Relatório de Estágio | DEZ06 JUN07 | FAUTL

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R e l a t ó r i o

d e

E s t á g i o

UTL | FACULDADE DE ARQUITECTURA | LICENCIATURA EM ARQUITECTURA Filipe Melo e Oliveira | Estágio Académico | Via Profissionalizante | DEZ06 JUN07 Supervisor Arqº Diogo Burnay | Orientadora Arqª Kerstin Tresselt Entidade de Acolhimento DP

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Architectuurstudio bv | Delft, Holanda


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Índice

Agradecimentos ............................................................................................................... 2

A.

Introdução .............................................................................................................. 3

B.

Uma escolha, expectativas e cronograma .................................................................... 4

C.

O Atelier ................................................................................................................. 6

Apresentação, dinâmica de funcionamento, ambiente de trabalho e projectos emblemáticos ........................................................................................ 6

D.

Actividade Projectual ................................................................................................ 9

A333 Carre Gezondheidszorg ................................................................................ 9

A336 Wijnbergen Het Oosten .............................................................................. 11

A369 LJC2 ........................................................................................................ 18

A370 HUA ........................................................................................................ 21

E.

Viagem à Alemanha ............................................................................................... 29

F.

Conclusões ........................................................................................................... 34

Bibliografia .................................................................................................................... 36 Anexos ......................................................................................................................... 37

Visitas a Hilversum, a Utrecht e a Ypenburg .......................................................... 37

Cronograma Semanal [exemplo] ......................................................................... 41

Declaração de aceitação no DP6 ........................................................................... 42

Relatório Intermédio .......................................................................................... 43

Parecer do Orientador ........................................................................................ 44

Cópia dos painéis de apresentação do estágio ........................................................ 45

Historial de Estágio com parecer do Supervisor ...................................................... 47

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Agradecimentos

A todos os que ao longo destes anos de alguma forma contribuíram para que eu pudesse chegar até aqui, agradeço profundamente. À minha família, pela confiança que têm depositado em mim durante os últimos anos e pela compreensão nos momentos mais difíceis – com trabalhos pela madrugada fora ou humores mais ácidos – e especialmente ao meus pais e irmã, por me terem apoiado na minha decisão de estagiar fora de Portugal e por me terem proporcionado todas as condições para que isso se pudesse concretizar, agradeço profundamente. Ao atelier DP6 que me acolheu nos seis meses de estágio, aos seus sócios fundadores – os arquitectos Chris de Weijer e Robert Alewijnse – e a todos os meus colegas no atelier, que me acolheram e se dispuseram a ajudar sempre que necessário, contribuindo para a minha aprendizagem neste início de profissão. Não posso deixar de agradecer de forma particular à minha orientadora de estágio, a arquitecta Kerstin Tresselt, que me ajudou na integração no atelier, a programar e orientar o meu estágio, empenhada e sempre disponível. Ao arquitecto Diogo Burnay, por ter aceite ser meu supervisor de estágio, pela sua disponibilidade em ajudar e pelo apoio pessoal em diversas ocasiões, e que muito contribuiu e incentivou para que o meu estágio fosse na Holanda. Agradeço também à arquitecta Filomena Pinto, pela qualidade dos saberes transmitidos, pela disponibilidade em ajudar e pelo seu entusiasmo e apoio pessoal na conduta do meu percurso académico. A todos os meus amigos e, de forma especial, à Rita agradeço o apoio pessoal contínuo demonstrado.

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A.

Introdução

Este relatório pretende dar a conhecer o trabalho desenvolvido durante seis meses do estágio da Via Profissionalizante, correspondente ao 6º ano da Licenciatura em Arquitectura pela Faculdade de Arquitectura da Universidade Técnica de Lisboa, de 1 de Dezembro de 2006 a 1 de Junho de 2007, durante o ano lectivo de 2006/2007. O estágio decorreu no atelier DP6 Architectuurstudio bv, em Delft, Holanda, sob a orientação da arquitecta Kerstin Tresselt e a supervisão do arquitecto Diogo Burnay. Este relatório divide-se em 6 partes. A primeira parte dá a conhecer o processo de escolha de um atelier para estagiar, as expectativas que criei e o cronograma do trabalho que desenvolvi. A segunda parte diz respeito ao atelier, sua apresentação, dinâmica de funcionamento, ambiente de trabalho e projectos mais emblemáticos. Na terceira parte apresento os quatro projectos mais importantes em que colaborei durante o estágio, enquadrando cada projecto, referindo do que tratam, quais os problemas e as preocupações que suscitaram e descrevendo a minha participação e aprendizagem em cada um. Para além dos quatro projectos que apresento, participei também noutros de forma menos intensa – realizando maquetes, editando imagens em Photoshop para apresentação a clientes, montando booklets –, pelo que não vou aqui apresentá-los. A quarta parte diz respeito a uma viagem que o atelier organizou à Alemanha e apresento uma reflexão pessoal sobre a mesma. Finalmente na quinta parte contém uma síntese sobre a minha participação no trabalho do atelier e as conclusões finais. No final há ainda a bibliografia consultada durante o estágio e para realização deste relatório, um índice de imagens e alguns anexos. Nos anexos, reflicto sobre aspectos que surgiram durante três visitas que fiz na Holanda – o que pude ver e aprender –, apresento o Relatório Intermédio deste estágio, um exemplo de um cronograma semanal do DP6, o parecer do orientador, o parecer do supervisor do estágio no Historial de Estágio e uma cópia dos painéis que entrego juntamente com este relatório. Queria que a minha primeira experiência num atelier pudesse proporcionar uma transição do meio académico para o profissional em que houvesse uma oportunidade clara de evolução e de aprendizagem contínua. A coerência entre a forma de pensar e a responsabilidade da prática projectual perante o atelier eram as minhas principais preocupações e objectivos. Assim, pretendo com este relatório poder fazer um balanço crítico de como a preparação académica pôde potenciar o começo de uma vida profissional e de que modo isso se proporcionou.

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B.

