JOGOS PEDAGOGICOS PARA EDUCACAO MUSICAL

Page 1

Jogos Pedagógicos 2 a Ediç ão

c a i l s u m para educação Rosa Lúcia dos Mares Guia | Cecília Cavalieri França

Sol

Mi Dó Lá

Si Sol

l

So

Mi

Si





Jogos Pedagógicos 2 a Ediç ão

para educaçã

c a i l s u m o

Rosa Lúcia dos Mares Guia | Cecília Cavalieri França


Todos os direitos reservados à Fino Traço Editora Ltda. © Rosa Lúcia dos Mares Guia, Cecília Cavalieri França Este livro ou parte dele não pode ser reproduzido por qualquer meio sem a autorização da editora. As ideias contidas neste livro são de responsabilidade de seus organizadores e autores e não expressam necessariamente a posição da editora.

cip-Brasil. Catalogação na Publicação | Sindicato Nacional dos Editores de Livros, rj G971j 2. ed. Guia, Rosa Lúcia dos Mares Jogos pedagógicos para educação musical / Rosa Lúcia dos Mares Guia, Cecília Cavalieri França. - 2. ed. - Belo Horizonte, MG : Fino Traço, 2015. 252 p. : il. ; 21 cm. (Formação docente ; 10) Inclui bibliografia ISBN 978-85-8054-252-3 1. Música - Instrução e estudo (Ensino fundamental). 2. Música - Instrução e estudo - História. 3. Música - Instrução e estudo - Brasil - História. 4. Prática de ensino. I. França, Cecília Cavalieri. II. Título. III. Série. 15-24243 1ª edição: Editora UFMG, 2005. 2ª edição: Fino Traço Editora, 2015.

Fino Traço Editora ltda. Rua Nepomuceno 150 | Casa 3 | Prado | CEP 30411-156 Belo Horizonte. MG. Brasil | Telefone: (31) 3212-9444 finotracoeditora.com.br

CDU: 780.7 CDU: 780.7


Para todos aqueles que acreditam na aventura da educação musical.


OBRIGADA, A todos aqueles que, de alguma forma, contribuíram para a concretização desta obra, especialmente, às crianças que, ao longo de tantos anos, desafiaram-nos a nos recriar a cada dia.


Prefácio  9 Apresentação  13 Índice  25 CAPÍTULO 1 Ordenação dos nomes das notas e leitura relativa  33 CAPÍTULO 2 Alturas: direcionalidade sonora, planos de altura, padrões melódicos e intervalos  71 CAPÍTULO 3 Durações: padrões rítmicos, figuras rítmicas, compassos simples e compostos  105 CAPÍTULO 4 Matemúsica  149 CAPÍTULO 5 Leitura absoluta  185 CAPÍTULO 6 Escalas  199 CAPÍTULO 7 Jogos Múltiplos  233 Bibliografia  245 Sobre as Autoras  247



PREFÁCIO O patrimônio de obras musicais que em contínua expansão constitui nosso universo cultural é incomparavelmente mais rico e criativo do que as alternativas metodológicas produzidas até o momento pela educação musical no Brasil. Se por um lado evidencia-se aqui a amplitude complexa do território de manifestações musicais que nosso país possui, por outro se aponta para o forte desequilíbrio entre este universo expressivo e os instrumentos que têm sido confeccionados para assegurar seu acesso por parte de um número crescente de indivíduos, perpetuando sua existência por meio de uma interação sempre viva, cada vez mais competente. Muito embora possamos observar nos últimos anos um grande aumento de publicações na área da educação musical, poucas são as proposições como esta de Rosa Lúcia dos Mares Guia e Cecília Cavalieri França, disponibilizando farto material de intenção pedagógica. A lacuna de contribuições desta natureza em educação musical ainda hoje é imensa e o valor deste trabalho se mostra de grandeza diretamente proporcional. No que consiste mais precisamente este valor? Como sabemos, a reiteração é um fator decisivo para a incorporação de conteúdos de qualquer tipo. E o lúdico, sob forma de jogo ou de brincadeira, constitui-se num recurso dinamizador, fundamental para que a reiteração não se limite a uma maçante repetição de exercícios. Se de certa forma podemos dizer que tudo em

música é variação, torna-se importante nos processos educativos variar, subverter as expectativas usuais, incluir o diferente no mesmo aparente e aí caminhar. Não seria esta vivência intensa na dimensão do específico e do particular que de maneira sutil reproduzimos nos processos maiores e mais decisivos presentes na vida “de verdade” de cada um? Como sabemos, o jogo é também espaço oferecido à criatividade, à interação, à participação ativa que transforma a aula em oportunidades de aprendizado efetivo. Pois é o contato relacional com o “outro”, com o novo, com o imprevisto que instaura no aluno uma “diferença de potencial”, aquela tensão interna que sempre acompanha os desafios e que muitas vezes retira seus pés do chão. Nesses momentos há entendimento, compreensão. Há descobertas, insigths, revelações. Sua falta sistemática, no entanto, acarreta a perda do que me parece ser o valor maior, não apenas da educação: o que a justo título chamamos “brilho nos olhos”. Em seu lugar... desestímulo, passividade, desinteresse, desatenção, letargia... terrenos áridos a qualquer semeadura ou cultivo, espaços impróprios aos processos de observação, indagação, reflexão, reconstrução, aprendizado. Muito embora os jogos apresentados aqui possam ser reunidos em categorias específicas, cada um deles possui um interesse particular (sobre isto e mais, as autoras discorrem nas páginas seguintes). São assim

