# TEMPO

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Cecília Cavalieri França ilustrações

Marcela Ghirardelli




Texto © Cecília Cavalieri França Ilustrações © Marcela Ghirardelli Este livro ou parte dele não pode ser reproduzido por qualquer meio sem a autorização da editora.

Cip-Brasil. Catalogação na Publicação | Sindicato Nacional dos Editores de Livros, RJ.

F881t

França, Cecília Cavalieri #tempo / Cecília Cavalieri França ; ilustração Marcela Ghirardelli. - [2. ed.] - Belo Horizonte, MG : Fino Traço, 2014. 56 p. : il. color. (Traço Jovem ; 10) ISBN 978-85-8054-232-5 1. Ficção infantojuvenil brasileira. I. Ghirardelli, Marcela. II. Título. III. Série. 14-17320 CDD: 028.5 CDU: 087.5

Produção editorial Lilian Lopes Revisão de textos Cláudia Rajão Projeto gráfico e diagramação Aline Vasconcelos

Fino Traço Editora Ltda. Av. do Contorno, 9317 A | Barro Preto CEP: 30110-063 | Belo Horizonte - MG - Brasil Telefone: (31) 3212-9444 finotracoeditora.com.br


Cecília Cavalieri França

ilustrações

Marcela Ghirardelli



#sumário #digital  7 #analógico  11 #anacrônico  15 #tempo perdido  19 #crono-grama  23 #despertador  27 #cronômetro  31 #o tempo voa   35 #solstício  39 #currículo  43 #ampulheta  47 #retrógrado 51



#digital


Na verdade, meu avô praticamente me obrigou a ir pescar. – Ah, não, vô. Pescaria é castigo, não é presente. Nada a ver. Detesto pescaria. Cinco horas de ônibus? Pescar pra quê, se a gente pode comprar pela internet? Não dá pra passar aniversário desconectado do mundo, isolado de tudo, ilhado no meio do nada. Pelo menos tem Wi-Fi nesse fim de mundo? Tem pelo menos 3G, vô? – Tem 3G, sim: gente, gado e goiaba. E mais.

#8


Sem internet parece que o tempo não avança. Conectado, os dias passam voando: acessando, curtindo, baixando, atualizando, postando, comentando, reiniciando, ganhando vidas. Sem internet não tem como mudar de fase. Mas conectado, nem vi a pré-adolescência chegar! Sem internet um minuto demora vários. Conectado, o tempo passa de 20 em 20. Cinco minutos nunca não são menos que 40 e "só mais um minutinho" pra arredondar a hora. Minha mãe insistiu, "não vá desapontá-lo". Entendi que não era convite, era obrigação e “ai de você se não...” (avisou). Depois falou de repelentes, advertiu sobre cachoeiras, insistiu que eu conferisse embaixo da cama, repetiu a respeito de animais peçonhentos que se abrigam nos sapatos, e por fim berrou os perigos de cachoeiras que aleijaram uns e afogaram outros – “precauções naturais de mãe, ora”. Ah, sim, fiquei bem mais animado... Guardei os sanduíches, recheados de chantagenzinhas, assim, de mãe.

#9



#anal贸gico


Logo na primeira hora de estrada perdi o sinal. O único jogo possível era avistar e desavistar fazendas. Não me restava mais que aguardar a próxima plantação de boi branco. Aquilo, sim, é bicho lerdo, o dia todo mascando capim. Quando a gente põe os olhos na mesmice qualquer coisa é exceção: vi uma vaca olhando pra cima. Pastava uma árvore! Tenho certeza, ela nunca antes reparara o céu. Por uns 20 ou 30 quilômetros (tempo demais para estrada ruim) fiquei satisfeito: uma esperança de céu para uma vaca, enfim. O que era reprise foi melhorando em inédito. E num motoqueiro com uma sacola que inflava ao vento, o tempo que parei os olhos foi um tempão. Se bem que fiquei brincando com o nome da placa: “Astolfo Dutra 3 km”. Enchia a bochecha de ar fazendo do “Astolfo” um balão balofo e vinha o “Dutra”, dedo mindinho que nem alfinete, e furava o balão. Ai, ai, viagem assim dá tempo de tudo. Meu vô só roncava, balão curva sim, balofo outra também.

#12



“Ela avisou pra cuidar, que a fruta deixava mancha na roupa. Então tingi, de propósito e para sempre, o momento todo, da cabeça aos pés. ”


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