VIAGEM PELA ESTRADA REAL

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Helena Guimarães Campos

Viagem pela

Estrada Real Ilustrações

Walter Lara




SĂŠrie Caminhos da Nossa Terra


Helena Guimarães Campos

Viagem pela

Estrada Real Ilustrações

Walter Lara

Belo Horizonte 2012

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31/1/2012 17:34:56

Helena Guimarães Campos

Viagem pela

Estrada Real Ilustrações

Walter Lara

Belo Horizonte 2012


texto © Helena Guimarães Campos ilustrações © Walter Lara Este livro ou parte dele não pode ser reproduzido por qualquer meio sem a autorização da editora.

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C212v Campos, Helena Guimarães, 1964Viagem pela estrada real / Helena Guimarães Campos ; ilustrações Walter Lara. – Belo Horizonte, MG : Fino Traço, 2012. 80p. : il. (Tracinho, 12) ISBN 978-85-8054-046-8 1. Ficção infantojuvenil brasileira. I. Lara, Walter, 1952-. II. Título. III. Série. 12-0504.

CDD: 028.5 CDU: 087.5

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032837

Fino Traço Editora Ltda. Rua dos Caetés, 530 sala 1113 . Centro Belo Horizonte . MG . Brasil Telefax: (31) 3212 9444 www.finotracoeditora.com.br


Ă€ Maria Auxiliadora, minha mĂŁe, que com seu apoio e carinho sempre me acompanhou na busca de novos caminhos.



Sumário capítulo 1

Os preparativos para o passeio

9

capítulo 2

Pé na estrada!

17

capítulo 3

A gruta

29

capítulo 4

O paraíso

37

capítulo 5

O assalto frustrado

49

capítulo 6

Viagem real na Estrada Real?

63



capítulo 1

Os preparativos para o passeio O primeiro a chegar tinha sido o Professor Rui. Mas ele não esperou muito tempo sozinho. Em dez minutos, toda a turma estava reunida em frente à velha estação ferroviária. Era estranho vê-lo assim, como se fosse uma pessoa normal. Ele até parecia um da turma! Nem de longe lembrava aquele professor que, duas vezes por semana, entrava na sala de aula usando calça e camisa social, carregando uma pasta de couro e dando um formal “Bom dia!” a todos. Não que ele fosse do tipo sisudo e tradicional. Era até bastante descontraído e dava aulas fantásticas. Não era à toa que as aulas de História eram as preferidas da turma. Mas, vê-lo de jeans, camiseta, tênis, boné, óculos escuros e mochila era algo que enterrava, definitivamente, a velha imagem que a turma tinha dele. Oito horas em ponto, o Professor Rui fez a chamada. Todos os trinta e dois alunos estavam presentes. Incrível! Aquela pontualidade inédita, sem dúvida, era motivada pelas expectativas quanto à excursão. Propor uma atividade cultural no sábado era mesmo perturbar a rotina escolar naquela semana. A turma ficara alvoroçada com a ideia de um sábado letivo dedicado a um passeio em um antigo trecho da Estrada Real. Até o Tiago que, todo dia, chegava à escola “pontualmente” – com vinte minutos de atraso –, pela primeira vez, cumpria o horário. 9



Viagem pela Estrada Real A alegria da turma era contagiante. Nada de uniforme, nada de sala de aula, nada de sinal, nada de rotina. Divertimento e liberdade eram o que prometia aquele dia. Todos os alunos sentados no gramado, à sombra de uma velha gameleira, o Professor Rui, de pé, deu início aos trabalhos do dia: — Hoje vamos conhecer um trecho de um dos antigos caminhos coloniais. Vocês já sabem que as estradas reais eram os caminhos públicos e oficiais da época da colônia, que serviam às regiões de mineração. Ainda sonolento, Tiago perguntou: — Esses caminhos eram chamados de estradas reais porque eram do rei? — Sim, Tiago, porque pertenciam, como tudo na colônia brasileira, à Coroa Portuguesa. Pelas estradas reais passavam o ouro e o diamante que eram extraídos em Minas Gerais e levados ao litoral e que, depois, seguiam de barco até Portugal. Por esses caminhos, controlados e fiscalizados pelas autoridades portuguesas, também chegavam mercadorias e escravos que abasteciam as áreas de mineração. — Quantos caminhos oficiais existiam? – perguntou o garoto ao lado de Tiago. — Boa pergunta, Luciano! – e retirou de sua mochila vários papéis. — Por favor, você e Pedro, distribuam esse mapa para a turma. Quando todos os alunos estavam com seu mapa na mão, o Professor continuou: 11


