CIDADE E INSPIRAÇÂO _ TFG I _ Filipe Quaresma

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Universidade Federal de Juiz de Fora Faculdade de Engenharia Departamento de Arquitetura e Urbanismo

Filipe Quaresma Poyares de Oliveira

CIDADE E INSPIRAÇÃO: Inquietações, Investigações e Intervenções em Cataguases - MG.

Monografia apresentada ao curso de Arquitetura e Urbanismo, da Faculdade de Engenharia, da Universidade Federal de Juiz de Fora, como requisito parcial para conclusão da disciplina Trabalho Final de Graduação I. Orientador: Prof. Rogério Amorim do Carmo

Juiz de Fora Abril, 2013


Dedico este trabalho aos meus pais e minha irmã, que me ensinaram a ver com o coração.


Agradecimentos

Agradeço ao Professor Rogério Amorim, meu orientador neste trabalho, pela atenção e por me cobrar um olhar de arquiteto diante dos temas estudados, e mais paixão ao escrever. Agradeço também, à professora Raquel Braga e ao professor Mauro Campello pelos anos de trabalho no grupo ReARQ, onde tive a oportunidade de estudar o modernismo de Cataguases e Juiz de Fora, talvez a semente deste trabalho. À UFJF e Universidade do Porto pela oportunidade do intercâmbio, quando me foi possível estudar e viajar para conhecer o que ate então, só existia nos livros de arquitetura. E ainda a mui nobre Malta Fixe, que dividiu comigo essa experiência, Invicta adentro e mundo a fora... Aos colegas de faculdade, aqueles de todas as horas no Galpão da Arquitetura, que não citarei seus nomes por medo de esquecer alguém. Ao CACAU (Centro Acadêmico do Curso de Arquitetura e Urbanismo) e à FeNEA (Federação Nacional de Estudantes de Arquitetura e Urbanismo) pelas lições duras e oportunas. A todos os amigos de Cataguases, principalmente Maurício Rufino, Eduardo Torres e Leonardo Machado, pelas nossas conversas sobre política, futebol, cidadania, futebol, urbanismo e futebol. À minha família, toda ela, pela criatividade herdada e alegria compartilhada. E a Marina Franzini, por me inspirar, pela companhia cotidiana e por me fazer as perguntas que eu deveria saber responder.

Muito obrigado.


“A medida real das qualidades de uma cidade é se conseguimos nos imaginar nos apaixonando por alguém nessa cidade.” PALLASMAA


Resumo

O tema deste trabalho é a busca por uma cidade que possa inspirar, fazendo uso da arte e da imaginação para desenvolver-se, tomando como referência e local de investigação a cidade de Cataguases - MG. A pesquisa desenvolveu-se através do conceito de cidades criativas, do pensamento urbano contemporâneo, e do conceito de lugar abordado pelos arquitetos Rossi, Lynch, Koolhaas, Norberg-Schulz e Siza, considerando seus pontos de concordância e de contradição. O objetivo deste estudo é realizar uma leitura da cidade de Cataguases para além do seu patrimônio, e investigar maneiras de como intervir na cidade para enfatizar suas supostas vocação criativa e capacidade de inspirar. Foram realizados estudos de caso das cidades de Barcelona, Bilbao, Rio de Janeiro, Brumadinho, para compreender suas intervenções e estratégias para criar um ambiente criativo, e ainda dos projetos Parque de La Villette e Euralille, como modelos de intervenções contemporâneas, que se relacionam com o lugar e com a cidade de maneiras bastante singulares. A metodologia utilizada foi pesquisa, análise e aplicação de conceitos, e posteriormente tentou-se fazer uma aproximação à cidade de Cataguases através desses conceitos. Ao final, conclui-se que as cidades têm cada vez mais buscando enfatizar suas identidades e aproximar as pessoas dos espaços através da arte e da cultura; que a arquitetura apresenta-se como elemento fundamental nesse processo; e que Cataguases, em função da sua história e patrimônio também tem condições de ser uma cidade criativa e inspiradora.

Palavras-chave Cataguases. Inspiração. Criatividade Urbana


Sumário

Introdução.............................................................................................................. 1. Criatividade Urbana: uma possibilidade de exploração...................................... 04 1.1. Economia Criativa................................................................................................... 07 1.2. Economia Criativa no Brasil..................................................................................... 09 1.3. Classe Criativa......................................................................................................... 10 1.4. Cidades Criativas..................................................................................................... 11 1.5. Estudos de Caso...................................................................................................... 13 1.5.1. Barcelona.............................................................................................................. 14 1.5.2. Bilbao..................................................................................................................... 24 1.5.3. Bairro Santa Teresa - Rio de Janeiro...................................................................31 1.5.4. Brumadinho........................................................................................................... 35 2. O pensamento urbano e posturas contemporâneas de intervenção............... 40 2.1. Breve Histórico.........................................................................................................41 2.2. Contemporaneidade............................................................................................... 44 2.3. Breves Estudos de Caso.........................................................................................46 2.3.1. Parque La Villete...................................................................................................47 2.3.2. Euralille..................................................................................................................50 3. A ideia de lugar no pensamento urbano................................................................54 3.1. Rossi..........................................................................................................................56 3.2. Lynch.........................................................................................................................59 3.3. Koolhas......................................................................................................................61 3.4. Norberg-Schulz.........................................................................................................64 3.5. Siza............................................................................................................................66

4. A Relevância do Patrimônio Cultural........................................................................68 4.1 A ideia de Patrimônio Cultural.....................................................................................70 4.2. A Formação do Patrimônio Modernista: um breve histórico......................................72


4.2.1. Semana de 22..........................................................................................................73 4.2.2. Gregori Warchavchik...............................................................................................74 4.2.3. Lúcio Costa e a renovação do ensino de Arquitetura.............................................75 4.2.4. A volta de Le Corbusier ao Brasil............................................................................75 5. Cataguases: entre as vanguardas e a paisagem urbana.......................................77 5.1. História de Cataguases..............................................................................................83 5.1.1. Origens do desenho urbano ...................................................................................84 5.1.2. Primeira Vanguarda.................................................................................................86 5.1.3. Segunda Vanguarda................................................................................................88 5.1.4. Uma nova cidade?...................................................................................................91 5.2. Patrimônio Cataguases..............................................................................................93 6. Lugar Cataguases: leituras possíveis da cidade....................................................97 6.1. Rossi........................................................................……………..……………………98 6.2. Lynch.........................................................................................................................103 6.3. Koolhas...........................................................…….…………………………………107 6.4. Norberg-Schulz.........................................................................................................111 6.5. Siza...........................................................................................................................115 6.6. Conclusões sobre o lugar Cataguases ..................................................................119 7. Considerações Finais ........................................................................................

121

8. Proposições Iniciais ............................................................................................

125

8.1. Diretrizes Gerais................................................................................................

126

8.2. Áreas potenciais para intervenção.......................................................................

128

Bibliografia ..............................................................................................................

132

Anexos ...................................................................................................................

135


Introdução

Inspiração é uma força abstrata capaz de influenciar e alterar o estado da alma, é um “estalo”, um repente, que talvez não saibamos dizer precisamente o que é, mas conseguimos muitas vezes perceber de onde vem, uma vez que qualquer coisa pode inspirar, desde que consiga despertar em nós algum sentimento, alguma vontade. Portanto, objetos, pessoas, acontecimentos banais ou espetaculares, paisagens naturais e urbanas podem ser fontes de inspiração. Neste trabalho, procuraremos, especificamente, nas cidades essa capacidade de nos inspirar. “Da janela de um quarto de hotel, a cidade parece um livro sendo escrito. Páginas espalhadas pelo vento, capítulos fora de ordem. Onde está a frase seguinte? Em algum lugar por aí. No chão da praça, dobrando a esquina, esperando um olhar que mostre o sentido que passava batido. Olhos que leiam, no sulco da folha, a palavra que a borracha já apagou”.

1

Nossas cidades, durante muito tempo, preocuparam-se apenas com o capital e com o desenvolvimento quantitativo, deixando a qualidade de vida e cultura em segundo plano, como se não fossem capazes de contribuir para a cidade ou para sua economia. No entanto devemos lembrar que vivemos em cidades, que são espaços coletivos e também privados, que a principio, deveriam configurar um habitat que nos favorecesse a vida, onde possamos, dentre outras coisas, expressar sentimentos e construir espaços que nos abriguem e nos lembrem de quem somos. Acreditando então, que todos somos criativos em certa medida, entendemos neste trabalho, que nossas cidades deveriam oferecer ambientes estimulantes e inspiradores, para que possamos desenvolver essa criatividade e sermos capazes de nos manifestar nessa cidade. Neste momento da história, no qual a ideia de cidade como uma máquina funcional, parece finalmente estar sendo deixada de lado, vemos surgir um pensamento urbano que procura fazer uso da criatividade como principal elemento 1

GESSINGER, Humberto, 2011 , pág. 23.


para o desenvolvimento das cidades, utilizando a arte como elemento regenerador e criador de espaços urbanos, e ainda a cultura como elemento capaz de sustentar uma economia urbana, uma vez que parece ser uma fonte inesgotável de recursos. Sendo assim, a capacidade de uma cidade inspirar seus habitantes, deve partir também, de seus elementos físicos, dos seus espaços públicos e verdes, dos equipamentos culturais, da facilidade e das possibilidades de se transitar entre eles, da energia que emana de sua história e patrimônio, enfim, do ambiente urbano e da qualidade de vida que ele oferece. Para tanto, muitas vezes, as cidades podem necessitar de se reinventar, regenerar ou renovar. Buscaremos então, explorar o conceito de cidades criativas como uma possibilidade a ser explorada; o pensamento urbano contemporâneo para percebermos como as cidades estão sendo pensadas e construídas nos dias de hoje; atentaremos também para a questão do “lugar”, por entendermos que é a maneira pela qual poderemos entender as relações entre pessoas e a cidade; passaremos ainda pela questão do patrimônio por não podermos ignorar a história da cidade e o que ela tem a nos dizer; e ainda as maneiras pelas quais as cidades têm buscado se reconstruir e reaproximar as pessoas e os espaços urbanos, e em seguida realizar uma leitura da cidade de Cataguases, procurando ampliar o entendimento que se tem da cidade, enxergando-a para além do seu patrimônio e sua história. .

Ao final procuraremos estabelecer diretrizes gerais para intervenções em

Cataguases, buscando enfatizar seu aspecto cultural, através dos espaços urbanos e os possíveis locais para sua realização na cidade, de modo a desenvolver tais intervenções na continuação deste estudo, na disciplina Trabalho Final de Graduação II. A organização deste trabalho, talvez seja mais compreensível quando visualizada no esquema a seguir:

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Capítulo 1.

Criatividade Urbana: uma possibilidade de exploração.

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1. Criatividade Urbana: uma possibilidade de exploração.

Surgida nos anos 1980, debatendo questões tais quais: cultura, artes, planejamento cultural, recursos culturais e indústrias culturais, a ideia de cidades criativas questionava como as cidades podem tornar-se cada vez mais criativas, de que maneira a dinâmica organizacional pode favorecer a criatividade, como um ambiente criativo pode inspirar e ainda qual o papel da historia e da tradição na criatividade. A questão fundamental talvez seja fazer com que as artes e a cultura possam ser mais integradas e sintonizadas com o processo de planejamento e desenvolvimento urbano (LANDRY, in REIS, 2011). A criatividade urbana provém da arte e da cultura dessa população que vive nas cidades. Dentro dessa população devemos enfatizar o papel dos artistas 2, cidadãos capazes de inspirar e influenciar os demais com suas expressões criativas, podendo ainda, a partir deles, a própria cidade inspirar e motivar a sua população.

Figura 1 Exemplo de criatividade urbana, intervenção na sinalização urbana, adicionando nova significação ao mobiliário urbano. Fonte: www.sesisp.org. Acesso: 18/02/2013

Figura 2 Outro exemplo de intervenção urbana criativa, reconfigurando a escala de maneira lúdica. Fonte: www.dmazb.com.br. Acesso: 18/02/2013

2

Inclusive podemos dizer que um dos elementos fundamentais do processo de amadurecimento da ideia de cidades criativas, foi a luta da comunidade artística para justificar seu valor econômico, buscando ressaltar a importância da criatividade para economia e também para a cidade

5


Figura 3 Intervenção urbana artística de grande porte, colorindo a paisagem pode se tornar um elemento marcante na paisagem urbana e configurar um lugar. Esta imagem e a figura 02 mostram que a questão da escala em uma intervenção deste tipo, não afeta seu poder de nos emocionar. Fonte: www.acidadenapontadosdedos.com. Acesso: 18/02/2013

Para inspirar sua população, o ambiente urbano deve se fazer criativo, e para tanto, é necessário um planejamento global da cidade. Não um planejamento tradicional onde a cultura simplesmente acontece, mas um planejamento que considere a cultura como um dos elementos fundamentais de um ambiente capaz de atrair e garantir a permanência de pessoas criativas (LANDRY, in REIS e KAGEYAMA, 2011). Essa população criativa é uma diversificada força de trabalho baseada no trabalho intelectual, empregada, por exemplo, em indústrias criativas3, que podemos chamar de “Classe Criativa”. Ao trabalhar e produzir, como não poderia deixar de ser, gera e movimenta dinheiro. Podemos dizer então que uma economia baseada na criatividade é uma “economia criativa”, sendo sua principal ferramenta de trabalho, obviamente, a criatividade, que aqui a entenderemos como imaginação aplicada, e diretamente ligada à inovação (LANDRY, in REIS e KAGEYAMA, 2011).

3

No primeiro Fórum Internacional das Indústrias Criativas, organizado na Rússia em 2002, o termo foi definido como: “Indústrias criativas são indústrias que têm sua origem na criatividade, habilidade e talento individuais e apresentam um potencial para a criação de riqueza e empregos por meio da geração e exploração de propriedade intelectual”.

6


Podemos então entender a criatividade da seguinte maneira: “A essência da criatividade é uma engenhosidade multifacetada e a habilidade de avaliar e encontrar soluções para circunstâncias ou problemas inesperados, inusitados e desafiadores. Também é um processo de descobrir e possibilitar que o potencial se concretize.”

4

Podemos dizer, em resumo, que segundo LANDRY (in REIS e KAGEYAMA, 2011) a criatividade urbana é a capacidade de uma população de fazer uso imaginação, para encontrar novas e melhores soluções para os problemas de sua cidade.

1.1. Economia Criativa

Economia

criativa

é

um

conceito

relativamente

novo,

datando

aproximadamente de 1994, com o objetivo de qualificar e também quantificar a importância da criatividade para o desenvolvimento de uma cidade, região e até mesmo de uma nação (LANDRY, in REIS e KAGEYAMA, 2011). Moda, design, artesanato, arquitetura, manifestações populares (carnaval, festas juninas etc.), música, audiovisual (cinema e vídeo), indústria de conteúdos digitais (internet), jogos eletrônicos, publicidade etc., todos são exemplos de economia criativa. Encontramos também o conceito de economia criativa segundo Cláudia Leitão, Secretária da Economia Criativa do Ministério da Cultura do Brasil: “(...) é a economia do intangível, do simbólico. Essa nova economia contempla os ciclos de criação, produção, difusão, circulação/distribuição e consumo/fruição de bens e serviços caracterizados pela prevalência de sua dimensão simbólica gerada por setores cujas atividades econômicas têm como processo principal um ato criativo, gerador de valor simbólico, elemento central da formação do preço, e que resulta em produção de riqueza cultural”.

5

4

LANDRY, Charles in REIS, Ana Carla Fonseca e KAGEYAMA, Peter, 2011, pág. 11 Entrevista com Cláudia Leitão realizada por Fundação Verde em 02/02/2012 e divulgada pelo Ministério da Cultura do Brasil, disponível em: http://www.cultura.gov.br/site/2012/02/08/entrevista-comclaudia-leitao-%E2%80%93-a-economia-criativa-no-brasil/ 5

7


De forma resumida, economia criativa é toda produção cultural e intelectual, calcada na criatividade, com valores simbólicos e econômico-comerciais, que possam dialogar em escala global e representar localmente uma sociedade o que leva a atrair novos talentos e novos investimentos. Segundo Leonardo Cássio (2011) a economia criativa é relevante por dois motivos principais: primeiramente, pelo impacto dos bens e serviços produzidos, principalmente pelos novos processos e métodos de pesquisa e produção. Em segundo lugar, por designar a criatividade como o maior capital humano, e principal combustível para a produção comercial e artística. Ela é também, essencialmente inovação, sendo atualmente a principal ferramenta de competição das pequenas e micro empresas frente às grandes redes e multinacionais. Essa ideia de economia tem o poder de transformar, de dividir, repartir e de incluir. Isso acontece em função das conexões que busca realizar: entre atores sociais, governos, empresários e empreendedores, instituições, organizações não governamentais e coletivos sociais, escolas e universidades (CARVALHO, in REIS e KAGEYAMA, 2011). Nela, o governo local, em função de sua proximidade com a população, deve assumir maiores responsabilidades e participar ativamente. Os desafios enfrentados por essa economia são precisamente a dificuldade de se mesurar e monetizar tal criatividade.

Para aferir a riqueza cultural e

criatividade de nossas cidades devemos pensar na cadeia de elementos que surgem da criação (CARVALHO, in REIS e KAGEYAMA, 2011), por exemplo, de uma simples música: existe a necessidade de instrumentos, equipamentos elétricos e seus componentes, indústria fonográfica e seus profissionais, e se avançarmos mais podemos pensar na demanda por escolas de musica, por festivais de música nova, shows de artistas consagrados, dentre muitas outras demandas. Em escala mundial, estamos em processo de deixar a competitividade baseada em investimento para a competitividade baseada em inovação, substituindo o trabalho braçal pelo trabalho intelectual (LANDRY, in REIS e KAGEYAMA, 2011). Trata-se de qualidade de vida e não de baixo custo e alta produção, de desenvolvimento urbano aliado ao desenvolvimento humano. Não queremos aqui supor que a economia e o trabalho nos moldes convencionais vão desaparecer. No entanto, segundo Luiz Barreto (in REIS, 2011) 8


devemos considerar que a economia criativa é sem dúvida, um dos setores mais dinâmicos e com maior potencial para geração de emprego e renda no contexto atual.

Figura 4 Mapeamento da criatividade mundial, destacando o Brasil na América Latina, e no contexto dos países de terceiro mundo. Fonte: www.bp.blogspot.com Acesso: 18/01/2013

1.2. Economia Criativa no Brasil

No nosso país já existem algumas cidades, de diferentes escalas, como por exemplo, São Paulo (SP), Paulínia (SP) e Paraty (RJ), tentando pôr em prática uma economia

criativa.

O

fundamental

neste

momento

de

implementação

e

experimentação é o processo de adaptação de modelos internacionais para o contexto nacional e local. Nosso desafio é superar uma economia de base industrial, e sendo assim, em 2011, o governo federal criou uma secretaria específica no Ministério da Cultura para fomentar esta nova modalidade econômica: a Secretaria de Economia Criativa. Novamente segundo Cláudia Leitão (2012): 9


“(...) há ainda muito a ser feito, pois necessitamos de pesquisas, de indicadores e de metodologias que garantam a confiabilidade dos dados desta nova economia. Carecemos de novas linhas de crédito para fomentar os empreendimentos criativos brasileiros. Precisamos construir uma nova educação para as competências criativas, além de infraestrutura que garanta a criação/produção, difusão/circulação e fruição/consumo de bens e serviços criativos dentro e fora do país. Devemos, ainda, propor novos marcos legais para esta economia, sejam eles tributários, trabalhistas e civis que nos permitam avançar. Para isso, precisamos de políticas públicas capazes de transformar a criatividade brasileira em inovação e a inovação em riqueza”.

6

A participação dos setores criativos no PIB Brasileiro, atingiu em 2010 mais de 95 bilhões, chegando aos 110 bilhões no ano seguinte, contribuindo com cerca de 3% do PIB brasileiro total7. Podemos então perceber que o setor vem consolidando-se como parte importante da geração de riqueza nacional, mas ainda há possibilidade de um crescimento ainda mais significativo, uma vez que a cidade de Barcelona, por exemplo, apresenta cerca de 25% da sua economia baseada em criatividade. Nos próximos anos, o Brasil será centro das atenções do mundo todo com a Copa do Mundo de Futebol de 2014 e os Jogos Olímpicos de 2016. Eventos esses que, segundo Luiz Barretto, (in REIS e KAGEYAMA, 2011) atrairão turistas e investimentos a diversas cidades e, certamente, irão acelerar e desenvolver, também o setor criativo nacional.

1.3. Classe Criativa

A classe criativa surge dentro da dinâmica da economia criativa, e destaca-se por ser a população talentosa local, somada à população talentosa que deve ser atraída por um ambiente propício a exercer tal criatividade. Nas palavras de Richard Florida (2002): 6

Entrevista com Cláudia Leitão realizada por Fundação Verde em 02/02/2012 e divulgada pelo Ministério da Cultura do Brasil. 7 Segundo matéria postada no site ecodesenvolvimento.org , na seção Economia e Política, por Redação EcoD em 13/12/2011.

10


“Eu defino a Classe Criativa através de dois componentes. Em primeiro lugar, o Núcleo Super-criativo desta nova classe, que inclui cientistas e engenheiros, professores universitários, poetas e romacistas, artistas, atores, designers e arquitetos, assim como também os pensadores da sociedade moderna: os escritores de “não-ficção”, os editores, as figuras culturais, os pesquisadores think-tank , analistas e outros formadores de opinião. [...] Em segundo lugar, além desse núcleo super-criativo, a classe criativa também inclui ‘profissionais criativos’ que trabalham em uma ampla gama de indústrias intensivas de conhecimento, tais como setores de alta tecnologia, serviços financeiros, profissões jurídicas e de saúde e gestão de negócios. Essas pessoas se envolvem nas resoluções criativas, utilizando corpos

complexos

específicos.[...]”.

de

conhecimento

para

resolver

problemas

8

A classe criativa surge então da própria população e é o ponto focal da criatividade urbana, uma vez que é ela quem produz e movimenta a economia, gerando desenvolvimento social e cultural para a cidade (FLORIDA, 2002). No entanto é mais do que necessário que o ambiente seja aberto a essa criatividade, seja capaz de inspirar e de motivar essa classe. É nesse momento que passamos a pensar em “cidades criativas”.

1.4. Cidades Criativas

As cidades criativas são agrupadas segundo um conceito muito flexível e em constante transformação (REIS, 2011), mas uma coisa é constante, e não depende de escala ou de contexto histórico e socioeconômico: existe sempre uma aura sensorial, sinestésica nessas cidades: “A cidade criativa é um sentimento. De que algo está acontecendo, ou poderia acontecer, de movimento, de energia”.9 A era industrial, sua produção mecânica e padronizada tal qual a grande maioria de seus espaços, deixaram cicatrizes em nossas cidades: grandes porções de espaço sem qualidade estética, pensados em função das maquinas e dos baixos custos, e não das pessoas, são alguns dos exemplos mais frequentes da herança urbana que recebemos. (REIS, 2011)

8 9

FLORIDA, Richard, 2002, pág. 68. KAGEYAMA, Peter In REIS, Ana Carla Fonseca e KAGEYAMA, Peter (org.) 2011, pág. 24.

11


Em resposta a isso, uma cidade criativa, procura ser aberta, conectada e inspiradora. É por essência culturalmente transversal: precisa de uma administração pública imaginativa, com inovações sociais, criatividade na saúde, nos serviços sociais e na própria maneira de fazer política (LANDRY, in REIS e KAGEYAMA, 2011). Segundo Ana Carla Fonseca Reis (2011), em uma cidade criativa as conexões entre pessoas e espaços, identidade e essência, passado e futuro, cidade e mundo, ideias e inspirações, são peças fundamentais para a criação do ambiente urbano adequado do, por assim dizer, habitat natural do ser criativo. Devemos citar também, o interesse da cidade criativa para com seu patrimônio, sua paisagem e seus lugares urbanos. Devemos ainda, segundo LANDRY (in REIS e KAGEYAMA, 2011), atentar para aquilo que é singular, diferente e único em nossas cidades. Apesar dessa singularidade urbana, podemos perceber que na visão estratégica da maioria das cidades que se pretendem criativas, é sempre importante: (LANDRY, in REIS e KAGEYAMA, 2011 

Desenvolver setores da economia criativa

Desenvolver novos equipamentos icônicos

Atrair os nômades do conhecimento e a comunidade de pesquisa

Reutilizar os antigos edifícios para novas atividades

Mudar o olhar sobre o ambiente físico da cidade

Praticar a não-gentrificação

Evitar polarizações socioeconômicas. Cidades que vêm tendo sucesso na economia criativa, ao que parece, são

também as que oferecem diversidade, através de espaços tolerantes, culturais e boêmios, uma vez que a Classe Criativa demanda lugares de socialização e interação multicultural, o que faz da não-gentrificação10 um fator significante. De acordo com Florida (2002) estes lugares de troca nas cidades criativas são, por excelência, formados nos espaços públicos.

10

“A gentrificação urbana é a mudança demográfica e socioeconômica de uma área, resultante da compra de residências em comunidades com renda baixa, por parte de um número significativo de pessoas com renda alta. Consequências da gentrificação são o aumento da renda média e a diminuição do tamanho da família. Ela não raro tem o efeito do que os críticos chamam de expulsão econômica informal das pessoas de baixa renda, devido ao aumento do aluguel, do preço das casas e dos impostos sobre a propriedade.” (IVERSEN, Lisbeth in REIS, Ana Carla Fonseca, 2011, pág. 134)

12


Cidades que se pretendem criativas têm buscado cada vez mais, sediar eventos que visam discutir a própria cidade e propor maneiras alternativas e inovadoras para lidar com a problemática urbana. Cidades como Rio de Janeiro e São Paulo, devido a seu porte e multiculturalidade, são exemplos de cidades que proporcionam uma discussão riquíssima a cerca de transformações e modificações na forma e no pensamento urbano, e mesmo que apenas parcialmente em alguns casos, são capazes de implementar e testar as soluções imaginadas.

Figura 5 Exemplo de evento criativo que busca repensar a cidade e a maneira que interagimos com ela, buscando novas possibilidades e gerando ideias para melhorar a qualidade de vida urbana. Fonte www.movimentohotspot.com. Acesso: 19/01/2013

Figura 6 Bicicletas de aluguel na cidade do Rio de Janeiro, exemplo de iniciativa simples de ser implementada que pode gerar uma mudança significativa no pensamento urbano e na relação com a cidade. Cidades com eventos criativos, tendem a desenvolver e empregar mais facilmente essas soluções alternativas. Fonte: www.g1.globo.com Acesso:22/03/2013

1.5. Estudos de Caso

Uma cidade pode se fazer criativa por diversas maneiras, não há formulas exatas ou caminhos pré-estabelecidos. Entretanto, sabendo qual cidade tipo de cidade sua deseja, a população juntamente com a governança municipal devem buscar juntos, cada um desempenhando o papel que lhe cabe, os mecanismos necessários para concretizar essas ideias. Veremos através de alguns exemplos, que as cidades criativas apresentam diferentes componentes de criatividade, que devem estar em equilíbrio e em movimento simultaneamente, e que devem ser trabalhadas através de planejamentos estratégicos. 13


No que diz respeito à questão urbana veremos que a consolidação de um ambiente inspirador e lúdico, é fundamental para enfatizar os aspectos culturais e criativos. Para tanto, muitas vezes intervenções nos espaços urbanos são necessárias, podendo ocorrer em escalas variadas, com intenções e estratégias diferentes, para conseguir ativar esses espaços e transforma-los em lugares, isto é, dota-los de significados por meio de ações principalmente em sua forma física. Estes casos que estudaremos a seguir foram escolhidos exatamente por representarem diferentes modelos de projetos urbanos com ênfase na cultura, e na busca por consolidar ambientes criativos, com uma visão consciente das condicionantes locais, aplicadas por meio de diferentes estratégias e soluções.

