O homem e o ambiente Biologia e Epidemiologia: Doenรงas Emergentes e Reemergentes
A história natural: o visível descrito
Na décima edição do “Sistema da Natureza”, em 1758, Linneu dá início à moderna técnica de classificação biológica, incluindo a nomenclatura binária – as bases de um sistema de classificação para o reino animal – criando as categorias de ordem, gênero e espécie.
A história natural: o visível descrito Classificação científica Reino: Plantae Divisão: Magnoliophyta Classe: Magnoliopsida Ordem: Malvales Família: Malvaceae Género: Hibiscus Espécie: H. syriacus Nome binomial Hibiscus syriacus
Hibisco da Síria
A história natural
• A história natural supõe dois conjuntos: 1. A série contínua dos seres, a continuidade taxonômica; 2. A descontinuidade da série de acontecimentos que se desenha na linha do tempo. A natureza se aloja inteira entre a superfície da taxonomia e a linha das revoluções.
A história natural: fixismo versus evolucionismo
Não há nem pode haver sequer a suspeita de um evolucionismo ou de um transformismo no pensamento clássico, pois o tempo jamais é concebido como princípio de desenvolvimento para os seres vivos na sua organização interna; só é percebido a título de revolução possível no espaço exterior em que eles vivem.
INTEMPÉRIES DA NATUREZA
SERES VIVOS
dispersão destruição mistura separação entrelaçamento
A história natural
Até o fim do século XVIII, a vida não existe. Apenas existem seres vivos. Se se pode falar da vida, é somente como de um caráter na universal distribuição dos seres. (...) O naturalista é o homem do visível estruturado e da denominação característica. Não da vida.
M. Foucault, As palavras e as coisas, 1967
Cuvier libertou de sua função taxonômica a subordinação dos caracteres para fazê-la entrar nos diversos planos de organização dos seres vivos.
Vida
• A invisibilidade da função independe da identidade visível. A biologia e o órgão: coexistência: os órgãos de um animal formam um sistema único cujas partes agem e reagem umas sobre as outras hierarquia interna dependência plano de organização
As funções se ajustam, se ordenam umas às outras conforme sua importância. Há funções essenciais.
VIDA HISTÓRIA
CONDIÇÕES EXTERIORES
Vida
Para o pensamento do século XVIII, as seqüências cronológicas não passam de uma propriedade e de uma manifestação mais ou menos confusa da ordem dos seres; a partir do século XIX, elas exprimem, de um modo mais ou menos direto e até na sua interrupção, o modo de ser profundamente histórico das coisas e dos homens.
Michel Foucault, 1967
Hรก uma originalidade da vida que o meio ignora. Jean-Baptiste Lamarck
O vivo e seu meio O indivíduo e seu meio: o evolucionismo
Lamarck
Darwin
o meio domina a evolução do vivo:
a relação entre os viventes supera a relação entre o vivo e o meio
MEIO
NECESSIDADE
AÇÃO
a adaptação é um esforço da vida para manter-se em um meio indiferente
viver é submeter ao juízo do conjunto dos seres viventes uma diferença individual
a vida segundo a duração
a vida segundo a interdependência
meio físico-químico
meio biogeográfico
As espécies, ao contrário da crença quase universal, não são estáticas e imutáveis, mas se modificam através de longos períodos de tempo, pela seleção natural, permanecendo vivo o mais apto. Charles Darwin
Os lugares são, pois, o mundo, que eles reproduzem de modos específicos, individuais, diversos. Eles são singulares, mas são também globais, manifestações da totalidade-mundo, da qual são formas particulares. Milton Santos
TRANSIÇÃO EPIDEMIOLÓGICA NO CAPITALISMO MONOPOLISTA DE ESTADO
A maior redução percentual da proporção de mortes por doenças infecciosas ocorreu no período de 1940 a 1995
EVOLUÇÃO DO PADRÃO DE MORTALIDADE NO BRASIL: 2000 A 2006 MORTALIDADE PROPORCIONAL PELOS PRINCIPAIS GRUPOS DE CAUSAS CAPÍTULOS DA CIDBR-10 100,0 90,0 80,0 70,0 60,0 50,0 40,0 30,0 20,0 10,0 0,0 2000
2001
2002
2003
2004
2005
2006
EXPECTATIVA DE VIDA POR PAÍS EM ANOS PRÓXIMOS DE 2000
MEIO AMBIENTE E SAÚDE HUMANA
Processo de Desenvolvimento (Urbanização, Industrialização) Pressões sobre o Meio Ambiente Degradação do Meio Ambiente Riscos à Saúde Humana
Efeitos Adversos à Saúde Humana Ações de Promoção, Prevenção e Correção
Organização social contemporânea
Estruturação do espaço público
Repercussões do relacionamento do homem com estes espaços
Degradação do Meio Ambiente Aumento da freqüência de desastres naturais; Aumento da concentração de contaminantes no solo, água, ar e nos ambientes de trabalho; Desequilíbrio na população de reservatórios e vetores de doenças. Risco
VULNERABILIDADE
Vulnerabilidade: Definições
Vulnerabilidade é a condição de certos grupos populacionais em função de fatores biológicos, socioeconômicos, culturais e ambientais. Para os grupos mais vulneráveis, a exposição aos riscos representaria uma maior ameaça à saúde.
