Eixo de discussão II

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DINTER

Disciplina: Saúde Pública: cenários e contexto social da Região Nordeste Eixo de discussão II: Conceitos da Geografia aplicados à Saúde e conceitos utilizados pela Geografia e pela Saúde. Estrutura: 1. Tecendo a teia; 2. A escolha do conceito; 3. O objetivo de pesquisa como requisito para definição de conceitos e suas abordagens; 4. Áreas de atuação da Geografia da Saúde; 5. Alguns geógrafos que trabalham a relação ambiente-saúde; 6. Escalas geográficas; 7. Território; 8. Paisagem; Profa. Dra. Martha Priscila Bezerra Pereira – outubro de 2009.


TECENDO A TEIA

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Ao mencionar conceitos da Geografia, refere-se às suas categorias. Os outros conceitos seriam interdisciplinares entre as ciências sociais e da saúde.

Entretanto, outras perguntas surgem:

Que conceitos da Geografia são utilizados para explicar fatos relacionados ao processo saúde-doença?

Que conceitos são trabalhados pela Geografia e pela Saúde simultaneamente?


A ESCOLHA DO CONCEITO

Cada objetivo de pesquisa, área de atuação da Geografia da Saúde e escala geográfica de estudo requer um conceito ou uma abordagem específica de determinado conceito.

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O OBJETIVO DE PESQUISA COMO REQUISITO PARA DEFINIÇÃO DE CONCEITOS E SUAS ABORDAGENS

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Geografia Médica

Alguns exemplos:

Objetivo 1: Identificar os determinantes da diferenciação espacial da incidência da malária, AIDS, tuberculose e hanseníase na Faixa de Fronteira do Brasil, investigando os efeitos da presença do limite político internacional no comportamento dessas doenças e no atendimento à saúde das populações fronteiriças. PEITER, 2005, p. 2 Nível de ancoragem: Regiões da faixa de fronteira

Geografia da Atenção à Saúde

Objetivo 2: Analisar o conhecimento geográfico dos agentes envolvidos na ESF e PSA na cidade do Recife a partir das competências e habilidades desenvolvidas no processo de trabalho exercido na política de saúde local. PEREIRA, 2008, p. 4

Nível de ancoragem: sujeito agente de saúde


SITUAÇÃO DA GEOGRAFIA DA SAÚDE DENTRO DA CIÊNCIA GEOGRÁFICA

GEOGRAFIA GEOGRAFIA HUMANA

GEOGRAFIA URBANA/ RURAL

GEOGRAFIA DA POPULAÇÃO

GEOGRAFIA FÍSICA

BIOGEOGRAFIA

GEOMORFOLOGIA

CARTOGRAFIA

GEOGRAFIA DA ATENÇÃO À SAÚDE

GEOGRAFIA MÉDICA (NOSOGEOGRAFIA)

GEOGRAFIA DA SAÚDE

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ÁREAS DE ATUAÇÃO DA GEOGRAFIA DA SAÚDE Geografia da Saúde

Geografia Médica

Geografia da Atenção à Saúde (ROJAS, 1998)

Geografia Tradicional; Nosogeografia; Geografia das Patologias; Geografia médico-ecológica.

Tem como objetivos principais:

Alguns de seus principais objetivos:

•Estudar a distribuição espacial das doenças no contexto em que estão os enfermos.

•Localizar a disponibilidade dos recursos materiais e humanos (onde está o serviço e em quais escalas?);

•Norteia-se pelos princípios da multicausalidade e da diferença entre saúde individual e coletiva.

•Analisar a qualidade dos serviços;

A partir desses resultados busca-se interpretar e planejar ações concretas.

•Identificar como são decididos os recursos e se a provisão atual afeta no resultado do serviço.

•Entender como se está usando este serviço (acessibilidade), e como a necessidade do serviço é determinada;

(PEREIRA, 2008)


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ÁREAS DE ATUAÇÃO DA GEOGRAFIA DA SAÚDE Geografia da Saúde Geografia Médica

Um exemplo: Mapa de distribuição do cólera - John Snow

Geografia da Atenção à Saúde

Um exemplo:

Tipos de relações de poder que efetivam três tipos de territorialidade na ESF: •Território

de

escuta

(coleta

de

informações);

•Território de administração (definição de articulação com outros territórios para garantir acesso à equipamentos e instituições que dispõem de recursos mais complexos ou complementares);

http://users.rcn.com/jkimball.ma.ultranet/BiologyPages/E/Epidemiolog y.html.; www.joyceimages.com Acesso em 20out09.

