Capa do IQUE
FILHOS DE CRIAÇÃO À PROCURA DE ADOÇÃO
30 personagens de humor à procura de gaiatos, atores redatores, diretores, figurinistas, cenógrafos...
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Episodio
Pizza
Autor
Marco Palito
Personagens fixos
Dalí de Salvador Loloca - Assistente
Participações
Roberto – Político
Cenário
Atelier de Dali
Figurino
Dalí – Típico pintor de branco Loloca – Baiana Roberto – Terno
Adereço
Quadro de pessoas comendo pizza
IDENTIFICAÇÃO
Gênio incompreendido, o pintor surrealista baiano, Dalí de Salvador, recebe em seu atelier as mais variadas personalidades que buscam a iluminação em sua peculiar visão artística da sociedade. Embora sua arte seja única, Dali acredita que uma árdua luta o aguarda, devido ao número de quadros surreais no seu país. Na jornada pela pintura perfeita, ele só deseja uma coisa: mudar o quadro.
AÇÃO INICIAL
Dalí de Salvador deitado na rede, pincelando um quadro na parede enquanto a rede balança. Entra Loloca.
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LOLOCA Seu Dali, ô, seu Dali! Tem visita! É um político querendo conhecer a sua obra. DALÍ DE SALVADOR Mas o que esses políticos querem? Não entendem “nadica” das minhas obras. (T) Mas deixe pra lá, eu também não compreendo as deles. Mande entrar que hoje eu to com uma preguiça de uns três baianos. LOCOCA VAI À PORTA E RECEPCIONA ROBERTO ROBERTO Olá, Salvador! Como vai você? DALÍ DE SALVADOR Vou indo... (A REDE BALANÇA PARA UM LADO)... E voltando. (BALANÇA PARA O OUTRO). Mas me diga: o que é que eu posso fazer pelo senhor? ROBERTO Falaram que você é o maior pintor popular da Bahia, se não do Brasil. Eu quero conhecer a sua obra, ver a sua visão da realidade. DALÍ DE SALVADOR Você só vai ver a minha visão da surrealidade, por que, pra viver nesse país, só tendo um olhar surrealista. ROBERTO Surrealista? DALÍ DE SALVADOR Surrealista. Uma manifestação do irracional. É quando nós deixamos o real, para penetrarmos no mundo irreal. Uma coisa fora da realidade. Tá certo? ROBERTO (CONFUSO) Tá certo. E onde estão esses quadros surreais? DALÍ DE SALVADOR Espalhados pelo país inteiro, meu rei! Mas eu tenho alguns aqui. Venha comigo, venha... (LEVANTA DA REDE) Veja isso. (MOSTRA UM QUADRO COM PESSOAS COMENDO PIZZA) ROBERTO Mas o que tem de surreal, fora da realidade nisso? O que vejo aqui é simples: são apenas pessoas comendo pizza! DALÍ DE SALVADOR Não entende, né? Eu sei. (PARA CÂMERA) Nem desenhando! Pois deixe que eu te mostro. Esse quadro não seria surreal e fora da realidade, se essas pessoas aqui (MOSTRA NO QUADRO) não fossem deputados. ROBERTO Mas o que senhor está querendo dizer? Deputados não podem comer pizza? DALÍ DE SALVADOR Poder pode, mas no fim de uma CPI, pagando com cartão corporativo! Veja, é surreal ou não? ROBERTO É, o senhor tem razão... Preciso levar esse quadro pra uma exposição lá em Brasília!
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DALÍ DE SALVADOR Pra quê levar a pintura se o quadro já está lá? Aliás, esse quadro é de lá! Eu pinto a sua (CUTUCANDO ROBERTO)... realidade. ROBERTO Bem... É que... O tempo voa! Não é que eu já tenho que voltar para Brasília? Foi um enorme prazer conhecê-lo... (SAI). DALÍ DE SALVADOR O prazer é todo meu. Eu sou Dalí... de Salvador. Mas o que eu queria mesmo: (PARA A CÂMERA) Era mudar esse quadro!
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Episódio
Apresentação
Autor
Marco Palito
Pers. Fixos
Mister Alcatra
Participações
Pato Rouco – amigo Roberto – deputado
Figuração
Mulher Contrafilé /Maminha/ Chã de dentro (todas bonitas) Mulher Bucho – (Mulher velha) Mulher- Rúcula e Tomate seco (magras)
Cenário
Um baile numa laje
Figurino Sonoplastia
IDENTIFICAÇÃO
AÇÃO INICIAL
Mister Alcatra /Dj Avant /Pato Rouco – Funkeiro Roberto – terno e gravata Mulher Contrafilé / Maminha / Chã de dentro / Rúcula / Tomate seco - roupa sensual Mulher Bucho – roupa estranha Funk do Alcatra Funkeiro versado em letras provocantes e poesia explícita sobre tudo o que passa em sua cabeça: sexo. Ele tem muitas músicas, pois só pensa nisso, o tempo todo. Diferente da onda natural que tomou o funk, Mister Alcatra promove uma nova “dieta” para os seus fãs. Ele até gosta de frutas – come algumas de vez em quando – mas não dispensa carne. Muita carne. Embora cante os prazeres da vida, não se julga pornográfico, e tem toda a razão. Segundo ele, pornô mesmo são as composições feitas em Brasília. Pessoas dançando na praça
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MISTER ALCATRA Dijei! Solta o som! A mulherada solta o quadril! E quem não é chegado, solta a frangaaaa! (CANTANDO E DANÇANDO) Fica de gatinho, gatinhaaa. E vem, vem, vem, vem, vem-vem-vem! PATO ROUCO Grande Alcatra! O homem que comanda as carnes no funk. O cara que promove o abate dos grandes bailes. MISTER ALCATRA Fica tranqüilo que, com Mister Alcatra, não tem miséria. Boca livre no açougue do funk. E hoje, é rodízio! Vem, vem, vem... (MOSTRANDO AS MENINAS) Essa aqui é a Mulher-Contrafilé, essa é a Mulher-Maminha, essa aqui é a Mulher-Chã de Dentro. Tem pra todos os gostos. Por exemplo... (PUXA UMA VELHINHA)... Essa aqui: a Mulher-Bucho. PATO ROUCO Você pensa em tudo, Mister Alcatra. Você é o rei do funk mesmo. MISTER ALCATRA “Num” é? Pá tu te uma idéia, vou lançar uma linha mais diet. Vem aí: MulherAlface, Mulher-Couve-flor e a sensacional dupla – a Mulher-Rúcula com a Tomate Seco. (ENTRAM DUAS MAGRELAS DANÇANDO) PATO ROUCO Alcatra sempre com novidades. Muita mulher bonita! Mister me diz uma coisa: como você escolhe essas meninas? Você percebe o talento delas logo de cara? MISTER ALCATRA Primeiro é que escolho a dedo. Eu aponto e digo: (CANTA) Vem, vem, vem, vem... gatinhaaaa... E, segundo, que não é bem de cara que eu vejo o talento delas. É por oooutro ângulo... PATO ROUCO Ah, entendi. Você é o rei dos bailes, das mulheres... Por isso que você casou várias vezes, né? MISTER ALCATRA É verdade. Eu gosto tanto de casamento que quero casar o máximo possível! Pato Rouco, se eu juntasse todo o arroz que jogaram nimim nos meus casamentos, daria pra alimentar umas 50 famílias. Mas tem o seguinte: quando Alcatra não quer mais, canta: (ACENANDO) Vai, vai, vai, vai.... gatinhaaaa... (ENTRA ROBERTO) Parou, parou! (MÚSICA PÁRA) Olha só que chegou: Deputado José Roberto de Guiné... ROBERTO Mas que pouca vergonha. Isso é coisa que cante para os jovens do nosso país? Assim, eles não chegam a lugar nenhum. MISTER ALCATRA Onde eles querem chegar, nunca dá: não chegam ao gabinete do senhor, nunca conseguem falar com senador, vereador. Os jovens não chegam mesmo. Mas um dia quem sabe, né? ROBERTO Escute aqui, seu compositorzinho de meia tigela: suas letras são imorais, 9
infames e pornográficas! MISTER ALCATRA Peraí, imorais? Pornográficas? Quer saber o que é pornográfico? Então, eu vou cantar. Lembra quando o senhor compôs com aquele partido? Daquele senador que está envolvido naquele escândalo, só porque ele ia apoiar o senhor, lembra? Eu é que componho mal? Então vou te mandar uma letra. Segura essa. (ENTRA MÚSICA. ALCATRA CANTA) “Quando tirar do próprio bolso não te satisfaz/ é melhor tirar do pobre cada vez mais/ Criar um monte de lei sem nenhum fundamento/ E fica nós de pista só no choro e no lamento/ Problema de ladrão no Brasil é sério/ Mas os piores estão lá no ministério...” ROBERTO Mas o que...? (T) Ehr... Bem... Deixa pra lá. Canta aquela do vem, vem,... (COMEÇA A DANÇAR)... que é muito boa mesmo. Vou te dar um incentivo à cultura, que tal? MISTER ALCATRA No fundo, no fundo, eles sabem o que é pornografia. Falando em fundo... (COMEÇA A CANTAR E DANÇAR) Vem, vem, vem, vem... Comigo é assim: (PARA LENTE) Tudo acaba em funk funk!
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Episódio
Apresentação
Personagens fixos
Personal Trem
Participações
Jorge, Carlos e Ana.
Figuração
Pessoas aglomeradas no vagão
Cenário
Vagão de trem
Figurino
Personal Trem – roupa de ginástica
Sonoplastia
Som de trem e voz anunciando próxima parada
IDENTIFICAÇÃO
AÇÃO INICIAL
Saúde, conforto, relaxamento e entretenimento. Coisas que nunca se espera encontrar num trem, a caminho do trabalho ou de casa. Mas, agora, tudo isso é possível graças aos serviços do Personal Trem, que decidiu colocar à disposição da vida suburbana seus conhecimentos sobre transportes coletivos e como fazer destes instantes os mais proveitosos possíveis. Alongamento, abdominal, flexão e várias outras formas de condicionamento físico que qualquer cidadão assalariado pode fazer no desconforto de seu próprio metro quadrado do vagão de trem, o importante é que todos se ocupem e adquiram um condicionamento físico invejável redirecionando todo o esforço feito para ir ou voltar do trabalho. Carlos e Jorge conversam dentro do trem lotado...
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CARLOS Caramba, malandro! Isso aqui está muito cheio! Só não parece uma lata de sardinha porque elas não brigam por espaço na lata! JORGE Então, fica ligado aí por que tá cheio de “sardinha” de olho no teu espaço! ANA Vocês viram? O prefeito disse que o problema dos transportes é do governo federal! O presidente disse que é do governador, e o governador disse que a culpa é dos empresários. Daqui a pouco a culpa é nossa! TREM ABRE AS PORTAS E TODOS SE EMPURRAM TODOS Começou o empurra empurra! SURGE O PERSONAL TREM PERSONAL TREM Ôôôô, Trem bão! Atenção galera! Não é só o rico que tem: o povão também tem! Eu sou o Nem, seu Personal Trem! CARLOS Personal o quê? Espera aí. Você não tá pensando em dar aula de aeróbica dentro do trem? PERSONAL TREM Aeróbica é pra quem anda de avião. Aqui é ferróbica! Estamos no trem e não vamos perder a linha! Sete e oito! ANA (INTERROMPE) Fala sério! Você quer botar a gente pra fazer ginástica? A gente acorda às 4:30 da manhã pra brigar por um lugar em pé no vagão! A gente não tem tempo pra fazer exercício antes do trabalho! PERSONAL TREM Que antes do trabalho o quê. A malhação já começou. Vamos aproveitar o esforço feito até chegar no batente. Todo mundo: (ESTICA A PERNA PARA PASSAR ENTRE OS PASSAGEIROS) Alongaaaaaa! JORGE Espera, espera! Que historia é essa? Onde é que você quer chegar com essas aulas no trem, meu irmão? PERSONAL TREM No mesmo lugar que você: quero chegar bem no trabalho. Com um preparo físico jóia. (PARA ANA) Dá licença aí... E sete, e oito. Alongaaaaaa. (ESTICA A PERNA PARA PASSAR ENTRE OS PASSAGEIROS) Alongaaaaaa!!! Todo mundo junto comigo. Joga o olho pra direita. (TODOS NO TREM COM A CABEÇA PARADA MEXENDO APENAS OS OLHOS) Olhinho pra esquerda. Isso! Mantêêêm! Vocês estão ótimos. ENTRA VOZ EM OFF VOZ Senhores passageiros, permaneceremos parados por alguns instantes. Pedimos a colaboração de todos e logo retomaremos a nossa viagem. CARLOS Seu Nem, será que vai demorar? 13
PERSONAL TREM Claro que não. Com minha experiência, te dou certeza que essa parada do trem será rapidinha. ANA E o senhor sabe qual é a próxima estação? PERSONAL TREM Sim, claro. A próxima... na primavera ou no máximo outono! Mas nada de tristeza. E sete, e oito! Levantando o pé direito! (TODOS LEVANTAM) Isso! Agora, mantêêêm! CARLOS (IRRITADO) Claro que mantêm! Agora, vamos com o pé levantado até a última estação! PERSONAL TREM (PARA CARLOS) Calma, calma. Bolei esse exercício pra isso. (PARA TODOS) Na volta, vocês fazem o mesmo com o pé esquerdo, entenderam? Vamos colocar tudo nos trilhos. E não vamos esquecer: de noite a comida é leve porque de dia a viagem é pesada! (LENTE) Ôôô, trem bão!
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Episódio
Apresentação
Autor
Marco Palito
Personagens fixos
Armando Furtado – comentarista de arbitragem Régis leme - narrador
Cenário
Cabine de televisão no estádio
Figurino
Armando Furtado – roupa de presidiário Régis leme – terno
Sonoplastia
Torcida
IDENTIFICAÇÃO
AÇÃO INICIAL
Armando Furtado é um presidiário em regime semiaberto tentando se ressocializar através de sua nova profissão: comentarista de arbitragem. Enquanto comenta uma partida, Furtado, às vezes, sofre algumas “recaídas”. Quando o juiz erra, as lembranças dos velhos tempos de trombadinha, batedor de carteiras, e mão-leve voltam. O replay é um artifício do qual Armando não abre mão a cada lance duvidoso, por mais curioso que isso seja. Como todo comentarista, árbitro e presidiário, tudo que ele quer é uma segunda chance, pois, apesar de ter roubado muito, hoje ele só comenta arbitragem. Cabine de tv onde estão Armando Furtado e o narrador.
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RÉGIS LEME Estamos aqui com Armando Furtado, nosso comentarista de arbitragem. Boa noite, Armando. ARMANDO FURTADO Boa noite. Antes de mais nada eu queria dizer que podia tá matando, roubando, jogando tênis no fio, papel higiênico no vaso, mas tô aqui pra comentar a arbitragem. RÉGIS LEME Armando Furtado, que está em regime semi-aberto, nos dá o privilégio de sua presença graças a uma iniciativa de ressocialização, mas logo logo ele voltará pra penitenciária. Me diz uma coisa: você sempre foi ligado ao esporte? ARMANDO FURTADO Pra falar a verdade, nunca me liguei muito nesse negócio de esporte. Isso é um perigo! Perdi muito amigo que se envolveu com isso aí. No início, é assim, uma maravilha: eles te mostram uma bola de futebol, um campinho, você começa jogando uma pelada, e quando você vê, já era! Um caminho sem volta. RÉGIS LEME Mas... o que tem de errado nisso? ARMANDO FURTADO (EMOCIONADO) Perdi muitos amigos de infância, pessoas que eram pra tá junto comigo, mas esse negócio de esporte não é mole. Desvia as pessoas do caminho... RÉGIS LEME (SEM GRAÇA) Bom, que seja... Vamos continuar aqui, porque a bola vai rolar! E o árbitro, Furtado, é bom? ARMANDO FURTADO Bem, o cara pra ser bom, tem que ser bom pra alguém. Vamos ver. Se ele for bom pra alguém... Então, é bom! RÉGIS LEME (SEM GRAÇA) Mas você conhece o árbitro, Furtado? ARMANDO FURTADO (EMOCIONADO) Meu irmãozinho, nun vô te inganar não... num conheço não. Mas ele me lembra um camarada: o Ratazana. O cara era fogo. Pá tu te uma idéia, o cara batia carteira de prostituta de dentro da bolsa delas... (FAZ GESTOS COMO SE TIVESSE RODANDO UMA BOLSA) enquanto elas estavam rodando. Sinistro! RÉGIS LEME (CONSTRANGIDO) Bom, pessoal... Vai começar o jogo aqui em Jaguarapanga: Jaguarapanga e Várzea. Vamos lá. Saiu a bola! PASSAGEM DE TEMPO. LANCE DUVIDOSO RÉGIS LEME Vamos à opinião de quem verdadeiramente entende do assunto. Armando Furtado: a bola entrou ou não entrou? ARMANDO FURTADO Bem, Régis... foi aqui na frente da cabine... o que eu posso dizer é que... sem duvida que... foi aqui pertinho da gente... RÉGIS LEME Eu sei, mas entrou ou não? 17
ARMANDO FURTADO Bem... (PAUSA) É... (T) Eu vou esperar o reprei! RÉGIS LEME Mas, Armando... ARMANDO FURTADO Exatamente, a regra é clara (LENTE) o lance é que é obscuro. O que posso adiantar é que tem 50% de chance de ter entrado, e 50% de chance de não ter entrado. PASSAGEM DE TEMPO RÉGIS LEME Pênalti! Ele não Marcou! Pra mim, foi pênalti claro! Vamos deixar pra ele, nosso especialista em arbitragem. Furtado, custava alguma coisa ele dar esse pênalti? ARMANDO FURTADO Depende. Quantos minutos têm de jogo? RÉGIS LEME Quase 44 minutos do segundo tempo. ARMANDO FURTADO Caramba, 44 do segundo? Finalzinho do jogo? Custa caro. Se eu fosse ele, cobrava uns 15.000. Em espécie. Na bucha. RÉGIS LEME Mas o que é isso, Armando?!? ARMANDO FURTADO Finalzinho de jogo é mais caro mesmo. Se fosse naqueles tempos, eu ainda fazia umas promoção. Dava três pênaltis e só cobrava dois, entende? RÉGIS LEME (DISFARÇANDO) Bem, voltemos ao jogo. Chegando aos 45 minutos, Armando Furtado, você levaria o jogo até quanto? Daria quanto de acréscimo? ARMANDO FURTADO Nesse jogo? Pela quantidade de cartões, quatro substituições, mais... Levaria até uns... Quer saber na risca? Precisamente, até uns... quareeenta e ....brau! É, uns quarenta e brau em ponto! RÉGIS LEME Terminou! Final do jogo aqui em Jaguarapanga. Jaguarapanga, 2; Várzea, zero. Vamos lá. Furtado: suas considerações finais? ARMANDO FURTADO Eu queria agradecer pelo convite e dizer que comentarista e presidiário merecem uma segunda chance. A vida num tem reprei! Eu já roubei muito. Hoje, eu só comento a arbitragem. (P/ LENTE) A regra é cara!