1.5.1. Barcelona

Capital da região da Catalunha, Barcelona é hoje uma das cidades mais marcantes

dentro

do

contexto

cultural

mundial.

É

também

exemplo

da

implementação de um plano estratégico eficiente, onde os diversos projetos atuaram como indutores de renovação do tecido urbano. A cidade conta com diversos equipamentos culturais, como museus, templos, parques, estádios e calçadões, além da notável presença de artistas de rua, somados à arquitetura inconfundível de Gaudí e diversas edificações contemporâneas, garantindo a Barcelona uma vivacidade cultural e turística durante todo o ano. Podemos dizer então que a cidade de Barcelona apresenta um ciclo de criatividade urbana completo: eventos, lugares e pessoas criativas, em constante interação Inicialmente com o plano urbano de Cerdá em 1900, que tinha como principal objetivo a melhoria da qualidade do desenho da metrópole, a partir de critérios urbanísticos como por exemplo equilíbrio entre cheios/vazios, cidade compacta, e não segmentação de usos; passando por Barcelona da “nova urbanidade” e pelos Jogos Olímpicos de 1992, até os dias de hoje, a cidade tem vivido um processo constante e gradativo de mutação. Consolidando assim, o “Modelo Barcelona”

11

a

11

Entende-se por “Modelo Barcelona” o conjunto de intervenções de reestruturação urbana levadas a cabo a partir dos anos 80, com recurso ao planeamento estratégico e operacional e à gestão públicoprivada, numa perspectiva de desenvolvimento social e económico da cidade.

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cidade tem investindo na recuperação de seu patrimônio histórico, reurbanizando espaços

públicos,

integrando

infraestruturas

abandonadas

ou

degradadas,

recuperando a área litorânea e enfatizando espaços culturais, Barcelona tem procurado se reinventar continua e constantemente. (FRANCO, 2012)

Figura 7 Pluralidade de espaços: edifícios contemporâneos e Torre Agba ao fundo; a ainda inacabada Sagrada Família de Gaudí; trecho das Ramblas e um dos vários artistas que ocupam esses lugares, apresentando-se no Parque Guell. Fonte: Arquivo Pessoal

“Neste contexto, distinguem-se quatro etapas de renovação urbana, caracterizadas pelas distintas escalas de intervenção: a primeira, entre 1979 e 1986 destaca as transformações politicas e intervenções a pequena escala; a segunda etapa, entre 1986 e 1992, transparece um período de transformações económicas, a Barcelona Olímpica; a terceira fase, entre 1992 e 1997, consiste na crise pós-Olímpica e, por último, a quarta fase, desde 1997 aos dias de hoje, trata dos processos de consolidação do ‘Modelo, a Barcelona do futuro”.

12

Na primeira fase, entre 1979 e 1986, ocorrem transformações politicas que possibilitaram a implementação das ideias urbanas para a cidade. Caracterizada por intervenções pontuais, tanto no centro histórico quanto em áreas periféricas (áreas destacadas em azul, na Figura 8), tais como praças, ruas e parques, nesta etapa buscou-se simultaneamente higienizar o centro da cidade e revalorizar os bairros periféricos. Incidindo na pequena escala, essas intervenções geraram também, os instrumentos-chave para a atuação urbana, na qual o espaço público é entendido como grande catalizador de atividades e fator de atração de pessoas, buscando criar ligações e fortalecer sua identidade. (FRANCO, 2012) 12

FRANCO, Sara Nobre Chasqueira, 2012, pág.23.

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Figura 8 Mapa de Barcelona mostrando os locais de referência e de ação das intervenções em diferentes momentos Fonte: Arquivo Pessoal

Figura 9 Exemplo de ambiente urbano do bairro El Raval. Fonte: www.livingspain.es Acesso:21/01/2013

Figura 10 Inserção de nova edificação no conjunto urbano consolidado de El Raval. Fonte: Google Earth

16


Um dos primeiros projetos na periferia ocorreu no bairro do Raval (destacado nas Figuras 8,9 e 10), onde se procurou criar um eixo cultural através da recuperação de edifícios e da construção de novos equipamentos de escala maior do que a de bairro, com o objetivo de conseguir uma maior visibilidade e atração para o local, apoiados ainda por ruas para pedestres. Em paralelo, foram realizadas também pequenas porém, significativas, intervenções no centro histórico (Figura 8), a partir da abertura

de

pequenos

espaços

públicos,

por

meio

de

desapropriação

e

reassentamento. (MUXI, 2010) “Dentro desse contexto, a tradicional distinção entre centro e periferia passou a ser pouco significativa para a Barcelona dos últimos anos. Em ambos existia déficit de equipamentos e espaços públicos. Ambos também eram carentes de uma forma de espaço público que caracterizasse e desse significado a cada área, fazendo-a sair do anonimato e atribuindo-lhe personalidade própria. Surge então o slogan de Bohigas, ‘monumentalizar a periferia’, propondo estabelecer, por meio de projetos urbanos de ação sobre o espaço público, uma identidade própria, uma memória, um lugar urbano.”

13

Entre 1986 e 1992 ocorreram significativas transformações económicas, em função da preparação para os Jogos Olímpicos. Em função da oportunidade de se fazer grandes transformações na cidade, e do investimento maciço, ocorreu uma alteração na escala das intervenções urbanísticas, como por exemplo, ações sobre a

infraestruturas

viárias;

melhoria

dos

bairros

periféricos;

construção

de

infraestruturas necessárias aos Jogos; criação de novas centralidades para atrair atividades econômicas e melhorar a qualidade de vida; Renovação do centro histórico e remodelação da frente marítima. (FRANCO, 2012) A estratégia urbana para os Jogos Olímpicos teve como o objetivo, reequilibrar a cidade, procurando não concentrar os investimentos nas áreas já abastadas ou de interesse do setor privado, mas sim em equilibrar as condições nas diferentes áreas da cidade e melhorar a qualidade de vida dos bairros. (CAIXETA e FROTA, 2010). Dessa maneira destacamos aqui a recuperação/criação da nova orla marítima, na qual foi realizada uma substituição no traçado original do plano Cerdà, criando uma faixa diferenciada (destacada em vermelho na FIGURA 11) que 13

CAIXETA, Eline Maria Moura Pereira, FROTA, José Artur D´Aló, 2010, pág. 35

17


possibilita uma transição entra o litoral, entendido como um espaço público da cidade, e o tecido urbano. Dessa maneira, diferentes usos e apropriações do espaço tornaram-se possíveis, as praias e passeios litorâneos com parques e praças com ênfase nos espaços públicos para esporte e lazer configuram mais uma atração na cidade, além da inserção de novos equipamentos urbanos (destacados em amarelo na figura 11), visando dar suporte e conectar essas novas áreas com o tecido existente, possibilitando à região litorânea de Barcelona novos significados e uma vivacidade cotidiana. (MUXI, 2010)

Figura 11 Comparação entre a área litôranea original e a intervençao proposta, destacando em verde a permanêcia e em amarelo a inserção de novos espaços. Fonte: Arquivo Pessoal

Figura 12 Vista área da orla de Barcelona, destacando novos espaços públicos. Acesso:www.staticflickr.com Acesso:20/01/2013

Figura 13 Calçadão próximo à praia, destacando a presença de obra de arte (de Frank Ghery) como elemento de organização do espaço Fonte: www.statig.com Acesso: 21/01/2013

18


Destacamos ainda, o investimento em infraestruturas, como a construção dos Cinturões de Rondas, que tanto servem para otimizar a mobilidade na cidade como para conectar as áreas Olímpicas, facilitando a integração urbana de áreas que se encontravam fora do sistema de espaços públicos. As Rondas foram consideradas ainda, como pontos estratégicos de transformações, possibilitando a regeneração do litoral, devolvendo assim, o mar para a cidade. (FRANCO, 2012)

Figura 14 Esquema dos Cinturões de Rondas, conectando a cidade interna e externamente. Fonte: FRANCO Sara Nobre Chasqueira, 2012, págs. 26 e 28.

Podemos citar ainda a Ponte Bach de Roda-Felipe II, do arquiteto Santiago Calatrava, finalizada em 1987, como um dos exemplos mais expressivas da articulação da renovada estrutura viária e os novos espaços públicos. Sendo parte integrante da remodelação de uma extensa área numa zona contígua ao Plano Cerdà, por onde passa uma linha ferroviária que leva ao norte do país, a ponte para veículos e pedestres, facilita o acesso direto ao mar e ainda articula-se tanto a um grande parque criado em ambos os lados da linha férrea, quanto a Praça del General Moragues, projetada posteriormente por Olga Tarrasó.

Figura 15 Vista geral da ponte Bach de Ronda Felipe II sobre as linhas férreas Fonte: www.staticflickr.com Acesso: 21/01/203

Figura 16 Espacialidade da ponte do arquiteto Santiago Calatrava. Fonte: www.geocities.ws Acesso: 21/01/2013

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Figura 17 Vista geral de Barcelona, destacando a Torre Agbar no círculo laranja e a Avenida Meridiana em azul, a ponte e seu entorno imediato destacados na macha amarela, e em vermelho, as linhas férreas sob a ponte. Fonte Arquivo Pessoal

Mas a renovação de Barcelona não se deu apenas nos espaços públicos. A infraestrutura também foi atualizada para dar suporte as intervenções, e ainda incluir a sustentabilidade no planejamento da cidade. Dentre eles podemos destacar: saneamento do subsolo da área inicial da cidade; construção de central de coleta pneumática de resíduos sólidos; distribuição de painéis de captação fotovoltaica; Implantação de central de ciclo combinado14; recuperação do leito do Rio Besós. (MOLET, 2011) O período pós-Olímpico caracteriza-se pela contração da economia espanhola, mantendo-se assim até meados da década de 90, aquando foram concluídas às áreas da nova centralidade e os processos de reconstrução e densificação cultural, que vão desde o tratamento de mobiliário e de grandes elementos urbanos, continuam a ser desenvolvidos. (FRANCO, 2012) Como exemplo das intervenções deste período destacamos o projeto da Rambla del Mar de 1995, dos arquitetos Albert Viaplana e Helio Piñon, que novamente formalizam a conexão entre o mar, e as Ramblas15, fazendo uso da paisagem marítima, como área de contemplação e lazer, onde diversas obras de arte são expostas. O percurso da Rambla transforma-se em um deck náutico, 14

Uma usina de energia de ciclo combinado é um sistema para produzir eletricidade de forma mais barata, mais eficiente e com menos impacto na natureza utilizando outros combustíveis fósseis. 15 Tradicional calçadão de Barcelona

20


permitindo a continuidade física e visual, com elementos lúdicos e funcionais como esculturas, bancos, luminárias e quebra-ventos, tratados como elementos plásticos que estabelecem um ritmo variado. (CAIXETA e FROTA, 2010).

Figura 18 Imagem da relação entre as Ramblas originais e a Rambla del Mar, continuidade da primeira, sobre as águas. Fonte: Arquivo Pessoal

Figura 19 Vista Área da Rambla del Mar, destacando os elementos artísticos curvilíneos. Fonte: www.way2barcelona.com Acesso:22/01/2013

Figura 20 Imagens da Rambla del Mar, destacando o uso de lazer e descanso, e ainda de passeios pedonais. Fonte: Arquivo Pessoal

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Atualmente a cidade tem procurado realizar projetos em uma escala macro, onde se destacam a remodelação urbana do Fórum das Culturas (2004) e os novos planos de regeneração urbana como o 22@ e Sagrera. (FRANCO, 2012) O Fórum das Culturas, ao fim da Avenida Diagonal, próximo ao mar, é um grande projeto urbano que compõe a frente litorânea da cidade e conectando-a a Avenida Diagonal por meio de um parque urbano, juntamente com outros equipamentos como edifícios de habitação, servidos pelo transporte público e buscando a consolidação de uma nova centralidade na cidade. (FRANCO, 2012)

Figura 21 Área de expansão do Fórum da Cultura destacando os espaços verdes públicos. Fonte: FRANCO, Sara Nobre Chasqueira, 2012, pág. 35.

Figura 22 Vista do edifício do Fórum da Cultura e seu entorno Fonte: www.elcroquis.es Acesso:21/01/2103

O Plano 22@ é um projeto de reconversão económica, social e urbana da zona industrial de Poble Nou.

Este plano gera grande impacto no desenho da

cidade, uma vez que procura intervir em uma área consolidada e de importantes atividades econômicas, por meio de iniciativas culturais, buscando articular economia e cultura na forma da cidade, dada a centralidade da área de intervenção. (FRANCO, 2012)

Figura 23 Plano 22@ destacando as áreas de intervenção em cada região da cidade. Fonte: www.22barcelona.com Acesso: 22/01/2013

22


Já o Plano de Sagrera16 consiste na criação da nova via ferroviária de alta velocidade, em um trecho urbano próxima à ponte Bach de Roda Felipe II, com o objetivo de conectar Barcelona com o resto da Europa, e constituindo o principal sistema intermodal da cidade, incluindo ainda a criação de áreas de habitação, serviços e negócios, com espaços públicos e um parque urbano. (FRANCO,2012)

Figura 24 Imagem do Plano Sagrera, destacando sua extensão e os diferentes espaços urbanos pelos quais passa e renova. Fonte: diagonalverdabcn.blogspot.com.br Acessp:22/01/2013

Podemos concluir que as intervenções em Barcelona são o resultado de anos de planejamento e intervenção, dos quais o ponto de partida foi estabelecer uma política urbana capaz de atuar efetivamente sobre uma cidade já formalizada, substituindo um modelo de planejamento quantitativo, focado em instrumentos e técnicas de controle urbanístico, por ações pontuais planejadas, em diferentes escalas, obedecendo a uma análise clara da estrutura e da dinâmica urbana e regidas por um planejamento qualitativo (CAIXETA e FROTA, 2010). Possibilitadas ainda pela parceria entre arquitetos e governantes com apoio dos poderes econômicos da Catalunha e região, e também a continuidade das intervenções, independente dos ciclos políticos, garantindo um planejamento e uma execução de qualidade. Todas essas ações permitiram o sair de uma economia de base industrial para uma economia do conhecimento. Hoje, criatividade e cultura, são elementos que caracterizam a cidade e dotam sua população de uma forte noção de identidade e de urbanidade, fazendo de Barcelona uma cidade, no mínimo, diferenciada.

16

É possível acompanhar http://www.barcelonasagrera.com

o

desenvolvimento

deste

projeto,

através

do

site:

23


Mais do que resgatar a memória da cidade, os projetos de Barcelona procuraram Fazer com que a cultura surja como um marco da estratégia da cidade enfatizando sua capacidade de construção e regeneração dos espaços urbanos e ainda buscar neles a “catalanidade”, entendida como a criatividade e vanguardismo, naturais daquele povo, representado por nomes como Gaudí, Cerdà, Miró, Dalí, entre outros (CAIXETA e FROTA, 2010). Nesse sentido entendemos que Barcelona buscou trabalhar a identidade da cidade, resgatando a cidadania e enfatizando-a para assim inspirar as pessoas a criar e agir na cidade.

1.5.2. Bilbao

Capital da província de Biscaia, com uma população em torno de um milhão de habitantes, a aglomeração urbana de Bilbao, tinha sua economia baseada no porto e na extração mineral, até ser atingida pela crise da indústria na década de 1980, deixando grande quantidade de espaços degradados e abandonados por toda a cidade. A partir de princípios da década de 90, iniciaram-se projetos para reorganizar o perfil físico e socioeconômico de toda a cidade e impulsionar sua revitalização integral, baseados principalmente em três instrumentos: o planejamento territorial urbano e metropolitano; o planejamento estratégico e as grandes operações urbanísticas e de infraestrutura. (RODRIGUES e ABRAMO In COELHO, 2008) Inicialmente de maneira pontual e sem uma ordem clara, e depois sistemática e organizadamente, a proposta de regeneração urbana de Bilbao tinha como objetivo básico encontrar uma estratégia capaz de gerar empregos, qualidade de vida e que a reposicionasse no mundo. (RODRIGUES e ABRAMO In COELHO, 2008)

24


Figura 25 A cidade de Bilbao, na qual percebemos a importância do rio na configuração da cidade. Em destaque a localização do porto e do aeroporto, e nas manchas as regiões de Abandoibarra e Ametzola (em veremelho) e Zorrozaurre (em azul)

Figura 26 Em destaque na mancha em vermelho o trecho renovado de Abandoibarra à margem do rio Nervión, onde encontram-se os principais objetos arquitetônicos e novos equipamentos urbanos que sustentam o city-marketing da cidade, e assinalado no círculo vermelho, novamente a localização do Museu Guggenheim. Fonte: http://www.bzmk-consulting.com Acesso:20/01/2013

Em maio de 1989 foi publicado o plano estratégico da cidade. denominado de Plano Geral de Ordenação Urbana: “A estratégia de revitalização proposta pelo Plano Estratégico se articulava em torno de 8 ‘temas críticos’ que refletiam debilidades e potencialidades da área metropolitana: investimento em recursos humanos, desenvolvimento de serviços avançados, mobilidade e acessibilidade, regeneração urbana,

25


regeneração ambiental, centralidade cultural, gestão coordenada do setor público e privado, e ação social”.

O

plano

comtemplava

um

17

conjunto

de

elementos

recorrentes

e

meticulosamente desenhados: arquiteturas emblemáticas, projetos icônicos, centros de convenções, infraestruturas culturais e turísticas, parques temáticos, e ainda festivais e outros eventos internacionais com uma finalidade propagandística e de marketing urbano focado na cultura. No entanto é importante enfatizar que, a ênfase na infraestrutura, através de uma parceria público-privada, é que foi, de fato, a protagonista dessa regeneração urbana. (RODRIGUES e ABRAMO In COELHO, 2008) A regeneração urbana de Bilbao teve inicio assim, em seus extremos geográficos (FIGURA 27) com obras infraestruturais de grande escala, como a construção do aeroporto, projeto do arquiteto Santiago Calatrava, e a reformulação do porto da cidade, e em seguida foram realizadas as obras do metro, assinado por Norman Foster. Dessa maneira Bilbao deu seu o primeiro passo ao facilitar o acesso e a mobilidade interna, abrindo-se para o mundo. (VILLAGRÁN, ACUÑA e COUTIÑO, 2011) A partir de então se iniciaram ações na malha urbana, por meio da recuperação de terrenos no centro da cidade, com destaque para a região de Abandoibarra, símbolo máximo da Bilbao moderna. Em uma área de 348 mil metros quadrados à margem do rio Nervión, anteriormente destinada à atividade portuária, foram implantados vários edifícios icônicos e emblemáticos, que funcionam como âncoras do desenvolvimento urbano, assinados por grandes arquitetos, como: Palácio Euskalduna de Federico Soriano e Dolores Palacios, as pontes Euskalduna e Zubizuri de Santiago Calatrava, as torres Isozaki Atea de Arata Isozaki, o projeto do conjunto de Zorrozaurre por Zaha Hadid, e ainda o Museu Guggenheim Bilbao, embrião da uma mudança urbana que atingiu toda a cidade, e rapidamente atingiu repercussão mundial. (VILLAGRÁN, ACUÑA e COUTIÑO, 2011)

17

RODRIGUES, Arantxa e ABRAMO In COELHO, Pedro Teixeira (org.), 2008, pág. 114

26


Figura 27 Mapa da região de Abandoibarra, destacando as Arquiteturas emblemáticas e ainda a região de Zorrozaurre, projetada por Zaha Hadid Fonte: Arquivo Pessoal

Figura 28 Planta antiga de Bilbao, na qual percebemos um menor número de pontes (circuladas em laranja) , concentradas na região de Abandoibarra (em vermelho), que até então configurava-se como um grande espaço destinado à atividade portuária. Fonte: Arquivo Pessoal

27


Figura 29 Torres Isozaki Atea e a ponte Zubizuri exclusiva para pedestres, configurando uma paisagem contemporânea da nova Bilbao. Fonte: www.dolcestone.com Acesso: 22/01/2013

Figura 30 Palácio Euskalduna, também na região de Abandoibarra, recebe diversos eventos culturais de auto nível. Fonte: www.euskalduna.net Acesso:22/01/2013

Figura 31 Torre Iberdrola, também na região dos edifícios emblemáticos. Fonte: www.marqos.com Acesso:22/01/2013

O site do Museu Guggenheim, afirma que o mesmo contribuiu em 2007, para com a economia da região com €220 milhões e com a geração de mais quatro mil empregos, fora a arrecadação tributária adicional, os programas educacionais e afins. Dessa maneira, o famoso Guggenheim Bilbao, pode ser entendido não apenas como uma arquitetura ousada tanto na técnica quanto na estética, mas também, como uma estratégia de criação da imagem de Bilbao, um exemplo de edifício contemporâneo que não está ligado somente ao tecido urbano local, e sim à economia mundial. O museu pode ser considerado ainda, como o principal elemento de atração de pessoas e, é o resultado da procura da cidade por um espetáculo 28


singular, tornando-se, portanto, seu maior símbolo e praticamente a própria identidade da cidade.

Figura 32 Imagem oficial do Museu Guggenheim Bilbao, símbolo da cidade e referencia mundial da arquitetura contemporânea Fonte: www.guggenheim.org/bilbao acesso: 23/03/2013

Figura 33 A região de Abandoibarra em dois momentos, antes e depois do Guggeheim, destacando a construção do Palácio Euskalduna juntamente com Ponte Euskalduna, criando um novo acesso. Destacamos ainda as áreas em azul, como áreas de futuras intervenções para a consolidação da área. Fonte: Arquivo Pessoal

Ocorreram também algumas ações não tão famosas como as da região de Abandoibarra, mas que são muito significativas para a transformação de Bilbao como por exemplo ações pontuais para facilitar a mobilidade, criação de espaços públicos de lazer, ócio e convivência, recuperação de alguns de seus edifícios históricos, como por exemplo o edifício Alhóndiga de Philippe Stark, todas elas pensadas de modo a conservar a essência do desenho urbano. Ao mesmo tempo Investimentos em infraestrutura continuaram a ser realizados, dentre eles destaca29


se a reativação do transporte por bondes no centro da cidade, e ainda a construção de novas as pontes, infraestruturas de grande relevância em Bilbao em função de sua configuração. (VILLAGRÁN, ACUÑA e COUTIÑO, 2011) A recuperação urbana de Bilbao pode ser visualizada também, no exemplo menos famoso da região de Ametzola. No ano de 1988, através de um parque urbano com 32 mil metros quadrados, destinado a ser o pulmão verde daquela área, juntamente com uma nova estação que une dois tipos de serviços ferroviários e atende a mais de seis mil cidadãos a região recuperou seu valor urbano ao ocupar um vazio urbano proveniente de uma antiga estação de trens desativada. Além desses elementos, foi implantado ainda um conjunto de 900 alojamentos sendo 750 deles gratuitos, na área adjunta do parque, para ocupar definitivamente a região. (RODRIGUES e ABRAMO In COELHO, 2008)

Figura 34 A região de Ametzola respectivamente em 1996, 2006 e uma projeção de como ficará ao ser finalizada a intervenção. Em amarelo destacamos os vazios urbanos que seriam revitalizados e devolvidos à população, marcado em laranja o conjunto habitacional construído para ocupar definitivamente o lugar, no circulo vermelho o estádio que sofreu uma restauração e em azul notamos a retirada do viaduto para possibilitar uma conexão direta entre os espaços. Fonte: www.bp.blogspot.com Acesso: 20/01/2013

Devemos citar ainda, como um fator fundamental para a consolidação do desenvolvimento urbano, a continuidade no planejamento e na execução dos projetos, por parte da gestão do governo. Desde a segunda metade do século XIX, através do desenvolvimento de projetos e até mesmo de concursos, Bilbao buscou reinventar sua paisagem urbana e por mais de uma vez, nesse processo a legislação foi atualizada para permitir que a cidade se desenvolvesse de maneira atualizada e coerente.

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As intervenções de Bilbao demonstram que é possível renovar uma cidade a partir da criação de um novo símbolo, que seja capaz de inspirar a população local, e que tenha forças para atrair e guiar o desenvolvimento urbano. A aposta de Bilbao no setor cultural como elemento principal de sua renovação é uma demonstração da capacidade que o setor criativo apresenta para transformar as realidades urbanas, melhorar a qualidade de vida e ainda desenvolver a economia local.

1.5.3. Bairro Santa Teresa - Rio de Janeiro

A cidade do Rio de Janeiro destaca-se por ser um dos maiores polos culturais e turísticos do Brasil e talvez do mundo, tanto que sediará em 2016, os jogos Olímpicos. Em função disso tem procurado investir e incentivar a produção artística e cultural em toda a sua pluralidade, recebendo diversos programas e conferências internacionais sobre criatividade, cultura, urbanidade e economia criativa nos últimos anos. Dentro das várias iniciativas cariocas, destacamos aqui a experiência de um bairro em especial: o Santa Teresa. Santa Teresa é um bairro do centro histórico do Rio De Janeiro com seu arruamento, arquitetura, clima, paisagem e ritmo próprio, o bairro é dotado de intensa vida cultural e artística. Em suas ladeiras de ruas são pavimentadas com pedras, cercadas por Mata Atlântica, existem ateliês de arte, centros culturais e museus como o Museu da Chácara do Céu e o Parque das Ruínas, local de encontros e espetáculos, além de lojas de artesanato e design, bares restaurantes hotéis e pousadas, que através de iniciativas como o evento anual Arte de Portas Abertas, tem atraído cada vez mais turistas brasileiros e estrangeiros. (ACHCAR, 2011)

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Figura 35 Destaque em amarelo para a região aproximada do bairro de Santa Teresa, destacando sua proximidade com o mar e o aterro do flamengo marcado em laranja, além de sua proximidade com o bairro Lapa famoso por sua boemia e eventos culturais que atraem turistas e artistas. destacado em parte pelo círculo azul, e ainda a proximidade com o aeroporto Santos Dumont em vermelho. Configurando assim uma localização privilegiada na cidade do Rio de Janeiro. Fonte: Arquivo Pessoal

Segundo a história da cidade do Rio de Janeiro, Santa Teresa é conhecida por abrigar um grande número de políticos, artistas plásticos, intelectuais, arquitetos, escritores etc. que justifica os casarões e mansões existentes até hoje, e dá ao bairro uma ambiência própria. O Bonde de Santa Teresa por sua vez, data de 1872, era a ultima lina de bonde em funcionamento no Brasil18, e tornou-se portanto, um símbolo do bairro.19 outro marco da história e também da paisagem de Santa Teresa é o Aqueduto da Carioca, conhecido popularmente como Arcos da Lapa, uma das referências urbanas, localizado no limite entre os bairros Lapa e Santa Teresa.

