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PONTIFÍCIA
UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO SUL FACULDADE DE COMUNICAÇÃO SOCIAL
DIMITRIA PROCHNOW, FLÁVIA CARBONI, GABRIEL AMARAL E MARTHA PORTO
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ANÁLISE DA COBERTURA JORNALÍSTICA DA TRAGÉDIA DE SANTA MARIA POR THE NEW YORK TIMES E THE GUARDIAN
PORTO ALEGRE 2013 SUMÁRIO
Introdução .......................................................................................................... 3 The New York Times ......................................................................................... 5 The Guardian ..................................................................................................... 8 Fundamentação Teórica ...................................................................................11 Análise Jornalística The New York Times ........................................................14 Análise Jornalística The Guardian ................................................................... 19 Conclusão ........................................................................................................ 24 4
Anexos ............................................................................................................. 27
5
1.
INTRODUÇÃO Duzentos e quarenta e dois jovens, a maioria universitários, morreram
tragicamente num incêndio na danceteria Kiss, na madrugada do dia 27 de janeiro na cidade de Santa Maria, interior do Rio Grande do Sul. Na manhã seguinte ao ocorrido, formava-se uma estrutura improvisada de atendimento médico e de busca de sobreviventes. Na ausência de leitos e médicos suficientes na cidade universitária, inúmeros feridos foram transferidos para a capital do estado, Porto Alegre, e centenas de médicos, enfermeiros e psicólogos de outras cidades voluntariaram-se a socorrer as vítimas. Tragédias como essa sempre motivam a comoção popular, dada sua capacidade de promover empatia na sociedade. O fato em si, morte trágica de centenas de jovens em uma festa, outras centenas de feridos, proporciona inúmeras reflexões, diante da fragilidade da vida humana, expondo a precariedade das casas noturnas e o relapso das autoridades brasileiras. Desconsiderado o valor humano do acidente, o caso da boate Kiss ganhou as manchetes dos principais jornais do mundo diante da evidência do Brasil, que sediará a Copa de 2014 e as Olímpiadas de 2016. Dada a proximidade desses eventos, a comunidade internacional volta-se para o Brasil a fim de avaliar sua capacidade em lidar com graves incidentes, como o incêndio da boate Kiss, e em conduzi-los da forma mais adequada e esperada – com agilidade, competência e respeito à sociedade, características presentes nos serviços públicos nos países desenvolvidos. A ineficiência da administração do sistema público de segurança e de vistoria preventiva a acidentes como o ocorrido também chamam atenção das autoridades internacionais em face da proximidade desses eventos esportivos. A forma como os jornais internacionais retratam, compreendem e “traduzem” para suas culturas o Brasil, às vésperas de sediar dois dos maiores eventos esportivos internacionais, proporciona um estudo jornalístico de interesse e relevância acadêmica. O caso do incêndio da boate Kiss, é o objeto de estudo do presente artigo. Para tanto, foram analisadas as matérias publicadas nos sites de dois 6
importantes jornais de língua inglesa: o americano The New York Times e o britânico The Guardian. Considerados influentes meios de informação e opinião mundiais, esses jornais reportaram para o mundo a tragédia brasileira, traduzindo esse acontecimento para a realidade de seus leitores e, consequentemente, expondo essa compreensão para pessoas dos mais diferentes países que tiveram acesso às páginas analisadas. Para fins de comparação, foram aferidas as matérias informativas entre os dias 27 e 30 de janeiro, postadas nos sites desses jornais. A escolha da plataforma digital dos jornais justifica-se em razão da dificuldade em se obter seus exemplares impressos. Em decorrência dessa escolha, verificam-se os caráteres de multimidalidade e hipertextualidade próprios desse tipo de mídia, em que o conteúdo é distribuído em diversas formas mídiáticas (texto, vídeo, foto) a fim de melhor apresentá-lo. A fim de melhor compreender a cobertura jornalística internacional, suas prerrogativas, características e finalidades, também foram consultados quatro autores especialistas reconhecidos no assunto – João Batista Natali, Alan Knight, Fhoutine Marie, Margareth Steinberger e Guillermo de Los Monteros. Anexas ao trabalho encontram-se algumas imagens que ilustram os materiais e divulgações dos sites comentados neste artigo.
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2.