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Episódio
Apresentação
Autor
Marco Palito
Personagens fixos
Felipe Morris
Participações
Luizinho
Figuração
Pessoas passeando na praça
Cenário
Praça
Figurino
Felipe Morris – terno preto Julio – roupa de passeio
IDENTIFICAÇÃO
AÇÃO INICIAL
Um bom negócio é aquele onde há mais clientes a serem atendidos. Felipe Morris enxerga muito além, pois todos são clientes em potencial de sua agência funerária. Proprietário do maior império de velórios, funerais e sepultamentos, este papadefuntos não promove uma partida dolorosa e cheia de tristeza, pois ele trata de trazer alegria à despedida do desencarnado. Já que deve ir para um lugar melhor, que seja em grande estilo, antes logo do que nunca. Afinal, como ficará sua família se forem pegos desprevenidos? Pense em Felipe Morris e fique com seu caixão... Ou melhor, com seu cartão. Júlio tropeça na frente de Morris é ajudado por várias pessoas. Morris não se move
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JÚLIO (AGRADECENDO AS PESSOAS) Obrigado, pessoal. Muito obrigado... (SE LIMPANDO) MORRIS Humm... Foi por pouco, hein? Quase. JÚLIO (PARA MORRIS) “Quase” o que amigo? Caí aqui na sua frente, todo mundo veio ajudar e você ficou parado aí, com essa cara de pastel. Nem veio me ajudar e ainda fala “quase”. Quem é você? MORRIS Morris. (PUXANDO CARTÃO DO BOLSO) Felipe Morris. Fique com o meu caixão... quero dizer, meu cartão. JÚLIO Espera um pouco. Isso aqui... É um cartão de funerária! Você está me agourando, cara? MORRIS Não! Agourando, agora, não... (T) Você é um sujeito de sorte. (ABRE UMA ESCADA EM CIMA DA CABEÇA DELE E COMEÇA A VIRAR CHINELOS EM VOLTA) JÚLIO Mas o que é isso amigo? MORRIS Nada, é só uma simpatia pra atrair dinheiro... (PARA A LENTE)... pra mim. (PARA JÚLIO) Quer um cigarro? JÚLIO Aceito. Estou uma pilha de nervos. MORRIS Pode ficar com o maço todo. Nem abri. JÚLIO Mas, e você? MORRIS Não fumo. JÚLIO O quê? MORRIS (DISFARÇANDO) Não utilizo minhas promoções. Este é um dos brindes do meu Kit... (T)... Morris. (ABRE A BOLSA) Temos aqui: dois chumaços de algodão, para sua apreciação. (T) Permita-me. (ANALISA O NARIZ DELE E ESCOLHE UM CHUMAÇO) Pelo jeito, seu nariz é... M. (ENTREGA O CHUMAÇO); Temos também este Vale-Coroa de flores para despedida (COLOCA O VALE NO BOLSO DE JULIO); Carpideiras, que choram pelo cortejo. E com uma sensacional promoção: contratando duas, além de chorarem elas desmaiam. (FINGE DESMAIAR E CAI NO COLO DE JÚLIO); e cobertura total do finado, incluindo frases para sua lápide. Garantia de Morris. Morris! Entendeu? (NO OUVIDO DE JULIO) Morris! JÚLIO Tá maluco? Agora, sim, você está me agourando! 21
MORRIS Agourando? Eeeu?! Eu juro que não. Aliás,... (CRUZA E BEIJA OS DEDOS INDICADORES. FALA PRA SI.)... Juro por você mortinho. (T) Já ia esquecer. (PUXA DO BOLSO DOIS CONVITES) Toma aqui: seis convites pra participar de um torneio de roleta russa. Pode levar quem você quiser... JÚLIO Escuta aqui, seu agourento. Tenho mais o que fazer do que ficar ouvindo esse papo de papa-defuntos. Vou pra casa descansar! MORRIS Já vai partir? Você deve estar morto... JÚLIO Tô, mas de cansaço. Trabalhei muito e amanhã é outro dia. MORRIS É verdade, o senhor está tenso. Está precisando relaxar, descansar em paz... JÚLIO Pare com isso! Se acontecer alguma coisa comigo, como é que fica a minha família? MORRIS Fica com meu caixão... quer dizer, meu cartão. Qualquer coisa peça pra ligar para Felipe Morris. Morris... entendeu? JÚLIO Ô seu Felipe Morris vamos enterrar essa conversa! Morreu o papo. Fui (SAI) MORRIS Hei! Volte aqui! Hum... que pena. (P/ LENTE) Assim meu negócio vai pro buraco!
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Episódio
Apresentação
Autores
Marco Palito e Vitor Hugo Mota
Personagens fixos
Ferraz Machado Fogão Dona pá Seu picareta
Figurino
Ferraz – Boneco de sucata Machado – Fantasia de machado Fogão – Fantasia de fogão Dona pá – Fantasia de pá Seu picareta – Fantasia de picareta nova
Cenário
Ferro velho
IDENTIFICAÇÃO
Quem se aborrece demais, se enferruja mais cedo. Assim leva a vida Ferraz, o homem de lata. Por mais que tenha levado ferro, este manequim de loja automecânica tem nervos de aço e não se deixa abater com as trombadas e arranhões dessa vida dura. O melhor conselheiro que se pode ter: palavras inoxidáveis, cabeça brilhante e que diz na lata toda a verdade. Saia tinindo após uma conversa com ele e recauchute sua vida.
AÇÃO INICIAL
Voz em off.
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(CENA 1)
VOZ Enquanto isso em ferrovelhópolis... SEU PICARETA ESTÁ NO PALANQUE TERMINANDO UM DISCURSO. SEU PICARETA Portanto, povo de ferrovelhópolis! Prometo lutar pela saúde de vocês, e acabar de vez com essa epidemia de ferrugem-suína! POVO APLAUDE FERRAZ O Picareta fala bem, não é? DONA PÁ Nem ouço mais o que ele diz. É sempre assim: ele só aparece por aqui na época de eleição. Vocês sabiam que nem de ferrovelhópolis ele é? Pela cara dele a gente já vê. Não tem uma pontinha de ferrugem se quer. FERRAZ Pare de culpar o Picareta, dona Pá. Faça igual ao Seu fogão, não esquenta. FOGÃO Mas não esquento mesmo. Tenho quatro bocas pra alimentar e eles me deixam assim ó: sem gás nenhum. FERRAZ Dona Pá, se eu fosse a senhora cavava uma vaguinha na política. Por que não se candidata? A senhora sempre teve uma pá de idéias para ferrovelhópolis. DONA PÁ Ferraz, você sabe que esse negócio de política não é comigo. Do jeito que eu sou, da pá virada. Chego lá com essa pá de idéias na cabeça e eles não deixam eu executar, jogo a massa contra eles. Aí você sabe, né... Estaria cavando a minha própria sepultura. FOGÃO Dona Pá, eles vivem cozinhando a gente. O Negócio é levar a vida em banhomaria. Porque eles prometem isso, aquilo e quando são eleitos: mandam a gente se ferrar. FERRAZ Eu nem ligo. Nada me aborrece. Ta pensando que sou de ferro? (LENTE) Sou!
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(CENA 2)
VOZ Enquanto isso em ferrovelhópolis... FERRAZ O que te amola, Machado? MACHADO (NERVOSO) Tenho andado triste ultimamente. Sabe aquela bica que eu estava namorando? Deu um banho de água fria na nossa relação. Foi embora, vazou. FERRAZ É assim mesmo. Uma vez eu namorei uma caixa de talheres de prata. Coisa chique. E pra ela só servia cardápio bem refinado. Ah, meu amigo. Ela vivia me garfando. MACHADO Pelo jeito, você já deu um corte nela. FERRAZ Não dei colher de chá. Chegou uma hora que a chapa esquentou. Antes de eu tomar mais uma facada pelas costas, ferrei com ela. MACHADO Ah, é? E o que você fez? FERRAZ Você me conhece. Já levei muitas mossas e arranhões da vida. Não vou ficar dando murro em ponta de faca, né? Fiz o que deveria ser feito. Falei na lata dela, que estava engavetando o relacionamento. MACHADO Ferraz, você sabe que em briga de marido e mulher, ninguém mete a colher. Mas me diga uma coisa: como você faz pra ficar assim tão calmo?Você termina um relacionamento e parece que não aconteceu nada. FERRAZ Mas é lógico. Eu tenho nervos de aço. Nada me aborrece. Tá pensando que eu sou de ferro? (LENTE) Sou!
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27
Episódio
Apresentação
Autor
Marco Palito
Personagens fixos
Emma Gracie
Participações
Luciene – Gordinha
Figuração
Clientes gordinhas
Cenário
Sala com espelhos móveis. Fotos nas paredes de pessoas gordas e magras, usando roupas iguais. Espelho coberto com tecido
Figurino
IDENTIFICAÇÃO
AÇÃO INICIAL
Emma Gracie – uniforme com boton escrito: quer emagrecer pergunte-me e coma! Luciene – comum No estômago da Amazônia, essa picareta norteamericana fundou a seita do "santo diet". Através das dietas do chá encontrado nas florestas, Emma Gracie confere a sensação de alegria e bem-estar aos adeptos da seita que tomam esta milagrosa e alucinante bebida dietética. Esta chá...rlatã lucra como ninguém com a fé destas pessoas e sua capacidade singular de vender seu produto. Para Emma, o importante é que você “ligue chá!” Luciene entra na sala...
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LUCIENE Com licença. É aqui a reunião com a Sra. Ema Gracie? EMA GRACIE Fique à vontade minha querida. (FALA PARA TODAS QUE ESTÃO NA SALA) Vamos receber com carinho a nossa amiguinha, vamos? TODAS (DE BOCA CHEIA FALAM ENROLADO) Konh diah! EMA GRACIE Minha querida, seja bem-vinda à família Ema Gracie. Vamos logo porque aqui não podemos perder tempo. Se tem alguma coisa que a gente perde aqui? São alguns quilinhos... LUCIENE É isso que eu vim buscar. Quero conhecer seus produtos. Falaram que a senhora vende um chá pra emagrecer. Quero saber se funciona. EMMA GRACIE (MOSTRA O BÓTON) Quer emagrecer? Pergunte-me e coma! LUCIENE Como? EMMA GRACIE Isso. Coma! Você não sofre com a comida. Você sofre quando se priva dela. LUCIENE E verdade. Mas eu já fiz de tudo, tentei várias dietas, agora eu só acredito vendo! EMA GRACIE E eu só vendo pra quem acredita! Meu amor venha cá. Olhe essas fotos. (MOSTRA FOTOS NA PAREDE DE PESSOAS GORDAS E DEPOIS DE PESSOAS MAGRAS. SÓ QUE NÃO SÃO AS MESMAS PESSOAS) LUCIENE (OLHANDO AS FOTOS) Espere aí. A senhora quer me enganar? Essas fotos são de pessoas diferentes. (COMPARANDO) Não são as mesmas? EMA GRACIE Sabia que você iria falar isso. Veja bem. Nosso chá é milagroso! (COMPARANDO AS FOTOS) Aqui ó. Antes do chá e depois do chá. É ou não é, outra pessoa? LUCIENE (DESCONFIADA) Entendi. Ema Gracie, eu preciso perder alguns quilinhos, entende? EMA GRACIE Primeiramente, que quilinhos? Você está ótima. Toma esse chá aqui e senta um pouquinho que você vai entender o que estou falando. LUCIENE (TOMA O CHÁ E COMEÇA A FICAR TONTA) Ema eu não estou me sentindo bem... EMA GRACIE Calma é assim mesmo. Esse chá é extraído do estômago da Amazônia. Tribo dos Chá- Avante! Bem-vinda a Seita do Santo Diet. LUCIENE (ZEN) Hummm... já estou ficando melhor. 29
EMA GRACIE Agora vamos ao teste. Tragam o espelho! (ASSISTENTE TRAZ ESPELHO COBERTO. ILZA FICA NA FRENTE E EMMA RETIRA O PANO. NO ESPELHO TEM UMA FOTO DE MODELO) LUCIENE Caramba! Estou ótima! Tô me sentindo outra pessoa! Não tem preço ficar esbelta e maravilhosa, não é? EMA GRACIE (PARA LENTE) Não tem preço lá fora. Aqui tem! (PEGA A CALCULADORA) LUCIENE E quanto a senhora cobra por esse precioso chá? EMA GRACIE Nada que você não possa pagar, meu amor. Você só precisa tomar ele na parte da manhã, no Cháfé. Lembre-se: Chá e Fé! Depois você vai almo... chá. Em seguida lan... chá. E depois na janta, (T) você toma um chazinho pra relaxar. Deixe fazer as contas. (CALCULADORA NA MÃO) São apenas 120 caixas por mês que dá... 3.500,00. Um precinho simbólico. (PARA LENTE) Simboliza muito pra mim. LUCIENE (SENTA E PREENCHE O CHEQUE) Tô ótima. Esse chá faz um Efeito... todo especial. (ENTREGA PARA EMA GRACIE) Ema Gracie, muito obrigado. EMA GRACIE De nada. Chá comigo! (PARA TODAS) Bem gente, vou ter que dar uma chaidinha. Ta na hora do meu chá... (PARA A LENTE)... de sumiço.
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Episódio
Egito
Autor
Marco Palito
Personagens fixos
Odvan da Câmara
Participações
Bernardo Oliveira
Figuração
Egípcios
Cenário
1-consultório com divã 2- Egito
Figurino
Odvan - Terno Bernardo – inicial esporte – depois Faraó Sharif – Trajes egípcios
IDENTIFICAÇÃO
AÇÃO INICIAL
Dr. Odvan da Câmara recebe em seu consultório: de vereadores a deputados; de prefeitos a governadores e senadores. Até mesmo presidentes e ex-presidentes deitam em seu divã. Usando o artifício da regressão, Odvan conduz seus nobres pacientes numa viagem a seus mandatos passados, onde uma grande história revela a possível solução para a condição do aflito político. Odvan está no consultório. Entra Bernardo
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BERNARDO Dr. Odvan da Câmara, dá licença? ODVAN DA CÂMARA Bernardo Oliveira, não só dou a licença, (MOSTRA NA PAREDE) como dou alvará, meus diplomas... tenho todas as licenças pra funcionar perfeitamente e dentro da lei. Ta tudo aqui na parede, faço questão. (T) E o senhor, deputado. Está bem? BERNARDO Hoje? Estou me sentindo... como se eu fosse...Um vinho! ODVAN Humm, suave, e quanto mais o tempo passa, fica cada vez melhor, não é? BERNARDO (IRRITADO) Que nada. Engarrafado! To há horas preso nesse trânsito louco. Como se não bastasse, quando cheguei aqui em frente, um flanelinha me cobrou uma fortuna pra tomar conta do meu carro. Agora você vê: Essa cidade só não está entregue as baratas, porque roubaram as baratas. ODVAN DA CÂMARA (INDO PARA O DIVÃ) Mas vamos trabalhar. Fique à vontade, deite aqui e relaxe. Sinta-se como se vossa excelência estivesse na Câmara. BERNARDO (EM SEGREDO) É! Então no final da consulta, o senhor me passe uma notinha com um valor bem acima que eu lhe dou uma comissão... ODVAN DA CÂMARA Calma, excelência. É a minha vez de trabalhar, e não a do senhor. (BERNARDO DEITA NO DIVÃ) Estou com um método especial de tratar políticos, pessoas pública. Faço uma regressão a mandatos passados e encontro neles as soluções para justificar ações no presente. BERNARDO E eu preciso me curar, doutor! É algo que eu não consigo segurar. Quando vejo, já estou envolvido: é comprando voto, lavando dinheiro, corrupção. Não consigo ficar um minuto sem pensar em esquemas, picaretagem, uma falcatrua... Há cura pra mim? ODVAN DA CÂMARA Meu método não falha. Comecemos pela hipnose e viajemos ao passado. Vamos identificar as raízes do seu problema. Mas antes, devolva minha carteira, por favor. (BERNARDO DEVOLVE A CARTEIRA SEM GRAÇA. ODVAN PUXA PÊNDULO DO BOLSO E COMEÇA A BALANÇAR NA FRENTE DE BERNARDO, QUE DORME. PASSAGEM DE TEMPO: ESTAMOS NO EGITO – BERNARDO AGORA É UM FARAÓ. SHARIF Oh, Faraó! As pirâmides estão prontas. Só essa última é que pelo jeito, não vai rolar. FARAÓ Claro que não vai rolar! Estamos falando de blocos de pedra, quadrados... É pra empurrar seu imbecil. Com paciência e jeito, tudo se ajeita. 33
SHARIF Mas os hebreus reclamam que é muito alto. Não dá pra diminuir, fazer essa... mais baixinhas... FARAÓ Que baixinho? Tá pensando que isso é brincadeira? Um conjugado, uma kitinete? O tamanho é esse. (PEGA UMA PLANTA) Tá aqui na planta. E o material que mandei vir tá na conta certa. SHARIF Será que não dá pra desviar esse material para outro projeto? Dava pra construir mais ou menos umas vinte mil casas populares. Casas, não: um condomínio de apartamentos populares, trinta blocos com uns vinte apartamentos cada um... FARAÓ Blasfêmia! Como poderei deitar minha cabeça no meu sarcófago e ficar sossegado? Como ousa macular as decisões de seu faraó para construir um condominiozinho de... (T) quantos blocos mesmo? SHARIF Trinta blocos. E com vinte e cinco apartamentos cada. FARAÓ É muito mais do que um pombal, uma COHAB, hein? Pensando bem, não custa nada... (T) do meu bolso, fazer esse condominiozinho. Cancele essa pirâmide. (EM SEGREDO) Mas separe uns... quinze blocos pra gente. PASSAGEM DE TEMPO. DE VOLTA AO CONSULTÓRIO. ODVAN DA CÂMARA Agora, acorde.(ESTALA OS DEDOS E BERNARDO ACORDA) Bernardo fique tranqüilo. Esse negócio de falcatruas, desvios de verba pública na sua vida... (BALANÇA UM PÊNDULO PARA CÂMERA) Isso é antiiiigo!