Figura 36 Mapa de parte do bairro Santa Tereza destacando o percurso do bonde e alguns pontos de interesse cultural e turístico. Fonte Arquivo Pessoal

18

Foi desativada em função do acidendente ocorrido em 2011. Existem propostas de subistuição do veiculo antigo por um mais moderno. 19 http://www.inventarioturistico.com.br

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Desde 1996, eventos como esse tem contribuído para a revitalização e desenvolvimento do próprio bairro, consolidando-o como uma das principais atrações turísticas da cidade do Rio de Janeiro. Podemos afirmar então, que o bairro de Santa Teresa é um ambiente criativo em função da concentração de atividades econômicas e culturais existentes no local, possui uma paisagem característica que reafirma sua identidade e mantêm sua história e sua memória, e assim, atraem pessoas que desejam experimentar essa pluralidade e riqueza cultural. . (ACHCAR, 2011)

Figura 37 Exemplos da ambiência do bairro, com ruas estreitas, arvores, casarões antigos e algumas ruínas, mas também há espaço para o novo. A arte e a cultura permeiam o ambiente seja pelos grafites, pela arquitetura, pelas intervenções nas escadarias e pelos bares, restaurantes e ateliês de arte. Fonte: Google Earth

Atualmente existe um grande investimento privado no bairro, que busca ser um destino turístico sustentável, através, por exemplo, da preservação de sua identidade e de seu patrimônio arquitetônico reutilizando edifícios antigos para variados fins, como ateliês, bares e restaurantes. Estes dois últimos usos destacamse por configurarem no bairro, um polo gastronômico e uma área essencialmente boêmia. Há também um rico comércio de artesanato, decoração, arte e souvenires, que atraem turistas do brasil e do mundo, e vendem objetos que possuem um valor agregado por pertencerem à Santa Teresa. Instaurou-se assim uma rede produtiva 33


de empresários, moradores e artistas que culminou em roteiros que exploram a paisagem natural, arquitetônica, cultural e histórica da região. Dessa maneira Santa Teresa se propôs criativa, aproveitando-se de seu patrimônio histórico e arquitetônico para atrair uma classe criativa ao local, mas o grande destaque da iniciativa são os eventos que reúnem todos os artistas locais de maneira coordenada e articulada, visando a integração e a unidade do bairro, fortalecendo sua identidade cultural.

Figura 38 Os ateliês e oficinas são responsáveis pela atração do turismo, importante fonte de renda local. Fonte: www.riofotografico.com.br Acesso: 23/01/2013

Figura 39 O bairro atrai diversos outros eventos como o bloco das carmelitas durante o carnaval. Fonte: www.uol.com.br Acesso: 23/01/2013

Figura 40 Exemplo da vida boêmia no bairro, que faz parte da vida cotidiana e permite a troca e a convivência. Fonte: www.flickr.com Acesso:23/01/2013

Figura 41 A ideia de bairro criativo, boêmio, turístico e receptivo já faz parte da vida diária dos moradores. Fonte: www.flickr.com Acesso: 23/01/2013

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1.5.4. Brumadinho

A cidade de Brumadinho, com 35 mil habitantes, está localizada a 66 quilômetros da capital do estado de Minas Gerais e possui, além de belezas naturais, riquezas históricas e culturais. (SITE BRUMADINHO) No entanto essa pequena cidade do interior, foi colocada no circuito cultural mundial, ao lado, por exemplo, de Londres, Nova York e Paris (5), em função da instalação do Instituto Inhotim de Arte Contemporânea e Jardim Botânico em seu município. O Instituto tornou-se o grande pilar do turismo local, com exposições de artistas como Tunga, Cildo Meireles, Hélio Oiticica, Adriana Varejão, além de uma exuberante área com jardins e matas nativas. (SITE BRUMADINHO) Idealizado pelo empresário Bernardo Paz em meados da década de 1980 e inaugurado para o grande público em 2006, hoje o instituto é uma associação privada sem fins lucrativos que também recebe recursos do governo através de convênios e parcerias. (SITE INHOTIM)

Figura 42 Vista geral de Inhotim e Brumadinho, evidenciando que são independentes e comunicam-se com a através de uma via que corta toda a cidade. Configurando dessa maneira um elemento de dimensões consideráveis frente ao porte de Brumandinho, que age de fora pra dentro na cidade, e que não faz parte do traçado urbano nem do dia a dia da cidade. Fonte: Arquivo Pessoal

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Figura 43 A maior parte dos turistas, visita exclusivamente o Instituto Inhotim, em função disso, trechos que dão acesso ao Instituto, tiveram suas vias pavimentadas, a via que comunica a cidade e o parque foi revitalizada e ganhou um tratamento paisagismo indicando a proximidade do Inhotim, e apresenta ainda uma crescente concentração de serviços turísticos, o que parece indicar um crescimento da cidade atraída pelo museu.

Ocupando uma área de 110 hectares de jardins de plantas raras e exóticas, com cinco lagos artificiais e um acervo artístico em permanente expansão e de relevância internacional, atualmente com cerca de 500 peças entre esculturas, instalações, pinturas, desenhos, fotografias, filmes e vídeos, de artistas contemporâneos nacionais e internacionais, espalhadas pelos jardins e em 22 galerias, que procuram combinar em um só lugar arte e natureza. (SITE INHOTIM)

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Figura 44 Pavilhão Miguel Rio Branco, destacando a inserção de elementos arquitetônicos contemporâneos nos jardins ao longo do Instituto. Fonte: Arquivo Pessoal

Figura 45 Exemplo de obra de arte ao ar-livre, integrada ao paisagismo. Fonte Arquivo Pessoal

Figura 46 Interior de um dos restaurantes, que abriga também biblioteca e ateliês, destacando sua relação com a paisagem. Fonte: Arquivo Pessoal

Figura 47 Pavilhão sobre um dos lagos, com exposição permanente, destacando a variedade dos espaços de exposição do Instituto. Fonte: Arquivo Pessoal

O Inhotim apresenta obras criadas especificamente para a coleção, muitas vezes como projetos site-spefic, isto é dialogando com a natureza e a cultura, e trabalhando assim a formação do lugar através da arte. Outra possibilidade são os pavilhões construídos especialmente para abrigar obras singulares de maneira permanente, ou para receberem mostras temporárias, criando assim um conjunto artístico que envolve também a arquitetura. Dessa maneira as obras de Inhotim, estão em diferentes tipos de espaços expositivos: algumas ao ar livre nos jardins, no meio das matas, no topo de um morro ou ainda sobre espelhos d’agua, e outras em espaços fechados. Essa pluralidade de espaços faz com que não exista um único percurso ou ordem obrigatória para experimentar a arte e a natureza de Inhotim. (SITE INHOTIM)

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Figura 48 Pavilhão Adriana Varejão, construído para abrigar trabalhos da artista, entendido como objeto arquitetônico e também como obra de arte. Fonte: Arquivo Pessoal

Figura 49 Obra Beam Drop, realizada especialmente para Inhotim, é exemplo de obra de arte conformando um lugar. Fonte: www.inhotim.com Acesso:23/01/2013

Além da arte, o instituto destaca-se por seu jardim botânico, que possui o uma vasta coleção de espécies vegetais raras e de diversas espécies. Além de manter toda essa diversidade, procura desenvolver inovações ambientais, nos campos da pesquisa e da educação, propiciando estudos com o maior número possível de espécies botânicas, principalmente espécies ameaçadas, e dispondo tais espécies paisagísticamente, para divulgar e sensibilizar sobre importância da biodiversidade. (SITE INHOTIM) O Inhotim está envolvido com o desenvolvimento da comunidade onde está inserida, e para tanto, utiliza sua coleção botânica e artística para projetos educativos e de formação de profissional. Tem investido ainda, no desenvolvimento de ações de capacitação e qualificação para a comunidade em geral e para o setor de hotelaria e gastronomia, estimulando a participação social e o incremento da qualidade de serviços oferecidos. (SITE INHOTIM, 2013) O Instituto participa também da formulação de políticas para a melhoria da qualidade de vida na região, e ainda na valorização do patrimônio cultural, através de estratégias que põem em relevo a memória e a tradição regional, com projetos relacionados às danças e celebrações tradicionais. Além desses projetos, procura participar do desenvolvimento urbano da cidade e de distritos por meio de projetos de recuperação e urbanização dos espaços públicos, em parceria com a Prefeitura Municipal e com participação da comunidade. O Instituto assume ainda o turismo 38


como principal elemento do desenvolvimento regional, e considera os artesãos, o empresariado e o poder público como elementos fundamentais desse processo.

Figura 50 Uso dos recursos naturais do Instituto Inhotim para programas educativos sobre meio ambiente. Fonte: www.inhotim.org.br Acesso:23/01/2013

Figura 51 Exemplo de ações relacionadas patrimônio cultural de Brumadinho, apresentação de bandas e escolas de musicas locais, em Inhotim. Fonte: www.inhotim.org.br Acesso:23/01/2013

Em função da relevância do Instituto a cidade de Brumadinho passou a receber milhares de turistas, que segundo o próprio Instituto, no ano de 2009 chegaram a mais de 160 mil visitantes. Como consequência desse aumento, a infraestrutura urbana de Brumadinho tem recebido investimentos através de parcerias publicoprivadas para construção de complexo hoteleiro, clube, aeroporto e faculdade. (SITE INHOTIM) O exemplo de Brumadinho nos mostra que pode ser possível, a partir do investimento em um espaço destinado à apreciação da arte e da natureza, alavancar um desenvolvimento econômico, cultural, social e educacional além de uma renovação urbana e regional. Por meio de iniciativas do Instituto Inhotim, no sentido de valorizar tanto a cultura e o patrimônio local, quanto a arte contemporânea nacional e internacional e ainda biodiversidade do planeta, a cidade de Brumadinho conseguiu gerar ganhos econômicos, melhoria da qualidade de vida da população e desenvolvimento da infraestrutura urbana, além de colocar a arte contemporânea em a natureza mais próximas da população.

39


Capítulo 2.

O Pensamento Urbano e posturas contemporâneas de intervenção.

40


2. O Pensamento Urbano e posturas contemporâneas de intervenção.

O pensamento urbano contemporâneo parece estar em sintonia com a ideia de cidades criativas, uma vez que também busca devolver a cidade às pessoas, melhorando sua qualidade de vida e os lugares onde elas vivem e convivem, atentando principalmente aos espaços públicos e infraestruturas. Intervir eu uma cidade ou em parte dela, significa modificar aspectos e espaços de modo a sintoniza-los com a lógica urbana atual. Tais intervenções muitas vezes nos fazem perceber potencialidades anteriormente escondidas e abrem caminho para futuras intervenções. Devemos considerar ainda que, não há desenho urbano desprendido da historia ou da geografia (SOUZA, 2002), portanto uma intervenção urbana deve entender o tempo e o espaço em que é realizada. As intervenções urbanas (SOUZA, 2002), caracterizam-se basicamente por projetos de criação de novos trechos urbanos, expansões de trechos já consolidados, ou recuperações de trechos urbanos, e sua base teórica esta em constante mudança e evolução. Interessa-nos

neste

estudo,

em

especial,

o

pensamento

urbano

contemporâneo, embora seja importante primeiramente, como veremos a seguir, perceber a evolução da interpretação da cidade e como eram pensadas as intervenções nessa cidade.

2.1. Breve Histórico

As intervenções urbanas modernistas podem ser consideradas como uma primeira geração de projetos urbanos. Buscavam uma utópica e talvez ingênua reconfiguração dos aspectos físicos e da própria ideia de cidade moderna. Segundo Carlos Leite de Souza (2002) eram projetos de grandes dimensões e complexidade, 41


ora propondo cidades totalmente novas, e ora a substituição do existente por novas edificações, buscando uma especialização meramente funcional da cidade. No entanto essas propostas se mostraram impositivas e excessivamente homogeneizadoras (SOUZA 2002), ignorando as dinâmicas da vida cotidiana e a complexidade inerente ao meio urbano.

Figura 52 A Broadacre City, cidade utópica de Frank Lloyd Wright, exemplo de um pensamento que buscava resolver os problemas urbanos através do desenvolvimento de novas cidades e de um estilo de vida, essencialmente funcionais. Fonte: www.growingupinamerica.files.wordpress Acesso: 25/01/2013

Figura 53 O Plano Voisin, para a cidade de Paris, de Le Corbusier, ignora a cidade existente e propõe uma nova ideia de lugar urbano, baseada na repetição de elementos funcionais

Seu maior nome é certamente o arquiteto franco-suíço Le Corbusier, grande responsável pela Carta de Atenas de 1933, e o maior exemplo construído seguindo tais ideias é a cidade de Brasília.

Figura 54 O plano piloto de Lúcio Costa, seguindo o modelo de Le Corbusier, erigindo uma nova cidade essencialmente funcional Fonte: Google Earth

Figura 55 O zoneamento funcional de Brasília aumenta as distancias entre os lugares urbanos Fonte: www.bp.blogspot.com Acesso: 25/01/2013

42


Uma segunda geração propunha uma reconstrução critica da cidade, através de intervenções pontuais, restaurações e revitalizações de áreas da cidade, ganhando força a partir da década de 70, por vezes chamada de pós-moderna. Propunham medidas contextuais através de projetos de novo objetos a serem encaixados no tecido urbano existente, configurando um somatório e não uma mudança total, procurando valorizar as relações entre a vida cotidiana e os espaços urbanos, considerando o fator histórico e a paisagem urbana existente, como elementos fundamentais. (SOUZA, 2002) Aldo Rossi é uma referência deste pensamento urbano, principalmente por sua atuação na cidade de Veneza, juntamente com outros arquitetos, que acabaram por criar o que ficou conhecido, como Escola de Veneza.

Figura 56 O Teatro del Mondo de Rossi, consiste em um teatro flutuante que relacionava-se com o contexto da cidade de Veneza, famosa por seus canais que funcionam como ruas, nos quais o teatro podia transitar e mudar sua localização na cidade sem deixar de fazer parte da cidade. Fonte: www.blog.venice-tourism.com Acesso: 23/01/2013

Figura 57 Mapa esquemático da localização/percurso do Teatro del Mondo de Aldo Rossi em Veneza. Fonte: Arquivo Pessoal

Os problemas que podemos destacar nessa segunda visão (SOUZA,2002) são relacionados à possibilidade de criação de cenários urbanos historicistas que levam ao esvaziamento do conteúdo do lugar reduzindo-o a uma imagem em prol do city-marketing, caso as intervenções realizadas não sigam critérios precisos para a continuidade da história da cidade e não um revivalismo nostálgico da mesma. A evolução do pensamento urbano nos mostra então, que o modernismo idealizava a cidade e propunha soluções baseadas na funcionalidade, muitas vezes à partir de uma reconstrução total da cidade, enquanto que o pós-modernismo procurava no contexto urbano existente as diretrizes para suas intervenções. A 43


contemporaneidade como veremos a seguir, procura romper com a estática desses pensamentos urbanos e passa a atentar para a complexidade da dinâmica das relações territoriais, confirmando que a cidade não será mais negada ou idealizada, mas buscando significados que estão além do contexto urbano. (SOUZA, 2002) . 2.2. Contemporaneidade

As intervenções urbanas contemporâneas visam “ativar” trechos da cidade, colocando-os em movimento, através não apenas de projetos, mas de processos estratégicos. E ao contrário do que se praticava no modernismo, (SOUZA, 2002) neste momento a cidade não é mais idealizada em função de uma organização funcional e não se limita a relações com o contexto em que esta inserida, como pensavam os pós-modernistas como Rossi, ela passa a ser entendida como uma unidade complexa e mutável, onde convergem e convivem diversos interesses. Joan Busquets (apud, SOUZA, 2002) afirma que esse novo pensamento urbano busca trabalhar em três escalas: grande, intermediária e pequena, pensando respectivamente o território, o lugar e o objeto, visando atingir populações, comunidades e indivíduos, em suas diversas interações. A cidade ao passar a ser entendida como elemento ativo, e não mais o suporte passivo de relações, começa a enfatizar seus espaços públicos e o papel integrador destes na sociedade (SOUZA, 2002). Os espaços públicos é que darão suporte e também motivação para o convívio e para atividades coletivas diversas.

Figura 58 Colagem de Rem Koolhas para seu projeto especulativo Voluntary Prisoners of Architecture, onde ele procura criar situações extremas para explorar como as pessoas se sujeitam a arquitetura e como ela estabelece relações consigo mesma. Fonte: www.artstor.wordpress.com Acesso :23/01/2013

Figura 59 Projeto do escritório BIG para uma ponte em Estocolmo, onde diversas funções são sobrepostas na estrutura, além da pista para carros, existem lojas, ciclovias, mirantes e um grande espaço público para os pedestres, reconfigurando a paisagem e unindo as duas margens de maneira ativa. Fonte: www. davidreport.com Acesso: 23/01/2013

44


Além dos espaços públicos, as infraestruturas urbanas também passam a receber maior atenção uma vez que passam a ser base para conectar e viabilizar diversos projetos em diversas partes da cidade (SOUZA, 2002). Questões como mobilidade urbana, acessibilidade, sustentabilidade estão cada vez mais presentes nas discussões sobre o futuro das cidades. Segundo Carlos Leite de Souza (2002), infraestruturas urbanas bem resolvidas são fundamentais porque “Viabilizam a regeneração dos tecidos existentes, valorizando o ‘capital fixo urbano’, além de estabelecer uma ligação vital entre a zona de intervenção e seu exterior (...)”.20 É importante enfatizar que a mudança fundamental no pensamento urbano contemporâneo é o entendimento da cidade como elemento ativo, isto é, busca encontrar na própria cidade, respostas aos problemas urbanos. O objeto de estudo e trabalho do urbanismo contemporâneo é então, a cidade real e sua complexidade, seu objetivo é dinamizá-la de maneira que ela possa falar por si só, e para tanto deve considerar seus problemas, contradições, falta de imaginabilidade, banalidade nas soluções formais e espaciais, conflitos sociais, sem esquecer suas qualidades, potencialidades, significados e seu patrimônio material e imaterial. (SOUZA, 2002) A cidade dever ter o poder de integrar e inspirar, permitindo diferentes percepções e entendimentos do espaço urbano por meio da sua imaginabilidade, que é segundo Kevin Lynch (2008) o potencial que uma cidade tem de oferecer imagens mentais fortes e diversificadas. Dessa maneira, para o urbanismo contemporâneo a flexibilidade programática e a plasticidade formal são elementos de primeira ordem. Figura 60 Planejamento urbano para Kartal Pendik, na Turquia, de Zaha Hadid, na qual a geometria é explorada como uma topografia, visando criar uma identidade e favorecer as conexões entre edificações, vias e os diferentes programas. Fonte:www.zaha-hadid.com Acesso: 23/01/2013

20

SOUZA, 2002, p. 128

45


Para tudo isso, devemos (novamente) ressaltar que, não existe uma regra universal fixa ou infalível (SOUZA, 2002). Trata-se, na verdade, de procurar compreender a complexidade local, suas principais forças e fraquezas, para então posicionarmo-nos criticamente e intervir adequadamente.

2.3Breves Estudos de Caso

Estes estudos de caso foram selecionados por serem projetos mundialmente conhecidos devido à originalidade na abordagem conceitual e teórica da problemática urbana por parte de seus autores, dois dos mais destacados arquitetos e teóricos contemporâneos: Bernard Tschumi e Rem Koolhaas, estabelecendo novos paradigmas urbanos, e ainda por configurarem situações que eventualmente poderemos enfrentar na elaboração do Projeto Final de Graduação II, como parque urbano e infraestrutura de mobilidade urbana.

2.3.1. Parque La Villette

Tido como um dos mais importantes projetos contemporâneos, sua abordagem conceitual é inovadora como concepção de parque urbano programático, baseando-se na cultura e não na natureza, e principalmente por resgatar uma área degradada periférica de Paris. O projeto é resultado de um concurso realizado em 1982, do qual dois arquitetos com trabalhos inovadores destacaram-se como a primeira e o segunda colocações: Tschumi e Koolhaas respectivamente. (SOUZA, 2002) O parque fica na região nordeste de Paris, local do antigo matadouro público e mercado de carnes, apresenta uma área de 1250000 metros quadrados cortada por um canal pluvial, e sobre ele SOUZA (2002) descreve:

46


“Tschumi implementa uma nova articulação territorial. Sem qualquer abordagem contextualista, cria nova territorialidade na antiga área residual, mantendo-a muito mais como respiro da cidade do que como novo território construído. Articula-o, no entanto, às bordas com extremo zelo e integra-o à paisagem como o Pompidou fez no centro de Paris, duas décadas atrás. O conceito central do trabalho é o cruzamento de três níveis estratégicos (layers conceituais) que se sobrepõem: superfícies (água e vegetação); linhas (percursos); pontos (o grid urbano com pontos de pequeno programa, as “folies”).”21

Figura 61 Mapa parcial da cidade de Paris destacando no círculo em vermelho a Torre Eiffel, uma das principais referências da cidade e na mancha em amarelo a localização do Parque . Fonte: Arquivo Pessoal

Figura 62 Detalhe da localização do Parque, mostrando as vias que o circundam e o canal d’água que o corta. Fonte: Arquivo Pessoal

Tschumi aplica conceitos nesta intervenção, com os quais já vinha trabalhando anteriormente, que segundo Carlos Leite de Souza (2002) são: cidade-evento, arquitetura como espaço simultâneo de sobreposições de programas e eventos, a justaposição e transprogramação arquitetônica dos grandes equipamentos da cidade. O arquiteto procurou um intermediário entre uma colagem historicista, o preenchimento de vazios urbanos, a composição arquitetônica complexa e a desconstrução do existente através de analise crítica de “layers históricos”. Desenvolvendo assim um sistema abstrato que mediaria a relação entre o sítio e os conceitos anteriormente citados, para além da cidade e do programa. (SOUZA, 2002) 21

SOUZA, Carlos leite de, 2002, pág. 138

47


O desenho do parque baseia-se então em três componentes fundamentais sobrepostas, mas independentes, que interagem entre si: planos, linhas e uma grelha de pontos. A sobreposição destes elementos sobre o lugar tem o objetivo de provocar nas pessoas situações aleatórias e conflitantes. A grelha de pontos é segundo Tschumi a ferramenta estratégica básica do parque. Ela articula o espaço e as intensidades, através de pontos de ancoragem fragmentados: as construções em vermelho denominadas de folies. Ao contrario da ideia clássica de grandes planos de massas que hierarquizavam o espaço, em La Villette nos elementos fragmentados (folies) foram alocados os pontos de apoio do parque como informações, sanitários, mirantes, postos policiais, lanchonetes, etc.

Figura 63 Mapa do Parque mostrando a grelha de pontos configurada pelas folies (em vermelho), os diversos caminhos que conectam esses pontos, as edificações (em preto) e ainda a presença dos planos dos gramados (em verde) e das águas (em azul). Fonte: www.thedesignatedsketcher.com Acesso: 24/01/2013

Figura 64 Perspectiva explodida, que permite o entendimento de como as camadas de linhas, pontos e planos sobrepõem-se e interagem, para organizar a paisagem do Parque. Fonte: www.archdaily.net Acesso: 24/01/13

Já as linhas são os caminhos e passarelas, com destaque para as galerias Norte-Sul, que prolonga o Grande Salão e a Galeria Leste-Oeste que prolonga o canal, que são os eixos de coordenadas da grelha de pontos e as ligações entre a folies e os edifícios. No que diz respeito aos planos ou superfícies, Tschumi afirma 48


que as superfícies autônomas como pavimentação, curso d’água, gramado, asfalto, etc contribuem com o dinamismo das superposições, insinuando a demarcação de áreas de uso aberto sem limita-las. O arquiteto considerou ainda que os elementos do programa seriam intermutáveis e que as prioridades poderiam ser alteradas, fazendo com que uma parte substitua a outra. Dessa maneira, segundo ele, a identidade do parque poderia ser mantida, enquanto cenários externos como a política institucional ou o contexto local sofressem modificações. Tschumi procurou ainda desenvolver uma estrutura que permitisse o questionamento da ordem geral e seus limites, preservando as relações de conflito em detrimento de uma totalidade absoluta, sem, no entanto perder a lógica interna e seus objetivos. (NESBITT, 2006) As circunstancias gerais do projeto foram as de determinar uma estrutura e uma organização, sem centro ou hierarquia, independentes do uso, de modo a negar qualquer relação entre programa e arquitetura resultante. (SOUZA, 2002)

Figura 65 Imagens do parque destacando a progressão dos elementos: primeiramente os edifícios e suas massas sólidas, em seguida os caminhos e percursos, e finalmente as folies entendidas como elementos singulares e coletivos simultaneamente. Fonte: Arquivo Pessoal

49


Nas palavras de Tschumi: “Nós tínhamos que projetar um parque: a rede de pontos era antinatural. Nós

tínhamos

que

preencher

um

certo

número

de

funções;

antifuncional. Nós tínhamos que ser realistas: a rede de pontos era abstrata. Nós tínhamos que respeitar o conceito local: a rede de pontos era anticontextual. Nós tínhamos que ser sensíveis aos limites do local: a rede de pontos era infinita. Nós tínhamos que ter conhecimentos prévios de paisagismo: a rede de pontos não tinha origem, se abria em uma infinita recessão dentro de imagens e sinais”.

22

O parque com seus elementos compositivos marcantes, parece ter conseguido atingir seu objetivo de ser um elemento incompleto e conflituoso, porem organizado dentro de uma logica espacial apreensível, e tornou-se, para a cidade de Paris um lugar de atividades culturais diversas como workshops, atividades físicas, playgrounds, concertos e exibições, experimentos científicos, jogos e competições, e ainda conta com o Museu da Ciência e Tecnologia e a Cidade da Música, com atividades próprias. Recebendo cerca de oito milhões de visitantes por ano, o parque no mínimo, desperta a curiosidade dos visitantes e certamente inspira outros projetos semelhantes ao redor do mundo. (SITE TSCHUMI) 23

2.3.2. Euralille

No inicio dos anos 80, o sistema de trens de alta velocidade (TAV) da Europa sofreu um processo de expansão, oferecendo assim, à cidade de Lille na França, com seus 350.000 habitantes, a possibilidade de desenvolver um grande projeto urbano em uma área residual da cidade.