VULNERABILIDADE
Aumento do tamanho da população Urbanização e aumento da densidade em pólos urbanos Envelhecimento da população Redução da resistência por exposição a produtos tóxicos Desgate por obesidade e outros problemas do consumo
VULNERABILIDADE • Degradação ambiental e perda da biodiversidade • Comércio e consumo de animais selvagens
• Aumento da mobilidade por instabilidade no trabalho • Persistência de bolsões de miséria • Desigualdade social e expansão do circuito inferior urbano
UMA DOENÇA PODE SER CONSIDERADA EMERGENTE: Quando seus sintomas diferem nitidamente daqueles anteriormente conhecidos. Se uma doença que requer um longo tempo para se manifestar vem a se tornar mais prevalente devido ao aumento da expectativa de vida. Quando uma doença até então localizada passa a ser mais disseminada geograficamente.
ADAPTADO DE LEVINS E AL., 1994 – THE EMERGENCE OF NEWS DISEASES. AMERICAN SCIENTISTS, 82: 52-60 (pelo Prof. Paulo Sabroza)
UMA DOENÇA PODE SER CONSIDERADA EMERGENTE: (cont.)
• Quando uma doença rara se torna comum.
• Quando novos patógenos são diagnosticados através de novas técnicas de diagnóstico. • Quando uma doença vem a ser reconhecida através da ocorrência de clusters de casos. ADAPTADO DE LEVINS E AL., 1994 – THE EMERGENCE OF NEWS DISEASES. AMERICAN SCIENTISTS, 82: 52-60 (pelo Prof. Paulo Sabroza)
Uma nova ideologia científica As relações entre desenvolvimento e vulnerabilidade Teoria da evolução revisitada
Perspectiva da complexidade - Sistemas hierárquicos - Recursividades - Transdisciplinaridade - A questão da incerteza Biotecnologia Rede de vigilância global - Monitoramento em tempo real - levantamento de rumores - Investigação local Modelos de análises de cenários do futuro
TEORIAS: •Teoria de foco natural das doenças – Pavlovsky (1920-1940 ) •Teoria da dinâmica dos processos infecciosos – Bradley, Anderson e May – 1980 / 1990 •Ecologia e distribuição geográfica das doenças •Determinação social das doenças
Prof. Paulo Sabroza
CARACTERÍSTICAS DE UNIDADES SÓCIOESPACIAIS DE PRODUÇÃO DE DOENÇAS
• Estrutura biótica • Estrutura social • Estrutura espacial
• Receptividade taxa básica de reprodução do parasita Vulnerabilidade
“Emerging infectious diseases (EIDs) are a significant burden on global economies and public health. Their emergence is thought to be driven largely by socio-economic, environmental and ecological factors.� No. of EID events 1
2-3
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8-11
Figure 2 Global richness map of the geographic origins of EID events from 1940 to 2004. The map is derived for EID events caused by all pathogen types.
-
Jones K., Patel, N.G.,. Levy,M., Storeygard,A.,Balk,D.,Gittleman,J.L and Daszak,P., 2008 - Global trends in emerging infectious diseases. Nature, 451(21): 990-994 doi:10.1038/nature06536.
Circles represent one degree grid cells, and the area of the circle is proportional to the number of events in the cell.
NOVOS ELEMENTOS DO SISTEMA DE VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA NO BRASIL -Rede global – VIGISUS
-Salas de análises de situações de saúde -Vigilância de rumores – CIEVS
-Equipes táticas de investigação e contenção de surtos
-Novo regulamento sanitário internacional
PRINCIPAIS RISCOS RELACIONADOS A PROBLEMAS DE SAÚDE EMERGENTES E REEMERGENTES NO BRASIL 2009-2010 Difusão territorial do DenV 2 Epizootias de febre amarela em periferias urbanas Introdução do vírus da gripe pandêmica da América do Norte Difusão da leishmaniose visceral para novos centros urbanos Introdução do DenV 4 Introdução do vírus da gripe aviária pandêmica
Reintrodução do vírus do sarampo
Brasil - Casos de dengue notificados: 1986 a 2008
Fonte: SVS/ MinistĂŠrio da SaĂşde Dados preliminares para 2007e 2008
BRASIL: CASOS DE LEISHMANIOSE DE 1980 A 2007 Casos de LV de 1980VISCERAL a 2007 7000 6000
4000 3000 2000 1000 0
19 80 19 81 19 82 19 83 19 84 19 85 19 86 19 87 19 88 19 89 19 90 19 91 19 92 19 93 19 94 19 95 19 96 19 97 19 98 19 99 20 00 20 01 20 02 20 03 20 04 20 05 20 06 20 07
Casos
5000
Ano
Casos
Linear (Casos)
Leishmaniose visceral: Casos no Brasil e Regi達o Nordeste. 1980 - 2006 5000 4500 4000
3000 2500 2000 1500 1000 500
Ano BR
NE
20 06
20 04
20 02
20 00
19 98
19 96
19 94
19 92
19 90
19 88
19 86
19 84
19 82
0
19 80
Casos
3500
Brasil: Distribuição dos casos de leishmaniose visceral por municípios 2006.
1 PONTO = 1 CASO
Brasil: IncidĂŞncia de leishmaniose visceral por UF 2000, 2003 e 2006. 2000
2003 0 0,01 a 2,00 2,01 a 7,00 7,01 a 12,00 12,01 a 20,00
2006
Texto: Carl Ritter. Ciência da Terra em suas relações com a natureza e a história do homem, 1817 Foto: Sebastião Salgado
“A história humana é ininteligível sem a relação do homem ao solo e em todo solo. A terra, considerada em seu conjunto, é o suporte estável das vicissitudes da história. O espaço terrestre, sua configuração, são, por conseguinte, objeto de conhecimento não tão só geométrico, não somente geológico, senão também sociológico e biológico.”