Uma escolha, expectativas e cronograma

Durante o 5º ano comecei a pensar sobre a hipótese de fazer o estágio curricular de final do curso fora de Portugal. Poderia ser uma experiência profissional e pessoal intensa, diferente e interessante; poderia vir a abrir outras portas e a criar novos horizontes no início da minha vida profissional. Cada vez que reflectia sobre o assunto, ficava mais entusiasmado e comecei a definir critérios de escolha do lugar e dos ateliers para onde pretendia enviar o meu portfolio. Tinha a ideia de que um estágio num gabinete de arquitectura com uma escala considerável, internacional, poderia tornar-se mais numa noitada de seis meses do que num estágio de seis meses. Procurava ateliers que produzissem arquitectura com a qual eu me identificasse – quer fossem conhecidos, ainda que não tivesse escolhido ateliers demasiado grandes, quer não –, onde pudesse aprender realmente com profissionais experientes, onde fizesse parte de uma equipa de trabalho e onde me pudesse integrar sem me sentir “explorado”. Quanto ao lugar, pensei em várias hipóteses na Europa mas, após várias conversas com colegas e com o arquitecto Diogo Burnay, meu supervisor, decidi que iria concorrer a um estágio apenas na Holanda. Pesquisei bastante e, após o envio de portfolios, fui chamado para dez entrevistas. Acabei por escolher o DP6 Architectuurstudio, na cidade de Delft, uma cidade com uma escala reduzida, muito humana, com canais tipicamente holandeses e um centro histórico pitoresco.

1. Vista sobre um canal no centro de Delft, Holanda.

2. Praça do Mercado, Delft, Holanda.

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A minha entrevista no DP6 criou em mim boas expectativas em relação à adaptação e inserção num atelier como aquele, desconhecido fora da Holanda, mas reconhecido dentro do país. Esperava que durante o meu estágio pudesse trabalhar com diferentes pessoas, em vários projectos e experimentar várias escalas e fases de desenvolvimento de projecto. O

cronograma

aqui

apresentado

reflecte

a

minha

participação em diversos projectos durante os seis meses de estágio.

3. Cronograma de Estágio.

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C.

O Atelier

O atelier de arquitectura DP6 Architectuurstudio – onde fiz o meu estágio curricular – desenvolve projectos para edifícios de utilidade pública, habitação, planeamento urbano e interiores, tendo sido criado pelos arquitectos Chris de Weijer e Robert Alewijnse, em 1999. Trata-se de um atelier de Arquitectura sedeado em Delft, Holanda, e assenta a sua produção arquitectónica e o seu funcionamento em alguns princípios base: a reflexão, sobre as questões programáticas, feita sempre em interacção com o cliente, possibilitando uma abordagem através de novos conceitos; a inserção na envolvente, valorizando elementos como árvores, água, silhuetas e padrões urbanos, permitindo a criação de edifícios especificamente pensados para o seu contexto; a inovação sobre novas formas de pensar sobre problemas complexos, resultando em novos usos de técnicas e materiais modernos e, por vezes, de técnicas antigas e comprovadas; a tangibilidade que se imprime à arquitectura, através de uma composição consciente dos materiais, criando soluções em que estes contrastam, sendo levados a fortalecer o sentido dos edifícios. É um atelier composto por arquitectos de várias faixas etárias, desde os 24 aos 51 anos, mas onde não há uma hierarquia rígida do tipo piramidal, mas sim uma coerência de trabalho e uma responsabilização de todos e cada um em particular pelo que é feito, perante o resto da equipa de trabalho e do atelier, em última análise. Embora haja de facto uma hierarquia – com arquitectos associados, líderes de equipe, assistentes, estagiários e pessoal administrativo –, o ambiente de trabalho no atelier é bastante descontraído, o que torna o dia-a-dia bastante agradável. Há um forte sentido de proximidade e familiaridade entre todos. O DP6 fomenta uma dinâmica de trabalho flexível e em certa medida igualitária. Todos são tratados com respeito e consideração, dos mais aos menos experientes, pois há a noção de que ensinar alguém a fazer algo não é um peso e uma perda de tempo no presente, mas um investimento no futuro do atelier, em última análise. Prova desse sentido de igualdade e de consideração entre todos é o modo como está organizado o próprio espaço do atelier. Para além de uma sala do servidor de rede, uma sala para arquivo de amostras de materiais, uma cozinha/reprografia e instalações sanitárias, há apenas três salas para reuniões e um espaço aberto para reuniões e workshops; todos partilham, por isso, o espaço de trabalho, que se organiza por “ilhas” de quatro secretárias separadas apenas por estantes baixas. Esta organização não condiciona o trabalho em equipe nem sequer impede que pessoas de “ilhas” diferentes trabalhem juntas.

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4. Vista interior do DP6 Architectuurstudio, Delft, Holanda.

A orientação de projecto do DP6 está fortemente relacionada com as paisagens envolventes, sejam urbanas ou rurais. Os materiais mais usados são tendencialmente naturais, como é o caso da madeira, ainda que se recorra bastante à pré-fabricação como no caso de vidros e metais, procurando acentuar-se os contrastes entre eles. Para já, o atelier assenta a sua produção exclusivamente na Holanda; no entanto, há a intenção de avançar para mercados economicamente mais atractivos, como países de tradição árabe ou orientais. Seguem-se alguns dos projectos construídos mais emblemáticos do DP6 em que os princípios do atelier estão patentes de forma clara.

5. Extensão do Rietveld Lyceum, Doetinchem, Holanda.

6. Escola e espaços exteriores, Bemmel, Holanda.

7. Lyceum Ypenburg, Den Haag, Holanda.

8. Utopolis, Emmen, Holanda.

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9. Hoog en Laag, Heiloo, Holanda.

