Musica portuguesa

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TRABALHO DE EDUCAÇÃO MUSICAL


Realizado por: Filipa Margarida Dias Santa, n.º 8 – 6º C MÚSICA TRADICIONAL PORTUGUESA

Portugal é internacionalmente conhecido pela sua tradição folclórica, em grande medida assente no Fado e nos estilos musicais dele derivados. Embora seja este o género musical que melhor caracteriza o espírito português e que está diretamente relacionado e é consequência da sua história e raízes culturais, tem-se observado uma recente expansão em diversos estilos musicais, como o rock ou o hip-hop. Sendo Portugal o berço de vários povos, verifica-se a existência de uma grande diversidade das suas formas culturais e artísticas. Conhecer as suas tradições musicais é conhecer um pouco da sua história. A folia, a festança, a fé, a comemoração da vida, da morte, das colheitas… tudo se manifesta através da música, que reflete a alma do povo. Para além da voz, é de igual importância a variedade dos instrumentos musicais executados com materiais provenientes do ambiente natural e que caracterizam a música de cada região. Algumas tradições tendem a desaparecer com o decorrer do tempo, mas muitas ainda se encontram vivas na memória do povo.

UM POUCO DE HISTÓRIA… SÉCULO XVIII

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D. João V

A subida ao trono do rei D. João V, em 1707, marca o início de uma época de renovação da música portuguesa, com influência da música italiana, mais precisamente do barroco religioso romano. Nesta época foi feita a reforma da Capela Real, que foi elevada à dignidade de Sé Patriarcal, e foi criado, em 1713, o Seminário da Patriarcal, que se tornou na principal escola de música deste século.

Devido às riquezas provenientes do Brasil (ouro, pedras preciosas, etc.) e, tendo em conta que o rei era casado com uma princesa austríaca habituada a ouvir ópera na corte de Viena, D. João V opta por mandar bolseiros estudar em Itália. São disso exemplo os compositores António Teixeira e Francisco António de Almeida.

A divulgação do mais importante género musical italiano do século XVIII - a ópera, em Portugal, não se deu a partir da corte, mas sim de dois teatros públicos: a Academia da Trindade e o Teatro da Rua dos Condes que lhe viria a suceder. Em 8 anos, apresentaram óperas sérias representadas por companhias italianas,

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perante um público predominantemente aristocrático, que tinha acesso muito limitado às raras representações de óperas cómicas no Paço da Ribeira.

D. João V não manifestou grande interesse pela ópera italiana. Ao longo de todo o seu reinado há conhecimento da representação de apenas umas seis óperas na corte, todas do género cómico, feita pelos cantores da Capela Real em palcos provisórios montados no Paço da Ribeira durante o Carnaval. No entanto, foi no Paço da Ribeira que se estrearam as primeiras óperas de um compositor português: Francisco António de Almeida.

Mais ou menos na mesma altura em que chega a Portugal a ópera italiana, o Teatro do Bairro Alto começa a representar espetáculos de bonecos ou de marionetas igualmente designados como óperas, com música de António Teixeira e textos da autoria do advogado judeu António José da Silva. Mas esta movimentação teatral rapidamente acaba, com a proibição do próprio D. João V em 1742. O rei teve um ataque que o deixou hemiplégico e com um terror religioso, que o levou a proibir todas as representações teatrais em Lisboa. Só as oratórias e festas de Igreja eram permitidas.

A música instrumental, menos desenvolvida neste tempo entre nós, teve porém um representante de alto mérito: Carlos Seixas. As sonatas de Seixas representam, juntamente com as do seu colega Domenico Scarlatti, a

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primeira fase de desenvolvimento da sonata para tecla na transição do Barroco final para o período pré-clássico.