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Episódio
Namorada
Autor
Marco Palito
Personagens fixos
Weber
Participações
Luiz – amigo Rose – esposa de luiz
Cenário
Praça
Figurino
Weber- esporte Luiz – esporte Rose – esporte
IDENTIFICAÇÃO
AÇÃO INICIAL
O mundo digital está aberto a todos e Weber entrou sem pedir licença ou ir pro reservado. Caiu de cabeça no que há de bom no mundo virtual, por que no real se machucaria. No auge dos seus trinta e poucos anos, esse escravo da informática baixou todos os modos e costumes desse universo para a nossa realidade: gestos, vocabulário e estilos. Todos contestam o seu fanatismo pelo virtual, mas esquecem que nós é que estamos viciados no real. E o real é difícil, segundo o próprio Weber.
Luiz encontra Weber.
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LUIZ Weber, tudo bem contigo? Sumiu. Por onde tem andado? WEBER (QUANDO FALA FINGE TECLAR NUM COMPUTADOR) Andado, não. (TECLANDO) Teclado. Agora, não faço outra coisa. LUIZ Já imagino. Não sai do computador, não é? WEBER Ué, como você sabe? Já sei. Você anda me buscando na rede. (EM SEGREDO E TECLANDO) Cuidado, isso vicia. LUIZ E eu não sei? Olha só você! Weber, você precisa se tratar. WEBER Vou derrubar tua conexão, Luiz! Não suporto teclar com pessoas mal humoradas. E você é mal humorado... (TECLANDO)... em negrito e caixa alta, entendeu?! LUIZ (FALA E WEBER FINGE QUE NÃO ESTÁ OUVINDO E FAZ COMO SE ESTIVESSE MANUSEANDO UM MOUSE) Weber, o que tá havendo com você? A gente tem que dominar a tecnologia, e não o contrário! Olha seu estado! (T) Você vai ficar parado aí, fingindo que não está ouvindo? Cai na real! WEBER (FAZ UMA CARETA DE EMOTICON) Luiz, cai no virtual! Descobri esse universo e não quero saber de outra coisa. Nesse mundo, nada se cria, tudo se copia, e depois... (TECLANDO)... cola! LUIZ Então, quer dizer que sua vida agora é só teclar no computador? WEBER Eu não teclo com qualquer um. Como diz o ditado: (TECLANDO) Diga-me com quem tu teclas que eu te direi quem és. (T) Tô namorando, sabia? LUIZ Faço idéia, Weber. Deve ter conhecido, na internet, numa lan house, sala de bate-papo... Qual o nome dela? WEBER (TECLANDO E DELIRANDO) Loba_Feroz_44! Estamos... conectados! Sincera, bonita, agradável... LUIZ Weber, como você sabe? Você já teve com ela pessoalmente? WEBER Mas pra quê? É outra realidade. Luiz, você não conhece a rede e o poder que ela tem. LUIZ Não conheço e nem quero conhecer! Pra ficar nesse estado que você se encontra, eu prefiro ficar de fora dela! WEBER Então, fique de fora e por fora de tudo que acontece no mundo. Seu... (TECLANDO)... Alienado! Viciado no mundo real! LUIZ Weber, qual a graça em ter uma relação virtual? O que tem de bom? 37
WEBER O que tem de bom? Só rindo de você, Luiz. (RINDO E TECLANDO) k-k-k, huahua-hau, ereesse-ereesse-ereesse...a realidade é dura! Hoje, eu sou um homem realizado, quer dizer, (TECLA) virtualizado. Depois, não venha chorar o arquivo deletado. LUIZ Vou lá, Weber. Hoje eu to fazendo um festão lá em casa. Apareça lá. Comida e bebida liberada. E muita mulher bonita! WEBER Opa! Beleza! Só vou em casa desligar o computador. Me dá seu endereço? (PUXA UMA CANETA) LUIZ Anota aí: www.cainareal.com.br! Quer saber, Weber? Se quiser manda uma foto sua, que eu imprimo e colo na parede! Fui! WEBER Vai! Aqui, ó! Excluído digital! Ô, povinho que não sabe o que é bom. (P/ LENTE) E você, já caiu no virtual! (TECLA)
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Episódio
Enchentes
Autor
Marco Palito
Personagens fixos
Sábio da caverna
Participações
Paulo
Cenário
Caverna. Papéis pelo chão. Desenho de invenções nas pedras.
Figurino
Sábio – Cientista da pré história Paulo – roupa esporte molhada
Efeito
Sábio esfrega a mão e aparece na sua cabeça uma fogueira
Adereços
Guarda chuva, tubo, ralo e lata de lixo.
IDENTIFICAÇÃO
AÇÃO INICIAL
O sábio da caverna sempre tem as melhores soluções para os piores problemas. O que ele não sabe é que a sociedade já as usava. Este eremita ficou tanto tempo em sua caverna que não soube o que acontecia fora dela. Logística e tecnologia experimental são os artifícios do maior gênio da época da pedra, antevendo os problemas antes que eles aconteçam e mirabolando engenhos para suprir a demanda de incautos visitantes que o buscam. Mas, assim que apresenta a solução... Surpresa: aquela invenção já existe! O sábio lamenta repetidas vezes não ter registrado sua idéia antes e, vendo que mesmo se a tivesse patenteado não teria êxito, retorna à clausura de sua caverna, dizendo: “tinha tudo pra dar certo.”. Paulo chega molhado na caverna do sábio.
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PAULO Sábio, precisamos da sua sabedoria, genialidade... Lá fora está um temporal. Chove muito. SÁBIO Mas pra isso não tem jeito. (EM SEGREDO) Não sei se o senhor sabe, mas a chuva é um fenômeno natural. Nisso não posso te ajudar. Aguarde mais um pouco até a chuva passar e siga em paz. (VAI SE DESPEDINDO.) PAULO Eu sei, não quero que o senhor faça parar de chover. Quero saber se o senhor tem alguma invenção para nos ajudar? SÁBIO Sem problema. (PEGA UM GUARDA-CHUVA) Se tem tanta pressa, leve este aparato cuja armação flexível de hastes metálicas é coberta por pano impermeável que se estica ao abrir o conjunto. Veja que genial. (ABRE) Darei o nome de... guarda-chuva! PAULO Não, isso já tem! Não é de disso que precisamos. SÁBIO (FECHANDO) Já têm? Com pano impermeável e tudo? Então, o que te traz aqui? PAULO Enchentes. SÁBIO Enchentes... (PEGA O DICIONÁRIO E LÊ) que enche, grande abundância ou fluidez no volume de águas, devido ao excesso de chuvas, cheia e/ou inundação? (PARA PAULO) Mas onde enche? PAULO Toda a Cidade. Os carros não andam, as pessoas não conseguem sair na rua, as casas ficam alagadas. É um desastre. SÁBIO Casas e ruas alagadas? Hum... Olha, eu tenho algo aqui que, sem sombra de dúvidas, vai revolucionar. Vou dar um banho com essa invenção! Deixe-me ver... (PROCURA NO CHÃO E ACHA UM TUBO) Aqui. Revolucionário! É um cilindro oco por onde líquidos ou gases podem transitar sem riscos. Vou chamar de TUBO, do latim tubus. Genial, não? PAULO Mas isso já tem. Já tem e não funciona. SÁBIO (ASSUSTADO) O Tubo? Como? (PARA SI) Não é possível! Isso nunca saiu daqui! Nunca mostrei a ninguém. Por que não registrei isso antes? (PARA PAULO) Mas como não funciona? Isso é infalível. É só cavar um buraco e colocar o tubo onde enche. A água entra... Como se fossem... Galerias subterrâneas! PAULO Sábio, eu sei. Mas não funciona. Elas entopem. SÁBIO Deixa de ser ingênuo. Pensando nisso, criei um compartimento que impede que dejetos obstruam o fluxo contínuo das águas no momento do temporal, 41
compreendeu? Aqui está! (MOSTRA UM RALO) Para que a água escoe. Poderemos chamá-lo de... PAULO (GRITO) Ralo! SÁBIO Muito bom nome! Ralo. Vai pegar, hein? PAULO (DESESPERADO) Ralo nós temos e entopem também. É muito lixo, entende? SÁBIO Fique calmo, ta tudo pensado. Quem está na chuva é pra se molhar, não é? (PUXA LATA DE LIXO) Fiz com essa cor já pra chamar a atenção. (T) Não me diga que já têm? PAULO Lata de lixo. SÁBIO Não é possível até o nome copiaram! (T) Mas não dá certo por quê? PAULO (SEM GRAÇA) Por que... algumas pessoas jogam lixo no chão... SÁBIO Então, não tem lata de lixo? PAULO Tem... Mas não tem dado certo. Sábio, eu acho que o senhor ta chovendo no molhado. SÁBIO Humm... Foi tudo por água abaixo! (LENTE) Tinha tudo pra dar certo!
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Episódio
Apresentação
Autor
Marco Palito
Personagens fixos
Doutor Blitz Isídio – segurança
Participações
Gilson
Figuração
Cinco seguranças
Cenário
Centro espírita. Mesa duas cadeiras
Figurino
Seguranças – ternos brancos e óculos brancos Dr. Blitz – uniforme militar branco Sirene de polícia
Sonoplastia
IDENTIFICAÇÃO
AÇÃO INICIAL
Uma crítica aos nossos milagreiros sociais, aqueles charlatões que têm sempre uma receita mágica para acabar com os problemas de segurança no país, este é o médium dr. Blitz, que está longe de ser um médium comum. Afinal, como ele mesmo diz, desde “garotinho” recebe o espírito de uma autoridade de segurança e está sempre disposto a fazer diligências, operações surpresa e dar uma geral em qualquer elemento suspeito. Gilson chega e logo é recepcionado por “Eça Luz”
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GILSON B-bom dia. Eu queria me consultar com o Dr. Blitz. EÇA LUZ É aqui mesmo, cidadão. Faça o favor de me acompanhar. GILSON O senhor é o Dr. Blitz? EÇA LUZ (SENTANDO) Silêncio, cidadão. Ninguém faz perguntas pro Dr. Blitz. Ele é quem faz. Sente aí que ele já vem te atender. Apenas olhe. (FECHA OS OLHOS. PAUSA E SOM DE SIRENE. ABRE UM OLHO, DEPOIS O OUTRO. LEVANTA-SE) Tá olhando o quê? GILSON E-eu... Tô olhando nada! DR. BLITZ Tá me chamando de nada? Você sabe quem eu sou? Sabe com quem você tá falando? GILSON É o... Dr. Blitz? DR. BLITZ (ABAIXA ATRÁS DA MESA) Como é que você sabe disso? Quem foi que me cagoetou? Deve tá cheio de X9 aqui. Fecha o cerco! Eles estão vindo por ali! GILSON Ninguém! Ninguém, doutor Blitz! Eu só vim aqui pedir a sua ajuda! DR. BLITZ (LEVANTANDO) Tá com problema é? Doutor Blitz tá aqui pra te ajudar. Dá um abraço aqui. (APROVEITA QUE ESTÁ ABRAÇADO E COMEÇA A REVISTÁ-LO) Tá tudo sob controle. No que eu posso te ajudar? GILSON Onde moro tá muito perigoso, estou enlouquecendo! DR. BLITZ Enlouquecendo? Isso não é da minha alçada! Não dá pra te ajudar, mas conheço um psiquiatra que... GILSON Eu quis dizer que essa violência toda tá me assustando demais! DR. BLITZ Ah! Então, posso te dizer com toda segurança... (ENTRAM SEGURANÇAS) ... você vai ter que ficar na prisão! GILSON (ASSUSTADO) Os bandidos atormentam meu bairro e eu é que vou pra prisão? DR. BLITZ Domiciliar, cidadão! Hoje em dia é preciso estar na atividade... Atividade! (ENCOSTA NA PAREDE E SE APROXIMA DA JANELA) Quem é aquele cara olhando pra cá? Tá olhando o quê? ISÍDIO Calma, comandante. Aquilo é um outdoor! 45
DR. BLITZ E tem que ficar olhando pra cá por causa de quê? Derrubem aquilo. (SEGURANÇAS SAEM. ISIDIO FICA) Do que eu tava falando? GILSON De eu ter que ficar na prisão... DR. BLITZ (FICA DE PÉ E BATE NA MESA) Vagabundo, safado! Tu ainda vem pedir minha ajuda? (P/ ISÍDIO) Prenda esse pilantra! GILSON O quê? Mas o senhor que disse pra eu ficar em “prisão domiciliar”! DR. BLITZ Cidadão complete suas frases pra não dar problema! (T) Rapaz fica preso em casa mesmo. Lá tem tudo que você precisa: conforto, família, diversão e o que não tiver,nós providenciamos. Meu negócio é paz e segurança. Segurança! Traga os produtos para segurança domiciliar. (ISÍDIO TRAZ) Aqui está: uma cerquinha elétrica, grades para janelas e portas, cadeados, trancas, câmeras de circuito interno e comida para o seu cão. GILSON Mas eu não tenho cão. DR. BLITZ (SEGURANÇA ENTRA COM O CACHORRO) Não tinha, agora tem. Esse é o bad pit Bull. Resolvido. Tudo isso é de graça. Aqui o senhor não é obrigado a dar nada. (P/ ISÍDIO) Não é Isídio? A segurança é o mínimo!... que o senhor pode ter. ISÍDIO (PARA GILSON) Quantos salários mínimos o senhor tem aí? (ENGROSSA A VOZ) Mas o senhor dá se quiser, ok? GILSON (CONTA DINHEIRO COM MEDO) Tudo bem, eu contribuo. (ENTREGA P/ DR. BLITZ) Muito obrigado. DR BLITZ (DEVOLVE O DINHEIRO) Eu não cobro nada. Quem cobra é a segurança. (ENTRAM SEGURANÇAS. GILSON PAGA ISÍDIO E SAI). Agora vá e faça tudo que eu falei. Já que tu ta com medo de sair na rua... Fica em casa, é muito mais seguro. ISÍDIO Dr. Blitz, o senhor tem cada idéia. DR. BLITZ Eu? O meu negócio é paz e segurança. (P/ LENTE.) Deesde Garotinho!
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Episódio
Bolão
Autores
Marco Palito
Personagens fixos
Diva Conte
Participações
Renan
Cenário
Consultório de Diva
Figurino
Diva Conte – Vestido de cigana
IDENTIFICAÇÃO
AÇÃO INICIAL
Diva é a vidente mais cara-de-pau do mundo: diz ter poderes sobrenaturais e que com seu poder pode nos mostrar o passado, o presente e o futuro; de papel passado e tudo. Quando seu “talento” é contestado, ela se enfurece, não admitindo ser chamada de adivinha. Ela é diva, a divina sensitiva do universo psíquico, intuitivo e extra sensorial; a musa da terapia holística.