10. WBC Walterboscomplex, Apeldoorn, Holanda.

Actualmente, o atelier DP6 está nomeado para o prémio “Architect van het jaar 2006-07” (“Arquitecto do Ano 2006-07”). O prémio é atribuído pelo site Architecten Werk, que distingue anualmente os 10 ateliers mais publicados do ano transacto. Obteve já uma menção honrosa com Utopolis, em Emmen, no prémio “Drentse Architectuurenquete 2006/2007”. Também o Lyceum Ypenburg, em Den Haag, foi distinguido entre os primeiros cinco classificados no prémio BNA “Gebouw van het jaar 2007” (“Edifício do Ano 2007”).

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D.

Actividade Projectual

A333 – Carre Gezondheidszorg, Berkel en Rodenrijs A minha participação neste projecto foi mais curta do que em outros, mas nem por isso menos interessante e estimulante, uma vez que colaborei numa fase avançada do projecto, já em construção. Para os três clientes deste projecto – 3B Wonen, Planoform e Convide – projectou-se um Centro Multifuncional nos arredores da cidade de Berkel en Rodenrijs. O programa contempla um centro de saúde, uma escola primária, uma creche e 75 apartamentos para venda e aluguer, com estacionamento automóvel. O centro de saúde consiste numa farmácia, salas de fisioterapia e terapia da fala, um centro de apoio domiciliário e uma clínica para o Hospital São Francisco, em Roterdão. A integração de todas estas funções num volume compacto era a principal intenção, tendo em conta preocupações no que respeita à privacidade, luz natural, espaços exteriores, orientação e acessos. Tudo isto pôde ser resolvido através do desenho complexo das secções, onde a luz natural entra de forma directa por pátios no centro do bloco. No nível térreo, o acesso aos apartamentos faz-se por meio de largos “decks” de madeira dentro do bloco. As fachadas expressam a maneira como o bloco é construído, incorporando nos pisos inferiores as várias funções e, nos pisos superiores, os apartamentos.

11. Fotografia de maquete de Carre Gezondheidszorg, Berkel en Rodenrijs, Holanda.

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12. Fotografias de maquete de Carre Gezondheidszorg, Berkel en Rodenrijs, Holanda.

Por estranho que possa parecer, é já em fase de construção que se tomam decisões acerca dos acabamentos interiores. Desde a concepção do projecto, há uma ideia dos ambientes que se querem criar, mas a escolha dos materiais de acabamento, como portas, paredes pré-fabricadas, vidros e pavimentos, é algo que surge tardiamente em relação ao que julgo ser a prática portuguesa. Este facto tem muito a ver com a realidade dos métodos de construção e de mercado holandeses, que proporcionam a que numa grande parte do trabalho de construção de um edifício se recorra à estandardização e à pré-fabricação, com o mínimo de recurso a “construção molhada”. Nas fotografias abaixo pode ver-se o nível de pré-fabricação corrente neste edifício: à esquerda, módulos de quatro degraus para construção de escadas; à direita, o interior do quarteirão onde é possível observar o sistema construtivo dos pisos – com vigas pré-fabricadas para sustentação de lajes alveolares igualmente pré-fabricadas –, a métrica regular da estrutura ou ainda os painéis de isolamento térmico aplicados pelo exterior das paredes, igualmente pré-fabricadas.

13. Módulos pré-fabricados em betão para escadas.

14. Interior do quarteirão em construção.

Foi preciso começar a escolher cores, texturas e materiais para o corredor principal e gabinetes do centro de saúde e de fisioterapia. Foi durante uma conversa com o Chris e o Bjorn em que dei a minha opinião, que o Chris me pediu para fazer uma maquete para um estudo de cor sobre o pavimento, paredes e portas desse espaço. Segundo alguns critérios como o custo dos materiais, a possibilidade de aplicação dos mesmos e a conversa mantida previamente, coube-me a mim fazer

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esse estudo e decidir o que deveria ser proposto ao cliente. Fiz ainda algumas imagens de como poderia ser o interior daquele espaço, segundo as opções que eu propus.

15. Testes de cor em modelo 3D: amarelo-torrado, laranja vivo, azul e verde maçã.

Quando acabei o meu estágio, a última informação que dispunha era de que o cliente tinha optado por uma cor escura para o pavimento e o verde maçã para as paredes coloridas, como a minha proposta fora apresentada e defendida pelo atelier na reunião com o cliente.

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A336 – Wijnbergen Het Oosten, Doetichem Este projecto consiste num plano de urbanização – com habitação de diferentes tipologias – de uma área que se estende ao longo dos limites de uma reserva ecológica e que abrange parte da mesma reserva. Quando colaborei neste projecto, estava já numa fase

final

de

desenvolvimento

urbano.

Posteriormente o plano seria dividido em três partes para que moradias unifamiliares e apartamentos pudessem ser projectados por três gabinetes de arquitectura, segundo regras concretas estipuladas pelo DP6 e uma lógica clara de distribuição da densidade edificada. 16. Área de intervenção na reserva ecológica.

17. Desenho de apresentação, Robert Alewijnse.

18. Fotomontagem de apresentação.

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Uma das principais preocupações sobre a área é a preservação dos ambientes naturais da zona. Esta é alcançada através da baixa densidade de construção, da relação visual directa com o rio ou o bosque e do carácter público da quase totalidade do espaço exterior.

19. Dois exemplos de desenhos de apresentação com ambientes urbanos, Robert Alewijnse.

20. Fotografias da maquete de apresentação.

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Telhados de duas águas, o uso de materiais como a madeira e o vidro, um máximo de dois pisos nos edifícios a descoberto, o recurso a pavimentos

“lentos”

para

o

tráfego,

a

manutenção de linhas de vista e percursos, o uso recorrente de vegetação característica da zona, ou a criação de pequenas hortas e jardins

públicos

são

algumas

das

características que definem o espaço neste projecto e que permitem a uniformização de padrões

de

construção

na

área

de

utilizados:

telha

intervenção.

21.

Quatro

exemplos

de

materiais

cerâmica cinzenta, reboco pintado de branco, madeira de

louro

gamela

e

tijolo

burro

cinzento

para

pavimentos (de cima para baixo).

22. Quatro tipos de ambiências: campo com jardins e árvores; junto ao rio; com pequenas hortas de cultivo; e semi-enterrada junto à reserva ecológica.