•Território de realizações (materialização da prestação de serviços no espaço vivido);

BITOUN, 2000


ALGUNS GEÓGRAFOS QUE TRABALHAM A RELAÇÃO AMBIENTE-SAÚDE

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Luisa Iñiguez Rojas

Geog. Médica Emília Moreira

Geog da Atenção à Saúde

Geog. Médica e da Atenção à Saúde Samuel Lima

Jan Bitoun

Júlio Ramires

Paulo Peiter

Jorge Pickenhayn Susana Curto de Casas

Raul Guimarães

Francisco Mendonça

Crhistovam Barcellos http://web.me.com/inkillay/Latinissimo/Bienvenido_en_files/mapa-politico-america-latina.jpg


ESCALAS GEOGRÁFICAS – DEFINIÇÃO METODOLÓGICA E CONCEITO UTILIZADO PELA SAÚDE E PELA GEOGRAFIA

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Os componentes de determinado “A medida que confere visibilidade ao fenômeno” Define espaços de fenômeno devem ser analisados: pertinência de medida dos fenômenos. •em uma escala coordenada (horizontal); CASTRO, 1995, p. 123

•em uma escala hierarquizada (vertical); O movimento de constituição do objeto ocorre do nível inferior para o superior e sua regulação no sentido inverso

Guimarães (2003) entende essa relação entre níveis como sendo a relação entre escalas geográficas.

(SAMAJA, 1997 apud AUGUSTO, 2002)

Neste caso, pode-se considerar que o meio ambiente contém uma grande quantidade de componentes a serem analisados, tanto numa escala coordenada (horizontal) quanto hierarquizada (vertical), e a condição da saúde pode ser analisada a partir dessas escalas.


ESCALAS GEOGRテ:ICAS...

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ESCALAS GEOGRÁFICAS.... A partir de diretrizes gerais aprovadas em Conferências internacionais são adotados modelos de políticas públicas que repercutem em várias escalas. A escala superior determina o que a inferior deve fazer.

Formação de territórios-rede

A formação de territóriosrede auxiliam no sentido de implementar ações de interesse comum e no mesmo nível hierárquico.

Apropriação de idéias existentes

Normatização do território Nível internacional

Segmentos Prefeitura da sociedade

País Prefeitura Segmentos da sociedade

País

A apropriação de idéias já existentes é possível se há condições políticas e históricas favoráveis.

País Prefeitura

Aproveitamento Segmentos de experiências da sociedade exitosas No âmbito local, realiza-se determinadas ações que chamam a atenção do poder público e em ocasião pertinente divulgam novas práticas recebendo reconhecimento. Essas práticas, em conjunto com outras que ocorrem em outros lugares influenciam na decisão de novas diretrizes em Conferências Internacionais.


TERRITÓRIO...

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A categoria território tem sido trabalhada na Geografia nas seguintes perspectivas: parcial, integral, relacional e multiterritorial. Rogério Haesbaert (2004)

Perspectivas parciais:  Política (referente às relações espaço-poder em geral) ou jurídico política (referente às relações espaço-poder institucionalizadas) • Espaço delimitado e controlado por relações de poder, geralmente o poder do Estado “Para Raffestin (1993, p 152), ‘o Estado está sempre organizando o território nacional por intermédio de novos recortes, de novas implantações e de novas ligações’ ” (Sposito, 2004, p. 22)


TERRITÓRIO...  Cultural (culturalista) ou simbólico-cultural • O território é visto como produto da apropriação, valorização simbólica de um grupo em relação ao espaço vivido “O território é o que é próximo; é o mais próximo de nós. É o que nos liga ao mundo. Tem a ver com a proximidade (...) É o espaço que tem significação individual e social” (Mesquita, 1995, p. 83)  Econômica (economicista) • O território é entendido enquanto dimensão espacial nas relações econômicas. O território é fonte de recursos e/ou incorporado no debate entre classes sociais e na relação capital-trabalho.

