões da aristocracia, os prazeres da mesa, tudo, nas altas rodas do século XVIII, era partilhado com boa música. Entende-se, com isso, o porquê de Haendel ter composto a Música para os Reais Fogos de Artifício... Entendem-se, igualmente, os vários divertimenti e serenatas de Mozart, compostos para diversas formações instrumentais. Nesses gêneros, evita-se, via de regra, o uso da intrincada linguagem polifônica, e neles não é raro que se encontrem citações de temas ou canções populares.
80 FORA DE SÉRIE 29 DE OUTUBRO
Palácio Imperial de Viena por Joseph Schütz.
No conjunto da obra de Mozart, o mais
viola(s), violoncelo(s) e tímpanos.
célebre deles é obviamente Eine Kleine
Das serenatas de Mozart, talvez essa
Nachtmusik (uma musiquinha noturna...
seja a que se assemelhe mais com
ou, como foi já traduzido, uma pequena
a suíte de danças, a despeito de sua
serenata noturna). São cerca de duas
brevidade. Não obstante, seu caráter
dezenas de divertimentos e mais
concertante lhe confere um aspecto
de uma dúzia de serenatas, à parte
arcaizante (no procedimento! Não no
algumas outras obras do gênero.
estilo ou na linguagem!) raro de se observar no Classicismo. Igualmente
A Serenata K. 239 (Noturna) foi
raro é o nítido trabalho com o espaço: o
composta em Salzburgo, em janeiro
diálogo entre dois grupos instrumentais,
de 1776. Uma curiosidade é que,
posto que já explorado desde pelo
no manuscrito, título e data estão
menos o século XVI, constitui uma clara
grafados na caligrafia de Leopold
experiência com efeitos acústicos. Fato
Mozart. Mas ela tem o diferencial de
importante é notar que o Rondó final
(fato raro no século XVIII, mas não
insere (ou cita), claramente, algum
invulgar no Barroco) ter sido composta
tema de origem popular.
para dois grupos instrumentais: o primeiro é formado por dois violinos
Encomendada para a cerimônia
solistas, primeira viola e contrabaixo;
de encerramento do ano letivo da
o segundo é composto por primeiro(s)
Universidade de Salzburgo, a Serenata
e segundo(s) violino(s), segunda(s)
em Ré maior K. 320 foi composta e
81 FORA DE SÉRIE 29 DE OUTUBRO
estreada em 1779, quando o compositor
(uma brincadeira musical), K. 522,
ainda aí residia. Na sua instrumentação,
composta em junho de 1787, para duas
que valoriza particularmente
trompas e quarteto de cordas. Mozart,
determinados instrumentos de sopro,
ao que parece, nunca teve a intenção
Mozart elabora trechos relevantes
de satirizar ninguém com essa obra,
para a flauta e o oboé (como no
que, a despeito disso, tem algo de
terceiro e quarto movimentos) e inclui
claramente irônico, tanto no tratamento
inusitadamente partes para o flautim,
das trompas, quanto no caráter. Vinda
no primeiro trio do segundo minueto e
de Mozart, essa ironia poderia soar,
um solo para a trompa de posta. Em
hoje, ao ouvinte desatento, como uma
uma época em que o e-mail sequer
ousadia profética. Não se trata de
era concebido e na qual a eletricidade
nada disso! Mozart era um compositor
era curiosidade de circo, a chegada
de teatro, e sua música transpira,
e saída dos correios, único meio de
em cada poro, a arte dramática, seja
comunicação a distância, era um
em seu aspecto comovente, seja no
evento importante. Ele era anunciado,
trágico ou no burlesco.
dentre outras coisas, por um toque de trompa. Da mesma forma que, em
Mozart brinca, aqui, com o próprio
nossas cidades históricas, cada tipo de
sistema tonal, com a quadratura da
badalada dos sinos das igrejas tem um
estrutura melódica clássica, com o
significado específico, o toque da trompa
estilo concertante, enfim, com todo
de posta era imediatamente reconhecível
o mundo musical que ele próprio
e distinto do toque da trompa de caça,
dominava e em que se inseria!...
usado obviamente para as caçadas.
Brinca, ainda, com a tradição
Ouve-se esse solo de trompa no
polifônica, em que tinha mestria:
segundo trio do segundo minueto,
basta ouvir suas missas... Ao ouvinte
o que conferiu o subtítulo à obra.
desatento, a primeira audição dessa obra há de causar imediatamente um
“Satírica” foi como alguns críticos
estranhamento: não será demasiado
classificaram Ein Musikalischer Spass
vislumbrar alguém que imagine que os
82 FORA DE SÉRIE 29 DE OUTUBRO
músicos possam ter se enganado em
desalinho com o contexto musical, tudo
alguma passagem, ou que as trompas
isso constitui uma grande brincadeira.
estejam desafinadas. Àquele que tenha alguma formação musical, porém, o
E ainda assim essa brincadeira soa
resultado dessa obra soa como um
profética. Os acordes do último
paradoxo, aliás bem moderno: ao
movimento o comprovam! Já se disse
mesmo tempo elegante e grotesco,
que o presente é que elabora seus
como se a maquilagem do século XVIII
precursores. Na Brincadeira Musical
estivesse borrada, revelando um rosto
K. 522, o passado se antecipou.
desgastado. Dissonâncias insólitas, a representação irônica (no sentido teatral do termo) de um frustrado contraponto
MOACYR LATERZA FILHO Pianista e cravista, Doutor em Literaturas de Língua Portuguesa,
imitativo, o relevo dado às trompas, que
professor da Universidade do Estado de Minas
parecem ora perder o siso, ora estar em
Gerais e da Fundação de Educação Artística.
O imperador Josef II (à direita) e seu irmão, arquiduque Leopold. Pintura de Pompeo Batoni.