Helena Guimarães Campos — Esse é o mapa das estradas reais que serviam às áreas de mineração. Três caminhos ligavam a região de Minas ao litoral. Vejam, primeiro, o Caminho Velho, que ligava as áreas de mineração ao Rio de Janeiro. Observem que ele inclui um trecho marítimo, de Parati ao Rio de Janeiro. Entusiasmado, Luciano comentou: — Eu conheço Parati. Viajei para lá nas últimas férias. É uma cidade plana e muito bonita! Tem um centro histórico com construções da época colonial. Lá eu visitei um forte cheio de canhões. Me lembro que o guia de turismo contou umas histórias sobre os piratas que atacavam os barcos que transportavam ouro. — Será que algum barco carregado de ouro naufragou por ali? – perguntou Lucas, com os olhos brilhando. Depois de um bocejo, Tiago falou: — Já pensou? Podíamos organizar uma expedição e mergulhar nas águas de Parati em busca de tesouros! — Duvido muito que haja algum barco por ali – disse Luciano, cheio de autoridade, já que era o único que conhecia a cidade. — Parati fica em uma baía de águas muito tranquilas. Se os piratas tivessem afundado algum barco na baía, antes dele submergir, o ouro teria sido retirado. E, no caso de um barco realmente ter afundado ali, alguém já teria encontrado o tesouro. Continuando a interpretação do mapa, o Professor Rui falou: — Aqui, vocês veem o Caminho da Bahia. Esse e o Caminho Velho eram os mais antigos da região das minas. O da Bahia era o mais longo e ligava Ouro Preto, antiga Vila Rica, a Salvador. Veem como ele acompanha o Rio São Francisco e seu afluente, o 12


Viagem pela Estrada Real Rio das Velhas? Quem sabe por que nele a Coroa Portuguesa só permitia o tráfego de gado? Luana levantou a mão e respondeu à pergunta do Professor: — Só pode ser porque ele era muito longo e ficava difícil de fiscalizar. Olhem, no mapa, como ele é dividido em várias partes na Região Nordeste. Em seguida, Ana Luísa também deu a sua opinião: — Será porque na região do Rio São Francisco tinha muitas fazendas de criação de gado? Quando nós estudamos sobre o Brasil nos séculos XVI e XVII, não tinha um mapa no livro de História que mostrava que essa região foi ocupada por criadores de gado que vendiam sua produção para as áreas açucareiras do Nordeste? Lá de trás, Pedro também arriscou uma resposta: — Eu acho que é porque tinha muitos bandidos no caminho. Imagine manter a segurança nesses milhares de quilômetros! Eu é que não queria topar com uma quadrilha por ali! Até eu acender uma fogueira e fazer o 190 na língua da fumaça, eu já estaria morto! Todos riram, imaginando a situação descrita por Pedro. Então, o Professor Rui continuou: — Estão todos certos. Para evitar o contrabando e por falta de segurança, só o gado criado na região trafegava nesse caminho. Vejam aqui o Caminho Novo que tem esse nome porque foi mandado construir pela Coroa para evitar o contrabando e agilizar a chegada do ouro até o porto do Rio de Janeiro. Esse era o mais curto dos caminhos que ia de Minas ao litoral. Atento às explicações, Lucas examinava o mapa. Curioso, indagou: 13


Helena Guimarães Campos — E esse caminho que aparece separado, Professor? Ele não vai até o litoral. Olha como ele é pequeno em relação aos outros. — Esse é uma estrada regional, o Caminho dos Diamantes. Ele ligava a capital da Capitania de Minas Gerais, Vila Rica, à região da mineração de diamantes que tinha sua sede em Diamantina. — Professor! – Daniele chamou, com o seu jeitinho dengoso. — Nesse mapa não tem o nome da nossa cidade. Qual desses caminhos reais passava por aqui? — Essa é fácil – disse Camila. — Nossa cidade está bem aqui, nesse ponto do Caminho Novo. É só ver o nome das cidades vizinhas à nossa que aparecem no mapa. — Professor, o caminho que vamos percorrer ainda é o mesmo do século XVIII? – perguntou Tiago, ainda com cara de sono. — Não. Vocês verão que do caminho original, pouca coisa restou. Apenas uma pequena parte ainda conserva as características da época colonial. Em alguns trechos, nem dá para saber exatamente onde ficava o leito da antiga estrada. Mas, de qualquer forma, dá para a gente reviver um pouquinho dessa história. Vamos rever a programação do passeio? — Eu já sei de cor o roteiro, Professor – adiantou-se Luana. — Posso falar? — Faça-nos o favor – incentivou o Professor, que sempre podia contar com a contribuição daquela aluna, uma das mais dedicadas da turma. Como Luana falava em um tom de voz mais baixo, Pedro que era muito seu amigo, levantou-se junto com ela e disse: — Atenção, pessoal! – e bateu palmas três vezes, fazendo uma 14