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23. Corte parcial e respectivo desenho da estereotomia do pavimento público.

24. Exemplo da estereotomia do pavimento público [23.] para automóveis e peões (fotomontagem).

25. Fotomontagens para estudo da iluminação à noite (à esquerda) e de dia (ao centro).

26.

Exemplo iluminação

de

poste

para

de

espaços

públicos (à direita).

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27. Exemplos de desenhos esquemáticos para apresentação de regras arquitectónicas (à direita) e urbanas (em cima), Robert Alewijnse.

28. Desenho de estudo das habitações semienterradas, para apresentação, Robert Alewijnse.

29. Desenhos de estudo das habitações em apartamentos, para apresentação, Robert Alewijnse.

Com o plano delineado e projectos de execução em andamento, a minha participação durante três semanas neste plano de urbanização passou pela reflexão sobre aspectos de carácter público, como os pavimentos, a vegetação mais adequada ou a iluminação. Para isso, a partir de desenhos de AutoCAD, fiz várias fotomontagens em Photoshop para testar diferentes soluções. Tive ainda oportunidade de realizar booklets de apresentação das ideias do projecto ao cliente – a câmara municipal de Doetichem – e à população da cidade.

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30. Cortes A, B, C, D, E e planta de localização dos mesmos.

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A369 – LJC2 Lourens Janszoon Coster College, Haarlem Este projecto consiste na criação de uma escola intermédia profissional, com um programa e espaço suficientemente flexíveis para que os usos do espaço interior possam mudar com frequência. Esta escola é dirigida a alunos com comportamento problemático que tenham concluído o ensino básico, que não queiram ter uma educação secundária e que, antes de ingressarem nalgum curso superior, queiram ter um contacto mais directo com a realidade de trabalho. Do programa deste projecto fazem parte salas de aula teóricas e práticas – estas mais flexíveis – de informática, economia, artes plásticas e cenográficas, carpintaria, cuidados de saúde e geriatria, entre outros, gabinetes de professores, espaços de estar interiores, uma Aula – um espaço do tipo anfiteatro público e aberto para os espaços de circulação –, uma sala de teatro, uma loja pública a ser gerida por alunos, um pavilhão polidesportivo, campos de jogos, gabinetes e balneários de apoio as actividades desportivas, espaços de estar exteriores – mas claramente dentro dos limites da escola – e ainda parqueamento para bicicletas e automóveis.

31. Planta do piso 2, onde se pode ver a organização interna do programa e alguns espaços excepcionais, como o auditório ou um campo de jogos.

É um projecto que começou há cerca de dois anos e foi um dos projectos em que mais participei. Ao princípio concretizei algumas maquetes para estudo de volumetrias. Trabalhei também sobre algumas ideias de organização interior e testei algumas soluções em maquete. Posteriormente, depois de uma mudança de local de construção, foi preciso testar novas implantações. Para isso, fiz várias alternativas, em maquetes à escala 1:1000, para que nos pudéssemos aperceber do contacto entre as zonas interiores e exteriores do edifício e a sua envolvente, bem como de novas orientações para determinados espaços da escola mais abertos à cidade, como a loja. Produzi ainda algumas secções transversais pelo edifício de modo a testar altimetrias e relações entre espaços interiores e entre espaços interiores e exteriores. Organizei um booklet de apresentação

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do projecto para o cliente, o medidor orçamentista, os urbanistas da câmara municipal e o construtor, contendo várias opções de implantação, de volumetrias, de formas e organização do edifício, em plantas, secções verticais, fotografias de maquetes e secções construtivas.

32. Estudos de cor e materiais para os alçados Norte (em cima) e Sul (em baixo).

Deparei-me com alguns problemas do quotidiano do exercício da Arquitectura, como a economia e rentabilização da estrutura do edifício – que se pretendia o mais simples e flexível possível, pois o orçamento era reduzido –, a economia de aquisição, aplicação e manutenção de materiais de revestimento exterior, cuja escolha veio a recair sobre tijolo e painéis metálicos coloridos. Outro problema foi a constante incerteza na implantação do edifício, pois muitas vezes, como foi este o caso, o poder local decide que o espaço que se pensa existir para um edifício afinal não pode ser usado para tal, devido a variações nos custos dos terrenos e ao cálculo da rentabilização dos espaços construídos. Durante o tempo do estágio, conheci cinco implantações diferentes para o projecto, todas com certos inconvenientes, mas também com contrapartidas. Seguem-se algumas maquetes de estudo de volumetrias, acessos, espaços interiores, organização programática e espacial, que realizei durante a minha participação neste projecto. “You shouldn’t take everything so serious, because this is a study phase.” Kerstin Tresselt, orientadora de estágio Em conversa sobre o meu trabalho no DP6, Delft, 16 de Janeiro de 2007

33. Maquetes de estudo, escala 1:500.

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34. Maquetes de estudo, escala 1:200.

35. Maquetes de estudo, escala 1:1000.

O projecto muda mais uma vez. Uma nova implantação do projecto, desta vez a final, um pouco mais para o lado e um pouco mais compactado. Reajustam-se alguns espaços e parâmetros e começa uma nova fase de projecto – Voorlopig Ontwerp –, na qual já não participei por ter assumido mais responsabilidades no projecto HUA.