83 FORA DE SÉRIE 29 DE OUTUBRO
Último capítulo
84
FABIO MECHETTI, regente MARCUS JULIUS LANDER, clarinete MARIANA ORTIZ, soprano LUISA FRANCESCONI, mezzo-soprano LUCIANO BOTELHO, tenor SAULO JAVAN, baixo
PROGRAMA
9
10 DE DEZEMBRO A CLEMÊNCIA DE TITO, K. 621: ABERTURA Marcus Julius Lander
CONCERTO PARA CLARINETE EM LÁ MAIOR, K. 622 • Allegro • Adagio • Rondo: Allegro — INTERVALO —
REQUIEM, K. 626 • Introitus – Requiem – Kyrie
Mariana Ortiz Luisa Francesconi Luciano Botelho Saulo Javan
• Dies irae
Tuba mirum Rex tremendae Recordare Confutatis Lacrimosa
• Offertorium
Domine Jesu Christe Hostias
• Sanctus • Benedictus • Agnus Dei • Communio – Lux Aeterna 85 FORA DE SÉRIE 10 DE DEZEMBRO
Integrou ainda a Orquestra Acadêmica da Cidade de São Paulo e o Quarteto Paulista de Clarinetas. Foi também professor de clarinete e teoria musical no curso superior do Conservatório Dramático e Musical de São Paulo, professor assistente no projeto social Orquestra do Amanhã, oferecido FOTO MARIANA GARCIA
pelo Instituto Baccarelli na comunidade de Heliópolis,
MARCUS JULIUS LANDER
São Paulo, e artista residente no II Festival de Verão Maestro Eleazar de Carvalho, na cidade de Itu. Marcus foi bolsista de importantes festivais brasileiros,
Bacharel em Clarinete pela
como o Internacional de Campos do Jordão e o Música
Universidade Estadual Paulista, na
nas Montanhas, em Poços de Caldas. Participou de
classe do professor Sérgio Burgani,
masterclasses com renomados clarinetistas internacionais,
Marcus Julius iniciou seus estudos em
como Paul Meyer, Michael Collins, Munfred Pries, François
1996 com Edmilson Nery na Escola
Benda, Donald Montanaro e Michael Norsworthy.
Municipal de Música de São Paulo. Foi também aluno de Luis Afonso
Vencedor do Prêmio Isolisti (Brasil), na categoria Música
“Montanha” no curso de difusão da
Instrumental Erudita, retornou ao Brasil em 2009 e fixou
Escola de Comunicação e Artes da
residência em Belo Horizonte, onde integra a Orquestra
Universidade de São Paulo em 2001.
Filarmônica de Minas Gerais. Na Filarmônica, inicialmente
Agraciado com uma bolsa de estudos
atuou na função de Principal Assistente e em outubro de
por mérito no The Boston Conservatory,
2012 passou a Clarinete Principal.
Estados Unidos, cursou parte de seu mestrado na classe do professor
No âmbito internacional, Marcus participou de concursos e
Jonathan Cohler no ano de 2008.
audições nos Estados Unidos e França. Em viagens à China, foi artista residente no 8º Festival Internacional de Clarinete
O clarinetista atuou como spalla na
e Saxofone de Nan Ning em 2010, no Festival Internacional de
Banda Sinfônica Jovem do Estado
Clarinetes de Pequim em 2014 — cujo Concerto de Gala se deu
de São Paulo e como chefe de naipe
no anfiteatro da Cidade Proibida — e, em 2015, foi professor
das orquestras Jovem de Guarulhos,
palestrante nos conservatórios de Shenyang e Tai-Yuan.
do Instituto Baccarelli e da Sinfônica Jovem do Estado de São Paulo.
86 FORA DE SÉRIE 10 DE DEZEMBRO
Marcus Julius Lander é artista Gao Royal e D’addario Woodwinds.
Così fan tutte de Mozart; Salud, em La Vida Breve de Falla; Poppea, em L’Incoronazzione di Poppea de Monteverdi. No gênero da Zarzuela interpretou Lota em La Corte del Faraón, Aurora em Las Leandras e a Duquesa Carolina em Luisa Fernanda, esta última em uma coprodução entre o FOTO LUIS CORONA
Teatro Teresa Carreño, o Teatro Real de Madrid e a
MARIANA ORTIZ
Fundação SaludArte, sob direção de Pablo Mielgo. Em seu repertório estão ainda A Criação de Haydn, Carmina Burana de Orff, Requiem de Fauré, Sinfonia nº 2
Considerada uma das melhores vozes
de Mahler e a Nona Sinfonia de Beethoven. Interpretou
venezuelanas de sua geração, Mariana
também Canções Negras de Montsalvatge.
Ortiz estudou canto no Conservatório de Música do Estado de Aragua com Lola
Mariana Ortiz apresentou-se em importantes salas, como
Linares. Fez licenciatura em Educação
o Teatro Teresa Carreño, em Caracas, Thèatre des Champs
Musical na Universidade de Carabobo
Elysées, Paris, Staatsoper, Berlim, Thèatre de la Monnaie,
e obteve um master degree em Canto
Bruxelas, Royal Danish Opera da Dinamarca, Palácio
no Koninklijk Conservatorium Brussel,
das Artes, Belo Horizonte, Hollywood Bowl, Los Angeles,
Bélgica. Estudos de aperfeiçoamento
cantando sob a batuta de reconhecidos maestros, como
foram feitos com os maestros Isabel
Gustavo Dudamel, Diego Matheuz, Christian Vásquez,
Palacios (Venezuela), Mirella Freni e
Renè Jacobs, Simon Rattle, Lars Ulrik Mortensens,
Vittorio Terranova, entre outros.
Roberto Tibiriçá, Manuel Hernández Silva, Andrés Orozco Estrada, José Luis Rodilla, Rafael Frühbeck de Burgos,
Entre os papéis que interpretou estão
Helmuth Rilling, Evelino Pidò.
Proserpina e Messagera em L’Orfeo de Monteverdi; Mimi e Musette, em
Por sua interpretação de Manuela Saenz, na ópera
La Bohème de Puccini; Comtessa, em
Bolívar, de Darius Milhaud, recebeu excelente crítica da
As bodas de Fígaro de Mozart; Donna
revista francesa Opera Magazine: “A revelação é, no entanto,
Anna, em Don Giovanni de Mozart;
o canto luminoso e frutado de Mariana Ortiz, capaz de
Micaela, em Carmen de Bizet; Violeta
pianíssimos encantadores e de amplos agudos, e que
Valery, em La Traviata de Verdi; Gilda,
empresta sua beleza e seu engajamento a Manuela,
em Rigoletto de Verdi; Fiordiligi em
última companheira do Libertador”.
