Uma perspectiva slow para a arquitectura contemporânea

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UNIVERSIDADE LUSÍADA DE VILA NOVA DE FAMALICÃO Faculdade de Arquitetura e Artes

Dissertação para obtenção do Grau de Mestre em Arquitetura

“UMA PERSPECTIVA SLOW PARA A ARQUITETURA CONTEMPORÂNEA”

Filipe José Costa Santos _____________

Orientador de Dissertação: Professor Doutor Francisco Peixoto Alves • Vila Nova de Famalicão, 2012

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AGRADECIMENTOS Em, primeiro lugar agradeço ao Professor Doutor Francisco Peixoto Alves, meu orientador, pela sua competência cientifica e acompanhamento do trabalho, pela sua disponibilidade, generosidade e empenho, revelado ao longo de todo o trabalho, assim como pelas suas críticas e sugestões extremamente construtivas. Em segundo, á minha família principalmente aos meus pais, por todo esforço empenhado para que eu tivesse terminado o curso e á minha namorada pelo seu esforço, incentivo, compreensão, encorajamento em todos os momentos da minha carreira académica. Em terceiro, agradeço a todos os meus colegas e amigos destacando, Paulo Lima, Mário Teixeira, Bruno Silva e Rui Sampaio pelo seu apoio, dedicação e pelos momentos de entusiasmo partilhados em conjunto e por fim á Universidade Lusíada de Vila Nova de Famalicão que gentilmente cedeu os instrumentos necessários para a concretização de todo este percurso. A todos os demais, o meu sincero agradecimento…

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IV


ÍNDICE Agradecimentos

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Índice

V

Índice de Figuras

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Resumo

X

Abstract

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Palavras-Chave

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Introdução

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Capitulo I A arquitetura de resposta aos problemas da cidade contemporânea 1. Falência da Cidade Moderna 1.1Origem da cidade Moderna 1.2Revolução Industrial 1.3A cidade moderna 1.3.1 O caos no urbanismo moderno 2. A slow arquitetura como resposta aos problemas da cidade contemporânea 2.1 Uma arquitetura para o slow Living 2.1.1 A origem e os princípios do “slow movement” 2.1.2 A emergência do “slow Living” 2.1.3 Do “slow Living” á ” Slow architecture” 2.2 Estudo de caso Slow- Eco-bairroVauban, Freiburg Capitulo II

18 18 20 24 28 36 36 36 40 48 54

A reabilitação do quarteirão da fábrica dos Botões 3. O quarteirão da fábrica dos Botões no contexto da cidade de Espinho 3.1 A cidade de Espinho 3.2 A zona industrial de Espinho e o quarteirão da fábrica dos Botões 4. A proposta de reabilitação do quarteirão da fábrica dos Botões para um “ Slow-Quarteirão” 4.1 A estratégia “Slow” para Espinho 4.2 Projetos de referência 4.3 O “ Slow quarteirão” como chave do “Slow Living”

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78 78 82 88 88 90 92


Conclus達o

100

Bibliografia

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Anexos

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ÍNDICE DE FIGURAS Imagem 1- Ilustra “A velocidade por força da tecnologia e da globalização”. Fonte: Produção própria a partir de fontes múltiplas.Pág.16/17. Imagem 2- Ilustra “Origem da Cidade Moderna”. Fonte: Produção própria a partir de fontes múltiplas.Pág.19. Imagem 3- Ilustra “ Revolução Industrial e tecnológica”. Fonte: The Charnel-House (2011). Pág.21. Imagem 4- Ilustra “ Consequências da Revolução Industrial”. Fonte: Produção própria a partir de fontes múltiplas.Pág.23. Imagem 5- Ilustra “ Caos na Cidade Moderna”. Fonte: The Charnel-House (2012). Pág.25. Imagem 6- Ilustra “ Passado, Presente e Futuro da Cidade Moderna”. Fonte: Autor desconhecido (http://ocw.mit.edu/ans7870/11/11.001j/f01/lectureimages/6/image50.html.) Pág.27. Imagem 7- Ilustra “ Sentimento de insegurança, perigo , isolamento e solidão ”. Fonte: The Charnel-House (2012). Pág.31 Imagem 8- Ilustra “ Cidade Radial ”. Fonte: Arquitectónico (2012). Pág.33 Imagem 9- Ilustra “Live Slow”. Fonte: Produção própria a partir de fontes múltiplas.Pág.37. Imagem 10- Ilustra “Conceito Slow”. Fonte: Dr.Deb, Psycological Prespectives, (2009). Pág.39 Imagem 11- Ilustra “Benjamin Franklin”. Fonte: Wikipédia, (2008). Pág.41 Imagem 12- Ilustra “Maus hábitos Alimentares “Fast Food”. Fonte: Hungry News, (2011). Pág.45

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Imagem 13- Ilustra “Slow food”. Fonte: Wikipédia, (2006). Pág.47 Imagem 14- Ilustra “Slow Architecture Ambience”. Fonte: Autor Desconhecido (http://juanvillamayor.com/2010/08/30/hammarby-the-eco-friendly-district-instockholm/). Pág.49 Imagem 15-Ilustra “transporte amigo do ambiente para um estilo de vida saudável”. Fonte: eco-chick, (2007). Pág.51 Imagem 16- Ilustra “Cidade de Freiburg e o seu Slow-Eco-Bairro em Vauban”. Fonte: Produção própria a partir de fontes múltiplas. Pág.55 Imagem 17- Ilustra “Vista aérea do Slow-Eco-Bairro em Vauban”. Fonte: Google Earth (2012). com produção própria Pág.57 Imagem 18- Ilustra “Planta de Usos do Slow-Eco-Bairro em Vauban”. Fonte: Estudo do Eco-bairro de Vauban, Ricardo Moura (2010). Pág.61 Imagem 19- Ilustra “O contributo da pegada ecológica para o Slow Living”. Fonte: OCM print management solutions (2012). com produção própria. Pág.63 Imagem 20- Ilustra “Espaços verdes geradores de um estilo de vida Slow, Freiburg”. Fonte: The Artfull Diva (2012). Pág.65 Imagem 21- Ilustra “Percursos que levam ao equilíbrio entre o natural e o construído”. Fonte: Execupundit (2011). Pág.67 Imagem 22- Ilustra “Edifícios característicos do bairro de Vauban, onde se percebe sua relação com a natureza”. Fonte: Photographs of car free areas (2012). Pág.71 Imagem 23- Ilustra “As crianças exprimem o equilíbrio slow do amanha”. Fonte: BETADAD (2011). com produção própria Pág.73 Imagem 24- Ilustra “A pesca como um dos contributos “slow” para a cidade de Espinho”. Fonte: Produção própria Pág.76 e 77

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Imagem 25- Ilustra “A história da atividade piscatória” Fonte: Autor Desconhecido Pág.79 Imagem 26- Ilustra “Espinho como atração turística e o que em tempos passados foi a sua realidade vivencial e que ainda hoje persiste ” Fonte: Noticiasdeespinho. Pág.81 Imagem 27- Ilustra “Caraterização de Silvalde ” Fonte: Produção própria a partir de fontes múltiplas. Pág.83 Imagem 28- Ilustra “Local de intervenção-Fábrica dos Botões ” Fonte: Produção própria. Pág.85 Imagem 29- Ilustra “A chave para obter o slowliving ” Fonte: Produção própria. Pág.89 Imagem 30- Ilustra “A realidade vivencial, ambiental e física para atingir equilíbrio do slowliving ” Fonte: Produção própria a partir de fontes múltiplas e de vários autores. Pág.91 Imagem 31- Ilustra “O desenho Urbano como estratégia Slow.” Fonte: Produção própria. Pág.93 Imagem 32- Ilustra “O Slow Quarteirão vivencialmente e fisicamente.” Fonte: Produção própria. Pág.95 Imagem 33- Ilustra “O edifício decomposto em várias peças, facilitando desta forma a leitura da sua organização interior. Na imagem superior o mesmo encontra-se despido de alçados, na central é uma planta tipo do piso, e por fim é a planta tipo de um apartamento T1 .” Fonte: Produção própria. Pág.97 Imagem 34- Ilustra “O apartamento tipo T1 vivencialmente e espacialmente.” Fonte: Produção própria. Pág.99

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X


Resumo O tema desenvolvido nesta dissertação parte de uma análise e reflexão a uma parcela da cidade de Espinho, estando esta inserida em Silvalde mais precisamente no quarteirão da Fábrica dos Botões. O presente trabalho levanta uma série de questões e etapas do passado, presente e futuro das nossas cidades. Aborda-mos, quais os problemas que determinaram a falência da cidade moderna, criando toda uma lógica onde será possível compreender todas as ideologias e etapas que a vão marcando e de que forma estas foram geradoras de “stress”. Como resolução de tais problemas, pretendemos demonstrar uma nova filosofia de vida, através de um equilíbrio, sendo este gerador de um comportamento vivencial extremamente saudável, isto é, o “slow Living”. Assim poderemos, compreender que este comportamento poderá ser mais do que um estilo de vida, pois conseguirá combater colapsos, não só vivenciais, mas também ambientais e físicos que se fazem sentir atualmente nas nossas cidades. O “slow Living” será o nosso ensaio projectual, sendo este um contributo que visa equacionar e apontar opções estratégicas e operações para a cidade de Espinho, no sentido de por um lado dar resposta a algumas lacunas que estão presentes na cidade e por outro explorar as suas mais-valias em prol de que esta prospere e contribua para uma melhor qualidade de vida dos Espinhenses.

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Abstract The subject of this thesis began with a reflection and an analysis of a parcel of the city of Espinho, which is part of Silvalde, more specifically in the block of Fábrica dos Botões. This work raises a number of issues and stages of our cities’ past, present and future. We addressed and identified the problems that caused the bankruptcy of the modern city, setting up a framework where it will be possible to understand all the ideologies and stages that affect it, as well as how they caused stress. Regarding the resolution of such problems, we intend to demonstrate a new philosophy of life achieved through balance, which generates an extremely healthy way of living, i.e., “slow Living”. Thus, we will be able to understand that this way of living could be more than just a lifestyle because it will fight collapses, not only those regarding the way of living, but also environmental and physical collapses that today are felt in our cities. Our project essay will be “slow Living”. It is a contribution intended to reflect on and identify possible strategies and operations for the city of Espinho. On the one hand, it aims to provide solutions for some of the city’s weaknesses and, on the other hand, to explore its qualities in order for it to achieve progress and a better quality of life for the citizens of Espinho.

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Palavra-chave Velocidade, Slow Living, Slow Arquitetura, Socialização

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Introdução Discute-se primeiramente a Cidade de Moderna, analisando quais foram os principais fatores que determinaram ou contribuíram para a sua falência. A cidade moderna é criada inicialmente com a principal função de dar resposta as dificuldades causadas pela Segunda Grande Guerra e pela nova solicitação imposta pela era industrial e tecnológica visando ser a solução para todos os problemas. Com esta nasce a velocidade e a perseguição do relógio, caracterizando-se esta época pelo ritmo de uma vida acelerada e stressante. Hoje em dia, vivemos num “Fastlife”, onde o tempo comanda a velocidade. Velocidade tal, que acaba por ser muitíssimo descontrolada e a qual nos direciona cada vez mais, para um colapso. Realizo então uma análise que ajudará a perceber, o que se pretende com a filosofia “Slow”, explicando assim os seus parâmetros que são: “Slowliving”, a “Slow food” e por fim a “Slow arquitetura”. O tempo é o bem mais precioso que possuímos, desta forma compreendemos, que a “Slow arquitetura” poderá ser a pedra toque para esta filosofia consequentemente desta forma, obter o “Slowliving” e libertando-nos do “stress” diário que se faz sentir em todas as cidades. Senti-mos agora uma necessidade de investigar um caso de estudo, Vauban é um bairro que se situa na Alemanha, a 4 km do centro da Cidade Freiburg e o qual foi construído como um “bairro modelo sustentável” numa base militar da Segunda Guerra Mundial. O principal objetivo do projeto é criar uma cidade que reúna todas as exigências ecológicas, sociais, económicas e culturais. Uma das grandes motivações da construção deste bairro foi o facto de haver uma enorme necessidade de consciencializar as pessoas ao nível da sustentabilidade e sociabilidade, dando alojamento a vários habitantes com um maior número de necessidades, tornando esta cidade quase como um ícone das

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cidades verdes e ambientalistas, integrando, assim as pessoas na sua construção e evolução deste projeto, potenciando o seu caráter social. Este forte caráter de socialização é gerador de calma e de paz de espírito do ser humano, trazendo de volta os seus costumes e vivências que um dia fizeram parte da sua vida. Existe agora uma necessidade de analisar o espaço a intervir, situado na Cidade de Espinho, mais precisamente na Freguesia de Silvalde, percebendo os seus cancros e as suas forças e discutir quais as suas fontes do “fast Living” e perceber de que forma o “Slow Living” poderá dar o seu contributo para uma melhor qualidade de vida. A partir de uma vasta investigação científica, passando esta por várias fontes de leitura tais como livros e artigos, consulta de arquivos institucionais, entrevistas a vários atores da cidade, inquéritos realizados á população e por fim o ensaio projectual, resulta a presente dissertação que se divide em dois capítulos. O primeiro aborda uma “A arquitetura de resposta aos problemas da cidade contemporânea”, isto é, levanta e discute uma série de questões históricas, sociais e ambientais como consequência da cidade moderna, e estuda de que forma a filosofia slow poderá contribuir para dar resposta a esses problemas. O segundo capítulo intitula-se pela “A reabilitação do quarteirão da Fábrica dos Botões”, na cidade de Espinho, com a intenção de ensaiar uma proposta de um quarteirão que incentive e potencie as vivências “Slow”. Desenvolve-se então um ensaio projectual com as preocupações existentes com o objetivo de abrandar e articular esta cidade com o “Slowliving”, tentando reduzir a velocidade de toda a sociedade, conseguindo assim educar o ser humano para um estilo de vida mais saudável como resposta as necessidades atuais. Aplicação de um “slow Quarteirão”, na antiga fábrica de botões, estabelece uma transição da “fastlife” que foi imposta pela era Industrial dando lugar ao “slowliving” que para aqui foi estudado, com o objetivo de criar uma nova forma de estar na vida, sendo esta uma mais valia, com a função de

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potencializar vivencias slow, dinamizar a economia e cerzir toda esta zona degrada ao resto da malha urbana de Espinho.