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A370 – HUA, Amersfoort Numa semana e meia teve de ser concretizada uma proposta, com construção em três fases, para apresentar num concurso por convites. Pretendia-se uma escola com espaços e sistema construtivo o mais simples e flexíveis possível, para uma construção rápida, a começar em Setembro de 2007, e para possíveis alterações futuras dos espaços interiores. A área bruta de construção era inicialmente de 13.500m2. A ideia da nossa proposta era um edifício que convidasse à sua descoberta, mas que também pudesse criar uma ideia de fronteira entre uma avenida movimentada e espaços públicos exteriores traseiros. Para isso, dois volumes sobre a horizontal, dispostos paralelamente, possibilitavam, no espaço que os separava, a criação de zonas de estudo, circulação e lazer, em volumes coloridos que “flutuavam” no ar e deixavam passar a luz entre eles. Este espaço intermédio situado entre os dois volumes visualmente mais pesados era coberto com uma estrutura secundária revestida a vidro e fechado nos topos igualmente por fachadas envidraçadas. O programa que era necessário cumprir compreendia salas de aulas teóricas e práticas, gabinetes de docentes, uma cafetaria, zonas de estudo individuais e em grupo, zonas de lazer – como por exemplo sala de estudantes –, gabinete de apoio ao estudante, gabinetes administrativos, zonas técnicas, salas de computadores, mediateca, átrios, café, lojas, áreas de exposições, parque de estacionamento interior para carros e bicicletas. Na fase de concurso, para além da minha contribuição com algumas ideias e opiniões acerca da proposta que foi sendo desenvolvida e discutida pela equipa de trabalho, ficou a meu cargo a realização de maquetes de estudo e de uma maquete de apresentação, com a envolvente urbana, à escala 1:500, para submeter a concurso.

36. Fotografias da maquete submetida a concurso, em Janeiro, escala 1:500.

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37. Fotografias da maquete submetida a concurso, em Janeiro, escala 1:500.

Após dois dias para apreciação, foi-nos comunicado que tínhamos ganho o concurso. Houve champanhe para celebrar, como é hábito no DP6 quando se ganha um concurso. Começou então a segunda fase de desenho – Voorlopig Ontwerp. Como era suposto a fase de construção começar em Setembro, e daí a necessidade de flexibilidade e

rapidez

de

construção,

começou-se

a

trabalhar

no

projecto

intensivamente,

que

foi

completamente redesenhado devido a um erro de informação por parte do cliente – a escola – e de fontes oficiais – câmara municipal de Amersfoort e departamentos de urbanismo. Em vez da área de implantação que pensávamos ter disponível e com que contámos para a realização da proposta que levámos a concurso, foi-nos dito posteriormente que tínhamos apenas sensivelmente metade, no sentido longitudinal. Foi então necessária uma remodelação completa da forma do edifício e parcial da ideia que foi submetida a concurso e que tinha ganho.

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38. Esquisso conceptual – Chris de Weijer – colorido por mim em Photoshop.

39. Fotografias de maquete de estudo, escala 1:500.

Começou um processo de reinvenção da ideia e da forma do edifício, ainda que a essência do que se pretendia se mantivesse: um volume comprido de tom entre o vermelho e o alaranjado escuro (tijolo, aço corten, azulejo), sobre dois pisos mais públicos com fachada envidraçada transparente – através da qual se possa perceber o que decorre nos espaços públicos posteriores do edifício – e um conjunto de vazios rectangulares organizados de forma lógica e dinâmica nas lajes de todos os pisos. Claro que a ideia teve o seu tempo de maturação mas foi evoluindo de forma bastante rápida. Aumentaram-se volumetrias, abriram-se espaços, o programa alterou-se e fecharam-se passagens públicas. Sempre em discussão permanente com o cliente, os consultores e a arquitecta de interiores, o edifício mudou bastante em relação à proposta a concurso.

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Cada vez fui assumindo mais responsabilidades no projecto. Fiz maquetes, testei soluções espaciais, desenhei plantas, cortes e alçados, pensei na materialidade e em pormenores construtivos. Fiz de tudo um pouco mas foram os alçados que estiveram mais sob a minha responsabilidade – sempre dialogando com o Daan, o Chris e o Christian –, onde muitas decisões formais e de desenho da arquitectura eram deixadas a meu cargo.

40. Fotomontagens dos alçados – Sudoeste (em cima), Noroeste (à esquerda), Noroeste (à direita) e Sudeste (em baixo) – para apresentação ao cliente.

41. Fotomontagem do topo Sudeste do edifício, para apresentação ao cliente.

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42. Corte construtivo e revestimentos tipo da fachada, em 06/04/2007, impressão à escala 1:100.

43. Fotografias da maquete de apresentação, em 03/04/2007, à escala 1:500.

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44. Fotomontagens do interior, produzidas sobre modelos 3D, para estudo dos vazios das lajes e ambientes.

No final da terceira e última fase de desenho – Definitief Ontwerp – o edifício pouco se parecia com o que tinha ganho o concurso. De qualquer modo, tudo teve de andar rapidamente e, sob muitos condicionalismos, chegou-se a uma solução estabilizada sensivelmente em meados de Maio, com muitos dos pormenores construtivos pensados. Em finais de Maio a área bruta do edifício tinha aumentado para 18.489,32m2 em vez dos 13.500m2 dividindo-se pelos seis pisos da seguinte forma: 280,30m2 (piso 6); 1.613,45m2 (piso 5); 3.160,67m2 (piso 4); 3.173,80m2 (piso 3); 3.682,40m2 (piso 2); 2.490,60m2 (piso 2); 3.777,90m2 (piso 0); 310,20m2 (piso -1).

45. Planta do piso 1, desenho à escala 1:500.

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46. Cortes transversais 04/05 e 14/15, desenhos à escala 1:100.

47. Corte longitudinal CC, desenho à escala 1:200.

48. Alçado Sudoeste, desenho à escala 1:200.

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49. Alçados Noroeste (à esquerda) e Sudeste (à direita), desenhos à escala 1:200.

50. Alçado Nordeste, desenho à escala 1:200.

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E.