D. José

Com a subida ao trono do rei D. José, em 1750, inicia-se um novo capítulo da nossa história da música. No início do seu reinado, D. José começou a organizar um verdadeiro estabelecimento operático de corte, contratando em Itália alguns dos melhores cantores do tempo, assim como um arquiteto teatral e o compositor napolitano Davide Perez. Foram construídos vários teatros, um de carácter provisório, no Paço da Ribeira, outros dois de carácter permanente no Palácio de Salvaterra de Magos e na Quinta de Cima da Ajuda e, sobretudo, um Teatro de Estado "Casa da Ópera" (conhecida modernamente como Ópera do Tejo). Este último Teatro estreou-se a 31 de março de 1755, com uma obra de David Perez, mas ruiu uns meses mais tarde no terramoto de 1 de Novembro de 1755.

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Na segunda metade do século XVIII a ópera tornou-se, entre nós, o género mais importante e influente. Reconstruídos, após o terramoto, o Teatro do Bairro Alto e o Teatro da Rua dos Condes, recomeçaram os espetáculos, alternando teatro representado em português com óperas italianas e bailados, representados por companhias lusitanas. No Porto, houve igualmente representações de ópera italiana, no chamado Teatro Público ou Teatro do Corpo da Guarda.

Após o terramoto, os espetáculos de ópera são retomados numa escala menor. No Teatro da Ajuda, nos teatros provisórios que se montavam ocasionalmente durante o verão, no Palácio de Queluz e ainda no Teatro de Salvaterra durante o carnaval. Continuou-se a contratar vozes italianas, sendo as vozes femininas substituídas por castrados, na continuação de uma tradição romana que datava do reinado de D. João V. De Itália vinham também os bailarinos e os instrumentistas, os instrumentos e as partituras e os próprios adereços e guarda-roupa das óperas. O repertório dos teatros de corte deixa de ser essencialmente constituído por óperas sérias,

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passando a partir de 1763 a ópera cómica ou buffa a tornar-se mais popular, de acordo com uma tendência que se generalizara entretanto em toda a Europa.

D. Maria I

No campo da ópera, a contribuição dos compositores portugueses é muito menos significativa do que no campo da serenata e da oratória que, em parte por motivos de economia, substituíram a ópera como géneros favoritos da corte, no reinado de D. Maria I, uma vez que dispensavam os cenários e os guarda-roupa. Destacam-se os compositores João Cordeiro da Silva, Pedro António Avondano e João de Sousa Carvalho.

Ao nível da música religiosa, o processo de italianização estendeu-se progressivamente às diversas igrejas da capital e a todas as dioceses do país, em resultado da grande influência exercida pela Capela Real e Patriarcal e do seu Seminário. Do mesmo modo que aconteceu em toda a europa, a influência da ópera italiana determinou, em larga medida, o estilo da música religiosa portuguesa produzida neste século. Destaca-se o nome de Luciano Xavier dos Santos.

A partir da última década deste século, a vida musical passou a ser dominada pela atividade dos teatros de ópera, que surgiram nas duas maiores cidades do país: Lisboa e Porto. A abertura dos teatros de S. Carlos

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(1793) e de S. João (1798) marcam o aparecimento de casas de espetáculo que se mantiveram até ao final do século seguinte. Constituídos por sociedades de capitalistas ou subscrições públicas de ações, esses teatros eram alugados a empresários que montavam toda a temporada e dirigiam a companhia lírica, formada essencialmente por cantores italianos, recebendo simultaneamente um subsídio do Estado. Com a inauguração do Teatro de S. Carlos, terminou o ciclo da ópera de corte, que tinha durado cerca de sessenta anos. Nenhum dos teatros reais sobreviveu até aos nossos dias.

Os

únicos

compositores

portugueses,

que

tiveram

óperas

suas

representadas no Teatro de S. Carlos nos primeiros anos do seu funcionamento, foram dois dos seus diretores musicais, António Leal Moreira e Marcos Portugal

Em comparação com a música vocal profana e religiosa, a quantidade de música instrumental portuguesa que chegou até nós da segunda metade do século XVIII, é relativamente pequena. De destacar o já referido Pedro António Avondano. A maior parte das suas obras conserva-se em bibliotecas estrangeiras e permanece modernamente inédita.