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CAPITULO I A arquitetura de resposta aos problemas da cidade contemporânea Imagem 1- Ilustra “A velocidade por força da tecnologia e da globalização”. Fonte: produção própria a partir de fontes múltiplas.

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1. A FALÊNCIA DA CIDADE MODERNA 1.1 ORIGEM DA CIDADE MODERNA

A cidade moderna aparece por volta do século XIX como apoio Revolução Industrial e Tecnológica, e também como apoio ao grave trauma presente, devido á Segunda Guerra Mundial. “O período moderno irá produzir uma rutura radical na estrutura, na forma, na organização distributiva e nos conteúdos e propósitos da urbanística da cidade. A formulação da “cidade moderna”, como todas as transformações históricas, processou-se em moldes difíceis de sintetizar, compreendendo um grande número de experiencias e formulações teóricas que não seguiram um processo linear nem tiveram origem num único lugar, tempo ou ambiente cultural. Arriscando alguma falta de rigor, designaria por “Cidade Moderna” o resultado das experimentações e formulações teóricas que, na primeira metade do século XX, irão repudiar a cidade tradicional e substitui-la por um novo modelo.”1 José Lamas (2010:297)

Assim, percebemos que a cidade moderna foi projetada com a intenção de dar resposta principalmente ao processo de desenvolvimento industrial e à presença do automóvel originando desta forma um colapso, que se fez sentir de três

formas

na

cidade:

vivencialmente/socialmente,

ambientalmente

sobretudo fisicamente, relacionando-se assim entre eles.(Imagem 2)

1

José lamas 2010 “morfologia urbana e desenho da cidade pág.297

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e


Imagem 2- Ilustra “Origem da Cidade Moderna”. Fonte: produção própria a partir de fontes múltiplas.

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1.2 REVOLUÇÃO INDUSTRIAL A cidade moderna é a responsável pelo “fastliving” que se faz sentir hoje, pois como cita Carl Honoré (2006:29) na era em que não haviam, “relógios fiáveis, a vida era ditada pelo que os sociólogos chamam o Tempo Natural. Faziam-se coisas quando se achava que se devia fazer, não quando o relógio mandava. Comia-se quando se tinha fome e dormia-se quando se tinha sono”, mas com a chegada da Revolução Industrial, aparecem os horários tornando-se assim, uma forma de estar na vida, provocando uma aceleração no tempo de todos os cidadãos, pois uma industria produzia mais em meia dúzia de dias, do que um mero artesão durante meses ou até anos. Esta nova velocidade veio ao encontro do que se procurava já á muito tempo e conseguiu atingir os seus objetivos, o que fez com que as pessoas a recebessem da melhor forma possível. Nasce agora a célebre expressão de Benjamin Franklin, “tempo é dinheiro”2 pois, mais que nunca associa-se o lucro à rapidez. Segundo Carl Honoré (2006:31),” Lewis Mumford, o eminente crítico social, identificou o relógio como a «máquina essencial» da Revolução Industrial.”3 Agora, é necessário que as pessoas pensem, trabalhem, leiam, falem, comam e até mesmo que se movam mais depressa. (Imagem 3) Devido a esta situação e à tensão, dá-se um colapso vivencial por força da pressão, pois o homem não consegue responder, fica abafado por esta nova solicitação. Assim, um dos grandes problemas que a cidade moderna se depara e para os qual não consegue dar resposta são a industria, a ditadura do relógio, o trabalho, a solicitação de produção e mais produção, perdendo desta forma o tempo para estar com a família, amigos e acima de tudo o tempo para descansar.

2 3

Benjamin Franklin, in Carl Honoré,”O movimento slow “ (2006:31) Carl Honoré, O movimento slow (2006:31)

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Imagem 3- Ilustra “ Revolução Industrial e tecnológica”. Fonte: The Charnel-House (2011). 23


Neste momento a urbanização também acaba por ajudar a acelerar este tipo de vivência, pois agora a cidade tem a capacidade de atrair cada vez mais cidadãos ativos e energéticos, sendo que quando chegam à cidade fazem tudo mais rapidamente.4 Com o desenvolvimento da Industrialização e da urbanização, começam a surgir várias invenções, ajudando assim, as pessoas a trabalhar, a viajar e também a comunicar mais facilmente a grandes distancias.5 A cidade não estava preparada para receber um crescimento súbito da população oriundo dos “locais rurais”, o que fez com que a falta de organização da cidade e das infra-estruturas levasse á emissão de resíduos industriais e domésticos. Estes eram encaminhados para os leitos dos rios, acabando assim por determinar uma situação insustentável do ponto de vista ambiental, que foi agravada pelo automóvel. A cidade e principalmente as zonas industriais, serviram de atração para a população do meio rural e das periferias, demonstrando a força da cidade sobre o campo. A cidade agora era vista como um pólo de atração, o local das oportunidades.

“Quando a velocidade surge, as grandes cidades explodem ou ingurgitam-se, o campo despovoa-se, as províncias vêem-se violadas no coração da sua intimidade. As duas entidades humanas tradicionais (a cidade e a aldeia) atravessam então uma crise terrível.”6 Le Corbusier (1997:7) Agora o crescimento demográfico e a fixação nos enormes centros urbanos alcançaram dimensões nunca antes verificadas. (Imagem 4)

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Carl Honoré, O movimento slow (2006:31)

5

Carl Honoré, O movimento slow (2006:31)

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Le Corbusier, Maneira de Pensar o Urbanismo, Lisboa, Publicações Europa-América, 1977, pág.7

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Imagem 4- Ilustra “ Consequências da Revolução 25 Industrial”. Fonte: Produção própria a partir de fontes múltiplas.


1.3 CIDADE MODERNA Começa-se a desenhar uma periferia, que acaba por determinar uma necessidade enorme de construção e em consequência acaba por ter diversos impactos no território. Aliado a este crescimento, seguiram-se fatores como a especulação imobiliária, tentando dar resposta do ponto de vista da construção, aquilo que são as necessidades da população em torno das zonas industriais, fazendo com que elas se concentrem á sua volta, porém de forma desorganizada, produzindo assim um impacto fortíssimo na cidade. “É neste período que surgem grandes extensões de loteamentos que repetem quadrículas até á exaustão, sem preocupações urbanísticas ou estéticas. As byelaws inglesas alastram em manchas de azeite, produzindo um tecido habitacional monótono, de extensas ruas, desprovido de intencionalidade e estética. Os interiores dos quarteirões são densificados. Aparecem as ilhas e as vilas como aproveitamento do solo, para a construção de casas para as classes operárias mais desfavorecidas. A cidade desenvolve-se por extensão de loteamentos e construções, e não pela organização do espaço urbano. São também estas urbanizações e a situação social e sanitária da população que motivam o pensamento urbanístico e higienista do séc. XX.” 7 José Lamas (2000:208) A cidade é agora caracterizada pelo crescimento demográfico elevado, construção de infra-estruturas derivadas da mobilidade e sobretudo construção habitacional desorganizada, levando assim, a uma relação de equilíbrio entre o construído e o natural perfeitamente caótico, determinando a falência ambiental. (Imagem 5)

7

José lamas 2010 “morfologia urbana e desenho da cidade pág.208

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Imagem 5- Ilustra “ Caos na Cidade Moderna”. Fonte: The Charnel-House (2011).. 27


A zona periférica é uma zona sem jardins, sem condições de higiene e ausente de infra-estruturas. “É na presente dicotomia periferia v.s. centro, que o cidadão sente a perda progressiva do direito de sentir-se em sua casa em qualquer parte da cidade sendo suplantado por uma combinação de interesses, que expulsa continuamente os habitantes dos bairros já consolidados e alimenta artificialmente a procura de novas construções fora e dentro da zona urbanizada.”8 Leonardo Benévolo (in Marta Bandeira 2008:12) Devido a este grave problema torna-se fundamental trocar o processo urbanístico, movendo as áreas residenciais para a periferia e mantendo-se, o núcleo financeiro, administrativo, industrial, comercial e cultural no centro da cidade. Assim tentava-se arranjar planos que dessem resposta aos problemas que surgiram. (Imagem 6) A Cidade Moderna passa agora por várias etapas e define-se por várias tipologias. “tão diversas como a Cidade -Jardim, a unidade de vizinhança ou o urbanismo anglo – saxónico, as experiências holandesas, alemãs e austríacas dos anos vinte - trinta, o racionalismo e funcionalismo da Carta de Atenas, ás propostas de Le Corbusier, os postulados e conclusões dos CIAM, e, finalmente, o Rol numeroso dos anónimos repetitivos e das extensões periféricas das cidades europeias dos anos cinquenta até aos anos setenta. No seu conjunto, existe um denominador comum a todas essas experiências, realizações e formulações teóricas: a recusa da cidade tradicional, das suas formas e da sua configuração, e a procura de novos modelos de organização do espaço urbano” (José Lamas 2010:300). 9

8

Leonardo BENÉVOLO – op.cit., p.78. in Marta Bandeira “Estacionamento intensivo em malhas

históricas consolidadas “ pág.12 novembro 2012 9

José lamas 2010 “morfologia urbana e desenho da cidade pág.300

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Imagem 6- Ilustra “ Passado, Presente e Futuro da Cidade Moderna�. Fonte: Autor 29

desconhecido(2012)(http://ocw.mit.edu/ans7870/11/11.001j/f01/lectureimages/6/image50.html.)


A imposição dos princípios inerente à Carta de Atenas de 1933 e a segregação do espaço urbano em parcelas mono funcionais (centro – financial district e periferia – zona residencial) veio não só promover a deslocação pendular diária10, responsável pelo crescente aumento da poluição, como também reduzir a utilização de áreas urbanas a restritos períodos de funcionamento11. A meu ver, é correto acreditar que o crescimento da relação dual do espaço urbano é resultado das quebras sociais e territoriais. Num âmbito em que os centros são cada vez mais periféricos, parece necessário criar um afastamento sobre uma perceção da verdade e dos seus consequentes resultados negativos. 1.3.1 O CAOS NO URBANISMO MODERNO A cidade foi o lugar de realização do homem, e de certa forma, como uma centralidade simbólica, aparenta ter uma função do passado. É nesta orientação que grande parte das políticas urbanas, estão mais inquietadas com a qualificação do espaço urbano, ou seja, realizar cidade por toda a cidade. Acentuando-se a este antagonismo, questiona-se hoje a cidade e os seus limites. Estamos perante uma cidade, diferentes cidades, ou diante de uma cidade inexistente? Neste sentido, será o próprio reconsiderar do papel urbano tradicional, pois há lugares da cidade, que têm sido usados apenas numa funcionalidade, através de comutações de zonas minimalistas e funcionalistas, questionando assim o seu papel.