Viagem do DP6 à Alemanha

No atelier DP6 acredita-se na ideia de que qualquer investimento para proporcionar um bom ambiente de trabalho e trazer boa disposição à equipa – desde arquitectos a secretárias, relações públicas a estagiários – é sempre um investimento no produto final, nos resultados, no desempenho dos elementos do atelier e, consequentemente, na arquitectura produzida. No seguimento desta lógica, o DP6 organiza viagens de atelier, de tempos a tempos, quando há margem financeira para isso, com uma periodicidade superior à anual, com o objectivo da equipa conhecer novos edifícios, outras culturas, outras arquitecturas, para ver “boa arquitectura”. Este ano o atelier organizou uma viagem à Alemanha e tive a sorte que esta tivesse calhado durante o meu estágio. De 29 de Março a 1 de Abril, o atelier levou-nos até à Alemanha, suportando todos os custos – transportes, alojamento e alimentação –, e todos os trabalhadores foram convidados a ir. Foram quatro dias completos, de manhã à noite, a ver boa arquitectura, com especial enfoque em Essen, Estugarda e Munique. Conseguimos ver e apreender muita informação, em diferentes escalas, sobre diferentes materialidades e programas. Desde o tratamento da luz aos acabamentos dos materiais, das organizações de espaço à modelação e interacção com a envolvente urbana e natural, das preocupações de escala à leitura formal dos edifícios, tudo o que um arquitecto pode e consegue observar à sua volta nós tivemos oportunidade de apreender de forma vivencial e muito directa. Seguem-se algumas fotografias dos edifícios mais marcantes que vimos e visitámos, dando especial atenção à materialidade dos mesmos, às suas escalas e a tudo o que está para além de uma boa fotografia de capa de revista.

51. Zollverein Masterplan (reabilitação urbana), Essen – OMA

52. Zollverein School of Management and Design, Essen – SANAA | Sejima & Nishizawa

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53. Museu de Ruhr (reabilitação), Zollverein – OMA | Heinrich Böil and Hans Krabel

54. Design Centre North Rhine Westphalia (reabilitação), Zollverein – Norman Foster

55.

Mercedes-Benz

Museum,

Estugarda – UN Studio

56. Haus Heidehof (Bosch Foundation), Estugarda – Peter Kulka

57. Zwei-familienhaus, Estugarda – Le Corbusier

58.

Kunstmuseum,

Estugarda

Hascher Jehle Architektur

30


59. Literaturmuseum (LiMo), Marbach – David Chipperfield

60. Kunstgalerie Goetz, Munique – Herzog & De Meuron

61. Micro-compact Häuser / O2-village, Munique – Haack & Höpfner

62. Fünf Höfe, Munique – Herzog & De Meuron

63.

Allianz

Arena,

Munique

Herzog & De Meuron

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64.

BMW

Welt

(em

construção),

Munique – Coop Himmelblau

65. Parque Olímpico, Munique – Günther Behnisch e Frei Otto

66. U-Bahnhof, Munique – Auer & Weber

67. Herr Jesu Kirche, Munique – Almann Sattler Wappner

68.

Bloco

de

Apartamentos

e

Escritórios, Munique – Herzog & De Meuron

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As viagens que o atelier costuma organizar não são apenas um divertimento que é proporcionado aos seus trabalhadores. O estímulo cognitivo e da aprendizagem é o objectivo principal. Durante as visitas aos edifícios, quer haja guia ou não, a discussão em torno de problemas concretos da Arquitectura surge de forma natural, mas é também estimulada através de questionários e sessões de debate, durante os momentos mais calmos, como nos percursos de automóvel ou às refeições. As viagens organizadas pelo atelier são, por isso, tempos de aprendizagem. Com isto, este modo de estar não só premeia o bom trabalho desenvolvido por todos no atelier, mas estimula também o mesmo. No final, é tido como um investimento no próprio atelier, na Arquitectura produzida e, em última análise, na satisfação dos clientes e no bem comum.

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F.

Conclusões

Este estágio curricular constituiu uma experiência profissional e de vida bastante interessante, preenchida e gratificante, uma vez que trabalhei numa realidade bastante diferente da portuguesa em diferentes projectos e a diferentes escalas. Neste capítulo de conclusões apresento uma reflexão crítica sobre os conhecimentos adquiridos ao longo da licenciatura em Arquitectura, que com o estágio curricular termina, a forma como este decorreu e como possibilitou uma ligação entre a formação académica e a prática profissional. Foi inequívoco e determinante o contributo bastante positivo que esta experiência de estágio curricular na Holanda teve no que respeita à minha integração na realidade profissional da arquitectura. Foi particularmente estimulante e gratificante saber que uma experiência de trabalho fora de Portugal pôde contribuir para uma visão mais rica da realidade arquitectónica. Quanto mais pontos de vista sobre uma determinada realidade, mais dúvidas e respostas é possível ter. O campo de conhecimento do arquitecto, como o de todos os profissionais, não deve esgotar-se naquilo que o rodeia, pelo que durante estes cinco anos de percurso académico, tal como durante os seis meses de estágio, procurei estar sempre receptivo a críticas, ensinamentos e soluções. Por isso, acredito que passei por um processo de evolução, de aprendizagem e de integração no meio que constitui a actividade do arquitecto, onde é sempre necessário máximo empenho e dedicação. Sucintamente, o papel dos assistentes e estagiários no DP6, é fazer cumprir áreas mínimas, produzir desenhos de CAD, produzir imagens, maquetes e fotografias, mas também dar sugestões sobre o desenho do projecto, intervindo no processo arquitectónico. Todas as boas ideias são válidas, venham do líder de equipa, dos assistentes ou dos estagiários. Há um espírito de complementaridade e de cooperação muito grande. Por isso, a atenção ao todo de um projecto a partir do pormenor é uma constante, para que a definição do resultado seja a mais compatível com os objectivos de cada projecto. Assim, acontecimentos como a viagem organizada pelo atelier à Alemanha, as diversas visitas a edifícios ou mesmo a observação da cultura holandesa, constituíram uma mais valia para o meu desenvolvimento intelectual e para o arranque do meu crescimento profissional. “É impossível fazer um edifício genérico. Há que ter um programa para se voltar a ser preciso e relativo a algo. Senão, será apenas uma estrutura. O arquitecto não é capaz de lidar com um «não programa». Temos de pensar a Arquitectura e depois ver o que a História faz dela, se a muda e adapta ou não.” Felix Claus, in Seminários de Arquitectura “Architectural Positions, Modernity and the Public Sphere: The Temporalities of the Public Sphere”, TU Delft 22 de Março de 2007 [Claus en Kaan Architecten]