9


tratados fundamentos da Teoria Geral da Música, recorrendo-se a elementos de tempo e de espaço, bem como a princípios gramaticais não exatamente próprios, porém correntemente utilizados por um sistema específico de música, o tonal. Mas, desde que assimiladas estas informações, torna-se possível avançar o percurso também em direção a outros estilos, tipos, formas de expressão sonoro-musical (de faturas de outras épocas e culturas a novas concepções). De fato essas atividades propõem ao participante, em seu micro universo de regras e valores, alternativas de caminho, desafios de percurso e pontos de chegada, que muitas, em sua inventiva, possibilitam transcender uma forma dada de manifestação expressiva, um sistema particular de linguagem. Vários dos jogos reproduzem princípios interativos empregados tipicamente em atividades lúdicas não musicais (dominó, bingo, memória, dado etc.) e assim por serem já familiares e de sedução garantida contam com uma aceitação inicial facilitada. Por consequência, com elevada chance de atingirem os objetivos técnico-musicais inicialmente traçados. Isto favorece ainda um fato importante, que é, a meu ver, a possibilidade de que o interesse já “consagrado” de muitos jogos estimulem também uma prática para além das salas de aula, conferindo outras modalidades de relação e novos modelos de representação, com um ganho suplementar de aprendizagem. Em geral as fases iniciais de formação, antecedendo à aquisição do domínio de um conteúdo, constituem-se em momentos densos, muitas vezes difíceis, sempre,

10

porém, decisivos para o sucesso do processo como um todo. Decisivos do ponto de vista da manutenção das condições capazes de assegurar a continuidade do engajamento de aprendizado por parte do aluno, superando os desafios que emergem a cada instante na ampliação de um limite vigente. Decisivos também em relação ao “como” o processo de formação se estabelece, de que maneira e com quais características ele se desenvolve, por consequência, aonde efetivamente “chega”, aonde de fato destina o aprendiz. Cumpre não subestimar, portanto, o poder da ferramenta utilizada: em arte e em música, jogos são recursos criativo-formacionais que possibilitam tomar contato com o essencial e se isto não ocorrer, haverá mais a considerar sobre a responsabilidade do educador do que a do instrumento utilizado. Tudo na música é jogo e movimento. De memória e de invenção. Se nela há constâncias (e as realizações sonoro-musicais de todos os tempos e espaços as refletem em diversos níveis) não é para gerar sensação de embriaguez ou momentânea satisfação de encontro. Ao contrário, seu sentido mais profundo é pôr em evidência e nos alertar para os segredos da impermanência. De forma análoga, a concretude dos materiais sonoros e musicais, o poder atrativo de todos os sons, das notas, melodias e timbres, simples e conjugados, ali estão, sobretudo, para apresentar algo abstrato, informando-nos a respeito das relações e construções de significado que são possíveis de serem estabelecidas entre si e... conosco.


Neste sentido, o que as autoras realmente nos propõem aqui são estratégias inventivas de desafios capazes de predispor o aprendizado e de preparar cada aluno a um estado agradável de desacomodação e assim deixá-lo em pé, “pronto para o combate” (como dizia Mário de Andrade, a respeito da música funcional e do princípio de utilidade). Por tudo isto, as atividades apresentadas a seguir não devem jamais ser vistas como simples exercícios ou meros passatempos preparatórios, em nenhum instante de seu uso. São potencialmente laboratórios de possibilidades. Se algumas parecem brincadeiras, artefatos inofensivos, é apenas dissimulação, pura artimanha de educadores! Elas representam instantes de invenção, momentos de suspensão de certezas,

oportunidades inusitadas de contato vivo consigo em relação ao mundo... São verdadeiras estratégias de formação de seres musicais, das músicas que existem e daquelas que, como esperamos, eles serão internamente chamados a criar. Carlos Kater 2005 Doutor em História da Música e Musicologia pela Univerisdade de Paris IV (Sorbonne) e professor titular concursado pela UFMG. Atualmente é professor da Universidade Federal de São Carlos e da Universidade São Marcos (Programa de Mestrado e Doutorado)

11



APRESENTAÇÃO Em sintonia com a concepção contemporânea da educação musical, que prioriza o fazer musical ativo e criativo bem como o desenvolvimento integral da criança, apresentamos os Jogos pedagógicos para educação musical: uma proposta inovadora para o ensino dos diversos conteúdos que visa uma realização musical consistente, desenvolta e consciente. Fruto de 25 anos de pesquisa e experiência didática das autoras, eles foram desenvolvidos, inicialmente, na Escola Villa-Lobos (1972 a 1990), no Núcleo Villa-Lobos de Educação Musical de Belo Horizonte (desde 1991), por Rosa Lúcia dos Mares Guia e por Cecília Cavalieri França, no contexto de aulas particulares (de 1985 a 1990), no Allegretto Centro de Educação Musical (1990 a 1994) e nas disciplinas pedagógicas da Escola de Música da UFMG (1999 a 2010). Os Jogos pedagógicos consistem de atividades lúdicas coletivas que se apóiam em material concreto para promover o automatismo gradativo de elementos da teoria musical, observando-se os pré-requisitos necessários à compreensão dos diversos conteúdos e respeitando-se as etapas do desenvolvimento cognitivo da criança. Nesta abordagem, os alunos vão construindo, passo a passo, a representação mental e abstrata dos elementos da linguagem musical, complementando e enriquecendo a experiência direta com os elementos musicais dentro de uma visão abrangente da educação musical que tem como fundamentos:

