Inflamação

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Patologia Geral

Inflamação

Conceitos fundamentais

Inflamação (lat. inflammare, atear fogo):

Reação fisiológica a um estímulo interpretado como nocivo, caracterizada pelo aumento local do fluxo e permeabilidade vasculares, com a subsequente migração de células circulantes específicas (leucócitos) para o tecido insultado, cuja função é eliminar a causa da injúria e os detritos resultantes.

A inflamação representa uma importante ferramenta (ainda que algo rudimentar) a serviço da imunidade, sendo essencial à sobrevivência; porém, pode mostrar-se patológica quando demasiado intensa ou prolongada ou quando acionada por gatilhos anormais.

Pilares clínicos da inflamação

Manifestações cardinais da inflamação: calor, rubor, tumor (sinais flogísticos), dor e disfunção.

Pilares clínicos da inflamação

O prejuízo funcional associado à inflamação varia conforme a sua severidade e o órgão/tecido comprometido.

Causas da inflamação

Estímulos nocivos (ou reconhecidos como tal) e seus produtos/efeitos:

- despojos celulares (fragmentos de organelas e conteúdos vazados, sinalizando necrose, por qualquer causa);

- variações na concentração intracelular de conteúdos específicos (sinais indiretos de lesão);

- infecções;

- corpos estranhos;

- alergênios;

- autoantígenos.

Produtos da necrose e agentes interpretados como nocivos pelo organismo (ainda que erroneamente) têm capacidade de deflagrar uma reação inflamatória direta ou indiretamente (por mediação da resposta imune).

Protagonistas da reposta inflamatória

Células "inflamatórias":

- atuam no reconhecimento e/ou remoção de agentes nocivos e detritos teciduais gerados pela atuação destes;

- produzem os mediadores químicos que orquestram a resposta inflamatória;

- circulantes ou residentes nos tecidos;

- formadas na medula óssea.

Leucócitos

Neutrófilo Eosinófilo

Monócito

Mastócito Linfócito

Células "sentinela"

Macrofagócito (histiócito)

Dendrócito

Principais células (fora de escala) a protagonizar a resposta inflamatória.

Protagonistas da reposta inflamatória

Microvasculatura:

- os microvasos (arteríolas, capilares e vênulas) representam uma interface dinâmica entre o sangue e os demais tecidos, sendo responsivos a mediadores produzidos pelas células inflamatórias, os quais influenciam seu tônus e permeabilidade; - os endoteliócitos são sensíveis a estímulos nocivos e sintetizam, eles próprios, mediadores inflamatórios.

Mediadores da inflamação

Características gerais:

- moléculas sinalizadoras que regem a resposta inflamatória;

- pré-formados ou formados sob demanda;

- atuam localmente ou à distância;

- efeitos pró ou anti-inflamatórios.

Sintetizados por "células inflamatórias"

Pré-formados (em grânulos)

Formados sob demanda

Sintetizados por hepatócitos

Aminas vasoativas

Citocinas

Eicosanoides

Outros

Circulantes (plasmáticos)

Proteínas do sistema complemento

Sem a atuação de mediadores químicos, não há inflamação.

Mediadores da inflamação

Citocinas:

- principais mediadores da comunicação celular na inflamação;

- de natureza proteica, são produzidas (sob demanda) por tipos celulares diversos (em especial, sentinelas, leucócitos e endoteliócitos), em resposta a estímulos pró-inflamatórios diretos ou indiretos;

- atuam em diversas etapas do processo inflamatório;

- ação autócrina, parácrina ou endócrina, com efeitos receptordependentes, exercidos por meio da indução de expressões gênicas.

Ação autócrina

Célula-alvo

Citocinas

Receptor

Ação parácrina

Ação endócrina

Circulação

Célula-alvo local

Célula-alvo distante

Os efeitos das citocinas desencadeiam-se a partir da ligação a receptores específicos nas células-alvo.

Mediadores da inflamação

Principais citocinas inflamatórias (conforme a classe):

- interleucinas: IL-1, IL-6 IL-10;

- quimiocinas: CXCL8 (IL-8);

- fatores de necrose tumoral: TNF(-α);

- fatores de crescimento: TGF-β;

- interferons: IFN-γ.

Mediadores da inflamação

Eicosanoides:

- de natureza lipídica, produzidos (sob demanda) por tipos celulares diversos (em especial, sentinelas, leucócitos e endoteliócitos);

- derivam do ác. araquidônico (membrana plasmática) obtido pela ação de uma fosfolipase (PLA2) que é ativada direta ou indiretamente por estímulos variados (↑ do Ca2+ citosólico, citocinas).

Membrana plasmática

Fosfolipídio

Ác. araquidônico

O ác. araquidônico é um ác. graxo insaturado presente em fosfolipídios da membrana plasmática.