“Designa-se por território uma porção (...) do espaço sobre o qual uma determinada sociedade reivindica e garante a todos ou a parte de seus membros direitos estáveis de acesso, de controle e de uso com respeito à totalidade ou parte dos recursos que aí se encontram e que ela deseja e é capaz de explorar ” (Godelier, 1984, p. 112 op cit Haesbaert, 2004, p. 56)

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TERRITÓRIO...

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 Naturalista • Baseia-se nas relações entre sociedade e natureza • Relação homem-ambiente físico • Relação comparativa: comportamento do homem x comportamento dos animais para exercer territorialidade “O território é a área geográfica nos limites da qual a presença permanente ou frequente de um sujeito exclui a permanência simultânea de congêneres pertencentes tanto ao mesmo sexo (machos), à exceção dos jovens (território familiar), quanto aos dois sexos (território individual) ” (Di Méo, 1998, p. 42, op cit Haesbaert, 2004, p. 45)


TERRITÓRIO...

Perspectiva integradora: • O território não pode ser entendido como estritamente político, econômico, cultural ou natural, e sim concebido como revelador de parte ou de todas essas diferentes dimensões sociais. “Sobrariam então duas possibilidades: ou admitir vários tipos de territórios que coexistiram no mundo contemporâneo (...) ou trabalhar com a idéia de uma nova forma de construirmos o território (...) de forma articulada/conectada, ou seja integrada” (Haesbaert, 2004, p. 76)

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TERRITÓRIO...

Perspectiva relacional: • As relações social-históricas são relações de poder (territorialidade) no espaço em um determinado tempo. • O território é fruto de uma relação complexa entre processos sociais e espaço material (seja ele modificado ou não pelo homem). “O espaço e o tempo são suportes, portanto condições, mas também trunfos. (...) ‘o espaço é político’. (...) o espaço e o tempo são suportes, mas é raro que não sejam também recursos e, portanto, trunfos (p. 47). O território é um trunfo particular, recurso e entrave, continente e conteúdo, tudo ao mesmo tempo.” (Raffestin, 1993, p. 59-60 op cit Haesbaert, 2004, p. 81-82)

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TERRITÓRIO... Alguns lembretes: • Cada tipo de territorialização (parcial, relacional, integradora) possui um tipo de desterritorialização correspondente; • A territorialização pode ocorrer numa área (território-zona), mas também pode ocorrer através do movimento, como por exemplo a territorialização dos nômades (território-rede); • A desterritorialização pode ocorrer com o deslocamento, mas também na imobilidade (pessoas que vivem de forma precária e não tem como sair do local onde vivem, foram territorializados por outros, pois são segregados por eles/ pessoas que se isolam em condomínios fechados elas se protegem do entorno) mas ela não é total; • Cada ser humano e cada sociedade exerce mais de um tipo de territorialidade, isto é “é capaz de produzir e habitar mais de um território”.(Haesbaert, 2004, p. 344)

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TERRITÓRIO... Considerando esses lembretes podemos chegar ao conceito de:

Multiterritorialidade ou perspectiva multiterritorial: • Em linhas gerais é um processo de reterritorialização constante, seja de uma área (território-zona) ou de uma série de áreas (território-rede) que o ser humano e as sociedades vivenciam continuamente e simultaneamente. Haesbaert (2004, p. 338)

Dependendo da Escala Geográfica que se estude o conceito de território pode ser diferenciado: Por exemplo: •Quando se lida com o sujeito trata-se de territorialidades, apropriação do território;

•Quando se lida com as políticas públicas trata-se do território jurídicopolítico


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TERRITÓRIO... Concepções de território para desenvolver a promoção da saúde em determinado local:

Multiterritorialidade articulada Ações no território, a partir de vários níveis escalares ou da própria escala geográfica de observação, que convergem para um objetivo comum ou similar;

Multiterritorialidade desarticulada Ações no território, a partir de vários níveis escalares ou da própria escala geográfica de observação, que divergem de um objetivo único ou similar;

Apropriação do território Ocorre quando há a ação ou a intencionalidade do sujeito atuar no espaço geográfico. PEREIRA, 2008


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PAISAGEM... A categoria paisagem tem sido trabalhada na Geografia através da percepção simples ou complexa.