THE NEW YORK TIMES The New York Times lançou às ruas de Nova York sua primeira edição em
18 de abril de 1851 ainda com o nome de New-York Daily Times. Após seis anos mudou seu nome para The New-York Times e no final do século XIX retirou o hífen e passou a ser conhecido como é atualmente: The New York Times. O título foi lançado por Henry J. Raymond e por George Jones. Nos primeiros dez anos já vendia mais de 40 mil exemplares. A Guerra de Secessão (1861) fez com que o jornal ganhasse mais prestígio e dinheiro, sua venda subiu para mais de 70 mil exemplares. Seu diferencial era a característica
de
suas
publicações
moderadas
e
conservadoras
que
contrastavam com o tom agressivo e sensacionalista dos outros jornais da época. O jornal faz parte da companhia The New York Times Company que pertence há mais de um século à família Ochs/Sulzberger, hoje presidida por Arthur Jr. A gestão da empresa sempre esteve mais preocupada com a qualidade do jornalismo exercido em seus jornais e com a independência para produzir os conteúdos do que com as margens de lucros que seu grande potencial pode gerar. Isso faz com que lide com uma forte pressão de grupos de acionistas que preferem um investimento que proporcione um maior retorno financeiro à manutenção da reputação adquirida com anos de um jornalismo sério que superou crises buscando sempre a essência de informar com precisão. The New York Times é conhecido pela sua capacidade de formar opinião em importantes centros da sociedade americana. Não é o jornal de maior circulação no mundo e também não é o mais rentável, mas Matías M. Molina em sua obra Os Melhores Jornais do Mundo destaca a importância do seu trabalho: “Suas informações e opiniões têm um peso extraordinário na Casa Branca, no Congresso, em Wall Street, nas chancelarias, nas universidades, nos organismos internacionais e no resto da mídia. Seria uma questão acadêmica avaliar se é ou não “o melhor jornal do mundo””(2007;p.112).
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O jornal é considerado de tendência liberal. Apoiou diversas vezes candidatos do Partido Republicano. Consciente da sua importância perante a sociedade americana e internacional preocupa-se em manter uma linha de equilíbrio tendo em sua equipe colunistas de diferentes frentes ideológicas. “All the news that’s fit to print” ou, em português, “Todas as notícias que merecem ser impressas”. Esse é o lema do NY Times. A empresa possui mais de 1.300 funcionários. São dezesseis escritórios na região de Nova York, onze nos Estados Unidos e vinte e seis no exterior. É a cobertura internacional de maior abrangência da imprensa internacional. No começo do século XXI o Times já demonstrava a ambição de se tornar um jornal internacional. A intenção era competir com o The New York Herald Tribune, que desde o século anterior já era editado em Londres e circulava com relevância na Europa. Em 1949 foi lançada e edição internacional do Times impressa primeiramente em Amsterdã e depois em Paris, mas o projeto não vingou e apesar de chegar a uma circulação de 47 mil exemplares, não suportou a concorrência dos 60 mil que o Herald Tribune possuía. Ao invés de cancelar a publicação internacional o Times se uniu ao Herald e passou a ter um terço das ações. Em 2002 o grupo forçou a venda por parte dos outros acionistas e assumiu o controle do International Herald Tribune. Hoje o IHT é um jornal editado em Paris e impresso em 31 países diferentes, inclusive no Brasil, e a maior parte de seu conteúdo é produzido pelo NY Times. O número de exemplares é de 242 mil. O plano de Sulzberger Jr. depois de consolidar o NY Times nacionalmente e já ter implantado a forma que poderá levar o jornal a um patamar internacional é entrar forte no mercado online. O www.nytimes.com é o site de notícias mais consultado do mundo e é um dos poucos jornais com publicação rentável na internet. Em 2007, só nos Estados Unidos teve mais de 14 milhões de visitas em um mês. Um dos diferenciais do site é que ele não reproduz as matérias publicadas na edição impressa do NY Times. Diversos recursos multimídia são utilizados como complemento das notícias publicadas no jornal físico e na produção de 9
conteúdos específicos para o site. O sítio oferece colunas exclusivas e um amplo conteúdo em vídeo para satisfazer o público. O Times aposta no conteúdo internacional pois entende que a internet é um grande facilitador para atingir uma reputação internacional. Uma seção World (Mundo) é disponibilizada no site e nela o leitor pode consumir notícias do mundo inteiro ou específicas de continentes. O público do website tem disponível acesso a mais de cem blogs que são específicos a outros países que não os Estados Unidos. E o conteúdo dessas publicações não se restringe a aparecer somente nesses canais que são designados a notícias internacionais. O site dá a importância que a notícia merece e, se tiver relevância para o mundo, ela aparecerá em sua capa, o que torna o site realmente um veículo internacional. Junto com o International Herald Tribune o www.nytimes.com é o meio pelo qual o grupo The New York Company entende que conseguirá atingir a marca de fazer o seu NY Times um jornal internacional. O New York Times é um dos principais senão o principal jornal do mundo, pela sua abrangência de conteúdo e reputação, adquiridas em mais de 150 anos de jornalismo. O grupo enfrentou grandes crises internas, mas superou-as e continua sendo um jornal conhecido no mundo todo e principalmente respeitado por diversas classes na sociedade. Hoje, com a internet em alta, sua história e conteúdo chegam a cada vez mais pessoas e aumentam seu grau de atuação assim como sua responsabilidade em seu trabalho.