Ascher François, metapolis 1995:12 A este tipo de migrantes quotidianos denominamos por “navetteurs” – são residentes activos fixados em cidades localizadas fora das “bacias de habitat e emprego”, onde trabalham e utilizam transportes colectivos rápidos, mas nas quais permanecem um tempo considerável. Pág.11 in Marta Bandeira “Estacionamento intensivo em malhas históricas consolidadas “ pág.12 Novembro 2012 11 Ascher François, metapolis 1995:12 O zoneamento funcional dos espaços urbanos surge nos nossos dias como um modelo social e cultural largamente inaceitável. Apesar de necessária a miscigenação funcional dos espaços urbanos, quando existe, não altera a ânsia de deslocação diária para fora da sua vizinhança por parte do cidadão da metápole. Pág.98 in Marta Bandeira “Estacionamento intensivo em malhas históricas consolidadas “ pág.12 Novembro 2012 10

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Derivado desta relação dual emerge a palavra Gueto, esta vem desencadear a condenação do espaço e também da população que o habita. É frequente comparar periferia a gueto, tornando humilhantes os espaços periféricos do lado vivencial ou social, ainda que sem qualquer motivo. O gueto é em grande parte um conjunto social ornado das suas próprias estruturas económicas aptas, para satisfazer, numa pequena parte, as necessidades dos habitantes, oferecendo assim, a pequenos empresários oportunidades de atividade profissional. Assim, a aplicação desta palavra, não pode ser vista nem sentida por toda a realidade urbana, de forma a criarmos uma oração mediática e normal acerca desses espaços. É evidente que a velocidade do processamento de urbanização por força da industrialização prolongou o processo, e as mutações na cidade, falando-se mesmo numa urbanização global. Este facto, por vezes desenvolveu, marcas sociais muito negativas e radicais como afirma L. Benovolo, quando refere que “Baudelaire procura uma via de saída para o spleen da cidade presente refugiando-se no passado, através da memória individual, ou no futuro, através do mecanismo ainda mais frágil do sonho.”12 Existe também a necessidade de nos questionarmos sociologicamente. Assim, é essencial realçar que a cidade antes da Revolução Industrial foi “fisicamente vivida, corporalmente sentida pelos seus habitantes”, e tinha como “expressão o símbolo do sistema social”13; representava modos de vida onde o local de trabalho e de habitação se agrupavam, transformando os espaços de consumo e os de produção num só. Logo, o cidadão possuía na cidade um panorama sólido de integração, de segurança ontológica e espacial. A perceção do futuro já não era a imagem de catástrofe e de angústia.

12

Leonardo Benevolo, A Cidade na História, Lisboa, Editorial Presença, 1995, p. 213. In Paula guerra

pág.85 Bertrand Valade, “Le monde urbain”, in Encyclopedie de la Sociologie, Paris, Livrairie Larousse, 1975, p. 122. In Paula guerra pág.85 13

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A pessoa da cidade sentia que estava num mundo de filiações comunitárias, marcado por fortes ligações de solidariedade e de sociabilidade fortes, situação bastante distinta da vivida com o aumento do processo de urbanização. “Se a industrialização pode (…) engendrar sentimentos de insegurança e fazer ler a rua como espaço perigoso, ela contribuiu também para multiplicar as situações de isolamento e de solidão, dissolvendo as filiações comunitárias que permitiram outrora a cada um contar com os outros.”14 (Imagem 7) Jean Rémy e Lilianne Voyé (in Paula Guerra pág.85) É nesta situação, que tentaremos sistematizar as mutações nas formas e também no que constitui a cidade a partir deste período, justificando assim, a convicção de que a cidade é sem dúvida um sistema complexo de fatores interrelacionados, e sendo que as mudanças numa das suas partes têm manifestações na cidade no seu total. Uma das conclusões decisivas deste método é o facto de se organizarem zonas residenciais ou bairros totalmente destituídos de quaisquer equipamentos apoiados ao trajeto da vida citadina e familiar, desenhando-os em simples espaços de habitação, cortando, e delimitando mesmo pela raiz, as suas funções anteriores: local de trabalho, local de habitação, local de lazer, etc… A visão de Le Corbusier vai igualmente na orientação de ordenamento e de gestão do caos da cidade tradicional, na forma em que compreende, que a cidade industrial errou no seu modelo, pois levou o cidadão a uma mistura de falsa de vivência entre espaço de habitação e espaço de trabalho sendo por isso marcante expor um exemplo formal da cidade e sua organização.

14

Jean Rémy e Lilianne Voyé, Ville, Ordre et Violence, Paris, 1981, pp. 47 In Paula guerra pág.85

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Imagem 7- Ilustra “ Sentimento de insegurança, perigo , isolamento e solidão ”. Fonte: The Charnel-House (2012).

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Esse modelo centra-se na seguinte ideia: “a cidade industrial radiocêntrica falha. Incomoda os homens impondo diariamente circulações mecânicas frenéticas e causando uma mistura congestionada dos locais de trabalho e dos locais de habitação; cinturas sucessivas e asfixiantes - que se inter-penetram como engrenagens - de estabelecimentos industriais e de bairros de habitação de rendimento, de oficinas e de pequenos e grandes aglomerados situados na periferia.”15 (Imagem 8) José Lamas (2010:352 e 356) refere que “ No conjunto de escritos, conferências e debates, nos projectos e obras construídas, Le Corbusier defende a sua concepção de «cidade da época maquinista». È a total oposição á cidade tradicional. Cidade tradicional contra a qual lutou encarniçadamente, criticando a rue corridor, o quarteirão e o plano marginal, propondo novas e diferentes formas urbanas. O quarteirão é suprimido, sendo substituído pela «Unidade Habitação» - contraponto arquitectónico da «Unidade de vizinhança» ”, consequentemente Le Corbusier sempre teve constante no seu pensamento uma cidade extremamente complexa, pois se investigarmos as suas obras deparámo-nos bastantes vezes com os seus pensamentos estranhos e insuspeitos, pois “ tal análise (repito) conduziria a considerar aspectos como a crítica a cidade tradicional e dos seus valores, admitindo a destruição da memória do passado e a renovação integral; a apologia do funcionalismo e da planta livre; as propostas de fragmentação e independência dos elementos morfológicos do sistema urbano; a apologia dos edifícios altos; a crença cega na civilização maquinista e na tecnologia; a defesa dos grandes blocos habitacionais, soltos no terreno, em detrimento dos contínuos construídos e da arquitectura integrada no desenho urbano; e a crença de que a grande arquitectura e o jogo plástico «das formas ao sol» poderia solucionar a organização urbana.”16

15

Le Corbusier, Maneira de Pensar o Urbanismo, Lisboa, Publicações Europa-América, 1977, pág.8.

In Paula guerra pág.87

16

José lamas 2010 “morfologia urbana e desenho da cidade pág.352 e 356

34


Imagem 8- Ilustra “ Cidade Radial ”. Fonte: Arquitectónico (2012). 35


A alusão a este urbanista evidencia-se pelo facto de ter reflectido sobre uma cidade excessivamente fragmentada pela urbanização. Segundo Jean Rémi e Liliane Voyé (1994:70) “Estes vários fenómenos de especialização do espaço tornam a mobilidade espacial necessária para os que querem utilizar os vários equipamentos, os quais, para além do mais, se hierarquizaram pelo espaço: se os equipamentos quotidianos, relativamente banalizados, estão bastante divididos pelos bairros, os equipamentos mais específicos localizam-se a níveis espaciais tanto mais largos quando respondem a usos mais excepcionais e necessitam de uma zona mais extensa de recrutamento de clientela ou utentes”, sendo que agora, “ os bairros residenciais estão, deste modo, frequentemente vazios de grandes equipamentos e tornam-se os locais em que se vive de forma forte a dissociação entre o profissional e o extraprofissional”, percebendo assim que, “o controlo ecológico já não pode ser a base do controlo social”17, isto é, reproduzem-se opções de deslocação para a efectuação de actividades lúdicas, como as quotidianas, as laborais ou as aquisitivas, evidenciando-se a mobilidade interurbana, que admite viagens maiores ao nível do tempo e do espaço em procura de serviços existentes noutros locais. É certo que a mobilidade vai agitar as desigualdades sociais, abrangendo particularmente a parte económica que os cidadãos têm face às viagens. As palavras que melhor expressam esta cidade moderna altamente urbanizada são sem dúvida o tempo, a produtividade, a economia, a tecnologia e a mobilidade. Numa óptica pessimista, marca-se uma corrente, que defende a (des) construção da cidade e a necessidade de uma certeza apenas urbana. Dentro desta perspectiva destaco a tese de Françoise Choay, que advoga o reino do urbano e a morte da cidade nos seguintes termos: “A cidade já não pode ser um objecto que justapõe um estilo novo ao passado.

17

Jean Rémy e Lilianne Voyé A Cidade: rumo a uma nova definição? 1994 Pág.70.

36


Ela não sobreviverá senão sob a forma de fragmentos, imersos na maré urbana, com faróis e bóias por inventar.”18 Alguns autores olham para esta situação dizendo que “a velha metrópole está fora de moda, é difícil de governar e é onerosa, já que os ‘efeitos perversos’ ultrapassaram há muito os ‘efeitos benéficos’.”19 Dentro deste pensamento, ainda interessa realçar se a cidade irá aguentar ser um território específico e unificado ou se é apenas um jogo de territórios, justapostos e diferenciados deixando de poder atribuir-se como uma unidade territorial. A enorme luta que se põe hoje à cidade – e especialmente a quem a pensa – é o de ter competência de orientar as tendências de uma segregação sócio-espacial, causando uma cidade talhada, onde se torna cada vez mais complicado refazer uma unidade urbana estruturada e integrada.20

18

Françoise Choay, “Le règne de l’urbain et la mort de la ville”, in La Ville, Art et Architecture, Paris,

Centre Georges Pompidou, 1994. In Paula guerra pág.90 19

Eduardo Vilaça e Isabel Guerra, Art. Cit., p. 81. In Paula guerra pág.90

Este debate é aprofundado por Marcel Roncayolo, La Ville et ses Territoires, Paris, Gallimard, 1990. In Paula guerra pág.91 20

37


2. A

“SLOW”

ARQUITECTURA

COMO

RESPOSTA

AOS

PROBLEMAS DA CIDADE CONTEMPORÂNEA” 2.1 UMA ARQUITECTURA PARA O “SLOW LIVING” 2.1.1 A ORIGEM E OS PRINCÍPIOS DO “SLOW MOVEMENT” Segundo a ONG slow movement Portugal o conceito slow nasce, como um movimento que defende uma mudança cultural, tentando abrandar o ritmo de vida. Carlo Patrini, foi o fundador, quem provocou a criação da organização do slow food, e a partir desse momento, desenvolvem-se várias subculturas em outras áreas no âmbito, das slow cities, slow living e slow design. (Imagem 9) Desta forma, Carlo Petrini afirma “ È inútil forçar os ritmos da vida, a arte de viver consiste em aprender a dar o devido tempo às coisas”21, protegendo assim o bem mais precioso que é o tempo. O tempo é o que temos de mais delicado, pois é um bem irrecuperável. O movimento slow traz o retorno dos valores essenciais do ser humano, dos prazeres do quotidiano, da tranquilidade, da simplicidade, da descontração, da reflexão, da convivialidade, da necessidade de pertencer e criar laços seguros o que só se consegue com um abrandamento das relações vivenciais, das cidades, vilas e lugares, atendendo aos diferentes contextos sociais como a casa e local de trabalho. Assim é possível conciliar um ritmo pessoal, natural e biológico o qual se traduz num bom estado de saúde global.

21

Carlo petrini in Guia de projecto viver bem ao ritmo certo, acedido em Outubro 2011, pág.4

38


Imagem 9- Ilustra “Live Slow”. Fonte: Produção própria a partir de fontes múltiplas. 39


“O slow movement preconiza o auto-desenvolvimento integrado e a possibilidade de realização do potencial de cada um, defende a biodiversidade, a redução do impacto ambiental e do consumo energético, a justiça, a solidariedade, a equidade, a responsabilidade social aos direitos humanos e a paz.”22 Viver slow é ótimo para o corpo e desperta a mente, conseguindo assim um viver num ritmo equilibrado, o qual se torna ótimo para nos relacionarmos com os outros e com o planeta. (Imagem 10)

“É um modelo para viver melhor sabendo quando é necessário abrandar ou acelerar não deixando que o abrandamento se torne estagnação, nem deixando que a aceleração se torne maníaca”.23

O movimento “slow” conta já, com várias cidades aderentes nos seguintes países Itália, Alemanha, Polónia, Noruega, Inglaterra e Brasil. Estes são países onde o movimento se assume como uma rede, sendo seguidas por outras como é em França, Espanha, Austrália, Portugal e Japão. Massimo Borri vice-presidente da autarquia de Orvieto no centro de Itália, diz que “ o objetivo central é respeitar regras para melhorar a qualidade de vida das pessoas que vivem numa comunidade nomeadamente tocante à vida social, que é muito agressiva. O

slowliving

poderá

ser

a

resposta

à

problemática

da

cidade

moderna/contemporânea, pois este estilo de vida surge a partir do stress causado pela revolução industrial, da obsessão do relógio, deste “fastlife” que se fez sentir no passado e se prolongou até aos dias de hoje. Assim, o slowliving será resposta não só ao nível físico e ambiental mas acima de tudo vivencial.

22

Slow movement portugal , Guia de projecto viver bem ao ritmo certo, acedido em Outubro 2011. Pág.3 23 Slow movement portugal , Guia de projecto viver bem ao ritmo certo, acedido em Outubro 2011. Pág.3

40


Imagem 10- Ilustra “Conceito Slow”. Fonte: Dr.Deb, Psycological Prespectives, (2009). 41


2.1.1

A EMERGÊNCIA DO “SLOW LIVING”

Agora, se pensarmos que grande parte do stress emergiu da era da industrialização, quando ela ganhava mais força, fazendo cada vez mais as pessoas se sentirem dependentes do relógio e da velocidade que por ele era imposta, neste momento havia indivíduos a queixarem-se de que as máquinas cada vez mais aceleravam o ritmo biológico da vida, fazendo com que as pessoas não se sentissem quase humanas, sendo que existiam mesmo cidadãos a tentar acalmar este ritmo. No final do século já havia doenças apontadas por psicólogos devido a esta aceleração.

