01
DINTER - PB
DISCIPLINA: Saúde pública: cenários e contexto social da Região Nordeste Eixo de discussão III: Metodologias relacionadas ao estudo da Geografia da Saúde
Estrutura: 1. Tecendo a teia; 2. Relembrando as etapas de um projeto; 3. Com que o cientista está preocupado?
4. Como resolver seu problema de pesquisa? 5. E o que falar de metodologias? 6. Uma metodologia para estudar doenças e políticas públicas na fronteira do Brasil com países da América do Sul – PEITER, 2005; 7. Uma metodologia para estudar o conhecimento geográfico do agente de saúde – PEREIRA, 2008; Prof. Dra. Martha Priscila Bezerra Pereira – outubro de 2009
TECENDO A TEIA
02
As metodologias a serem escolhidas dependem intrinsecamente da problemática e da disponibilidade de conhecimento, recursos e tempo para efetivá-las.
Então:
Como definir uma metodologia de pesquisa que seja inovadora e pertinente com minha problemática?
A metodologia escolhida contribui com algo novo para a minha área de atuação profissional?
RELEMBRANDO AS ETAPAS DE UM PROJETO
O conteúdo de um projeto de pesquisa varia segundo: •A necessidade ou entendimento da; •Do momento histórico em que foi elaborado pela
instituição, autor do livro de metodologia ou autor do projeto.
03
04
RELEMBRANDO AS ETAPAS DE UM PROJETO Severino, 2002, p. 160: 1. Título; 2. Delimitação do tema e do problema (problema, justificativas e objetivos); 3. Apresentação da hipóteses;
4. Explicitação quadro teórico; 5. Indicação procedimentos metodológicos técnicos; 6. Cronograma desenvolvimento;
Lakatos e Marconi, 1991, p. 216-217: 1. Apresentação (título); 2. Objetivo ( Tema, delimit. do tema, objetivos); 3. Justificativa (por quê?);
4.
Objeto
(o que estudado, hipóteses);
será
do
5. Metodologia (Métodos de
dos
abordagem, de procedimento, técnicas, delimitação do universo, tipo de amostragem);
e de
7. Referências bibliográficas básicas;
6.
Embasamento
teórico
(teoria, revisão da literatura, definição de termos);
7. Cronograma; 8. Orçamento; 9. Instrumentos de pesq.; 10. Bibliografia;
RELEMBRANDO AS ETAPAS DE UM PROJETO
05
ELABORAÇÃO DA PROBLEMÁTICA: 1. Inserir-se num universo familiar de problemas e delimitar um tema; 2. Definição de um problema específico;
3. Levantamento das referências especializadas que trataram o assunto; DEFINIÇÃO DA JUSTIFICATIVA, OBJETIVO E TÍTULO:
1. Apresentação das justificativas do projeto de pesquisa; 2. Definição do objetivo; 3. Definição do título; ESCOLHAS QUANTO À METODOLOGIA:
1. Definição do que será necessário fazer para realizar a pesquisa; 2. Escolha dos procedimentos gerais (tem relação com o objetivo); 3. Identificação das técnicas de pesquisa mais adequadas (tem a ver com o objetivo); 4. Percepção do método científico que se está abordando; ESCOLHAS QUANTO À FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA: 1. Escolha dos princípios, categorias e conceitos mais adequados à pesquisa;
2. Adequação das escolhas à pesquisa;
COM O QUE O CIENTISTA ESTÁ PREOCUPADO?
06
COMO RESOLVER O SEU PROBLEMA DE PESQUISA?
07
E O QUE FALAR DE METODOLOGIAS? Método de abordagem ou método científico: Conjunto de atividades sistemáticas e racionais que viabilizam o alcance de um objetivo, ou seja, seria um caminho para se chegar a um fim. LAKATOS & MARCONI, 1991, p. 83; PARRA FILHO & ALMEIDA, 1998, P. 51
Procedimentos filosóficos em que se baseiam as ciências: DEDUTIVO:
Processo mental que parte de uma verdade geral constatada para inferir afirmação sobre uma situação específica
INDUTIVO:
Processo mental que parte de dados particulares constatados para inferir uma verdade geral ou universal que não estava presente nas partes examinadas nas particularidades. LAKATOS & MARCONI, 1991, p. 86.
08
E O QUE FALAR DE METODOLOGIAS?
Método de procedimento: Também seria um conjunto de atividades racionais, porém pautado em procedimentos práticos. Na maioria das vezes utiliza-se técnicas de pesquisa já existentes.