87 FORA DE SÉRIE 10 DE DEZEMBRO
Florença de Rota, em São Paulo. Em 2007, representou o Brasil no renomado concurso internacional de canto BBC Cardiff Singer of the World Competition. Durante os últimos anos, Luciano vem formando uma sólida carreira internacional e, recentemente, interpretou Giacomo, em La donna del Lago de Rossini, no Teatheran der Wien e no Grand Theatre du Geneve. Também foi Elvino, em La Sonnambula de Bellini, e Orphée, em Orphée et Euridice de Gluck, em Stuttgart Staatstheatre. Conde Almaviva, FOTO ROB MOORE
LUCIANO BOTELHO
em O barbeiro de Sevilha de Rossini, no Royal Opera House, Londres. Conde de Chalais, em Maria di Rohan de Donizetti, no Caramoor Festival, em Nova York. Em Genebra e Nantes, cantou o papel título em Conde Ory de Rossini. Foi Ramiro
Luciano Botelho é graduado em Canto
em Glyndebourne, Nancy e Malmo. Nemorino, em L’elisir
pela Unirio e em Música Sacra pelo
d’Amore de Donizetti, em Dijon e na English National Opera.
STBSB. Obteve, em 2006, o mestrado
Giannetto, em La gazzaladra de Rossini, na Opera de Massy.
em performance e o Curso de Ópera, na
Gennaro, em Lucrezia Borgia de Donizetti, em Varsóvia.
Guildhall School of Music and Drama,
Leicester, em Maria Stuarda de Donizetti, em Manheim.
como bolsista da Fundação Vitae,
Ferrando, em Così fan tutte de Mozart, no Festival de Verbier.
complementando seus estudos na
Percy, em Anna Bolena de Donizetti, com a English Touring
Cardiff International Academy of Voice.
Opera. E também foi Tonio, em La fille du regiment de Donizetti, no Holland Park.
O tenor fez sua estreia na cena lírica interpretando o papel de Tamino, em
No Brasil, o tenor se apresentou nas principais casas de
A Flauta Mágica de Mozart, no
ópera, cantando Nadir, em Les pêcheurs des perles de Bizet;
V Festival Amazonas de Ópera.
Nemorino e Tamino, além de Tebaldo, em I Capuleti e
Em outras edições do mesmo festival
I Montecchi de Bellini, no Theatro Municipal do Rio de
também foi Don Ottavio em Don Giovanni
Janeiro. No Palácio das Artes, em Belo Horizonte, cantou
de Mozart, Ramiro em La Cenerentola
Fenton, em Falstaff de Verdi. E no Teatro da Paz, em Belém,
de Rossini, e Conde Almaviva em
viveu Tamino. No Theatro Municipal de São Paulo destacam-
O barbeiro de Sevilha de Rossini.
se suas apresentações no papel título de Orfeo de Monteverdi,
Em 2003 foi aclamado pela crítica
Fadinard e Tybalt, em Romeu e Julieta de Gounod. Além disso,
brasileira como “um dos maiores
Luciano participou de concertos com a Osesp, Orquestra
talentos do país” por sua interpretação
Petrobrás Sinfônica, Orquestra de Câmara do Amazonas,
de Fadinard em O Chapéu de Palha de
Amazonas Filarmônica e Orquestra Sinfônica da USP.
88 FORA DE SÉRIE 10 DE DEZEMBRO
FOTO CASSIANO GRANDI
SAULO JAVAN Saulo Javan apresentou-se
Don Bartolo em O barbeiro de Sevilha. Dulcamara, em
recentemente com a Orquestra
L’elisir d’Amore, ele interpretou no Teatro da Paz, em Belém,
Sinfônica do Estado de São Paulo
no Theatro São Pedro, em São Paulo, e no Theatro Carlos
(Osesp) e gravou com a orquestra,
Gomes de Vitória. Apresentou-se na estreia nacional da
sob regência de Isaac Karabtchevsky,
ópera Dulcineia e Trancoso de Eli-Eri Gomes, no papel de
a Décima Sinfonia de Villa-Lobos.
Bozo, no XII Festival Virtuosi de Recife.
Interpretou Padre José na ópera Magdalena de Villa-Lobos, no Theatro
Javan cantou na ópera Salomé de Richard Strauss com
Municipal de São Paulo, e integrou o
a Osesp e na Petite Messe Solennelle de Rossini, sob
elenco da Cia. Brasileira de Ópera,
a regência de Naomi Munakata, na Sala São Paulo.
sob direção de John Neschling, no
Foi solista do concerto inaugural da Orquestra do Theatro
papel de D. Bartolo na ópera O barbeiro
São Pedro e nesse mesmo teatro interpretou Simone em
de Sevilha de Rossini, em turnê por
Gianni Schicchi de Puccini.
todo o Brasil. Interpretou também Trulove, em The Rake's Progress de
Em apresentações anteriores, Javan interpretou Salieri na
Stravinsky, no Theatro Municipal de
ópera Mozart e Salieri de Rimsky-Korsakov, O Franco-atirador
São Paulo. Ramphis, em Aida de Verdi,
de Weber, Don Giovanni de Mozart e Alcina de Haendel em
em Aracaju, sob direção de Guilherme
estreia brasileira.
Mannis. No Theatro São Pedro, em São Paulo, viveu o papel título da
Saulo Javan foi o vencedor do XIX Concurso Nacional de
ópera Don Pasquale de Donizetti e
Canto Heitor Villa-Lobos, em Araçatuba, SP, em 2002.
89
VEJA A BIOGRAFIA DE LUISA FRANCESCONI NA PÁGINA 64
FORA DE SÉRIE 10 DE DEZEMBRO
A CLEMÊNCIA DE TITO, K. 621: ABERTURA Viena, 1791 | 5 min 2 flautas, 2 oboés, 2 clarinetes, 2 fagotes, 2 trompas, 2 trompetes, tímpanos, cordas.
CONCERTO PARA CLARINETE EM LÁ MAIOR, K. 622 Viena, 1791 | 29 min 2 flautas, 2 fagotes, 2 trompas, cordas.
REQUIEM, K. 626 Viena, 1791 | 48 min
É
curioso que a missa mais famosa de Mozart, e uma das suas obras mais celebradas, não tenha sido totalmente composta por ele. Hoje, o mistério que a literatura (incluindo a História)
soube pintar com muita tinta sobre o Requiem K. 626 está quase todo esclarecido. A história do Requiem, embora romanesca, é simples: em julho de 1791, quando ainda trabalhava n’A Flauta Mágica, Mozart recebeu a encomenda de compor uma missa de réquiem. Uma vez composta, a
2 fagotes, 2 trompetes, 3 trombones,
obra deveria ser entregue a um emissário. O compositor
2 corni di basseto, tímpanos, cordas.
estava livre para compô-la como bem entendesse, mas não deveria jamais procurar saber o nome de quem a encomendara. Após a morte de Mozart, soube-se que o autor da encomenda era o Conde de Walsegg sur Stuppach, que era um falsário: encomendava secretamente, pagando bom preço, obras que fazia executar como suas. Antes de ir a Praga, para assistir ao doloroso fracasso da première de A Clemência de Tito, Mozart já havia começado a compor o Requiem. Pode-se concluir, portanto, que ele trabalhou nessa obra de forma intermitente, entre julho e novembro de 1791. Quando ele morreu, em cinco de dezembro, a obra ainda estava incompleta. Dois meses depois da sua morte, Constanze, sua viúva, remeteu ao emissário do conde de Walsegg a partitura completa de uma missa de réquiem. O fato é que, em dezembro de 1791, ela havia pedido ao mestre de capela Joseph Eybler, por quem Mozart tinha grande consideração, o favor de completá-la. Após algumas tentativas, Eybler desistiu da empresa. Aparentemente, Constanze recorreu a vários outros compositores antes de finalmente conferir a tarefa a Franz Xaver Süssmayr, discípulo de Mozart.