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3.
THE GUARDIAN O The Guardian foi fundado no ano de 1821 por John Edward Taylor e
desde seu princípio se diferencia de outros grandes jornais do mundo. O motivo de sua criação não foi financeiro e sim ideológico. O The Manchester Guardian, nome de origem que foi utilizado por mais de cem anos antes de ser trocado, foi fundado no norte da Inglaterra, na cidade de Manchester, para defender os valores liberais. O jornal é atualmente editado pelo Guardian Media Group, que possui outros
jornais
locais,
revistas
e
emissoras
de
rádio
que
suportam
financeiramente a Scott Trust. A fundação Trust foi formada em 1936 com a finalidade de garantir ao The Guardian a continuidade da independência financeira e editorial que são históricas para o título. Apesar da forte defesa dos valores liberais o Guardian não tem vínculos com o Partido Liberal. No dia 5 de maio de 1821, quando sua primeira edição foi lançada em Manchester, o jornal era ainda semanal, de circulação aos sábados. De origem provinciana do norte da Inglaterra, o The Guardian curiosamente adquiriu um maior reconhecimento internacional antes de se consolidar nacionalmente. Deixou de ser editado em Manchester apenas em 1964, quando passou a ser um jornal da capital, Londres. Sua cobertura internacional se destaca há muito tempo. A luta dos países da América Latina pela sua independência, por exemplo, teve uma boa cobertura por parte do na época The Manchester Guardian. Inclusive edições de setembro de 1822 apresentaram uma longa carta do Brasil datada de 14 de julho. Charles Prestwich Scott assumiu em 1872, com 26 anos, a direção editorial do Manchester Guardian (já havia retirado o The do nome). Scott revolucionou o jornal ao tentar fazer do título um grande periódico nacional e internacional. Passou, porém, por muitas crises causadas por seu pensamento de liberdade. Em 1921 na edição que comemorava o centenário do diário expôs sua posição: “Um jornal tem dois lados. É um negócio, como outro qualquer, e tem que pagar suas despesas para sobreviver. Mas é muito mais do que um
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negócio; é uma instituição.(...) Tem, portanto uma existência moral e material; e seu caráter e influência são no fim determinados pelo equilíbrio dessas duas forças. (...) uma das virtudes, talvez a virtude mais importante de um jornal é sua independência. Seja qual for sua posição ou seu caráter, pelo menos deve ter alma própria.” (Trecho retirado do livro Os Melhores Jornais do Mundo. Matías M. Molina - 2007 p.358)
Scott estava disposto a colocar em risco a existência do Jornal se isso fosse necessário para manter seus princípios morais. Seu objetivo era dar a notícia sempre com algo mais, uma análise e interpretação que pudessem dar ao leitor uma informação mais completa. Após a Segunda Guerra Mundial, o Manchester Guardian, já com significativa reputação internacional com mais de vinte correspondentes, decidiu se mudar para a capital e se tornar um jornal nacional, não mais provinciano. Foi somente em 1966, entretanto, que se consolidou em Londres e passou a editar e imprimir seu conteúdo na cidade de grandes concorrentes. Hoje o The Guardian conta com 500 jornalistas que fazem o jornal circular seis dias por semana, de segunda a sábado. As edições dominicais são publicadas pelo The Observer, outro título da fundação Trust. Os presidentes do Guardian Media Group são Paul Myners e Carolyn McCall. O editor do jornal é Alan Rusbridger, que integra em sua equipe 30 correspondentes internacionais. Para manter sua reputação fora do Reino Unido e principalmente do continente europeu, o The Guardian apostou forte na internet e se adaptou com facilidade à rede. Seu objetivo agora é se tornar o principal jornal liberal do mundo. A versão impressa perde cada vez mais circulação, mas o que pretende o The Guardian é expandir sua ideia de jornalismo e suas marcas morais que são trabalhadas há mais de 150 anos. O grupo enxerga como principais concorrentes nesse novo mercado não jornais compatriotas, mas o The New York Times e a BBC. O www.guardian.co.uk é rentável e considerado o melhor jornal eletrônico do mundo, apesar de ainda perder em acessos para o www.nytimes.com. Sua maior penetração é nos Estados Unidos, onde se localizam um terço de seus 12
leitores. Por esse motivo, foi lançado o Guardian America, um site com conteúdo exclusivo para esse mercado. É o site de maior visitas dentre os jornais britânicos e representa 10% do mercado online dos jornais do Reino Unido. O The Guardian é historicamente um jornal com uma ideologia liberal que começou no norte da Inglaterra e que hoje tenta expandir seu pensamento para o mundo. Com quase duzentos anos de atuação é difícil manter uma linha durante todo o período de publicações, mas o The Guardian consegue e enfrenta crises principalmente financeiras por conta disso. A internet, porém, é a aposta do grupo em conseguir espalhar seu conteúdo e continuar produzindo o jornalismo que julga ser mais correto.