• a vivência sensorial, corporal e auditiva dos elementos musicais como eixo do processo pedagógico – herança de mais de um século de pedagogos como Dalcroze, Willems, Kodály, Orff, Martenot e Mursell; • a experiência musical ativa com obras musicais através da criação (incluindo-se a improvisação), da performance e da apreciação musicais onde os conteúdos são vivenciados, reconhecidos e internalizados, como prática celebrada por autores como Swanwick (2002, 1979), Mills (1991), Plummeridge (1991), Schafer (1991), Gainza (1990), Reimer (1989), Hargreaves (1986), Self (1986) e Paynter e Aston (1970); • a compreensão estrutural e a exploração musical expressiva dos elementos musicais – e não o mero treinamento auditivo ou técnico – como objetivo primordial de todo o processo. Ao longo dos anos, os Jogos pedagógicos vêm sendo testados e refinados continuamente em sala de aula com a participação ativa dos alunos (que, inclusive, estabeleceram regras e nomes muito pertinentes para vários jogos). Eles têm sido apresentados pelas autoras em Seminários, Oficinas e Palestras para educadores musicais, muitos dos quais incorporaram em sua prática pedagógica diversos jogos e terminologias de nossa autoria. Sua aplicabilidade, eficácia, consis-

13


tência musical e didática têm sido testemunhadas por professores atuantes em diversos contextos. Com esta publicação, pretendemos compartilhar com um número mais expressivo de educadores uma metodologia capaz de tornar suas aulas mais dinâmicas, produtivas e prazerosas. Algumas obras para educação musical utilizam jogos com material concreto de uma forma sistemática – especialmente bingos de reconhecimento auditivo-visual e dominós. Entre elas, destacam-se as de Annunziato (2002), Drummond (1988) e Ferreira e Furnó (1978). Outros autores, como Ramos e Marino (2002), Moura, Boscardin e Zagonel (1996), Fonseca e Santiago (1992) e Rocha (1990), entre outros, também incluem alguns jogos em suas propostas de ensino musical. Alguns conceitos e elementos são encontra-

14

dos em obras anteriores de autores como Heitor Alimonda, Alice Botelho, e outros. O diferencial da nossa obra é que, além de apresentarmos um material rico e variado que envolve diversas habilidades cognitivas, sistematizamos e ordenamos os conteúdos de uma maneira própria e original, contemplando várias etapas do processo de aprendizagem de forma consistente e progressiva. Desejamos que, ao experimentar os Jogos Pedagógicos em sala de aula, os educadores revitalizem sua prática, redescobrindo a alegria, a espontaneidade e o prazer tão indispensáveis ao fazer musical. Indicações para confecção dos jogos são dadas no decorrer do texto para que os professores possam produzir seu próprio material conforme suas necessidades, bem como criar novos jogos a partir das referências aqui apresentadas.


ESTRUTURA DA OBRA A obra apresenta 85 jogos que alternam modalidades como bingos, dominós, jogos da memória, formação de pares, trilhas, jogos com dados, de montar sequências, de classificar, cartelas para preencher e outros. Eles são organizados em sete capítulos temáticos complementares que trabalham o automatismo dos seguintes conteúdos: • Ordenações dos nomes das notas em graus conjuntos e terças; • Notação musical gráfica aproximada e notação convencional, leitura relativa e absoluta; • Alturas: movimento sonoro, planos de altura, padrões melódicos diatônicos, intervalos, padrões atonais; • Durações: sons curtos e longos, figuras e pausas, padrões rítmicos em diversos níveis; relação de dobro e metade e valor relativo das figuras, compassos simples e compostos; • Escalas maiores e menores, armaduras de clave, enarmonia, sinais e convenções diversas; • Formas e estilos musicais, compositores e história da música.

Dentro de cada capítulo, os jogos são apresentados em uma sequência de dificuldade progressiva e devem ser selecionados e repetidos conforme a necessidade e maturidade do grupo. É importante ressaltar que os vários conteúdos devem ser trabalhados paralelamente e não de forma linear. Por exemplo: o automatismo dos nomes das notas em graus conjuntos, trabalhado no Capítulo 1, deve ser conjugado com o trabalho de percepção das alturas, abordadas no Capítulo 2, e com a iniciação à leitura rítmica, no Capítulo 3. Para melhor compreensão desta complementaridade, apresentamos, a seguir, uma linha do tempo que permite uma visualização das possibilidades de utilização dos jogos desta obra nos primeiros anos da educação musical.

15


Sugestão de organização do programa

Capítulo 1 1ª Parte

1º Nível

Automatismo de segundas

Leitura relativa de segundas

Capítulo 2 1ª/2ª Partes

Aproximação dos planos

Curto e longo

Padrões rítmicos básicos

Capítulo 5

Movimento sonoro, planos de altura

Capítulo 3 1ª Parte

Solfejo relativo: graus conjuntos

16

Solfejo

Compassos simples

Leitura absoluta


Automatismo de terças

Capítulo 3 1ª Parte Capítulo 3 2ª Parte

Leitura relativa de terças Solfejo melódico: arpejo e pentacordes

Capítulo 2 2ª Parte

Capítulo 1 2ª Parte

2º Nível

Padrões rítmicos mais complexos

Figuras, nomes e pausas

17


Capítulo 2 3ª Parte Capítulo 3 3ª Parte

Compassos compostos (padrões básicos)

Número das figuras

Capítulo 6

Intervalos (treinamento auditivo)

Capítulo 4

3º Nível

18

Compassos compostos (frações)

Relação dobro-metade

Mudança de unidade de tempo

Compassos simples variados

Tom, semitom, # e b, enarmonia

Escalas maiores

Escalas menores


Faixa etária

Habilidades cognitivas

Os Jogos Pedagógicos tomam como referência o processo de educação musical paralelo ao da alfabetização escolar a partir dos seis ou sete anos de idade. Os conteúdos, bem como os procedimentos cognitivos empregados nos jogos, foram concebidos em sintonia com o desenvolvimento psicológico global da criança. Os jogos cobrem os três primeiros níveis de um programa de educação musical com aulas de uma hora de duração e frequência semanal. Nosso programa de referência é assim constituído: • 1º Nível: alunos de sete a oito anos de idade; • 2º Nível: alunos de oito a nove anos; • 3º Nível: alunos de nove anos em diante. Este nível envolve conteúdos bastante complexos, podendo se estender por dois anos ou mais. No caso de turmas de uma faixa etária posterior, faz-se necessária uma seleção e adaptação dos jogos, embora a sequência de apresentação dos conteúdos deva ser mantida.