22 23

TSCHUMI, Bernard, 1995 apud SOUZA, Carlos Leite de, 2002. Site oficial de Bernard Tschumi, disponível em <http://www.tschumi.com/projects/3/#>

50


O OMA (Office for Metropolitan Architecture) foi o vencedor do concurso de ideias com um partido revolucionário, que passou a ser referência mundial. Em seu projeto o OMA propunha a construção de uma Euralille (Lille europeia) defendendo a ideia de construções de alta densidade, sem a limitação da sua função, favorecendo a flexibilidade programática. (SOUZA, 2002)

Figura 66 Parte da cidade de Lille, destacando em amarelo a área total da Euralille, na qual podemos perceber que a escala do projeto não encontra correlação na escala da cidade. Fonte: Arquivo Pessoal

Figura 67 Detalhe da ruptura que a Euralille configura no tecido urbano de Lille Fonte: Arquivo Pessoal

Euralille iria configurar-se como uma metrópole europeia virtual a partir de suas infraestruturas e da nova relação de tempo/espaço proporcionada pelo TAV, metro de Lille, e a rodovia Paris-Bruxelas. Euralille estaria, por exemplo, a 59 minutos de Paris, 39 de Londres e 27 de Bruxelas. (SOUZA, 2002) A proposta consistia na construção de um empreendimento de 700.000 m², no qual conceitos defendidos pelo escritório OMA (liderado por Rem Koolhas), mostravam-se presentes nessa intervenção: “bigness arquitetônica”, “sobreposição programática” e “plugagens infraestruturais”. (SOUZA, 2002) “Nos sete níveis, encontram-se as duas rodovias ampliadas, a estação do metrô, um enorme estacionamento com 8.000 vagas, a estação do trem regional e a estação do TAV. No espaço de ligação entre todas essas infraestruturas surge um grande centro de infra-estrutura metropolitano com comércio, habitação, hotéis, escritórios e muito lazer: o Euralille Center e as

51


lâminas habitacionais e de serviços (...) Todas as peças programáticas 24

estão interligadas nos mais diversos níveis.”

O

OMA,

além da

estratégia

urbanística,

arquitetônicos: a ponte Le Corbusier e o Congrexpo.

projetou dois

elementos

A ponte é estrutura mista

constituída de laje de concreto e apoios e marcos de aço, sobre um grande espelho d´água. A Congrexpo tem como programa de área de exposições, congressos e sala de espetáculos com 5.000 lugares, é uma obra de escala enorme que emprega materiais bastante rústicos. (SOUZA, 2002) No entanto, é o sistema de transportes, o grande responsável pela sustentação

do

empreendimento, configurando-o

como

um

grande

polo

metropolitano e de conexões internacionais.

Figura 67 Vista Geral do complexo da Euralille, destacando a horizontalidade do projeto, com alguns pontos de maior verticalidade em função de programas complementares Fonte: www.oma.eu Acesso: 25/01/2013

Figura 68 Mapa esquemático do complexo, destacando as grandes áreas verdes que preenchem os espaços e conectam os elementos do projeto. Fonte: www.pss-archi.eu Acesso: 25/01/2013

24

SOUZA, Carlos Leite de, 2002, pág. 136

52


SOUZA (2002) afirma que o “gigantismo programático” visa atender uma demanda europeia e não local, e que o empreendimento está inexoravelmente ligado ao sistema do TAV, ainda em fase de expansão pelo território europeu. Euralille dessa maneira proporcionou destaque à cidade de Lille, e a colocou no contexto das metrópoles europeias em função de sua localização estratégica e demanda atual de passageiros desse sistema de transportes, muito embora a questão da escala do projeto ainda receba duras críticas.

Figura 69 Percepção do observador do edifício principal da estação Euralille com sua intenção de pertencer a um contexto europeu e não apenas da cidade de Lille Fonte: www.abduzeedo.com Acesso:25/01/2013

Figura 70 Interior da estação Euralille, talvez não tão surpreendente quanto seu exterior e sua escala. Fonte: www.oma.eu Acesso:25/01/2013

53


CapĂ­tulo 3.

A ideia de lugar no pensamento urbano.

54


3. A ideia de lugar no pensamento urbano.

Segundo BACHELARD (2008), nossa imaginação trabalha a imagem dos espaços, processando os valores referentes a eles e à nossa própria experiência de vida. Realizando uma abordagem através da poesia, BACHELARD (2008) propõe uma topo-análise, para estudar a manifestação dos lugares físicos de nossa vida íntima, na consciência e nas lembranças. Dando continuidade a essa abordagem, o geógrafo Yi-Fu Tuan (1980), desenvolve o conceito de topofilia, que procura entender as relações afetivas entre as pessoas e os espaços. O conceito de lugar refere-se então aos espaços que nos são familiares, que fazem parte de nossas vidas, que nos dão identidade própria e com os quais criamos laços afetivos. Englobando assim os aspectos sensíveis, empíricos e por vezes simbólicos, o lugar é então, a essência dos acontecimentos históricos e da complexa rede de relações urbanas, e portanto abarca diversos contextos como social, histórico, politico, cultural e físico. Podemos então dizer que a ideia de lugar esta ligada ao pensamento urbano contemporâneo, uma vez que as relações afetivas que criamos com o espaço, as lembranças, sensações e significados que depositamos nestes espaços, são capazes de ativa-los e destaca-los dentro da cidade, fazendo com que tenham uma vivacidade ou algum tipo de atividade de destaque. Dessa maneira, (DANTAS, 2007) as pessoas dão identidade a um espaço, que por sua vez dá identidade a cidade, que reafirma a identidade das pessoas, numa cadeia cíclica de identificação e reconhecimento. A questão do lugar relaciona-se também com a questão da cultura urbana, dentre outros fatores, pela problemática do “regional x global”: de um lado uma cultura universal, baseado na homogeneidade de identidade, e do outro a singularidade de determinada civilização e sua individualidade cultural (DANTAS, 2007). Segundo Carlos Felipe Dantas (2007), no embate entre local e global, é necessário preservar os valores e resgatar o passado cultural local, mas ao mesmo tempo devemos gerar possibilidades de ingressar e acompanhar os avanços da mo55


dernidade da sociedade universal. Não interessa portanto, uma visão nostálgica da cidade, mas sim conciliar tais culturas, de modo a preservar a identidade cultural sem fechar a cidade para o mundo. O mesmo autor afirma que arquitetura tem um papel importante neste conflito, ela e o sítio relacionam-se diretamente por meio do manejo da topografia, luz, clima, materiais, contexto cultural, etc. Sendo assim, trabalhar tais questões, é não ignorar a localização do edifício, e também acompanhar o pensamento urbano contemporâneo, provocando uma transformação do “lugar”, tanto em suas características físicas quanto culturais e simbólicas. A ideia de lugar é, portanto, de suma importância para o entendimento do papel da cidade na vida das pessoas, e também para entendermos melhor as consequências de se intervir nessa cidade. Considerando esta pequena parte da questão do lugar, analisaremos em seguida, a percepção de alguns arquitetos, que buscaram teorizar suas intervenções e interpretações da relação entre arquitetura e lugar nas cidades. Talvez contrárias, mas não necessariamente excludentes, as interpretações desses arquitetos nos oferecem um panorama sobre as cidades atuais e as diferentes possibilidades para lidar com elas. Observamos que, como fator comum entre esses arquitetos está a ideia de que “lugar” é mais do que o aspecto físico-topográfico, existe uma aura sensorial a qual, nos parece, que devemos buscar através da arquitetura.

3.1. Rossi

Segundo o arquiteto italiano Aldo Rossi, o lugar, ou “locus” como o mesmo autor prefere dizer, consiste na “relação singular, mas universal que existe entre certa situação local e as construções daquele local”. Vittorio Gregotti membro do grupo La Tendenza do qual Rossi fazia parte, e com quem compartilhava a mesma visão, afirma: “Não imaginamos o espaço como extensão uniforme e infinita, onde nenhum lugar é privilegiado, é Figura 71 Aldo Rossi Fonte: www.artemide.com Acesso: 26/01/2013

56


formado por diferenças e descontinuidades, entendidas como valor e experiência. A organização do espaço parte então da ideia de lugar (...)”.25 Portanto Rossi entende que a cidade é formada por pedaços singulares e únicos, responsáveis pelos acontecimentos cotidianos da cidade, que ele chama de fatos urbanos, que são, por exemplo, igrejas, casas particulares, monumentos, praças, entre outros.

Aldo Rossi divide ainda estes fatos em área-residência e

elementos primários, ou seja, esfera particular e esfera privada, e destaca alguns deles como elementos primários como aqueles capazes de promover uma aceleração do processo urbano: monumentos e atividades fixas como lojas, edifícios públicos, universidades, hospitais ou até mesmo um acontecimento. Cada um desses elementos primários oferece condições distintas para que o crescimento urbano se realize, e influencia também nos significados que o lugar possuirá (ROSSI, 2001). Rossi afirma ainda que por vivemos predominantemente em cidades, que são paisagens construídas, em cada situação buscamos referencias em outras situações, isto é, procuramos entender e dar significado aos lugares através da experiência que temos com outros lugares. Para Rossi a arquitetura conforma o sítio, e as formas dessa arquitetura mudam juntamente com o sítio. A arquitetura, tanto serve a determinados acontecimentos quanto constitui um acontecimento. Quando sítio e arquitetura ganham significados, passam a configurar então, lugares (ROSSI, 2001). Rossi entende a cidade como “depositária de história” por si mesma, em outra palavras uma cidade é, para o arquiteto, uma soma de tempos edificados. Em função disso Rossi acredita que a cidade só pode se desenvolver a partir de suas referências isto é, se algo pode ser reconhecido como valor é por que encontra, no espaço construído e não na mente, o fator que poderá servir de referência para a intervenção. A cidade para Rossi então, cresce sobre si mesma em um movimento contínuo de reconhecimento e transformação, e, os elementos que permanecem, organizam o desenvolvimento futuro (ROSSI, 2001). A arquitetura da cidade transforma-se assim, em experiência autobiográfica, fazendo com que lugares e coisas mudem com a sobreposição de novos 25

GREGOTTI, Vittorio in NESBITT, Kate (org.), 2006, p. 374

57


significados e criando uma memória urbana continua, porém mutável (ROSSI, in NESBITT, 2006). Nas palavras de Rossi: “estou pensando em objetos familiares cuja forma e posição já são fixas, mas cujos significados podem ser modificados” 26. Aldo Rossi afirma ainda que a singularidade dos fatos urbanos e sua capacidade de receber diferentes significados aproximam tais fatos urbanos da arte, e dessa maneira, a cidade, a construção e o monumento tornam-se a coisa humana por excelência (ROSSI, 2001). Diante dessas ideias, Rossi faz uso de uma arquitetura analógica, baseandose na operação “lógico-formal” da analogia (ROSSI, in NESBITT, 2006), que segundo Carl Jung: “Pensamento ‘lógico’ é o que exprime em palavras dirigidas ao mundo exterior na forma de discurso. O pensamento ‘analógico’ é percebido ainda que irreal, imaginado mesmo que silencioso: não é um discurso, mas uma meditação sobre temas do passado, um monólogo interior”.

27

Rossi busca, por meio de determinadas formas geométricas primitivas despertar, por analogia e associação, uma espécie de memória coletiva. (ROSSI, in NESBITT, 2006) Segundo o arquiteto as relações com o contexto determinam o significado, reafirmando o que Walter Benjamim disse: “eu sou indiscutivelmente deformado pelas relações com tudo que me cerca”.28 As intervenções de Rossi na cidade, portanto, procuram não imitar ou mimetizar, mas deixar claros os contrastes urbanos. O arquiteto propõe uma continuidade histórica sem historicismo, uma arquitetura sobreposta como um acréscimo à natureza (ROSSI, in NESBITT, 2006), com o objetivo de fundir as coisas novas e velhas em um único e ambíguo corpo. Para o arquiteto as intervenções formais revelam a natureza por meio da modificação, medição e utilização da paisagem e revelam ainda a verdadeira poética do local da construção, que se tornando-se mutuamente indispensáveis criando uma arquitetura do contexto (ROSSI, in NESBITT, 2006). Podemos concluir então que Aldo Rossi sustenta a cidade como sendo inseparável da historia, e dessa maneira, o contexto urbano tem uma dimensão 26

ROSSI, Aldo in NESBITT, Kate (org.), 2006, pág. 380 JUNG, Carl apud NESBITT, Kate (org.), 2006, pág. 377 28 ROSSI, Aldo in NESBITT, Kate (org.), 2006, pág.. 378 27

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temporal própria e importância fundamental, que devem ser considerados ao realizar qualquer tipo de intervenção, caso contrario a preexistência, sua memoria e significados serão destruídos. E ainda que a arquitetura do lugar, para o mesmo Rossi, é sempre uma arquitetura do compromisso e da interpretação de tal contexto, do diálogo e da busca por uma identidade tanto no tempo quanto no espaço (ROSSI, in NESBITT, 2006)

3.2. Lynch

O arquiteto estadunidense Kevin Lynch apesar de não tratar especificamente da questão do lugar, trabalha com o conceito de imagem da cidade, isto é, como seu aspecto físico é percebido pelos observadores/cidadãos. Para isso, ele aborda a cidade à partir de alguns elementos que estruturam o espaço (vias, marcos, limites, bairros e pontos nodais) e Figura 72 Kevin Lynch Fonte: www.librarything.com Acesso: 26/01/2013

apresentam caráter e significado e sendo assim, são capazes de definir lugares urbanos. As imagens da cidade, portanto,

podem referir-se aos lugares da cidade (LYNCH, 2008). Segundo Lynch a cidade é uma obra arquitetônica, ou seja, é uma construção física no espaço, que devido a sua escala, só pode ser percebida no decorrer do tempo. LYNCH (2008) afirma ainda que na cidade nada é vivenciado por si só, mas sempre em relação ao entorno, aos elementos que estão próximos, e ainda às lembrança de outras experiências. Para o arquiteto a cidade é uma sucessão de fases, que não podem ser totalmente controladas e que sua forma, não chegará a um resultado final. (LYNCH, 2008) Portanto, na cidade, mesmo que com essas mudanças e transformações, estamos sempre em alguma posição espacial em relação a alguma referência: do lado da árvore, no centro da praça, na esquina da rua etc., sendo que algumas dessas posições/relações, podem envolver emoções e recordações. De acordo com Kevin Lynch as imagens da cidade apresentam três componentes: identidade, estrutura e significado, dos quais estuda a “identidade” e a 59


“estrutura”, já que o “significado” é muito variável e mutável, difícil de ser influenciado por elementos físicos como os outros dois componentes (LYNCH, 2008). Assim sendo, a configuração de uma imagem, de acordo com LYNCH (2008), necessita primeiramente da identificação de um objeto que seja distinguível de seu contexto, um elemento que seja dotado de individualidade e particularidade. Em segundo lugar deve existir uma relação estrutural ou espacial do objeto com o observador e com outros objetos. E por ultimo, o objeto em questão deve ter um significado pratico ou emocional para o observador. Quando esta imagem nos é familiar, podemos considerar que se trata de um lugar, uma vez que pode ser estudado e identificado também a partir dessas três componentes. LYNCH (2008) propõe então, uma investigação da estrutura do espaço concreto através elementos que embasam a orientação das pessoas no espaço. O autor destaca duas questões fundamentais para a qualidade do ambiente visual, isto é, para a imagem da cidade: a imaginabilidade e a legibilidade. A legibilidade é a facilidade com que as partes da cidade podem ser reconhecidas e organizadas num modelo coerente (LYNCH, 2008) enquanto a imaginabilidade é característica de um objeto físico que “facilita a criação de imagens mentais vividamente identificadas, fortemente estruturadas e de grande utilidade do ambiente”

29

em qualquer

observador, sem ser, necessariamente, uma característica fixa, limitada, ordenada, unificada, nem tão pouco obvia, visível ou clara. Esses conceitos relacionam-se com a ideia de lugar uma vez que este deve ser legível e identificável dentro da cidade por suas características únicas e também deve ter propriedades que vão além da forma física e que possam evocar algum sentimento. A construção da imagem urbana, para LYNCH (2008) acontece na relação entre observador e ambiente. Sendo que a imagem mental é a identidade sólida do lugar devido a suas características notáveis que lhe confere diferenciação do restante da cidade. Lynch afirma ainda que o observador deve ter papel ativo na percepção do mundo e uma participação criativa no desenvolvimento de sua imagem. E para isso os lugares devem apresentar uma ordem aberta, passível de 29

LYNCH, Kevin, 2008, pág. 9

60


continuidade em seu desenvolvimento, uma vez que quanto mais associações, maior será a força da imagem, e ainda que uma única maneira de se imaginar a cidade, pode configurar um cenário monótono, restritivo e estéril (LYNCH, 2008). Para Lynch (2008) uma imagem, necessita de organização visível e identificação nítida, mas ainda sim deve ser aberto para interpretação, para que os cidadãos consigam preenche-los com seus próprios significados, lembranças e sentimentos. Dessa maneira a imagem poderá definir um lugar, notável e inconfundível. Lynch conclui, portanto que um ambiente visual qualificado não pode ser um mero

facilitador

de

deslocamentos

apenas

organizado

e

estruturado,

ou

simplesmente confirmar significados preexistentes. Ele deve ser poético e simbólico (LYNCH, 2008), estimulando novas buscas e explorações urbanas, além de inspirar novas apreensões da cidade e seus lugares.

3.3. Koolhaas

Uma visão mais radical sobre o conceito de lugar faz parte do discurso do arquiteto holandês Rem Koolhaas, principal sócio do escritório OMA (Office for Metropolitan Architecture) e autor de diversos livros e publicações teóricas sobre arquitetura, cidades e contemporaneidade. Baseando-se em realidades espaciais da metrópole contemporânea (DANTAS, 2007), que segundo Figura 73 Rem Koolhaas Fonte: www.dexx.org Acesso: 26/01/2013

Koolhas são: desordem, incerteza e contradição, Koolhaas não considera

o

projeto

arquitetônico

como

uma

ferramenta

estruturadora da ordem urbana, e talvez por isso, exclua o programa de reformas sociais e desacredite de uma construção harmônica da cidade (KOOLHAAS, in NESBITT, 2006). Koolhaas produz uma arquitetura articulando dissonâncias à partir do caos urbano, sem no entanto intensifica-lo. Segundo Koolhaas a mutabilidade cada vez mais veloz da cidade contemporânea, a torna difícil de compreender, pela sua complexidade e pelo fato da escala que atinge ultrapassar os limites da legibilidade humana. Isso é o que este arquiteto define como “Grandeza” (DANTAS, 2007). 61


A cidade a que Koolhaas se refere, é formada por fragmentos herdados principalmente do pensamento urbano modernista (KOOLHAAS, in NESBITT, 2006), onde questões abstrato-formais e estilísticas sobreviveram enquanto o programa urbano apresentava uma inflexível simplicidade dos desenhos urbanos, imaginados como se a complexidade da vida cotidiana pudesse ser facilmente resolvida por um desenho funcional sem perturbar o território da cidade e/ou provocar desorientação. Nessa mesma cidade, a crescente mutabilidade urbana desloca o centro de gravidade da dinâmica urbana do centro da cidade para a periferia, que não cessa de crescer e possui uma notável criatividade para escapar das regras urbanísticas.

Segundo o

mesmo autor (KOOLHAAS, in NESBITT, 2006), trata-se de um fenômeno mundial. Nesse sentido, Koolhaas defende que devemos esquecer o fascínio pela autoridade absoluta da arquitetura tanto em criar lugares, quanto em dizer como as coisas devem ser, e passar a atentar para as forças que contribuem para a formação do espaço, uma vez que segundo o próprio Koolhaas essa mistura de elementos formais e informais além da combinação de ordem e desordem são condições essenciais da cidade, e são matérias primas do projeto arquitetônico (KOOLHAAS, in NESBITT, 2006). No entanto, esses pedaços de cidade exercem algum tipo de atração que, segundo KOOLHAAS, se deve a uma beleza ainda não reconhecida, da qual caraterísticas recorrentes tem sido ignoradas, uma vez que abominamos esse tipo de cidade, embora ela seja atualmente a forma que predomina (KOOLHAAS, in NESBITT, 2006). De acordo com o pensamento do arquiteto holandês, a história deposita sua memória na cidade, mas este processo está em vias de extinguir-se, devido, novamente, à mutabilidade urbana e principalmente ao crescimento exponencial da população humana que gera novos valores e significados que vão reduzindo a historia e sua importância. Para Rem Koolhaas (2010) isso não passa de um processo natural. Quando a história e o caráter de uma cidade forem removidos restará, o que Koolhaas chama de cidade genérica que consiste em cidades superficiais, destituídas de marcas próprias, sem relações afetivas ou nostálgicas, que se destrói e reconstrói constantemente (KOOLHAAS, 2010). A história passa a ser um serviço e um produto na cidade genérica, fabricando identidades urbanas em série, fundamentadas em 62


culturas redundantes universalmente aceitas repetidas à exaustão. Essa é a imagem que Koolhaas nos oferece. Koolhaas nos diz que, por outro lado, quanto mais forte a identidade de uma cidade mais ela resiste à expansão, renovação e interpretação. Para o arquiteto, a identidade centraliza, insiste em uma essência, enquanto o crescimento urbano sugere uma desfocagem, um olhar para a periferia, criando uma contradição inevitável (KOOLHAAS, 2010). Koolhaas destaca também, o frenesi atual para ocupar os lugares vazios da cidade, (KOOLHAAS, in NESBITT, 2006) principalmente com espaço-lixo (junkspace). Segundo Koolhaas: “espaço-lixo é o grande cenário, representa continuidade, proliferação, confunde o público, é o espaço sem identidade, substitui hierarquia com acumulação e composição com adição”

30

. Tornando as cidades um lugar sem arte,

sem imaginação e sem criatividade enquanto que a qualidade sublime dos espaços verdes poderia nos oferecer uma nova versão de cidade, não mais definida por seus espaços construídos mas pelos espaços vazios (KOOLHAAS, in NESBITT, 2006). Frente a todos esses processos urbanos contemporâneos, os quais KOOLHAAS (2010) define como naturais, universais e inerentes à cidade contemporânea, o arquiteto afirma que dada a escala de algumas arquiteturas atuais, elas não fazem parte de nenhum tecido urbano, e então exclama: “foda-se o contexto” 31. O arquiteto reforça, usando outras palavras: “não se trata de onde a construção esta, mas os lugares com que ela se relaciona é que lhe definem a importância”

32

e

ainda: “A grandeza não retira sua inspiração do existente, tantas vezes espremido para se obter uma última gota de significado; gravita oportunisticamente para localizações de máxima promessa infra-estrutural; é definitivamente sua própria 33

raison d’être”.

Portanto, podemos concluir que apesar da aparente ausência do lugar, este arquiteto busca em seus projetos, a estabilidade em uma dimensão mais ampla que a do entorno, procurando conexões mais coerentes e mais constantes, que abarquem a 30

KOOLHAAS, Rem, 2010, pág. 4 KOOLHAAS, Rem, 2010, pág. 18 32 KOOLHAAS, Rem in NESBITT, Kate (org.), 2006, pág. 366 33 KOOLHAAS, Rem, 2010, pág. 29 31

63


dimensão da cidade como um todo, buscando ainda a criação de lugares em sintonia com a dinâmica atual e com essa realidade urbana mutante (DANTAS, 2007).

3.4. Norberg-Schulz

Um estudo da questão do lugar não poderia deixar de lado o arquiteto e teórico norueguês Christian Norberg-Schulz, entusiasta da fenomenologia em arquitetura. Segundo este autor o proposito existencial da arquitetura é fazer um sitio tornar-se um lugar, diferenciando-o no espaço, tal Figura 74 Christian Norberg-Schulz Fonte: www.aho.no Acesso:26/01/2013

qual uma ponte particulariza o sitio em que está localizada do restante das margens (NORBERG-SCHULZ, in NESBITT, 2006).

Norberg-Schulz entende o lugar como um “fenômeno qualitativo total, que não se pode reduzir a nenhuma de suas propriedades, sem que se perca de vista sua natureza concreta”.34 Em outras palavras, é a partir da junção de todas as características concretas dos elementos do espaço, tais quais texturas, formas e cores, que podemos diferenciar um lugar, dar a ele uma qualidade, um caráter, entendido, pelo autor em questão, como sendo a essência do lugar. Devemos considerar ainda, que espaço e caráter são de acordo com Norberg-Schulz, essencialmente interdependentes (NORBERG-SCHULZ, in NESBITT, 2006). Portanto o modo como as coisas são feitas ou construídas é que define o caráter de um lugar. Tal caráter seria então, a atmosfera geral e também a substância concreta dos elementos que o definem. Norberg-Schulz afirma: “o detalhe explica o lugar e manifesta sua qualidade peculiar”

35

. Como exemplos o

próprio autor cita que, tanto nos detalhes quanto no aspecto geral, espera-se que uma igreja seja solene, que um salão de festas seja festivo, que um escritório seja prático, e assim por diante (NORBERG-SCHULZ, in NESBITT, 2006). É importante

34 35

NORBERG-SCHULZ, Christian, in NESBITT, Kate, 2006, pág. 445 NORBERG-SCHULZ, Christian, in NESBITT, Kate, 2006, pág. 443

64


destacar também que os lugares variam em função do passar do tempo e também em função de como vivem as pessoas. Para Norberg-Schulz “Toda presença real esta intimamente ligada a um caráter”

36

, e tanto o que se faz presente quanto o caráter não são nem fixos nem

eternos. Eles modificam-se naturalmente, algumas vezes com maior velocidade que outras, mas sem obrigatoriamente fazer tabula rasa do genius locci, que seria o conceito referente ao espírito do lugar, que entende-se que deve ser revelado e enfatizado pela arquitetura, presente no trabalho de outros arquitetos como Rossi, Siza, Tadao Ando, dentre outros. Outra questão fundamental da análise deste autor sobre a questão do lugar seria a relação interior/exterior. Os lugares apresentam diferentes graus de cercamento e extensão (NORBERG-SCHULZ, in NESBITT, 2006). Então é importante perceber como são as fronteiras que definem um lugar: como o lugar toca o solo e o modo como se estende para o céu e ainda como são as fronteiras laterais de um lugar principalmente de um lugar urbano. Os lugares para Norberg-Schulz fazem parte da existência humana, uma vez que são referencia para acontecimentos, nesse sentido o arquiteto afirma que “a identidade humana pressupõe a identidade do lugar”

37

, isto é a identidade de uma

pessoa se dá em função do seu lugar e suas coisas. Por exemplo, dizer “sou de Roma” ou “sou de Nova Iorque”, oferece uma carga maior de informações do que dizer “sou arquiteto” ou ainda “sou escritor” (NORBERG-SCHULZ, in NESBITT, 2006). Citamos anteriormente que o espaço e o caráter podem modificar-se com o tempo, no entanto Norberg-Schulz ressalta que certa estabilidade dos lugares é fundamental para nossas vidas, para que possamos assim, habitar tais lugares (NORBERG-SCHULZ, in NESBITT, 2006). Norberg-Schulz afirma ainda que habitar significa reunir, juntar e construir o mundo como coisa concreta, e que o ato fundamental de construir é confinar o espaço. Porém isto não é suficiente, e o homem necessita então, de habitar poeticamente o mundo, dotando o de significados, baseados em sua vida cotidiana. Nas palavras do autor: “Artistas e escritores buscam inspiração no caráter local e

36 37

NORBERG-SCHULZ, Christian, in NESBITT, Kate, 2006, pág. 451 NORBERG-SCHULZ, Christian, in NESBITT, Kate, 2006, pág. 457

65


tendem a explicar fenômenos da vida cotidiana e da arte por referência a paisagens e ao contexto urbano”. 38 Em função de tudo isso, Norberg-Schulz (in NESBITT, 2006) conclui que a obra de arte ajuda o homem a habitar, por que ela concretiza abstrações da ciência e reúne as complexidades e contradições da vida. A arquitetura enquanto arte, também ajuda o homem a habitar, no entanto, fazer construções não é suficiente: há de se realizar o genius locci pela arquitetura, compreendendo a vocação do lugar, e esclarecendo que ser humano é parte integrante do lugar.