“Benjamin Franklin esteve entre os primeiros a ter a visão de um mundo devotado ao descanso e à descontração. Inspirado pelos avanços da tecnológicos dos finais do século XVIII, previu que em breve o homem não trabalharia mais do que quatro horas por semana. O século XIX fez tal profecia parecer tolamente ingénua”, mas seguidamente, “em finais do século XIX, a Idade do Lazer despontou de novo no radar cultural. George Bernard Shaw disse que trabalharíamos duas horas por dia em 2000.”24 (Imagem 11) Carl Honoré (2006:167) Hoje em dia, esta tal Idade do Lazer é quase impossível de atingir, pois todos nós temos quase dez horas de trabalho por dia, perdendo assim o tempo que gostaríamos de alcançar para passarmos mais tempo com a família, amigos, e acima de tudo descansar desta pressão. Ajudando esta pressão, sente-se que cada vez é mais complicado de nos afastarmos do mundo do trabalho, pois somos perseguidos pela tecnologia, devido as auto-estradas da informação, sendo que a qualquer momento recebemos um e-mail, fax, chamadas ou até mesmo uma mensagem. 24

Benjamin Franklin, in Carl Honoré,”O movimento slow “ (2006:167)

42


Imagem 11- Ilustra “Benjamin Franklin”. Fonte: 43 Wikipédia, (2008).


Não podemos afirmar que o stress no trabalho é mau, quando controlado e equilibrado pode ajudar à concentração aumentando assim a produtividade. O excesso de trabalho também se pode tornar péssimo, pois encaminha-nos para o colapso mental e físico devido à exaustão. Por vezes, trabalhar menos, ajuda-nos a trabalhar com mais qualidade.

“Para o movimento Slow, o local de trabalho é um dos principais campos de batalha. Quando o emprego ocupa tantas horas, o tempo que sobra para tudo o mais encurta. Até as coisas mais simples – levar as crianças à escola, jantar, conversar com os amigos – se tornam uma corrida contra-relógio. Uma forma segura de desacelerar é trabalhar menos. E é exatamente isso que milhões de pessoas no mundo estão a procurar fazer.”25 Carl Honoré (2006:171)

Por exemplo, no Japão começa-se a perceber que os jovens procuram cada vez mais como opção de vida o trabalho temporário, assim ganham mais tempo para lazer e só trabalham quando necessitam e ao mesmo tempo em França para muita gente o fim-de-semana começa a quinta-feira ou acaba á terça-feira, fazendo com que os pais tenham mais tempo para os seus filhos e amigos. Esta realidade torna-se fantástica, pois as pessoas percebem que por vezes trabalhar menos, acaba por não mexer nas economias das famílias. È que ao passar menos tempo no trabalho acabam por poupar bastante dinheiro, pois conseguem gastar menos nos transportes, no estacionamento, refeições, jardimde-infância, etc. Começa-se a perceber no meio Industrial dinâmico, que dando equilíbrio entre o trabalho - vida que é uma mais valia na qualidade e produtividade.

25

Carl Honoré, O movimento slow (2006:171)

44


As mulheres com filhos são as primeiras a partir em busca desse equilíbrio, trabalho – vida dentro das empresas, e uma vez, que as pessoas mais jovens muitas vezes não se importam de trabalhar mais horas, realizando assim, parte do trabalho da mulher (colega de trabalho), que tem filhos e que sente necessidade de trabalhar menos tempo, para ganhar o tal equilíbrio trabalho – vida. Cria-se desta forma um equilíbrio entre as pessoas, recompensando ambas as partes sem ferir suscetibilidades.

“No entanto, trabalhar menos é apenas parte do projeto lento. As pessoas querem também poder decidir quando trabalhar. Querem controlar o seu próprio tempo – e empresas que lhes garantem esse controlo estão a colher

benefícios.

Na

nossa

cultura

tempo

é

dinheiro,

dar

aos

trabalhadores um domínio sobre o relógio vai contra a maré. Desde da Revolução Industrial, a norma tem sido pagar às pessoas pelas horas que trabalham, mais do que pelo que elas produzem. Mas os horários rígidos estão desfasados da economia da informação, onde a fronteiras entre o trabalho e o divertimento é muito mais difusa do que era no século XIX.”26 Carl Honoré (2006:183)

Sendo que, neste momento “Muitos empregos modernos dependem do tipo de pensamento criativo que raramente ocorre numa secretária, e que não pode ser condicionado em horários fixos. Deixar que as pessoas escolham as suas próprias horas, ou julgá-las pelo que conseguem e não pelo tempo que levam a consegui-lo, pode gerar flexibilidade que muitos anseiam.” Podemos, hoje perceber que as pessoas que sabem gerir o seu tempo ficam com maiores capacidades produtivas e criativas, conseguindo até ser mais divertidas.

26

Carl Honoré, O movimento slow (2006:183)

45


Outro grave problema de hoje que se faz sentir, graças à falta de tempo é a péssima alimentação. Segundo Carl Honoré (2006:58) “A pressa tomou o seu lugar à mesa de jantar durante a Revolução Industrial. No século XIX, muito antes da invenção do bar de hambúrgueres para automóveis, um observador resumiu o modo de comer americano como” agarra, engole e segue. Margaret Visser assinala, em “Os rituais do jantar, que as sociedades industrializadas valorizaram a velocidade como «um sinal de controlo e eficácia» no jantar formal”, sendo que hoje, “ Em vez de nos sentarmos com a família e os amigos, comemos muitas vezes sozinhos, em movimento ou a fazer outra coisa qualquer – a trabalhar, a conduzir, a ler o jornal, navegar na net.”27 Esta alimentação é tão errada, que até se faz sentir também até na agricultura e na produção animal, através de fertilizadores, alimentação intensiva, hormonas de crescimento, e isto para dar uma resposta rápida á mesa. Assim, é possível em pouco tempo os alimentos terem a dimensão essencial para chegar à mesa e ser saboreada, a partir do mesmo olhar e do mesmo gosto, mas nunca com a mesma qualidade dos produtos biológicos, contribuindo para obesidade humana. Com a mudança dos nossos avós para a cidade, sentiu-se uma perda enorme com a terra, olhando agora para a Fast-food com outros olhos. Como é conhecido, todas as culturas se diferem bastante no tipo de alimentação, visto que estão inseridas em diferentes sociedades e em mundos diferentes. Os americanos, os britânicos e os canadianos por exemplo sempre foram um povo que dedicou pouquíssimo tempo à mesa e que sempre tiveram o hábito de levar comida de fora para fazer a sua refeição em casa. (Imagem 12) Na Europa do sul onde a boa comida sempre foi um símbolo da boa alimentação, vê-se também agora com um grave problema, os restaurantes de boa qualidade sentem agora, que estão a ficar cada vez mais vazios devido aos restaurantes de comida rápida, e isto porque a espera nos mesmos é mínima.

27

Carl Honoré, O movimento slow (2006:58)

46


Imagem 12- Ilustra “Maus hábitos Alimentares “Fast Food”. Fonte: Hungry News, (2011). 47


Como afirma Carl Honoré (2006:61), “ Na procura de custos baixos e altos lucros, as produções industriais causam estragos no gado, no ambiente e até no consumidor. A agricultura intensiva é hoje uma das principais causas de poluição da água de muitos países ocidentais. No seu famoso repositório Nação da Comida Rápida, Eric Schlosser revelou que a carne americana produzida em massa está muitas vezes contaminada com matéria fecal e outros agentes patogénicos. Milhares de americanos são contaminados com E.coli por Hambúrgueres todos os anos.”28 Nasce agora a “slow food”, filosofia defendida por Carlo Petrini, escritor de gastronomia, o qual tenta combater este grave problema, dizendo que todos os restaurantes rápidos falham na alimentação. Carl Honoré (2006:62) diz que “O movimento defende tudo aquilo que a McDonald`s não faz: produtos originais, locais, sazonais; receitas passadas de geração em geração; agricultura sustentada; produção artesanal; refeições calmas com a família e amigos. A Slow Food prega também a «eco-gastromia» - a noção de comer bem pode, e deve andar de mão dada com a proteção do ambiente”.29 (imagem 12) A Slow food desta forma vem assim de encontro com uma boa alimentação, participando nas relações sociais e acima de tudo reflete-se na saúde.

28 29

Carl Honoré, O movimento slow (2006:61) Carl Honoré, O movimento slow (2006:62)

48


Imagem 12- Ilustra “Slow food”. Fonte: Wikipédia, (2006). Pág.44 49


2.1.1 DO “SLOW LIVING” Á “SLOW ARCHITECTURE” Percebe-mos agora que o Slow living, necessita de encontrar conforto e equilíbrio num tipo de arquitetura. Esse tipo, visa ser uma arquitetura Slow em toda uma cidade ou apenas numa zona da cidade, lutando para obter um equilíbrio entre o seu lado Fast e Slow. “O manifesto Cidade Lenta contém cinquenta e cinco pontos, tais como diminuir o ruído e o trânsito; aumentar os espaços verdes e Zonas pedestres; ajudar os produtores e lojistas locais, mercados e restaurantes a venderam os seus produtos; promover tecnologias que protejam o ambiente; preservar tradições estéticas e culinárias locais; e fomentar o espírito de hospitalidade e boa vizinhança”, isto é, “uma Cidade Lenta é mais do que uma cidade rápida que abrandou. O movimento pretende criar um ambiente em que as pessoas possam resistir à pressão de viver segundo um relógio e fazer tudo depressa.”30 Carl Honoré (2006:84) Numa Cidade Lenta existe tempo para tudo. Os cidadãos não se tornam obcecados pelo tempo, podendo assim descomprimir, pensar e até meditar em qualquer zona sem nada que os interrompa. O desenho dos percursos pedonais acontece com vários momentos marcados com árvores e bancos e com o comércio tradicional tenta-se sempre dar ênfase à pessoa e nunca ao automóvel, pois este, é o culpado pela velocidade, e pela poluição, tanto ambiental como sonora. Em vez das pessoas se deslocarem de carro para o trabalho, deslocam-se a pé, usufruindo assim de uma caminhada que poderá ser interrompida ou até mesmo acompanhada através da convivência com outro indivíduo. (Imagem 14) Uma das preocupações da cidade lenta é estimular a sua economia, estabelecendo horários de forma a aliviar todos os equipamentos da cidade, Carl Honoré (2006:93) refere que as “políticas de tempo urbano” são importantíssimas, pois “ pretendem tornar a vida diária menos frenética 30

Carl Honoré, O movimento slow (2006:84)

50


Imagem

14-

Ilustra

“Slow

Architecture

Ambience�.

Fonte:

Autor

Desconhecido

(http://juanvillamayor.com/2010/08/30/hammarby-the-eco-friendly-district-in-stockholm/). .46 51


harmonizando as horas de expediente em todo lado, desde as escolas, clubes juvenis, bibliotecas, clínicas médicas, lojas e escritórios”, em Bra, cidade do nordeste de Itália onde nasceu Carlo Patrini, o fundador da slowfood , diz que “ A Câmara municipal abre agora aos sábados de manhã para permitir que as pessoas tratem de assuntos burocráticos num ritmo mais calmo. Outra cidade italiana, bolzano, atrasou a hora de inicio das escolas para diminuir a pressa matinal das famílias…” Outro dos grandes problemas é tentar abrandar o ruído da selva urbana. “ Para promover a paz e a tranquilidade, uma nova directiva da União europeia obriga todas as cidades a diminuir os níveis de ruído depois das 19 horas.”31 Carl Honoré (2006:93) O automóvel é outro grave problema no que diz respeito á desaceleração da cidade, pois este é considerado o seu principal inimigo. Inimigo este, não só do ambiente mas acima de tudo do ser humano sendo o maior responsável por um número elevado de mortes na estrada. Infelizmente é um bem que toda a gente possui e o que se afirma na cidade mais do que o próprio homem. Devido a este problema, a paisagem urbana vê-se repleta de veículos, eliminando, assim o contacto social que poderia dominar a vida citadina. Agora, mais do que nunca, está na altura de lutar pelos direitos do cidadão, e já que não se consegue retirar todos os automóveis da vida citadina, pode-se tentar reduzir o uso do mesmo, cativando assim, as pessoas a usarem mais

os

transportes

públicos,

ciclovias

e

vias

pedonais,

proibindo

o

estacionamento e condução em certos locais, educando assim o cidadão através do desenho da cidade. (Imagem 15)

31

Carl Honoré, O movimento slow (2006:93)

52


Imagem 15- Ilustra “transporte amigo do ambiente para um estilo de vida saudĂĄvelâ€?. Fonte: ecochick, (2007).