Percepção simples: Observação de uma imagem do território, seja ela pintada, fotografada ou percebida pelo olho.

Percepção complexa: Corresponde ao conjunto de elementos de um território ligado por relações de interdependência (geossistema, observação sistemática). BOULLÓN, 2002; PEREIRA, 2008.

Entretanto, “independente do enfoque observado, é fruto de uma série de procedimentos que (...) resume-se na: a) Observação de uma problemática; b) Determinação do que vai ser analisado; c) Identificação dos elementos necessários a serem analisados para atender ao objetivo do que é necessário ser observado; d) Escolha dos métodos de análise da paisagem a ser estudada e; e) Apresentação dos resultados.


PAISAGEM... Dependendo da Escala Geográfica que se estude o conceito de paisagem, o conceito também pode ter diferentes abordagens: Por exemplo: •Quando se estuda as paisagens do Brasil divide-se estas paisagens por Biomas, que caracterizam determinados tipos de vegetação, relevo, clima, etc.; Ou por paisagens culturais, sendo possível observar vários tipos de construções, costumes, pessoas, etc. •Quando se estuda as paisagens de um município, pode-se observar outros níveis de detalhes: a diferença da população rural e urbana, as várias paisagens urbanas dentro da cidade; as várias paisagens rurais....

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PAISAGEM... Percepção da paisagem na perspectiva da Geografia da Atenção à Saúde: Estaria relacionada à percepção de elementos que podem interferir no processo saúde-doença da população. PEREIRA, 2008

Percepção de pelo menos 3 tipos de paisagem: Paisagem do risco Percepção de elementos entendidos como causadores de algum perigo previsível ou de um conjunto de fatores que indique a possibilidade de ocorrência de um perigo;

Paisagem da prevenção de doenças Percepção de elementos entendidos como resultados de ações capazes de evitar doenças;

Paisagem da promoção da saúde Percepção de elementos entendidos como resultados de ações capazes de promover o bem estar geral. PEREIRA, 2008


REFERÊNCIAS AUGUSTO, Lia Giraldo da Silva. A construção de indicadores em Saúde Ambiental: desafios conceituais. In: MINAYO, Maria Cecília de Souza; MIRANDA, Ary Carvalho de (org). Saúde e Ambiente Sustentável: estreitando nós. Rio de Janeiro: Editora FIOCRUZ, 2002. 343p. P. 291 – 312

BOULLÓN, Roberto C. Planejamento do espaço turístico. Bauru, SP: EDUSC, 2002, 278p. BITOUN, Jan. A política de saúde e as inovações na gestão local. Cidadania, cidade é notícia. Recife: ETAPAS, 2000, n. 4. Abril/ Maio. 2000. CASTRO, Iná Elias de; GOMES, Paulo Cesar da Costa; CORRÊA, Roberto Lobato. Geografia: conceitos e temas. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1995, 353p. HAESBAERT, Rogério. O mito da desterritorialização: do “fim dos territórios” à multiterritorialidade. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil. 2004, 400p. GUIMARÃES, Raul Borges. Atores políticos, representação social e produção da escala geográfica. In: MELO, Jayro Gonçalves (org). Espiral do Espaço. Presidente Prudente: Gráfica e Editora Impress. 2003. 162p.

PEREIRA, Martha Priscila Bezerra. Conhecimento geográfico do agente de saúde: competências e práticas sociais de promoção e vigilância à saúde na cidade do Recife – PE. Presidente Prudente – SP: [s.n.], 2008, 255f. Tese (doutorado). UNESP/ FCT. PEITER, Paulo Cesar. A Geografia da Saúde na Faixa de Fronteira Continental do Brasil na Passagem do Milênio. Rio de Janeiro –RJ: [sn], 2005, 314f. Tese de doutorado (UFRJ/IGEO/PPGG). ROJAS, Luisa Iñiguez. Geografia e salud: temas y perspectivas en América Latina. Cadernos de Saúde Pública. Rio de Janeiro 14(4): p. 701-711, out-dez, 1998.

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