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4. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 4.1. Origem da cobertura jornalística internacional A produção jornalística internacional sempre esteve relacionada com a compreensão de realidades externas ao país de suas publicações. Embora seu desenvolvimento insira-se na II Revolução Industrial, para Guillermo de Los Monteros, autor latino-americano de jornalismo, sua origem histórica remonta aos relatos de viajantes da antiguidade, dos quais se destacam as cartas aos povos gentios do Apóstolo Paulo. No entanto, o formato característico da cobertura internacional, com intenções políticas e econômicas, surge na segunda metade do século XIX a partir do desenvolvimento tecnológico e da ascensão da economia de mercado. A melhoria dos meios de transporte e de comunicação, principalmente com a invenção do telégrafo, permitiu que se tivesse acesso às informações políticoeconômicas e militares dos outros países. Os conflitos nos estados coloniais europeus e as guerras mundiais foram os primeiros fatos de interesse internacional. A Inglaterra e os Estados Unidos, nações irmãs, numa relação herdada pelo colonialismo, desenvolveram o jornalismo internacional simultaneamente, a fim de trocarem informações econômicas sobre a compra de grãos, máquinas e tecidos. Esse pioneirismo, aliado ao poderio econômico desses países, permitiu aos jornais de língua inglesa tornarem-se referência em coberturas internacionais. Esse dado justifica a escolha da cobertura do The Guardian e do The New York Times, jornais centenários e influentes na opinião pública mundial. 4.2. Fatos de interesse internacional Os objetos de interesse das matérias de jornalismo internacional costumam ser bastante previsíveis, conforme afirma João Batista Natali, autor brasileiro de jornalismo. Critérios de internacionalidade e de universalidade orientam a maior parte das pautas internacionais. Esses critérios, expressos em matérias e sobre guerras, conflitos, conferências anuais, jogos e integrações mundiais, justificam-se pela influência político-econômica ou bélica 14
desses acontecimentos no âmbito internacional. No entanto, conforme assinala João Batista Natali, alguns eventos imprevistos também compõem a agenda de notícias internacionais. A atemporalidade de catástrofes naturais e de tragédias envolvendo um grande número de pessoas causa comoção social, dadas seus caráteres empático e extraordinário. A imprevisibilidade, entre esses critérios, possibilitou a ocorrência de matérias no noticiário internacional sobre a tragédia da boate Kiss. Um incêndio acidental em uma boate de uma cidade universitária e pouco conhecida mundialmente, no sul do Brasil, torna-se assunto no mundo inteiro. 4.3. Contextualização do fato analisado A
análise
de
coberturas
internacionais
sempre
pressupõe
a
compreensão de interesses paralelos envolvidos nas decisões em se reportar a realidade de determinado local (apud Natali). Especificamente, o caso do incêndio da boate brasileira adquire interesse internacional em razão da proximidade
de
eventos
esportivos
mundiais
no
país:
Copa
das
Confederações, Copa do Mundo de 2014 e Olímpiadas de 2016. A comunidade internacional volta-se ao Brasil diante de uma tragédia de caráter universal, um incêndio em uma casa noturna superlotada, com a intenção de avaliar as condições de seus serviços emergenciais (resgates, atendimentos, etc.) e a sua capacidade de resolver incidentes de grandes proporções. Os países desenvolvidos, que terão representação nesses eventos esportivos, esperam encontrar uma estrutura pública de qualidade, com uma administração capaz de controlar e solucionar emergências como a da tragédia de Santa Maria. 4.4. Características do jornalismo internacional Por tratar da realidade de diferentes povos e culturas e ter o desafio de explicá-los localmente, o jornalismo internacional é historicamente tido como “elite” profissional, conforme afirma o autor australiano Alan Knight. Para ele, apesar
do
desenvolvimento
tecnológico,
“o
trabalho
elementar
dos
correspondentes estrangeiros continua sendo a capacidade de relatar e interpretar notícias do exterior de forma relevante para o público doméstico”. 15