53


O Novo Urbanismo iniciado nos EUA nos anos 80, vem em busca da unidade da boa vizinhança a qual é considerado o momento mais alto do urbanismo americano, pois colocam a cidade a ser desenhada para o homem e não para automóvel. “Tem bairros onde se pode andar a pé, generosamente semeados de espaços públicos – praças, parques, passeios, largos – e uma mistura de habitação para vários níveis de rendimento, escolas, espaços de lazer e escritórios. Os edifícios estão próximos uns dos outros e da rua, para promover um sentimento de intimidade e comunidade. Para acalmar o trânsito e encorajar o andar a pé, as ruas são estreitas e ladeadas por passeios largos e arborizados. As garagens escondidas da vista, nas traseiras das casas. No entanto, o Novo Urbanismo, como as Cidades Lentas, não pretende encerrar-se numa visão sépia de tempos idos. Em vez disso, o seu objectivo é usar as melhores tecnologias e concepções, velhas e novas, para tornar a vida urbana e suburbana mais descontraída e solidária – mais lenta.”32 Carl Honoré (2006:104) Segundo o arquiteto Tom Low “pensa que chegou a altura de reafirmar os princípios do Novo Urbanismo e mesmo de os aumentar com algumas ideias da slow food e das cidades lentas. Propõe um movimento novo e melhorado chamado «Urbanismo Lento».” Assim percebemos, que a slow arquitetura combate a problemática que se faz sentir na cidade contemporânea, preservando assim a identidade e construindo um sentido de lugar que estimula a atividade económica, protege as suas paisagens ambientais e promove o uso das tecnologias para melhorar a qualidade ambiental e do tecido urbano e acima de tudo criar novas oportunidades.

32

Carl Honoré, O movimento slow (2006:104)

54


55


2.1 ESTUDO DE CASO SLOW-ECO-BAIRRO VAUBAN, FREIBURG, ALEMANHA “Freiburg (que à letra se poderá traduzir como cidade livre), uma cidade com cerca de 200.000 habitantes, pertence à região de Breisgau, no estado federal de Baden-Wurttemberg, localizada no canto sudoeste da Alemanha, próximo da fronteira com a França e Suíça, a poente da magnífica Floresta Negra. É considerada a cidade mais quente e ensoleirada da Alemanha (em média cerca de 1800 horas por ano), facto que tem vindo a contribuir para o desenvolvimento das tecnologias de aproveitamento solar. Aí se realizam anualmente dois importantes certames: de energia solar e de biotecnologia. Dispõe de variadíssimos parques de captação solar, em inúmeras e distintas situações urbanas. Partilha com Pequim o recorde de duas bicicletas por cada carro registado, num conceito de mobilidade que assenta muito na utilização de transporte públicos eléctricos, em que os lugares para estacionamento automóvel no centro da cidade são muito raros, dando primazia à circulação e ao estacionamento para bicicletas. Tem uma população estudantil muito numerosa, sobretudo universitária, numa das mais antigas academias da Alemanha, população, essa que se desloca maioritariamente de bicicleta, conforme se pode comprovar pelos extensos parques de estacionamento em seu redor.” (Imagem 16) Ricardo Moura (2010:13,14)33

33

Estudo do Eco-bairro de Vauban, em Freiburg, Alemanha Contributos para a definição

de um modelo participativo com vista à disseminação de Eco-bairros em Portugal. Ricardo Moura pág.28 e 29

56


Imagem 16- Ilustra “Cidade de Freiburg e o seu Slow-Eco-Bairro”. Fonte: Produção própria a partir de fontes múltiplas.

57


Nesta cidade está inserido o Bairro Vauban, que em 1936 tinha sido uma base militar, a qual foi tomada após a Segunda Guerra mundial pelas forças de ocupação francesas na região. Segundo André Valverde (2010:67), “em 1992, o último contingente de tropas francesas abandona definitivamente as instalações do quartel de Vauban, zona militar situada a cerca de 3km do centro histórico da cidade, passando esta mesma zona a ficar sob a alcançada do Estado alemão”34, e durante o seu período de vaga, estas estruturas foram ocupadas por várias tribos de Hippies e Anarquistas. Mais tarde os mesmos tiveram de lutar pela posse de algumas barracas militares sendo que em vinte só puderam ocupar quatro. “O seu objetivo principal, definido logo em 1994 pelo município de Freiburg, em estreita colaboração com o Fórum Vauban, falava por si: «O objetivo deste projeto é a implementação de um novo bairro, de forma participativa e cooperativa, e que reflita preocupações ecológicas, sociais, económicas e culturais». Ficou assim claro, logo desde o seu início, que se pretendia, em primeiro lugar, um processo profundamente participativo e envolvente, e em segundo lugar, que o modelo do bairro não se concentrasse isoladamente nas questões ecológicas mas que as integrasse com as preocupações sociais, económicas e culturais.”35 Ricardo Moura (2010:21) Com este objetivo, o bairro acrescenta várias vantagens não só apenas vocacionadas para a ecologia mas também para o “Slow Living”. (Imagem 17)

34

ZONAS URBANAS SUSTENTÁVEIS, André Pinto Madeira Valverde, Outubro de 2010 pág.67

Estudo do Eco-bairro de Vauban, em Freiburg, Alemanha Contributos para a definição de um modelo participativo com vista à disseminação de Eco-bairros em Portugal. Ricardo Moura pág.21 35

58


Imagem 17- Ilustra “Vista aérea do Slow-Eco-Bairro em Vauban”. Fonte: Google Earth (2012). com produção própria.

59


Os restantes 38 hectares foram adquiridos pelo concelho municipal de Freiburgo que em parceria com o Fórum Vauban projetaram o atual plano urbano do Bairro. “ A reconstrução pós guerra de toda a cidade de Friburg deu-se, já, num plano de modernização e visão do futuro, tomando por exemplo as apertadas ruas antigas que foram alargadas para poder receber o elétrico, tentando-se afastar do centro o transporte individual”, mas sempre percebendo que “ foi acima de tudo a forma como a população local, especificamente a parte interessada em qualidade de vida e em questões de sustentabilidade urbana, «tomou conta» do processo de planificação na sua fase de gestação, que realmente definiu o futuro do bairro Vauban como exemplo de sustentabilidade urbana.”36 André Valverde (2010:67) Cita Ricardo Moura (2010:40) que “A área do novo bairro, e que corresponde

quase

na

íntegra

ao

antigo

aquartelamento

militar,

tem

aproximadamente 38 hectares, com uma pendente muito ligeira no sentido Nascente/Poente.”37 Os lotes individuais na sua grande maioria foram vendidos a um grupo que se dá pelo nome de Baugruppen (grupos de construção), que são pessoas formadas por arquitetos ou que tivessem alguma experiência de construção. A outra parte foi entregue a pessoas mais desfavorecidas tais como casais com filhos, idosos e a alguns residentes de Freiburg; e as restantes parcelas, foram divididas em 2 partes, pois uma delas foi vendida a investidores privados e a outra parte de Vauban foi projetada uma residência para estudantes da Universidade de Freiburg.

36 37

ZONAS URBANAS SUSTENTÁVEIS, André Pinto Madeira Valverde, Outubro de 2010 pág.67 Estudo do Eco-bairro de Vauban, em Freiburg, Alemanha Contributos para a definição de um

modelo participativo com vista à disseminação de Eco-bairros em Portugal. Ricardo Moura

60


O Fórum de Vauban criou algumas regras, isto é, premissas e conceitos a serem seguidos no desenho e disposição das habitações as quais contribuem para um estilo vida mais calmo e acima de tudo ecológico. O volume dos edifícios é desenhado a partir das parcelas as quais tem diferentes dimensões, sendo estas distribuídas de forma a criar uma zona central no bairro onde ficaram situados todos os serviços de apoio ao cidadão. Outra premissa é a proibição de habitações unifamiliares, sendo que as habitações coletivas não podem exceder os 4 pisos, tendo também que assumir um carácter único e especial. Com tal premissa a cumprir o facto de as habitações terem uma cércea baixa retira bastante pressão aos seus habitantes e oferece uma maior incidência solar sobre o solo, contendo assim um “skyline” vocacionado para uma “arquitetura slow”. Um dos principais conceitos deste bairro foi, criar um “Bairro de curtas distâncias” onde as pessoas se deslocam facilmente, diminuindo assim o stress e a insegurança criada pelo automóvel. O centro deste bairro é suportado por toda a zona de serviços que lhe dá apoio, como por exemplo, Jardins de Infância, escolas primárias, mercado, centro comercial, áreas de lazer, entre outros e os quais originaram á volta de 600 postos de trabalho. O conceito implementado para a mobilidade proporciona uma forte lincagem entre a ecologia e o “Slow Living”, menciona Ricardo Moura (2010:64) “a criação de um bairro de proximidade, onde as pessoas se pudessem deslocar a pé ou de bicicleta para cumprir a grande maioria das suas tarefas quotidianas. A partir desse pressuposto, o traçado do bairro foi cuidadosamente desenhado e planeado: foi definido um eixo central, ao longo do qual se distribuíram os diversos espaços comerciais e também pequenos escritórios e negócios locais. Os edifícios residenciais foram implantados na proximidade dessa alameda e intercalados por espaços verdes de utilização pública, traçaram-se vias e caminhos ortogonalmente em relação ao eixo principal, facilitando a ligação aos pólos comerciais e aos serviços.”38

Estudo do Eco-bairro de Vauban, em Freiburg, Alemanha Contributos para a definição de um modelo participativo com vista à disseminação de Eco-bairros em Portugal. Ricardo Moura pág.64 38

61


Para além desta ótima organização do plano, (imagem 18) o bairro tem também a sua vertente “slow eco” bastante forte, a qual expulsa os veículos sendo que estes mesmos só podem aceder em caso de apoio á habitação, no âmbito de cargas e descargas, libertando as ruas e os acessos da velocidade implementada pelo automóvel, retirando os gases e diminuindo o stress para o cidadão. Aqui sente-se uma vontade de reduzir o número de veículos particulares, sendo que existe também um parque de estacionamento nas extremidades deste grupo habitacional onde é possível deixar o automóvel, mas o qual tem custos elevados. A esta modalidade dá-se o nome de Parking-free em junção com o Car-free. Diz Ricardo Moura (2010:67) “as famílias com carro são bem-vindas, mas foram criadas regras para a sua utilização. Nas áreas residenciais apenas é permitido estacionar para efetuar cargas e descargas ou para recolher e deixar passageiros “, sendo que “Os lugares de estacionamento para residentes estão concentrados em três silos automóveis e num ou outro edifício residencial, cujo grupo de habitantes que o promoveu, optou por incluir garagens no seu subsolo. Aos residentes das zonas parking-free, a grande maioria das áreas residenciais, são colocadas duas hipóteses: uma utilização car-free ou em alternativa, uma utilização parking-free, podendo estas opções conviver no mesmo edifício ou na mesma rua.”39 Como opção “slow eco” as pessoas que não possuem veículo particular, deslocam-se de elétrico ou de autocarro que liga Vauban ao centro de Freiburg. O elétrico e o autocarro alimentam a rua central de forma apoiar todas as micropolaridades da cidade, mas também como opção existe um sistema de partilha de carros.

Estudo do Eco-bairro de Vauban, em Freiburg, Alemanha Contributos para a definição de um modelo participativo com vista à disseminação de Eco-bairros em Portugal. Ricardo Moura pág.67 39

62


Imagem 18- Ilustra “Planta de Usos do Slow-Eco-Bairro em Vauban�. Fonte: Estudo do Eco-bairro de Vauban, Ricardo Moura (2010).

63


Ricardo Moura (2010:66) cita que “O sistema de partilha de carros é proporcionado pela Car-Sharing Association (dirigida por Matthias-Martin Lübke, um dos fundadores do Fórum Vauban) e constitui-se como uma espécie de renta-car associativo, com mais de 4.000 membros de toda a zona de Freiburg. Possui uma frota aproximada de 160 carros, 16 deles afetos a Vauban, servindo um universo de 400 a 500 membros. O seu funcionamento é bastante simples: os associados requisitam um carro através da internet, recebem um código e a localização do carro mais próximo. Dirigem-se ao carro, abrindo-o com um cartão eletrónico pessoal e marcam o código num teclado. Se o código estiver correto, se for o carro certo, na hora combinada, então abre-se um compartimento onde estão as chaves do carro. Neste momento estuda-se a hipótese de alterar o sistema (até agora para uso exclusivo dos seus membros), tornando-o compatível com a rede que se encontra em funcionamento na vizinha Suíça.”40

Falando agora da energia concebida em Vauban, esta desenvolvia-se a partir da colaboração do Fórum Vauban, da cidade Freiburg e da Freiburg Energy Company (FEW), mas em 1992 a Câmara Municipal decidiu que os terrenos só podiam ser vendidos para habitações com baixo consumo de energia isto é, que se tornassem autónomos. Assim, o Fórum Vauban foi bastante bem sucedido, pois soube cativar as pessoas de forma a terem uma preocupação ecológica forte, e assim conseguiram fazer com que essa preocupação ecológica fosse muito aquém do que se pretendia inicialmente.(Imagem 19) Existem á volta de 50 habitações passivas e pelo menos 100 que produzem mais energia do que a que necessitam, pois está estimado que Vauban é um dos bairros que mais energia produz na Europa.