90 FORA DE SÉRIE 10 DE DEZEMBRO
Depreende-se, de uma carta de Süssmayr aos editores Breitkopf & Mozart em seus últimos anos de vida. Pintura de Johann Georg Edlinger.
Härtel, datada de fevereiro de 1800, até onde vão os originais de Mozart: o Requiem e o Kyrie são integralmente de Mozart; das cinco primeiras partes da Sequentia, Mozart compôs as partes vocais, deixou o baixo cifrado e algumas diretrizes para a orquestração. As últimas partes da Sequentia também são de Mozart, até o oitavo compasso, onde se ouve “judicandus homo reus”; todo o resto é de Süssmayr. Mozart esboçou as duas partes do Ofertório, mas a orquestração é toda de Süssmayr. Sanctus, Benedictus e Agnus Dei foram compostos por Süssmayr, que afirma ter repetido a fuga do Kyrie na parte final para dar maior coesão à obra. Sabe-se, porém, que essa repetição teria sido determinada pelo próprio Mozart. A orquestração do Requiem é um caso à parte: mesmo nos trechos orquestrados por Mozart, predominam os timbres escuros: não há oboés, flautas ou trompas, e a indicação original na parte dos clarinetes é para um par de cors de basset, da família dos clarinetes, mas com timbre um pouco mais grave.
91 FORA DE SÉRIE 10 DE DEZEMBRO
A despeito da intervenção de
A Clemência de Tito é uma opera seria,
Süssmayr, nota-se, porém, na
com libretto de Catterino Mazzolà
estrutura da obra, uma organização
(baseado em outro libreto, de
claramente mozartiana: a divisão
Metastasio), que trata da vida de Tito,
musical do texto, principalmente na
imperador romano. A despeito do
Sequentia, com seus claros e grandes
fracasso que foi sua estreia em Praga,
contrastes, mostra, para abordar uma
a seis de setembro, alcançou grande
mínima parte, o aspecto dramático que
popularidade após a morte de Mozart.
permeia a música de Mozart, em cada
Sua Abertura segue alguns padrões
uma de suas inflexões e em cada
consagrados pela ópera clássica, em
elemento constitutivo.
que os elementos temáticos que mais tarde tomarão lugar no drama já são
A partir de 1970 foram feitas várias
insinuados, e elaborados, de forma a
novas tentativas de se completarem os
introduzir o perfil dramático do enredo.
esboços do Requiem. A mais célebre, porém, a mais executada e a mais
No entanto, há que se destacar a
aceita é mesmo a versão de Süssmayr.
semelhança entre os materiais e os tratamentos temáticos desta Abertura
O ano da morte de Mozart foi um
e os da última sinfonia do compositor.
período de trabalho vário e árduo:
Coincidência ou não, o ouvinte
além do Requiem, são de 1791
familiarizado com a música de Mozart
A Flauta Mágica e A Clemência de
há de perceber claramente elementos do
Tito, o Concerto para clarinete, a
primeiro tema da Sinfonia nº 41, “Júpiter”
cantata maçônica O Elogio da Amizade
K. 551 e certas modulações que aí são
K. 623, o moteto Ave Verum Corpus
aspecto característico. Além disso, na
K. 618, além de alguma música
forma, embora superficialmente ela se
ligeira. Essa capacidade de trabalho,
assemelhe muito a outras aberturas de
mesmo em meio à adversidade
Mozart, em profundidade nota-se uma
pessoal e financeira, isso sim é
aproximação com a forma sonata, o que
um assombroso mistério!
por si só é fato raro na música dramática.
92 FORA DE SÉRIE 10 DE DEZEMBRO
Litografia de Eduard Friedrich Leybold, sobre imagem de Franz Schramms, retrata os últimos dias de Mozart.
Já é conhecida a predileção de Mozart
orquestral. É dispensável dizer que
pelo clarinete, instrumento nascido no
Mozart explora, nessa obra, os recursos
século XVIII. Para ele, Mozart fez duas
do instrumento. Mais importante
obras definitivas: o quinteto, K. 581, e
seria ressaltar o lirismo do segundo
o concerto, K. 622.
movimento, em que Mozart faz cantar o clarinete como nunca antes e raramente
Desse concerto não nos chegou
depois! Para este concerto, Mozart
nenhum manuscrito. A única pista
não compôs as cadências. Isso não
de sua origem, além da sua primeira
era fato raro no século XVIII, mas, via
edição, feita depois da morte de
de regra, os concertos eram executados
Mozart, é um fragmento, na caligrafia
pelos próprios compositores. Deixando
de Mozart (K. 584b / 621b), muito
a cargo de Stadler as cadências,
similar a um trecho do concerto para
Mozart revela não apenas a confiança
clarinete propriamente dito.
que depunha no executante, mas, numa visão moderna, abre as portas,
Composto para o notório clarinetista
mesmo no Classicismo, para as
Anton Stadler, que o estreou em
possibilidades de uma obra aberta.
Praga, em outubro de 1791, esse concerto é a sua última obra puramente instrumental. Embora siga a forma e a estrutura do concerto clássico,
MOACYR LATERZA FILHO Pianista e cravista, Doutor em Literaturas de Língua Portuguesa,
é de se notar a delicadeza com que,
professor da Universidade do Estado de Minas
aqui, o solista dialoga com o grupo
Gerais e da Fundação de Educação Artística.
