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Reportagem

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Fiotec coordena, junto ao INI/ Fiocruz, consórcio internacional para combate à doença de Chagas

A doença de Chagas tem incidência de 30 mil novos casos por ano nas Américas, o que a torna endêmica em 21 países da região. A doença afeta cerca de seis a sete milhões de pessoas e provoca por ano, em média, a morte de 14 mil pessoas e a infecção de oito mil recém-nascidos ainda durante a gestação. Aqui no Brasil, entre 2010 e 2018, foram registrados mais de 41 mil óbitos pela doença, 4.391 destes apenas em 2018.

O Consórcio Chagas, liderado pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), por meio da Fiotec, foi firmado em abril com o objetivo de eliminar a transmissão congênita da doença em países endêmicos da América Latina. O convênio foi assinado com a Unitaid e conta com o cofinanciamento do Ministério da Saúde do Brasil. A ideia é aumentar a conscientização sobre a doença, ampliando o diagnóstico e melhorando as terapias de tratamento, tendo como foco a redução da transmissão de mãe para filho, considerada uma das principais vias de infecção pela doença em todo o mundo.

O projeto foca suas atenções na transmissão congênita da doença de Chagas, já que há um relativo sucesso das medidas de controle da transmissão vetorial e transfusional da doença. A transmissão de mãe para filho tem se tornado mais relevante em países latinos e já é a principal fonte de novos casos em regiões não endêmicas. A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que existam 1,12 milhão de mulheres em idade fértil infectadas na América Latina, onde são esperados anualmente entre 8 e 15 mil bebês nascidos com a doença. Hoje, as atividades do consórcio ainda estão em um estágio inicial, chamado de “fase de preparação”. A previsão é que a efetiva execução das atividades comece em 2022. De acordo com Luiz Martins, analista da Fiotec envolvido diretamente com o projeto, “o foco até o final deste ano é a assinatura dos contratos com todos os membros do consórcio, alinhamento das parcerias estratégicas, afinamento sobre o fluxo de comunicação e reporte financeiro com todos os envolvidos, além da parte técnica, liderada pela Fiocruz, que está envolta dentre outras atividades com a aprovação e finalização do protocolo da pesquisa junto à OMS”. A Fiotec, por sua vez, é a responsável pela gestão administrativo-financeira de todo o consórcio, atuando em todas as esferas para garantir que as entregas estejam de acordo

com o previsto nos contratos assinados.

As atividades técnicas do projeto são coordenadas pelo Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas (INI/Fiocruz), com o endosso dos Ministérios da Saúde da Bolívia, Brasil, Colômbia e Paraguai, além de compreender atores-chave da saúde pública de cada um dos quatro países envolvidos. A OMS e a Organização Pan-Americana de Saúde (Opas) contribuem com o consórcio oferecendo apoio técnico às ativi dades. Andréa Silvestre, principal investigadora do consórcio e chefe do Laboratório de Pesquisa Clínica em Doença de Chagas do INI/Fiocruz, afirma que o projeto terá uma abordagem abrangente e integrada, combinando pesquisa e protocolos de inovação para eliminar a transmissão congênita da doença.

O combate à doença enfrenta hoje obstáculos como a escassez de ferramentas diagnósticas e opções de tratamento, a baixa adesão a esse tratamento, a falta de conhecimento e compreensão entre profissionais de saúde e pessoas de risco, além das vulnerabilidades socioeconômicas e baixa mobilização social em áreas endêmicas. A pandemia de Covid19 traz desafios adicionais tanto para os pacientes com doença de Chagas, quanto para a própria execução das atividades do projeto. A circulação do coronavírus já impacta o andamento do consórcio, mesmo que ainda em fase de planejamento. “Toda a fase de pré-assinatura do contrato habitualmente envolveria idas institucionais a cada um dos membros do consórcio e seus respectivos ministérios, a fim de se discutir e avaliar as possibilidades nesses países. Uma visita da Unitaid à Fiotec também estava prevista, mas todas as viagens e encontros foram substituídos por chamadas, e-mails e reuniões virtuais”, relata Luiz.

A proposta do projeto é tratar as mulheres em idade fértil antes mesmo da gravidez, testando ativa e sistematicamente aproximadamente 234 mil pessoas durante toda a iniciativa. As atividades serão implemen-

tadas em 33 municípios, sendo 10 na Bolívia, 13 na Colômbia, cinco no Paraguai e cinco no Brasil. As cidades brasileiras serão Igarapé-Miri (PA), Riachão das Neves (BA), Janaúba (MG), Rosário do Sul (RS) e Paraúna (GO). A ideia é levar o projeto a contextos geográficos e epidemiológicos diversos, espalhados pelo continente.

Os atores do Consórcio Chagas

Com a coordenação do INI/Fiocruz e Fiotec, o CUIDA Chagas tem como parceiros internacionais o Instituto Nacional de Laboratorios de Salud (Inlasa), da Bolívia, o Instituto Nacional de Salud (INS), da Colômbia, e o Servicio Nacional de Erradicación del Paludismo (Senepa), do Paraguai, além da iniciativa Foundation for Innovative New Diagnostics (FIND). Na Fiocruz, reúne pesquisadores da Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (Ensp), do Instituto Oswaldo Cruz (IOC), do Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde (ICICT), da Casa de Oswaldo Cruz (COC), do Instituto de Tecnologia em Imunobiológicos (Bio-Manguinhos), do Instituto de Tecnologia em Fármacos (Farmanguinhos), e do Instituto René Rachou (Fiocruz Minas), além de parceiros de Universidades Federais do Brasil, como UFG, UFBA, UFRJ e UFC.

Com informações da Agência Fiocruz de Notícias (AFN).

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