Diva está sentada. Entra Renan
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RENAN Com licença. Não sei se a senhora sabe, mas... DIVA Claro que eu sei! Como é que você pergunta a melhor vidente do país se ela sabe de alguma coisa? Mãe Diva, sabe de tudo e mais um cadinho. RENAN Sabe de tudo o que? DIVA (DISFARÇANDO) De tudo. Prossiga. Fique tranqüilo. Mãe Diva te dará de presente, seu futuro, de papel passado e tudo. (OLHA A ALIANÇA) O senhor é casado, não é? (RENAN CONFIRMA COM A CABEÇA) Já havia previsto. E as crianças, como estão? RENAN Mas eu não tenho filhos! DIVA E quem falou filhos? Falei crianças... E as crianças da sua família? Vejo algumas crianças... RENAN Devem ser meus sobrinhos... Mas Mãe Diva, eu vim aqui por outro motivo. É que me disseram que a senhora pode me ajudar. DIVA Não só posso, como devo! (OLHA PARA GELADEIRA QUE ESTÁ REPLETA DE CONTAS) E como devo... (PARA RENAN) Mas prossiga. RENAN Mãe Diva, eu vou participar de um bolão e preciso saber quem vai ser o campeão brasileiro. Se eu acertar vou ganhar uma bolada. DIVA Você vai acertar! Quer dizer, eu vou acertar! Portanto, vamos começar acertando as contas. (PEGA A CALCULADORA) Quanto você vai ganhar ? RENAN Cinco mil reais. DIVA (FAZENDO CONTAS) Espere aí. O certo seria te cobrar a metade, mas vou fazer por... Dois mil e quinhentos. Eu digo o resultado adiantado, e você adianta o pagamento. RENAN (CONTA DINHEIRO) Ok. Está aqui. Dois mil e quinhentos reais. DIVA Os guias espirituais... informam: (TOCA UM SINO) Final do Campeonato Brasileiro! Renda! Passe aqui o dinheiro. (PEGA DINHEIRO) Já começo a ver... Substituição: (TROCA BOLA DE CRISTAL POR UMA DE FUTEBOL) Sai bola de cristal, entra, bola de futebol! (PARA RENAN) Um troca-troca pra ver melhor. RENAN Que bom! Mas o que a senhora está vendo? DIVA (FALANDO BAIXO. ABRE UMA CERVEJA E UM AMENDOIM) Psiuuu! Eles estão no minuto de silêncio. (PAUSA) Agora sim, começou o jogo. RENAN Quem são os times da final? 49
DIVA Tô vendo! Vejo aqui que são as equipes... Que... chegaram na final, e a campeã... é que fez maior números de pontos! RENAN (IRRITADO) Isso eu já sei. Eu quero saber quem vai ganhar? DIVA Meu filho, o jogo começou agora, né? Volte daqui a 90 minutos. PASSAGEM DE TEMPO. RENAN VOLTA. RENAN E aí? Já tem a previsão DIVA Deixa de ser apressado. Jogo foi duro. Prorrogação, e agora foi pros pênaltis. RENAN Pênaltis? Pelo menos, me diga qual a camisa? DIVA (OLHANDO PARA BOLA) Camisa linda! (PARA RENAN) Olha nunca vi um uniforme tão bonito: calção meião, chuteiras... tudo bem fashion. RENAN Como é a camisa? DIVA Acabou o jogo! Ah!... que pena...Estão todos sem camisa dando a volta olímpica. Que festa bonita! Ouço a torcida gritando: é campeão! É campeão! RENAN Ah! Divinha, assim não dá. Isso tudo eu já sabia DIVA O senhor também é vidente? Se já sabia por que me procurou? RENAN Procurei porque queria saber a equipe que seria campeã. DIVA De novo? Eu já falei, mas vou repetir. Vamos lá: (OLHA PRA BOLA) Ih! Caiu o sistema, senhor. Agora, só amanhã, senhor. Volte depois que te falo ou podemos ler nas capas dos jornais, ver os programas esportivos... RENAN A senhora é uma vigarista! Devolva meus dois mil e quinhentos reais! DIVA (DEVOLVENDO AOS POUCOS) Mas tudo? Deixa mil reais? Quinhentinho? Cinquentinha? Tá bom! Deixa o da cerveja... RENAN Deixo nada! Sua advinha de quinta! DIVA Divinha de quinta, não! Eu sou a Diva! (PARA A LENTE) Curiooooso!
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Episódio
Festa
Autores
Marco Palito e Vitor Hugo Mota
Personagens fixos
Alienaldo
Participações
Antenor – amigo (careca) Garçom – rapaz alto e magro
Figuração
Convidados e garçons
Cenário
Redação de um jornal
Figurino
Alienaldo – roupa igual a dos garçons
DENTIFICAÇÃO
AÇÃO INICIAL
O alienígena celebridade da via láctea. Vendo que alcançou todos os sucessos reservados a um simples marciano em marte, alienaldo toma o rumo de um novo desafio: veio para a terra ter o mesmo sucesso entre os terráqueos. Mas Alienaldo precisa sobreviver às intempéries da vida social dos seres humanos. O único problema dele, é que ele é vítima de preconceito... Pelo menos, é o que ele acha. Acredita que as pessoas não o tratam bem por ele ser verde. Quanto mais se acha vítima de preconceito, Alienaldo se mostra, na verdade, ser o preconceito em pessoa. Pessoas dançando, surge Alienaldo
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ANTENOR Alienaldo, por que essa cara? Isso aqui é uma festa, é pra se divertir. Não é pra ficar com essa cara amarrada! ALIENALDO Antenor, vou te falar uma coisa: Vou ficar com a cara amarrada, algemada, acorrentada, tudo que eu tiver direito. Ô planetinha preconceituoso. Ô terrinha! Acredita que, mal cheguei, e já fui vítima de preconceito? ANTENOR Não me diga, Alienaldo! Sério mesmo? Mas como foi isso? ALIENALDO Fui barrado pelo rapaz da recepção! Ele disse: “pegue o elevador de serviço”. Elevador de serviço? Onde já se viu, ouvir isso de um empregado suburbano... ANTENOR Mas, Alienaldo. É que você... ALIENALDO Eu já entendi tudo, Antenor! Não precisa me confortar. Aquele porteiro, cabeçachata e assalariado me mandou entrar pelos fundos, porque eu sou verde! Tinha que ser da “terrinha” mesmo! ANTENOR Alienaldo deixa eu te explicar. O rapaz da recepção disse pra você entrar pelos fundos não por que você é verde! É por que... ALIENALDO ...estou com as antenas aparecendo? Isso também é preconceito! Nasci com essas antenas e tenho orgulho delas! Esse baixinho, retirante lá da terra de lampião! Tremendo passa-fome! Está é com inveja porque sou antenado. ANTENOR Alienaldo... Não é nada disso! Você não me deixa terminar... ALIENALDO Boa idéia, Antenor. Terminar! Vou acabar com aquele terráqueo de meia tigela. Mas, antes, deixa eu beber uma dose. Garçom! (ACENA PARA O GARÇOM). GARÇOM Você não pode beber. ALIENALDO Como é que é, terráqueo? Ô pau de vira-tripa. Como você se atreve...? ANTENOR (SE COLOCA ENTRE ALIENALDO E O GARÇOM. ) Calma, Alienaldo! (PARA O GARÇOM) Escuta, rapaz. Ele não é... ALIENALDO Sim! Eu sou sim, Antenor! Não tenho vergonha de dizer que eu sou verde! E muito verde! 100% Verde! Seu girafa, macarrão equilibrista e preconceituoso! Não é porque sou verde que não posso tomar esse vinho vagabundo, tá? ANTENOR Alienaldo! Não é nada disso que você está pensando! O rapaz só... ALIENALDO (PARA GARÇOM) Pra mim chega! Não vou deixar que um subalterno, terceirizado, e que carrega bandeja diga o que eu posso ou não posso beber! Não suporto preconceito. Tô até fundando o dia da consciência verde pra ver se neguinho se toca, né? 53
ANTENOR Alienaldo! Quem tem que se tocar é você! Pára um pouco. Vem aqui comigo. (VÃO ATÉ O ESPELHO) Tá vendo? ALIENALDO Claro, como não veria esse belo representante marciano, com uma pele verde lisinha, e as mais vistosas antenas da festa? ANTENOR Alienaldo, a sua roupa é igual a dos garçons, olha! (MOSTRA OS GARÇONS) O porteiro pediu pra você entrar pela porta dos fundos porque achou que você veio pra trabalhar na festa, e não por que você é verde ou tem antenas. ALIENALDO Ah, Antenor. Não seja tão bobinho. E o garçom? ANTENOR O garçom te confundiu com um garçom também. E garçons não podem beber durante a festa! Não é por que você é marciano! ALIENALDO Antenor, essa sua terra está afogada em preconceito! Qual é? vai amarelar, Cabeça de boliche? ANTENOR Quer saber, Alienaldo? Preconceituoso aqui é você! (ANTENOR SAI) ALIENALDO Preconceituoso, eu? Tinha que ser da “terrinha”. (PARA OS CONVIDADOS) E vocês? Tão olhando o quê? (LENTE) Tô de verde mesmo, e daí?
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Episódio
Apresentação
Autor
Marco Palito
Personagens fixos
Demmy Glória – ex-celebridade Mãe de Demmy Dália – presidente do fã clube
Participações
Nice Apresentador
Figuração
Convidados da festa, crianças
Cenário
Interior do carro Playground com palco
Figurino
IDENTIFICAÇÃO
AÇÃO INICIAL
Demmy Glória e Mãe - Perua Nice - Comum Demmy Glória já teve seus 15 minutos de fama, mas não consegue deixar de ser famosa. Ou melhor, de se achar famosa. Ela foi uma celebridade relâmpago, que sobe, chega ao auge e sai dos holofotes na semana seguinte de ser eliminada do programa. Cair no anonimato é o motivo que a faz cair em desespero, e não na real. Contando com suas fiéis escudeiras – sua mãe, que é sua fã número zero, e Dália, a presidente de seu fã-clube – Demmy Glória está numa eterna luta contra a memória deste povo esquecido. Ela pode ter perdido o público, mas não perdeu a pose. Demmy e sua mãe dentro do carro...
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DEMMY Mãe, lembra do plano: saia do carro, peça aos seguranças pra fazer o cordão de isolamento e traga só uma criança pra eu beijar e posar pra foto. Espere aí, é pousar ou posar? Pra tirar uma foto comigo. Falando nisso, como está a minha maquiagem? MÃE Está ótima, filha. Deixa comigo. (ABRE A PORTA DO CARRO. CÂMERA REVELA UM CARRO VELHO) Pode vir, minha estrela! (DEMMY SAI, PERCEBE QUE NÃO TEM NINGUÉM, MAS MANTÉM A POSE) DEMMY Com licença! Com licença! (PEGA UM RAPAZ QUE ESTÁ PASSANDO E TIRA UMA FOTO COM ELE) Tudo bem, eu tiro. (RAPAZ SEM GRAÇA) De nada. (ASSINA NA CAMISA DE OUTRO. NICE SE APROXIMA) NICE Você é a...? MÃE Demmy Glória, a maior revelação do Cenário pop do planeta. Lembra? Do reality show “Máquina de Celebridades”! Ela ficou em quinto. Lembrou, né? (PESSOA NEGA) Isso! É ela mesma. Hoje, ela veio dar o ar da graça nessa festa beneficente. DEMMY Oi! Querida, eu vou precisar trocar de roupa e retocar a maquiagem antes de entrar no palco. Colocaram as 20 toalhas brancas no “camarinho”? NICE Camarim...? Olha só: tem um banheiro aqui e acho até que tem espelho. Vai. Troca aqui mesmo (ABRE A PORTA DO BANHEIRO) DEMMY (PARA MÃE) Tome conta de tudo. Não deixe ninguém entrar, tá? MÃE Pode deixar. Vai lá, minha estrela radiante. (DEMMY ENTRA NO BANHEIRO E FECHA A PORTA) Prepare-se pra abalar as estruturas desse playground... (DEMMY ABRE A PORTA)... , quer dizer, dessa casa de show. PASSAGEM DE TEMPO APRESENTADOR Ok, pessoal. É com muito orgulho que recebemos ela, que foi... (EM SEGREDO PARA MÃE) O que ela foi mesmo? MÃE A quinta colocada do reality show “Máquina de Celebridades”! APRESENTADOR A quinta eliminada do reality show máquinas de celebrid... MÃE Colocada! Quinta colocada! APRESENTADOR Tanto faz. (NOVAMENTE AO PÚBLICO) Ela, a exuberante... 57
MÃE (TOMA MICROFONE) Demmy Glória! (DEMMY ENTRA ACENANDO. VAI DE PONTA A PONTA DO PALCO COMO SE ESTIVESSE BATENDO NAS MÃOS DAS PESSOAS) DEMMY Vamos lá, pipooooooow! (CÂMERA MOSTRA ALGUMAS CRIANÇAS CORRENDO E ALGUMAS SENHORAS DORMINDO E PRESIDENTE DO FÃ CLUBE) Quero ver todo mundo com a mãozinha pro alto! Assim! (FAZ GESTO SEM GRAÇA) Olha só. (T) Eu queria dizer que é sua “sastisfação”, sua honra, eu poderia dizer que é seu, o prazer... em estar aqui pra me assistir. Até porque “vamu” falar sério: se eu melhorar estraga. (CRIANÇA SE APROXIMA) CRIANÇA Você poderia tirar uma foto? DEMMY Mas é claro. Só se for agora, minha querida. (CRIANÇA ENTREGA A MÁQUINA NA MÃO DELA E FAZ POSE JUNTO COM OUTRAS. DEMMY FAZ A FOTO.) Eu sou Demmy Glória... (PARA A LENTE) Ô, povinho sem memória!
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Episódio
Bebida nas estradas
Autor
Marco Palito
Personagens fixos
Nonô – editor chefe Marron - jornalista
Figuração
Funcionários da redação
Cenário
Redação de um jornal
Figurino
Nono – Roupa comum Marron – Idem
IDENTIFICAÇÃO
AÇÃO INICIAL
Não importa se a notícia é boa ou ruim, o importante é que passe nas mãos de seu nono – como é conhecido nos corredores do jornal – e de lá saia a notícia direto para as prensas, totalmente modificada pelos seus interesses e seus distintos colaboradores. Ai daquele que contestar a palavra final do chefe, pois, quem vê o rosto de seu nono o vê apenas uma vez: para assinar a demissão. Seu jornal só tem um compromisso: De se manter. Seu nono é “o poder de imprensa”, pois ele “impreeensa” mesmo!
Nono está falando ao telefone
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NONO Sr. Prefeito, amanhã, infelizmente, vou ter que dar essa noticia. (ABRE O JORNAL) “Prefeito rouba o povo”! O que eu posso fazer? É, né. Sabe como é... Tá bom. Vou ver o que posso fazer. Entra hoje na conta? Ok. Isso mesmo. Digito três (ENTRA MARROM) Marrom, vamos ter que mudar essa manchete. MARROM Ok. “Prefeito rouba o povo”. O que o senhor quer modificar? NONO “Perfeito: robalo com polvo”! Marrom, o jornal tá precisando de matérias de culinária, receitas. O povo gosta mesmo é de comer. MARROM Mas, Seu Noronha... NONO Noronha Lima Fontes, tá dito! É melhor colocar essa matéria de culinária ou tua batata vai começar a assar. O que temos mais? MARROM Chefe olha só que pauta ótima eu tenho pra te mostrar! Levantei uns dados com a Polícia Rodoviária e olha: “30% dos acidentes de trânsito são causados por motoristas embriagados”. Isso dá primeira página pra edição de feriadão. NONO Você bebeu, Marrom? Quer arruinar o meu jornal, sua louca? MARROM Mas por que, chefe? NONO Acabei de fechar uma página de merchandising com uma empresa de bebidas pras edições do feriadão, e você quer noticiar que 30% dos acidentes são causados por motoristas que beberam? Edita! MARROM Mas essa é a verdade das pesquisas! Não posso ocultar a verdade. NONO Mas que porre! A verdade você não pode ocultar. Não admito mentiras no meu jornal. Dá essa matéria aqui. (ESCREVE ALGUMAS COISAS E DEVOLVE PARA MARROM) Pronto! Dei só uma mexidinha. Mudei uma vírgula, um ponto e umas palavras. Pode mandar rodar! MARROM (LÊ) “Confirmado: 70% dos acidentes de trânsito são causados por motoristas que beberam água?” Mas chefe... Essa não é a verdade. NONO Marrom, a verdade tem pernas longas. (T) E às vezes não da pra alcançar. MARROM Mas, Seu Noronha será que podemos dar essa matéria assim, desse jeito? NONO Dá, Marrom. (PRA CÂMERA) Impreeensa, Marrom, que dá!