RADICAL

Mediadores da inflamação

Eicosanoides:

- sintetizados em reações catalisadas por cicloxigenases (COX) e lipoxigenases (LOX);

- efeitos diversos, sobre diversas etapas do processo inflamatório.

Ω-3

Membrana plasmática (fosfolipídios) COX-2

Prostaglandinas e tromboxanos

PLA2

Ác. araquidônico

e 12-LOX

Leucotrienos e lipoxinas

Esquema simplificado da síntese dos eicosanoides.

Mediadores da inflamação

Principais eicosanoides inflamatórios:

- sintetizados por cicloxigenases:

-- prostaglandinas: PGD2, PGE2, PGI2 (prostaciclina);

- sintetizados por lipoxigenases:

-- leucotrienos: LTB4, LTC4, LTD4, LTE4;

-- lipoxinas: LXA4.

Mediadores da inflamação

Aminas vasoativas:

- primeiros mediadores a entrar em cena no processo inflamatório;

- moléculas pré-formadas, especialmente em mastócitos;

- liberadas em resposta à ativação de mastócitos por estímulos diversos;

- efeitos locais, sobre a microvasculatura;

- representadas pela histamina (principal) e serotonina.

Mastócitos repletos de grânulos de histamina (à microscopia óptica e eletrônica de transmissão).

Mediadores da inflamação

Proteínas do sistema complemento:

- coleção de proteínas plasmáticas produzidas por hepatócitos;

- circulam sob formas inertes, ativando-se ao contato com agentes nocivos;

- efeitos diversos, em várias etapas da resposta inflamatória;

- representadas principalmente pela C3a, C3b, C5a.

Etapas gerais da resposta inflamatória aguda

Cronologia:

- 1: reconhecimento do estímulo/agente nocivo;

- 2: aumento local do fluxo e permeabilidade vasculares;

- 3: recrutamento de leucócitos circulantes;

- 4: remoção do estímulo/agente nocivo;

- 5: resolução da resposta.

Reconhecimento do estímulo/agente nocivo

Células sentinela:

- principais responsáveis por reconhecer estímulos nocivos (e/ou seus efeitos) e iniciar a resposta inflamatória;

- localizações estratégicas (intra/subepiteliais, perivasculares, linfonodos, baço);

- capazes de reconhecer cerca de mil padrões químicos diferentes.

As células sentinela permeiam os tecidos do corpo e estão sempre "atentas" a estímulos nocivos (diretos ou indiretos).

Mastócito Dendrócito Macrofagócito

Reconhecimento do estímulo/agente nocivo

Principais mecanismos:

- sensores citosólicos de lesão celular:

-- expressos por todas as células;

-- identificam desequilíbrios eletrolíticos (p. ex., ↓[K+], ↑[Ca2+]), radicais livres, fragmentos moleculares (p. ex., DNA);

-- capazes de identificar, também, algumas partículas microbianas;

-- ativam inflamossomas, que induzem a síntese de IL-1 (recrutamento de leucócitos da circulação).

Reconhecimento do estímulo/agente nocivo

Principais mecanismos:

- sensores membranares de necrose celular:

-- expressos por mastócitos;

-- identificam proteínas nucleares específicas liberadas por epiteliócitos e fibroblastos necróticos;

-- deflagram a exocitose de mediadores vasoativos.

Reconhecimento do estímulo/agente nocivo

Principais mecanismos:

- sensores membranares e citosólicos de microrganismos: -- expressos por macrofagócitos e dendrócitos (leucócitos e epiteliócitos também podem expressá-los);

-- identificam glicoproteínas/glicolipídios microbianos; -- induzem a síntese de IL-1, TNF-α e CXCL8 (que recrutam leucócitos da circulação).

Reconhecimento do estímulo/agente nocivo

Principais mecanismos:

- "proteínas sentinela" do sistema complemento:

-- presentes na circulação sanguínea, exibem afinidade por microrganismos e toxinas microbianas;

-- induzem a liberação de histamina (mastócitos), ativam lipoxigenases e auxiliam no recrutamento de leucócitos (quimiotaxia), além de atuarem como opsoninas.

Aumento local do fluxo e permeabilidade vasculares

Principais mecanismos:

- aumento do fluxo arteriolar (hiperemia):

-- pela dilatação de arteríolas locais; -- mediado pela histamina (mastócitos perivasculares; principal mediador) e prostaglandinas (PGD2, PGE2, PGI2); -- maior aporte local de sangue (causa do rubor/eritema e calor), incluindo leucócitos e mediadores inflamatórios.

Histamina e prostaglandinas

Vasodilatação arteriolar na inflamação.