E o que seria desenvolver uma metodologia de pesquisa? Seria desenvolver uma nova forma de resolver a problemática proposta. Pode-se associar técnicas de pesquisas já existentes. Pode-se elaborar novas técnicas.
09
UMA METODOLOGIA PARA ESTUDAR DOENÇAS E POLÍTICAS PÚBLICAS NA FRONTEIRA DO BRASIL COM PAÍSES DA AMÉRICA DO SUL – PEITER, 2005 O que precisava? Objetivo: Identificar os determinantes da diferenciação espacial da incidência da malária, AIDS, tuberculose e hanseníase na Faixa de Fronteira do Brasil, investigando os efeitos da presença do limite político internacional no comportamento dessas doenças e no atendimento à saúde das populações fronteiriças.
Como fazer? 1. Recorte temporal:
2. Recorte espacial:
1997-2001 Faixa de fronteira do Brasil, aproveitando regionalizações pré-existentes (Grupo RETIS/UFRJ/ Ministério da Integração).
3. Caracterizações em escalas geográficas diferenciadas utilizando variáveis sócio-ambientais:
a) Caracterização da faixa de fronteira; b) Caracterização das macrorregiões do RETIS/UFRJ: arco norte, central e sul;
c) Caracterização das sub-regiões;
10
PESQUISA DE PEITER, 2005
11
4. Compreensão da etiologia e mecanismos de transmissão das doenças; 5. Descrição do contexto mundial e nacional das doenças para entender sua relevância e formas de controle, as doenças foram:
a) malária; b) tuberculose; c) AIDS; d) hanseníase; 6. Elaboração de mapas de distribuição dessas doenças com várias formas de classificação; 7. Triangulação de informações: Associação de dados da difusão das doenças com os determinantes sócio-ambientais. 8. Estudos de caso: Trabalho de campo em cinco zonas de fronteira entre Brasil, Guiana, Venezuela, Colômbia, Peru e Bolívia utilizando técnicas de pesquisa como questionários e entrevistas.
UMA METODOLOGIA PARA ESTUDAR O CONHECIMENTO GEOGRÁFICO DO AGENTE DE SAÚDE – PEREIRA, 2008 O que precisava? Objetivo: Analisar o conhecimento geográfico dos agentes envolvidos na ESF e PSA na cidade do Recife.
Como fazer? 1. Recorte temporal: 2. Recorte espacial:
2001-2007 Cidade do Recife, aproveitando a divisão dos Distritos Sanitários e das áreas dos agentes de saúde ambiental e dos agentes comunitários de saúde já existentes.
3: Buscou-se, junto ao enfermeiro do PSF e ao supervisor do PSA a indicação de agentes de saúde que se destacam, seja por trazer melhorias à comunidade ou por ter uma característica pessoal diferenciada dos demais agentes; Resultado: A partir das características apontadas e a leitura sobre competências sociais, essas características foram agrupadas em cinco competências sociais: motivação, autonomia, domínio conceitual, domínio da linguagem cartográfica e características pessoais.
12
13
PEREIRA, 2008 4: Elaboração de uma matriz de competências e habilidades; Habilidades Competência
nível elementar (realiza tarefas básicas)
nível de interações e sínteses (síntese de vários conhecimentos adquiridos)
nível de interações complexas (consegue pensar a problemática e elaborar algo novo)
Por poder
Motivação
Por pertencimento Por trabalho
Iniciativa Autonomia
Acesso à área Transformação da realidade local Vocabulário
Domínio Conceitual
Associação do conceito com o ambiente de trabalho
Comunicação Domínio da linguagem Cartográfica Características pessoais
Manuseio do mapa
Elaboração do mapa (desenho livre) Que interferem positivamente
Que interferem negativamente
PEREIRA, 2008 5: Comparação do significado de cada competência com conceitos da geografia; Resultado: Percebeu-se que a autonomia estaria mais relacionada ao conceito de apropriação do território e que o domínio conceitual estaria mais próximo do conceito de percepção da paisagem 6: Relação entre competências sociais e conceitos da Geografia através de suas características (modelo explicativo)
7: Metodologia para identificar os agentes de saúde da cidade do Recife que, segundo os destaques dos enfermeiros e supervisores, estão desenvolvendo um maior conhecimento geográfico; 7.1. Elaboração de 12 matrizes por distrito sanitário e por programa, estando as características localizadas nas linhas, e após a numeração dos agentes por distritos, estes foram representados por um número correspondente nas colunas (foram elaboradas 6 para o PSF e 6 para o PSA);
14
PEREIRA, 2008 1
2
3
4
5
6
7
8
9
10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 32 33 34 35 36 37 38 39 40 41 42 43
1
Agentes (colunas)
2 3 4 5 6 7
LEGENDA:
8 9 10 11 12 13
MOTIVAÇÃO
14 15 16 17 18
AUTONOMIA
19 20 21 22 23
DOMÍNIO CONCEITUAL
24 25 26 27
DOMÍNIO DA LINGUAGEM CARTOGRÁFICA
28 29 30 31 32 33
CARACTERÍSTICAS PESSOAIS
34 35 36 37 38 39 40 41 42
Características (linhas)
43 44 45 46 47 48 49 50 51
Exemplo: Matriz do DS II, referente aos agentes do PSF, no qual 43 agentes de saúde (dispostos nas colunas) estão representados pela presença de cada característica (dispostas nas linhas) 52 53
15
16
PEREIRA, 2008 7.2. Matriz que representasse cada competência social, por característica e por distrito sanitário (foram elaboradas 5 matrizes, uma para cada competência); CARCT/ DS
Exemplo: Matriz representando a competência autonomia, por características e por DS.