Estudo do Eco-bairro de Vauban, em Freiburg, Alemanha Contributos para a definição de um modelo participativo com vista à disseminação de Eco-bairros em Portugal. Ricardo Moura pág.66 40

64


Imagem 19- Ilustra “O contributo da pegada ecológica para o Slow Living”. Fonte: OCM print 65

management solutions (2012). com produção própria.


A organização de estudantes teve uma das primeiras atitudes ao nível ecológico, aplicando a maior instalação solar de Vauban num dos seus edifícios remodelados que é um parque de estacionamento coberto. Outra forma de produzir energia ecologicamente elevada no bairro, é a produção de energia a partir do biogás que provem da fermentação de esgotos e da compostagem de resíduos orgânicos, existe também uma central de aquecimento a que funciona com aparas de madeira.41 A água da chuva aqui também é aproveitada para rega, evitando assim, um grande número de infiltrações. As

ruas

e

os

espaços

públicos

de

Vauban

foram

estudados

cuidadosamente de forma a dar uma ótima resposta do ponto de vista da organização tanto ao nível físico como ao nível social. Existem zonas que são caracterizadas como espaços de interação social e várias zonas que são destinadas ao lazer, permitindo desta forma fortes vivências “slow”. (Imagem 20) Existem vários espaços verdes neste bairro tais como: o verde que desenha as margens do rio e envolve as áreas habitacionais; uma espinha central que contém árvores, sendo que as de grande porte situam-se nas zonas menos desenvolvidas. O percurso urbano é dominado por grandes corredores verdes, marcados a maior parte das vezes, por espaços de atividades sociais, por exemplo, entre as habitações existem zonas de barbecue, espreguiçadeiras, tanques de água, etc.

41

ZONAS URBANAS SUSTENTÁVEIS, André Pinto Madeira Valverde, Outubro de 2010 pág.71

66


Imagem 20- Ilustra “Espaços verdes geradores de um estilo de vida Slow, Freiburg”. Fonte: The Artfull Diva (2012).

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“Em Vauban, sobressai uma profusa e agradável estrutura de espaços verdes, intercalando edifícios recentes com espécies arbóreas cujo porte deixa adivinhar uma idade bem mais vetusta. Com efeito, das inúmeras árvores existentes (com mais de 60 anos) muito poucas foram abatidas para o desenvolvimento de Vauban, garantindo por si só uma boa parte da vegetação do local. A própria forma como o plano inicial foi desenvolvido é sintomática da importância que se atribuía ao equilíbrio ecológico do conjunto: antes dos primeiros esboços procedeu-se ao levantamento das principais espécies herdadas do aquartelamento militar francês

criando assim uma base

que permitisse

evitar

o abate

desnecessário dessas árvores. Ainda assim, as antigas alamedas do bairro foram amplamente reforçadas com novas espécies. Outro espaço verde importante é a reserva natural ao longo do ribeiro de São Jorge, com as suas árvores centenárias, que bordeja a área Sul de Vauban. Aí existem uma série de talhões, ora deixados em estado mais selvagem, ora cuidadosamente cultivados pelos habitantes de Vauban e também das redondezas. Alguns deles já existiam antes da criação do bairro. É uma prática relativamente comum nesta zona de Freiburg, são sobretudo hortas e jardins, pontuados aqui e ali por pequenas cabanas de madeira. Num dos talhões maiores funciona um jardim infantil - iniciativa de alguns pais de Vauban - que proporciona uma série de atividades para crianças no meio da natureza, num ambiente que favorece a autonomia e a saúde.”42 Ricardo Moura (2010:42) Este contacto com natureza traz de retorno a vida do ser humano, o equilíbrio entre o “homem vs natureza”, fator bastante forte a ter em conta na filosofia “slow”. (Imagem 21)

42

Estudo do Eco-bairro de Vauban, em Freiburg, Alemanha Contributos para a definição de um

modelo participativo com vista à disseminação de Eco-bairros em Portugal. Ricardo Moura pág.42

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Imagem 21- Ilustra “Percursos que levam ao equilíbrio entre o natural e o construído”. Fonte: Execupundit (2011).

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O processo de construção do bairro foi a característica chave para a interação social que se gerou, pois esta participação contribuiu acima de tudo para as relações de Boa Vizinhança (premissa fundamental na filosofia “Slow Living”). Formaram-se várias cooperativas sendo um passo importantíssimo no que diz respeito também à economia. Para além destas relações que se geraram graças ao trabalho em grupo, das pessoas em todas as residências fez com que as habitações tivessem custos bem mais baixos, algo que nunca seria possível através de empreendedores privados, permitindo assim, que as classes sociais com menos rendimentos conseguissem adquirir uma habitação digna de uma boa arquitetura.

“A constituição de cooperativas com vista à construção de edifícios de habitação coletiva abriu novas perspetivas para o cumprimento destes objetivos e preparou o caminho para uma melhoria da relação custo/benefício dos diversos espaços e soluções habitacionais. A viabilização e aconselhamento dessas cooperativas foram uma das missões mais importantes do Fórum Vauban na fase inicial. A ideia era simples: vários interessados conjugavam esforços, escolhiam um lote, planeavam em conjunto o futuro edifício, contratavam um arquiteto e uma empresa de construção e assim, poupavam tempo e dinheiro. Para muitas famílias, a criação de uma boa vizinhança através do planeamento e construção conjunta foi uma importante motivação para a sua adesão às cooperativas. A participação e envolvimento no processo de decisão ajudou a fixar os residentes, a considerar que estavam a criar algo que iam beneficiar o resto da vida.”43 Ricardo Moura (2010:54)

43

Estudo do Eco-bairro de Vauban, em Freiburg, Alemanha Contributos para a definição de um

modelo participativo com vista à disseminação de Eco-bairros em Portugal. Ricardo Moura pág.54

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Vou referir alguns dos grupos que mais se fizeram sentir ao nível do trabalho de equipa que são cinco: _ O grupo que se dá pelo nome de S.U.S.I (Iniciativa para um bairro Autoorganizado e Independente), foi o primeiro a instalar-se após a retirada dos militares. A partir deste momento começa-se a criar uma vontade de preservar grande parte dos edifícios, mas sempre tendo em mente a força que poderia resultar do trabalho em grupo na sua reabilitação. Assim, arrancaram a sua reabilitação com ajuda de alguns artesões, a qual levou a volta de 4 anos a ficar concluída contendo, 45 apartamentos com condições de habitabilidade para 10 residentes cada. Estas casernas foram habitadas por 50% de cidadãos com dificuldades financeiras e outros 50% por estudantes. Neste momento habitam na S.U.S.I 260 pessoas entre as quais 60 crianças. Na projeção deste edifício deram principal importância ao “slow Living” e à ecologia, tendo atenção nos materiais a usar: materiais de construção, isolamentos térmicos e construção a custos reduzidos. Este edifício foi nomeado a um prémio do Ambiente pela Câmara de Freiburg, e acabou por vencer graças ao programa ecológico, pois o mesmo passava pelo aproveitamento de materiais, como por exemplo: tijolos que foram reutilizados, ativação do primeiro cogerador o qual produzia energia térmica e elétrica, a partir do óleo vegetal e houve também uma aplicação de painéis isolantes (capoto) no seu exterior, criando consumos muito baixos ao nível da energia. Visto que este edifício é habitado por artistas, estudantes, trabalhadores e artesãos percebe-se que há um toque artístico, ao nível das cores e da sua organização dando-lhe um carácter único bastante forte e calmo.

_A cooperativa Génova parte de um conceito diferente, esta segue uns ideais cooperativos clássicos, constituído por 4 edifícios de 4 pisos cada, entre os anos de 1999 e 2000.

71


Durante o seu planeamento, houve uma relação de boa vizinhança entre famílias, desde pessoas com estilos de vida diferente como por exemplo adolescentes, jovens e até mesmo idosos, pois todos cooperaram na partilha de tarefas e comemorações. Todos os edifícios Génova estão equipados com boas acessibilidades, um deles está provido de uma zona comercial ao nível do rés-dochão. Todos estes projectos contêm como solução sustentável, painéis solares de aquecimento de água e ambiente, retém as águas pluviais para um depósito, tem fachada e cobertura ajardinada e por fim possui uma horta que é partilhada entre a comunidade. (Imagem 22) _A triangel é a terceira cooperativa que mais marca este eco-bairro sendo esta constituída por 2 edifícios de 4 pisos contendo 7 apartamentos cada, munidos de uma varanda ou jardim. Estes são bastantes ricos ao nível vivencial pois tem várias zonas comuns, tais como salas ao nível superior o que leva a uma boa interação social com o vizinho.

_O quarto edifício dá-se pelo nome Vogelnest, é habitado por pessoas de várias gerações havendo assim uma enorme inquietação ao nível da mobilidade. Tem 4 pisos de altura e é caracterizado principalmente pela sua estrutura em madeira, havendo assim uma preocupação em preservar a qualidade do ar. Com a participação de pessoas especializadas foi possível criar 2 apartamentos preparados para pessoas com alergias.

_O quinto e último edifício designado por Viva 2000 foi construído por uma equipa de 17 famílias, localizando-se a nascente e poente de um jardim comum, com os alçados orientados para a alameda de Vauban. A entrada dos apartamentos do rés-do-chão está marcada no jardim, e para aceder aos pisos superiores faz-se pelas galerias exteriores.44

44

Estudo do Eco-bairro de Vauban, em Freiburg, Alemanha Contributos para a definição de um

modelo participativo com vista à disseminação de Eco-bairros em Portugal. Ricardo Moura pág.42 á 47

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Imagem 22- Ilustra “edifícios característicos do bairro de Vauban, onde se percebe sua relação 73

com a natureza”. Fonte: Photographs of car free areas (2012).


Os edifícios passivos inseridos no bairro, são quatro: Wohnen e Arbeiten, ISIS, Klee e as casas “Plus Energy”, sendo que ambas definidas por 4 pisos de altura. Estas habitações têm um baixo consumo de energia, pois acabam por beneficiar do seu ótimo sistema de isolamento, o que faz com que não necessitem dos complicados sistemas de aquecimento. Isto é uma garantia não só ao nível ecológico, mas principalmente ao nível económico. Um dos objetivos que Vauban tentou desde sempre atingir, foi criar um bairro onde não se sentissem as desigualdades sociais, funcionando ao mesmo tempo quase como um bairro para uma mega família, e o qual tem como principais habitantes crianças. Em Janeiro de 2002, mais de 20% dos habitantes eram crianças com idades inferiores a 10 anos, levando assim a uma explosão demográfica no bairro. Assim desenvolveu-se uma nova necessidade, ou seja era o aumento da escola primária e do jardim-de-infância, o qual teve de passar a ser administrado por terceiros. Diz Ricardo Moura (2010:96) que “No entanto, várias pessoas que entrevistámos nos referiram que a qualidade de vida que vieram encontrar no bairro as fez decidir pela constituição de uma família mais numerosa do que aquela que inicialmente tinham considerado. Poder-se-á assim concluir que, para além de todas as vantagens ecológicas, Vauban teve um efeito demográfico que estimulou a natalidade. (Imagem 23) As infra-estruturas para todas estas crianças e jovens (neste momento mais de 1500) têm vindo a crescer nos anos mais recentes. Existem já 2 escolas primárias e 5 jardins-de-infância, com capacidade para 350 crianças. A escola que tinha originalmente 2 turmas de cada um dos anos, passou recentemente a contar com 4 turmas, numa população escolar de quase 400 alunos.” 45 Mas também existem outras preocupações, tais como os idosos, pois a população sénior tem cada vez mais tendência para aumentar, e por isso foi

45

Estudo do Eco-bairro de Vauban, em Freiburg, Alemanha Contributos para a definição de um

modelo participativo com vista à disseminação de Eco-bairros em Portugal. Ricardo Moura pág.96

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Imagem 23- Ilustra “As crianças exprimem o equilíbrio slow do amanha” com. Fonte: BETADAD (2011). com produção própria.

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necessário pensar de que forma é que poderiam proporcionar uma melhor qualidade de vida a esta pequena percentagem da população em termos futuros. Ricardo Moura (2010:99) faz referência, que “Só uma centena de pessoas, dos mais de 5.000 habitantes, está acima dos 60 anos de idade. No entanto, a maioria deles participa ativamente na vida social e política do bairro. Alguns estão comprometidos com a publicação da Vauban Actuel, a revista do bairro, outros dinamizam visitas guiadas ao bairro, alguns vão dinamizando a feira semanal de produtos naturais e biológicos.” 46 Concluo agora, que com todas estas preocupações sociais, ambientais e físicas ao nível da projeção e construção dos edifícios, percebemos que para além deste toque ecológico acrescentam-se enumeras vantagens que dão o seu contributo para uma arquitetura “slow”, isto é, os bairros estão repletos de zonas para interação social através de vários espaços públicos, sendo estes rodeados por uma mescla de serviços, escolas, zonas comerciais, edifícios com caráter educacional e principalmente habitações para todo o tipo de classes sociais. Todas as habitações estão próximas umas das outras em contacto com ruas apertadas para acalmar o trânsito e logradouros munidos de uma vasta vegetação com a intenção de promover o máximo contacto com a natureza. Assim, será possível conceber aos seus habitantes uma vida mais relaxada, equilibrada e desacelerada (Slow Living), acrescentando desta forma vantagens as realidades vivenciais, ambientais e físicas que cada vez mais se sentem quebradas por força da velocidade que hoje se vive nas nossas vidas e nas nossas cidades.