Viagem pela Estrada Real pose autoritária que imediatamente foi reconhecida por todos como uma imitação do diretor da escola. A turma caiu na gargalhada. Após alguns instantes, com o silêncio garantido pelo Professor que fingira não entender a brincadeira, Luana prosseguiu: — Nosso passeio começa aqui na estação ferroviária. Seguiremos pela estrada de terra, margeando o rio, até encontrarmos uma gruta. Então atravessaremos uma ponte ferroviária e continuaremos por um trecho que ainda tem o antigo calçamento colonial. Depois chegaremos a uma cachoeira. Foi só Luana mencionar a cachoeira, que começou a falação: — Ana Luísa, você veio com o seu biquíni vermelho? – perguntou Camila, enquanto ajeitava o cabelo, prendendo-o com o boné. — Eu vim com o meu. — Eu, também, Camila. Trouxe uma canga maravilhosa que combina com ele. Veja! – e Ana Luísa retirou da mochila um tecido vermelho com grandes flores amarelas e brancas. — Lucas, me empresta o seu protetor solar? – pediu Luciano. — Toma! Mas vê se economiza – respondeu Lucas, que era muito branquinho. — Vamos andar muito tempo e a ação do protetor só dura duas horas. Vou precisar passar mais de uma vez. Não quero ficar todo vermelho e ardendo. Enquanto o protetor era trocado de mãos, a conversa corria solta. Cangas, toalhas e sandálias surgiam de mochilas; alças de biquíni ficavam à mostra; cordões de sungas saíam das calças compridas. Quando Pedro começou a soprar vigorosamente uma bóia com a forma de um patinho que retirara da mochila, as gargalhadas estrondaram. Logo, ao som dos aplausos e assobios 15


Helena Guimarães Campos da turma, ele desfilava com a bóia na cintura, fazendo gestos de nadador. Ele era mesmo o palhaço da turma. Aquele dia prometia muita risada, sem as broncas costumeiras da sala de aula. Até o Professor Rui caiu na gargalhada com a “performance” de Pedro! Acalmados os ânimos, todos sentados, Luana continuou: — Na cachoeira, além do mergulho, faremos um lanche. O Professor então interveio: — Eu pedi para vocês se organizarem em pequenos grupos para cuidarem dos preparativos do lanche coletivo. Por favor, levantem as mãos os representantes dos grupos e digam se está tudo em ordem. Seis mãos se ergueram e, um de cada vez, os alunos confirmaram que o lanche havia sido preparado e que cada aluno levava uma parte da refeição na mochila. E que ninguém havia se esquecido da garrafinha d’água, indispensável numa caminhada como aquela. — Bom! – continuou Luana. — Depois de lancharmos, continuaremos pelo caminho colonial, passaremos por um antigo povoado e chegaremos a uma pousada, onde vamos almoçar. No fim da tarde, um ônibus levará a gente até a escola. É isso aí, Professor. Esqueci alguma coisa? — Não, Luana – respondeu o Professor Rui. — São oito e quinze. Vamos andar cerca de oito quilômetros. O ônibus vai nos pegar às dezesseis horas. Vamos partir? Temos um longo dia pela frente.

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Série Caminhos da Nossa Terra O professor Rui organizou uma atividade super-legal: um passeio em um antigo trecho da Estrada Real, com direito a banho em cachoeira e visita a uma pousada. Seus alunos estão animados, mas nem desconfiam de que viverão uma aventura fantástica. Ao entrar em uma gruta, um grupo de adolescentes voltará ao século XVIII e enfrentará uma quadrilha de assaltantes que atuava no Caminho Novo, uma das estradas reais do período colonial. Como viviam as pessoas naquela época? Que mudanças eles perceberão nas paisagens daquele caminho? O que Tiradentes tem a ver com essa história? Será que os garotos vão escapar dos bandidos? Como eles conseguirão regressar ao século XXI? E que explicação eles encontrarão para tão estranhos acontecimentos? Embarque nessa aventura bem humorada com os oito amigos adolescentes. Você vai se identificar com eles a ponto de se sentir vivenciando os perigos e as mais incríveis situações!


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