Os vários jogos envolvem habilidades cognitivas diferentes, tais como: • Formação (ex.: sequências de notas vizinhas); • Associação (ex.: figuras e pausas); • Memorização (ex.: escalas maiores e relativas menores) • Reconhecimento (ex.: intervalos, notas no pentagrama); • Localização (ex.: tons e semitons no teclado); • Realização (ex.: performance corporal, vocal ou instrumental de estruturas musicais); • Criação (ex.: improvisação sobre gráficos de sons curtos e longos). Muitas vezes, um mesmo conteúdo é trabalhado em mais de um jogo, utilizando diferentes habilidades cognitivas, para otimizar sua assimilação. Além dos automatismos musicais vislumbrados, os jogos desenvolvem a atenção, a iniciativa, a prontidão, a memória e a percepção visual.

Turmas coletivas

Formatos, tipos e apresentação visual

Os jogos foram criados para grupos em torno de oito alunos. No caso de grupos maiores, os alunos devem formar times de até quatro participantes, que se alternarão nas jogadas.

Os jogos são apresentados em vários formatos, conforme seu tipo e procedimento. Com o intuito de facilitar a confecção dos mesmos, listamos abaixo alguns tamanhos de referência, que podem ser adaptados em função das especificidades de cada um deles. Para

19


torná-los mais atraentes e divertidos, pode-se variar as cores e detalhes gráficos das cartelas, cartazes e fichas. • Cartazes: tamanho A2 – formação de estruturas; • Cartelas: tamanho 20x15 cm – bingos, quadros para completar, associação ou localização de elementos; • Cartões: tamanho 10x5 cm – formação de pares, dominós, chamadas, leituras; • Fichas: tamanho 4x4 cm – formação de estruturas, realização, reconhecimento; • Dados: tamanhos variados – realização de elementos musicais; • Trilhas: formatos e tamanhos diversos – realização de conteúdos variados.

Layout das páginas Cada jogo é apresentado em uma folha dupla, com sua descrição à direita e ilustração à esquerda. No canto superior direito da página da descrição de cada jogo, um quadro de referência rápida indica o tipo de habilidade cognitiva enfatizada em cada um deles, o conteúdo e a idade mínima para uma realização consciente e fluente dos mesmos.

Observações importantes • Os jogos em perspectiva Lembramos, mais uma vez, que o processo de educação musical não pode se resumir aos jogos; estes

20

representam um recurso para se trabalhar os conteúdos e devem ser conjugados com atividades de natureza sensorial e corporal, com performance de canções e apreciação de obras nas quais serão enfocados aspectos estruturais e expressivos, estilo, timbre, dinâmica e outros elementos. • O solfejo Ao final do primeiro nível de musicalização, vários conteúdos se encontram no solfejo melódico: os nomes das notas, a leitura relativa, os padrões melódicos e os padrões rítmicos. O solfejo, nessa fase inicial, deve ser bastante simples e utilizar apenas os conteúdos já abordados (como as canções trabalhadas em aula) para que o processo se desenvolva de forma prazerosa e natural. A metodologia de solfejo utilizada é a do “dó fixo”, diatônica. Caso adote-se outra metodologia (dó móvel, pentatônico), os jogos poderão ser adaptados. • A leitura absoluta A leitura absoluta tem como pré-requisitos o automatismo das ordenações dos nomes das notas, a leitura por gráficos e relativa e o conhecimento do pentagrama. Sugerimos que ela seja introduzida no final do primeiro nível e que seja trabalhada progressivamente ao longo dos anos seguintes conforme as especificidades de leitura do instrumento tocado pelo aluno. Observamos que, frequentemente, a notação gráfica, especialmente dos signos utilizados na grafia de música contemporânea, é abandonada tão logo seja introduzida a leitura absoluta. É um equívoco pensar que a leitura absoluta venha substituir a notação gráfica,


muitas vezes encarada apenas como um paliativo enquanto os alunos não conhecem a notação tradicional. • Conteúdos mais avançados Embora conteúdos como contratempo, compassos compostos e a formação das escalas maiores e menores sejam abordados em uma fase posterior, é vital que esses elementos sejam vivenciados desde o início da musicalização através de canções, apreciação e atividades corporais.

21



O jogo e a psicologia da criança Para a compreensão e utilização adequada desta obra, é importante compreender os princípios psicológicos que fundamentam os Jogos Pedagógicos. Nestes, o termo jogo é empregado no seu sentido psicológico e não meramente no sentido competitivo. Juntamente com os processos de imitação e os sonhos, as atividades do jogo são meios essenciais para o desenvolvimento da representação mental e constituem importantes indicadores do desenvolvimento cognitivo da criança. Através de seu componente lúdico, ele promove a aprendizagem e o desenvolvimento nas esferas afetiva, social, criativa, moral, intelectual e emocional (Piaget, 1951; Vygotsky, 1978; Negrine, 1994). Piaget considerava os jogos com regras paradigmáticos para a atividade humana, constituindo a sua prática uma fonte de prazer. (Negrine, 1994). No curso do seu desenvolvimento, a criança experimenta diferentes formas de jogo. Ainda no estágio sensório-motor, ela se engaja no jogo de exercício, ou jogo do domínio. Neste, ela começa a ganhar controle sobre o meio ambiente à medida que passa a controlar suas próprias ações (Haynes, 1994). Mais tarde, no período pré-operacional, a criança se engaja no jogo simbólico, o jogo imaginativo ou do faz de conta. No jogo imaginativo, a criança entra em um mundo ilusório no qual seus desejos podem ser realizados, emancipando-se das limitações cotidianas e impulsionando seu desenvolvimento cognitivo (Vygotsky,

