UMA HISTÓRIA BRASILEIRA DAS DOENÇAS - VOLUME 8

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Uma História Brasileira das Doenças Vol. 8

ORGANIZAÇÃO

Sebastião Pimentel Franco Dilene Raimundo do Nascimento Anny Jackeline Torres Silveira

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Todos os direitos reservados à Fino Traço Editora Ltda. © Sebastião Pimentel Franco, Dilene Raimundo do Nascimento, Anny Jackeline Torres Silveira Este livro ou parte dele não pode ser reproduzido por qualquer meio sem a autorização da editora. As ideias contidas neste livro são de responsabilidade de seus organizadores e autores e não expressam necessariamente a posição da editora.

CIP-Brasil. Catalogação na Publicação | Sindicato Nacional dos Editores de Livros, rj

H59 Uma história brasileira das doenças, volume 8 / organização Sebastião Pimentel Franco, Dilene Raimundo do Nascimento, Anny Jackeline Torres Silveira. - 1. ed. - Belo Horizonte, MG: Fino Traço, 2018. 312 p. : il. ; 15,5 x 22,5 cm. Inclui bibliografia ISBN 978-85-8054-384-1 1. Doenças - Brasil - História. I. Silveira, Anny Jackeline Torres. II. Nascimento, Dilene Raimundo do. III. Franco, Sebastião Pimentel. 16-35493 CDD: 616.00981 CDU: 614(81)(09)

CONSELHO EDITORIAL COLEÇÃO HISTÓRIA Alexandre Mansur Barata | UFJF Andréa Lisly Gonçalves | UFOP Gabriela Pellegrino | USP Iris Kantor | USP Junia Ferreira Furtado | UFMG Marcelo Badaró Mattos | UFF Paulo Miceli | UniCamp Rosângela Patriota Ramos | UFU

Fino Traço Editora ltda Rua Nepomuceno 150 | Casa 3 | Prado | CEP 30411-156 Belo Horizonte. MG. Brasil | Telefone: (31) 3212-9444 finotracoeditora.com.br

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Sumário

Apresentação

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Os organizadores 1 - Doenças como construções: os exemplos da Febre Amarela e do Calazar 11

Jaime L. Benchimol 2 - Fontes clínicas, história da loucura e história da psiquiatria: tendências

metodológicas e temáticas

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Allister Andrew Teixeira Dias 3 - O Globo e Folha de S. Paulo: os jornais como fontes nos estudos da AIDS

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Ana Cláudia Condeixa de Araujo 4 - Perfis dos acervos de saúde em depósito no Arquivo Geral da Cidade do Rio de Janeiro (AGCRJ) 115 Beatriz Kushnir 5 - “A Alma do Lázaro” de José de Alencar e “O Leproso da Cidade de Aosta” de

Xavier de Maistre: um exercício de comparação do SER Leproso

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Zilda Maria Menezes Lima 6 - A narrativa sobre a Tuberculose em Floradas na Serra

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Dilene Raimundo do Nascimento 7 - “Justiça e Saúde – sou filósofo, sou escritor, sou poeta, sou orador”: escrita,

loucura e sensibilidades na obra de Qorpo-Santo (Província de São Pedro, 1868-1873) 177 Nádia Maria Weber Santos 8 - Sonhos de erradicação em tempos de desenvolvimento: o caso do sal Pinotti 209

Rômulo de Paula Andrade

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9 - Campanha de Vacinação da varíola durante a guerra contra o Paraguai,

1865-1870 235 Jorge Prata de Sousa 10 - Vacina antivariólica: obrigatoriedade e ações educativas

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Tania Maria Fernandes ; Daiana Crús Chagas 11 - A (in) visibilidade feminina: as concepções e disposições frente ao corpo

obeso

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Vanessa Alves Ferreira 12 - Perspectivas Religiosas e Seculares no cotidiano da morte em Vitória Jória Motta Scolforo; Sebastião Pimentel Franco