3.5. Siza

O arquiteto português Álvaro Siza, busca uma nova abordagem para cada situação de projeto, baseando-se sempre em uma rigorosa pesquisa do sitio a fim de identificar dados relevantes do contexto e definir uma nova proposta arquitetônica que se relacione especificamente com o sitio em questão. Cada situação leva a um método e a uma ordem diferentes, pois para Siza, cada sítio exige uma aproximação e interpretação Figura 75 Álvaro Siza Fonte: www.veredes.es Acesso:26/01/2013

diferentes dependendo das condições que sugere (DANTAS, 2007).

Siza afirma que a arquitetura deve revelar as potencialidades do local, mas deve ir além de trivialidades e constatações óbvias das características físicas do sítio, considerando aspectos intuitivos, latentes, sensíveis, subjetivos e abstratos, agregando valor intangível ao lugar (DANTAS, 2007). Para isso destaca o papel da sensibilidade do arquiteto para com o sitio e para com o programa a ser respondido. Segundo (apud DANTAS, 2007) o arquiteto deve-se conciliar o novo com o préexistente em uma composição rigorosa, racional, mas também emocional A arquitetura deve somar significados ao sítio valorizando-o e ampliando o entendimento sobre o mesmo, em outras palavras arquitetura e sitio devem formar um único e silencioso discurso. 38

NORBERG-SCHULZ, Christian, in NESBITT, Kate, 2006, pág. 455

66


Álvaro Siza procura trabalhar as contradições sem radicalismo, aproximando as tensões locais do que é influencia do tempo e da sociedade. O arquiteto entende que a construção gera impacto, mas não necessariamente prejudica o espirito do lugar (DANTAS, 2007). Entende também que o lugar deve suportar a dinâmica da cidade, e dessa maneira a relação do projeto com o sitio pode vir a ser a negação ou a busca por uma redefinição do lugar. Para este arquiteto, o projeto parte então da condição real do sitio e no caráter plural da cidade contemporânea. Considera também a incapacidade do arquiteto de ter domínio sobre toda a situação, procurando trabalhar os conflitos, descontinuidades e discordâncias que identifica no território, principalmente por meio de intervenções baseadas em articulações, fusões, conciliações e compatibilizações (DANTAS, 2007). Siza (apud DANTAS, 2007), afirma que o valor histórico e as influências da cultura contemporânea não devem ser barreiras ou obstáculos, e sim elementos básicos que inspirem a arquitetura, através de confluências em uma possível fusão do global e do local. Seu trabalho mostra uma resistência ao processo de globalização que tenta reduzir as particularidades de cada lugar, e uma atenção a detalhes subjetivos do sitio. Outro aspecto importante na visão de Siza sobre a construção do lugar é a harmonização entre beleza poética e estrutura técnico-construtiva, como resposta às exigências do lugar e aos interesses socioculturais dos destinatários. Sendo assim Siza é atento também, aos detalhes construtivos, parcela essencial de seus projetos, responsável por criar uma unidade entre construção e natureza (DANTAS, 2007). De tudo isso, podemos concluir que para Álvaro Siza, natureza e arquitetura são coisas distintas e autônomas, embora exista entre elas uma complementaridade natural. Sitio e arquitetura, na visão de Siza, complementam-se mutuamente, como uma parceria que se pretende harmônica e equilibrada, agregando identidade ao lugar, numa aproximação e distanciamento simultâneos entre arquitetura e elementos naturais (DANTAS, 2007).

67


Capítulo 4.

A Relevância do

Patrimônio Cultural

68


4. A Relevância do Patrimônio Cultural.

Falamos anteriormente da questão das relações afetivas que criamos com espaços de nossa cidade, destacando a cultura local e a necessidade de preservação e conciliação desta, frente à cultura global. Falamos ainda na importância de destacar a singularidade que existe em cada cidade. Muitas vezes, a individualidade de uma cidade reside, dentre outras coisas, em seu patrimônio histórico, artístico e cultural, com o qual também podemos eventualmente criar laços sentimentais. Sendo assim, um breve entendimento sobre patrimônio se faz necessário neste momento. Segundo a UNESCO: “Patrimônio é o legado que recebemos do passado, vivemos no presente e transmitimos às futuras gerações. Nosso patrimônio cultural e natural é fonte insubstituível de vida e inspiração, nossa pedra de toque, nosso ponto de referência, nossa identidade.”

39

Patrimônio seria então, um conjunto de bens históricos, culturais (materiais ou imateriais) e naturais, que tenham seu valor reconhecido por uma comunidade, em função de relação afetiva, funcional outro tipo de valor que possa ser atribuído. O patrimônio é, por essência, de direito público da comunidade no qual está inserido. Françoise Choay (2006) considera o patrimônio como um universal cultural que se apresenta em quase todas as sociedades, sob a forma edifícios com uma função memorial: “Chamar-se-á monumento tudo o que for edificado por uma comunidade de indivíduos para rememorar ou fazer que outras gerações de pessoas rememorem acontecimentos, sacrifícios, ritos ou crenças”40

39 40

Definição de patrimônio segundo a Unesco, CHOAY, Françoise, 2006, pág.18

69


Segundo a mesma autora, o monumento atua sobre a memória com um forte apelo afetivo: “não se trata de apresentar, de dar uma informação neutra, mas de tocar, pela emoção, uma memória viva”. 41 Preservar tal patrimônio histórico e cultural baseia-se no fato de ele ser portador e materializador de grande quantidade de informações sobre variadas áreas do saber de diferentes tempos. Em resumo, podemos dizer que ele é o testemunho de outra sociedade, um passado localizado no espaço para preservar ativamente uma identidade, e assim preservar o aspecto emocional da cidade, sua capacidade de nos inspirar.

Figura 76 Machu Pichu. Porto e Paris: cidades patrimônios da humanidade por serem capazes de comunicar ideias e transmitir sensações, são carregadas de significados e capazes de inspirar artistas por todo o mundo, até mesmo para aqueles que não as conhecem pessoalmente. Fonte: Arquivo Pessoal

4.1. A Ideia de Patrimônio Cultural

No Brasil, a Constituição Federal de 1988 consolidou uma mudança de pensamento com relação ao patrimônio e sua preservação: da ideia de patrimônio histórico e artístico nacional, relacionado apenas a fatos memoráveis da historia e seu 41

CHOAY, Françoise, 2006, pág.18

70


valor excepcional, passou-se a tratar de “patrimônio cultural” e a entendê-lo como portador de referência, de identidade, de ação e ainda de memória de diferentes grupos de pessoas. Este entendimento ampliado de patrimônio, divulgado inicialmente através da publicação da CARTA DE VENEZA de 1964, é aceito até hoje, e é esta mesma publicação que afirma: “Este fim de século mostra a saturação de certas práticas e certas teorias e nos empurra para a busca de alternativas aptas a acercarem-se da identificação, documentação, proteção e promoção do patrimônio cultural, em sua pluralidade. Se antes as políticas públicas privilegiavam os monumentos barrocos e a homogeneidade dos conjuntos arquitetônicos setecentistas, agora são as cidades e as diferenças que o espaço urbano concentra que estão no centro da cena. O patrimônio cultural é hoje composto, construído e tecido na vida cotidiana de todas as cidades, não apenas daquelas chamadas históricas, pois afinal a história de Minas não parou no século XVIII, nem a história do Brasil começou com a chegada dos portugueses. Agora que a orientação linear da História encontra-se sob relativa suspeição, a ocupação do território, com seus diferentes modos de criar, fazer e viver exigiu a superação da clássica distinção entre cultura e natureza. Agora, que a natureza não é mais um ambiente a ser explorado, mas uma parceira com a qual é preciso contar, querer ater-se apenas ao econômico, ou tolerar as representações desde que permaneçam limitadas ao nebuloso domínio da cultura, não é mais possível, porque a vida humana é uma mistura de ciência e poesia, de razão e paixão, de lógica e mitologia. Tudo isso ilustra os minúsculos, mas sólidos, fios que estruturam a trama sociocultural, e nos remete à necessidade de apreender o modo pelo qual cada um dos elementos da trama repercute nos demais. Não há objetos menores na existência social, tampouco há referências culturais menos nobres: todos os elementos – sejam eles quais forem – repercutem uns sobre os outros.”

42

Então, podemos dizer que o patrimônio são todas aquelas coisas que fazem parte da vida urbana, sejam objetos concretos que retratem o gosto e pensamento de uma época ou manifestações culturais como gastronomia, danças, dentre outras, em que o saber fazer é o que se deve preservar para as futuras gerações.

42

CARTA DE VENEZA: Carta Internacional Sobre a Conservação e Restauração dos Monumentos e Sítios, formulada pelo Segundo Congresso Internacional de Arquitetos e Técnicos dos Monumentos Históricos, 1964, pág. 40.

71


Fonte: www.pe.gov.br Acesso: 27/01/2013

Fonte: www.capoeiramississauga.com Acesso:27/01/2013

Fonte:www.gstatic.com Acesso: 27/01/2013

Fonte: www.globo.com Acesso: 27/01/2013

Figura 77 Patrimônios culturais nacionais são passados de geração em geração, e configuram uma riqueza insubstituível. Exemplos como o frevo a capoeira o queijo mineiro e os rituais dos povos indígenas, devem ser preservados os seus respectivos “saber-fazer”.

4.2. A Formação do Patrimônio Modernista: um breve histórico

O Barroco e o Modernismo são muitas vezes destacados como as únicas expressões artísticas verdadeiramente brasileiras, configurando assim um importante patrimônio cultural para o Brasil. Os exemplos mais recorrentes são: Ouro Preto - MG, Conjunto da Pampulha (em Belo Horizonte - MG) e Brasília - DF. Nesta monografia, nos deteremos no modernismo, em função do contexto da cidade de Cataguases (MG), que estudaremos no próximo capitulo, a qual apresenta uma forte ligação com essa expressão artística. CASTRIOTA (apud ALONSO, 2011) afirma que o modernismo foi um movimento renovador da cultura nacional principalmente para as artes e letras, que buscava a identidade brasileira e suas raízes, e ainda criticava a arte acadêmica tradicional. É 72


importante ressaltar que inicialmente a arquitetura nacional não sofreu influências diretas desse movimento. Para a renovação da mesma, o processo foi mais lento, exigindo a construção de uma primeira casa modernista por Gregori Warchavchik, a contratação de Lúcio Costa para dirigir a Escola Nacional de Belas Artes e uma segunda visita de Le Corbusier ao Brasil em 1936. Exploraremos então, de maneira concisa, ainda neste capitulo, os primórdios da formação deste patrimônio genuinamente brasileiro, para entendermos como a cidade de Cataguases encaixa-se no panorama do modernismo nacional e qual a sua importância como patrimônio. Antes de mais nada, nos interessa saber que o Brasil antes do inicio do modernismo era um país de uma cultura quase totalmente importada da Europa, com roupas, música, paisagismo, artes plásticas e arquitetura, essencialmente ecléticas e historicistas. Essa cultura era ensinada nas escolas de belas artes, encenada nos teatros, publicada em livros e revistas e ainda edificadas pelas ruas das cidades.

4.2.1. Semana de 22

Realizada entre 13 e 17 de Fevereiro de 1922, na cidade de São Paulo, foi o momento máximo de reunião e exposição de diversas tendências de renovação da arte nacional, que buscavam principalmente uma identidade nacional. Eles buscavam uma arte brasileira, valorizando o que era nativo e original, sem os limites impostos pela tradição europeia. (BRUAND, 2008) “Ao combater os velhos preconceitos e o ecletismo dominante, através de uma ousada exposição de pintura e de esculturas de vanguarda, e de uma

série

de conferências e recitais de dança e música realizados no imponente

Teatro

Municipal de São Paulo, anunciou em alto e bom som o espirito dos novos tempos”.

43

A semana, no entanto, não foi um sucesso imediato na literatura e nas artes. Foi necessária a continuidade dos trabalhos dos envolvidos para que ela ganhasse

43

MINDLIN, Henrique E, 2000. pág 25

73


relevância historia, e convencesse o público que num primeiro momento ficou chocado e desgostoso dessa nova arte. (BRUAND, 2008) Na arquitetura não houve qualquer influencia direta, mas a mudança no pensamento e o entendimento da necessidade de uma arte verdadeiramente nacional foram de grande influência. A renovação da arquitetura nacional coube então, a um arquiteto europeu: Gregori Warchavchik. (BRUAND, 2008)

4.2.2. Gregori Warchavchik

Nascido em 1896 na Rússia, formou-se arquiteto no Instituto Superior de Belas Artes de Roma, na Itália. Contratado pela Companhia Construtora de Santos emigrou para São Paulo em 1923. Em 1925, influenciado pelas ideias modernistas de Le Corbusier, publica em São Paulo e no Rio de Janeiro um manifesto sobre a nova arquitetura: “Acerca da Arquitetura Moderna”. Nele o arquiteto defendia a necessidade de uma arquitetura atualizada com a vida do homem moderno, fazendo uso de novas e avançadas tecnologias construtivas e processos industriais. No ano de 1927, constrói sua própria residência, na cidade de São Paulo. Esta primeira casa modernista, enfrentou problemas para ser aprovada pela legislação da época em função da sua estética, e também problemas técnicos que impossibilitaram o emprego dos conceitos da nova arquitetura como o terraço jardim e os pilotis. Entretanto apresentava composição sem ornamentos, espaços interiores contínuos e integração com o paisagismo e mobiliário, buscando a “síntese das artes”. (BRUAND, 2008)

.

Figura 78 Primeira casa modernista do Brasil Foi à partir dessa residência que as ideias modernistas começaram a tomar forma no pais Fonte: www.veredes.es Acesso:27/01/2013

74


4.2.3. Lúcio Costa e a renovação do ensino de Arquitetura e Urbanismo

Filho de brasileiros, nascido na França no ano de 1902, formou-se em arquitetura pela Escola Nacional de Belas Artes, no Rio de Janeiro em 1924. Iniciou sua pesquisa sobre arquitetura moderna em 1929, e logo no ano seguinte foi nomeado diretor da mesma escola onde se graduara. O curso de arquitetura era ministrado, até aquele momento, de forma totalmente clássica. (BRUAND, 2008) Lúcio Costa, então partidário da nova arquitetura, iniciou uma renovação do ensino através da contratação de jovens professores alinhados com ideais modernistas. A aceitação foi imediata por parte dos alunos, que abandonaram as antigas disciplinas conscientes da necessidade de não mais copiar estilos ultrapassados. No entanto a polêmica gerada sobre o assunto, resultou na demissão de Lúcio Costa já no ano de 1931. (BRUAND, 2008) Anos depois, Costa foi convidado pelo Ministro Gustavo Capanema para liderar um grupo de arquitetos que projetaria um novo edifício para o Ministério da Educação e Saúde Publica (MES), que colocaria a arquitetura modernista definitivamente em nível nacional.

4.2.4. A volta de Le Corbusier ao Brasil

Charles-Edouard Jeanneret, nasceu em 1887, em uma cidade suíça na fronteira com a França. Em 1900 entra para a escola de artes e ofícios de La Chaux-de-Fonds, sua cidade natal. Lá é influenciado pelo pintor L’Eplattenier, e interessa-se por pintura e arquitetura. Vinte anos depois adota o pseudônimo pelo qual ficou mundialmente conhecido. Corbusier e suas teorias racionalistas foram influencia definitiva para Warchavchik e Costa, dois pioneiros da nova arquitetura brasileira, como já mencionamos. 75


Em 1936, faz sua segunda visita ao Brasil, por convite do Ministro Gustavo Capanema para projetar a Cidade Universitária, realizar uma série de conferências e orientar o grupo de arquitetos liderado por Lúcio Costa, responsável pelo edifico do MES. (BRUAND, 2008) Corbusier dizia que apesar de racionalista, a arquitetura deveria valorizar o aspecto formal e sua capacidade de inspirar, ao orientar o grupo de arquitetos desta maneira, este buscou aplicar os conceitos da nova arquitetura, e acabou por definir o marco inaugural do modernismo brasileiro. (BRUAND, 2008) Simultaneamente à inauguração do edifício do MES, outras importantes obras do modernismo brasileiro também foram finalizadas, todas elas influenciadas por Le Corbusier e sua nova arquitetura, e acabaram por destacar o Brasil no panorama mundial. (BRUAND, 2008)

Figura 79 Marco inaugural do modernismo brasileiro na arquitetura, Edifício do MÊS. Fonte: www.revistadehistoria.com .br Acesso:27/01/2013

76


CapĂ­tulo 5.

Cataguases: entre as vanguardas e a paisagem urbana.

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5. Cataguases: entre as vanguardas e a paisagem urbana.

A história conta que por duas vezes, Cataguases foi vanguarda nacional, reinventando-se através do modernismo e da cultura, buscando desenvolver a cidade e melhorar a vida dos que ali viviam. A cidade já se queria moderna, diferente, em 1927, e em 1943, já se pretendia cultural e artística. Entretanto, fez-se criativa e moderna por iniciativas particulares e pontuais, portanto, embora tenha colocado essa reinvenção de maneira pública como já vimos, ela ocorreu basicamente por importação, sem criar as condições para que a cidade nutrisse sua economia e calcasse seu desenvolvimento na cultura e nas artes. De modo geral, o que esta transformação fez, foi possibilitar que hoje, o modernismo seja o aspecto que mais se destaca na paisagem da cidade. Ao transitar pelas ruas do centro, notamos uma aura diferente do que se esperaria de uma cidade do interior, uma paisagem que confere uma identidade cultural à cidade e sugere uma atração pelas artes e pelos valores qualitativos do espaço, tanto em espaços privados como residências e suas coleções de arte e mobiliário, quanto no espaço aberto e público das praças, ruas e edificações de uso público como igreja, hospital e colégio. Cataguases edificou assim, um desejo de modernidade, que nos permite dizer que, para a cidade, as artes plásticas, arquitetura, cinema e literatura são ferramentas plausíveis para o desenvolvimento local, e talvez ainda contenha também, a vontade de renovação, que é próprio do modernismo. Entretanto, o Brasil de hoje, conhece apenas a Cataguases do passado. Talvez somente aqueles que estudam a história da arte brasileira ouvem falar de Cataguases e poucos desses já visitaram a cidade. É pouco considerando o potencial que a cidade apresenta. Muito embora isso seja verdade, o desejo de renovação parece realmente estar presente e o momento se mostra oportuno. No ano de 2012 foi formalizada a criação do Consórcio Intermunicipal de Cultura, que tem como objetivo o desenvolvimento cultural de Cataguases e região, a principio, através do Polo Audiovisual da Zona da Mata de Minas Gerais, projeto radicado em Cataguases, liderado por instituições da sociedade 78


civil e integrado por universidades, empresas e governos, visando atrair produções cinematográficas como o recente lançamento “Meu Pé de Laranja Lima”, e ainda formar profissionais para o cinema e a TV. Buscando então a consolidação de uma economia criativa, a partir da produção cinematográfica e da inovação, o próprio Polo descreve seu objetivo: “Integrar cultura, educação e comunicação, juventude e empreendedorismo econômico, para formar novas cadeias criativas e produtivas... Aí está a ideia do Polo Audiovisual Zona da Mata, fruto de ações orientadas por esse contexto nacional e mundial, combinando um legado histórico local e regional, às iniciativas e potencialidades presentes nas cidades que abraçam inicialmente a ideia: Cataguases, Muriaé, Leopoldina e Mirai.”

44

O Polo Audiovisual poderá ter papel fundamental no desenvolvimento de Cataguases e região, por ser o embrião de uma possível renovação cultural e inicio de uma economia criativa, legitimada pela história e pela vontade de, pelo menos, parte de sua população. No entanto, o Polo não pode permanecer, como outras inciativas notáveis na cidade, que se configuram como elementos isolados, ou com os quais a população (ou parte dela) não se identifique, caso contrário, correrão o risco de não gerarem os frutos que almejam. No que diz respeito a essas iniciativas, podemos perceber que Cataguases tem sediado nos últimos anos, diversas iniciativas e atividades culturais notáveis, no entanto, as entendemos como isoladas por não apresentarem um diálogo entre si que garanta uma continuidade, e também por não constituírem uma agenda cultural comprometida com a cidade como um todo. Dentre essas iniciativas destacamos: encontro Balian de longboard; Festival CINEPORT, Festival Ver e Fazer Filmes, CATS - Congresso de Arquitetura, Turismo e Sustentabilidade de Cataguases; FELICA – Festival Literário de Cataguases; workshops de produção digital, artes cênicas e dança; fóruns e palestras de assuntos como cidade e cultura; shows de música através do Projeto Usina Cultural, além de frequentes visitas de faculdades de artes e arquitetura de todo o país. Muitos destes foram financiados pela Lei Municipal Ascânio Lopes de Incentivo à Cultura em vigor desde 2009, que todos os anos seleciona e oferece financiamento para iniciativas de relevância para a cultura local, através de julgamentos que consideram, por exemplo, o impacto e a 44

Sobre o Polo Audivisual da Zona da Mata de Minas Gerais, disponível em: < http://www.poloaudiovisual.org.br/> Acesso: 22/03/2013.

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capacidade multiplicadora da iniciativa, e sua atuação em áreas não centrais da cidade.

Figura 80 Exemplos das atividades culturais que têm tido como cenário a cidade de Cataguases, enfatizando sua essência cultural e ainda acrescentando novos elementos à essa mistura como no caso do encontro Balian de longboard

Como suporte para grande parte desses eventos, em Cataguases, existem ainda diversos institutos e organizações culturais que produzem e incentivam a produção cultural local, oferecendo seus espaços, capacitação ou patrocínios, como a Casa de Cultura Simão, Fábrica do Futuro, Centro Cultural Humberto Mauro, Centro Cultural Eva Nil, Centro das Tradições Mineiras, Anfiteatro Ivan Müller Botelho, Galeria de Arte Nanzita, Museu Chácara Dona Catarina, dentre outros. Como um reflexo dessas iniciativas e organizações envolvidas com a cultura local, sem falar na aura criativa que o patrimônio e a paisagem sugerem, podemos perceber que o gosto pelas artes ainda está presente na cidade: o cenário musical é diversificado, vários músicos e bandas locais com composições próprias, concursos de bandas novas e o tradicional concurso de marchinhas de carnaval podem ser citados como exemplo; escritores e poetas contemporâneos com várias publicações, sendo algumas delas premiadas; vários artistas plásticos e atores produzindo e expondo seus trabalhos; além de estudantes e profissionais criativos e talentosos 80


que trabalham com artesanato, esportes e educação por exemplo. Todas essas pessoas configuram a classe criativa local, que tem orgulho da sua cidade, como sugere o bordão: “sou moderno, sou de Cataguases”, e que podemos considerar como personagens atuantes e compromissados com a continuidade dessa produção cultural.

Figura 81 Imagem que circula por Cataguases, enfatizando a identidade da cidade como a identidade da população. Fonte: www.fundacaosimao.org.br Acesso: 24/03/2013

No entanto, muitas dessas pessoas, ainda não encontram mercado de trabalho na cidade ou não recebem os devidos incentivos e/ou reconhecimento, dificultando assim sua permanência na cidade, ou restringindo sua criatividade, o que definitivamente não pode acontecer em uma cidade criativa. O setor industrial mundial como já vimos, parece não ter mais a vitalidade de outrora para liderar a economia e guiar a cidade para o desenvolvimento, e Cataguases, neste contexto, não é uma exceção. Em geral, as indústrias tradicionais vêm perdendo espaço para as indústrias criativas, devido à capacidade dessa última de oferecer sonhos e sentimentos através de sua produção, e ainda ensinar as pessoas a construírem esses sonhos. Portanto a indústria criativa precisa fixar-se e acreditar em Cataguases, para que possa gerar empregos e oportunidades para a população local, além gerar riqueza monetária e riqueza cultural através de seu trabalho. Sendo assim, nos dias de hoje, a cidade, através de parte de sua população, dá sinais de querer resgatar sua vocação cultural e os vetores dessa busca parecem apontar para os setores criativos e culturais como a maior força para a cidade desenvolver-se.

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Figura 82 Apresentação musical na cobertura da igreja santa. Evento cultural somado ao cenário urbano.Fonte: www.flickr.com/people/ludzorzi/ Acesso: 30/01/2013

Figura 83 Gravações do filme “Meu Pé de Laranja Lima” em Cataguases, novamente fazendo da cidade um cenário. Fonte: www.cinema.uol.com.br Acesso:30/01/2013

Uma cidade com grande vocação cultural, apoiada pelo seu grande acervo patrimonial, e que ainda conta com uma classe criativa local talvez pequena, mas atuante, além de vários institutos e organizações culturais, recebendo e promovendo diversos eventos multiculturais pontuais, configura um cenário que parece sugerir que Cataguases já possui condições mais do que suficientes para se considerar criativa. No entanto para que Cataguases respire, inspire e transpire criatividade, suas atividades devem estar mais articuladas e integradas a um planejamento cultural para todo o território, discutindo a cidade atual e seu futuro, envolvendo a comunidade local, escolas, faculdades, centros culturais, empresas e associações de bairro nessas experiências culturais. Em outras palavras, a classe criativa deve ser constantemente seduzida e induzida a criar, nesse sentido a cidade deveria se comprometer com a cultura, permitindo que tais iniciativas perdurem e multipliquemse por toda a cidade, através de politicas públicas participativas e próxima dos cidadãos, assumindo a criatividade como elemento fundamental na resolução dos problemas locais, e buscando não o crescimento, mas a evolução de Cataguases. As palavras de CARVALHO (2011), concluem o nosso pensamento: “Cidades com vocação para a cultura e eventos e com um celeiro de grandes talentos, inseridas nesse conceito, devem investir nisso de forma cada vez mais planejada e articulada, criando leis e políticas locais que propiciem investimentos majorados para a cultura e os demais setores criativos, gerando mais conhecimento, empregos e renda e se tornando mais inclusivas, em busca do desenvolvimento sustentável”.

45

45

CARVALHO, Caio Luiz de, in REIS, Ana Carla Fonseca (org). pág. 20

82


5.1. História de Cataguases

Figura 84 Cataguases localiza-se na região da Zona da Mata, no sudeste de Minas Gerais e já foi chama de “Princesinha da Mata” pelo destaque que conquistou na região. Fonte: Arquitetura Modernista - Cataguases - Guia do Patrimônio Cultural, página 22.