Fluxo regular
Arteríola
Vênula
Capilares
Hiperemia

Aumento local do fluxo e permeabilidade vasculares

Principais mecanismos:

- aumento da permeabilidade venocapilar:

-- pela retração de endoteliócitos e/ou lesão do endotélio;

-- mediada pela histamina (principal), prostaglandinas (PGD2, PGE2) e leucotrienos (LTC4, LTD4, LTE4);

-- favorece o extravasamento de plasma (com alta concentração proteica) e leucócitos (exsudação, causando edema e efusões).

Estímulo nocivo

Vasodilatação e retração endotelial

Histamina e outros mediadores

Fluxo lentificado

Plasma rico em proteínas

Retração/lesão endotelial

A perda de plasma (retração/lesão endotelial) gera aumento da viscosidade sanguínea, que, associada à dilatação do leito vascular, resulta na lentificação do fluxo local, o que favorece a subsequente adesão de leucócitos ao endotélio.

Aumento local do fluxo e permeabilidade vasculares

Exsudação e transudação

Edema rico em proteínas

Permeabilidade endotelial aumentada

Exsudação (fenômeno inflamatório)

Edema pobre em proteínas

Transudação (fenômeno hidrostático/osmótico)

Os edemas (e efusões) exsudativo e transudativo originam-se por diferentes mecanismos.

↑ pressão sanguínea

↓ pressão osmótica

Recrutamento de leucócitos circulantes

Principais mecanismos:

- adesão leucocitária fraca:

-- células sentinela estimuladas produzem IL-1 e TNF-α, que inicialmente induzem, nos endoteliócitos e leucócitos, a expressão membranar de selectinas (moléculas de adesão fraca) e seus ligantes; -- as adesões fracas são efêmeras e resultam no rolamento de leucócitos (impulsionados pela corrente sanguínea) sobre a superfície endotelial.

Recrutamento de leucócitos circulantes

Principais mecanismos:

- adesão leucocitária forte:

-- a expressão endotelial de ligantes para integrinas, moléculas de adesão forte exibidas por leucócitos, também é induzida pela IL-1 e TNF-α;

-- a afinidade das integrinas pelos ligantes endoteliais é ativada por quimiocinas (em especial a CXCL8) e leucotrienos (LTB4).

Recrutamento de leucócitos circulantes

Principais mecanismos:

- diapedese (migração transendotelial): -- leucócitos aderidos, estimulados por quimiocinas (CXCL8) e moléculas de adesão endoteliais (PECAM-1), esgueiram-se pelos espaços interendoteliais; -- colagenases secretadas pelos leucócitos asseguram a perfuração da membrana basal, dando-lhes acesso ao ambiente extravascular.

Recrutamento de leucócitos circulantes

Adesão e migração

Ligante de selectinas

Endotélio

Receptor de quimiocinas

Integrina

Adesão fraca e rolamento

Adesão forte e achatamento

Diapedese

P-selectina E-selectina

Moléculas adesivas Quimiocinas (macrofagócitos)

Histamina (mastócitos)

Esquema simplificado da adesão e migração leucocitária rumo ao tecido conjuntivo perivascular.

Recrutamento de leucócitos circulantes

Adesão e migração

Adesão e rolamento leucocitários in vivo.

Recrutamento de leucócitos circulantes

Principais mecanismos:

- quimiotaxia leucocitária: -- quimiocinas (CXCL8), leucotrienos (LTB4), complemento (C3a, C5a) e moléculas microbianas "guiam" os leucócitos imigrados rumo ao epicentro da lesão; -- sinalizações transmembrana dão origem a filópodes, no sentido do gradiente quimiotático, que tracionam a célula por meio de interações actina-miosina.

Endotélio

"Moléculas guia"

Leucócito migrado

Macrof.

Tecido agredido

Estímulo (bactéria)

Esquema simplificado da quimiotaxia leucocitária.

Recrutamento de leucócitos circulantes

Adesão (1), migração transendotelial (2) e infiltração quimiotática (3) de leucócitos, observadas por microscopia óptica.

Recrutamento de leucócitos circulantes

Natureza do infiltrado leucocitário: - maioria dos casos: neutrófilos (principalmente nas primeiras 48h) e monócitos (predominantes após aprox. 48h).

Plasma (edema) Neutrófilos Monócitos

Cronologia básica do infiltrado inflamatório agudo.
Tempo (em dias)

Recrutamento de leucócitos circulantes

Natureza do infiltrado leucocitário

Neutrófilos

Parede do apêndice cecal maciçamente infiltrada por neutrófilos (apendicite aguda).

Recrutamento de leucócitos circulantes

Natureza do infiltrado leucocitário

Eosinófilos

Inflamações de causa alérgica ou helmíntica tipicamente exibem um infiltrado leucocitário rico em eosinófilos (aspecto microscópico da esofagite alérgica).