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Apresentação

É com imensa satisfação que apresentamos ao leitor o novo volume da coletânea Uma História Brasileira de Doenças, coleção esta que continua se mostrando como um verdadeiro retrato da variedade e da riqueza de temas e abordagens oferecidas por esse campo de investigação. Este volume 8 abre-se com um artigo de fôlego do historiador Jaime Benchimol, que toma a febre amarela e o calazar como exemplos da ideia de que doenças são construções historicamente determinadas. Sua historicidade depende de complexas interações socioambientais entre os humanos e os demais seres vivos envolvidos nos processos de cada doença. Considera, também, a doença um “ator” que participa das relações médico-paciente e das relações entre indivíduos, grupos e classes numa formação social. Sua tese vai sendo mostrada ao longo da análise de ambas as doenças. A seguir, temos 3 capítulos que trabalham sobre fontes para uma análise histórica de doenças. Allister Dias, no capítulo 2, discute as possibilidades metodológicas e temáticas de trabalho com fontes clínicas para o estudo histórico da loucura e dos saberes médico-psicológicos, considerando fontes clínicas, principalmente, livros e dossiês de observação, livros de entrada e saída e laudos psiquiátricos forenses de pacientes que passaram por instituições psiquiátricas. Apresenta, ainda, um balanço historiográfico da literatura sobre a história da psiquiatria, no âmbito nacional e internacional, que fez uso desta tipologia documental. Ana Condeixa, no capítulo 3, procura refletir como os jornais, mais especificamente, O Globo e Folha de S. Paulo, colaboraram para a compreensão da trajetória da Síndrome de Imunodeficiência Adquirida (AIDS), vista como a maior epidemia do século XX. Os jornais, considerados, por muitos, fonte segura de informação e, muitas vezes, a única referência sobre o assunto para a população, também funcionaram como interface para que o governo, os 7

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profissionais da saúde, os pesquisadores e os movimentos sociais pudessem fazer chegar notícias até os brasileiros. As reflexões partem da análise das matérias de capa publicadas nos dois veículos no Dia Mundial da Luta Contra a AIDS, dia 1 de dezembro, no período de 1988 a 2013. O capítulo 4, de Beatriz Kushnir, difere dos dois anteriores, pois seu objeto não é exatamente uma doença e, sim, o acervo do Arquivo Geral da Cidade do Rio de Janeiro (AGCRJ). Com muita propriedade, ela afirma que entre uma das principais funções dos arquivos públicos na atualidade está o seu caráter probatório e de memória da administração pública brasileira, ressaltando como um direito democrático de todos os cidadãos o acesso aos arquivos. Discorre sobre o acervo custodiado pelo AGCRJ, composto por documentos manuscritos, impressos, fotografias, gravuras, livros, periódicos, fitas e vídeos (acervos sonoros e audiovisuais), ressaltando o seu inquestionável valor histórico por ser o único arquivo geral da administração da Cidade do Rio de Janeiro desde os tempos coloniais. Mostra-nos também as possibilidades de fontes para uma análise da saúde pública da cidade do Rio de Janeiro constante no AGCRJ. Os capítulos seguintes se propõem a analisar a história da doença a partir da literatura. Zilda Menezes, no capítulo 5, toma a obra literária de José de Alencar, A Alma do Lázaro, e a de Xavier de Maistre, O Leproso da Cidade de Aosta, para um exercício comparativo entre uma e outra obra da experiência da doença, isto é, do Ser Leproso. Dilene Raimundo do Nascimento, no capítulo 6, analisa a história da tuberculose, a partir dos elementos narrativos sobre a doença trabalhados no romance de ficção Floradas na Serra, de Dinah Silveira de Queiroz, publicado em 1939. A autora do romance transpõe para a ficção as condições sociais e culturais de uma época relacionadas à tuberculose e, portanto, entranhadas na história e de história. A loucura é analisada por Nádia Weber, no capítulo 7, a partir da obra de Qorpo-Santo. A autora defende que a literatura “é um tipo especial de fonte, pois, entre tantas outras funções, possui o papel de dialogar com o seu tempo de forma sensível e profunda, pois é criação e é simbólica”. Acrescenta, ainda, que a ficção literária, com sua linguagem simbólica, coloca em evidência o poder da representação na vida cotidiana humana.