1978; Lillard, 1993; Berk, 1994). Certas habilidades mentais mais avançadas emergem precocemente no faz de conta, pois este é um território onde a criança é mais competente em tarefas que requerem o tipo de pensamento divergente e flexível (Lillard, 1993). No decorrer do desenvolvimento cognitivo, o jogo simbólico declina em favor da imitação de atividades da vida real: a criança vai se interessando mais pelo mundo real do que pela sua fantasia privada (Pulaski, 1990, p. 90). Gradualmente, símbolos lúdicos passam a imitar a realidade mais de perto, conduzindo dos jogos simbólicos à atividade criativa espontânea. Por volta dos dez anos, o jogo simbólico começa a se misturar com a atividade intelectual e a criatividade artística da criança (Ibidem, p. 91).

As regras e a imaginação O interesse pelos jogos coletivos com regras tornase evidente a partir dos sete anos e tem seu apogeu em torno dos dez anos, permeando a atitude da criança em relação à realidade. O exercício sensório-motor e o simbolismo incorporam-se às regras coletivamente estabelecidas nos jogos de natureza motora, intelectual, nas tarefas escolares e nas atividades compulsórias baseadas em regras (Vygotsky, 1978). Nesta fase, a criança concebe o estabelecimento das regras como “algo sagrado e imutável”, externo à atividade do grupo;

23


mais tarde, a partir da pré-adolescência, ela compreende que as regras “decorrem de acordos múltiplos entre os jogadores” (La Taille, 1992). Além de conferir interesse ao jogo, as regras são um fator determinante da busca pela atividade lúdica: o impulso de se acomodar a elas constitui uma fonte de motivação e prazer (Vygotsky, 1978). O jogo envolve, portanto, componentes morais de justiça e honestidade (La Taille, 1992, p. 49) necessários para uma convivência justa e harmoniosa. Além disso, as crianças se comportam de uma maneira mais sofisticada nas situações coletivas, em decorrência da imitação de indivíduos mais experientes. Essa potencialidade corresponde ao conceito da “zona de desenvolvimento proximal” de Vygotsky (1978). No curso do desenvolvimento do indivíduo, o predomínio da imaginação declina, cedendo lugar ao predomínio da regra. Da mesma forma que as situações imaginárias dos jogos de faz de conta contêm regras intrínsecas de comportamento (como por exemplo, incorporar o papel de mamãe ou de bombeiro), todo jogo com regras contém situações imaginárias — um componente de ficção ainda que disfarçado, internalizado: há sempre um objetivo a ser alcançado, uma guerra a ser vencida, um adversário a ser dominado.

24

Portanto, os jogos que, inicialmente, contêm uma situação imaginária externalizada e regras internalizadas, cedem lugar aos jogos com regras externalizadas e uma situação secreta imaginária (Vygotsky, 1978). Tais comportamentos são inerentes à natureza humana e nos acompanham por toda a vida. Trazendo as ponderações acima para o contexto da educação musical, entendemos que a prática do jogo é fundamental para o desenvolvimento e a aprendizagem musical dos alunos. Ele permite praticar e refinar a representação mental dos conteúdos musicais e, pelo componente imaginativo que lhe é inerente, abre caminhos para o desenvolvimento do pensamento abstrato. A atividade lúdica favorece o desenvolvimento integral da criança dentro de uma atmosfera de agradável cumplicidade entre professores e alunos.


ÍNDICE CAPÍTULO 1 – ORDENAÇÕES DOS NOMES DAS NOTAS E LEITURA RELATIVA Iª Parte: Automatismo e Leitura Relativa de Segundas JOGO

HABILIDADE

TIPO

IDADE

PG.

1. Edifícios de Vizinhos

Formação

Cartela

6-7+

36

2. Jogo do Arranha-céu

Formação

Cartaz

6-7+

38

3. Jogo do Condomínio

Associação

Cartela

6-7+

40

4. Jogo dos Sanduíches

Formação

Fichas

7+

42

5. Jogo dos Vizinhos

Formação

Fichas

7+

44

6. Festa dos Vizinhos

Realização / Criação

Fichas

7+

46

7. Batalha Musical

Formação / Reconhecimento

Cartela

7+

48

8. Dominó de Vizinhos

Associação

Dominó

7+

50

9. Jogo do Par de Leitura Relativa (2as)

Associação

Cartões

7+

52

10. Jogo das Janelas

Associação

Cartela

7+

54

IIª Parte: Automatismo e Leitura Relativa de Terças JOGO

HABILIDADE

TIPO

IDADE

PG.

11. Kuala Lumpur

Formação

Cartaz

7-8+

58

12. Tóquio

Formação

Cartela

7-8+

60

13. Jogo do Fantasma

Associação

Fichas

7-8+

62

14. Jogo das Terças

Formação

Fichas

8+

64

15. Jogo do Par de Leitura Relativa (2as e 3as)

Associação

Cartões

8+

66

16. Parece Mas Não É

Associação

Cartela

8+

68

25


CAPÍTULO 2 – ALTURAS: DIRECIONALIDADE SONORA, PLANOS DE ALTURA, PADRÕES MELÓDICOS E INTERVALOS Iª Parte: Direcionalidade Sonora e Planos de Altura JOGO

HABILIDADE

TIPO

IDADE

PG.