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Episódio
ASSALTO AO DIRIGENTE
Autores
Marco Palito e Marcus Vinícius
Personagens fixos
Marcus Vinícius - Bonequinho vil Marco Palito - Tradutor
Participações
Rodrigo
Figuração
Pessoas passeando na praça
Cenário
Praça
Figurino
Bonequinho vil – malha preta, luva branca e maquiagem branca no rosto. Marco Palito – terno Rodrigo – roupa esporte
Efeito
Explosão e fumaça
Sonoplastia
Explosão
IDENTIFICAÇÃO
AÇÃO INICIAL
Bonequinho fala sobre a realidade do cotidiano e não tem medo de botar a cara à tapa com suas sinceras, ácidas e, por vezes, incompreendidas opiniões sobre o que é dito nos jornais, rádios e televisão. Suas palavras precisam de tradução por causa da sua estranha forma de falar. E é Marco Palito, seu racional amigo, que tem o árduo trabalho de traduzir o bonequinho vil – com “l”, mesmo – que diz conhecer todo mundo, estar em todos os lugares, saber tudo, pois, de alguma forma marcante, se envolveu nos principais eventos do cenário político-econômico, esportivo e cultural da atualidade. Suas histórias parecem coisa de cinema, ficção, mas ele jura que é tudo real. Será? Lendo o jornal. Câmera revela manchete. “Dirigente de futebol é assaltado”
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RODRIGO Caramba, não acredito! Levaram todo o dinheiro do meu clube? (RODRIGO AMASSA O JORNAL E JOGA NO CHÃO. EXPLOSÃO E FUMAÇA. SURGEM PALITO E VIL) Quem são vocês? PALITO (QUANDO BONEQUINHO VAI FALAR PALITO INTERROMPE) Deixe que eu te apresento: (PARA RODRIGO) Esse é o bonequinho vil. Ele veio pra explicar e tirar suas dúvidas sobre tudo que acontece no mundo. Ele sabe de tudo. Por que ele esta em todos os lugares. BONEQUINHO VIL Otavulá! PALITO Viu? Ele disse: eu estava lá! (P/ RODRIGO EM SEGREDO) Ele fala um pouco enrolado, mas eu estou aqui pra traduzir para o senhor. RODRIGO Então ele sabe que o meu clube foi assaltado? PALITO O bonequinho está em todos os lugares. (P/ VIL) Ele quer saber se você sabe que o dirigente foi assaltado? BONEQUINHO VIL Palipo, num só se que ebi poi assalpado... Tomu se que ebi num foi assaltapo. PALITO Não só sei que ele foi assaltado... Como sei que ele não foi assaltado. RODRIGO Como é que é ele não foi assaltado? Saiu em todos os jornais. BONEQUINHO VIL Deixa de ser ostáro! PALITO Deixa de ser ... bitolado..., alienado..., limitado! BONEQUINHO VIL Num poi naba dispo te asconteceu. Eu bi tubo. PALITO (PARA RODRIGO) Não foi nada disso. Ele viu tudo. RODRIGO Ah, então me diga o que o bonequinho vil, viu? Diga. BONEQUINHO VIL (PARA PALITO) Palipo, bamos respresenpar. . (ENROLA UM POUCO) É mais patinho pra estender. PALITO Ok. Fica mais fácil pra entender. (PARA RODRIGO) Seguinte, o bonequinho ta pedindo pra que eu represente com ele o que aconteceu. E que assim fica mais fácil pra o senhor entender. RODRIGO Ok. Podem representar. Vou sentar aqui nesse banco (SENTA). BONEQUINHO VIL (ABAIXA) Eu tavu escondibo atás do mubo. 64
PALITO Ele estava escondido atrás do muro. BONEQUINHO VIL Dês respentemis eu bi dois tapas. PALITO De repente eu vi dois... tapas? BONEQUINHO VIL Dois ta-pas! PALITO Dois caras! BONEQUINHO VIL Iiiiiipooo! Um, o dadão; e o outro,(T) Eudipitusbirandapas. PALITO Um, o ladrão; o outro, (T) O... dirigente. BONEQUINHO VIL Botê faz o dadão e eu faço o Eudipitusbirandapas. PALITO Ok, eu faço o ladrão e você o dirigente. (T) Bonequinho, deixa fazer o dirigente? BONEQUINHO VIL (COMEÇA A FICAR IRRITADO) Eu que bi, eu bou patê o Eudipitusbirandapas. Botê faz o dadão.Té? PALITO (TRISTE) Quero. (QUANDO VÃO FAZER, PALITO INTERROMPE DE NOVO) Ô, Bonequinho. Vai... Deixa fazer o dirigente? BONEQUINHO VIL (IRRITADO) Tá, Palipo, pode patê o fazer o dirigempe. PALITO Posso fazer o dirigente? BONEQUINHO VIL Dadão e dirigempe: é tubo a memapô! PALITO Ah, é a mesma coisa? Vamos lá. Como é o dirigente? BONEQUINHO VIL Robano dinebo. PALITO (COMEÇA A CONTAR DINHEIRO). Contando dinheiro. (VIL ASSALTA PALITO) BONEQUINHO VIL Não adianpa, é um apalto! Pedeu! PALITO Ah! Um assalto! Perdi! (PALITO ENTREGA O DINHEIRO E GIRA) BONEQUINHO VIL Eudipitusbirandapas! Tudo bem? Quanto tempo! (SE ABRAÇAM) PALITO Rapaz, não vejo você faz tempo. O que você tem feito? BONEQUINHO VIL Eu? Tô... roubambo. E botê? 65
PALITO Eu? Eu.... BONEQUINHO VIL (INTERROMPENDO) Tá robambo? PALITO Que roubando! Agora, sou dirigente de um clube de futebol. BONEQUINHO VIL (PEQUENA PAUSA. BAIXO) Tá robambo. PALITO Me respeite! Eu, agora, sou deputado federal. BONEQUINHO VIL (ALEGRE) Taramba! Tá robambo! (ABRAÇA DE NOVO) Você é o tara! Asprendi tubo com botê. Botê é meu ísbolo! PALITO (SEM GRAÇA) Não aprendeu nada comigo! E não sou seu ídolo! RODRIGO Ah! Então foi isso que aconteceu? (P/ VIL) Bonequinho, me diz uma coisa: você nunca mais viu o dirigente? BONEQUINHO VIL A úlpima bez que oubi palar nêbi... PALITO A ultima vez que você ouviu falar nele...Ele estava aonde? BONEQUINHO VIL No Tuble! RODRIGO No clube? E o que aconteceu? BONEQUINHO VIL Jobaram uma disnamipe...(SOM DE EXPLOSÃO E FUMAÇA. AGORA ELES ESTÃO DE VOLTA AO JORNAL). Peu bi, peu pabo! PALITO Bonequinho vil! Eu vi, eu falo!
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Episódio
Roteiro de documentário - Guadalupe
Autor
Marco Palito
Personagens fixos
Sacanagem – Fani Pacheco Respeito – Paulão
Participações
Moradores, empresários locais, comerciantes, ambulantes e artistas
Cenário
Ruas de Guadalupe
Figurino
Sacanagem – roupa sensual Respeito – terno preto
IDENTIFICAÇÃO
AÇÃO INICIAL
Sacanagem é a repórter mais sensual e provocante da tv, literalmente de parar o trânsito. Sempre munida de respeito – seu gigantesco segurança, que dá conta dos passantes mais assanhados – ela noticia os fatos sob um ângulo nunca visto. Ela usa todo seu arsenal de caras, decotes, poses e sex appeal para atrair a atenção do público às... Irregularidades com o dinheiro público, o descaso com a saúde, a educação, a violência. Enfim, para tudo o que for uma verdadeira sacanagem.
Sacanagem está chegando em Guadalupe descendo a passarela da avenida Brasil.
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VOZ EM OFF Psiu, Sacanagem! SACANAGEM (SENSUAL) Oi! ENTRA CLIP E TÍTULO “GUADALUPE NO ESCURO”.. SACANAGEM (PARA A LENTE) Queria mostrar uma coisa pra você, posso? Quer sacanagem, quer? (MOSTRA O POTE DE SACANAGEM TIRA UM E COMEÇA A COMER) Você gosta de sacanagem... Eu adoro... IMAGEM DE PESSOAS FALANDO SE GOSTAM DE SACANAGEM SACANAGEM (AO FUNDO: HOMEM DESCASCA UMA BANANA) Eu adoro... (T) Estamos aqui em Guadalupe, bairro do subúrbio Carioca, e queria mostrar uma sacanagem pra você... quer ver? Que tal no escurinho do cinema, hein? (ENTREVISTA COM AS PESSOAS) Onde tem cinema por aqui? VISITA A 3 PONTOS QUE JÁ FORAM CINEMAS. IMAGENS DO PERCURSO. SACANAGEM (CHEGANDO NUM BAR) Me falaram que aqui tinha cinema! O que eu faço? Me dá uma dose. (BEBE). IMAGENS DO PERCURSO. CHEGA NUMA IGREJA. SACANAGEM Mas aqui também foi um cinema? Ai, meu Deus! Eu ainda tenho fé que vou achar. Se Deus quiser! (SAI). IMAGENS DO PERCURSO. CHEGA A UM BANCO SACANAGEM E aqui é um banco? (IMAGEM DA FILA. PARA A LENTE) E quem paga a conta é o povo. (ENTREVISTANDO PESSOAS. AO FUNDO: ADOLESCENTE SENTANDO NUMA BONECA) Quantos cinemas? Mas quantas pessoas moram nesse bairro, mesmo? (PESSOAS RESPONDEM. IMAGEM DA BARRA – COMPARATIVO DO NÚMERO DE CINEMAS E MORADORES – IMAGEM DA CIDADE DA MÚSICA ONDE VÃO CONSTRUIR MAIS TRÊS CINEMAS). SACANAGEM Guadalupe tem 200 mil habitantes e um cinema? Mas onde fica? Vamos lá! PERCURSO E CHEGADA AO PONTO CINE. ENTREVSTA COM O RESPONSÁVEL E COM O PÚBLICO ESPECTADOR DO CINEMA SACANAGEM Como surgiu a idéia de ter um cinema... (T)... em Guadalupe? Você gosta de sacanagem? (OFERECE) Suburbano vai ao cinema? (AO FUNDO UM HOMEM PASSA DESCABELANDO UM PALHAÇO) Não vai porque não tem, ou não tem porque não vai? Encerrando aqui meu primeiro filme de sacanagem com censura livre. Agora, vamos assistir algumas das sacanagens que existem em Guadalupe? IMAGENS DE PESSOAS FALANDO, DENUNCIANDO, BRINCANDO, SOLTANDO PIPA... SACANAGEM A Barra, que é zona oeste e já foi da Tijuca, tem noventa mil habitantes e quarenta e oito cinemas! Isso é... (PARA A LENTE. PÕE A SACANAGEM NA BOCA, PUXA O PALITO COM SENSUALIDADE. TAKE RÁPIDO NUM MECÂNICO TROCANDO ÓLEO. SACANAGEM DE NOVO)... Sacanagem! 69
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Episódio
Apresentação
Autor
Marco Palito
Personagens fixos
Dora pinto - comentarista Regis Leme – narrador
Participações
Sônia Vieira Jéssica Daniela Moura
Figuração
Componentes da escola
Cenário
Cabine do sambódromo e parte da passarela do samba
Figurino
Dora Pinto - perua Regis Leme -. Terno e gravata com colar havaiano Sônia Vieira, Jéssica e Daniele Moura – passistas
Sonoplastia
Samba enredo
IDENTIFICAÇÃO
Quem é rainha, nunca perde a majestade, mas Dora Pinto perdeu bem mais do que isso: perdeu a vergonha – que já era pouca – o brilho e os escrúpulos. Tanto é que ela busca tudo o que perdeu tirando de quem têm agora: As novas divas do samba. Usando todo o conhecimento que acumulou dos bastidores, e dos membros das escolas de samba por onde passou. Dora pinto põe a boca no trombone, por que é disso que ela gosta. E muito. Dora, adoooora!
AÇÃO INICIAL
Regis e Dora na cabine do sambódromo
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RÉGIS LEME Sejam muito bem-vindos a mais uma bela noite de carnaval. Aqui é Régis Leme e hoje recebemos ela: ex-modelo, ex-rainha de bateria, ex-mulher de ex-jogador de futebol e mãe de filho de ex-cantor de pagode. A ex... periente: Dora Pinto! DORA PINTO É verdade! Gosto muito! Dora adooora! RÉGIS LEME Unidos dos Pilares na passarela, Dora. O que você está achando? DORA PINTO Uma falta de consideração imensa enfeitada com plumas e paetês. RÉGIS LEME Claro, é... Como? Falta de consideração? Mas o que é isso, Dora? DORA PINTO Por toda a minha vida, fiz tanto por essa escola, Régis, e ninguém reconhece o que eu fiz de bom ali! Merecia um busto, não acha? RÉGIS LEME Pelo que entendi, você acha que merecia algum monumento em sua homenagem, um busto de bronze, talvez? DORA PINTO Que de bronze que nada! De silicone mesmo. Imagina só uns trezentos ml aqui... (APALPANDO OS SEIOS) Regis, só eu sei o que fiz por essa escola. Eu me doei inteira pra relaxar a bateria, dei ânimo pra velha guarda... Nem as baianas podem reclamar! RÉGIS LEME Esta é Dora Pinto. Sempre se doando às causas motivacionais... DORA PINTO Eu me dou mesmo, de corpo e alma! Muito de mim foi dado à escola, pra escola, na escola... Deitei na cama e fiz a fama. RÉGIS LEME Ah... Dora. (PASSA SÔNIA VIEIRA) Agora, veja só o que vemos no carro abrealas. É a atriz veterana Sônia Vieira, que estampa a capa de uma conceituada revista masculina, ótimo ensaio. Recorde de vendas. DORA PINTO Dá pra ver que ela está com tudo em cima mesmo, Régis: peito em cima da barriga, barriga em cima do quadril, quadril em cima da coxa...Foi recorde em vendas, mas foi vendas para os olhos. (COLOCA UMA VENDA NOS OLHOS) Mas como era ensaio, talvez ela faça uma fotos pra valer depois. RÉGIS LEME (RETIRA A VENDA) Pare com isso, Dora! A Sônia está uma uva! DORA PINTO É... Uva Passa! E se é pra comparar com frutas, Régis, eu diria que a Sônia está com um peitinho pêra... “pêra” cintura! RÉGIS LEME Mas o que é isso, Dora? Que falta de respeito! Parou o assunto da Sônia! Se não você acaba arrumando problema pra gente! (ENTRA JÉSSICA) E veja só 72
quem acaba de dar o ar da graça na avenida: a filha da porta-bandeira Adriane Risadinha, a Jéssica, de 18 aninhos, cheia de energia e muito samba no pé! DORA PINTO Ah, coitada... Régis, a história é sempre essa! É samba no pé, dinheiro no bolso e coração na avenida! Mas depois de um tempo, é chinelo no pé, buraco no bolso e olho da rua! E cuide dessa barriga de tanquinho, por que amanhã, ela pode estar cheia de roupa! Aproveite enquanto pode, Jéssica! RÉGIS LEME (PARA DORA) Dora, a Jéssica tem 18 anos de idade! Isso é conselho que se dê? (ENTRA DANIELE MOURA) E vejam só o grande destaque da escola, a rainha de bateria: a modelo e dançarina Daniela Moura, a Mulher-Sardinha! DORA PINTO Que Mulher-Sardinha que nada, Régis! Isso está mais pra Mulher-Baiacu! Sou muito mais eu! Na frente da bateria da Unidos dos Pilares, antigamente! Eu, sim, era um peixão! Era a Mulher-salmão, meu querido! Até patrocínio japonês recebi pra dar o ar da graça no Japão! RÉGIS LEME O Japão tem costumes bem exóticos. Adoram peixe, e comem cru! DORA PINTO Ô, e como comem! Fiquei conhecida como a Mulher-Sushi! Quem provou, aprovou! Gosto muito! (PARA A LENTE) Porque Dora, adoooora!
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Episódio
Apresentação
Autor
Marco Palito
Personagens fixos
Haddad Costa Régís Leme – apresentador
Cenário
Cabine do sambódromo
IDENTIFICAÇÃO
AÇÃO INICIAL
O vanguardista carnavalesco Haddad Costa, mais conhecido como maionese, enfrenta barreiras da compreensão mundana e limitada dos seus contratantes. As pessoas não entendem as mensagens – segundo ele - óbvias e poéticas expressadas em seus carros alegóricos, adereços e coreografias; que elabora para o maior espetáculo da terra. Incompreendido por todos os jurados da passarela do samba, o célebre maionese, carnavalesco renomado, figurinista excepcional, cenógrafo magnífico, parapsicólogo formidável; enfim, este enigmático visionário do glamour artístico rebate todas as críticas, dizendo: “Eu não viajo. Eu estou sempre a frente. Sempre!”.