Recrutamento de leucócitos circulantes

Natureza do infiltrado leucocitário

Linfócitos

Inflamações de causa viral tipicamente exibem um infiltrado leucocitário com predomínio de linfócitos (aspecto microscópico de uma hepatite viral aguda).

Remoção do estímulo/agente nocivo

Principais mecanismos: - fagocitose: -- efetuada especialmente por neutrófilos, eosinófilos e macrofagócitos; -- o reconhecimento de moléculas microbianas (e outros elementos estranhos), agentes opsonizados (C3b) e debris celulares resulta na emissão de pseudópodes que englobam o agressor, formando-se os fagossomas.

Pseudópodes

Opsoninas tornam seu substrato "atraente" aos fagócitos (à direita, leucócito englobando uma levedura em imagem colorizada obtida por microscopia eletrônica de varredura).

Fagócito

Remoção do estímulo/agente nocivo

Principais mecanismos:

- fagocitose:

-- grânulos lisossomais contendo amplo arsenal enzimático fundem-se ao fagossoma e digerem seu conteúdo;

-- radicais livres oxigenados (RLO) e nitrogenados (RLN) produzidos no interior dos fagossomas colaboram com o processo de degradação.

Citoplasma

Opsonina

Receptor membranar

Agente agressor

Degradação enzimática

Engolfamento

Formação do fagossoma

Lisossoma

RLO O2 Produção de radicais livres

Degradação química

Representação simplificada da fagocitose.

Fagolisossoma

Remoção do estímulo/agente nocivo

Principais mecanismos:

- fagocitose:

-- a digestão nos fagossomas resulta na formação de corpos residuais, que se acumulam no citoplasma e/ou são exocitados; -- os leucócitos sobreviventes sofrem apoptose ao fim do processo e são englobados por macrofagócitos.

O destino dos fagossomas.

Fagossoma
Corpos residuais
Exocitose Digestão

Remoção do estímulo/agente nocivo

Principais mecanismos:

- armadilhas extracelulares:

-- redes viscosas de cromatina, oriundas de neutrófilos, que concentram enzimas e moléculas antimicrobianas;

-- limitam a disseminação de microrganismos e colaboram com sua destruição;

-- o processo culmina com a morte dos neutrófilos.

Mieloperoxidase

Neutrófilo

"capturado"

Neutrófilos têm a habilidade de produzir "teias" que capturam microrganismos nocivos.

Resolução da resposta inflamatória

Principais mecanismos:

- os mediadores inflamatórios têm vida curta, sendo inativados ou degradados logo após sua liberação;

- a medida que o estímulo original é neutralizado, a produção de mediadores pró-inflamatórios decai (e assim, seus efeitos) e entram em cena mediadores com ação anti-inflamatória.

Resolução da resposta inflamatória

Principais mecanismos:

- citocinas anti-inflamatórias (IL-10, TGF-β) inibem a produção de citocinas pró-inflamatórias e o recrutamento de leucócitos, bem como a atividade de macrofagócitos e dendrócitos; - lipoxinas (LXA4) inibem a quimiotaxia de leucócitos; - os neutrófilos morrem poucas horas após deixar a circulação (apoptose).

Efeitos sistêmicos da inflamação

Principais fenômenos:

- febre: -- citocinas pirógenas (IL-1 e TNF-α) estimulam a produção de prostaglandinas (PGE2) que reconfiguram o "termostato" hipotalâmico (em até 4oC); -- infecções (em especial bacterianas) são potentes indutores da produção de mediadores pirógenos; -- função biológica não plenamente esclarecida (otimiza o desempenho imunológico contra infecções?).

A febre pode ser precedida por calafrios e sucedida por sudorese e acompanhar-se de hiperalgesia difusa e prostração.

Efeitos sistêmicos da inflamação

Principais fenômenos:

- leucocitose:

-- aumento da contagem de leucócitos no sangue;

-- resulta da liberação acelerada de leucócitos na circulação (mediada pela IL-1 e TNF-α), incluindo formas imaturas ("desvio à esquerda");

-- infecções são potentes indutores (bactérias: neutrofilia; parasitas: eosinofilia; vírus: linfocitose).

-- visa corresponder à demanda por leucócitos no foco da inflamação.

Citologia sanguínea normal e leucocitose (neutrofilia com presença de células imaturas).

Efeitos sistêmicos da inflamação

Principais fenômenos:

- hiperproteinemia:

-- aumento da concentração plasmática de proteínas que tem sua produção estimulada (no fígado) por citocinas pró-inflamatórias (IL-1, IL-6 e TNF-α);

-- proteínas C reativa e sérica amiloide A, fibrinogênio e ferritina são exemplos;

-- funções diversas (opsonização, ativação do complemento, proteção contra radicais livres gerados na resposta inflamatória);

-- utilizam-se como marcadores plasmáticos da inflamação.