1. Bingo de Movimento Sonoro

Reconhecimento

Cartela

7+

74

2. Chamada de Movimento Sonoro

Reconhecimento / Criação

Cartões

7+

76

3. Trilha de Movimento Sonoro

Realização / Criação

Trilha

7+

78

4. Bingo de Grave e Agudo

Reconhecimento

Cartela

7+

80

5. Bingo de Grave, Médio e Agudo

Reconhecimento

Cartela

7+

82

6. Dado de Planos de Altura

Realização

Dado

7+

84

7. Pulsar

Realização / Criação

Cartões

7+

86

TIPO

IDADE

PG.

IIª Parte: Padrões Melódicos – Graus Conjuntos e Arpejo JOGO

HABILIDADE

8. Bingo de 1-2-3

Reconhecimento

Cartela

7-8+

90

9. Bingo de Arpejos

Reconhecimento

Cartela

8+

92

10. Xadrez Melódico

Reconhecimento

Trilha

8-9+

94

JOGO

HABILIDADE

TIPO

IDADE

PG.

11. Dado de Intervalos

Reconhecimento / Realização

Dado

9-10+

98

12. Cartela de Intervalos

Reconhecimento / Realização

Cartela

9-10+

100

13. Stravinsky

Realização / Criação

Cartões

12+

102

IIIª Parte: Intervalos

26


CAPÍTULO 3 – DURAÇÕES: PADRÕES RÍTMICOS, FIGURAS RÍTMICAS, COMPASSOS SIMPLES E COMPOSTOS Iª Parte: Padrões Rítmicos JOGO

HABILIDADE

TIPO

IDADE

PG.

1. Chiclete com Pipoca

Realização / Criação

Cartões

7+

108

2. Bingo de Curto e Longo

Reconhecimento

Cartela

7+

110

3. Jogo de Cartões com Dado

Realização

Cartões

7+

112

4. Jogo da Troca

Reconhecimento

Cartões

7+

114

5. Jogo das Cartelas

Reconhecimento

Cartela

7+

116

6. Bingos Rítmicos

Reconhecimento

Cartela

7+

118

7. Jogo do Par de Pulsações

Associação

Cartões

7+

120

8. Dominó de Número de Pulsações

Associação

Dominó

7-8+

122

9. Viagem de Trem

Associação

Cartões

7-8+

124

10. Cartela de Compassos Simples

Associação

Cartela

8+

126

JOGO

HABILIDADE

TIPO

IDADE

PG.

11. Jogo do Par de Figuras e Pausas

Associação

Fichas

8+

130

12. Cartela de Figuras e Pausas

Associação

Cartela

8+

132

13. Jogo da Cecília

Associação

Cartela

8-9+

134

JOGO

HABILIDADE

TIPO

IDADE

PG.

14. Jogo da Troca de Pulsações Compostas

Reconhecimento

Cartões

9+

138

15. Jogo das Cartelas de Pulsações Compostas

Reconhecimento

Cartela

9+

140

IIª Parte: Figuras Rítmicas

IIIª Parte: Compassos Compostos

16. Bingo de Pulsações Compostas

Reconhecimento

Cartela

9+

142

17.Tri-Memória de Compassos Compostos

Associação / Memorização

Cartões

9+

144

18. Montagem Composta

Associação

Cartões

9+

146

27


CAPÍTULO 4 – MATEMÚSICA Iª Parte: Números das Figuras, Relação de Dobro e Metade e Mudança de Unidade de Tempo JOGO

HABILIDADE

TIPO

IDADE

PG.

1. Jogo da Pizza

Associação

Cartela

9+

152

2. Dominó de Figuras e Números

Associação

Fichas

9+

154

3. Tri-Memória - Matemúsica

Associação / Memorização

Fichas

9+

156

4. Figuras na Janela

Associação

Cartela

9+

158

5. Jogo do Pastel

Associação / Memorização

Cartões

9+

160

6. Dominó das metades

Associação

Fichas

9+

162

7. Mudança de Pulsação

Reconhecimento / Formação

Fichas

9+

164

8. Jogo da Equivalência

Associação

Cartões

9+

166

9. Bingo de Diferentes Figurações

Reconhecimento

Cartela

9+

168

10. Jogo da Esperteza

Reconhecimento

Cartões

9+

170

JOGO

HABILIDADE

TIPO

IDADE

PG.

11. Jogo dos Compassos-Chave

Associação

Fichas

9+

174

12. Dominó dos Compassos-Chave

Associação

Fichas

9+

176

13. Compassos na Janela

Associação

Cartela

9+

178

IIª Parte: Compassos Variados

14. Jogo de Formar Compassos

Formação

Fichas

9+

180

15. Jogo dos Compassos Variados

Associação

Cartões

9+

182

28


CAPÍTULO 5 – LEITURA ABSOLUTA JOGO

HABILIDADE

TIPO

IDADE

PG.

1. Jogo da Saracura

Reconhecimento

Cartela

8+

188

2. Bingo de Leitura Absoluta

Reconhecimento

Cartela

8+

190

3. Jogo da Memória - Leitura Absoluta

Reconhecimento / Memória

Fichas

8+

192

4. Batalha das Notas

Reconhecimento

Fichas

8+

194

5. Jogo do Circuito

Realização / Reconhecimento

Cartaz

8+

196

29


CAPÍTULO 6 – ESCALAS Iª PARTE: Tom e Semitom, Sustenido e Bemol e Enarmonia JOGO

HABILIDADE

TIPO

IDADE

PG.