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Doenças como a malária e a varíola que foram alvos de campanha de prevenção e controle no Brasil, em tempos e com estratégias distintas, são analisadas nos próximos capítulos. Rômulo Andrade, no capítulo 8, discute que, nas décadas de 1950 e 1960, uma descoberta feita pelo médico Mario Pinotti ganhou vulto no Brasil e no mundo: a mistura de um antimalárico (cloroquina) ao sal de cozinha, dando origem ao chamado sal cloroquinado. O método de controle e erradicação da malária foi pensado e aplicado em uma região na qual a doença era (e ainda é) endêmica: a Amazônia. Sua análise trata de três momentos específicos: as pesquisas iniciais que legitimaram a aplicação do produto em larga escala; a Campanha de Erradicação de Malária na região amazônica e, por fim, o ocaso do chamado sal medicamentoso como ferramenta de controle da doença. Jorge Prata, no capítulo 9, discute sobre a campanha de vacinação contra a varíola durante a guerra contra o Paraguai, que durou de 1865 a 1870. Analisa como foi complexo manter uma cobertura vacinal efetiva, seja pela resistência da população à vacina, talvez pela sua origem advinda da vaca, seja pela inoperância das autoridades de saúde. Além disso, o intenso deslocamento de tropas dificultava o trabalho de vacinação, bem como o registro e o controle dos vacinados. Mostra-nos tabelas com o número de vacinados e a ocorrência da doença entre as tropas militares, que apresentou alta letalidade. No capítulo 10, fora do contexto de guerra, Tânia Fernandes e Daiana Crús Chagas analisam a trajetória da vacina antivariólica no Brasil, desde sua aplicação como prática de ação estatal da Junta Vacínica da Corte, criada em 1811, atravessando diversas conjunturas, respondendo a políticas públicas diferenciadas, experiências sociais distintas e acordos internacionais definidos, até a suspensão da obrigatoriedade da vacina em 1979, seis anos após a erradicação da doença. Ao longo desse processo, a obrigatoriedade da vacinação possuía, inicialmente, um caráter fortemente autoritário, respaldado em leis punitivas para quem se negava à vacinação, e, a partir da segunda metade do século XX, seu caráter autoritário foi aos poucos substituído por perspectivas educativas, contribuindo para o desenvolvimento de uma cultura de vacinação.

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Vanessa Alves, no capítulo 11, intitulado “A (in)visibilidade feminina: concepções e disposições frente ao corpo obeso”, afirma que a preocupação com o corpo é maior quanto mais alto o indivíduo está na hierarquia social. Ela analisa historicamente a representação do corpo obeso, inclusive com ricas ilustrações, e mostra que essa representação é permeada de ambivalências e contradições. Afirma, ainda, que a “visibilidade corporal” advinda da obesidade contrapõe-se à “invisibilidade social” vivida pelas mulheres pobres. Por último, no capítulo 12, Sebastião Pimentel Franco e Jória Motta Scolforo buscaram estudar sobre como os moradores da capital do Espírito Santo, Vitória, tratavam os seus mortos e a influência das doenças nesse processo na segunda metade do século XIX, tendo como fontes os dois principais jornais do período, o Jornal da Victoria e o Correio da Victoria, e as Atas da Provedoria do Hospital da Santa Casa de Misericórdia, entendendo que a forma como se morre pode ser reveladora sobre o quanto ela molda, determina, estabelece limites e confere sentido à vida. Assim, de modo semelhante ao que podemos observar nos volumes anteriores, as narrativas contidas nesta nova coletânea permitem ao leitor uma visão panorâmica sobre problemas, documentos, métodos, conceitos, escolhas analíticas que têm mobilizado os pesquisadores, ajudando a traçar esse universo variado de que se compõe a história das doenças. Os organizadores