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Estudo do Eco-bairro de Vauban, em Freiburg, Alemanha Contributos para a definição de um

modelo participativo com vista à disseminação de Eco-bairros em Portugal. Ricardo Moura pág.99

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CAPITULO II A reabilitação do quarteirão da Fábrica dos Botões Imagem 24- Ilustra “A pesca como um dos contributos “slow” para a cidade de Espinho”. Fonte: Produção própria

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3. O QUARTEIRÃO DA FÁBRICA DOS BOTÕES NO CONTEXTO DA CIDADE DE ESPINHO 3.1 A CIDADE DE ESPINHO

A Cidade de Espinho é uma cidade bastante jovem, apenas com 100 anos de existência, sendo a sua origem ligada ao mar e ao seu vasto areal. O nome “Espinho - Mar” usado durante anos e hoje denominado por lugar da marinha, foi sempre um local marcado pela sua atividade piscatório sendo esta instalada por gentes piscatórias oriundas do furadouro, mas Espinho não era apenas mar, pois o seu areal atraía pessoas da classe média/alta que vinha em busca do sossego e de uma vivência mais calma, isto é uma vivência “slow”. (Imagem 25) O seu vasto Areal, surgiu muito depois do domínio Romano, após as águas do Oceano Atlântico terem recuado por força da sedimentação de areias o que deu origem a uma zona dunar. Em 1510 D. Manuel, refere que este local passa a ser zona piscatória sendo então concedidos direitos para esta atividade na costa do mar da Foz de Espinho até á Foz do Vouga. Com o progresso desta atividade a qual ainda hoje, tem uma forte lincagem com o estilo de vida “slow” na variante da “Slow Food”, nasce a necessidade da aproximação de mercados para venda do produto obtido, isto é nos locais mais próximos do porto, sendo que com todo este desenvolvimento, começa-se a tornar frequente e com movimentos migratórios povos provenientes não apenas do Porto mas também da cidade de Ovar.

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Imagem 25- Ilustra “A história da atividade piscatória” Fonte: Autor Desconhecido 81


A cidade de Espinho situa-se numa zona privilegiada do país, pois esta pertence ao sistema urbano Litoral (eixo Braga – Porto – Aveiro), tendo assim, uma ótima e rápida ligação ao nível dos transportes públicos, estimulando desta forma uma redução do trânsito automóvel, promovendo o transporte público e baixando os graus de ruido neste eixo. Nesta região, habitam cerca de 2,6 milhões de cidadãos, sendo 1 milhão pertencente ao distrito do Porto. Esta zona é caracterizada por uma elevada densidade populacional e por um enorme grau de urbanização, o qual acompanha quase todas as vias de comunicação, fazendo com que várias pessoas, em contraponto, optem por viver em Espinho, pois vão em busca de paz e tranquilidade. As cidades que envolvem Espinho são: Porto e Vila Nova de gaia que se situam a Norte a Sul; Ovar, Vale de Cambra, Santa Maria da Feira, São João da Madeira e Oliveira de Azeméis que se situam a Sul e a Oeste. Espinho situa-se num dos pontos mais distantes do distrito de Aveiro (50km), sendo o conselho constituído pelas seguintes freguesias: Espinho, Guetim, Paramos, Silvalde e Anta. Apesar do concelho de Espinho pertencer ao distrito de Aveiro, as suas ligações são apenas administrativas, estando assim muito mais relacionado com o Porto. Percebe-se que existe uma grande afinidade entre estas duas cidades, pois são apenas 18km que as afastam, colocando desta forma Espinho unido ao Porto ao nível Cultural, Social e Económico. O concelho de Espinho é favorecido por uma ótima situação geográfica e geológica, pois a cidade é caracterizada pelos seus vastos areais, que cada vez mais são procurados por turistas que procuram o equilíbrio da natureza. Estes vão em busca da riqueza de iodo que está presente naquele mar e também do seu agradável clima.(Imagem 26) Toda esta atração turística advém das populações residentes nas cidades envolventes, na época sazonal, contribuindo assim, para todo o desenvolvimento e progresso do concelho ao nível da economia, pois este acabou por se tornar num dos principais pontos turísticos do nosso país, devido ao seu espírito “Slow”. Compreendemos então que a cidade de Espinho reúne todas as condições ao nível geográfico, cultural, social e económico para ser considerada uma “Slow Cittie”.

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Imagem 26- Ilustra “Espinho como atração turística e o que em tempos passados foi a sua 83

realidade vivencial e que ainda hoje persiste ” Fonte: Noticiasdeespinho.


3.2 A ZONA INDUSTRIAL DE ESPINHO E O SEU QUARTEIRÃO

A sul de Espinho situa-se Silvalde, sendo esta a maior freguesia situada neste conselho. Esta possui uma das mais atrativas zonas costeiras do Litoral Norte de Portugal, onde o mar tem um caráter forte sobre a freguesia e onde a sua paisagem natural se torna muito aprazível. Assim, reúnem-se todas as condições para que a praia seja uma das maiores atrações turísticas sendo esta dotada de boas medidas de segurança e também equipada de um satisfatório conjunto de infraestruturas, apoiando assim os desportos sazonais típicos destas zonas. Fisicamente esta freguesia tal como cidade de Espinho é caracterizada por uma ótima permeabilidade ao nível das ruas graças ao desenho da sua malha ortogonal possibilitando uma boa e descomplexada fluência humana. Alguns dos quarteirões não participam dessa otimização, pois o seu miolo está ocupado por anexos, não permitindo assim uma correta utilização do seu logradouro o qual poderia colmatar uma boa interação social. As escalas das ruas de toda a zona de Silvalde têm uma dimensão favorável a uma marcha lenta, pois esta é qualificada de ruas de sentido único, com uma pedovia agradável marcada pontualmente por vegetação o qual favorece um percurso calmo e relaxado. As cérceas baixas dos edifícios são outro ponto forte que marca a cidade para vivências mais sossegadas, fazendo com que o cidadão sinta uma boa incidência solar na rua e ao mesmo tempo a sensação de liberdade e não de pressão por parte das suas volumetrias. As habitações têm uma grande proximidade, isto é, o afastamento entre elas é relativamente pequeno devido as ruas serem apenas de um só sentido, acabando por promover relações de boa vizinhança, e criando um sentimento forte de intimidade e comunidade entre os habitantes. (A imagem 27, é toda ela uma caracterização do texto escrito nesta mesma página)

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Imagem 27- Ilustra “Caraterização de Silvalde ” Fonte: Produção própria a partir de fontes múltiplas.

85


Percebe-se também que Silvalde tal como a cidade de Espinho foi desenhada, pensada e organizada sempre com a intenção de criar uma mescla ao nível dos usos, sendo que quando se percorre a freguesia nos vamos deparando, com espaços públicos bastante generosos, tais como praças, parques, passeios largos e uma mistura de habitações de várias classes sociais, intercalando com serviços, espaços de lazer e comércio. Torna-se assim, possível diminuir distâncias e principalmente a deslocação de automóvel, retirando da freguesia um pouco da velocidade, do ruído e do stress que é imposto pelo veículo, trazendo assim a Silvalde um carácter saudável, seguro e de qualidade de vida. Esta zona estimula o uso da bicicleta sobretudo pelo seu relevo quase plano mas acima tudo está equipada com várias ciclovias, que lhe acaba por dar um carácter sustentável. Mas este lugar não está apenas munido de boas condições e principalmente favoráveis a este estilo de vida mais calmo. O bairro piscatório e a zona industrial ocupam grande parte da freguesia de Silvalde. Este bairro é marcado pela degradação das habitações e parcialmente pela ausência de infra-estruturas, o mesmo está inserido entre duas barreiras físicas que são o campo de Golfe e a linha férrea. Geram-se assim, péssimas condições para ter uma habitação digna de uma boa arquitetura, ficando esta zona delineada também pela má qualidade de vida. Esta

situação

difere

toda

uma classe

social, verificando-se

uma

segregação social em comparação com a cidade, mas neste bairro nem tudo é negativo, pois aqui percebemos, que persiste uma memória muito forte, ou seja, a pesca que é onde também se sente uma relação de boa vizinhança, fator a ter em conta na filosofia “Slow”. Relativamente à zona industrial compreendemos que está dividida em duas

partes.

Numa

parte

situam-se

armazéns

que

se

encontram

em

funcionamento e em ótimo estado de conservação, apesar da sua má localização, e na outra parte percebe-se que foram vítimas do abandono, e da grande queda da economia de Espinho, estando estes armazéns num autêntico estado de degradação. (Imagem 28)

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Imagem 28- Ilustra “Local de intervenção-Fábrica dos Botões ” Fonte: Produção própria. 87


Piorando esta situação as indústrias surgem como o grande obstáculo que quebra toda a malha urbana a sul de Espinho, fazendo assim a passagem entre o urbano e o rural, o que acaba por originar um grave problema nesta área do ponto de vista físico e ambiental.

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89


4. A PROPOSTA DE REABILITAÇÃO DA FÁBRICA DOS BOTÕES PARA UM “SLOW-QUARTEIRÃO” 4.1 A ESTRATÉGIA “SLOW” PARA A CIDADE DE ESPINHO Todo este processo visa respeitar e exaltar todo o espaço a intervir, compreender todos os seus sinais, perceber as suas vontades, e promover através da arquitetura “slow” a mudança necessária para uma evolução positiva e sustentável. A estratégia está direcionada para a problemática existente, enfrenta os seus pontos negativos mas, acima de tudo, constrói um diálogo de compreensão e respeito com o lugar e com os cidadãos da cidade existente. “Slow é a palavra-chave de todo o projeto” É esta filosofia muito própria que lidera o caminho de análise, e é a partir dela que toda a plasticidade conceptual e projectual de todo o processo se vai desenvolver. Procura-se a regra e na regra a deformação, na deformação a chave para codificar a informação espacial existente e desta os dados para atuar. (Imagem 29) Solidificar e criar um lugar a partir da reorganização das áreas habitacionais e promover a acessibilidade por meio de transporte compatível com o ambiente; Criar um Slow-quarteirão, com a intenção de educar a cidade para um “Slow Living”, sendo esta a chave de todas as suas portas. Assim, pretendo instalar a filosofia “Slow”, sendo uma mais-valia na qualidade de vida, combatendo a segregação social, impor relações de boa vizinhança, e principalmente trazer de retorno á vida do homem a calma que em tempos foi vivida; Promover a socialização e desenvolver uma enorme zona de lazer e de estar, dedicada ao desporto, á meditação, ao cultivo e á cultura. A proposta parte do pensamento e da filosofia gerada na estratégia e para esta finalidade foi desenhada um plano, que passa por agarrar a ortogonalidade da malha urbana ao lugar a intervir. O lugar foi dividido em 4 zonas uma delas é a zona de habitação, outra será a zona de lazer, uma zona de estar e por fim uma zona de comércio.

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Imagem 29- Ilustra “A chave para obter o slowliving ” Fonte: Produção própria. 91


4.2 PROJECTOS DE REFERÊNCIA Este lugar caracteriza-se pela organização das áreas habitacionais, com os locais de trabalho e proporciona um amplo quadro de instalações que suportam as necessidades do dia-a-dia da população dentro do tecido urbano, sendo então possível promover a acessibilidade por meio de transporte compatível com o ambiente (local para os pedestres, ciclistas e transporte público da cidade acessível a todos), que reduza a dependência de veículos particulares (local com um carácter de vida sustentável) e, logicamente, o volume de tráfego. Isso diminui a poluição sonora e atmosférica (zona saudável, segura e de qualidade de vida) criando áreas comuns que oferecem oportunidades para desfrutar das zonas onde o tráfego automóvel provocou alterações discretas ou não (espaços públicos para a qualidade de vida), concebendo assim um carácter vida afastado do tempo e das velocidades. Os Slow-quarteirões foram projetados com o intuito de alojar em parte os habitantes do bairro dos pescadores, visto que são as pessoas com menos possibilidades financeiras e as que mais sentem as desigualdades sociais apesar do seu estilo de vida relaxado e bastante ligado á natureza. Gera-se então a oportunidade para que, novas gerações de cidadãos se fixem neste lugar calmo e sereno devido ás vivencias que o irão o habitar. (Imagem 30) Esta lógica de Slow-quarteirões irá localizar-se junto ao bairro dos pescadores, mais precisamente no terreno onde está instalada a antiga “Fábrica de Botões”, com a vontade de reutilizar todo este lugar. Desta forma obtêm-se um carácter habitacional e reaproveita-se assim, o leito do rio para desenhar um espaço de lazer. Essa enorme zona de lazer e de estar, é dedicada ao desporto, á meditação, ao cultivo e á cultura. Um lugar com estas características visa proporcionar á população uma melhor qualidade de vida, afastada de todo o stress que se vive no centro da cidade. (Imagem 30, Quadrado vermelho e preto) Outra intenção foi criar hortas urbanas de forma a promover a socialização obtendo um estilo de vida mais saudável estabelecendo um maior contacto com a natureza. (Imagem 30, Quadrado verde)

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Imagem 30- Ilustra “A realidade vivencial, ambiental e física para atingir equilíbrio do slowliving ” 93

Fonte: Produção própria a partir de fontes múltiplas e de vários autores.


