A Filosofia Clínica no seu XX Congresso Nacional

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FILOSOFIA CLÍNICA “A Filosofia Clínica é um novo método de se fazer terapia, fundamentado nas teorias filosóficas acadêmicas, surgido, na década de 80, da prática clínica do filósofo Lúcio Packter na Europa e no Brasil. Uma terapia filosófica muito distante do ranço moral do mero aconselhamento e que, por não trabalhar com doenças ou distúrbios comportamentais de natureza exclusivamente psíquica, tipologias abstratas, estruturas inflexíveis e universais etc., igualmente se afasta do conceito psicopatológico de cura ou da necessidade a priori de equilíbrio ou de bem-estar”. “O filósofo brasileiro Lúcio Packter se dedicou ao estudo da subjetividade humana, não como uma entidade universal e abstrata, mas em sua vitalidade histórica e contextualizada, segundo modos de identificação da psique com o mundo profundamente únicos para cada estruturação da consciência. Ou seja, a arquitetura existencial da malha intelectiva de cada pessoa, segundo esse filósofo, é inigualável e insubstituivelmente singular. O que implica a mais profunda abstenção de julgamento de valores universais sobre o psiquismo de alguém. Não se trata, porém, de um ceticismo absoluto e sim de uma filosofia da escuta radical, cuja suspensão do juízo sobre a pessoa é lenta e cuidadosamente substituída por um conhecimento teórico e vivido, criterioso e ético, feito de maneira artesã sob a medida da singularidade individual”. “A Filosofia Clínica procura, antes, desfazer falsos problemas existenciais, derivados de uma certa forma de pensar as teorias da psique humana. Que a atividade filosófica se torne eficaz e tenha um alcance terapêutico em nada implica quaisquer formas de cura, embora possa haver coincidência em alguma comparação. O que faz o filósofo clínico é outra coisa: entender a natureza dos problemas existenciais daquele que o procura e ajudá-lo em seu livre-arbítrio, ante as múltiplas e difíceis escolhas da vida. É o caráter epistêmico, pedagógico e ético dessa filosofia que lhe permite um método terapêutico”. “Nessa escuta profunda, o filósofo recupera dia a dia o espanto inaugural do saber, que deu origem à filosofia e, perante o já conhecido, mantém acesa a poderosa força das hipóteses. Motivo suficiente para esclarecer que a Filosofia Clínica não é nem


poderia ser um simples resultado de muitas leituras. Não é, pois, a filosofia acadêmica “aplicada à clínica”, como se a realidade fosse um muro a nos separar da outra pessoa e a erudição uma pintura do seu retrato Antes, fazer clínica filosófica é caminhar junto nos labirintos do partilhante e, em seus momentos mais difíceis – talvez os nossos também –, abrir-lhe uma janela como fossem pálpebras sobre o desconhecido, iluminando sua vida”. “Não poderia haver maior equívoco ao se acreditar que os dramas íntimos são questões exclusivas dos foros das psicologias. Por certo não.10 Há importantíssimas questões filosóficas concernentes à relação entre a mente e as estruturas do mundo que a envolvem. Isso justifica o posicionamento e a definição de conceitos tais como “indivíduo- coletividade”, “alma-corpo”, “vontade”, “ilusão”, “verdades subjetivas”, “morte”, “eutanásia” etc. Por fim, até as questões psicológicas devem, antes, ser fundamentadas pela filosofia, em busca do entendimento e da transformação do que é ou se denomina “realidade”. Antes das psicologias ou psicanálises, é missão da filosofia garantir uma indispensável certeza: para se conhecer as profundidades de alguém, deve-se, primeiro, saber quais são os limites do conhecimento humano. O mais sábio há de ser o mais humilde”. Trechos do livro “A Escuta e o Silêncio. Lições do Diálogo na Filosofia Clínica”, de Will Goya.

Informações e inscrição: http://enfcgoiania.com.br/


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