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formato: 15,5cm x 22,5cm | 312p. tipologias: Minion Pro, Myriad Pro papel da capa: Supremo 250g/m2 papel do miolo: Chambril Avena 80g/m2 produtor editorial: Betaia G. Figueiredo capa: Edson A. Oliveira diagramação: Gabriela Favarini revisão de textos: Priscila Pelison

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Dilene Raimundo do Nascimento Médica. Doutora em História Social pela Universidade Federal Fluminense (1999). Pesquisadora titular e docente do Programa de Pós-Graduação em História das Ciências e da Saúde da Casa de Oswaldo Cruz/Fiocruz. Participou da organização de todos os volumes da coletânea. Anny Jackeline Torres Silveira Historiadora. Doutora em História Social pela Universidade Federal Fluminense (2004). Estágio de pós-doutorado no Wellcome - Unite for the History of Medicine da University of Oxford (2012-2013). Atualmente é professora associada da Universidade Federal de Ouro Preto/Minas Gerais e integra o Programa de Pós-Graduação da Universidade Federal de Minas Gerais. Participou como autora nos volumes 1 e 4 e como organizadora desde o volume 5 da coletânea.

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Sebastião Pimentel Franco Dilene Raimundo do Nascimento Anny Jackeline Torres Silveira (organizadores)

Estamos contentes em apresentar o Volume 8 da coletânea Uma história brasileira das doenças e, seguindo nossa tradição na composição dos outros volumes, procuramos reunir pesquisadores de várias universidades e centros de pesquisa do Brasil, que tematizam a saúde e a doença em suas investigações. A presença de novos pesquisadores e novas experiências históricas nas páginas que se seguem é ainda um bom termômetro do interesse e o sucesso que a temática tem alcançado entre os pesquisadores brasileiros, contribuindo para dar publicidade a resultados de pesquisas levadas a cabo nas últimas três décadas. Como é tradição nesse campo de investigação, os trabalhos aqui reunidos abordam as doenças e suas histórias para além de uma perspectiva eminentemente biológica, propondo enxergá-las como resultado de uma interação que congrega manifestações patológicas e os sentidos sociais a elas atribuídos historicamente. Como já bastante discutido pela historiografia, sendo a um só tempo resultado de processos patológicos ocorridos no âmbito do organismo, e experiência vivenciada por indivíduos culturalmente inseridos, a doença é um lugar de fronteira que exige um tipo de abordagem dialógica, ou interdisciplinar.

Sebastião Pimentel Franco Sebastião Pimentel Franco Dilene Raimundo Nascimento Dilene Raimundo dodo Nascimento Anny Jackeline Torres Silveira Anny Jackeline Torres Silveira (organizadores) (organizadores)

UMA

HISTÓRIA BRASILEIRA DAS DOENÇAS Vol. 8

Esta coletânea tem por objetivo ampliar o debate sobre a História da Medicina para uma nova perspectiva da ciência, em conformidade com as práticas culturais, sociais, políticas e econômicas, construídas ao longo do tempo, tornando-se, assim uma importante contribuição analítica sobre a História das Ciências e da Medicina no Brasil.

Vol. 8

Sebastião Pimentel Franco Historiador. Doutor em História pela Universidade de São Paulo (2001). Pós Doutor em História pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (2013). Professor do Quadro Permanente do Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal do Espírito Santo e do Programa de PósGraduação em Educação, Ciência e Tecnologia da Faculdade Vale do Cricaré. Participa como organizador desde o volume 4 da coletânea.

uma história brasileira das doenças

Os organizadores:

ISBN: 978.85.8054.384-1

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