Nas últimas décadas do século XVIII a prática dos concertos públicos e privados e da música doméstica, tiveram um desenvolvimento crescente entre nós. Nos salões aristocráticos e burgueses, adquiriu especial

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importância um género de canção sentimental designado por Modinha, que parece ter sido originariamente importado do Brasil, pela mão do poeta e cantor mulato Domingos Caldas Barbosa. A ela se encontra associado um outro tipo de canção dançada de origem afro-brasileira designado por Lundum, caracterizada pelos ritmos sincopados e pela sua sensualidade. Na primeira metade do século XIX, o estilo musical da modinha foi cada vez mais influenciado pelo estilo da ópera italiana. À modinha tem-se atribuído o papel de antecessora do fado, género esse que não aparece claramente definido antes do segundo terço do século XIX. Como compositores deste género, há que destacar os nomes de Marcos Portugal e de António Leal Moreira

SÉCULO XIX

A Revolução Francesa (1789) foi responsável por grandes transformações a todos os níveis: social, literário e artístico, etc. No plano musical é de salientar a influência dos temas da literatura e da pintura. A Natureza foi também um tema muito querido a esta arte. O desenvolvimento das cidades, provocada pela Revolução Industrial, levou a que as pessoas começassem a apreciar mais a beleza do campo.

TEATROS PÚBLICOS

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A abertura do Teatro de S. Carlos em 1793 e do Teatro de S. João em 1798, marcou o aparecimento de casas de espetáculo públicas que se mantiveram até ao final do século. Os únicos compositores portugueses, que tiveram óperas suas representadas no Teatro de S. Carlos nos primeiros anos do seu funcionamento, foram dois dos seus diretores musicais.

S. Carlos

O repertório de óperas sérias ou buffas dominou a primeira década do século XIX, quase sempre com produções italianas e com algumas óperas francesas, cantadas em italiano. Entre 1800 e 1810 foi o seu Diretor, o compositor português Marcos Portugal , cuja obra conheceu uma maior difusão internacional.

Durante as Invasões francesas esteve fechado ao público, e reabriu as suas portas em 1815. Nesta altura são as óperas de Rossini que dominaram as

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apresentações públicas até 1824. O Teatro foi de novo encerrado durante os anos da guerra civil, reabrindo após a vitória Liberal. O repertório de Rossini, Donizetti e Bellini foi dominante nessa época. Atingiu o seu auge sob a administração do Conde de Farrobo, a partir de 1838. Com a estreia de "Nabucco", em 1843, começou o ciclo verdiano que durou até ao fim do século.

S. João

Durante todo o século XIX manteve-se como a principal casa de espetáculos do Porto, acumulando funções de teatro lírico e de teatro declamado, já que, ao contrário de Lisboa, nunca se construiu nessa cidade um teatro dedicado ao teatro declamado.

Em 1825 abriu um dos mais importantes teatros privados do século XIX: o Teatro das Laranjeiras. Esta sala de espetáculos foi mandada construir por

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um empresário da época - o 1º Conde de Farrobo (atualmente está situado junto ao Jardim Zoológico de Lisboa). Incluía no seu repertório obras de Rossini, Mercadante, Donizetti e também dos compositores portugueses Luís Miró e João Guilherme Daddi.

Durante o primeiro quarto do século, o teatro musicado em português era cultivado em Lisboa nos teatros da Rua dos Condes, do Salitre e do Bairro Alto (1814). Na segunda metade do século, juntaram-se os teatros Ginásio (1846), Dom Fernando (1849) e o Trindade (1867). Havia também intercâmbios entre os teatros portugueses e brasileiros. Entre outros, destacam-se as farsas, entremezes, comédias, ópera burlesca, opereta e zarzuelas dos compositores António Luís Miró e João Guilherme Daddi.

No Porto devemos salientar a existência de teatros secundários que contribuíram também para o desenvolvimento da música portuguesa: o Teatro Baquet (1859), o Teatro D. Afonso (1885), o Carlos Alberto (1897) e o Avenida (1888). Ouvia-se música de Augusto Machado e de Ciríaco Cardoso.