93
para
ASSISTIR E OUVIR
1 — MENINO PRODÍGIO La finta semplice Orquestra de Câmara San Giorgio – Andrea Fornaciari, regente. Acesse: fil.mg/mfinta CD Mozart – La Finta Semplice – Carl Philipp Emmanuel Bach Kammerorchester – Peter Schreier, regente – Phillips – 1991
Sinfonia nº 1 Orquestra Acadêmica de São Francisco – Andrei Gorbatenko, regente. Acesse: fil.mg/msinf1 CD Mozart – Complete Symphonies – Academy of Saint Martin in the Fields – Neville Marriner, regente – Phillips – 1996
Concerto para piano nº 1 Orquestra Sinfônica do Japão Shinsei – Rudolf Barshai, regente – Sviatoslav Richter, piano. Acesse: fil.mg/mpiano1 CD W. A. Mozart – The Piano Concertos – English Chamber Orchestra – Jeffrey Tate, regente – Mitsuko Uchida, piano – Philips – 2006 (8 CDs) VINIL Mozart – The Complete Piano Concertos – Academica Wien; Orquestra Sinfônica de Londres – Eduard Melkus; Alceo Galliera; Witold Rowicki; Colin Davis, regentes – Ingrid Haebler, piano – Capella Phillips – 1978
Divertimento nº 1 Orquestra de Câmara Carl Philipp Emanuel Bach – Hartmut Haenchen, regente. Acesse: fil.mg/mdivertimento1
94
CD Mozart – The complete Mozart Divertimenti – New York Philomusica – NY Philomusica – 2002
Cassação nº 1 Orquestra de Câmara de Stuttgart – Wolfram Christ, regente. Acesse: fil.mg/mcassacao1 CD Mozart – Cassations K. 63, 99 e 100 – Salzburg Chamber Orchestra – Harald Nerat, regente – Naxos – 1994
2 — CONCERTOS Concerto para trompa nº 2 Orquestra de Câmara de Mito – Seiji Ozawa, regente – Radek Baborák, trompa. Acesse fil.mg/mtrompa2a e fil.mg/mtrompa2b CD Mozart – Concertos para Trompa – Orquestra Philharmonia de Londres – Herbert von Karajan, regente – Dennis Brain, trompa – EMI Records – 1953 (remasterização 1997, Inglaterra)
Concerto para fagote Orquestra da Suíça Romanda – Gilbert Audin, fagote. Acesse: fil.mg/mfagote CD Mozart – Concertos para clarinete, oboé e fagote – Wiener Philharmoniker – Karl Böhm, regente – Alfred Prinz, clarinete – Gerhard Turetschek, oboé – Dietman Zeman, fagote – Deutsche Grammophon Collection, 1975 – Ediciones Altaya, Barcelona, 1999 – Edição Brasileira, Manaus, 1999
Concerto para flauta e harpa
Orquestra RTSI - Neville Marriner, regente – Patrick Gallois, flauta – Fabrice Pierre, harpa. Acesse: fil.mg/mflautaharpa CD Mozart – Flute Concertos no. 1 and 2; Concerto for Flute and Harp – Swedish Chamber Orchestra – Patrick Gallois, regente / flauta – Fabrice Pune, harpa – Naxos, Estados Unidos – 2004
3 — TUDO EM FAMÍLIA A viagem musical de trenó A viagem musical de trenó – Grupo Eduard Melkus. Acesse: fil.mg/mtreno
Concerto para trombone
CD W. A. Mozart – Airs de concert – Orchestre de l’Opéra de Lyon – Theodor Guschlbauer, regente – Natalie Dessay, soprano – EMI Records Ltd, 2005 – EMI Music França, 1995
No, no, che non sei capace Les Ambassadeurs – Alexis Kossenko, regente – Sabine Devieilhe, soprano. Acesse: fil.mg/mcapace
Concerto para dois pianos Daniel Barenboim, regente – Vladimir Ashkenazy e Daniel Barenboim, pianos. Acesse: fil.mg/mdoispianos CD W. A. Mozart – Complete Piano Concertos – vol. 10 – Concertus Hungaricus – Mátyas Antal, regente – Jenö Jandó, piano – Dénes Várjon, piano – Naxos, Alemanha – 1991
Ricardo Mollá, trombone. Acesse: fil.mg/mtrombone CD Concerto Brasileiro – Leopold Mozart – Concerto para Trombone e Orquestra – Camerata Brasílica – Radegundis Feitosa, trombone – CPC-UMES, São Paulo – 2002
4 — SINFONIAS CD Mozart – Complete Symphonies
Sinfonia dos Brinquedos
– Academy of Saint Martin in the Fields – Neville Marriner, regente – Phillips – 1996
Denis Stevens, regente – Orquestra da BBC de Londres. Acesse: fil.mg/mbrinquedos
Sinfonia nº 31
CD Leopold Mozart – Toy Symphony; New Lambach and others symphonies – Toronto Chamber Orchestra – Kevin Mallon, regente – Naxos, Alemanha – 2008
Mia speranza adorata Les Ambassadeurs – Alexis Kossenko, regente – Sabine Devieilhe, soprano. Acesse: fil.mg/msperanza
Filarmônica de Viena – Karl Böhm, regente. Acesse: fil.mg/msinf31
Sinfonia nº 34 Filarmônica de Viena – Karl Böhm, regente. Acesse: fil.mg/msinf34
Sinfonia nº 40 Orquestra do Século XVIII – Frans Brüggen, regente. Acesse: fil.mg/msinf40
95
para
ASSISTIR E OUVIR
5 — RIVAIS E CONTEMPORÂNEOS O rapto do serralho DVD Mozart na Turquia: O Rapto no Harém – Orquestra de Câmara Escocesa – Charles Mackerras, regente – Paul Groves, tenor – Yelda Kodalli, soprano – Magnus Opus, Brasil – 2010 (Filmado no Palácio de Topkapi, Turquia, 2000, Antelope Films) Orquestra do Maggio Musicale de Florença – Zubin Mehta, regente. Acesse: fil.mg/mserralho
Il giorno onomastico CD Antonio Salieri – Il Giorno Onomastico; Sinfonia Veneziana; Variazione Sull’aria La Follia di Spagna – Orquestra Sinfônica de Londres – Zoltan Pesko, regente – Columbia – 2005. ÁUDIO Salieri – Il giorno onomastico London Mozart Players – Matthias Bamert, regente. Acesse: fil.mg/sonomastico
Concerto para oboé Orquestra de Câmara da Cidade de Hong-Kong – Jean Thorel, regente – François Leleux, oboé. Acesse: fil.mg/coboe CD The Oboe: Concertos by Bellini, Cimarosa, Donizetti, Dittersdorf e Salieri – Orquestra Sinfônica de Bamberg; Camerata de Berna – Thomas Furi; Peter Maag, regentes – Heinz Holliger, oboé – Deutsche Grammophon – 2007
CD W. A. Mozart – Symphonies nos. 34, 35 (Haffner) and 39 – Capella Istropolitana, Bratislava – Barry Wordsworth, regente – Naxos, Alemanha – 1988