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Foi com bastante satisfação que, sensivelmente a partir de meados de Abril, em situações de maior quantidade de trabalho, houve um melhoramento substancial na maneira como os meus colegas de equipa e as pessoas com quem trabalhava mais directamente confiavam no meu trabalho e desempenho. Foi no projecto A370 HUA, Amersfoort, que senti de forma mais significativa essa confiança. Algumas decisões começaram a ser deixadas a meu cargo – nomeadamente como alguns elementos arquitectónicos deveriam ser desenhados e como deveriam relacionar-se uns com os outros – e cada vez me foram sendo atribuídos trabalhos mais importantes e consequentes. Nas últimas cinco semanas de estágio ficaram a meu cargo o desenho das plantas e alçados à escala 1:200, depois da equipa deste projecto ter sofrido alterações. Senti que finalmente fazia parte da equipa e do atelier de forma igual aos outros; já não era apenas um estagiário, mas sim um membro do DP6. Devido ao ambiente de trabalho positivo e à aprendizagem contínua partilhada que se vivem no atelier, as dificuldades com que me deparei foram encaradas por todos com naturalidade, sendo que me senti sempre apoiado para assumir a responsabilidade de possíveis falhas e para pedir ajuda sempre que necessário. Este factor foi essencial na minha integração no atelier, quer na realização do trabalho ou na relação pessoal com os colegas. Não descurando a importância dos cinco anos de percurso académico, penso que estes diferem da realidade agora vivida. Por isso, considero bastante oportuno a prática de um estágio – integrado ou não na formação académica – que nos permita questionar a nossa formação, preparando-nos para assumir todas as responsabilidades inerentes à vida profissional. Para concluir, penso que esta experiência rica e estimulante do meu estágio curricular em Delft, Holanda, possibilitou de forma equilibrada a minha passagem do meio académico para o profissional e, consequentemente, a minha integração numa actividade interdisciplinar que é a prática da Arquitectura. Quanto aos objectivos a que me propus neste estágio – a coerência entre o pensamento e a responsabilidade da prática projectual perante o atelier – sinto que foram claramente atingidos. Assim, é com grande satisfação que constatei que tinha capacidade para me inserir facilmente numa equipa de trabalho e para desenvolver todas as tarefas com o interesse e a dedicação que eram expectáveis.

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Bibliografia

AAVV – DAX, details in de buitenruimte; ano 2º; número 9; Haia; CCK Media, 2006 AAVV – de Architect; Haia; Tem Hagen & Stam bv, Janeiro de 2003 HOOGEWONING,

Anne;

TOORN,

Roemer

van;

VOLLAARD,

Piet;

WORTMANN,

Arthur

Architectuur in Nederland Jaarboek 2004>05; Roterdão; NAi Uitgevers, 2005 MUSCH, Jeroen – fotografia da capa Seminários de Arquitectura “Architectural Positions, Modernity and the Public Sphere: The Temporalities of the Public Sphere”; Delft; 22 de Março de 2007 http://www.dp6.nl (26/5/2007) http://www.classic.archined.nl/sites/ontwerpbureaus-e.html (26/05/2007) Arquivo de textos e imagens do atelier DP6 Architectuurstudio bv, Delft

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Anexos

Visitas a Hilversum, a Utrecht e a Ypenburg Tendo estado a desenvolver o meu estágio num país diferente de Portugal e de modo a aproveitar essa mais valia, aproveitei para visitar locais e edifícios com o objectivo de contribuir para a minha formação enquanto arquitecto. Nessas visitas pude observar os espaços, os edifícios e as pessoas com uma atenção diferente de quem folheia um livro ou uma revista de arquitectura; afinal de contas a construção da realidade é bem diferente de um render ou de uma fotografia “limpa” de pessoas e com os reflexos ao rubro e o céu de um intenso azul. Assim, o que se segue são algumas descrições e reflexões sobre visitas que fiz a alguns edifícios em três cidades holandesas.

Hilversum

Depois das visitas ao Hilversum Museum, do atelier Neutelings Riedijk Architecten, e à Câmara Municipal de Hilversum, do arquitecto modernista holandês Willem Marinus Dudok, entre outros edifícios notáveis da cidade, e com a experiência de trabalho que tive durante este estágio curricular profissionalizante, começo a perceber um pouco mais como nem sempre é fácil produzir uma “Arquitectura da imagem”. Muitas coisas são cíclicas na Arquitectura, senão vejamos. Com um nome e reconhecimento internacional como cartão de visita, clientes dispostos a serem convencidos pelo apelo à imagem, de forma fácil – numa sociedade que, quer queiramos ou não, dá importância à imagem e às tendências da moda – e dispostos a cobrir acréscimos orçamentais de natureza avultada, não será mais fácil criar e construir de facto? 69.