ÓPERA NACIONAL

A maior parte dos compositores portugueses que escreveram óperas na primeira metade do século XIX, basearam-se nos modelos italianos. Como

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tentativas de criar uma Ópera Nacional, recorrendo a temas de cariz nacionalista, realçam-se os nomes dos compositores no princípio do século, Francisco Sá de Noronha e Miguel Ângelo Pereira, e no final do século Alfredo Keil com Donna Bianca (1888) e Serrana (1899)

MÚSICA INSTRUMENTAL

Em contraste com toda a atividade operática e musico-teatral, a música instrumental portuguesa e os concertos públicos e privados ao longo da primeira metade do século XIX, parecem ter tido uma existência muito mais modesta e difícil. A música instrumental deste período é dominada pela figura do pianista e compositor: João Domingos Bomtempo. Este compositor tentou contribuir para terminar com a exclusividade da ópera, introduzindo entre nós a música instrumental de raiz germânica, boémia e francesa. O seu esforço parece não ter tido continuidade após a sua morte.

A década de 70 mostra uma abertura do nosso país ao estrangeiro, através da ligação ferroviária à Europa além Pirinéus. Deixa de ser a música lírica a mais importante, para se dar mais importância à música instrumental. Cresce o número de associações de concertos e os músicos aproximam-se da música alemã. Como grandes instrumentistas podemos destacar Alexandre Rei Colaço, Bernardo Moreira de Sá, Raimundo de Macedo e Guilhermina Suggia.

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MÚSICA RELIGIOSA

A música religiosa acusou a revolução liberal: encerraram-se as escolas capitulares ou conventuais (também o Seminário da Patriarcal). Compôs-se muito, conforme documentação de arquivos, mas em moldes tradicionais. Toda esta situação não impediu que se conservasse ainda hoje uma enorme quantidade de música religiosa nos Arquivos das Sés de Lisboa, Évora, Viseu, Castelo Branco e Braga, entre outras, ou ainda na Biblioteca do Palácio Nacional de Mafra e na Biblioteca da Ajuda. São de destacar os compositores Joaquim Casimiro, Francisco Xavier Migoni e João Guilherme Daddi.

ENSINO DA MÚSICA

Em 1836, à imagem do Conservatório de Paris, fundado por Almeida Garrett, surgiu o Conservatório Geral de Arte Dramática. Era constituído por duas escolas a dramática ou de declamação e a de dança, mímica e ginástica especial, no qual se integrava o Conservatório de Música da Casa Pia, ficando com o nome de Conservatório Nacional. Apesar de ter sido a única instituição do ensino da música do século XIX no nosso país, parece não ter conseguido dar aos seus alunos uma sólida educação prática e teórica, levando muitos dos nossos instrumentistas a tentarem completar a sua formação no estrangeiro.

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Quanto aos compositores, o problema terá sido mais agudo. Só no final do século procuraram formação fora do país. Foi o caso dos compositores Alfredo Keil e Augusto Machado.

SÉCULO XX

No período de transição do século XIX para o século XX, o Brasil exerceu grande atração sobre os artistas e letrados portugueses, nomeadamente os que se dedicaram a cultivar a arte dos sons (Frederico Nascimento, Raimundo de Macedo...) E, pode até dizer-se, que Portugal exerceu certo encantamento sobre os músicos europeus, pois foram muitos os que, vindos de fora, se fixaram entre nós (a família Arroio, Pedro Blanc...). Portugal também teve nomes que se projetaram fora das nossas fronteiras, conquistando êxitos nos mais exigentes meios artísticos.

É, sem dúvida, José Viana da Mota, o artista da verdadeira mudança operada nas primeiras décadas do século XX, tanto a nível do ensino da música como do gosto do público, através da sua múltipla atividade de pianista, compositor, pedagogo e musicógrafo. A sua ação reformadora centra-se principalmente na oposição à cultura da ópera italiana que tinha dominado toda a música portuguesa dos séculos XVIII e XIX, em favor do repertório instrumental de raiz germânica.

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Entretanto, o Teatro de S. Carlos retomou as suas temporadas normais a partir de 1919. Foram apresentadas produções de Wagner (1921), Mussorgsky (1923), Richard Strauss (1924), Debussy (1925). Foram também apresentadas produções portuguesas de Hermínio do Nascimento.