O aumento da velocidade de hemossedimentação (VHS) reflete o aumento do fibrinogênio plasmático.

Efeitos sistêmicos da inflamação

Um quadro gripal típico ilustra os efeitos sistêmicos da inflamação.

Efeitos adversos da inflamação

Principais mecanismos:

- a atuação destrutiva das células inflamatórias não é perfeitamente seletiva, estendendo-se, em maior ou menor grau, aos tecidos hígidos adjacentes;

- a liberação de enzimas proteolíticas e radicais livres por leucócitos é a principal causa dos danos colaterais locais;

- a injúria inflamatória, associada a atuação hiperalgésica de prostaglandinas (PGE2), dentre outros, exacerba a dor que tipicamente acompanha a inflamação.

Efeitos adversos da inflamação

Principais mecanismos:

- o edema excessivo pode acentuar a debilidade funcional, além de prejudicar a perfusão do tecido inflamado, favorecendo lesão adicional por hipóxia;

- uma liberação massiva de citocinas pró-inflamatórias (infecções ou traumas graves) associa-se a repercussões sistêmicas complexas e potencialmente letais (choque).

Padrões de exsudação

Características gerais:

- variáveis conforme o tecido comprometido e as causas da resposta inflamatória;

- sua interpretação auxilia no diagnóstico etiopático, orientando a terapêutica.

Padrões de exsudação

Exsudação serosa:

- exibe celularidade e teor de proteico relativamente baixos; - aspecto aquoso, róseo/amarelado claro;

- podem formar-se coleções em espaços gerados pela lesão (vesículas e bolhas) ou cavidades corporais (efusões ou "derrames" serosos).

Aspecto macro e microscópico de uma bolha cutânea (flictena).

Padrões de exsudação

Exsudação serosa

Drenagem de efusão/derrame articular (joelho).

Prof. Fabricio Jacobsen

Padrões de exsudação

Exsudação fibrinosa:

- exibe baixa celularidade e alta concentração de fibrina;

- aspecto grumoso e acinzentado;

- típica na inflamação de revestimentos internos (pericárdio, pleura, peritônio).

Cavidades pericárdica (à esquerda) e pleural exibindo exsudato fibrinoso.

Traves de fibrina

Padrões de exsudação

Exsudação purulenta (supurativa):

- exibe alta celularidade e restos necróticos liquefeitos;

- aspecto leitoso pardo-claro e espesso (pus);

- tipicamente tem causa bacteriana (bactérias piogênicas);

- podem formar-se efusões purulentas (empiemas) ou coleções confinadas de pus em espaços lesionais (pústulas, abscessos).

O pus é um exsudato viscoso que exibe grande acúmulo de leucócitos (principalmente neutrófilos) e debris celulares.

Padrões de exsudação

Exsudação purulenta (supurativa)

Meningite supurativa e volumoso empiema pleural observados à necrópsia.

Prof. Fabricio Jacobsen

Padrões de exsudação

Exsudação purulenta (supurativa)

Comparativo entre o aspecto microscópico de um exsudato purulento (à esquerda) e um fibrinoso.

Cronificação

Características gerais:

- decorre da não resolução da resposta inflamatória aguda, devido à persistência do estímulo nocivo ou falhas na regulação do processo;

- não há alterações vasculares exuberantes como na resposta aguda, mas pode haver sobreposição de eventos típicos da resposta aguda ("reagudizações");

- pode não haver uma fase aguda clinicamente significativa;

- pode perdurar por vários dias ou anos.

Cronificação do processo inflamatório

Características gerais:

- tipicamente há progressiva destruição tecidual (prejuízo funcional);

- acompanha-se de fenômenos reparatórios frustros;

- protagonizada especialmente por macrofagócitos e linfócitos T.

Macrofagócitos (círculo) e linfócitos (seta) protagonizam a inflamação crônica.

Cronificação do processo inflamatório

Características gerais

Tireoidite crônica exibindo denso infiltrado linfocitário; à direita (em maior aumento), ducto mamário cronicamente inflamado, repleto de macrofagócitos "espumosos", com linfócitos na periferia.

Cronificação do processo inflamatório

Principais causas:

- exposição repetitiva a estímulos nocivos;

- infecções por microrganismos resilientes;

- exposição recorrente a alergênios;

- estimulação por antígenos próprios (autoimunidade).

Cronificação do processo inflamatório

Exposição repetitiva a estímulos nocivos

Esforços mecânicos repetitivos podem levar a inflamações músculoarticulares crônicas.