Neste desenho urbano foram realizados dois equipamentos um deles é vocacionado para jardim-de-infância e lar de idosos (Imagem 31,tracejado cinza), fomentando boas relações que passam de geração em geração isto é, “memórias que ajudem a crescer”, tornando mais calmo o envelhecimento do Idoso e o crescimento da criança, e o outro será um mercado (Imagem 31, tracejado azul), que impulsiona a compra de produtos biológicos desenvolvendo assim a economia da atividade piscatória e agrícola, conseguindo desta forma educar o ser humano para uma alimentação mais saudável a qual o levará ao equilíbrio interior. 4.3 O SLOW-QUARTEIRÃO COMO CHAVE DO “SLOW-LIVING”

O Slow-quarteirão está enquadrado num lote de 3600 m2, e define-se como por dois edifícios de habitação coletiva, situados a poente do Oceano Atlântico e a sul da cidade de Espinho mais precisamente em Silvalde. O terreno facilitou a implantação proposta, tendo-se pretendido projetar um edifício que deixasse ter um bom funcionamento e articulação de todas as valências, sem se traduzir numa construção compacta nem de volumetria elevada cativando a serenidade humana, mantendo com a envolvente uma relação e uma comunicação equilibrada, permitindo ao mesmo tempo a criação de um espaço exterior que pudesse ser utilizado e usufruído como espaços animados e transparentes entre os dois corpos. (Imagem 31, tracejado vermelho ou planta de desenho urbano em anexo) O exterior dos dois edifícios foi projetado com a intuição de criar um espaço semi-publico ou semi-privado onde apenas a mãe natureza faz essa transposição, sendo que o observador é que tomará a decisão do caminho a seguir, dando lhe um cariz cultural e social, onde as pessoas permanecem ou interagem. Deste modo, pretende-se que o cidadão e o habitante encontrem um lugar, onde se sintam como uma espécie de convidados no espaço privado, mas ao mesmo tempo que interajam também com o espaço público, possibilitando a usufruição do espaço para o qual foram encaminhados, potencializando assim a sensação de liberdade no ser humano. (Imagem 32 ou planta de implantação em anexo)

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Imagem 31- Ilustra “O desenho Urbano como estratégia Slow.” Fonte: Produção própria. 95


"...Em muitas cidades ao redor do mundo, e não apenas no Rio, houve nos últimos anos uma tendência à construção de muros, de espaços privados. Mas há 300 anos nós tentamos, de certa maneira, liberar a cidade, abri-la, torná-la mais porosa, mais acessível, criando parques e espaços públicos que todos podiam usar. Ao fazer essas fortalezas privadas, como cidades muradas dentro da cidade, demos um passo para trás." 47 (Imagem 32, Quadrado verde ou alçados em anexo). O logradouro central foi destinado a hortas urbanas, zonas de meditação e reflexão ao ar livre, para que as crianças e os mais jovens possam beber desse modo de estar na vida e ao mesmo tempo que partilhem experiencias sempre em contacto com a natureza, estimulando também a socialização entre os adultos. (Imagem32, Quadrado vermelho ou planta do rés-do-chão em anexo) Os materiais usados no exterior são a relva em quase toda a sua extensão, transmitindo uma sensação de conforto tanto pela sua textura como pela sua cor, o deck de madeira trazendo algum calor a esta zona resguardada pelos os edifícios e os pequenos muros que marcam o espaço semipúblico e semiprivado são em aço cortén deforma a minimizar o impacto no terreno. (Imagem32, Quadrado preto) As fachadas deste edifício foram projetadas com o objetivo, de trazer ao exterior uma métrica que pudesse ser composta por cada habitante a partir das portadas de sombreamento e controlando ao mesmo tempo o conforto térmico da sua habitação. Este conceito de fachada compositiva parte da inspiração de uma pauta de música, criando assim uma opção consoante o estado de espírito de cada habitante. Desta forma potencializa-se diferentes vivencias ao nível interior, dando lhe um carácter mais “chill out”. (Imagem 32 ou alçados em anexo)

47

Zaha Hadid, 2010, in Formas : críticas blogspot

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Imagem 32- Ilustra “O Slow Quarteirão vivencialmente e fisicamente.” Fonte: Produção própria. 97


Iniciando o momento de chegada ao interior de um dos edifícios, apercebemo-nos da sua estrutura tipológica definida por uma métrica modelar que foi estudada inicialmente com a função de todos as habitações seguirem uma lógica de soma ou subtração consoante a necessidade, facilitando a circulação interior e a leitura dos mesmos aos que lá habitam. A sua comunicação horizontal é projetada para o lado com maior carácter publico, para que o outro mais privado (logradouro), seja estimulado por relações de boa vizinhança (através das habitações) o que acaba por exigir um contacto mais forte com a natureza e com um ambiente mais relaxado ao habitante, enquanto a comunicação vertical é marcada pelo lado das aberturas de vãos exteriores, estabelecendo um contacto direto com o logradouro, tentando cativar por este meio o ser humano a usar as escadas e abandonar a tecnologia (elevadores), os quais são marcas da velocidade no interior dos edifícios. (Planta de rés-do-chão e alçado em anexo). As habitações são do tipo T1 (60 m2) e T2(120 m2), vocacionadas para jovens casais, que optem por estilo de vida mais calmo e sereno. Esta tipologia de habitação contém uma forma modelar (a mesma lógica das Habitações mas dentro do edifício) partindo da desmaterialização de um retângulo obtendo dois quadrados

ouro.

Estes

quadrados

são

o

ponto

de

partida

para

o

desenvolvimento do interior de toda a peça (habitação), projetando as várias divisões do espaço que a compõe, isto é, espaço íntimo e espaço social. (Imagem do quadrado violeta e amarelo ou planta rés-do-chão em anexo) A projeção dos espaços interiores tem lógicas muito fortes, agarradas á intenção de transmitir liberdade pois, é um ponto focal no conceito “slow” (figura 19). Esta intenção está presente na lógica que eu designo por “openspace” onde as paredes interiores não chegam á laje de cobertura e se deslocam dos vãos exteriores, de forma a permitir uma maior incidência solar, obter uma zona dedicada a luz indireta e também aumentar a permeabilidade no seu interior, garantindo uma máxima ligação com o exterior referencio a obra do Arquiteto José Mateus “Casa de Juso”.(Imagem do quadrado cinzento ou planta e corte do apartamento tipo em anexo).

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Imagem 33- Ilustra “O edifício decomposto em várias peças, facilitando desta forma a leitura da sua organização interior. Na imagem superior o mesmo encontra-se despido de alçados, na central é uma planta tipo do piso, e por fim é a planta tipo de um apartamento T1.” Fonte: Produção própria.

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Com este desenho pretende-se que a zona social, não seja vivenciada apenas por uma zona relaxada e de convívio, mas sim acima de tudo de projetar uma zona onde seja possível, meditar, dançar, brincar e até mesmo deitar, onde tudo se afasta da velocidade e gira em torno do calma, do pensamento,

da

alegria,

e

partilha

daquilo

que

melhor

tem

o

ser

humano.(Imagem quadrado azul e quadrado salmão e planta apartamento tipo em anexo) A zona íntima é dividida em dois quartos no caso da habitação t2, estando um deles ausente de portas, potenciando a socialização que passa de pais para filhos. (Planta rés-do-chão em anexo.) Estas apenas estão inseridas nos arrumos e nas instalações sanitárias com a função de esconder ou realçar a privacidade. A tipologia de vãos que usei tem um comprimento agradável, devido á sua importância, que em tempos fez referência na cidade de Espinho, quando os pescadores iam para o mar e se ausentavam, a sua esposa esperava por eles debruçada no vão, mas o que eu ambiciono é que os habitantes abram os seus vãos e deixem correr a brisa que imposta na esta cidade e que tirem partido dela para relaxar. (Corte A do apartamento tipo em anexo) Pronuncio-me agora sobre os materiais usados na habitação: madeira de ébano que é quente e aconchegante e o epoxy que cria assim o equilíbrio com a seu brilho e frescura. (Imagem quadrado azul e quadrado salmão e planta apartamento tipo em anexo)

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Imagem 34- Ilustra “O apartamento tipo T1 vivencialmente e espacialmente.” Fonte: Produção própria.

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CONCLUSÃO O propósito de todo este trabalho é ajudar-nos a perceber uma série de questões e pensamentos como resolução de uma série de enigmas que se fazem sentir hoje nas nossas vidas e nas nossas cidades. Concluímos assim que este estudo ajudou-nos a perceber que a cidade moderna entrou em colapso, devido a uma série problemas que foram causados a partir de uma nova solicitação que era a velocidade, isto é, a velocidade do automóvel, da indústria, da construção e acima de tudo do homem. A cidade cria agora gravíssimos problemas ao nível vivencial, ambiental e físico, devido á era da Revolução Industrial e tecnológica. Compreendemos que graves erros foram cometidos no passado mas que ainda hoje se fazem sentir, por isso, é necessário mudar com a expectativa de poder alcançar a grande problemática da cidade contemporânea, que cada vez mais é conduzida para o “caos” e que ainda estamos a “tempo” de recuperar os valores que um dia tivemos e foram perdidos ao longo destes anos. A partir de uma vasta investigação em torno da filosofia “Slow”, concluímos, que aplicada na cidade de Espinho, poderá possibilitar a criação do bom viver onde na sua conceção arquitetónica, a construção deve oferecer espaços ao convívio e ao lazer característico da cultura local, á saúde física e mental da população e nos casos procedentes, á integração entre o ambiente de trabalho e novos ambientes, isto é, melhorar a qualidade de vida, reduzindo o stress, elaborar melhores condições de mobilidade, estimular atividade física, cativar o consumidor para o comércio tradicional e incentivar a atividade agrícola e o artesanato, ficando assim reunidas as condições perfeitas para o desacelerar do ritmo de vida. A Cidade de Espinho sempre prezou de uma boa localização e de múltiplos atracões turísticas e é conotada de uma malha ortogonal de excelência á semelhança das grandes cidades europeias. Esta malha faz com que a cidade tenha uma ótima organização ao nível dos quarteirões e das acessibilidades.

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Silvalde foi a zona selecionada para o ensaio projectual, pois foi um ponto focal de onde partiu grande parte do desenvolvimento económico de Espinho, sendo esta conotada de uma série de problemas marcados por edifícios obsoletos vocacionados para era industrial. Esta freguesia também é um lugar cheio de oportunidades, mas agora vocacionadas para Habitação, onde o logradouro tem um contacto forte com a rua, potenciando as relações de boa vizinhança o que demonstra um forte espírito “slow”. Concluímos ainda que, devido á sua pequena dimensão, e o facto de estar entre a ruralidade e o lado mais urbano contempla uma mescla de cidadãos e culturas muito distintas correspondente á sua organização física, podendo assim ser cruzada uma série de “ saberes e sabores”, criando condições para um contacto mais próximo entre a comunidade. Numa perspetiva “Slow”, nós acreditamos que a proposta de desenho urbano aplicada na zona de intervenção, caracterizado por percursos pedonais fluentes pela natureza e cheios de organicidade, pelas cérceas baixas, pela escala de rua, pelos espaços de lazer e espaços de estar e pela habitação, potencia as pessoas para um estilo de vida mais calmo e sereno afastado da velocidade que se vive hoje, instalado pela revolução industrial. Acreditamos ainda que a cidade de Espinho contém todas as vertentes, vocacionadas para este novo conceito pelas suas vivências, pela sua arquitetura e pela sua pureza ambiental. Seguindo esta filosofia como pedra de toque, percebe-mos que o espaço público e o espaço privado surgem como forma de interação social, a partir de diferentes culturas e identidades. Este espaço de habitar é agora um ponto focal para que o ser humano consiga obter uma maior qualidade de vida, pois este é dinamizador de todas as suas vertentes. Não menos importante, foi o projeto de execução, pois este leva-nos a uma melhor compreensão das escalas, do espaço e das propriedades de cada material, obtendo assim um conhecimento mais próximo da realidade.

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Como apontamento final, evidencia-se todo o conhecimento que foi gerado a partir de todo um percurso conceptual no âmbito deste trabalho na cidade de Espinho e que nos garante uma maior aptidão para a realidade profissional. Considera-se que o seguinte trabalho tenha conseguido atingir os requisitos de objetividade, porém, e numa ótica humilde onde ninguém se pode considerar perfeito onde o erro faz parte de todo o ser humano, o conhecimento é algo que se adquire com a experiencia a partir de muita dedicação e empenho.

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