Régis Leme e Maionese estão na cabine da passarela do samba
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RÉGIS LEME (ENTUSIASMADO) Diretamente da passarela do samba, no primeiro dia de carnaval, a maior festa popular do mundo. E aqui conosco pra comentar este espetáculo tupiniquim, ele: carnavalesco, cenógrafo e parapsicólogo, Dado Costa! Nosso querido Maionese. Como vai, Maionese? Boa noite. MAIONESE Muito boa noite, pessoas. Ainda que a noite seja um mistério, uma penumbra, uma sombra, reserva de enigmas. A magia da escuridão nos remete a devanear sobre as trevas. A noite transcende... RÉGIS LEME Calma, maionese! É apenas um “boa noite”, não viaja! Mas diga-me: o que você espera do carnaval esse ano? MAIONESE Carnaval é sempre uma festa encantadora, muito brilho, paetês, esplendores, carros belíssimos, muita gente bonita, gente que é gente, povo que é povo, pessoa que é pessoa, lógico, enquanto indivíduo elemental neste conjunto... RÉGIS LEME Menos, Maionese. Eu só quero saber o que espera desse carnaval? MAIONESE O que espero? Coisa nova. Chega de mesmice, é sempre essa falta de criatividade, de carnavalescos que só me imitam, se apropriando de minhas obras. Gosto de ousadia, de quem inova... como sempre fiz e que, por muitas vezes, não fui compreendido. RÉGIS LEME Como assim, “não foi compreendido”? MAIONESE Não sei se foi 1974... ou 2006. Em um desses dois anos, o enredo era Recife, e revolucionei convidando a rainha da Inglaterra pra sair na frente da bateria. RÉGIS LEME Espere aí, Maionese! Você convidou a Rainha Elizabeth para ser rainha da bateria da sua escola de samba? E ela aceitou? MAIONESE Claro que aceitou. O problema foi ensaiar a coreografia que misturava samba com o frevo. Ficou um pouco puxado pra ela. RÉGIS LEME Maionese, não viaja! Francamente, isso é história pra boi dormir, né? MAIONESE História do boi foi uma que fiz em 1982... ou 2004. O enredo foi: Boi Bumbá nos mares de Omolubaluaê, Oxum e Ogum nos Mares de Minas Gerais em busca de atum. Mas bom mesmo foi quando homenageamos o Tim Maia, lembra? RÉGIS LEME Claro que lembro, Maionese. Mas como foi bom? Nesse ano, sua escola foi rebaixada! MAIONESE Injustamente. Mais uma vez não acompanharam minha visão. (PARA LENTE) Eu tô sempre à frente! (PARA RÉGIS) Fiz um carnaval revolucionário! 76
RÉGIS LEME Maiosene, que carnaval foi esse que ninguém entendeu? MAIONESE Já deixei todos os três mil componentes avisados na concentração: não me apareça ninguém lá. Não entrem na avenida! Pra casa todo mundo! RÉGIS LEME Espera aí: você convenceu todo mundo a ir pra casa e não desfilar? MAIONESE Houve resistência, confesso, mas meu santo é forte e eu fiz tudo correr bem. E como correu: bombinhas de gás lacrimogêneo, coquetel molotov... Mas tudo pela minha escola e minhas idéias... RÉGIS LEME Que viagem, Maionese... MAIONESE Acompanha. Tirei todo mundo dos carros. E coloquei na passarela só o pessoal empurrando. Nossa! Aqueles carros vazios... Lindos! Representando o nada, o vácuo, o vazio, enfim... As faltas de Tim. Ih! Rimou. (RI) RÉGIS LEME Então, quer dizer que a escola não estava sem os componentes, foi você que teve a brilhante idéia de mandar todos pra casa? MAIONESE Exatamente! Mas tivemos um pequeno problema no último carro, que era pra trazer o Tim. Veio vazio também. Você acredita que o Tim faltou? Acho que foi por isso que perdemos pontos e caímos. RÉGIS LEME E como os jurados entenderiam isso? Fica difícil, não é Maionese? Não viaja... MAIONESE Tá vendo? Nunca entendem. Sabem por quê?... (OLHANDO POR CIMA DO OMBRO. P/ LENTE QUE ESTÁ ATRÁS)... Eu tô sempre à frente!
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Episódio
Puxadores de samba
Autor
Marco Palito
Personagens fixos
Joaquim – comentarista Regis leme – narrador
Cenário
Cabine do sambódromo
Figurino
Joaquim – típico português Regis leme – terno e gravata
IDENTIFICAÇÃO
AÇÃO INICIAL
Se algo dá errado na marques de Sapucaí ou numa roda de samba, é dito que tem “português no samba”. Joaquim surge para desmentir essa máxima do carnaval, provando que se brasileiro tem samba no pé, lusitanos têm fado nas tamancas e nenhuma papa na língua. Mas basta abrir a boca que logo suas idéias e comentários atravessam o samba, sem ritmos, não evoluem e não têm harmonia nenhuma. Portanto, seu Joaquim, calado, já tá errado. Regis leme na cabine apresenta Joaquim...
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RÉGIS LEME Boa noite, caros espectadores! Estamos iniciando mais uma transmissão da maior festa popular do mundo: o carnaval! E para fazer uma análise técnica do desfile, diretamente da terra de Camões, o comentarista Joaquim! JOAQUIM Muito boa noite, Régis. Estou cá para dar fim neste negócio de que se “tem português no samba” é sinal de que algo está a dar errado! RÉGIS LEME O carnaval é uma festa livre de preconceitos. O que você está achando? JOAQUIM (PEGA BIQUÍNIS EMBAIXO DA MESA) Até agora achei: dois biquínis, (MOSTRA PLUMAS) muitas plumas, e praticamente uns trezentos milhões de confetes. (JOGA CONFETE PRO ALTO) RÉGIS LEME Estou falando do que você está achando do desfile, Joaquim? JOAQUIM Estou a achar tudo muito colorido, enfeitado, mas, ô gajo... Não precisa ser economista pra ver que estão a esbanjar por demais com este desfile, oh, pá. RÉGIS LEME Mas desfiles são assim mesmo, Joaquim. É muito investimento, luxo... Você tem algum puxador que mais lhe agrade? JOAQUIM Ah, sim. Claro que tenho. Prefiro os de alça, ficam mais fáceis de abrir as portas do armário, as gavetas... Mas sabe, tem puxadores que não gosto. Por exemplo: os puxadores de carro. Larápios sem vergonhas... RÉGIS LEME Não, Joaquim! Não é isso! Falo dos intérpretes dos sambas-enredo! JOAQUIM Ah, sim, ora pois! Essa é uma preocupação que tenho. Não vejo a necessidade destes gajos ficarem a se esgoelar como loucos por mais de uma hora na avenida. Além de ser um gasto de dinheiro absurdo com cachês, oh, pá. RÉGIS LEME: O que sugere pra diminuir os gastos das escolas e o desgaste dos intérpretes? JOAQUIM É simples. Ao invés destes gajos ficarem a se esgoelare por horas a fio, é só usare a tecnologia. Coloque um cd na radiola em repetição! RÉGIS LEME Mas e a falta de emoção do público com a falta do samba ao vivo, Joaquim? JOAQUIM E quem disse que eles não vão interpretar o samba ao vivo? Pensei também nisso, e vai evitare a demissão deles! Basta eles ficarem a dublare a música! Assim se atravessa a avenida sem atravessare o samba! E pra dublare vamos pagare uns cachês mais baratinhos, o pá. REGIS LEME Mas é tão bonito na avenida quando eles dão o grito de guerra! 80
JOAQUIM Aí é que entra a função social desta tática: substituímos o grito de guerra pelo silêncio da paz! Ainda mais em épocas de tanta violência que vivemos em terras tupiniquins, não é, ô gajo? RÉGIS LEME Mas Joaquim você tem cada idéia. O que você quer com isso? Quer acabar com o carnaval? JOAQUIM Que isso! O samba não pode morrere. (CANTA) “Não deixe o sambar morrere, não deixe o samba acabare”... (T) Mas se morrere... Chora cavaco! Que eu canto meu fado! (CANTA UM FADO E DEPOIS FALA PARA LENTE) Se carnaval fosse bom, tinha o ano todo, o pá!
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82
Episódio
Reveillon
Autores
Marco Palito
Personagens fixos
Chateau
Participações
Kleber
Figuração
Pessoas passeando, e depois pessoas comemorando o ano novo
Cenário
Rua e depois praia
Figurino
Chateau – tradicional depois de branco Kleber – esporte e depois de branco
IDENTIFICAÇÃO
AÇÃO INICIAL
Existem pessoas inconvenientes; algumas são tachadas como inoportunas e até de mau-agouro. Mas ninguém define a palavra “chato” como chateau. O exemplar vivo de que, para cada pessoa “legal” no mundo, há um “mala-sem-alça” em resposta. E chateau é o “rei das malas”, Chateau: escape se puder. Kleber está parado e chateau vem por trás e tapa seus olhos
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CHATEAU Adivinha quem é? Hein, hein? KLEBER (TIRANDO AS MÃOS) Ah... Chateau... Claro, quem mais poderia ser? Tapando os olhos, cutucando, falando alto, só você mesmo! CHATEAU E aí, cara? Reveillon... Ano novo, vida nova... KLEBER (PARA ELE MESMO) E, se Deus quiser, amigo novo. (PARA CHATEAU) É isso mesmo. Vida nova, novas amizades, ampliar a minha rede de conhecidos, contatos, relacionamentos... (TENTA SAIR, MAS CHATEAU O SEGURA) CHATEAU Espere! Onde é que você pensa que vai? Falando nisso, onde você pensando em passar a virada? KLEBER Bem, eu não sei ainda. Mas, provavelmente, vou passar na praia... CHATEAU Praia! Amo praia. Dar uma corrida, jogar areia nos outros, me enterrar até o pescoço... Mas me diga: que praia? KLEBER Ehr... Copacabana! CHATEAU (DELIRANDO) Meu sonho! Os fogos... Deixa ir? Deixa? (CUTUCA KLEBER NAS COSTELAS) Hein? Hein? KLEBER Não! Quer dizer, podemos nos encontrar lá. (SE TOCA) Isso! Que tal? Lá! CHATEAU Boa idéia. Mas aonde? KLEBER Em Copacabana, mesmo. Na praia! Não tem a areia? Então, ali. (TENTA SAIR. CHATEAU SEGURA) CHATEAU Praia... Copacabana... Mas onde? Dá um ponto de referência? KLEBER Em frente ao mar. Pronto! CHATEAU Em frente ao mar... KLEBER É! Eu vou estar de branco. E com uma champagne na mão. CHATEAU Branco... Champagne... Hum... Champagne... KLEBER Areia, em frente ao mar, de branco com uma champagne na mão. CHATEAU (DECORANDO) Me diz uma coisa: e se eu não te encontrar? 84
KLEBER Fica tranqüilo, Chateau. Se até a virada você não me encontrar, vou fazer o seguinte: meia noite você olha pro alto que eu vou soltar um morteiro, entendeu? CHATEAU Agora, sim! (DELIRANDO) Fogos! Meu sonho... KLEBER Isso, pra chamar sua atenção. E ficar mais fácil pra me achar. E aí, a gente passa o reveillon juntos, ok? Você vai me ver logo. CHATEAU Poxa, muito obrigado. A gente se vê lá. É sempre muito bom ter amigos. Não é? (CUTUCANDO) Hein! Hein! Tchau. KLEBER Tchau! Ufa! REVEILLON, PRAIA DE COPACABANA. KLEBER COM UMA CHAMPAGNE NA MÃO. ACENDE UM MORTEIRO QUANDO APARECE CHATEAU TAMPANDO SEUS OLHOS. CHATEAU Adivinha quem é! (PARA LENTE FAZENDO GESTO CUTUCANDO) Hein? Hein?
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Episódio
Show na praia
Autor
Marco Palito
Personagens fixos
Serra Abreu
Participações
Dudu e garçom
Figuração
Frequentadores do bar
Cenário
Bar
Figurino
Serra/Abreu/Dudu – terno s/gravata Zeca – garçon
IDENTIFICAÇÃO
AÇÃO INICIAL
Serra: verdadeiro amigo da onça... Quer dizer, de Abreu. Vive filando, pedindo tudo emprestado, pendurando suas contas para Abreu pagar. Abreu: para o seu desespero, é vítima do amigo, Serra: tudo que Serra faz de errado, Abreu é quem paga o pato, é a cerveja, o cartão, paga tudo, pois tudo “na conta do Abreu: se ele não pagar, nem eu”
Dudu e Abreu estão conversando no bar.
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DUDU Olha, Abreu... chega sexta-feira e eu fico na maior ressaca do meu trabalho. Ficar aturando o meu patrão todo dia é um porre. ABREU Você é que tem sorte. Só reclama do trabalho! E eu, que tenho de aturar o... (ENTRA SERRA)... Serra! SERRA Grande Abreu! Esqueceu de me chamar pro Happy Hour, né? ABREU (COCHICHA) Eu lembrei de não ligar, isso sim. SERRA (PEGA O COPO DO ABREU) E o que estão tomando? Cerveja? Deixa eu dar um gole aqui... Blergh! Nossa, tá quente! Ô, garçom! Desce uma geladinha aqui! E olha só: na conta do Abreu: se ele não pagar, nem eu! ABREU Vai sobrar pra mim... SERRA (PEGA UM PEDAÇO DE FRANGO) E qual é a desse franguinho aqui, Abreu? Tá fresquinho? Deixa eu experimentar... Ah, esse tá no ponto! Show de bola! (SE APOSSA DA PORÇÃO) Quem é o cara, Abreu? ABREU Ah... Esse é um amigo lá da produtora. Serra, esse é o Dudu. SERRA Dudu é aquele que você falou que está produzindo o show na praia? Grande Dudu! Descola dois ingressos pra mim? DUDU Que ingressos? O show é entrada franca. SERRA Eu sei. Queria ver se você descolava uma vaguinha na área vip. Sempre rola um 0800, um coquetel, comida e bebida liberada, entende? De graça até ônibus errado. Que isso aí no bolso, Abreu? ABREU Não é nada, não. SERRA Que “não é nada, não”! É dinheiro? Pô, me empresta aí pra eu pegar um táxi depois do show. Vai acabar tarde, né? Sabe como é condução depois da meia noite. Não vai deixar seu amigo na pista, vai? ABREU Não. Não é dinheiro não. É meu celular! SERRA Ah, então me empresta rapidinho que o meu tá sem crédito. É rapidinho. (LIGA) Alô! Grande Arlindo! Tô te ligando direto a cobrar e você não atende! Como estão as coisas aí na Austrália? Já tá voltando? Traz uma lembrançinha pro seu amigo? Sei lá um canguru, um coala, um bumerangue... O quê? Já está no aeroporto? Vai ter que desligar? Então, faz o seguinte: traz pra mim o lanchinho do avião, vai? Um abraço! (DESLIGA) 88
DUDU Abreu, eu vou sair daqui antes que sobre pra mim. SERRA Que isso? Não é assim, não. Vai sair? E o convite? Faz o seguinte: anota o meu nome e da minha namorada. DUDU Sabe o que é? Esqueci minha caneta no escritório, rapaz. Que cabeça a minha... SERRA Se é assim... Ei, garçom! Me dá essa caneta aqui! (PEGA A CANETA DO GARÇOM E ANOTA) Prontinho, está aqui, meu nome e mais um. (T) Vou levar a minha namorada. (GUARDA A CANETA NO BOLSO) DUDU Por favor a conta. (PUXA A CARTEIRA PRA PAGAR) SERRA Que isso! Não faça isso. Eu faço questão... O serra paga! (PARA O GARÇOM) Olha só. Junta tudo aí e não esqueça os seus 10% e nem de colocar tudo na conta do Abreu: (PARA LENTE) se ele não pagar, nem eu! ABREU Vinte anos de amizade. O que é ruim dura muito. (P/ LENTE) Sobrou pra mim...
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Episódio
Divorcio
Autor
Marco Palito
Personagens fixos
Castilho
Participações
Vladimir
Figuração
Pessoas passeando na rua Mulher bonita
Cenário
Esquina São José com Ouvidor
Figurino
Castilho – camelô Vladimir – roupa esporte Mulher bonita – mini saia
IDENTIFICAÇÃO
AÇÃO INICIAL
Se a caneta é mais forte do que a espada, ela é a arma que todos os dias Castilho leva pra luta, escrevendo seu destino e ajudando os outros a escreverem os seus. Antigo conhecido de um atual empresário do ramo televisivo, Castilho ensinou tudo ao seu “colega de trabalho”. Descreva a situação, Castilho lhe indica a caneta. No fim, a sina é essa. Vale o que tá escrito Castilho vendendo, cliente se aproxima.
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CASTILHO Olha a caneta! (CANTA SUA MÚSICA. PASSA UMA MULHER BONITA) Olha a caneta! Que caneta! (CHEGA VLADIMIR) Pode escolher freguês. VLADIMIR Mas são tantas. Qual o senhor sugere? CASTILHO Ah, isso depende do que o senhor vai assinar. VLADIMIR Ah, tem isso? CASTILHO Claro! A caneta errada pode manchar sua vida! Um dos maiores empresários do Brasil trabalhou muitos anos comigo antes de fazer o sucesso todo que faz! E se não fosse pela caneta que eu indiquei pra ele assinar o contrato, sabe-se lá onde estaria hoje! VLADIMIR Então, vamos lá. Como eu sei qual a caneta certa? CASTILHO Cada contrato tem a caneta que merece. Vamos preencher a sua ficha aqui. Estado civil? VLADIMIR Meu estado? É... Lastimável! Estou indo assinar meu divórcio. CASTILHO Ah, então eu tenho a solução pros seus problemas bem aqui! A caneta certa pra divórcio é esta maravilha! (PEGA UMA CANETA VELHA) VLADIMIR Esta? Mas é tão... Mixuruca! Tão simplesinha! CASTILHO Não se deixe levar pela aparência! Parece uma caneta velha? Sim, por que é! Com tampa mastigada e pouquíssima carga? É verdade. E é isso mesmo! VLADIMIR E devo comprar uma caneta dessas? Que tipo de vendedor é o senhor? CASTILHO Ô, freguês! Tô querendo salvar a sua grana! Copia só: se você for com uma caneta chique, o juiz vai achar que você tem dinheiro e você vai assinar seu atestado de pobreza pelo resto da vida! Mas agora, se você chegar com esta belezinha de pouca tinta, vai dar pena no meritíssimo. VLADIMIR Mas corro o risco da carga terminar enquanto eu assino o divórcio? CASTILHO Risco? Corre o risco do juiz ficar com pena de você e mudar o valor da pensão. VLADIMIR Não sei... Será que isso funciona mesmo? CASTILHO Sou um profissional. Veja o caso de um craque do futebol que tinha se casado com uma modelo lá na França. Dois meses depois, ele foi assinar o divórcio e 92
veio comprar uma caneta comigo. Eu falei: Leva essa aqui. Mas ele quis uma importada. Deu no que deu: a carga dele foi embora em mais da metade. VLADIMIR Nossa! Vou levar essa é agora! (CONTANDO AS MOEDAS) CASTILHO Uma ótima escolha, meu freguês! São só R$ 50,00. VLADIMIR R$ 50,00?!? Por uma canetinha velha, usada e sem carga? CASTILHO Não esqueça das vantagens, freguês! O barato sai caro! No seu caso, lembrese: (CANTA) Caneta velha é que faz escrita boa! Lembra do jogador de futebol? Escreva o que eu tô falando. VLADIMIR É, o senhor tem razão. Aqui está. Agora, vou lá dar um ponto final nisso. CASTILHO (FAZ GESTO ASSINANDO) Tá escrito: Freguês canetou...? Já era! (P/ LENTE) A sina, é essa!