Cronificação do processo inflamatório

Exposição repetitiva a estímulos nocivos

O consumo recorrente de álcool pode levar à hepatite crônica e cirrose hepática.

Cronificação do processo inflamatório

Exposição repetitiva a estímulos nocivos

A exposição recorrente à fumaça de cigarro, nociva às vias aéreas, leva a sua inflamação crônica e à destruição progressiva do parênquima pulmonar.

Cronificação do processo inflamatório

Infecções por microrganismos resilientes

Infecções resistentes à resposta inflamatória aguda, como pelo Mycobacterium tuberculosis (à esquerda) ou pelo Mycobacterium leprae (à direita), são causas de inflamação crônica.

Cronificação do processo inflamatório

Exposição repetitiva a alergênios

A asma e a dermatite atópica são doenças imunoinflamatórias crônicas.

Cronificação do processo inflamatório

Estimulação por antígenos próprios

A artrite reumatoide e o lúpus eritematoso sistêmico são doenças inflamatórias crônicas de natureza autoimune.

Mecanismos da inflamação crônica:

- a persistência de estímulos nocivos sustenta a atividade de macrofagócitos (síntese de mediadores, fagocitose) no sítio inflamatório;

- a produção sustentada de citocinas (IL-1, TNF-α, CXCL8) pelos macrofagócitos assegura o recrutamento de leucócitos (incluindo linfócitos), que migram ao sítio da lesão por quimiotaxia (CXCL8, LTB4, C3a, C5a).

Mecanismos da inflamação crônica:

- macrofagócitos ativam linfócitos T auxiliares por meio de citocinas (IL-12, IL-23) e apresentação de antígenos; - citocinas produzidas pelos linfócitos T (como IFN-γ e IL-17) intensificam e sustentam a atividade dos macrofagócitos, além de recrutar novos leucócitos (incluindo monócitos);

- a atuação dos linfócitos T realimenta a resposta inflamatória e tende a perpetuá-la.

Cronificação do processo inflamatório

Mecanismos da inflamação crônica

Recrutamento de leucócitos (incluindo monócitos)

Linfócito T ativado

IL-17

Linfócito T

Apresentação de antígenos

Macrofagócito estimulado

IL-12, IL-23

Recrutamento de leucócitos (incluindo linfócitos)

IL-1, TNF-α, CXCL8

Estímulos nocivos, citocinas

Macrofagócito

Macrofagócitos e linfócitos protagonizam um círculo vicioso que pode sustentar a inflamação crônica por longos períodos.

Cronificação do processo inflamatório

Inflamação granulomatosa:

- padrão morfológico que cursa com a formação de granulomas, agregados concêntricos de macrofagócitos, tipicamente circundados por um halo linfocitário, exibindo um centro por vezes necrótico, motivados por um estímulo persistente (nem sempre identificável);

- macrofagócitos fusionados formando "células gigantes multinucleadas" (células de Langhans) são comuns;

- a identificação de granulomas favorece o norteamento diagnóstico.

Halo linfocitário Centro necrótico

Célula gigante multinucleada

Um granuloma à microscopia óptica; em maior aumento (à direita), uma célula gigante multinucleada.

Cronificação do processo inflamatório

Inflamação granulomatosa

Agente infeccioso

Célula necrótica

Dendrócito

Macrofagócitos apoptóticos

Linfócito T

Linfócito B

Macrofagócitos

Célula gigante multinucleada

Macrofagócito "espumoso"

Concepção esquemática de um granuloma clássico, exibindo macrofagócitos em diferentes estados funcionais, guarnecidos por linfócitos, em torno de um centro necrótico infectado.

Cronificação do processo inflamatório

Inflamação granulomatosa

Clássico granuloma tuberculoso pulmonar; à direita, em grande aumento (1000x), micobactérias (M. tuberculosis) observadas à coloração de Ziehl-Neelsen, no interior do granuloma.

Cronificação do processo inflamatório

Inflamação granulomatosa

Granuloma dérmico hansênico; à direita, bacilos (M. leprae) observados à coloração de Ziehl-Neelsen.

Cronificação do processo inflamatório

Inflamação granulomatosa

Infecções pelo Treponema pallidum podem cursar com a formação de granulomas (neurossífilis da dura-máter espinal).

Cronificação do processo inflamatório

Inflamação granulomatosa

Granulomas podem eventualmente ser observados junto à mucosa intestinal na doença de Crohn, de natureza autoimune.

Cronificação do processo inflamatório

Inflamação granulomatosa

A sarcoidose é uma doença idiopática caracterizada pela formação de granulomas em múltiplos órgãos, como linfonodos.