A primitiva povoação de Meia Pataca, hoje Cataguases, foi fundada 26 de maio de 1826, pelo francês Guido Thomas Marlière, é uma pequena cidade localizada na Zona da Mata de Minas Gerais, que atualmente conta com uma população de cerca de 70 mil pessoas.46 Segundo ALONSO e CASTRIOTA (2011), a história social e econômica de Cataguases, é marcada, primeiramente, pela produção cafeeira e a pela chegada da estrada de ferro, e posteriormente, pela industrialização, com destaque para o setor têxtil. Surgindo por meio de uma campanha do Império para explorar os territórios ainda não ocupados na província de Minas, o povoado teve seu desenho urbano e construção da capela, que simbolicamente consolidava o início do lugar e da ocupação urbana, realizados sob a responsabilidade do mesmo Guido Marlière. O povoado consegue prosperar e elevar-se a vila, e no ano de 1877 chega a estrada de ferro, que transformou a Vila em um ponto de referência para as cidades vizinhas, ao facilitar o intercâmbio e a comunicação regional, e ainda escoar a produção da cafeicultura, principal fator econômico da Zona da Mata, naquele tempo. (ALONSO e CASTRIOTA, 2011)

46

Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística de 2011, disponível em: <http://www.ibge.gov.br/cidadesat/painel/painel.php?codmun=311530>

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Depois da cafeicultura, foi a vez da indústria guiar o desenvolvimento local. Em Cataguases foi no ano de 1905, que o então município recebe a primeira usina de energia e sua primeira fábrica de tecelagem. Começa assim ciclo industrial têxtil da cidade (ALONSO e CASTRIOTA, 2011), que como veremos será fator fundamental para criar o clima de modernidade que a cidade alcançará.

5.1.1. Origens do desenho urbano

Foi Guido Marlière quem definiu o traçado urbano, logo em 1828. Elegendo como ponto de partida o arraial da Meia Pataca, à margem esquerda do rio Pomba, ele afirma: “(...) Delineei as ruas na distancia de 50 passos de um a outro ângulo da igreja, a praça pública e o lugar futuro para o corpo da Igreja, que por ora não tem senão a capela-mor, a fim de que se forme uma povoação bem regular, para a qual convida a sua bela localidade”

47

O desenho urbano iniciou-se, portanto no largo da matriz de Santa Rita e no largo do Rosário, atual Praça Rui Barbosa, e desenvolveu-se por ruas praticamente ortogonais nas proximidades desses largos e em seguida, direcionou-se para a região da Estação Ferroviária. Vale então ressaltar que essa malha de ruas retas e perpendiculares com amplas praças, topografia quase plana e definida pelo rio Pomba e pelos ribeirões Meia-Pataca e Lava-Pés, é a mesma que existe hoje na cidade (SANTOS E LAGE, 2005). As expansões posteriores acompanharam o terreno ao longo da estrada de ferro e as encostas dos morros, sem um maior planejamento.

47

IPHAN. Processo de Tombamento de Cataguases, 1994, apud ALONSO, 2010, pág 45

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Figura 85 Mapa do desenho original das ruas traçadas por Guido Marlière, destacando as duas praças como elementos fundamentais desse desenho urbano. Atentamos ainda para o fato de que a área inicial da cidade se deu entre na planície entre o Rio Pomba e o Córrego Meia Pataca, seguindo a orientação Leste-Oeste como referencia principal. Fonte: Arquivo Pessoal

Sob uma influencia direta do Rio de Janeiro, a imagem da cidade é renovada em fins do século XIX, na busca por modernizar Cataguases (SANTOS E LAGE, 2005). Dessa maneira as praças e jardins passam por uma remodelação, as ruas são calçadas, pontes e estradas são construídas e os novos edifícios seguem a linguagem importada da então capital nacional (que por sua vez a importava da Europa): o ecletismo.

Figura 86 Primeira renovação da Praça Rui Barboas. Atentamos para a presença de um coreto na praça e pela conformação dos jardins podemos imaginar que a função da praça era semelhante á da Praça Santa Rita: a prática do footing, usando a expressão da época. Fonte: www.fabricadofuturo.org.br Acesso: 28/01/2013

Figura 87 Primeira renovação da Praça Santa Rita, atentando para a relação desse desenho para com a igreja neogótica que até então conformava a praça. Fonte: www.fabricadofuturo.org.br Acesso: 28/01/2013

Como exemplos importantes da arquitetura da cidade neste período na cidade (SANTOS E LAGE, 2005), podemos citar o Paço Municipal (de Agostinho Horta Barbosa, 1893), o antigo Teatro Recreio (1893) e o Hotel Villas (de Bergamini, 1893) to85


dos ecléticos e ainda a antiga Igreja Matriz de Santa Rita, em estilo neogótico (de Augusto Rousseau, 1894).

Figura 88 Paço Municipal eclético e imponente, ocupando duas esquinas de frente para a Praça Santa Rita Fonte: www.panoramio.com Acesso: 28/01/2013

Figura 89 Grande Hotel Villas, ainda em funcionamento na cidade e referência na paisagem local. Fonte: www.fabricadofuturo.org Acesso: 28/01/2013

5.1.2. Primeira Vanguarda

Foi nessa cidade interiorana, eclética e tradicional que na década de 1920, ocorreram dois fenômenos culturais de grande destaque nacional: a Revista Verde e o começo da produção cinematográfica de Humberto Mauro. Não podemos precisar com exatidão o porque desses movimentos ocorrerem na cidade, mas podemos imaginar que o ambiente intelectual da cidade era dotado de um censo critico que não se sentia representado pela arte vigente no período. A Verde foi, segundo COUTO (2004) uma revista ágil e bem impressa, inicialmente despretensiosa, mas contou com numerosa colaboração tanto nacional quanto estrangeira. Informativa e variada, publicava poemas, crítica literária e resenha de livros e ainda propagandas do comércio e indústria da cidade. Teve grande repercussão nacional, contribuindo para a solidificação e rejuvenescimento do movimento modernista no interior. Foi muito criticada e também muito elogiada, chegando a ser considerada a melhor revista literária moderna no Brasil. No mais, deu seu recado e cumpriu sua tarefa: projetou Cataguases e seu grupo de escritores para o Brasil e para o mundo (COUTO, 2004) 86


Entre 1927 e 1929, circulou em seis edições, iniciada pelo Manifesto Verde48, e liderada por um grupo de literatos nativos49 com grande apoio dos modernistas de Juiz de Fora, Belo Horizonte, Rio de Janeiro e São Paulo. Ribeiro Couto escreveu na Revista Verde de nº 5: “Todo o Brasil está surpreso: existe Cataguazes! (...) VERDE integrou Cataguazes na realidade nacional atingível”. 50 Entretanto, a cidade não acolheu bem o movimento Verde: “Eu sonhei com vocês: todo o Brasil espiando pra Cataguases e Cataguases dando as costas a vocês. Cidade pequena é assim mesmo. Tem raiva de quem fica maior do que ela dentro dela. Vocês, poetas de cidade pequena fizeram de Cataguases uma cidade grande. Porque é grande tudo quanto se vê de longe, inclusive certas coisas pequenas. Queiram bem a Cataguases que não quer bem a vocês. Cataguases é pequena, mas vocês só são grandes porque são poetas de Cataguases".

51

Além da revista Verde, em Cataguases destacou-se também o cinema de Humberto Mauro (SANTOS E LAGE, 2005), que apesar de não ser essencialmente modernista em seu conteúdo, o era na sua intenção de fazer cinema e através de suas produções a cultura era cada vez mais parte integrante da cidade transformando a cidade em cenário e as pessoas em personagens. As consequências desses acontecimentos tão importantes nacionalmente, para a realidade de Cataguases não são um consenso. Há quem diga que: “Cataguases é uma cidade rara. Na década de vinte, o cinema de Humberto Mauro e Pedro Comello fizeram os habitantes da cidade se transformarem em atores e as ruas em cenário. No quarteirão seguinte,a revista Verde ganha o Brasil e a América Latina. Quatro décadas depois, aparecem suplementos literários e concursos de poesia, e a cidade tem que conviver com outra vanguarda.(...) Histórias e estórias criam uma tradição, criam o hábito literário”.

52

Em outras palavras, a quem acredite que estes eventos marcaram definitivamente a cidade, colocando a cultura e as artes como parte integrante da 48

Ver ANEXO 01: Manifesto Verde Publicado na Revista Verde nº 01. Escritores da Verde: Henrique de Rezende, Rosário Fusco, Guilhermino César, Francisco Inácio Peixoto, Martins Mendes, Ascânio Lopes, Christophoro Fonte-Bôa, Oswaldo Abritta, Camillo Soares. 50 SANTOS E LAGE, 2005, 51 Mensagem enviada por José Américo de Almeida ao Grupo Verde em 1927, apud SANTOS E LAGE, 2005 52 MORAN, Patrícia, apud SANTOS e LAGE, 2005. 49

87


vida na pequena cidade. O que talvez seja a semente do movimento que surgiria anos depois. Outros afirmam que só houve Cataguases enquanto a Verde e o cinema fizeram dela seu lugar: “O que a cidade não sabe é que Cataguases só existiu quando havia a Verde e o cinema de Humberto Mauro. Só será lembrada como uma realidade quando nos tratados de literatura se falar de um certo interessantíssimo período de nossa cultura, que se chamou movimento modernista, ou quando se falar nos primórdios da filmagem no Brasil. No mais não existe, apesar do seu riso, é uma cidade como tantas outras cidades, à beira de um rio como tantos rios, com uma ponte metálica como tantas outras pontes metálicas feitas pela bem pouco imaginosa engenharia estadual”.

53

De fato não houve uma continuidade imediata desse fenômeno, mas a participação dessa pequena cidade na história da cultura nacional ainda não havia se encerrado.

5.1.3. Segunda Vanguarda

Com o fim da Revista Verde e a continuação da produção cinematográfica de Humberto Mauro fora de Cataguases, o poeta e contista da Verde, Francisco Inácio Peixoto, cuja família era proprietária da Industria de Fiação e Tecelagem Irmãos Peixoto, muda-se para o Rio de Janeiro, onde entra em contato com alguns vanguardistas cariocas. Ao retornar a Cataguases, dada sua condição econômica, e esclarecimento intelectual, assume o papel de mecenas e devolve a Cataguases seu papel na história do modernismo brasileiro (SANTOS E LAGE, 2005). Não mais pela literatura e cinema, mas pela arquitetura e artes plásticas. Não mais por cidadãos locais, mas pelo trabalho de vanguardistas, principalmente do Rio de Janeiro. Os arquitetos modernistas que projetaram em Cataguases, entre 1940 e 1950, em sua quase totalidade formaram-se pela Escola Nacional de Belas Artes, atuavam no Rio de Janeiro e fizeram parte do que ficou conhecido posteriormente 53

REBELO, Marques,, apud SANTOS e LAGE, 2005.

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como “escola carioca” dada sua maneira de fazer arquitetura. Nomes como Oscar Niemeyer, Irmãos Roberto, Aldary Toledo, Francisco Bolonha e Carlos Leão, garantiram uma maior atenção ao processo que ocorria na cidade (COUTO, 2004). A primeira obra modernista foi a residência de Francisco Inácio Peixoto encomendada pelo próprio, ao então jovem arquiteto Oscar Niemeyer, no ano de 1940. O projeto contou ainda com paisagismo de Roberto Burle Marx, mobiliário de Joaquim Tenreiro, e esculturas de José Pedrosa. Anos depois o mesmo Francisco Peixoto faz nova encomenda a Niemeyer: o Colégio Cataguases.54

Figura 90 Interior da residência de Francisco Peixoto, destacando o mobiliário que completa a vivência moderna, Fonte: www.media.tumblr.com Acesso: 28/01/2013

Figura 91 Fachada da Primeira residência modernista da cidade, projeto de autoria de Niemeyer. Fonte: www.asminasgerais.com.br Acesso: 29/01/2013

O Colégio Cataguases simboliza, o inicio do modernismo público de Cataguases, associando a nova arquitetura à vida cotidiana dos jovens da cidade, à educação e a um ambiente inspirador. O edifício modernista concebido para receber 150 alunos de internato e 150 de externato, implantado em um platô sobre uma pequena colina, conta também com paisagismo de Burle Marx, móveis de Joaquim Tenreiro e está repleto de obras de arte, com destaque para o Painel “Tiradentes”55, de Candido Portinari. (COUTO, 2004).

54

Neste mesmo período o edifício do MES no Rio de Janeiro, do qual Niemeyer fazia parte da equipe, era concluído, e ainda ele recebe do governador Juscelino Kubitschek a encomenda para o conjunto da Pampulha, em Belo Horizonte. 55 Vendido para o governo de São Paulo em 1970. Atualmente encontra-se no Memorial da América Latina, e há uma réplica no Colégio Cataguases.

89


Figura 92 Fachada do Colégio Cataguases, destaque para a marquise e a conexão entre interior e exterior através do pano de vidro. Fonte: www. portaldoprofessor.mec.gov.br Acesso: 28/01/2013

Figura 93 Painel Tirandentes, originalmente concebido para o colégio Cataguases, nesta imagem encontra-se dividido em duas partes. Fonte: www.cimitan.blogspot.com Acesso: 28/01/2013

Dessa maneira Francisco Peixoto iniciou um novo processo de modernização da cidade e acabou por liderar, por assim dizer, uma elite intelectual atuante na ucidade, criando um ambiente de interesse e aceitação dos ideais modernistas, transformando Cataguases no lugar da, então, arte moderna.56 O artista Emeric Marcier afirma: “Na época (...) a pequena cidade de Cataguases deu prova de grande. Ela foi denominada capital das artes”. 57 Seguindo o desejo de modernizar a cidade e transformar seu espaço físico, Francisco Peixoto e seu amigo particular, o escritor carioca Marques Rebelo (SANTOS E LAGE, 2005), pensavam em “substituir” dois edifícios de grande valor simbólico: o eclético Teatro Recreio e a igreja matriz de Santa Rita de estilo neogótico, por novos edifícios modernistas58.

Figura 94 Antigas Igreja Matriz e Praça Santa Rita Fonte: www.cantoni.pro.br Acesso: 28/01/2013

Figura 45 Nova Igreja de Santa Rita, destacando a permanência do destaque da igreja na paisagem. Fonte: www.portaldoturismo.pjf.mg.gov.br Acesso:28/01/2013

56

Artistas como: Djanira, Portinari, Paulo Werneck, Jan Zach, Anísio de Medeiros, Emeric Marcier, Bruno Giorgi, José Pedrosa, dentre outros, receberam encomendas dessa elite cataguasense. 57 MARCIER, Emeric, apud COUTO,2004. 58 A consolidação dessas substituições ocorreu alguns anos mais tarde: 1968 para a igreja matriz, e 1953 para o Cine-teatro Edgard, projeto de Carlos Leão e Aldary Toledo, respectivamente.

90


Figura 96 Antigo Cine Recreio e sua facha eclética. Fonte: www.arqfigurinhas.blogspot.com.br Acesso: 28/01/2013

Figura 97 Novo e modernista Cine-Teatro Edgard. Fonte: www.fabricadofuturo.org.br Acesso: 28/01/2013

A convivência com arquiteturas modernas levou à população em geral a aceitar e adotar a linguagem modernista, como podemos perceber através de construções anônimas que foram sendo erguidas, algo como uma “arquitetura vernácula moderna”, segundo Antônio Luiz Dias de Andrade (apud ALONSO e CASTRIOTA, 2011) e juntaram-se a arquitetura modernista erudita dos arquitetos da vanguarda, criando um conjunto urbano, uma imagem de cidade característica de Cataguases. Devemos

aqui

considerar

que

este

“modelo

de

substituição”

pela

modernidade não atingiu toda a cidade e não significou “tábula rasa”, (ALONSO e CASTRIOTA, 2011), o eclético e outros estilos ainda se fazem presentes na cidade convivendo com o modernismo, expondo os diferentes tempos em que a cidade desenvolveu-se.

5.1.4. Uma nova cidade?

A renovação da arquitetura, entretanto não significou uma renovação da malha urbana, apesar da preocupação de Francisco Peixoto e outros membros da elite, e da suposta existência, segundo SANTOS e LAGE (2005), de um projeto urbano, de provável autoria de Aldary Toledo. No entanto aparentemente a arquitetura modernista, principalmente através da renovação dos espaços públicos e 91


edifícios, serviu para consolidar a proximidade com a cultura e com as artes, como identidade da cidade.

Tomemos como exemplo a Praça Rui Barbosa, que foi novamente redesenhada, desta vez por Luzimar Cerqueira de Góes Telles, em 1957, na linguagem modernista, e recebeu ainda uma simbólica concha acústica, projeto de Francisco Bolonha, sem, no entanto, realizar uma modificação nos limites de seu traçado original (SANTOS E LAGE, 2005).

Figura 98 Concha acústica que substituiu o antigo coreto consolidando a ambiência moderna da praça. Fonte: www.patriamineira.com.br Acesso: 30/01/2013

Figura 99 Nova configuração da Praça Rui Barbosa, destacando a paginação de piso destacando o espaço livre da praça, que favorece a realização de eventos. Fonte: www.fabricadofuturo.org.br Acesso: 30/01/2013

Mesmo sem uma renovação da malha urbana, o caráter público do modernismo na cidade merece destaque, uma vez que espaços e edifícios públicos consolidaram uma atmosfera urbana repleta por uma cultura moderna no cotidiano da pequena cidade e transformaram a paisagem local. Esse caráter público do modernismo de Cataguases, seria o fato de importantes espaços públicos, e edificações com diferentes programas como igreja, cine-teatro e escola, serem conformados na linguagem modernista com suas explorações formais e espaciais, e ainda por colocar a arte à vista da cidade, seja em painéis ou esculturas, expostos nos jardins e na própria arquitetura.

A soma destes dois aspectos (não renovação da malha e um forte caráter público) nos leva a condição contraditória em que a cidade se encontra: um museu do modernismo com diversas e emblemáticas obras de grandes arquitetos, sem no entanto, ser uma cidade moderna em seu traçado, e talvez nem no estilo de vida. Suas ruas oitocentistas pavimentadas de paralelepípedos e sombreada de oitis e 92


seu traçado antigo se contrapõe aos edifícios e espaços públicos modernistas, criando no centro da cidade, uma atmosfera pacata, mas povoada com elementos arquitetônicos de destaque em nível nacional (SANTOS E LAGE, 2005).

Cataguases foi como podemos perceber, o local onde os arquitetos cariocas, sendo vários dos grandes nomes da arquitetura modernista brasileira, deixaram sua contribuição justamente em um áureo período da arquitetura nacional (COUTO, 2004). Todos esses arquitetos foram influenciados direta ou indiretamente pela busca da renovação do ensino da arquitetura por Lúcio Costa, que por sua vez foi influenciado pelo pensamento do mestre Le Corbusier. Devemos ainda destacar o importantíssimo papel da “Semana de 22”, fonte de inspiração dos escritores da Revista Verde, que iniciou na cidade a cultura modernista, e possibilitou o surgimento de uma segunda vanguarda. Percebemos então que em Cataguases não ocorreu um processo tardio, foi concomitante, atualizado e contemporâneo ao movimento nacional (COUTO,2004). Sendo assim, podemos afirmar que Cataguases, foi laboratório de novas ideias, e vanguarda nacional, e provavelmente foi à partir disso, que Cataguases passou a ser tão próxima às artes e à cultura.

5.2. Patrimônio Cataguases “Foi um tombamento feito, inclusive, junto com a Pampulha. Arquitetura moderna. Então era sim, questão de reconhecer o valor nacional de Cataguases. Era essa a premissa do tombamento de Cataguases.”

59

Como vimos anteriormente, a cidade de Cataguases possui uma vasta coleção de obras modernistas e cada vez mais é importante saber lidar com esse patrimônio para que ele seja preservado sem congelar o desenvolvimento urbano. Em função disso se faz necessário uma breve abordagem acerca do patrimônio histórico e cultural da cidade. 59

LAGE, Cláudia, apud ALONSO, 2010, pág. 36

93


Cataguases é

reconhecida

como detentora

de

um

patrimônio

que

compreende, não apenas a arquitetura, mas diversas modalidades artísticas como literatura, cinema, painéis, esculturas, pintura, etc. todas intimamente conectadas e consequentemente, a quase totalidade das abordagens sobre o patrimônio cataguasense não trata isoladamente de uma das manifestações culturais (COUTO,2004). Dentre elas a arquitetura, apresenta papel de destaque, por sua contribuição à formação de um conjunto urbano, um “lugar” da arte moderna, abrigando e conectando diferentes manifestações como painéis, esculturas, jardins e mobiliário. Tanto é que os intelectuais vanguardistas defendiam a importância da arquitetura como suporte físico para o desenvolvimento e modernização de Cataguases. Suas ideias indicavam que a Nova Arquitetura deveria extrapolar a esfera privada, representada por programas residenciais, e atingir a esfera pública, representada por outros programas, e dessa forma atingir a diretamente a vida da cidade (COUTO, 2004). Segundo o arquiteto Francisco Bolonha: “Cataguases é uma exceção, pois viveu, na prática, a democracia propalada pela arquitetura modernista, que outras cidades só conheceram em discurso”.60 E ainda: “A importância de Cataguases está justamente na sua exposição pública (...). Se, por um lado, a partir da construção do Colégio e de outros edifícios públicos sugere-se um convívio cotidiano com a modernidade, por outro a população de maior poder aquisitivo se interessa pela aquisição de acervos modernos propiciando o surgimento de coleções”.

61

Chama a atenção então, o fato de este patrimônio arquitetônico ser valorizado pela formação de um conjunto urbano, em função tanto do volume de obras, quanto da proximidade entre elas. Reforçando este conjunto urbano esta a diversidade de programas arquitetônicos edificados sob a linguagem modernista, muitos deles de caráter público e/ou comtemplados com exemplares notáveis de mobiliário, paisagismo e artes plásticas. 60

BOLONHA, Francisco. Apud ROCHA, Andréa. A utopia modernista.In: Sagarana. Belo Horizonte, Ventura Comunicação e Cultura, n. 08, 2000, pág.10, Apud COUTO, Tiago Segall, 2004. 61 ÁVILA, Cristina. “Cataguases: a importação plástica como vontade modernista”. In Processo de tombamento, pág. 38. Apud COUTO, Tiago Segall, 2004

94


O processo de tombamento de Cataguases optou então, por criar uma área denominada como “Poligonal do Conjunto Histórico e Paisagístico”, onde a paisagem urbana deveria ser preservada, incluindo fachadas, calçamento das vias, a arborização e ainda outros elementos que contribuem para a configuração deste ambiente. Dentro dessa poligonal, que considera praticamente todo o centro da cidade como área histórica, foram tombadas individualmente ainda, dezesseis edificações, sendo onze delas de estilo modernistas e outras cinco de estilos diferentes. Considerou-se então o patrimônio cultural como parte integrante da vida de Cataguases, enfatizando a heterogeneidade do conjunto, a multiplicidade de manifestações artísticas e culturais, a sobreposição dos tempos e pensamentos que configuram o processo de desenvolvimento urbano, e ainda o aspecto parcial da renovação proposta pelo movimento moderno na cidade.62 Entretanto, o tombamento de Cataguases apresenta algumas lacunas que são apontadas por ALONSO (2010) que são parte da problemática que a cidade de Cataguases enfrenta com relação ao seu patrimônio histórico e cultural. Dentre tais lacunas, destacamos aqui, aquelas que estão diretamente ligadas à preservação desse conjunto urbano Cataguasense, que são: a ausência de um plano urbanístico que contemple medidas de preservação da paisagem como um todo, e a não criação de um conselho que assessore a preservação no munícipio, e seja responsável pela divulgação e valorização do patrimônio. Dessa maneira entendemos que o conjunto urbano de Cataguases, sua paisagem característica de cidade pacata do interior com calçamento de pedras e arborização abundante, cravejada de obras modernistas de grande relevância com destaque para aquelas de caráter publico, com influências significativas na vida da cidade e que confere a ela destaque e identidade, são de fato seu maior patrimônio e seu maior potencial urbano, necessitando de medidas legais que possibilitem a preservação desse ambiente urbano formado pelo conjunto patrimonial. As palavras do poeta Mário de Andrade, são as que melhor definem o que pretendemos: “Em Cataguases, haveria que tombar o sentimento da cidade.” 63

63

ANDRADE, Mário de, apud COSTA e LAGE, 2005.

95


Figura 100 Mapa da Poligonal e edificações tombadas em Cataguases Fonte: ALONSO, 2010, pág. 66

96


CapĂ­tulo 6.

Lugar Cataguases: leituras possĂ­veis da cidade

97


6. Lugar Cataguases: leituras possíveis

Neste capítulo, procuraremos aplicar as teorias e conceitos dos arquitetos Rossi, Lynch, Koolhaas, Norberg-Schulz e Siza, vistos anteriormente, ao contexto da cidade de Cataguases, na qual a peculiaridade do modernismo, como também já vimos, confere destaque para a cidade, principalmente por ser uma cidade do interior e pelo caráter público em que ocorreu tal movimento, diferentemente da grande maioria das cidades nas quais o movimento moderno se fez presente. Desta maneira, o modernismo ainda faz parte da rotina de grande parcela da população, principalmente por estar concentrado na área central da cidade, entretanto, entendemos que o “lugar Cataguases” não se resume ao seu patrimônio, e, portanto, buscamos através de leituras da realidade local, realizar uma investigação que não se restrinja ao seu patrimônio ou ao seu passado, mas que aponte aspectos do desdobramento desse passado e também da realidade de sua paisagem urbana atual.

6.1. Rossi

Figura 101 Primeira provocação: inserção o Teatro Del Mondo de Rossi em Cataguases. Porque o Rio Pomba é apenas um elemento passivo na paisagem, responsável apenas pelas enchentes. Fonte: Arquivo Pessoal

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Uma leitura de Cataguases, a partir das ideias de Aldo Rossi, sugere um entendimento do tempo da cidade, responsável por consolidar sua memória coletiva e ainda organizar o desenvolvimento desta através de seus elementos que permanecem em meio às mudanças urbanas, configurando camadas de tempo que se sobrepõem e configuram a cidade. Nesse sentido tomamos como área de estudo o centro da cidade, cercada por morros e cortada por um rio, alguns córregos e pela linha férrea, calçada com pedras e arborizada, onde estão localizados os principais equipamentos (prefeitura, câmara, fórum, hospital, praças, cinema, principais escolas e equipamentos culturais), e por tratar-se da área original de formação da malha urbana da qual poderemos perceber como seus elementos primários contribuíram para a consolidação dos seus fatos urbanos, e como eles podem apontar caminhos para o desenvolvimento futuro. Os fatos urbanos são segundo Rossi elementos únicos que formam a cidade e são responsáveis pelos acontecimentos. Em Cataguases, grande parte dos fatos urbanos coincide com o patrimônio modernista, em função principalmente do caráter publico em que este se desenvolveu, e a cidade ainda conta com, os já mencionados, calçamento, arborização, rio e córregos, para conformar tais fatos urbanos. Dessa maneira grande parte acontecimentos da cidade se dão em um ambiente que é símbolo de uma época de grande destaque na historia da cidade e, portanto, a memoria coletiva desses eventos tem como lugar o patrimônio da cidade, o que fortalece a identidade e o poder de inspiração da cidade. Em Cataguases, as principais referências urbanas são exatamente os espaços do centro da cidade, por sua memória coletiva, pelos diversos eventos que recebe, e por sua capacidade de atração. A arquitetura modernista serve aos acontecimentos da cidade e ainda constitui um acontecimento por si mesma na cidade, por sugerir um ambiente urbano para o centro da cidade. Apesar de tudo isso, o centro parece não conseguir influenciar toda a forma da cidade, por não observarmos as mesmas qualidades espaciais do centro em áreas periféricas, seja no traçado das vias, na presença de espaços públicos ou na qualidade da paisagem. Dessa maneira, a periferia aparenta crescer sem possuir suas próprias referências espaciais que demarquem o seu tempo, como se fosse um acontecimento atemporal: ou eterno ou instantâneo.