A música portuguesa do século XX sofreu - e continua a sofrer em muitos aspetos - da ineficiência de determinadas estruturas fundamentais: ao nível das orquestras, dos palcos disponíveis, das editoras de partituras, da indústria discográfica e sua consequente implantação nos circuitos comerciais. Mas nada disto tem a ver com a falta de informação dos compositores ou dos intérpretes em relação àquilo que de melhor se faz no resto do mundo. Se observarmos a produção musical de alguns dos nossos compositores deste século, verificamos que sempre estiveram atualizados em relação às correntes estéticas do seu tempo. Devemos salientar Luís de Freitas Branco, Francisco de Lacerda, Cláudio Carneiro, Fernando Lopes Graça e Frederico de Freitas

Partitura de Luís de Freitas Branco

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Da segunda metade do século (a partir de 1945), numa época designada por muitos de modernismo (a música moderna caracteriza-se pelo cruzamento de várias correntes musicais diferentes e de sistemas de composição muito diversos) há que salientar os nomes de alguns compositores, que nunca manifestaram qualquer isolamento informativo nas suas carreiras de compositores, escolhendo cada um o caminho que melhor lhe apeteceu Jorge Peixinho, Emanuel Nunes, Joly Braga Santos e Alexandre Delgado

Segundo Fernando Lopes Graça "... de uma maneira geral, eu creio que a produtividade nacional, no campo da composição e dos instrumentistas, baixou muito de há uns anos a esta parte, para o que não terá contribuído pouco, por um lado, a falta de um nível cultural musical elevado e a ausência de saída para os talentos, e, por outro, a comprovada esterilidade do Conservatório." Segundo o mesmo autor, rapidamente estaremos sem compositores ou instrumentistas, ficando reduzidos à música ligeira e às visitas das vedetas estrangeiras, com todos os inconvenientes no ponto de vista da afirmação de uma cultura nacional.

Acontece que a maioria das obras dos nossos compositores não são conhecidas do público, sobretudo porque as partituras das suas obras não

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têm sido convenientemente editadas. Para avaliarem a gravidade deste facto, imaginem que "êxito" poderia ter junto do público, um escritor cujos livros tivessem que ser lidos do original escrito à mão...

Por outro lado, a insuficiência de orquestras e a ausência de uma política cultural que proporcione a regular execução das partituras, dificulta a divulgação da música portuguesa. Se juntarmos isto à falta de uma produção discográfica capaz de divulgar com o mínimo de eficácia a justa divulgação da música portuguesa, compreenderemos porque razão se fala tão pouco com verdadeiro conhecimento das obras dos nossos compositores. Quando muito, ouve-se falar dos nossos intérpretes, solistas ou em música de câmara, pelo facto de viajarem muito (muitas vezes no estrangeiro) e divulgarem, eles próprios, a música que executam.

Comparativamente à Alemanha que tem atualmente oitenta e uma orquestras sinfónicas profissionais, Portugal tem ... uma. Por mais que se acentue a tónica no facto de sermos um país pobre e que uma orquestra custa muito dinheiro por mês, não nos podemos esquecer que, como diz o maestro

António Vitorino de Almeida, "qualquer clube de futebol da nossa 2ª Divisão B é capaz de custar ainda mais..."

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A última parte do século XX ficou marcada pela influência profunda exercida através do cinema, rádio, televisão, conjuntos sonoros de gravação e reprodução, fitas, vídeos, discos de vários tipos... A música teve uma divulgação que nem sequer podia ser imaginada. Se já antes podíamos admitir que houvesse valores dificilmente reconhecidos ou geralmente esquecidos, agora o conceito de valor ficou em boa parte dependente da divulgação obtida ou imposta através dos meios de comunicação. Ninguém nega que há artistas de elevado valor e competentíssimos que passam ao lado da fama, enquanto outros de moderado mérito, têm uma grande aceitação e uma popularidade duvidosa. O trabalho silencioso (quase sempre o mais frutífero) é ignorado, ao passo que o exibicionismo ganha celebridade.