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Episódio
Apresentação
Autor
Marco Palito
Personagens fixos
Omar Jorge Maré
Cenário
Pequeno barco em alto mar
Figurino
Omar e Jorge Maré– pescador
IDENTIFICAÇÃO
Uma boa pescaria sempre rende boas histórias. A maioria delas bastante fantasiosas. Mas antes fossem ficção os assuntos que embalam o tempo à deriva de Omar e Jorge Maré. Entre um peixe fisgado e outro, as manchetes dos jornais onde embalam seus pescados dão o tom divertido de uma prosa bem-humorada e inteligente. Pescou?
AÇÃO INICIAL
Omar e Jorge Maré pescando
95
(CENA 1) MARÉ (LENDO JORNAL EMBRULHADO NO PEIXE) Rapaz, ficou sabendo que o assessor daquele deputado caiu na rede do imposto de renda? OMAR Tá de onda, Maré? MARÉ Tô não. Mas eu não esperava que ele se desse muito bem nesse mar da política. Era um peixe fora d’água que nadou e nadou, mas morreu na praia! OMAR Mas é assim mesmo! Pegar o assessor é fácil. (PUXA PEIXE PEQUENO NO ANZOL) Peixe pequeno é fácil. Quero ver pegar peixe grande. E aí? Pescou, Maré? (CENA 2) MARÉ (LENDO JORNAL EMBRULHADO NO PEIXE) E o “peixe”, hein? Meteu o milésimo na rede e ganhou até estátua! OMAR Mas que onda, hein? Também, não saía da banheira, né? MARÉ Pois é, mas parece que o presidente está querendo dar um banho de água fria e tirar a estátua do peixe de lá. Isso que dá pescar com dinamite... OMAR Pois é. Maré, não tá pro peixe. E aí? Pescou, Maré? (CENA 3) MARÉ Ficou sabendo que minha namorada está contracenando com aquele galã? OMAR Tô sabendo, compadre! Cuidado, não vai ficar boiando de bobeira que o cara é peixe e é espada, hein? MARÉ Omar, isto está fazendo um rodamoinho na minha cabeça. Dizem que aquele galã da novela fisga todas. Caiu na rede dele, já era! OMAR Então, agita essa água pra espantar o cardume, compadre! Fique com um olho no gato e outro no peixe! E aí? Pescou, Maré? (CENA 4) MARÉ (LENDO JORNAL EMBRULHADO NO PEIXE) Rapaz, a polícia subiu o morro e prendeu vários traficantes. OMAR Eu soube. E soube também que eles eram todos de alta periculosidade. MARÉ Tô lendo aqui. Diguim 14 anos, Rato 18, e Joca 16 anos. Meninos perigosos esses, heim? (OMAR FISGA UM PEIXE) Pescou, Omar? OMAR Pesquei! (PUXA UM PEIXE PEQUENO NO ANZOL) Mas foi peixe pequeno. Pegar peixe grande é que é difícil. (PARA LENTE) Pescou? 96
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Episódio
Apresentação
Autor
Marco Palito
Personagens fixos
Rodolfo Dalva – mãe
Cenário
Casa de Rodolfo
Figurino
Rodolfo – uniforme de jogador Dalva – roupa esporte
IDENTIFICAÇÃO
AÇÃO INICIAL
Cidadão modelo, filho responsável, estudante exemplar, o orgulho da família. Isso era tudo que dona Dalva queria do jovem Rodolfo, um típico adolescente que vive a vida seguindo seus ideais: gandaia, diversão e nada de pressa. Rodolfo não se conforma de ter nascido em São Paulo. Vive dizendo que tem alma de baiano e dá um sentido todo especial a toda burocracia da vida cotidiana para qual sua mãe tenta sempre empurrá-lo: direitos, deveres, títulos, documentos e protocolos ganham um sentido peculiar sob a ótica do garoto, que só quer saber de m-p-b: “mulher, praia e bola”.
Rodolfo sentado na cama enchendo uma bola. Entra Dalva.
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DALVA Rodolfo, meu filho, preciso falar com você. RODOLFO Fala aê, maê! Tô indo pra uma pelada. E se têm duas coisas que um homem não pode perder, uma é pênalti com a bola na marca numa pelada, e a outra, é uma pelada na marca do pênalti que te deu bola, meu. DALVA Rodolfo vê se toma vergonha! RODOLFO Já tomei, mas não fez efeito nenhum... DALVA Meu filho, você tem que ter responsabilidade. Pensar no futuro. Você precisa tirar seus documentos, sua identidade. Você já pensou em tirar seu RG? RODOLFO O tempo todo, mãe. Mas o almoço ainda não tá pronto. DALVA Você vai tirar o RG depois do almoço, meu filho? Ai, que bom! Está tomando juízo! RODOLFO Pra senhora ver como me tira de desorientado... Vou tirar um RG caprichado: um Ronco Gigantesco. DALVA Rodolfo, eu vou falar sério com você! Volte pra escola, meu filho. Sempre sonhei que você fosse advogado. Sabe o que a Carminha me disse? RODOLFO Hummm... Graaande Carminha. (ENCHE A BOLA MAIS RÁPIDO) DALVA Pois é. Ela veio jogar na minha cara que o filho dela vai se formar em Direito. RODOLFO Mas eu penso em fazer direito também. Penso e faço direito. Vou pro campo direito, amarro minha chuteira direito, jogo direito, solto pipa direito, quer dizer, a única coisa que não faço direito é soltar pipa. (T) A senhora sabe, eu sou canhoto. (FAZ GESTOS SOLTANDO PIPA COM O BRAÇO ESQUERDO) Mas passo um cerol direitinho... DALVA Vai brincando, Rodolfo. A vida pra você é uma curtição, mas daqui a pouco você chega a minha idade sem um fundo de garantia, um FGTS. RODOLFO Ih, mãê. Tá por fora, hein? Eu tô super em dia com o FGTS. DALVA Como assim, Rodolfo? Você nunca trabalhou. RODOLFO Mas meu F-G-T-S ta se atualizando direto. Tô sempre “Fazendo um Giro a Tarde no Shopping”! “Aparou”, mãê? DALVA Ô, garoto! Meu filho, você precisa arrumar um emprego. 99
RODOLFO Mãe joga essa idéia pra escanteio. Eu sou paulista, mas tenho alma de baiano. Quem foi que disse que são Paulo não pode parar, heim? Sampa tem que dar uma paradinha, tomar uma aguinha de coco, deitar numa rede... DALVA O que você quer da vida? Rodolfo, você precisa me dá ouvidos. RODOLFO Quem disse que não dou? A senhora sabe que meu negócio é M-P-B. (PARA A LENTE) Mulé, praia e bola!
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Episódio
Bar
Autor
Marco Palito
Personagens fixos
Esteves Amado Erasmo – amigo
Participações
Garçonete
Figuração
Frequentadores do bar Dois amigos na mesa com Erasmo Mulher bonita de short Bar
Cenário Figurino
IDENTIFICAÇÃO
AÇÃO INICIAL
Esteves Amado – Esporte Erasmo - Esporte Garçonete – Sensual Esteves é um cara que se diz recuperado do trauma da sua recente separação. Diz que agora está com a vida que pediu a deus: mulheres aos montes, noitadas, mas quando o assunto o faz lembrar de sua ex – graça – ele se altera, fica irritado, e quando percebe, cai em prantos. Esteves amado é um típico machão que não quer dar o braço a torcer que ainda ama sua ex-mulher. No fim das contas, ele percebe que “a graça acabou”! Erasmo está numa mesa com mais dois amigos. Entra Esteves
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ERASMO (FALANDO COM AMIGOS NA MESA) O Esteves andava sumido. Agora, que separou da Graça, não sai mais daqui. Olha ele aí. Fala... Esteves Amado! O que conta de novo? ESTEVES (FESTIVO) E aí, rapaziada! O que conto de novo? (ABRE A MÃO E CONTA NOS DEDOS) Conto nos dedos as mulheres que saí nesse final de semana. ERASMO Poxa, Esteves, estava preocupado com você. Desde a sua separação, tenho te achado meio pra baixo. ESTEVES Que nada! Aquela fase já passou. Estou ótimo. Minha vida, agora, está de vento em popa. Falando em popa...(PASSA UMA MENINA DE SHORTINHO) Tudo bem, gatinha? ERASMO Esse é Amado, Esteves Amado! Você sempre foi o cara! Mas, depois que se apaixonou e casou com a... (INTERROMPE. PUXA ERASMO PELO BRAÇO EM PARTICULAR) ESTEVES Não! Não fala o nome dela. Também não é assim de uma hora pra outra que a gente esquece. ERASMO “De uma hora pra outra”? Faz três anos que vocês se separaram. ESTEVES Três anos nada! Dois anos, onze meses, treze dias, duas horas e (OLHA NO RELÓGIO) Doze... Treze minutos. Praticamente ontem. ERASMO (IRÔNICO) É... praticamente ontem. (T) Mudando de assunto, fiquei sabendo que você entrou pra academia. Tá malhando? ESTEVES Ô, se estou! Olha, tem muita gatinha. Ontem mesmo estava malhando e chegou uma menina e disse assim: ”Nossa, você sua”. Eu respondi: “Eu também vou ser seu”. Resultado: saí de lá com ela , rodamos a noite toda e fechamos todos os bares. E depois, você sabe como é... ERASMO (PARA OS AMIGOS) Esse cara é demais! Esteves já foi o rei da boemia. ESTEVES Fui não. Ainda sou! Quem foi rei, não perde a majestade, (PASSA GARÇONETE) a rainha e nem as princesas. (ABRAÇA A GARCONETE) E, aí, minha princesa? ERASMO (PARA OS AMIGOS) Sempre foi pegador. Me amarro nesse cara. Gosto dele de graça. ESTEVES (TOMA UM CHOQUE LARGA A GARCONETE) De quê?! Não toque nesse nome, já falei! ERASMO Disse que gosto de você de gr... ehr... Que nossa amizade não tem preço. Desculpe, mas, não precisava ficar assim tão nervoso. 103
ESTEVES Quem está nervoso aqui? (COMEÇA A SE RECOMPOR) Estou calmo. Já superei! ERASMO Caramba, não sabia que você ficava assim desse jeito quando toca no nome dela. ESTEVES (COM VERGONHA) Não! Não tem nada a ver... Estou muito bem. (PEGA UM COPO TREMENDO) Já esqueci aquela mulher. Ela agora pertence ao passado. Não é nem página virada na minha vida, porque eu arranquei página por página. Sou outra pessoa. (T) Vamos falar de mulher? ERASMO Vamos. Então, quer dizer que você tem saído direto. Muitas mulheres? ESTEVES Cada noite uma mulher diferente. Erasmo: o homem que tem duas mulheres? Bigamia. Várias? Poligamia. E uma? Monotonia. (PEGA NA MÃO DE UMA MENINA QUE ESTÁ NA MESA AO LADO E BEIJA) Voltei a ser o Esteves de sempre. ERASMO (PARA OS AMIGOS) Antigamente, ele pegava todo mundo. Era muito divertido ficar ao seu lado, mas depois que casou, perdeu a graça! (ESTEVES TOMA UM CHOQUE, PÁRA DE BEIJAR A MAO DA MENINA) ESTEVES (IRRITADO)Como é que é? Perdeu a Graça! (PUXA A TOALHA DA MESA E CAI TUDO NO CHÃO) Não brinca assim, não, tá! Eu não queria mais nada com ela! Fui eu que terminei o relacionamento, ta? (EM PRANTOS P/ LENTE) A graça acabou!
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Episódio
Restaurante
Autor
Marco Palito
Personagens fixos
Clara
Participações
Deise e Fernando – clientes
Figuração
Frequentadores do restaurante
Cenário
Restaurante
Figurino
Clara - garçonete Deise e Fernando – roupa passeio
IDENTIFICAÇÃO
AÇÃO INICIAL
“Eu sou pragmática!”. Isso resume Clara, mas poucos instantes com essa cidadã mostram que essa máxima é contraditória. Ainda que diga não gostar de perder tempo, que preza a objetividade e que não tolera rodeios, é ela quem mais faz a conversa não ter fim. Clara quer saber os detalhes minuciosamente e, quando leva tudo ao pé da letra, se envolve em grandes confusões.
Fernando e Deise chegam no restaurante e chamam o garçom. Entra clara
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FERNANDO Bom dia. Por favor, eu queria o cardápio. CLARA Espere aí! Podemos ser diretos e objetivos? Bom dia por quê? O senhor sabe como foi meu dia? E, segundo: o senhor disse queriiia o cardápio. Afinal de contas, o senhor quer o não quer o cardápio? FERNANDO Como é que é? CLARA Como é que é o quê? O restaurante, o proprietário, a minha vida...? Comigo é assim, não perco tempo. Sou objetiva, vamos direto ao assunto. DEISE Ei, espere aí. Quem a senhora pensa que é pra falar assim com a gente? CLARA Não só penso que sou a Clara como sei que sou Clara. (MOSTRA O CRACHA) E a senhora me perdoe, mas eu sou assim mesmo. Comigo não tem rodeios. DEISE Olha só! (CLARA FICA PARADA) Nós viemos aqui pra jantar e pedimos o cardápio. A senhora entendeu? (T) Vai ficar parada aí olhando, pra gente? CLARA Veja bem, a senhora precisa decidir. Começou a frase dizendo olha só! Fiquei olhando. E agora reclama porque tô parada olhando. O que vocês querem? Vamos direto ao assunto, objetividade. Gente indecisa... FERNANDO Indecisos? Nós já decidimos. Nós queremos o cardápio! Ou tá difícil? CLARA Difícil por quê? Tá me chamando de burra? Não precisa ficar dando volta. Porque não falam bem na minha cara? Vamos ganhar tempo. FERNANDO Minha senhora... CLARA Minha senhora? Mas que pouca vergonha. Me chamando de “minha” senhora na frente da “sua” senhora. O senhor é muito cara-de-pau. Estou aqui trabalhando. Estou aqui pra atender os seus pedidos, (ENTREGA O CARDÁPIO) mas do cardápio, entendeu? O que vão querer? DEISE O que vamos querer? Falar com o gerente! CLARA O que vocês querem falar com ele? Falem logo! Por que não vão direto ao assunto? Vão querer minha cabeça? Mandar me demitir? DEISE(SAINDO) Nós vamos embora! Vamos amor! Não dá pra ficar aqui nem mais um minuto. CLARA Isso mesmo porque meus minutos são preciosos. Comigo é assim: rápido e rasteiro. Eu sou Clara! (P/ LENTE) Não gosto de rodeios! 107
108
Episódio
Festa
Autores
Marco Palito e Vitor Hugo Mota
Personagens fixos
Super mendigo
Participações
Josi , Renato e Bandido
Cenário
Rua deserta
Figurino
Dias – mendigo super-herói Josi e Renato
IDENTIFICAÇÃO
AÇÃO INICIAL
As ruas estão inundadas de violência e só o ato de sair de casa é um imenso ato de coragem. Mas e quem vive nas ruas, como fica? Nosso herói define bem esta condição, pois só não tendo nada a perder para lidar com esse fato. Um bon vivant dos asfaltos como qualquer outro morador de rua, ele é o herói dos sem-teto, o vigilante dos desabrigados e o zelador dos espaços públicos. Com seu cheiro – sua arma – aparece sempre para defender o público, pois, a rua é pública para nós, mas é privada pra ele. Josi e Renato andam na rua e param em frente a uma caixa de papelão
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JOSI Ai, Renato. Não é perigoso andar na rua a esta hora da noite? Estou com mau pressentimento. RENATO Fique tranquila. Você está comigo. E essa rua deserta ta me dando é um bom pressentimento. Vem aqui, vem... (TENTA AGARRÁ-LA) JOSI (IRRITADA) Pára! Você ta maluco? Vamos pra casa. Você sabe que aqui é perigoso... MENDIGO (SAI DA CAIXA DE PAPELÃO. RENATO E JOSI SE ASSUSTAM) Será que não se tem mais sossego nem na rua? Olha o estresse! RENATO Olha só, meu amigo. Não se meta nesse assunto. Já to perdendo minha paciência aqui, ok? MENDIGO Então, vá perder você sua paciência pra lá e não me faça perder meu sono. É só o que eu tenho pra perder... Tive uma idéia. Porque vocês não vão dar um mergulho aqui na minha praia, heim? (APONTA) E aqui em frente. (VOLTA PARA SUA CASA DE PAPELÃO) JOSI Ai, Renato. Vamos embora daqui logo, vamos... CHEGA BANDIDO ASSALTANDO JOSI E RENATO BANDIDO Perdeu! Perdeu! Isso é um assalto! Passa tudo! (JOSI DA UM GRITO E RENATO COLOCA A MÃO NA SUA BOCA) Mãos ao alto! (RENATO LEVANTA A MÃO JOSI DÁ UM GRITO. MENDIGO ACORDA) MENDIGO Mas o que é que é isso, hein, pessoal? Já não falei pra parar com a gritaria? Uma das poucas coisas que eu tenho é: sono e paciência. E pelo jeito vocês querem que eu perca as duas, não é? BANDIDO Qual é a sua, cara? To assaltando aqui! Não está vendo, não? MENDIGO Ah, é? (LENTE) Você é quem vai ver... (TIRA OS ÓCULOS E SAI) BANDIDO Anda logo, meu irmão! Passa o relógio! O relógio! RENATO O meu relógio? Peraí! Meu relógio, não! JOSI Passa logo o relógio, Renato! Pare com isso! BANDIDO Você tá querendo... (SURGE SUPER MENDIGO) Você de novo? O que é que você quer? SUPER MENDIGO Ué! Vocês me reconheceram? (PÕE OS ÓCULOS) Olha só, parceiro... (COLOCA A MÃO NO OMBRO DO BANDIDO) 110
BANDIDO (COM NOJO) Peraí! Não encosta em mim, não, tá? Fala daí que eu não escuto com o ombro! O que é que você quer? Já não te mandei ir embora? SUPER MENDIGO Vocês vêm fazer bagunça na minha casa e sou eu que tenho de ir embora? Vão vocês pra casa e me deixem em paz aqui na minha! BANDIDO Sua casa? Isso é a rua, maluco! E a rua é pública! SUPER MENDIGO É pública pra você! Pra mim, é privada! (PRO CASAL) e vocês, hein? Que mesquinharia! Depois, o miserável sou eu! Dá esse relógio pra ele! É um querendo ter e o outro não querendo dar! Vamos trabalhar o desapego! (T) Dá logo o relógio e encerra o assunto. RENATO Você só fala assim por que não tem um relógio como esse... SUPER MENDIGO Primeiro: relógio pra quê? Pra não chegar atrasado no serviço? Um encontro? E segundo que ninguém me pergunta as horas mesmo. Rapaz, não tenho hora pra chegar e nem pra sair. BANDIDO (PARA RENATO) Vambora, cara! Chega de conversa fiada! Passa o relógio! SUPER MENDIGO Colega... desapega! Parece até brincadeira: você não quer dar o relógio só por que ele está com uma arma de brinquedo, né? BANDIDO “Arma... de brinquedo”? (JOGA ARMA NO CHÃO E CORRE) JOSI Muito... (VAI ABRAÇÁ-LO, MAS RECUA)... obrigada! Você é um herói! RENATO E se a arma não fosse de brinquedo? Você não teve medo? SUPER MENDIGO Medo de quê? (LENTE) Não tenho nada a perder.