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Atentando ainda para as permanências, que organizam o desenvolvimento e a forma da cidade, e contribuem para significados, destacamos como um exemplo de permanência importante em Cataguases, a antiga Estação Ferroviária, outrora responsável por atrair o crescimento da cidade ao seu redor, e hoje funciona como centro cultural e arquivo histórico, relativamente ilhado pelas vias que a contornam, mas ainda um elemento influente na forma urbana. Percebe-se que em função da presença da Estação, configura-se um alargamento de uma via circundante, que hoje, apesar do potencial urbano que a sua localização oferece devido ao comércio local e a proximidade da Praça Chácara Dona Catarina e um conjunto de edificações históricas, resume-se um a local de passagem, estacionamento e trabalhos de carga e descarga.

Figura 102 Mapa destacando a situação da Estação Ferroviária de Cataguases Fonte: Arquivo Pessoal.

Na cidade, as formas e a localização podem permanecer enquanto o significado e a função podem vir a mudar, nesse sentido, o exemplo mais significativo dos últimos tempos na cidade, é o da antiga Fábrica de Fiação e Tecelagem Irmãos Peixoto, que por algum tempo foi o Instituto Francisca de Souza Peixoto, e que agora é um supermercado e um pequeno centro de compras. Alterando assim, a dinâmica e entendimento do lugar, sem, no entanto, alterar as características físicas do ambiente urbano.

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O patrimônio de Cataguases, apesar de sua relevância para a identidade da cidade, parece não ser capaz de indicar por si só o caminho para o desenvolvimento urbano, uma vez que a cidade é essencialmente uma soma de tempos edificados, existindo sempre a necessidade de sua continuação e de inserir novos elementos no contexto urbano para que a vida na cidade possa prosseguir, marcando espacialmente esse passar do tempo. A leitura de Rossi nos permite dizer que não devemos imitar a arquitetura antiga, nem criar cenários por meio de fachadismos historicistas, insistindo na construção de uma arquitetura do passado, que no caso de Cataguases seria influenciada pelo seu patrimônio modernista, ou seja, existe uma continuidade histórica na cidade que não deve ser escondida ou negada, Sendo assim, entendemos que o patrimônio de Cataguases marca um tempo que já passou mesmo ainda sendo de grande relevância para a cidade, e que Cataguases parece precisar de novas referências capazes de guiar seu crescimento, que considerem o passado, mas que afirmem o tempo presente, a fim de criar uma cidade com lugares diferenciados tanto no espaço quanto no tempo.

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1 Figura 103 Mapa de Cataguases de acordo com Aldo Rossi


6.2. Lynch

Figura 104 Fotomontagem: Os diversos lugares da cidade e as referencias que a usamos para nos orientarmos nos espaço Fonte: Arquivo Pessoal

Procurando entender o lugar Cataguases, pela ótica de Lynch, faremos uma abordagem sobre a paisagem urbana, entendida como o aspecto visual que a cidade nos oferece; sua estrutura e organização, ou seja, os elementos que se destacam nessa paisagem e configuram um sistema de referências e relações com o espaço que os envolve; sua legibilidade, isto é, a clareza visual que favorece a orientação e a identificação nessa mesma paisagem, e ainda a imaginabilidade que seria a capacidade desses elementos da paisagem de despertarem sensações e ficarem gravados nos sentidos. Entendendo então, o contexto como elemento de grande relevância para a compreensão de certos lugares na cidade, podemos dizer que o centro de Cataguases por sua ideia de conjunto, contribui para a significação, agregando valor aos elementos que ali estão, em função da proximidade, como se configurasse um sistema de figurafundo. Nessa região central, podemos apontar elementos que em função do seu caráter singular, destacam-se da paisagem em função do uso, da forma ou pelo aspecto artístico, configuram uma rede de pontos para onde a vida cotidiana converge, como por exemplo as praças, lojas, bares ou até mesmo a escultura de Amílcar de Castro, no encontro das Avenidas Humberto Mauro e Astolfo Dutra. 103


Ao usarmos tais elementos urbanos para nos orientarmos no espaço: praça, avenida, calçadão, bares, e as obras de arte como painéis e esculturas, mesmo inconscientemente, estamos fazendo um mapeamento dos lugares que nos são familiares, baseados nesses elementos e na sua relação com o entorno. Mapas mentais do centro de Cataguases, provavelmente destacariam elementos recorrentes, em função da proximidade e da quantidade de referências, sem falar que pelo fato de muitas delas serem obras de arte, a identificação torna-se mais intensa, em função da riqueza de significados que podem oferecer. Sendo assim, nos parece correto afirmar que o centro de Cataguases possui um grande potencial de legibilidade, por aparentemente referenciar localizações de maneira eficiente através de elementos de destaque e da ortogonalidade de seu traçado urbano apreensível sem grandes esforços, facilitando o reconhecimento das partes e a compreensão do local. Por outro lado, essa legibilidade, não se apresenta como uma constante em toda a cidade, apresentando variáveis em cada um dos bairros, nos quais o traçado urbano, as edificações, e a ausência de obras de arte nas ruas, não sugerem uma organização visível e uma identificação nítida, dificultando a orientação nesses locais. No que diz respeito à imaginabilidade, a cidade também aparenta possuir um grande potencial na região central, por ser capaz de oferecer imagens mentais fortes e nitidamente identificáveis, através de alguns elementos que fazem parte do cotidiano da cidade, mas que podem ser considerados como surpreendentes e inesperados, como esculturas, painéis e outras obras de arte, além da própria arquitetura e da constante presença da arborização, por exemplo. Percebemos então que no centro da cidade estes elementos da paisagem urbana, além de sua singularidade, fazem parte de um conjunto inteligível, configurando uma paisagem estruturada e rica em significados. No entanto, alguns desses elementos urbanos, apesar de muitas vezes configurarem-se também como referências, parecem destoar do conjunto, por não dialogarem com seu entorno, como pontos de ônibus, e outros mobiliários urbanos, sem as qualidades estéticas e formais que a paisagem indica. Entretanto, as áreas periféricas da cidade, parecem apresentar uma fraca imaginabilidade, uma vez que praticamente não possuem referências capazes de

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despertar os sentidos, dado o aspecto geral de suas construções e ruas, mostrando-se, na maioria dos casos, desatentos para com a sua paisagem urbana. Nesse sentido uma paisagem rica em significados e com grande potencial de imaginabilidade, que pode ser referida como uma paisagem poética parece ser restrita ao centro, onde a ênfase na cultura é sugerida pelo patrimônio e contagia suas proximidades. Para concluir, entendemos que Lynch fala de referências da paisagem, sem, no entanto, referir-se a historia, portanto a paisagem urbana enquanto imagem depende de uma identidade para que exista um entendimento do lugar e de uma estrutura que seja capaz de envolver o observador e mergulha-lo na atmosfera geral do lugar, independentemente do que seja novo ou antigo, como parece ocorrer no centro de Cataguases, onde além do patrimônio, a paisagem sugere um ambiente estruturado e ainda aberto a ser interpretado. Destacamos nesse sentido, a importância de algumas obras de arte em Cataguases como referências urbanas, para orientar as pessoas e organizar a paisagem da cidade, de maneira lúdica, tornando a paisagem muito mais imaginativa e inspiradora, como a já mencionada escultura de Amilcar de Castro, ou o painel “Os passáros” de Anísio Medeiros.

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1 Figura 105 Mapa de Cataguases de acordo com Kevin Lynch


6.3. Koolhas

Figura 106 Fotomontagem: Bairro de Cataguases e a Casa da música, sugerindo que lugares genéricos e sem identidade, estão aptos a receber qualquer tipo de intervenção urbana. Fonte: Arquivo Pessoal

A leitura que Rem Koolhaas nos oferece da cidade de Cataguases é relacionada com o embate centro periferia, comum à quase todas as cidades do mundo: enquanto o centro da cidade carrega toda a sua identidade, a periferia, isto é os bairros, comportam-se como elementos independentes, podendo pertencer a qualquer cidade. Em função da mutabilidade urbana cada vez maior, como a de qualquer outra cidade, a periferia de Cataguases prolifera-se, enquanto o centro mantem sua configuração original, limitado por essa mesma periferia que o cerca. Devemos enfatizar que o centro de Cataguases não é estático, ele apenas não muda na mesma velocidade que a periferia, nesse sentido, a principal questão é a do papel que o centro está incumbido de desempenhar: é nele que estão localizados os principais equipamentos e serviços da cidade, portanto deveria atualizar-se constantemente para dar suporte a essa dinâmica. Podemos perceber como o centro de Cataguases tem se mostrado despreparado para enfrentar problemas como: trânsito intenso; excesso de veículos; conflitos entre tráfego de pessoas e de veículos; transbordamentos de córregos e alagamentos; dificuldade de acesso centro-periferia; o fato de existirem apenas duas 107


pontes e ambas na região central; que ocorrem provavelmente em função dessa desatualização do centro em relação à dinâmica da vida na cidade. Imaginar a cidade de Cataguases seu sem o centro histórico, é eliminar seu aquilo que a define e singulariza, usando as palavras de Koolhaas, é transforma-la em uma “Cidade Genérica”. No entanto, ao centralizar e limitar a identidade da cidade ao seu centro, Cataguases acaba por negar sua periferia, insistindo em uma única essência e sem nem ao menos compartilha-la com a periferia. Não nos referimos à ausência de patrimônio na periferia, por exemplo, mas sim a ausência da ambiência que existe no centro, sua qualidade espacial, ou simplesmente de elementos físicos, que nos faça entender que se trata de outra parte da mesma cidade. A proliferação da periferia ocorre sem afirmar uma identidade, se mostra apenas como acumulação, sem qualidade espacial e sem a preocupação com os espaços públicos ou com equipamentos urbanos. Podemos perceber essa característica em diversos bairros de Cataguases como na Vila Minalda, Dico Leite e Primavera, onde a longa via que liga os bairros ao centro da cidade, não possui espaços públicos ou equipamentos urbanos, gerando uma maior dependência funcional dos serviços do centro e emocional para com a qualidade dos espaços, principalmente públicos, de Cataguases. Outra componente desta problematica é a relação entre a dimensão da periferia e do centro, sendo a primeira maior, mas que, apesar disso, depende das funções que o centro abriga e também, como conexão entre os diferentes bairros. Tomemos como exemplo as duas únicas pontes que ligam as margens do Rio Pomba, que se localizam na porção central da cidade, criando uma obrigatoriedade do centro e uma dificuldade de acesso a certos bairros, sobrecarregando o centro.

Figura 107 Bairros separados pelo rio são obrigados a irem ao centro para irem de um lado para o outro. Fonte: Arquivo Pessoal

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Em função desta falta de conexões, podemos dizer então, que as edificações e espaços do centro de Cataguases relacionam-se apenas entre–si, em função da sua proximidade física e afinidade espacial, mas que, no entanto, exercem uma força atrativa sobre toda a cidade, em função de não existirem espaços da mesma qualidade fora do centro. Sendo assim, entendemos que esta força apresenta-se limitada ao centro de Cataguases, uma vez que para Koolhaas a localização não importa, e sim essa força do elemento arquitetônico em estabelecer vínculos com outros elementos. As Praças Santa Rita e Rui Barbosa, localizadas no centro, pode ser entendidas como exemplos do que acabamos de mencionar, por estabelecerem relações físicas e espaciais somente com o conjunto do centro, e ao mesmo tempo serem capazes de atrair diferentes públicos, em diferentes momentos, por meio de diferentes atividades. Concluimos assim que, com a identidade de Cataguases limitada ao centro, e considerando que este centro permanece enquanto a periferia prolifera-se, a leitura da cidade sob a ótica de Koolhaas, sugere um deslocamento de atenção para as áreas periféricas, que configuram complexas situações urbanas onde o trabalho do arquiteto e urbanista encontra problemáticas ricas em elementos conflitantes e desafiadores, dada suas carências, as poucas conexões entre centre e periferia, e ainda a relevância da dimensão física dessa periferia.

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1 Figura 108 Mapa de Cataguases de acordo com Rem Koolhaas


6.4. Norberg-Schulz

Figura 109 Fotomontagem: Painel “os pássaros” de Cataguases, como cenário de uma intervenção humana de caráter artirstico e provocativo na cidade na cidade. A placa diz: “escuto histórias de amor”. Fonte: Arquivo Pessoal

A leitura do lugar Cataguases baseada na visão de Norberg-Schulz, trata da relação entre homem e espaço, além da questão do “habitar”, isto é, viver em um lugar, reconhecendo-o e dotando-o de significados, e do já mencionado genius loci. Sendo essencialmente existencial, busca entender como o espaço de Cataguases contribui com a formação da ideia de cidade cultural, e como ela inspira seus habitantes a produzirem arte e cultura. Em função disso é provável que esta leitura seja mais restrita ao centro da cidade, por ser ele quem oferece mais elementos para investigação. Ao particularizar parte dos lugares do centro de Cataguases, a linguagem modernista, por meio de espaços e objetos com formas e cores inesperadas e ousadas, como a Concha Acústica da Praça Rui Barbosa, parece alterar significativamente o caráter do lugar, e criar um conjunto de espaços sob a mesma identidade. E como o lugar é um fenômeno qualitativo total, a ambiência pacata, o clima tranquilo, as pessoas sentadas tranquilamente nas praças, o trânsito lento em suas ruas de paralelepípedos com arvores a sombrear os passeios, e ainda a linha férrea, rios e córregos cortando a cidade, indicam o ambiente da cidade, que talvez possamos expressar como um ambiente de cidade do interior com anseios de grandeza. 111


Nesse sentido, os lugares do centro de Cataguases são atentos à questão artística e estética e às qualidade espaciais, sendo capazes de surpreender aqueles que a visitam pela primeira vez, e a instigar aqueles que vivem nela. A proximidade da vida cotidiana a esses lugares, marcados pelo modernismo, transforma uma experiência rotineira como ir à escola ou ao cinema, em uma imersão em um espaço construído com arte, repleto de significados e memórias. Os lugares são então, referências para os acontecimentos, sejam eles cotidianos ou excepcionais, e sendo assim quando o lugar possui qualidades intrínsecas, essas qualidades podem contagiar tais acontecimentos, possibilitando percepções mais profundas, como se o cenário fosse também um personagem do enredo da cidade. É dessa maneira que a essência da cidade conforma também a essência de seus habitantes: quando os lugares falam por si só.

Tomemos como exemplo a

menção de uma imagem recorrente de pequenas cidades do interior como a “praça da igreja”: o habitante de Cataguases, provavelmente recordará da Praça Santa Rita e sua igreja modernista, configurando assim, a imagem que talvez seja a mais singular quando comparada com outras neste mesmo contexto. Dessa maneira, acreditamos ser essa relação direta, esse ir e vir por entre edifícios e espaços públicos modernistas que sugerem ser algo mais que meras construções, que grande parte dos habitantes de Cataguases apresente um interesse e uma afinidade para com a cultura e as artes. No entanto, caráter e edificações são aspectos mutáveis dentro da cidade, o centro permanece e transforma-se pouco e lentamente, e por vezes ocorrem intervenções responsáveis por mudar o caráter dos lugares, ao mudar sua função, como no já mencionado exemplo do edifício da antiga Fábrica de Fiação e Tecelagem Irmãos Peixoto. Nesse sentido, o que podemos afirmar é que certa estabilidade dos lugares urbanos é necessária para abrigar a memória coletiva da cidade, e nesse sentido Cataguases, tem cumprido seu papel de preservar sua memória ao preservar seu patrimônio, inclusive neste mesmo exemplo da antiga fabrica de tecelagem, no qual, ao menos, a paisagem e sua memória foram mantidas, ao permanecerem a fachada e a volumetria do edifício. Outro fator relacionado ao caráter público do modernismo na cidade são os limites dos lugares. Muitos desses limites fazem fronteira com outros lugares, sem que 112


haja no entanto um bloqueio ou interrupção na transição entre eles, como por exemplo na praça Rui Barbosa e o Calçadão do Comércio, ou no cruzamento da Av. Humberto Mauro com a Av. Astolfo Dutra. Os limites dos lugares são essencialmente as fachadas da cidade, e em função da proximidade dos espaços, muitas vezes onde termina um lugar, já começa outro. Quando Norberg-Schulz fala em habitar poeticamente, ele refere-se confinar o espaço de maneira a oferecer diversos entendimentos e significados, e à possibilidade do espaço e das edificações serem mais que abrigos, não por capricho, mas por uma necessidade humana de poder imaginar e sonhar. Nesse sentido o centro de Cataguases com suas esculturas, painéis, jardins e edificações, expostos na e para a cidade, parece compor os versos da poesia que é viver em uma cidade que se mostra capaz de inspirar por meio de sua própria vida cotidiana. Compreendendo assim que Cataguases carrega uma poética espacial em seus lugares da região central, e que estes se relacionam de maneira muito próxima, de pelo menos parte dos habitantes da cidade, e considerando ainda que Norberg-Schulz defende que a arquitetura da cidade deve compreender a vocação do lugar e concretizar o genius loci, podemos supor que intervenções em Cataguases deveriam considerar o aspecto cultural da cidade como um elemento significativo, e principalmente, manter seu caráter público, para que as pessoas que vivem na cidade possam ser contagiadas por essa poesia do habitar e serem partes integrantes dos lugares, preenchendo o espaço com significados e ações cotidianas.

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Figura 110 Mapa de Cataguases de acordo com Christian Norberg-Schulz


6.5. Siza

Figura 111 Fotomontagem: Instituto Iberê Camargo, às margens do Córrego Meia-Pataca. A relação da arquitetura com a natureza parece fundamental para compor as paisagens e construir lugares. Fonte: Arquivo Pessoal

Através da ótica de Álvaro Siza, procuramos entender a relação entre o lugar Cataguases e a sua paisagem natural, cercada por morros e cortada por corregos e pelo Rio Pomba, procurando entender o que cada sítio indica para a arquitetura de modo a conformarem juntos, um lugar. No que diz respeito aos aspectos naturais de Cataguases, o elemento água mostra-se muito presente por toda a cidade, sem, no entanto configurar um elemento ativo na paisagem: as arquiteturas dão as costas para o Rio Pomba (com exceção, talvez apenas, da casa projetada por Oscar Niemeyer); muitas outras casas são construídas em áreas que deveriam ser destinadas à preservação da mata ciliar; Existindo somente duas pontes para cruzar o Rio Pomba, este se transforma em uma fronteira, como no caso dos bairros Ana Carrara e Dico Leite, separados pelo rio e obrigados a realizarem um grande deslocamento até o centro da cidade para vencê-lo. As margens do Córrego Meia-Pataca são espaços praticamente vazios e pouco atrativos, desprovido de mobiliário urbano, sendo aparentemente um local apenas de passagem, com pouca e esporádica utilização, principalmente para a prática de caminhadas em função da sua extensão e topografia suave, entretanto, conta com a 115


presença de equipamentos como praça, algumas lojas, posto de gasolina, rodoviária e posto de saúde pública nas proximidades; em algumas áreas do centro da cidade, os córregos configuram um obstáculo físico, apesar de não apresentarem grandes dificuldades para serem contornados, em função ao mau estado de conservação em que se encontram alguns trechos de suas margens, prejudicam a qualidade ambiental, e são quase sempre, fontes de problemas como pestes urbanas e mau cheiro, contribuindo negativamente para com a paisagem. A cidade tem sofrido nos últimos problemas recorrentes de enchentes e transbordamentos desses cursos d’água nos, indicando a necessidade de um novo olhar para sua questão hidrográfica, e algumas intervenções emergenciais, tanto para a qualidade da paisagem quanto para questões de salubridade. Em resumo, podemos dizer que o Rio Pomba e os córregos fazem parte da paisagem de Cataguases, sem, no entanto, participarem de maneira positiva da vida na cidade, nem serem entendidos como elementos atrativos para seus respectivos lugares. O relevo é outro fator importante em Cataguases, uma vez que a cidade desenvolveu-se pela região mais plana do vale e hoje, como na maioria das cidades no Brasil e no mundo, cresce ocupando as áreas planas ainda vazias, e quando isso não é possível, subindo os morros que a cercam. Essa característica parece explicar a forma urbana e suas franjas conectadas por longas vias ao centro da cidade. Essa ocupação dos morros ao redor da cidade, em sua grande maioria é feita por uma população de renda mais baixa, que na maioria dos casos depende de transporte público e outros serviços, exigindo que os ônibus realizem trajetos em vias muitas vezes inadequadas para este tipo de tráfego, e que em sua maioria também dependem de transitar do centro da cidade como acessos a esses morros. Outro elemento importante que compõe a paisagem de Cataguases, é a arborização, presente em quase toda a cidade, contribui para a identidade de Cataguases e responsável por sombrear e amenizar o clima quente da cidade, para que seja agradável caminhar por suas ruas de paralelepípedos na área central e imediações, e de asfalto em áreas periféricas e também em alguns pontos do centro. Esta arborização é elemento de destaque na paisagem do centro da cidade, ao sugerir um ritmo, e configurar um ambiente agradável e convidativo a percursos pedonais, juntamente com os elementos artísticos e arquitetônicos da região, e talvez seja o elemento natural da paisagem urbana mais apreciado pelos moradores. 116


Para além desses aspectos físicos relevantes na cidade, os fatores subjetivos e poéticos também são importantes para conciliar arquitetura e natureza, e sendo assim, é importante que também a arte faça parte dessa relação com o lugar. Vimos nas outras leituras que a aparentemente, a arte se mostra presente e ativa na cidade, no entanto, o que percebemos em Cataguases, é que os elementos naturais que se fazem mais presentes na forma da cidade, muitas vezes não são entendidos como elementos importantes para o bem estar e a qualidade de vida, e portanto parece não haver, o que Siza chamaria de uma relação harmoniosa e de complementariedade, entre arquitetura e natureza, o que pode explicar o fato do Rio Pomba e dos córregos, por exemplo, aparentemente não carregarem significados positivos, nem relações amistosas por parte da população. Siza afirma que o lugar deve suportar a dinâmica atual da cidade, e para isso entender a relação da natureza com a cidade é fundamental, e diz muito sobre o caráter dos lugares da cidade. Dessa maneira, entendemos que Cataguases hoje em dia, aparentemente não se beneficia de sua paisagem natural como poderia, uma vez que tal paisagem não se mostra tão integrada à vida cotidiana, como alguns exemplos do patrimônio do centro da cidade. Sendo assim, Cataguases deveria atentar mais para potencialidades a serem exploradas de sua paisagem natural, que muitas vezes, apesar do destaque de sua presença física, a sua relevância na paisagem da cidade parece ser ignorada e caracterizada apenas de modo negativo em função dos problemas que causa, como no exemplo das enchentes e transbordamento dos córregos e do rio. Entendemos assim, que a possibilidade de fazer com que estes elementos naturais possam sugerir novas funções e significados para Cataguases, e ainda oferecer soluções para problemas urbanos, muitas vezes causados por ignorar as potencialidades que estes elementos oferecem, não deve ser deixada de lado ao se realizar intervenções na cidade, uma vez que eles podem favorecer a integração entre pessoas e espaços, além de ampliar e enriquecer o entendimento da cidade, através de lugares que harmonizem aspectos naturais e urbanos, oferecendo qualidade de vida à população.

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1 Figura 112 Mapa de Cataguases de acordo com Ă lvaro Siza


6.6. Conclusões sobre o lugar Cataguases

As investigações sobre o lugar Cataguases, mostraram que a cidade, apesar das recorrentes abordagens à cerca de sua região central e seu patrimônio, apresenta outras situações que contribuem para a caracterização de sua paisagem e identidade, que devem ser trabalhadas para que ela possa buscar alternativas para seus problemas urbanos, e para que possa se afirmar como uma cidade rica em cultura e qualidade de vida. O tema centro/periferia se mostrou muito presente e demonstra uma questão, que não é exclusiva de Cataguases, mas que indica, o que parece ser um dos grandes problemas da cidade: as conexões entre os bairros. Percebemos que a região central e as regiões periféricas apresentam características espaciais e também temporais que lhes são especificas, ou seja, centro e periferia transformam-se em velocidades diferentes, edificando e estabelecendo significados também diferentes. Suas paisagens urbanas, dessa maneira, também se mostram distintas, entretanto a busca pela qualidade dessa paisagem deve ser uma constante. Além disso, a comunicação entre centro e periferia, apresenta fragilidades e limitações devido à obrigação de se passar pelo centro para acessar outras áreas e os poucos meios que realizam essas ligações, prejudicando tanto o centro quanto a periferia. As leituras referem-se também, com frequência, à paisagem urbana do centro da cidade, que percebemos exercer uma influência sobre o entendimento do patrimônio, e não somente ser influenciada por este patrimônio. Essa paisagem urbana é formada ainda pelos elementos naturais dos quais destacamos a topografia, os cursos d’água e arborização de Cataguases. Sendo assim, a relação de influência mútua entre paisagem natural, paisagem urbana e patrimônio, é que sugere o contraste entre as notáveis obras de arquitetura e a escala da cidade, e indicam o ambiente da cidade e seu caráter.

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Por fim, percebemos que a capacidade de inspirar, que supomos existir em Cataguases, parece emanar de sua própria vida cotidiana, principalmente no centro da cidade, onde existem conflitos e problemas urbanos comuns, mas que ao mesmo tempo convive-se com a arte, seja vivenciando o espaço ou simplesmente passeando distraidamente pelas ruas do centro, nos tornamos parte de uma paisagem capaz de alimentar a imaginação, principalmente por colocar a cultura como um elemento público e urbano. .

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Capítulo 7.