Devemos, no entanto, realçar que entre as muitas realizações que se poderiam focar, duas delas merecem referência particular: a criação de escolas de música em diversas cidades do interior e a instituição, em Lisboa, de um dos grandes organismos mundiais de difusão da cultura musical, a Fundação Calouste Gulbenkian. Não devemos esquecer a sua apreciada orquestra e o seu primoroso coro, a edição de livros de música e a prensagem de discos.

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A história da música portuguesa no século XX (principalmente a segunda metade), pode ser divida no período que antecede a revolução de 25 de Abril e pós-revolução. Pré-Revolução dos Cravos Durante o Estado Novo, a música portuguesa era muito influenciada pelo concurso televiso da RTP, Festival RTP da Canção, a que se qualificou por Nacional-cançonetismo, devido à clara influência do Estado nos temas abordados. Simone de Oliveira é um dos muitos nomes. No lado oposto, desenvolveu-se a música de intervenção, com o intuito de criticar o Estado Novo e chamar a atenção do povo. Sérgio Godinho, José Mário Branco e Zeca Afonso são três de muitos músicos que ficaram conhecidos. No entanto, já desde o final da década de 1950 que se fazia Rock em Portugal. Joaquim Costa, Os Babies (de José Cid), Os Conchas e Daniel Bacelar são alguns dos pioneiros. Na década seguinte, anos de surf e yé-yé, o Conjunto Mistério, Victor Gomes e os Gatos Negros, Os Titãs são alguns dos nomes que, juntamente com o Conjunto Académico João Paulo, Os Ekos, Quinteto Académico, Jets, os Sheiks e os Chinchilas marcaram essa década. A entrar na década de 1970, a semelhança da música de intervenção o rock também fica mais politizado como se pode ouvir nos discos dos Quarteto 1111, Steamer's, Filarmónica Fraude, Banda do Casaco, entre outros. Pós-Revolução dos Cravos

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Se a Amália ainda é o nome mais conhecido na música portuguesa, na década de 1980 surgem bandas produtivas para o enriquecimento da cultura musical portuguesa, como por exemplo os Heróis do Mar, os Sétima Legião, os GNR e os Madredeus. O Fado começa também a sua transformação e continua a evoluir muito também, no sentido de se tornar o Fado que conhecemos hoje, praticado por artistas como Camané ou Mariza. Hoje em dia existem também bandas e/ou artistas musicais contemporâneos que dão contributos culturais muito significativos em todos os estilos e formas de música, do rock-canção, com os Ornatos Violeta, à canção pop, com os Clã, ao Black/Gothic/Folk/Heavy Metal, com os Moonspell, ao HipHop falado em português, com Sam the Kid ou Valete, da fusão Rock–HipHop, do qual são exemplo os Da Weasel, no Rock, Soul e Blues, dos quais os Wraygunn são um exemplo perfeito, ao Jazz e à música de dança, com os Buraka Som Sistema. A música tradicional mantém-se popular, embora tendo sido modernizada, especialmente na região de Trás-os-Montes. Na década de 1990, embora já existisse música do género, aparece o termo Música Pimba, a partir de uma canção de Emanuel, para se referir a um tipo música ligeira com expressões de duplo sentido, muitas vezes sexuais, com Quim Barreiros um dos nomes mais conhecidos. Lei da Rádio A Lei nº 7/2006 veio introduzir alterações à Lei da Rádio (Lei nº 4/2001), nomeadamente a introdução de quotas de música portuguesa. Assim, as rádios passam a ter que incluir na sua emissão um mínimo de 25 a 40% de música portuguesa, a definir em portaria anualmente.

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A lei, para além de definir o que entende por música portuguesa, exige que 60% seja interpretada na língua portuguesa por cidadãos da União Europeia e que 35% seja música recente, i.e. música com edição anterior a 12 meses. As quotas nas rádios do serviço público, Antena 1, 2 e 3 são definidas no contrato de concessão, sendo nunca inferior a 60% da música total.