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112
Episódio
Feira livre
Autor
Marco Palito
Personagens fixos
Bandeira pai Bandeira filho
Participações
Norma – sogra do bandeira
Figuração
Pessoas fazendo vendedores
Cenário
Feira livre. Barracas
Adereços
Sacolas de feira
Figurino
Bandeira pai – informal Bandeira filho – informal Norma – informal
IDENTIFICAÇÃO
AÇÃO INICIAL
compra
na
feira
e
Cuidado com o que fala perto de uma criança, pois a inocência em suas cabeças é severa: o que falou, está falado, e é o que vale. Bandeira filho é o exemplo vivo desta franqueza infantil, portanto, tudo que você disser pode e será usado contra você no tribunal da vida onde este honesto menino seja testemunha. E o maior réu desta corte é bandeira pai, que pena ante a línngua nervosa e afiada do seu filho. Então, não dê bandeira, bandeira!
Pai e filho na feira.
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BANDEIRA FILHO (ANALISANDO UM MAMÃO) Não tem nada a ver com a vovó, pai! Lembra que o senhor disse que ela tinha cara de mamão? BANDEIRA PAI (ENGOLE EM SECO, OLHANDO PROS LADOS) Shhhh! Pára com isso, filho. Não lembro de ter falado nada disso... BANDEIRA FILHO Mas eu lembro. O senhor falou. Falou, sim. Ah, se falou... BANDEIRA PAI Quietinho, filho! Já te falei que não é pra ficar repetindo o que o papai fala. É só... um jeito de falar. BANDEIRA FILHO (PARA LENTE) Gente grande compliiica! BANDEIRA PAI Vamos pra casa. Já compramos tudo. BANDEIRA FILHO (PUXANDO O PAI PELO BRAÇO) Papai! Papai! Olha: é a vovó ali! (SOLTA A MÃO DO PAI E VAI ATÉ NORMA) Vovó! Olha lá o papai! (PUXA A AVÓ PELO BRAÇO) BANDEIRA PAI Tudo bem minha sogra querida? Há quanto tempo não lhe vejo! BANDEIRA FILHO É claro que não, né, pai? A vovó ainda não ta dourada! O senhor não disse que não queria a vovó lá em casa, nem pintada de ouro? NORMA Como é que é? BANDEIRA PAI Bem... Eh... (PARA O FILHO) Olha a bandeira, filho! (PARA NORMA) Precisamos ir. A Silvia está nos esperando. NORMA Ah a minha filha está em casa, Bandeira? BANDEIRA FILHO Não vovó. A essa hora? Mamãe deve estar no zoológico. NORMA No zoológico! O que ela foi fazer lá? BANDEIRA FILHO É que o papai, hoje de manhã, mandou ela ir pentear macaco, não foi? BANDEIRA PAI Mas o que é isso, filho!?! Eu não disse bem isso... BANDEIRA FILHO O senhor disse! Disse, sim. Disse, que eu ouvi. Ah, se disse... NORMA Bonito, hein? Minha filha vai saber disso. Olha, estou de boca aberta. BANDEIRA FILHO Ah, então não fecha ainda não, vovó! Deixa ver uma coisa... (NORMA ABRE A BOCA DESCONFIADA) Viu, papai? Cabe sim! O senhor disse que a vovó tinha uma língua que não cabia na boca? Mas cabe sim! Tem muito espaço aqui! 114
BANDEIRA PAI O que é isso, filho? Era só... NORMA ”Um jeito de falar”, não é Bandeira? Passar bem... (VAI BEIJAR NETO) Tchauzinho, meu neto. BANDEIRA FILHO Tchau, vovó. (ENTREGA UMA SACOLA PRA ELA) Olha aqui. Meu pai nem vai precisar fazer aquilo que a senhora mandou, não! Lembra da última vez que a senhora foi lá em casa? (PARA O PAI) Quando o senhor saiu, a vovó disse pra minha mãe: (T) “Manda ele plantar batatas!” E nem vai precisar! Tem muita aqui, olha! (ABRE A SACOLA) NORMA (SEM GRAÇA) Eh... Bem... A vovó já está indo mesmo. Você sabe. né, Bandeira? É só... um jeito de falar... (SAI) BANDEIRA FILHO Olha, vou falar uma coisa. BANDEIRA PAI (FAZ GESTO DE SILÊNCIO) Psiu! BANDEIRA FILHO (PARA LENTE) Gente grande compliiiiica!
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Episódio
Reforma social
Autor
Marco Palito e Mauro Mallet
Personagens fixos
Delfino Brasil Sobrinho Neto Filho Junior IV Delfino Brasil Sobrinho Neto Filho Junior V
Participações
Lopes – Político Vera – Secretária
Figuração
Quatro políticos
Cenário
Gabinete com fotos dos seus antepassados na parede
Figurino
IDENTIFICAÇÃO
AÇÃO INICIAL
Delfino Brasil IV - Terno Delfino Brasil V - Terno Lopes - Terno Políticos - Terno Delfino IV é herdeiro político de uma tradicional família corrupta, e está disposto a dar continuidade às maracutaias de seus antepassados através de seu filho Delfino V. Mas o jovem inocentemente, luta contra tudo que seu pai representa. Para desespero do pai, que diante dos amigos, justifica envergonhado: “esse menino ainda não tá pronto...” Delfino pai está em frente ao cofre, contando dinheiro. Entra Vera. Ele se assusta fecha o cofre
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DELFINO IV... Que isso, Dona Vera! Quer me matar do coração! Eu não posso morrer ainda! Tenho que preparar meu filho para me substituir nas próximas eleições, e quando eu partir dessa pra melhor. (T) Apesar de ser difícil alguma coisa ser melhor que essa moleza aqui. Por falar nisso, meu filho Juninho V, já chegou? VERA Não senhor, mas chegaram os políticos do partido pra reunião. DELFINO IV Tá certo, mande entrar, mas antes me diga uma coisa: Comprou minhas meias novas? VERA (PUXA UM PACOTE ENORME COM UMA MEIA DE 1 METRO) Essa foi a maior que eu encontrei, maxi extra GGGG plus. DELFINO IV Maravilha! Isso não é uma meia! Isso é uma inteira! Deve caber uns 20 milhões de dólares! Mande entrar os líderes do partido. VERA SAI E ENTRAM POLÍTICOS LOPES Deputado Delfino! Dinossauro da nossa política! Como está vossa excelência? Viemos definir com o senhor quem vai ser o grande representante de nosso partido nas próximas eleições! DELFINO IV (VIRA-SE PARA RETRATOS NA PAREDE) Seguindo a tradição de meu tataravô Delfino Brasil I, esse homem do tempo que a pro-pina ainda era pré-pina! Não só já tenho o nome como o sobrenome! (ENTRA DELFINO V) Falou no candidato aparece o rabo: Delfino Brasil Sobrinho Neto Filho Junior V ! DELFINO V Oi pai! E aí companheiros! Juntos! Na luta! Por um país mais digno, sem pobreza e sem corrupção! DELFINO IV Tá vendo? Não falei pra vocês? Esse menino vai longe! Olha a conversa dele! Isso é conversa pra boi dormir. Boi não, isso é conversa pra boiada inteira cair no sono e roncar a noite toda! LOPES Realmente... O garoto é bom! Quase me convenceu! Sabe falar o que o povo quer ouvir, com convicção! (PARA DELFINO V) Mas me diga uma coisa: o que você está pensando pra favorecer a classe política? DELFINO V O Político precisa ser protegido! Precisamos melhorar a imagem do político no nosso país. DELFINO IV Rapaz, eu to todo arrepiado. Faz tempo que não ouço um discurso assim tão forte, consistente... Vai dar pano pra manga. Manga não! Isso vai dar pano pra muito colarinho branco! 118
LOPES Deixe-me perguntar uma coisa. Só pra ver se você ta preparado: Suponhamos que um empresário chame você pra uma conversa, e te ofereça 15 por cento pra você aprovar uma obra. O que você faz? DELFINO V Eu chego lá pra conversa, e digo: 15 por cento é pouco! Tá pensando que tá falando com amador? Eu quero é 20! DELFINO IV (CHORANDO) Eu queria que seu tataravô estivesse vivo, pra assistir esse momento de emoção e alegria que você está nos dando. E depois, meu filho? (PARA LOPES) Esse menino vai longe... DELFINO V Depois que ele me desse o dinheiro, eu tirava o microfone escondido do paletó e gritava: isso mesmo, vinte! Vim te prender! Polícia Federal! Pode entrar! A casa caiu! Caiu tudo! Caiu mansão, caiu empresa fantasma... LOPES (IRRITADO) O senhor marca uma reunião pra apresentar uma raposa e me apresenta esse frangote para ser o nosso representante? Vamos embora! (SAEM) DELFINO IV Volta aqui pessoal! (PARA DELFINO V) Tá vendo? É assim que você quer melhorar a imagem dos políticos? DELFINO V Claro papai! (PUXA UMA CÂMERA DA MOCHILA) vai ser tudo gravado com câmeras de alta definição! (T) E aí pai? Eu vou longe ou não vou? DELFINO IV Meu filho, agora você foi longe demais... (LENTE) Esse menino ainda não tá pronto.
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Episódio
Praia
Autor
Marco Palito
Person. Fixos
Ed Guerra - Prefeito Digão – Secretário Norma - Secretária do Prefeito
Participação
Leila – cidadã I Mazinho – ambulante Marisa – cidadã II
Figuração
Pessoas na praia Guardas municipais
Cenário
Calçadão da praia com quiosques, visão parcial da areia e mar
Figurino
Adereços
Edi e Digão – terno Norma - tailler Leila – biquine Mazinho – sunga Marisa – biquine Carrocinha de picolé “Pardal” (APARELHO QUE MEDE O EXCESSO DE VELOCIDADE). Castelo de areia
Efeito
Click de fotografia (PARDAL)
IDENTIFICAÇÃO
Ed Guerra é um prefeito detalhista e perfeccionista ao extremo. Ed criou na sua gestão uma secretaria para resolver os problemas da sua cidade: secretaria de ordem, alvará, licença, pardais e multa pública. E nomeou Digão, seu braço direito. Mas essa loucura de pôr “ordem na casa” faz com que eles transformem a cidade num verdadeiro caos.
AÇÃO INICIAL
Ed e Norma chegam na praia.
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NORMA Prefeito Ed Guerra, estamos todos preparados para a operação de ordem de choque. (CHEGA DIGÃO COM OS GUARDAS) O secretário de ordem, alvará, licença, pardais e multas públicas também já chegou, ele e a tropa. ED GUERRA Digão, presta atenção! (APONTA PARA PRAIA) Ta vendo? Todo mundo à vontade. Será que o pessoal pensa que praia é lugar de brincadeira? Se eles pensam que vão jogar areia na minha gestão, estão enganados. Vamos pôr ordem na casa! DIGÃO Deixa com a gente, choque! O senhor sabe que colocar ordem é a minha praia! (PEGA O MEGAFONE) Atenção pessoal! A ordem do “choque” é essa: Ocupem apenas o espaço permitido... Porque Ed Guerra, não erra! (PUXA UMA RÉGUA GIGANTE E COMEÇA A MEDIR A DISTÂNCIA ENTRE AS TOALHAS. PARA LEILA) Por favor, senhorita, dá pra ajeitar a sua toalha? LEILA Mas o que é isso? Quer dizer que agora tem área demarcada para deitar na areia? Estou chocada. DIGÃO Então começou a entender. “Tamo” aqui pra chocar “mermo”! ED GUERRA Espere aí! Além de estar com a toalha fora da posição estabelecida pela prefeitura, ainda está deitada com a cabeça virada para o mar. Todo mundo já sabe que a ordem é ficar com a cabeça virada para o calçadão e os pés para água. Digão, apreensão! Apreenda a toalha dessa cidadã! (GUARDAS PEGAM A TOALHA À FORÇA). DIGÃO (PARA ED) Vamos continuar a operação. (PASSA UM AMBULANTE EMPURRANDO CARROCINHA. FLASH DO PARDAL DISPARA) Opa! Disparou o flash. Prefeito, multa, multa, multa, multa! Parado aí! ED GUERRA Encosta, rapaz! Documento do veiculo e habilitação! MAZINHO Habilitação? Pra pilotar carrocinha de picolé? ED GUERRA (TIRA A TAMPA DA CARROCINHA E OLHA) Todo errado! Foi flagrado pelo pardal de carrocinhas de picolé, está com o veículo sem vistoria e sem documentos. Olha, o senhor vai perder pontos! MAZINHO Na carteira de motorista? ED GUERRA Não, comigo! (OLHA DENTRO DA CARROCINHA) Opa! Mais uma infração! Não tem picolé de limão? Acho que o senhor entrou numa fria. Digão, apreensão, apreenda o veículo e a mercadoria! GUARDAS TENTAM PEGAR, MAS AMBULANTE RESISTE. 122
ED GUERRA Tratamento de choque nele, Digão! (DIGÃO PUXA UMA PISTOLA COM DOIS FIOS APARECENDO, ENCOSTA EM MAZINHO QUE DÁ UM GRITO E CAI ENCIMA DA CARROCINHA). Norma, fique calma. Essa pistola apenas deixa o cidadão desmaiado daqui a pouco ele retoma o sentido. DIGÃO (GUARDAS LEVAM A CARROÇA COM ELE DESMAIADO) Pode levar. Isso que é uma ordem de choque! (PUXA SPRAY) Tô doido pra usar esse spray de pimenta que o senhor comprou, Prefeito. ED GUERRA Gastei milhões com esses sprays. Precisamos usar porque depois estraga e o povo vai começar a reclamar, dizer que eu joguei o dinheiro público no lixo. DIGÃO (MOSTRA CASTELO DE AREIA) Ed Guerra, olha só pra isso aqui. ED GUERRA Castelo de areia, pode, Digão. O que precisamos ver é se está legalizado... Deixe-me ver o carnê do IPTU, senhorita? MARISA Como é que é? IPTU para castelo de areia? O senhor deve estar de brincadeira, né? Isso foi feito pelo meu filho que está na água... ED GUERRA De brincadeira está a senhorita. Alem de ser uma construção ilegal ainda está abandonada... Digão, demolição! DIGÃO PEGA UMA PÁ E DERRUBA O CASTELO DE AREIA. MARISA DESESPERADA É CONTIDA PELOS GUARDAS. EDUARDO Não adianta espernear, Ed Guerra, não erra! MARISA Acho que o senhor tem outras coisas mais importantes pra cuidar, não acha? Educação por exemplo. EDUARDO (PARA DIGÃO) Toda errada, querendo se manifestar, Digão! (PARA MARISA) Educação é a prioridade do meu mandato. Principalmente educar pessoas como a senhorita que não sabe se comportar na praia! E outra coisa: manifestação contra a prefeitura é de três e meia da madrugada até três e trinta e cinco! Prenda essa baderneira, Digão. DIGÃO É carrente mermo! DIGÃO E GUARDAS PRENDEM MARISA ED GUERRA Meu nome é Ed Guerra, não é bagunça! (LENTE) Ed Guerra, é de paz!
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