1. Sustenido x Bemol

Localização

Cartela

9+

202

2. Jogo dos Pares Enarmônicos

Associação

Fichas

10+

204

3. Cartela de Enamornia

Associação

Cartela

10+

206

4. Semi-e-Tom

Localização

Cartela

10+

208

5. Edifícios cromáticos

Formação

Fichas

10+

210

IIª PARTE: Escalas Maiores e Menores e Armaduras de Clave JOGO

HABILIDADE

TIPO

IDADE

PG.

6. Tetracorde

Formação

Cartões

10+

214

7. Escalômetro

Formação

Cartaz

10+

216

8. Escalas Maiores

Formação

Fichas

10+

218

9. Dominó de Escalas e Armaduras

Associação

Dominó

10+

220

10. Jogo do Par de Armaduras de Clave

Associação

Fichas

10+

222

11. Segundas Aumentadas

Localização

Cartela

12+

224

12. Tri-Memória da Relativa Menor

Associação / Memorização

Fichas

12+

226

13. Cartela de Escalas Menores

Reconhecimento / Realização

Cartela

12+

228

14. Jogo do Coqueiro

Reconhecimento / Formação

Cartela

12+

230

30


CAPÍTULO 7 – JOGOS MÚLTIPLOS JOGO

HABILIDADE

TIPO

IDADE

PG.

1. Cartela de Sinais

Reconhecimento

Cartela

9+

236

2. Bingo Múltiplo

Reconhecimento

Cartela

9+

238

3. Jogo da Ilha

Reconhecimento / Realização

Cartaz

8+

240

4. Jogo de História da Música

Associação

Cartela

14+

242

31



CAPÍTULO 1 Ordenação dos nomes das notas e leitura relativa


ORDENAÇÃO DOS NOMES DAS NOTAS E LEITURA RELATIVA Este capítulo visa trabalhar o automatismo da ordenação dos nomes das notas e a leitura relativa em graus conjuntos e em terças. Os jogos com cartões e cartelas favorecem e consolidam o automatismo das ordenações das notas devido à sua natureza visualmente concreta. Eles devem ser utilizados paralelamente a atividades que envolvam a verbalização de sequências de notas juntamente com batimentos corporais (palmas ou batidas nas pernas), atividades com bola, no teclado do piano e performance de canções e peças que apresentem tais padrões.

Observações importantes • Diferentes tônicas A metodologia de solfejo empregada é a do “dó fixo”, na qual utilizam-se diferentes notas como tônica (“chefe”) das sequências. • Os acidentes A ênfase nesta fase é a ordenação das notas; portanto, não se trabalha, neste momento, a distribuição de tons e semitons dentro das escalas. Este conteúdo será abordado no Capítulo 6, apresentando a relação tom-semitom, a enarmonia, os modos maior e menor e as armaduras de clave.

34

• Cantar ou falar as sequências? O objetivo deste capítulo também não é trabalhar o solfejo cantado, mas o automatismo das ordenações dos nomes falados. Estes dois conteúdos (as ordenações e a entoação dos padrões melódicos) podem ser abordados paralelamente, encontrando-se no momento oportuno. Entretanto, aparecem nos jogos vários padrões de fácil apreensão musical e que constituem importantes arquétipos da música tonal, tais como escalas, tríades e arpejos. Caberá ao professor decidir quando cantá-los com os alunos. Neste caso, é importante que a realização dessas estruturas seja apoiada por acompanhamentos harmônicos que propiciem o desenvolvimento da percepção sensorial das funções tonais. • Sobre a confecção do material Para assegurar a funcionalidade dos jogos, o professor deve ter, no mínimo, dez fichas de cada uma das sete notas. O mesmo conjunto de fichas poderá ser utilizado em todos os jogos deste capítulo (à exceção do Dominó, Jogo 7), desde que se uniformize, nas cartelas e cartazes, o tamanho dos espaços onde elas serão colocadas.


Iº PARTE: AUTOMATISMO E LEITURA RELATIVA DE SEGUNDAS Os Jogos 1 a 7 trabalham as ordenações em graus conjuntos apresentando as notas em uma disposição vertical e depois em diagonal. A disposição diagonal (Jogo 3) envolve a compreensão de duas dimensões simultâneas, a do intervalo entre as notas e a sequência linear e melódica das mesmas, o que representa um importante pré-requisito para a leitura. É interessante que a transição da apresentação vertical para a diagonal seja descoberta pelo aluno, o que indica o amadurecimento de sua estrutura de pensamento. No Jogo 8, esta disposição espacial é abolida, subentendendo-se que a direcionalidade das notas já tenha sido internalizada pelo aluno. Dando sequência ao trabalho com os nomes das notas, passa-se à leitura relativa, ou seja, sem clave, no pentagrama (Jogos 9 e 10). A apresentação do pentagrama deve enfatizar a relação linha-espaço equivalente ao intervalo de segunda e reforçar a associação com o movimento sonoro do grave para o agudo. A leitura relativa capacita o aluno para ler em qualquer clave a partir das referências por ela estabelecida. Lembramos que esta etapa enfatiza a leitura no sentido horizontal (melódico), e que o treinamento da leitura no sentido vertical (acordes, intervalos harmônicos ou vozes em contraponto) constitui uma etapa posterior.

Vocabulário • “Vizinhos”: graus conjuntos; • “Edifícios”: padrões escalares (sequências de vizinhos); • “Chefe”: a tônica ou primeira nota da sequência; • “Sanduíches”: estruturas em graus conjuntos correspondentes a mordente superior ou a mordente inferior (sanduíches simples superior ou inferior) e grupeto (sanduíche misto). Importante: paralelamente aos jogos para o automatismo dos nomes das notas, deve-se realizar com os alunos atividades de criação, performance de canções e apreciação de peças nas quais apareçam padrões melódicos em graus conjuntos, para que estes sejam reconhecidos, vivenciados e internalizados.