ALGUNS GÉNEROS MUSICAIS PRESENTES EM PORTUGAL

Fado

Música eletrónica

Música erudita

Música folclórica

Música de intervenção

Música pop

Música pimba

Nacional-cançonetismo

Rock

Metal

Blues

Música experimental

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O INSTRUMENTAL POPULAR PORTUGUÊS

O

instrumental

popular

português

caracteriza-se

por

uma

grande

multiplicidade de formas, na sua maioria importadas de outros países, dando origem à grande diversidade musical portuguesa, traduzida numa dualidade paisagística fundamental: o leste transmontano e o beirão e a planície alentejana, onde permanecem instrumentos antigos e rudimentares do ciclo pastoril, colorindo uma forma de vida arcaizante. Nestas regiões verifica-se uma quase total exclusão dos cordofones (instrumentos de corda) do reportório

tradicional.

Encontram-se

membrofones

(instrumentos

vibratórios) percutivos e atonais, como os pandeiros, adufes e tamboris, usados para marcar ritmo sem deformação da tonalidade das melodias. Numa linha mais melódica, são de realçar os pífaros e a gaita-de-foles. A faixa ocidental do país, do Minho ao Tejo e, mais a sul, no Algarve, consiste em regiões caracterizadas por um espírito mais aberto e expansivo. Aí predominam os cordofones como a viola, o cavaquinho, a rabeca, a guitarra, o violão e os instrumentos de «tuna». Ideais para exprimir musicalmente um temperamento alegre e festivo, estes instrumentos tornam-se privilegiados nas manifestações lúdicas, sendo os mais adequados à receção de novas formas musicais e influências estrangeiras. Para além dos cordofones, encontram-se ainda outros tipos de instrumentos como o acordeão, a harmónica e a concertina que, em determinadas circunstâncias, substituem os populares cordofones. Todo este instrumental está fortemente ligado à música profana que caracteriza toda esta região. Os instrumentos de corda permitem uma abertura e desenvolvimento de

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novas formas musicais, facto que não se verifica nunca nas terras pastoris e antiquadas do leste, onde os cordofones são praticamente inexistentes. Ao

Minho

correspondem

formas

musicais

bem

ritmadas

e

vivas,

representando nas canções coreográficas e danças de roda, desgarradas e desafios, um temperamento lúdico e festivo. A voz faz-se acompanhar por braguesas e cavaquinhos, apoiados por idiafones (instrumentos vibratórios primitivos). Nas rusgas (também

conhecidas por tocatas, festadas ou

rondas) intervêm ainda outros instrumentos tais como violas, tambores, reque-reques, flautas e ferrinhos, harmónicas e concertinas. Este grupo de instrumentos é igualmente extensível a parte da Beira Litoral, alegrando, quase sempre de improviso, feiras e romarias, caminhadas e trabalhos rurais. Uma outra forma musical, instrumental, vocal e coreográfica é a chula, típica do noroeste do país, assumindo diferentes formas segundo as regiões. O traço comum entre estas diferentes chulas é o tom festivo e os cantares ao desafio. Tal como a rusga, a chula não possui funções cerimoniais. São ambas de carácter profano e festivo, distinguindo-se pela forma como se apresentam. A rusga surge de improviso, animando, por exemplo uma caminhada, ou uma tarefa rural, enquanto a chula se organiza como atracão de uma festa, apresentando-se em pequenos palcos onde vozes masculinas e femininas cantam ao desafio, acompanhadas por cordofones (de destacar a rabeca chuleira) e percutivos. Ao longo do Douro, os grupos de trabalhadores tarefeiros das vindimas deram origem às rogas — forma musical que se traduz em exibições («rusgatas») de terra em terra, cantando e tocando instrumentos próprios da região, normalmente o bombo, os ferrinhos e alguns cardofones. No