Considerações Finais

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7. Considerações Finais

Este estudo evidenciou a necessidade de um ambiente inspirador como elemento fundamental para a consolidação de uma cidade criativa. Mostrou também que intervir na cidade buscando enfatizar seus aspectos lúdicos e imaginativos, baseados em estratégias para ativar os espaços da cidade e suas conexões, é importante para aproximar tais espaços aos habitantes da cidade. A ideia de cidades criativas aproxima-se do pensamento urbano contemporâneo uma vez que ambos procuram entender ao diversos interesses que agem na cidade e promovem a sua construção, observando os diferentes movimentos dessa cidade em atividade e ao mesmo tempo buscando entender seu poder de inspiração e seu espirito do lugar. Ao falar em lugar, queremos enfatizar a relação existente entre as pessoas e os espaços da cidade, e nesse sentido, quanto mais possibilidades para que as pessoas conquistem os espaços e descubram os significados e sensações que ele pode oferecer, mais inspiradora será a cidade. Em resumo, todas essas abordagens, concordam que a cidade definitivamente não é uma entidade absoluta e concluída, e sim um fenômeno em aberto e passível de receber novos significados e novos significantes. E ainda, que a arquitetura pode revelar o genius locci, e dessa maneira oferecer novas possibilidades de entendimento desse lugar. Para que a arquitetura possa então cumprir esse papel, vimos que várias estratégias são possíveis, seja por extensos programas urbanos ou com base em arquiteturas icônicas, o importante é criar espaços propícios a se tornarem lugares, em função da sua riqueza ambiental, pluralidade de funções e atividades, e ainda pela imaginabilidade e ludicidade, que proporcionam. Os estudos de casos mostraram que para concretizar as intervenções, são necessários anos de planejamento e execução, além de um poder publico atuante e próximo da população que, por sua vez, deve participar ativamente na tomada de decisões, e mostraram ainda a necessidade de se estabelecerem parcerias entre os 122


setores públicos e privados uma vez que é interesse de ambas as partes criar uma cidade mais imaginativa onde a economia prospere. Cabe ainda ressaltar que a consolidação das mudanças urbanas, requer uma continuidade temporal independente de eleições e ciclos políticos. Os casos que estudamos indicam ainda, que por meio de planos e intervenções, as cidades buscam agir sobre sua própria identidade, buscando meios de fortalecer e afirmar o que é genuíno nessa cidade, assumindo o turismo planejado como uma estratégia para movimentar a economia e como uma consequência do destaque e da singularidade dessa mesma identidade da cidade, e também que utilizar a arte, a inovação e a singularidade dos lugares como ferramentas de atração tanto desses turistas quanto de artistas e pessoas criativas pode ser muito eficaz para o desenvolvimento urbano. Destacamos ainda que é fundamental para as cidades que o ciclo da criatividade urbana esteja completo e em movimento, em outras palavras: é fundamental a presença simultânea de eventos, ambientes e pessoas criativas, interagindo, imaginando e agindo com o objetivo de transformar a cidade e solucionar seus grandes e pequenos problemas. Ao passar tudo isso pelo filtro Cataguases, chegamos a uma leitura inicial e ainda fragmentada da cidade, no entanto entendemos que as condições atuais parecem indicar o caminho para torná-la criativa, alimentada pela sua alma moderna, mas atenta ao contexto contemporâneo. Por meio da leitura da questão do lugar Cataguases pela ótica dos cinco arquitetos apresentados, percebemos os diversos entendimentos que podemos ter dessa mesma cidade, que vão muito além da questão do patrimônio, embora esta permaneça como peça fundamental no debate urbano, como geradores de uma força que inspira, juntamente com os artistas e eventos multiculturais locais, a busca pela renovação da cidade. Por fim este trabalho buscou, as bases necessárias para sustentar que Cataguases pode e deve dar prosseguimento à sua historia, desenvolvendo-se com criatividade sem fazer tabula rasa do passado, mas possibilitando a contemplação e utilização desse passado precioso, por ainda apresentar a capacidade de nos inspirar. Através de um conjunto de intervenções urbanas coordenadas, como revitalizações e construções novas, com ênfase no aspecto cultural e público dos espaços urbanos e nas infraestruturas e conexões entre centro e periferia, atentando ainda para sua paisagem natural como um potencial a ser explorado, com o objetivo fundamental de 123


articular a vida cultural de Cataguases e sintonizar os componentes da criatividade urbana, acreditamos que ĂŠ possĂ­vel e viĂĄvel planejar uma Cataguases inspiradora e cultural: a Cataguases Criativa .

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Capítulo 8.

Proposições Iniciais

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9. Proposições Iniciais

Para consolidar Cataguases como uma cidade criativa e contemporânea, de acordo com os estudos de caso que realizamos, são necessárias ações em três escalas: território, lugar e objeto. A escala do território tem como objetivo a organização territorial, a fim de estabelecer a ideia geral de cidade que se pretende, possibilitando uma unidade e continuidade nas intervenções realizadas, portanto, cabe a esta escala, estabelecer o planejamento urbano, através de estudos e proposições de longo e médio prazo, e ainda atentar para aspectos culturais, sociais e econômicos vigentes na cidade. Por não ser o foco deste estudo, e por entendermos que o trabalho a ser realizado na escala do território demanda um processo de elaboração detalhado e rigoroso de toda a cidade, não nos aprofundaremos muito neste assunto, procurando apontar apenas diretrizes gerais para intervenções urbanas em Cataguases que possibilitem a criação de espaços com foco na cultura e na qualidade de vida, a serem realizados por intervenções na escala do lugar e do objeto. Dessa maneira buscamos estabelecer uma coerência entre as escalas de intervenção propostas, que serão desenvolvidas na continuação deste estudo, com o Trabalho Final de Graduação II. Na escala do lugar procuraremos agir principalmente por meio de intervenções no tecido urbano, visando a regeneração ou a criação de novas áreas estratégicas dentro da cidade, essencialmente por meio de projetos urbanos e paisagísticos, coordenados pelas diretrizes da escala do território. Por fim, na escala do objeto, buscaremos ações pontuais referentes à criação de ambientes criativos. Nesta escala, os projetos de arquitetura e design têm como objetivo oferecer qualidade de vida através da qualidade espacial, e consolidar a escala intermediária.

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8.1. Diretrizes Gerais para espaços criativos em Cataguases

As Diretrizes Gerais para espaços criativos na cidade de Cataguases tem como objetivo direcionar a criação ou renovação de espaços urbanos, sobretudo na questão cultural, procurando garantir uma qualidade espacial e integração destes com as demais áreas da cidade:

1- Ênfase nos espaços públicos: O espaço público como principal palco de trocas e convivência nas cidades, deve receber atenção especial dada sua importância para uma cidade criativa. Nestes espaços, as múltiplas culturas urbanas devem encontrar condições e equipamentos que favoreçam a troca de informações e a produção cultural, mesmo que de maneira informal. Devem ser espaços funcionais e lúdicos, contribuindo para a formação de um ambiente criativo na cidade. As praças e espaços públicos existentes, como a Praça Santa Rita, Praça Rui Barbosa, Praça Dr. Lídio, Calçadão, Calçadas da Avenida Humberto Mauro e Astolfo Dutra, Praça Chácara Dona Catarina, dentre outros, devem a principio, manter os usos existentes, tanto o uso cotidiano quanto para os eventos culturais de qualquer sazonalidade. No entanto, merecem ser incentivados a receber novos eventos e revitalizados seus calçamentos, mobiliário, iluminação, jardins, obras de arte e os patrimônios, caso existam no local. A criação de Novos espaços públicos pela a cidade também se faz necessário, para atender demandas da população, principalmente nos bairros e áreas periféricas. Esses novos espaços devem ser atraentes, funcionais e em sintonia com os usos e dinâmica dos locais, devendo contar ainda com elementos lúdicos e artísticos, como elementos ordenadores do espaço e não apenas elementos decorativos. 2- Novas Centralidades A criação de novas centralidades, ou novos polos criativos em áreas não centrais, deve atentar para as conexões necessárias entres estes e as demais áreas da cidade, para possibilitar que sua influência, possa repercutir também sobre as áreas do entorno, mesmo que de maneira indireta. 127


As novas centralidades devem estar aptas a receberem eventos e atividades de interesse da população e para tanto devem contar com toda a infraestrutura necessária para sua realização com segurança e facilidade de acesso.

3- Valorização do Patrimônio O patrimônio mostrou-se fundamental para a cidade, principalmente de seu caráter publico expresso nas praças e em determinados equipamentos urbanos, portanto, sua preservação e valorização dentro do ambiente urbano é de grande importância. Dessa maneira é aconselhado, fortalecer os instrumentos legais de preservação para assegurar a proteção dos imóveis, da poligonal histórica, e da paisagem urbana. É importante também incentivar a reutilização de edifícios antigos para novos usos, procurando preservar sua integridade física e espacial, e assim preservar também a paisagem urbana. Destaca-se ainda a necessidade de ações de divulgação e informação, para que toda a população possa conhecer o patrimônio da cidade, e entender a sua importância.

4- Investimento em Infraestruturas e Mobilidade Urbana Investir na infraestrutura urbana de maneira a garantir condições de salubridade e o saneamento básico, no centro e nas regiões periféricas, buscando minimizar os efeitos de desastres naturais e garantir uma melhor qualidade de vida Atentar para as infraestruturas viárias, visando conectar de maneira eficaz as diferentes regiões da cidade, principalmente aquelas separadas pelo Rio Pomba e Córrego Meia-Pataca. Incentivar o transporte público, e também os meios de transporte alternativos suaves, principalmente a bicicleta, por meio da criação de ciclovias e/ou ciclofaixas em áreas convenientes, buscando conectar os diferentes lugares da cidade, principalmente os lugares públicos.

E ainda buscar maneiras de integrar os meios de transporte

urbano. 128


Incentivar também a criação de áreas pedestrializadas, como calçadões e largos, buscando valorizar os percursos urbanos, e a melhoraria das condições das calçadas e travessias de pedestres. Para além destas diretrizes vimos nos estudos de caso, que uma cidade verdadeiramente criativa deve se esforçar também, para buscar soluções eficazes para questões de sustentabilidade, acessibilidade universal, que devem permear todas as intervenções, e estar cada vez mais integradas às intervenções e a vida nas cidades, possibilitando assim uma cidade mais saudável e democrática.

8.2. Áreas potenciais para intervenção

As áreas aqui destacadas representam locais com diferentes potencialidades para serem trabalhadas na cidade de Cataguases, apresentando escalas distintas, cada uma delas indica uma abordagem na busca por enfatizar os aspectos culturais da cidade, e apresentam questões especificas da problemática local.

Figura 113 Mapa geral das possíveis áreas de intervenção, observando suas relações com a região central da cidade. Fonte: Arquivo Pessoal

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1- Terreno entre a Rua Alferes Henrique de Azevedo e Av, Astolfo Dutra, próximo à Igreja de Santa Rita.

Figura 114 Área de Intevenção 1, na região central da cidade. Fonte: Arquivo Pessoal

Figura 115 Movimento para transformar a antiga casa do terreno em questão, em um centro cultural, no ano de 2009. Fonte: www.fabricadofuturo.org.br Acesso: 03/02/2013

Este terreno oferece a possibilidade de se trabalhar em um dos poucos vazios urbanos da região central, em meio ao patrimônio e o ambiente urbano de máxima centralidade, próximo à Praça Santa Rita e capaz de conectar a Avenida Astolfo Dutra à Rua Alferes Henrique de Azevedo, uma das que circula a praça. Representa ainda o local de uma antiga casa, o lugar já foi reivindicado como bem publico onde se deseja a criação de um centro cultural, no entanto não houveram desdobramentos positivos, e a casa foi demolida no ano de 2010 Neste

sentido

propomos

a

inserção

de

um

espaço

contemporâneo

multifuncional, essencialmente aberto e urbano no tecido da cidade, sem possuir um programa específico fechado, sendo capaz de receber atividades culturais diversas como dança, teatro, shows, skate, pintura, escultura, cinema e também proporcionar um ambiente de lazer e trocas no quotidiano da cidade, tanto para passagem por conectar duas ruas paralelas importantes, como para permanências em função das possibilidades de uso. Dessa maneira procuramos criar uma referência cultural urbana para a cidade, enfatizando seu caráter público, através de elementos que observamos fazer parte da vida na cidade, buscando consolidar uma articulação entre a cultura e os elementos arquitetônicos e artísticos do centro de Cataguases

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2- Área ao longo do Córrego Meia-Pataca

Esta área foi destacada por situar-se no limite do centro da cidade, conformando uma aparente fronteira e uma transição, e por receber grande parte do fluxo do centro realizando a conexão entre o centro e o bairro Vila Reis, bairro essencialmente residencial, que conta com a presença de uma importante indústria. Possuindo diversas situações como vazios urbanos, presença de uma praça e da Policlínica de Cataguases, acesso direto ao centro e dois acessos à periferia, além de conectar dois equipamentos urbanos de destaque, ao sul a rodoviária da cidade, e ao norte o mercado do produtor, nas proximidades da estação ferroviária. Apresenta

ainda

potencialidade

paisagística, em função da margem do córrego meia-pataca, e das palmeiras já existentes no local, e ainda sua utilização para corridas e caminhadas . Dessa maneira propomos a criação de um parque urbano, ao longo das margens do Córrego, criando ainda um largo no vazio próximo ao mercado produtor. O parque contará com deques sobre a margem do córrego, com equipamentos e Figura 116 Possível área de intervenção 2, dividida em 3 partes, nas quais destacam-se algumas situações urbanas de interesse. Fonte: Arquivo Pessoal

mobiliário que auxiliem as atividades que já ocorrem e que serão incentivadas como a caminhada e o ciclismo, através da ampliação do calçamento e da criação de uma ciclovia ou ciclofaixas, que conecte o centro e o bairro Vila Reis. Assim, procuraremos criar uma referência urbana, tanto para o centro

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quanto para a periferia da cidade, trabalhando a transição entre elas. 3- Área no Bairro Taquara Preta Esta área se consolidou a partir da instalação de um polo industrial, atraindo a população para este local distante do centro da cidade. Hoje, em função dessa distância, o bairro tenta suprir suas necessidades com um comércio local, mas ainda apresenta uma dependência centro, no que diz respeito a serviços, e à qualidade dos espaços públicos.

Figura 117 Possível área de intervenção 3, distante do centro, configuraria uma nova centralidade. Fonte: Arquivo Pessoal

As potencialidades destacadas nesta área são: primeiramente, no que diz respeito à infraestrutura e mobilidade, existe a proposta de instalação da nova rodoviária, que implicaria na mudança da relação do bairro com o restante da cidade, e ainda a construção de uma estrada que se comunicaria com Leopoldina, incluindo uma nova ponte sobre o Rio Pomba, permitindo a comunicação com outra região da cidade e criando um novo acesso ao bairro. Em seguida, destacamos os grandes terrenos vazios, capazes de receber grandes equipamentos urbanos, em especial o terreno do Parque de Exposições, local de grandes eventos e shows na cidade, na margem do o Rio Pomba, oferecendo um potencial paisagístico e urbano. Propomos então, a consolidação de uma nova centralidade, criando equipamentos urbanos e culturais de grande porte, além de espaços públicos, como um parque urbano, tanto para suprir carências locais quanto da cidade 132


como um todo, atentando ainda para as conexões entre a área em questão e o centro da cidade. Dessa maneira, entendemos que as relações entre centro e periferia podem ser otimizadas, através de uma nova dinâmica urbana e um novo entendimento de Cataguases, para além de seu centro.

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Bibliografia

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Bibliografia

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Anexos 138


ANEXO 01

Manifesto do Grupo Verde de Cataguazes

Este manifesto não é uma explicação. Uma explicação nossa não seria compreendida pelos críticos da terra, pelos inumeráveis conselheiros que dogmatizam, empoleirados nas colunas dos jornais mirins do interior. E seria inútil para os que já nos compreenderam e estão nos apoiando. Nem é uma limitação dos nossos fins e processos, porque o moderno é inumerável. Mas é uma limitação entre o que temos feito e o que os outros fizeram. Uma separação entre nós e os nossos adesistas de última hora, cuja adesão é um desconforto. Pretendemos também focalizar a linha divisória que nos põe no lado oposto ao dos demais modernistas brasileiros e estrangeiros. Não sofremos a influência direta estrangeira. Todos nós fizemos questão de esquecer o francês. Mas não pense ninguém que pretendemos dizer que somos - os daqui - todos iguais. Somos diferentes. Diversíssimos até. Mas, muito mais diferentes do pessoal das casas vizinhas. Nossa situação topográfica faz com que tenhamos, é fato, uma visão semelhante do conjunto brasileiro e americano, e da hora que passou, passa e que está para passar. Daí a união do grupo VERDE. Sem prejuízo, entretanto, da liberdade pessoal, processos e modo de cada um de nós. Um dos muitos particulares característicos do nosso grupo é o objetivismo. Todos somos objetivistas. Explicação? Não precisa. Basta meter a mão na cabeça, pensar, comparar e concordar. O lugar que é hoje bem nosso no Brasil intelectual foi comparado tão somente ao do forte grupo de Belo Horizonte, tendo à frente o entusiasmo moço de Carlos Drummond de Andrade, João Alphonsus, Martins de Almeida e Emílio Moura, com a fundação da Revista, que embora não tendo tido vida longa, marcou época na história da inovação moderna em Minas (Eles é que primeiro catequizaram os naturais de Minas e nos animaram com o exemplo para a publicação de VERDE). Apesar de citarmos os nomes dos rapazes de Belo Horizonte, não temos, absolutamente, nenhuma ligação com o estilo e vida literária deles. Somos nós. Somos VERDES e este manifesto é feito especialmente para provocar um gostosíssimo escândalo interior e até vaias íntimas. Não faz mal, não. É isso mesmo. Acompanhamos São Paulo e Rio em todas as suas inovações e renovações estéticas, quer na literatura como em todas as artes belas, não fomos e nem somos influenciados por eles, como querem alguns. Não temos pais espirituais. Ao passo que outros grupos, apesar de gritos e protestos no sentido do abrasileiramento de nossos motivos e nossa fala, vivem por aí a pastichar o “modus” bárbaro do Sr. Cendrars e outros franceses escovados ou pacatíssimos. Não temos pretensão alguma de escanchar os nossos amigos. Não. Absolutamente. Queremos é demonstrar apenas a nossa independência no sentido escolástico, ou melhor,“partidário”. O nosso movimento verde nasceu de um simples jornaleco da terra - JAZZ BAND. Um

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jornalzinho com tendências modernistas que logo escandalizaram os pacatíssimos habitantes desta Meia Pataca. Chegou-se mesmo a falar em bengaladas. E daí nasceu a nossa vontade firme de mostrar a essa gente toda que, embora morando em uma cidadezinha do interior, temos coragem de competir com o pessoal lá de cima. A falta de publicações, casas editoras e dinheiro tinha feito com que ficássemos à espera do momento propício para aparecer. Mas a VERDE saiu. VERDE venceu. Não esperamos aplausos ou vaias públicas, porque aquilo que provoca verdadeiro escândalo põe o brasileiro indiferente, na aparência, com medo ou com vergonha de entrar no barulho. Sim. Não esperamos aplausos ou vaias públicas. Os aplausos de certos públicos envergonham a quem os recebe, porque nivelam a obra aplaudida com aqueles que a compreenderam. Não fica atrás a vaia. A vaia é às vezes ainda uma simulada expressão de reconhecimento de valores. Por isso preferimos a indiferença. Esta será a mais bela homenagem que nos prestarão os que não nos compreendem. Por que atacar a VERDE? Somos o que queremos ser e não o que os outros querem que sejamos. Isto parece complicado, mas é simples. Exemplo: os outros querem que escrevamos sonetos líricos e acrósticos portugueses com nomes e sobrenomes. Nós preferimos deixar o soneto na sua cova, com os seus quatorze ciprestes importados, e cantar simplesmente a terra brasileira. Não gostam? Pouco importa. O que importa, de verdade, é a glória de VERDE, a vitória de VERDE. Esta já ganhou terreno nas mais cultas cidades do país. Considera-nos a grande imprensa os únicos literatos que têm coragem de manter uma revista moderna no Brasil, enquanto o público de nossa terra, o respeitável público, nos tem na conta de uns simples malucos, criadores de coisas absolutamente incríveis. É positivamente engraçado. E foi para dizer estas coisas que lançamos o manifesto de hoje, que, apesar de tão encrencado, nada tem de manifesto, apenas um ligeiro rodeio em torno da nossa gente, do nosso meio. RESUMINDO 1.º Trabalhamos independentemente de qualquer outro grupo literário. 2.º Temos perfeitamente focalizada a linha divisória que nos separa dos demais modernistas brasileiros e estrangeiros. 3.º Nossos processos literários são perfeitamente definidos. 4.º Somos objetivistas, embora diversíssimos uns dos outros. 5.º Não temos ligação de espécie nenhuma com o estilo e o modo literário de outras rodas. 6.º Queremos deixar bem frisada a nossa independência no sentido “escolástico”. 7.º Não damos a mínima importância à crítica dos que não nos compreendem. Cataguases/1927 Enrique de Resende, Ascânio Lopes, Rosário Fusco, Guilhermino César, Fonte Boa, Martins Mendes, Oswaldo Abritta, Camilo Soares, Francisco I. Peixoto

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ANEX0 02 Documento do IPHAN sobre o Tombamento de Cataguases Conjunto Histórico, Arquitetônico e Paisagístico da Cidade de

Cataguases, com a

seguinte descrição do perímetro da área do tombamento: Inicia-se na Praça Getúlio Vargas, confluência da Avenida Astolfo Dutra e Rua Coronel João Duarte, segue em direção à Estação Ferroviária obedecendo o traçado da antiga ferrovia, atual Rua Visconde do Rio Branco, abraçando, na Praça Governador Valadares a Chácara de Dona Catarina, seguindo após em direção às dependências da Indústria Irmãos Peixoto, pela mesma Rua Visconde

do Rio Branco, envolvendo-a, inclusive as vilas operárias existentes às Ruas

Gama Cerqueira e Manoel Peixoto Ramos. Deste ponto retornaem direção à Praça Getúlio Vargas, seguindo pela linha de cumeada do morro lindeiro, daí perseguindo a Avenida Astolfo Dutra pela margem esquerda do canal do Córrego Lava-pés. Segue pela Avenida Humberto Mauro até atingir o Colégio Cataguases, envolvendo-o e retornando à Praça Doutor Cunha Neto. Neste ponto toma a Rua Eduardo Del Peloso, alcançando a Avenida Coronel Artur Luz. Segue por esta até encontrar a Avenida Astolfo Dutra cruzando-a e seguindo pela Rua Araújo Porto; em seu término, na Rua Doutor Lobo Filho, inflete à direita e logo após à esquerda alcançando o Rio Pomba pela Travessa São Vicente de Paula. Cruzando o Rio Pomba envolve o Cemitério e a Companhia Industrial de Cataguases, seguindo após pela Rua Francisca Peixoto, compreendendo a Praça José Inácio Peixoto. Segue pela Rua José de Almeida Kneipp; em seu término, junto ao eixo de cotovelo do Rio Pomba volta a atravessá-lo, seguindo pela margem esquerda até alcançar o ponto de confluência do Ribeirão Meia Pataca. Neste ponto persegue a direção da Rua Ascânio Lopes até a altura da Rua Professor Alcântara, cruzando o Meia Pataca e seguindo por esta mesma Rua Professor Alcântara nº 134, última residência de Dona Eva Comello, até atingir a Praça Sandoval de Azevedo. Segue após pela Rua Joaquim Peixoto Ramos até atingir a Praça Rui Barbosa, onde inflete à direita pela Rua João Duarte, retornando ao ponto de partida na Praça Getúlio Vargas (os imóveis limítrofes cujas testadas estejam voltadas para os eixos de Ruas e Avenidas, deverão ser considerados parte integrante deste perímetro). No interior do perímetro acima descrito, além da atual pavimentação das Ruas e Avenidas ficam tombados, em especial, os seguintes bens imóveis e integrados: l. Prédio do Colégio Cataguases, atual Colégio Estadual Manoelb Ignácio Peixoto; Chácara Granjaria; Arquiteto: Oscar Niemeyer; Paisagismo: Roberto Burle Marx; Escultura "O Pensador" de Jan Zach; Painel de Pastilhas de Paulo Werneck; Propriedade do Estado de Minas Gerais;

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2. Prédio da Residência de Francisco Inácio Peixoto, à Rua Major Vieira n° 154; Arquiteto: Oscar Niemeyer; Paisagismo: Roberto Burle Marx; Propriedade do Espólio de Francisco Inácio Peixoto; 3. Prédio da Residência A.O.Gomes, à Avenida Astolfo Dutra n° 176;Arquiteto: Francisco Bologna; Painel de Azulejos (fachada externa) de Anísio Medeiros: Festa Nordestina; Afresco de Émeric Marcier: A lenda sobre o rapto das Sabinas; Propriedade de Nanzita Ladeira Salgado Alvim Gomes; 4. Prédio da Residência de Josélia Peixoto Medeiros, à Avenida Astolfo Dutra nº 146; Arquiteto: Aldary Henriques Toledo; Paisagismo: Francisco Bologna; Propriedade: Josélia Peixoto Medeiros; 5. Prédio da Residência de Nélia Peixoto, à Avenida Astolfo Dutra n°116; Arquiteto: Edgard Guimarães do Vale; Paisagismo: Francisco Bologna19; Propriedade de Nélia Peixoto; 6. Prédio do Hotel Cataguases, à Rua Major Vieira n° 56; Arquitetos: Aldary Henriques Toledo e Gilberto Lemos; Paisagismo: Carlos Percy20; Escultura Mulher de Jan Zach; Propriedade do Hotel Cataguases S/C Ltda.; 7. Prédio do Cine-Teatro Edgard, à Praça Rui Barbosa n° 174; Arquitetos: Aldary Henriques Toledo e Carlos Leão; Propriedade do Circuito Cinema Brasil Ltda./Loja Maçônica Labor e Trabalho e do Município de Cataguases; 8. Prédio do Edifício A Nacional, à Praça Rui Barbosa n° 68; Arquiteto: M.M.M. Roberto; Propriedade de Walter Ferraz Gomes e Espólio Silvio Ferraz Gomes/Sebastião José de Carvalho/Antonio Gomes de Carvalho/Maria Cristina Carvalho Thomé/ Espólio de Atheniense Ferraz; 9. Conjunto de Prédios das Residências Operárias, à Rua Francisca Peixoto; Arquiteto: Francisco Bologna; Propriedade da Companhia Industrial de Cataguases; 10. Monumento a José Inácio Peixoto, à Praça José Inácio Peixoto; Arquiteto: Francisco Bologna; Escultura A família de Bruno Giorgi; Painel de azulejos As Fiandeiras de Cândido Portinari; Propriedade da Companhia Industrial de Cataguases e do Município de Cataguases; 11. Ponte Metálica sobre o Rio Pomba; Propriedade do Município de Cataguases; 12. Prédio da Fábrica Fiação e Tecelagem Cataguases/M.Ignácio Peixoto & Filhos, à Praça Manoel Ignácio Peixoto s/n°; Propriedade das Indústrias Irmãos Peixoto;

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13. Prédio da Estação Ferroviária de Cataguases, à Praça Governador Valadares; Propriedade do Município de Cataguases; 14. Prédio do Museu da Eletricidade Cataguases-Leopoldina, à Av. Astolfo Dutra n° 41; Propriedade da Companhia Força e Luz Cataguases-Leopoldina; 15. Prédio do Edifício do Antigo Grupo Escolar Coronel Vieira, atual Escola Estadual Coronel Vieira, à Av. Astolfo Dutra n° 303; Propriedade do Estado de Minas Gerais; 16. Prédio do Educandário Dom Silvério, à Rua Doutor Lobo Filho n° 270; Painel (fachada externa) de Anísio Medeiros; Afresco da Capela Genesis de Émeric Marcier; Propriedade da Congregação das Irmãs Carmelitas da Divina Providência.

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