35


1. Edifícios de Vizinhos Rosa Lúcia dos Mares Guia

Formação nomes de notas 6-7+

Objetivo: Formação de padrões escalares – os “edifícios”. Procedimento: As fichas são colocadas em monte, viradas para baixo. Cada participante recebe uma cartela para preenchê-la com as fichas. A cada rodada, o aluno retira uma ficha do monte e verifica se ela se encaixa na sua cartela. As fichas que não encaixarem deverão ser descartadas, podendo ser compradas pelos outros participantes na sua respectiva vez. O jogo termina quando todos tiverem preenchido suas cartelas.

mATERIAL: • Cartelas contendo estruturas verticais em formato de edifícios de diferentes alturas a serem preenchidos pelas fichas com nomes de notas. Cada edifício apresenta uma ou duas notas já preenchidas como referência. • Fichas com nomes de notas em número suficiente para preencher todos os edifícios. Para fixação: Ao final do jogo, os alunos podem falar as sequências formadas nos seus edifícios em movimento ascendente e/ou descendente. O nome deste jogo foi dado pelos alunos da Escola Villa-Lobos em 1978. Segundo eles, a formação vertical das fichas se assemelhava a um edifício habitado por notas musicais.

36


37


2. Jogo do Arranha-Céu Cecília Cavalieri França

Formação nomes de notas 6-7+

Objetivo: Formação de padrões escalares. Procedimento: Os alunos devem se assentar em semicírculo de frente para o cartaz do arranha-céu, colocado no chão. O professor distribui três ou quatro fichas para cada participante e o restante é colocado em um monte sobre a mesa. Sorteia-se uma ficha para ser o chefe do arranha-céu (ex.: fá), que será colocada em sua base (a portaria). Na sequência do semicírculo, o aluno que tiver a ficha com a nota vizinha (ex.: sol), a coloca no respectivo lugar, e assim por diante, até se completar todo o arranha-céu. Caso ninguém tenha a nota seguinte, o professor poderá buscá-la no monte de fichas. Regra alternativa: Em uma aula seguinte, pode-se abolir a sequência do semicírculo; desta forma, qualquer aluno que possuir uma ficha com a próxima nota poderá jogar. Essa nova regra torna o jogo bastante dinâmico, pois os alunos precisam ficar mais atentos não apenas à nota seguinte, mas às próximas notas. Alguns detalhes podem constituir-se preciosos indicativos do desenvolvimento da criança. Por exemplo: alguém coloca um mi no arranha-céu; o aluno que tem um sol ficará na expectativa que um colega coloque o fá para que ele possa jogar. Isso indica que, em breve, ele estará pronto para trabalhar o automatismo de terças. Para apresentação desse conteúdo, veja os Jogos 11 a 16 deste capítulo.

38

mATERIAL: • Cartaz com o desenho de um “arranha-céu” com cerca de 20 andares vazios. • Fichas com nomes de notas em número necessário para preencher o “arranha-céu” (mínimo de quatro fichas de cada nota). Importante: Deve-se começar também pelo topo do arranha-céu (a cobertura), para que os alunos trabalhem igualmente o automatismo de graus conjuntos descendentes. Para fixação: Quando o arranha-céu for preenchido, os alunos devem falar toda a sequência em movimento ascendente e descendente várias vezes. Gradativamente, o professor vai retirando algumas fichas do cartaz até que os alunos reproduzam toda a sequência de memória.


39


3. Jogo do Condomínio Cecília Cavalieri França

Associação nomes de notas 6-7+

Objetivo: Fixação dos vizinhos superiores e inferiores em disposição diagonal. Procedimento: Cada participante recebe uma cartela. As fichas, viradas para baixo, são colocadas sobre a mesa. A cada rodada, o aluno retira uma ficha do monte e verifica se ela se encaixa na sua cartela. As fichas que não se encaixarem deverão ser descartadas, podendo ser compradas pelos outros participantes. O jogo termina quando todos tiverem preenchido suas cartelas.

mATERIAL: • Cartelas contendo sequências de duas ou mais casas vizinhas com deslocamento em diagonal indicando a direção das notas; algumas casas devem estar preenchidas previamente. • Fichas com nomes de notas em número suficiente para preencher as casas. Importante: Transição da apresentação dos vizinhos no sentido vertical para o diagonal. Os jogos anteriores trabalharam o automatismo dos vizinhos dispostos na vertical. É importante que os próprios alunos descubram a disposição das notas em diagonal – que integra as dimensões vertical (relativa à altura) e horizontal (aspecto temporal) – cuja compreensão é imprescindível para a leitura musical. Antes de realizar os jogos 3 a 6, que trabalham essa disposição espacial, o professor pode distribuir algumas fichas para os alunos experimentarem dispor espacialmente os vizinhos, associando-os com os gráficos de movimento sonoro – veja o Capítulo 2.

40


41


Este livro destina-se aos professores de Educação Musical com quem as autoras compartilham sua pesquisa de forma inédita e original. São 85 jogos pedagógicos, desenvolvidos e testados ao longo de 25 anos, a partir dos quais são tratados diversos aspectos da Educação Musical em diferentes níveis, abrangendo a faixa etária de 6 a 16 anos. O objetivo é promover, através dos jogos pesquisados, e de forma lúdica, o automatismo dos diversos elementos abordados, tornando o aluno capaz de lidar com a música de maneira prazerosa, com desenvoltura e espontaneidade, além de proporcionar mais alegria na sala de aula.


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.