I
II
III
IV
V
VI
6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20
9 10 10 11 10 11 Fonte: Relato de técnicos, cargos comissionados e supervisores. TOTAL
TOTAL
4 6 2 6 4 6 6 5 2 3 3 2 6 3 3
17
PEREIRA, 2008 7.3. Questionamentos:
Q. 1: Quais as características estão presentes na maioria dos distritos? Objetivo: Verificar se pelo menos um agente de cada distrito possuía determinada característica, uma vez que se fazia necessário saber se as características apontadas eram representativas para o conjunto da cidade Q. 2: Quais os distritos sanitários possuem mais de 50% das características com relação à essa competência?
Objetivo: Considerar os distritos que possuem representatividade com relação a determinada competência
maior
Q. 3: Nos distritos que concentram mais características em número, quais os agentes possuem características que estão presentes na maioria dos distritos? Objetivo: Unir as informações das questões 1 e 2 (características mais importantes e distritos apontados) para saber quais os agentes poderiam ser escolhidos num primeiro momento.
PEREIRA, 2008 7.4. Resultados dos questionamentos:
Resultado 1: Foram encontrados 153 agentes, considerando os destaques para os agentes da ESF e PSA Resultado 2: Em cada competĂŞncia social algumas caracterĂsticas se destacam para o conjunto dos agentes desses programas, dentre elas algumas combinam para os agentes dos dois programas, como pode ser observado no quadro a seguir.
18
19
PEREIRA, 2008 8: Elaboração de um quadro com as características predominantes dos agentes do PSF e PSA por competência social na cidade do Recife – PE –características comuns aos agentes do PSF e PSA Característica
Competência Motivação
Trabalha mais que o normal Boa interação com a comunidade
Autonomia
Liderança
Iniciativa Formação Domínio conceitual
Trabalho com educação ambiental, sanitária e para a saúde Linguagem acessível, explica bem
Domínio da linguagem cartográfica
Conhece bem a área Eficiente
Características pessoais Disponível
20
PEREIRA, 2008 9: Elaboração de um mapa com a distribuição dos agentes destacados no PSF e PSA por bairro, e sua predominância por distrito sanitário
Neste mapa foram consideradas apenas as competências autonomia e domínio conceitual
MAPA 01 DS III
Nome dos Bairros 01 Recife 02 Santo Amaro 03 Boa Vista 04 Soledade 05 Santo Antônio 06 Paissandu 07 Ilha do Leite 08 Coelhos 09 Ilha Joana Bezerra 10 São José (Coque) 11 Cabanga 12 Torreão 13 Encruzilhada 14 Rosarinho 15 Ponto de Parada 16 Hipódromo 17 Campo Grande 18 Peixinhos 19 Campina do Barreto 20 Arruda 21 Bomba do Hemetério 22 Alto Sta. Terezinha 23 Água Fria 24 Fundão 25 Cajueiro 26 Porto da Madeira 27 Beberibe 28 Linha do Tiro 29 Dois Unidos 30 Derby 31 Graças 32 Espinheiro 33 Aflitos 34 Jaqueira 35 Tamarineira 36 Parnamirim 37 Santana 38 Casa Forte 39 Poço 40 Monteiro 41 Alto do Mandu 42 Casa Amarela 43 Mangabeira 44 Alto José do Pinho 45 Morro da Conceição 46 Alto José Bonifácio 47 Vasco da Gama 48 Macaxeira 49 Apipucos 50 Sítio dos Pintos 51 Dois Irmãos 52 Córrego do Genipapo 53 Nova Descoberta 54 Brejo do Beberibe 55 Brejo da Guarabira 56 Passarinho 57 Guabiraba 58 Pau Ferro 59 Ilha do Retiro 60 Madalena 61 Prado 62 Zumbi 63 Torre