Sinopse

Fenômeno

Identificação do estímulo nocivo

Principais células envolvidas

Principais classes de mediadores envolvidas

Principais mediadores envolvidos

Mastócitos, macrofagócitos, dendrócitos↓[K+], ↑[Ca+], conteúdos celulares, toxinas, microrganismos

Aumento do fluxo arteriolar Mastócitos, leucócitos

Aumento da permeabilidade venular Mastócitos, leucócitos

Recrutamento de leucócitos: adesão ao endotélio

Recrutamento de leucócitos: diapedese

Recrutamento de leucócitos: quimiotaxia

Fagocitose

Inibição da resposta inflamatória

Dor

Febre

Leucocitose

Hiperproteinemia

Inflamação crônica

Macrofagócitos, mastócitos, leucócitos, endoteliócitos

Macrofagócitos, mastócitos, leucócitos, endoteliócitos

Macrofagócitos, mastócitos, leucócitos, endoteliócitos

Macrofagócitos, neutrófilos, eosinófilos

Macrofagócitos, leucócitos

Mastócitos, leucócitos

Mastócitos, leucócitos

Macrofagócitos, mastócitos, leucócitos, endoteliócitos

Macrofagócitos, mastócitos, leucócitos, endoteliócitos

Aminas vasoativas e prostaglandinas Histamina (principal), PGD2, PGE2, PGI2

Aminas vasoativas, prostaglandinas e leucotrienos

Histamina (principal), PGD2,

Citocinas e leucotrienos IL-1, TNF-α, CXCL8 e LTB4

Citocinas, moléculas de adesão endotelial CXCL8, PECAM-1

Citocinas, leucotrienos e complemento CXCL8, LTB4, C3a, C5a

Complemento e outras opsoninas; moléculas da parede bacteriana C3b

Citocinas e lipoxinas IL-10, TGF-β, LXA4

Prostaglandinas

Prostaglandinas

Citocinas IL-1, TNF-α

Citocinas

Macrofagócitos, linfócitos T Citocinas

Quadro resumo dos principais fenômenos da inflamação aguda e crônica, seus mediadores e células relacionadas.

-α)

Exercícios

Considere as proposições listadas abaixo e assinale a INCORRETA:

a) A IL-10 e o TGF-β são as principais citocinas pró-inflamatórias.

b) Em geral, os primeiros leucócitos a imigrar para o sítio da lesão são os neutrófilos, os quais desempenham, dentre outras, a função de fagocitar agentes nocivos.

c) Neutrófilos são dotados da habilidade de compor “armadilhas extracelulares” formadas por redes de cromatina que “capturam” microrganismos, favorecendo sua destruição e limitando sua disseminação.

d) Uma abundante presença de eosinófilos no sítio inflamatório é tipicamente sugestiva de causa parasitária ou alérgica.

e) Opsoninas são moléculas que atuam ligando-se a um determinado substrato tornando-o, então, reconhecível por fagócitos, como os neutrófilos e os eosinófilos.

f) Dendrócitos e mastócitos são exemplos de células sentinela, importantes no reconhecimento de estímulos à inflamação.

Exercícios

Considere as proposições de I a V listadas imediatamente abaixo e a seguir assinale, dentre as alternativas de resposta apresentadas, a CORRETA:

I. As citocinas são mediadores capazes de atuar autócrina, parácrina e endocrinamente.

II. Os eicosanoides são mediadores derivados do ácido araquidônico, um ácido graxo extraído de fosfolipídios da membrana celular pela ação de uma fosfolipase.

III. As cicloxigenases são enzimas implicadas na síntese das prostaglandinas, enquanto as lipoxigenases estão implicadas na síntese de leucotrienos.

IV. A LXA4 é exemplo de um eicosanoide com ação anti-inflamatória.

V. Proteínas do sistema complemento, sintetizadas no fígado, podem desempenhar, dentre outras, a função de opsonização na resposta inflamatória.

a) Todas as proposições são verdadeiras.

b) Todas as proposições são falsas.

c) Somente II é falsa.

d) Somente III é falsa.

e) Somente III e IV são falsas.

f) Somente II e V são falsas.

Exercícios

Considere as proposições listadas abaixo e assinale a INCORRETA:

a) A histamina é uma molécula vasoativa cuja atuação resulta no aumento do fluxo sanguíneo e permeabilidade vascular na inflamação aguda.

b) A histamina é um mediador pró-inflamatório pré-formado, armazenada em grânulos no interior de mastócitos.

c) O aumento da permeabilidade vascular promovido pela histamina é corroborado pela atuação de prostaglandinas e leucotrienos.

d) O aumento local do fluxo arteriolar e da permeabilidade venocapilar explica o calor, rubor e edema típicos da resposta inflamatória aguda.

e) Um exsudato exibe teor proteico comparativamente menor que um transudato.

f) Um exsudato seroso tem aspecto aquoso e exibe celularidade comparativamente menor que um exsudato purulento.