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Minho, existem ainda os «Zé-Pereiras», como expressão musical ligada ao cerimonial. Precediam procissões e animavam as festas nas vilas e aldeias. Estes conjuntos inicialmente formados por caixas, bombos e gaitas de foles, passaram a incluir clarinetes, caixas, bombos de dimensões mais reduzidas e pratos. Esta nova formação é designada por charanga. Na mesma região encontram-se Zé-Pereiras cuja constituição conta apenas com tamborileiros de bombas e caixa, designando-se o conjunto por Pancadaria. No centro do país, Coimbra impõe-se pela música ligeira que desenvolveu, primeiro através da viola toeira, depois pela viola, a guitarra e o violão, utilizados nas serenatas noturnas, acompanhando o fado, a forma musical característica desta região. Ainda em Coimbra, é possível encontrar a gaitade-foles, que, pela mão dos gaiteiros, acompanhando o bombo, preenche funções cerimoniais.

A Beira Alta é servida por conjuntos musicais e instrumentais do género das rusgas minhotas, compostos por instrumentos de tuna. Não existe nesta região nenhum tipo de instrumentos que lhe seja próprio, exceto nas zonas serranas, na qual é usada a flauta travessa, característica dos pastores. A Estremadura possui um conjunto instrumental composto por concertinas, harmónicas e gaitas-de-beiços, guitarras, banjos e flautas, associados a uma expressão musical festiva e coreográfica.

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No Ribatejo, para além da gaita-de-foles e tambor utilizados em cerimónias religiosas, nomeadamente no Natal, o fandango é a dança típica da região, animado por concertinas, pandeiretas e castanholas. Em Lisboa, as festas populares são animadas por gaiteiros. Balançando, por vezes, entre o sagrado e o profano, estas festas atingem a sua mais elevada manifestação no fado, no qual o violão e a guitarra «tocam baixinho», acompanhando a voz que se solta de forma única. Na zona leste do país estão presentes instrumentos típicos do ciclo pastoril, tanto na música cerimonial como na música lúdica. Entre eles destacam-se a gaita-de-foles, os pandeiros ou adufes, os tamboris e flautas. Nas Beiras, acrescenta-se a estes a viola. No Baixo Alentejo, é de notar que, quase sempre se desprezam os instrumentos a favor da voz, trabalhada em corais polifónicos. Em toda esta faixa de norte a sul, os cordofones raramente estão presentes e, quando existem, são utilizados de um modo diferente da zona ocidental do país. Na Beira Baixa o adufe é o instrumento privilegiado de todas as situações. É tocado exclusivamente por mulheres. Na região do Fundão, encontramos ZéPereiras, sem gaita-de-foles, sendo constituídos apenas por bombos e caixas. No Alentejo, nomeadamente em Moura e Serpa, o tamborileiro é uma figura de grande importância, na animação de festas regionais de carácter cerimonioso, desempenhando funções de organização e orientação de festejos. Em Beja, a viola campaniça quebra a monotonia dos corais tradicionais, servindo também para fins religiosos.

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O

Algarve

é

marcado

por

instrumentos

percutivos,

harmónicas

e

concertinas, nas suas manifestações lúdicas festas periódicas e arraiais."

MÚSICA TRADICIONAL E MÚSICA ERUDITA A música erudita é toda a criação musical resultante do conhecimento, produzida de acordo com as regras que foram sendo estabelecidas ao longo de várias épocas, que integram vários géneros (música medieval e renascentista,

música

barroca

e

clássica,

romantismo

e

música

contemporânea) referentes a diferentes fases estéticas, que vão desde a idade média atá aos nossos dias. A definição de música erudita não contempla a música popular tradicional. No entanto, muitos compositores, ao longo dos tempos, inspiraram-se nas tradições folclóricas para construírem as suas obras músicas, como Brahms, Beethoven, etc. O mesmo acontecendo nas músicas portuguesas: as danças dos pauliteiros são reconstituições de costumes medievais, os corais alentejanos sugerem a influência da música polifónica religiosa…

Wikipédia http://www.reallisboa.pt/d_000/004/d_004.html http://www.ac-musica-st-cecilia.rcts.pt/musica_index.htm http://www.vidaslusofonas.pt/lopes_graca.htm http://www.rede-nonio.minedu.pt/es/fam_freitas_branco/portugues/xx_compositores.htm

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