Essa definição é recorrente entre os autores de jornalismo internacional. Há um consenso, entre eles, sobre sua função nos noticiários locais: relatar os acontecimentos estrangeiros, contextualizá-los e explicá-los para seus leitores. Essa contextualização, ainda que leve em conta os costumes do país retratado, também considera os valores locais e as características editoriais do jornal, conforme assinala Natali. Para o teórico latino-americano Guillermo de Los Monteros, os correspondentes internacionais apoiam-se nos meios de comunicação locais para transcrevê-los. Esse recurso é bastante frequente, em razão das dificuldades em obterem-se fontes primárias e dos elevados custos com a produção de notícias. Margareth Steinberger, autora brasileira, considera esse procedimento uma “reciclagem dos fatos”, na qual trechos e vídeos de matérias dos principais veículos dos países originários dos fatos são mesclados a fotos de agências internacionais. 4.5. Jornalismo internacional hoje: desafios Os elevados custos com a produção internacional jornalística, dos quais se depreendem passagens e hospedagem de repórteres para outros países, aliados à dificuldade de ingresso em alguns regimes mais fechados, têm configurado um novo modelo de realização do jornalismo internacional (KNIGHT, A.). Com o avanço tecnológico, a internet possibilitou que jornalistas do mundo inteiro passassem a trocar informações e conteúdos entre si, sem precisar sair de suas redações. Para Natali, essa nova plataforma passou a exigir mais dos jornalistas, uma vez que aumentou a demanda de notícias. Na visão do cientista político norte-americano Joseph Nye, no entanto, essa abundância de notícias gera um paradoxo: o excesso de informação leva à escassez de atenção. Para ele, o poder midiático converge de edição e hierarquização de informações, discernindo tanto o que é correto quanto o que é importante (FHOUTINE, S.).
16
5.
ANÁLISE DA COBERTURA JORNALÍSTICA DO NEW YORK TIMES A partir da coleta de informações e materiais que falassem sobre a
tragédia de Santa Maria no site do jornal americano The New York Times (http://nytimes.com), chegou-se a um total de doze matérias encontradas, publicadas no decorrer dos quatro dias analisados. Todas as matérias eram distintas, assim como possuíam formatos e mídias diferentes: algumas tinham o predomínio de imagens, outras textos, vídeos, e algumas eram inclusive posts de blogs e artigos. 5.1. Ritmo de publicações e conteúdo Sabendo-se que o incêndio da boate Kiss ocorreu na madrugada do dia 27 de janeiro de 2013, a redação do jornal logo tratou de manifestar-se com duas matérias bem compostas algumas horas após o acontecimento. A primeira, intitulada “Fire Sweeps Through Brazil Nightclub - Hundreds Dead” (tradução adaptada: “Fogo se espalha por boate no Brasil – Centenas de mortos”), continha uma galeria de fotos com 10 imagens, um mapa multimídia que especificava a localização da cidade de Santa Maria, diversos depoimentos relevantes - como do Comandante dos Bombeiros de Santa Maria, sobreviventes, familiares das vítimas, etc -, além de uma grande quantidade de informações relevantes e, o mais importante, corretas sobre os fatos: O NYT já sabia, por exemplo, que os seguranças da boate haviam obstruído a saída no início da confusão e que a maior pilha de corpos foi encontrada dentro dos banheiros cujas entradas os jovens teriam confundido com a saída da casa noturna. O segundo material publicado no dia 27 foi uma postagem no blog jornalístico The Lede, hospedado pelo site do jornal, denominado “Fire at a Nightclub in Southern Brazil” (“Fogo em uma boate do sul do Brasil”) e com horário de última atualização marcado às 15h36. Embora seja um post de blog, o material era repleto de informações importantes - aos moldes da primeira publicação do dia - além de vídeos amadores do salvamento das vítimas, prints de redes sociais dos presentes na tragédia - que publicavam fotos e informações a todo instante - e comparações com outros acontecimentos semelhantes em outros países. 17