Câmara

Municipal

Hilversum,

Holanda

de –

Willem Marinus Dudok

70. Hilversum Museum, Holanda

Neutelings Riedijk Architecten

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Longe de mim pensar que quem constrói edifícios “da imagem” ou “da moda” tem menos capacidades do que o comum dos arquitectos. Pelo contrário, se conseguiram o reconhecimento internacional foi por algum motivo, muito provavelmente pelo reconhecimento das suas capacidades. Mas por outro lado, não será mais fácil construir um edifício para clientes abastados que procuram serem vistos do que para clientes com orçamentos reduzidos que apenas procuram boa Arquitectura? Onde quero chegar é apenas à possibilidade, não à certeza, de que isto se pode tornar ciclicamente vicioso, ou seja, à possibilidade de que será mais fácil obter reconhecimento internacional pelo trabalho que se desenvolve em Arquitectura se tivermos clientes que possam pagar a ideia genial que existe em cada um de nós. Senão vejamos o exemplo do Hilversum Museum na Holanda, da autoria dos Neutelings Riedijk Architecten. Um cliente com margem de manobra suficiente para derrapagens orçamentais, com vontade de ser visto e de ter um “edifício ícone”, um atelier de Arquitectura que já atingiu um certo patamar de reconhecimento internacional pela obra desenvolvida; não serão factores importantes para se poder e conseguir produzir um edifício ícone? Não me oponho a qualquer tipo de aparência dos edifícios ou a qualquer tendência, ou mesmo moda, desde que o processo mental e tectónico ligado a cada projecto possa ser desenvolvido com clareza de objectivos e criatividade. Nem afirmo de qualquer maneira que “menos é mais”. Apenas acho que com maiores orçamentos é possível criar edifícios mais “high-tech” ou “ícone”, do que com orçamentos limitados e mesmo reduzidos. Por isso acredito que é bem mais difícil, mas não menos estimulante – bem pelo contrário – criar Arquitectura de qualidade com poucos recursos económicos e até materiais. Suponhamos que o cliente era uma câmara municipal de uma cidade pequena, como é Hilversum, mas que o programa não era um Museu dos media, mas um edifício de abrigo temporário para os sem-abrigo e o orçamento disponível era reduzido. Será que a solução apresentada seria tão “espectacular” como o Hilversum Museum, com recuso a materiais caros e operações de engenharia dispendiosas? E será que depois de construído iria ter a projecção que tem o museu ou seria apenas mais um projecto na longa lista do portfolio do atelier? Que fique bem claro que não estou a querer dizer que umas soluções são mais válidas, coerentes ou de melhor qualidade arquitectónica do que outras ainda que, por vezes, o sejam. Apenas quero levantar questões para que possa reflectir sobre assuntos como disponibilidades do cliente e do projectista, relação entre orçamento e “arquitecturas da imagem”, importância da imagem e do ícone na Arquitectura ou critérios de definição da Arquitectura enquanto coisa mental traduzida em tectónica. Concluindo, penso que poderá ser tão ou mais aliciante, mas certamente um desafio muito mais intenso – quando assumido de forma voluntária e convicta por parte do arquitecto – poder criar Arquitectura com limitações e restrições económicas, mas também de outra natureza, como geográfica, legal ou material, porque com um orçamento alargado será mais fácil poder criar um edifício mediático do que com orçamento reduzido.

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Utrecht

De um plano para visitar os edifícios mais marcantes do campus universitário de Utrecht, o único que pude conhecer pelo interior foi a Biblioteca Universitária, de Wiel Arets, que estava aberta nesse Domingo em que ocorreu a visita. No entanto, pude conhecer ainda pelo exterior a Faculdade de Economia (dos Mecanoo), o Educatorium (de Rem Koolhaas, OMA), o The Basket (dos NL Architects), a Academic Biomedical Cluster (de Erick van Egeraat), um complexo de habitação, o Departamento de Química e o Minaert (Neutelings Riedijk Architecten). A Biblioteca é um edifício extraordinário em que o detalhe dos pormenores e a escala monumental dos espaços interiores, mais do que os exteriores, deixa qualquer um de boca aberta. Quase todo o edifício é acessível ao público, com excepção óbvia dos depósitos de livros, que nem se dá conta de onde são, e de algumas salas de reuniões ou zonas ainda não ocupadas com livros e, por isso, fechadas.

71. Biblioteca Universitária, Utrecht – de Wiel Arets

Ypenburg

Num dos últimos dias do estágio tive oportunidade de poder visitar, em Ypenburg – uma localidade pertencente à localidade de Haia, mas muito próxima de Delft –, quatro projectos: Lyceum Ypenburg (liceu) e Deelplan 14 (bairro de habitação), do DP6 Architectuurstudio; Waterwijk Ypenburg (bairro de habitação), do atelier MVRDV; e o Nederlands Forensisch Instituut (laboratórios de investigação forense), do atelier Claus en Kaan Architecten. Foi impossível entrar no Nederlands Forensisch Instituut, uma vez que se trata do edifício dos laboratórios de investigação forense da Holanda; é uma instalação de alta segurança e, por isso, apenas tive oportunidade de ver o edifício pelo exterior.

72. Nederlands Forensisch Instituut, Ypenburg – Claus en Kaan Architecten

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Os projectos de habitação Deelplan 14 e o Waterwijk Ypenburg foram apenas possível visitar igualmente pelo exterior, uma vez que se trata de habitação e que a privacidade dos moradores é uma coisa que se deve respeitar. Deelplan 14 é um projecto que estabelece uma relação forte com a paisagem exterior, de prados e canais. Consiste em casas unifamiliares geminadas, com um espaço frontal de chegada e outro traseiro de estar, privativos. Neste projecto, do DP6, é possível observar o cuidado no tratamento das sombras que os volumes provocam uns nos outros, a integração do edificado na natureza que o rodeia e a dimensão humana dos materiais e proporções de vãos e empenas. 73. Deelplan 14, Ypenburg – DP6 Architectuurstudio

Já o projecto Waterwijk Ypenburg estabelece uma relação mais forte com o interior do quarteirão em que se desenvolve; as relações de proximidade entre vizinhos estreitam-se, pois ao interior do quarteirão não acedem automóveis, apenas bicicletas e peões. Há um proliferar de pequenos caminhos e jardins privativos, o que torna a escala dos espaços muito mais confortável para quem lá vive. Há casas unifamiliares mas as que mais existem são de duas ou três famílias. Há ainda um quarteirão ao lado, igualmente dos MVRDV, que alberga blocos de apartamentos, também com um sentido de interioridade bastante forte.

74. Waterwijk, Ypenburg – MVRDV

O Lyceum Ypenburg, do DP6, destaca-se da paisagem mas de forma controlada: avista-se de longe, passando despercebido; à medida que nos vamos aproximando, o edifício toma uma presença mais estável e acaba por se impor a quem o visita. Com uma conformação rectangular em planta, o edifício do liceu é revestido em chapas de metal, que se fixam por encaixe umas nas outras e numa substrutura de madeira, que apenas desaparecem para darem lugar aos grandes envidraçados e a vãos rasgados horizontalmente em cuja espessura é coberta por cores vivas. O jogo de cores e das linhas horizontais que formam os vãos marcam o sentido horizontal do edifício e a forma como se relaciona com a envolvente. 75. Lyceum Ypenburg – DP6

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