6 — ÓPERA Così fan tutte DVD Mozart – Così fan tutte – Wiener Philharmoniker – Adam Fisher, regente – Miah Persson, Isabel Leonard, Florian Boesch, Topi Lehtipuu, Patricia Petibon, Bo Skovhus, solistas – ORF, Áustria – 2010 Orquestra Estatal da Ópera de Viena – Riccardo Muti, regente. Acesse: fil.mg/mcosi1 (Ato I) e fil.mg/mcosi2 (Ato II)
7 — MÚSICA INCIDENTAL Contradanças CD W. A. Mozart – The Dances & Marches – Complete Mozart Edition, vol. 3 – Wiener Mozart Ensemble – Willi Boskovsky, regente – Philips – 2006 VINIL W. A. Mozart – Marcha KV. 335; Cinco Contradanças KV. 609 – Orquestra Pro-Arte de Munique – Kurt Redel, regente – Erato – 1975 ÁUDIO Contradanças – Wiener Mozart Ensemble – Willi Boskovsky, regente. Acesse: fil.mg/mcontradancas
Sinfonia nº 39
Idomeneo
Orquestra de Câmara da Europa – Nicolaus Harnoncourt, regente. Acesse: fil.mg/msinf39
Orquestra Sinfônica da Rádio e Televisão Espanhola – Ignacio García Vidal, regente. Acesse: fil.mg/midomeneo
96
DVD W. A. Mozart – Idomeneo Kv. 366 –The Metropolitan Orchestra and Chorus – James Levine, regente – Luciano Pavarotti, tenor – Hildegard Behrens, soprano – Deutsche Grammophon, Estados Unidos – 2006
Tamos, Rei do Egito CD W. A. Mozart – Thamos, king of Egypt – English Baroque Soloists; Monteverdi Chorus – John Eliot Gardner, regente – Polygram, Reino Unido – 2008
Serenata nº 9 Orquestra Sinfônica da Rádio da Baviera – Colin Davis, regente. Acesse: fil.mg/mserenata9
9 — ÚLTIMO CAPÍTULO A Clemência de Tito Orquestra da Ópera de Zurich – Franz Welser-Möst, regente. Acesse: fil.mg/mtito
ÁUDIO Tamos, Rei do Egito – Orquestra Sinfônica de Londres – Peter Maag, regente. Acesse: fil.mg/mtamos
CD Wolfgang Amadeus Mozart – La Clemenza di Tito – Orquestra e Coro da Ópera de Zurique – Nikolaus Harnoncourt, regente – Teldec – 1993
Les Petits Riens
Concerto para clarinete
Orquestra da Rádio e Televisão da Suíça Italiana – Ricardo Correa, regente. Acesse: fil.mg/mriens
Orquestra Filarmônica Tcheca – Manfred Honeck, regente – Sharon Kam, clarinete. Acesse: fil.mg/mclarinete
CD W. A. Mozart – Les Petits Riens; German Dances; Marches; Minuets – Symphony Nova Scotia – Georg Tintner, regente – Naxos, Estados Unidos – 2004
CD Mozart, Weber & Spohr – Clarinet Concertos – Orquestra Sinfônica de Londres – Colin Davis; Peter Maag, regentes – Gervase de Peyer, clarinete – London – 2005
8 — NA CORTE CD Mozart – Serenades – Academy of Saint Martin in the Fields – Neville Marriner, regente – Phillips – 1995
Uma brincadeira musical ÁUDIO Brincadeira – Intérpretes não identificados. Acesse: fil.mg/mbrincadeira
Requiem Sinfônica de Viena – Karl Böhm, regente. Acesse: fil.mg/mrequiem CD Wolfgang Amadeus Mozart – Requiem – Orquestra Filarmônica de Viena – Coro da Ópera Estatal de Viena – Karl Böhm, regente – Edith Mathis, Julia Hamari, Wieslaw Ochman, Karl Riederbusch, solistas – Deutsche Grammophon – 1985
Serenata nº 6 Filarmônica de Viena – Karl Böhm, regente. Acesse: fil.mg/mserenata6
97
para
VISITAR
www.mozart.com www.mozartproject.org
para
LER
Muito se escreveu sobre Mozart. As indicações procuram contemplar os livros mais recomendados, mesmo que alguns só estejam disponíveis em sebos ou bibliotecas.
C. M. Girdlestone – Mozart et ses Concertos
Henri Ghéon – Promenades avec Mozart –
pour piano – Desclée de Brouwer – 1953
Desclée de Brower – 1988
Camille Bellaigue – Mozart – Coleção
Kurt Pahlen – Mozart, crônica de vida
Les Musiciens Célèbres – Henri Laurens
e obra – Dante Pignatari, tradução –
Éditeur – 1935
Ed. Melhoramentos – 1991
Cliff Eisen (org.) – Wolfgang Amadeus
Norbert Elias – Mozart, sociologia de um
Mozart: a life in letters – Versão inglesa de
gênio – Sérgio Goes de Paula, tradução –
Stewart Spencer – Penguin Classics – 2007
Jorge Zahar Ed. – 1994
François-René Tranchefort – Guia da Música
Olívio Tavares de Araújo – Procurar Mozart –
Sinfônica – Nova Fronteira – 1990
Métron/Editora Síntese – 1991
H. C. Robbins Landon – 1791: o último ano
Richard Baker – Wolfgang Amadeus Mozart –
de Mozart – Newton Goldman, tradução –
Marco Antônio Esteves da Rocha, tradução –
Nova Fronteira – 1990
Jorge Zahar Ed. – 1985
H. C. Robbins Landon (org.) – Mozart, um
Roland de Candé – História Universal da
compêndio. Guia completo da música e da
Música – Eduardo Brandão, tradução –
vida de Wolfgang Amadeus Mozart – Mauro
Martins Fontes – 1994
Gama, Cláudia Martinelli Gama, tradução – Jorge Zahar Ed. – 1996
Wolfgang Amadeus Mozart – Cartas Vienenses – Gabor Aranyi, tradução –
Henri de Curzon – Vida de Mozart – Edite Magarino Tôrres, tradução – Atena – 1959
98
Ed. Veredas – 2004
Legendas das imagens PÁGINAS 10 E 11
Primeira página do manuscrito da Sinfonia Júpiter, K. 551. PÁGINAS 13 E 37
Mapas das viagens de Mozart desenhados a partir do livro de Jean-Victor Hocquard, Mozart, Coleção Solfèges, vol. 8, Éditions du Seuil, 1958. PÁGINA 20
The boy Mozart. Autor anônimo, possivelmente Pietro Antonio Lorenzoni. PÁGINA 28
Mozart. Pintura de Burchard Dubeck. PÁGINA 39
Família Mozart. Pintura de Johann Nepomuk della Croce. PÁGINA 46
Primeira página do manuscrito da Sinfonia Paris, K. 297. PÁGINA 52
Mozart. Autor desconhecido. PÁGINA 60
Cartaz da estreia de Così fan tutte no Burgtheater, em Viena, em 1790. PÁGINA 72
Mozart. Pintura de Barbara Krafft. PÁGINA 78
Mozart. Desenho de Doris Stock, 1789. PÁGINA 84
Partitura do Requiem com entrada do coro no início da obra. PÁGINA 99
Carta de Mozart a sua prima Maria Anna Thekla, 1779.