Exercícios

Considere as proposições listadas abaixo e assinale a INCORRETA:

a) A degradação dos substratos englobados pelos fagócitos é realizada pela ação de enzimas lisossomais e radicais livres no interior dos fagolisossomas.

b) A febre que pode acompanhar a resposta inflamatória é produto da ação de prostaglandinas no hipotálamo, cuja síntese é induzida por citocinas ditas pirógenas, como a IL-1.

c) A febre é um sinal sugestivo, embora não exclusivo, de infecção como causa da inflamação.

d) A presença de exsudato seroso num sítio inflamado é sugestiva de infecção bacteriana.

e) A leucocitose que pode acompanhar a resposta inflamatória visa atender à demanda aumentada por leucócitos no sítio inflamatório e tem o TNF(-α) como um dos seus indutores.

f) A inflamação não é uma resposta perfeitamente seletiva, de modo que tecidos hígidos adjacentes podem sofrer danos decorrentes da atuação destrutiva das células inflamatórias.

Exercícios

Considere as proposições listadas abaixo e assinale a INCORRETA:

a) Abscessos, pústulas e empiemas são indicativos de um processo inflamatório dito supurativo.

b) Macrofagócitos e linfócitos podem protagonizar um círculo vicioso capaz de sustentar a inflamação crônica por longos períodos.

c) A inflamação crônica pode exibir períodos de sobreposição com eventos típicos da inflamação aguda (“reagudizações”).

d) O IFN-γ é um mediador sintetizado por macrofagócitos que desempenha importante papel na inflamação crônica.

e) Granulomas são agregados concêntricos de macrofagócitos, tipicamente circundados por um halo composto por linfócitos, que podem ou não ser motivados por um agente infeccioso.

f) Células gigantes multinucleadas são formadas por macrofagócitos fusionados e seu achado é comum nos granulomas.

Referências bibliográficas

Gerais:

1. Kumar V, Abbas A, Aster J. Robbins & Cotran: Pathologic basis of disease. 9th ed. Elsevier; 2016.

2. O'Dowd G, Bell S, Wright S. Wheather's Pathology: A text, atlas and review of histopathology. 9th ed. Elsevier; 2020.

3. Klatt E. Robbins & Cotran: Atlas of pathology. 3rd ed. Elsevier; 2015.

4. Buja L, Krueger G. Netter's Illustrated human pathology. 2nd ed. Elsevier; 2011.

5. Goldblum J, et al. Rosai & Ackerman's Surgical pathology. 11th ed. Elsevier; 2017.

Específicas:

1. Serhan CN, Ward PA, Gilroy, DW. Fundamentals of inflammation. Cambridge University Press; 2010.

Referências bibliográficas

Complementares:

1. Sociedade Brasileira de Anatomia. Terminologia Anatômica. Manole; 2001.

2. Federative International Committee on Anatomical Terminology. Terminologia Histologica. LWW; 2008.

3. Ovalle WK, Nahirney PC. Netter: Bases da histologia. Elsevier; 2008.

4. Ross MH, Pawlina W. Histologia texto e atlas. 6ª ed. Guanabara Koogan; 2012.

5. Mills S. Histology for pathologists. 4th ed. LWW; 2012.

6. Alberts B, et al. Biologia molecular da célula. 6ª ed. Artmed; 2017.

7. Standring S. Gray's Anatomia: a base anatômica da prática clínica. 40ª ed. Elsevier; 2011.

8. Schunke M, Schulte E, Schumacher U. Prometheus: Atlas de anatomia. Guanabara Koogan; 2007.

9. Netter FH. Atlas de anatomia humana. 7ª ed. Elsevier; 2018.

10.Jansen JT, Netter FH. Netter's Clinical anatomy. 4nd ed. Elsevier; 2019.

11.Moore KL, Persaud PVN. Embriologia clínica. 10ª ed. Elsevier; 2016.

12.Boron W, Boulpaep E. Medical Physiology. 3rd ed. Elsevier; 2017.

13.Coico R, Sunshine G. Immunology. 7th ed. Wiley Blackwell; 2015.

14.Porto C, Porto A. Semiologia médica. 8ª ed. Guanabara Koogan; 2019.

15.Longo DL, Fauci AS, Kasper DL, et al. Medicina interna de Harrison. 18ª ed. Artmed; 2013.

Leitura suplementar

Microbiology and Molecular Biology Reviews:

Cell Discovery (Nature):

Prof. Fabricio Jacobsen

Sugestão de leitura extracurricular

O Mundo Assombrado pelos Demônios (Carl Sagan)

"A ciência é mais do que um corpo de conhecimento –é um modo de pensar".

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