64 Cordeiro 65 Torrões 66 Engeio do Meio 67 Cidade Universitária 68 Iputinga 69 Caxangá 70 Várzea 71 Curado 72 San Martin 73 Bongi 74 Mustardinha 75 Mangueira 76 Afogados 77 Jiquiá 78 Estância 79 Jardim São Paulo 80 Sancho 81 Totó 82 Coqueiral 83 Tejipió 84 Barro 85 Areias 86 Caçote 87 Cohab 88 Jordão 89 Ibura 90 Ipsep 91 Boa Viagem 92 Imbiribeira 93 Pina 94 Brasília Teimosa
DS II
DS IV
DS I
DS V
CONVENÇÕES UTILIZADAS
DS VI
Autonomia
Domínio conceitual
Autonomia e Domínio conceitual
ES C ALA
Agentes destacados Rios Permanentes Rios Temporários Represas Áreas Alagáveis Manguezais Rodovia Federal Rodovias Estadual Ferrovias
LEGENDA
CIDADE
DO
RECIFE
Distrito Sanitário Divisão dos bairros
Competência representada por agente de saúde Autonomia e dom. Conceitual Autonomia Domínio conceitual
DESENHO: MARTHA PEREIRA; XISTO SOUZA Jr. DATA: 2007
21
PEREIRA, 2008 10: Organização dessas informações em dados numéricos: AGENTES DE SAÚDE DO PSF E PSA POR DISTRITO SANITÁRIO, POR PROGRAMA E POR COMPETÊNCIA SOCIAL COMPETÊNCIA AUTONOMIA DOMÍNIO CONCEITUAL OS DOIS PROGRAMA
PSF
PSA
PSF
PSA
PSF
PSA
DS
Q
%
Q
%
Q
%
Q
%
Q
%
Q
%
I
18
24,65
1
4,35
1
2,44
0
0
1
1,85
3
5,77
II
9
12,33
1
4,35
2
4,88
4
13,79
10
18,52
13
25
III
12
16,43
5
21,74
17
41,46
8
27,58
10
18,52
11
21,15
IV
6
8,22
8
34,78
2
4,88
4
13,79
13
24,07
8
15,38
V
13
17,81
1
4,35
4
9,76
4
13,79
11
20,37
6
11,54
VI
15
20,55
7
30,43
5
12,19
9
31,03
9
16,66
11
21,15
TOTAL
73
100
23
100
41
100
29
100
54
100
52
100
Fonte: Trabalho de campo exploratório entre Janeiro e Fevereiro dos anos de 2006 e 2007.
PEREIRA, 2008 11: Organização dessas informações em dados numéricos:
Resultado 1: Em roxo, pode-se observar que há correspondência de predominância para os dois programas dos agentes que foram destacados simultaneamente por duas competências sociais (18,52% e 25%) Resultado 2: Em amarelo, no distrito sanitário III, há correspondência de predominância para os dois programas dos agentes que foram destacados com relação ao domínio conceitual (41,46% e 27,58%)
Resultado 3: Em lilás, o percentual mais alto com relação ao predomínio de competência social por programa foi registrado também no DS III, no PSF, para a competência domínio conceitual (41,46%)
22
REFERÊNCIAS
23
LAKATOS, Eva Maria; MARCONI, Marina de Andrade. Fundamentos de metodologia científica. 3. ed. São Paulo: Atlas, 1991, 253p. PARRA FILHO, Domingos; ALMEIDA, João Santos. Metodologia científica. São Paulo: Futura, 1998, 277p. PEREIRA, Martha Priscila Bezerra. Conhecimento geográfico do agente de saúde: competências e práticas sociais de promoção e vigilância à saúde na cidade do Recife – PE. Presidente Prudente – SP: [s.n.], 2008, 255f. Tese (doutorado). UNESP/ FCT. PEITER, Paulo Cesar. A Geografia da Saúde na Faixa de Fronteira Continental do Brasil na Passagem do Milênio. Rio de Janeiro –RJ: [sn], 2005, 314f. Tese de doutorado (UFRJ/IGEO/PPGG).
SEVERINO, Antônio Joaquim. Metodologia do trabalho científico. São Paulo: Cortez, 2002, 196p.