99
Filarmônica online WWW.FILARMONICA.ART.BR
OLÁ, A SSINANTE
AMIGOS DA FILARMÔNICA
Bem-vindo(a) à Temporada 2016!
Nosso especial obrigado aos 114
Este ano, para ampliar sua
primeiros amigos da filarmônica.
experiência de concerto dentro e
Vocês tornaram possível a
fora da Sala Minas Gerais, propomos
arrecadação inicial, já depositada,
utilizar um meio mais ágil de
de R$ 138.548,11, muito importantes
comunicação entre nós: a área do
para o orçamento anual do
assinante, a página de nosso site
Instituto Cultural Filarmônica.
que é dedicada a você. Ela está disponível 24 horas por dia em
O Programa permanece aberto ao
www.filarmonica.art.br/
longo do ano. Todos aqueles que
assinaturas/area-do-assinante.
queiram participar são bem-vindos
Se preferir, você também pode
e imprescindíveis para a ampliação
continuar a entrar em contato com
da atuação de nossa Filarmônica.
a gente, de segunda a sexta, de 9h Conheça os Amigos da Filarmônica
a 18h, pelo telefone 3219-9009.
e as formas de colaboração em www.filarmonica.art.br/apoie/
Seja como for, é sempre um prazer atendê-lo.
doacao-de-pessoa-fisica.
CONHEÇA A S APRESENTAÇÕES DA FILARMÔNICA • Séries de assinatura: Allegro, Vivace,
• Turnês estaduais
Presto, Veloce, Fora de Série
• Turnês nacionais e internacionais
• Concertos para a Juventude
• Concertos de Câmara
• Clássicos na Praça • Concertos Didáticos
Visite www.filarmonica.art.br/
• Festival Tinta Fresca
filarmonica/sobre-a-filarmonica e
• Laboratório de Regência
conheça cada uma delas.
100
Para apreciar um concerto
CUMPRIMENTOS
APLAUSOS
Após o concerto, caso queira
Aplauda apenas no final das obras.
cumprimentar os músicos e convidados,
Veja no programa o número de
dirija-se à Sala de Recepções.
movimentos de cada uma e fique de olho na atitude e gestos do regente.
ESTACIONAMENTO Para seu conforto e segurança, a
CONVERSA
Sala Minas Gerais possui estacionamento,
A experiência do concerto inclui o encontro
e seu ingresso dá direito ao preço especial
com outras pessoas. Aproveite essa troca
de R$ 15 para o período do concerto.
antes da apresentação e no seu intervalo, mas nunca converse ou faça comentários durante a execução das obras. Lembre-se
PONTUALIDADE
de que o silêncio é o espaço da música.
Uma vez iniciado um concerto, qualquer movimentação perturba a execução da obra. Seja pontual e respeite o
CRIANÇAS
fechamento das portas após o terceiro
Caso esteja acompanhado por criança,
sinal. Se tiver que trocar de lugar ou
escolha assentos próximos aos corredores.
sair antes do final da apresentação,
Assim, você consegue sair rapidamente
aguarde o término de uma peça.
se ela se sentir desconfortável.
APARELHOS C ELULARES
COMIDAS E B EBIDAS
Confira e não se esqueça, por
Seu consumo não é permitido no
favor, de desligar o seu celular ou
interior da sala de concertos.
qualquer outro aparelho sonoro.
TOSSE FOTOS E G RAVAÇÕES EM Á UDIO E V ÍDEO
Perturba a concentração dos músicos
Não são permitidas na sala
e da plateia. Tente controlá-la com
de concertos.
a ajuda de um lenço ou pastilha.
101
Orquestra Filarmônica de Minas Gerais
DIRETOR ARTÍSTICO E REGENTE TITULAR
Fabio Mechetti REGENTE ASSOCIADO
Marcos Arakaki
PRIMEIROS VIOLINOS
Marcelo Nébias
FAGOTES
HARPA
Anthony Flint – Spalla
Nathan Medina
Catherine Carignan *
Giselle Boeters *
Rommel Fernandes – Spalla
Victor Morais ***
Associado
VIOLONCELOS
Andrew Huntriss
TECLADOS
Ara Harutyunyan – Spalla
Philip Hansen *
Francisco Silva
Ayumi Shigeta *
Assistente
Felix Drake ***
Ana Zivkovic
Camila Pacífico
TROMPAS
GERENTE
Arthur Vieira Terto
Camilla Ribeiro
Alma Maria Liebrecht *
Jussan Fernandes
Bojana Pantovic
Eduardo Swerts
Evgueni Gerassimov ***
Dante Bertolino
Emilia Neves
Gustavo Garcia Trindade
INSPETORA
Hyu-Kyung Jung
Eneko Aizpurua Pablo
José Francisco dos Santos
Karolina Lima
Joanna Bello
Lina Radovanovic
Lucas Filho
Matheus Braga
Robson Fonseca
Fabio Ogata
Rodrigo Bustamante
CONTRABAIXOS
TROMPETES
Rodrigo M. Braga
Colin Chatfield *
Marlon Humphreys *
ARQUIVISTA
Rodrigo de Oliveira
Nilson Bellotto ***
Érico Fonseca **
Ana Lúcia Kobayashi
Marcelo Cunha
Daniel Leal ***
SEGUNDOS VIOLINOS
Marcos Lemes
Tássio Furtado
Frank Haemmer *
Pablo Guiñez
Leonidas Cáceres ***
Rossini Parucci
TROMBONES
Gideôni Loamir
Walace Mariano
Mark John Mulley *
ASSISTENTE ADMINISTRATIVA
Roberta Arruda
Débora Vieira
Jovana Trifunovic
ASSISTENTES
Claudio Starlino Jônatas Reis
Diego Ribeiro **
SUPERVISOR DE MONTAGEM
Luka Milanovic
FLAUTAS
Wagner Mayer ***
Rodrigo Castro
Martha de Moura Pacífico
Cássia Lima *
Renato Lisboa
Mateus Freire
Renata Xavier ***
Radmila Bocev
Alexandre Braga
TUBA
André Barbosa
Rodolfo Toffolo
Elena Suchkova
Eleilton Cruz *
Hélio Sardinha
OBOÉS
TÍMPANOS
Klênio Carvalho
Alexandre Barros *
Patricio Hernández Pradenas *
Risbleiz Aguiar
MONTADORES
Tiago Ellwanger
Jeferson Silva
Valentina Gostilovitch VIOLAS
Ravi Shankar ***
João Carlos Ferreira *
Israel Muniz
PERCUSSÃO
Roberto Papi ***
Moisés Pena
Rafael Alberto *
Flávia Motta
Daniel Lemos ***
Gerry Varona
CLARINETES
Sérgio Aluotto
Gilberto Paganini
Marcus Julius Lander *
Werner Silveira
Juan Díaz
Jonatas Bueno ***
Katarzyna Druzd
Ney Franco
Luciano Gatelli
Alexandre Silva
102
* PRINCIPAL
** PRINCIPAL ASSOCIADO
*** PRINCIPAL ASSISTENTE
**** PRINCIPAL / ASSISTENTE SUBSTITUTO
GOVERNADOR DO ESTADO DE MINAS GERAIS
SECRETÁRIO DE ESTADO DE CULTURA DE MINAS GERAIS
Fernando Damata Pimentel
Angelo Oswaldo de Araújo Santos
VICE-GOVERNADOR DO ESTADO DE MINAS GERAIS
SECRETÁRIO ADJUNTO DE ESTADO DE CULTURA DE MINAS GERAIS
Antônio Andrade
João Batista Miguel
Instituto Cultural Filarmônica
(OSCIP – Organização da Sociedade Civil de Interesse Público – Lei 14.870 / Dez 2003)
Conselho Administrativo PRESIDENTE EMÉRITO
Jacques Schwartzman PRESIDENTE
Roberto Mário Soares CONSELHEIROS
Angela Gutierrez Berenice Menegale Bruno Volpini Celina Szrvinsk Fernando de Almeida Ítalo Gaetani Marco Antônio Pepino Marcus Vinícius Salum Mauricio Freire Mauro Borges Octávio Elísio Paulo Brant Sérgio Pena
Diretoria Executiva DIRETOR PRESIDENTE
Diomar Silveira DIRETOR ADMINISTRATIVOFINANCEIRO
Estêvão Fiuza DIRETORA DE COMUNICAÇÃO
Jacqueline Guimarães Ferreira DIRETORA DE MARKETING E PROJETOS
DIRETOR DE OPERAÇÕES
ASSISTENTE DE MARKETING
AUXILIARES DE
Ivar Siewers
DE RELACIONAMENTO
SERVIÇOS GERAIS
Eularino Pereira
Ailda Conceição Márcia Barbosa
DIRETOR DE PRODUÇÃO MUSICAL
ASSISTENTE DE PRODUÇÃO
Kiko Ferreira
Rildo Lopez
Equipe Técnica
Equipe Administrativa
GERENTE DE COMUNICAÇÃO
Merrina Godinho Delgado
Bruno Rodrigues Serlon Souza MENOR APRENDIZ
GERENTE ADMINISTRATIVOFINANCEIRA
GERENTE DE
MENSAGEIROS
Mirian Cibelle
Ana Lúcia Carvalho
Sala Minas Gerais
GERENTE DE
GERENTE DE
RECURSOS HUMANOS
INFRAESTRUTURA
Quézia Macedo Silva
Renato Bretas
ANALISTAS ADMINISTRATIVOS
GERENTE DE OPERAÇÕES
João Paulo de Oliveira
Jorge Correia
PRODUÇÃO MUSICAL
Claudia da Silva Guimarães ASSESSORA DE PROGRAMAÇÃO MUSICAL
Carolina Debrot PRODUTORES
Paulo Baraldi
Luis Otávio Rezende Narren Felipe
TÉCNICO DE ANALISTA CONTÁBIL
ÁUDIO E ILUMINAÇÃO
Graziela Coelho
Mauro Rodrigues
Marciana Toledo (Publicidade)
SECRETÁRIA EXECUTIVA
TÉCNICO DE
Mariana Garcia (Multimídia)
Flaviana Mendes
ILUMINAÇÃO E ÁUDIO
ANALISTAS DE COMUNICAÇÃO
Renata Gibson (Design gráfico) Renata Romeiro (Design gráfico)
Rafael Franca ASSISTENTE ADMINISTRATIVA
Cristiane Reis
ASSISTENTE OPERACIONAL
Rodrigo Brandão
ANALISTA DE MARKETING DE RELACIONAMENTO
ASSISTENTE DE
Mônica Moreira
RECURSOS HUMANOS
Vivian Figueiredo FORA DE SÉRIE
ANALISTAS DE MARKETING E PROJETOS
RECEPCIONISTA
Mozart 2016
Itamara Kelly
Lizonete Prates Siqueira
COORDENADORA
Mariana Theodorica
Zilka Caribé
DA EDIÇÃO Merrina
AUXILIAR ADMINISTRATIVO
Godinho Delgado
Pedro Almeida EDIÇÃO DE TEXTO
Berenice Menegale
TIRAGEM DE 2.000 EXEMPLARES PRODUZIDA EM PAPEL IMUNE.
103
MANTENEDOR
APOIO CULTURAL
APOIO INSTITUCIONAL
DIVULGAÇÃO
REALIZAÇÃO
SALA MINAS GERAIS Rua Tenente Brito Melo, 1.090 | Barro Preto | CEP 30.180-070 | Belo Horizonte - MG
WWW.FILARMONICA.ART.BR
/filarmonicamg
/filarmonicamg
@filarmonicamg
/filarmonicamg
COMUNICAÇÃO ICF
(31) 3219.9000 | Fax (31) 3219.9030