Em 28 de janeiro, segunda-feira, citações sobre o incêndio apareceram em seis publicações do site, o que manteve a notícia sempre no topo da plataforma. Das seis, três eram imagens chocantes da tragédia, publicadas individualmente com uma pequena legenda. Em outras duas publicações mais genéricas, Santa Maria apareceu como o assunto mais importante da semana em uma seleção semanal do jornal chamada “Quick Read: Jan. 28”, e fez parte de um “quadro especial” onde são feitas e respondidas seis questões referentes a algum fato importante do momento, o “6 Q's About the News”. A última matéria do dia 28 que continha informações sobre Santa Maria foi intitulada “In Brazil Nightclub Fire, a Frantic Struggle to Survive” (tradução adaptada: “No incêndio da boate brasileira, uma luta frenética para sobreviver”) e faz uma reconstrução dos fatos através de depoimentos dos sobreviventes, além de destacar o velório de uma das vítimas que estava sendo enterrada naquele dia. Essa última com um forte apelo emocional percebido tanto por declarações, como por fotos e pelo próprio texto. O NYTimes.com voltou a publicar fotos individuais no dia 29 de janeiro. Foram duas fotos – dessa vez intituladas mais genericamente, como “World – Image” – e uma matéria, “After Fire, Some Brazilians Fault a Nation’s Sense of Fatalism” (tradução adaptada: “Após incêndio, alguns brasileiros culpam o senso nacional de fatalismo”). Assim como no dia anterior, o jornal retratou mais uma história de sobrevivente, além de acrescentar inúmeros depoimentos de especialistas, outros sobreviventes e familiares, e as providencias que começaram a ser tomadas para punir os culpados e prevenir outra tragédia no país. Em 30 de janeiro, quarta-feira - último dia analisado -, o site divulgou apenas um artigo exclusivo escrito por Antônio Xerxenesky, jornalista gaúcho. Embora o objetivo deste trabalho não esteja relacionado às publicações opinativas, é válido citar a repercussão em âmbito internacional do artigo em questão. Com ideias fortes e incisivas, como a crítica a uma suposta cobertura sensacionalista da imprensa brasileira sobre os fatos e à cultura “festeira” dos brasileiros, “When the music stopped” (“Quando a música parou”) ganhou proporções imensas através de likes e compartilhamentos em redes sociais. 18
5.2. Versão impressa Embora não tenhamos acesso, como já esclarecemos anteriormente, às versões impressas das edições das datas analisadas, sabe-se que algumas das matérias do site – as mais completas - chegaram a ser publicadas na íntegra na edição impressa do dia seguinte ao seu lançamento na plataforma. Esse foi o caso de “Fire Sweeps Through Brazil Nightclub - Hundreds Dead” e “In Brazil Nightclub Fire, a Frantic Struggle to Survive”. Essa informação é fornecida pelo próprio site, que avisa os leitores no fim de suas matérias que os materiais em questão também estarão nas bancas. 5.3. Colaboradores e fontes Absolutamente todas as matérias publicadas pelo site contaram com a contribuição de jornalistas brasileiros e correspondentes do Brasil. Entre eles, apareceram com frequência Lis Horta Moriconi, do Rio de Janeiro, e Jil Langlois, de São Paulo, respectivamente. Em alguns casos esses jornalistas trabalhavam em conjunto com algum repórter americano da própria sede do The New York Times - como Michael Schiwirtz. A localização desses repórteres, no entanto, não é conhecida, por isso não sabemos se algum deles esteve presente na cidade gaúcha ou se as informações foram apuradas de outra capital brasileira. Outros conteúdos, como as fotos e vídeos, foram adquiridos através de inúmeras fontes, como Agência RBS, Getty Images, Europian Pressphoto Agency, Reuters, entre outras. A divulgação das agências e sites utilizados foi uma preocupação incessante do NYTimes.com, afinal todos os créditos foram dados separadamente – mesmo em fotos de galerias de imagem criadas pelo site - para não ocorrer confusões.
5.4. Referências históricas e internacionais
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Em diversas publicações, o jornal citou acontecimentos antigos que apresentavam alguma semelhança com o ocorrido em Santa Maria, fazendo comparações e mostrando ao leitor a dimensão do fato. Foi o caso da China, em 2000, de Rhode Island, em 2003, e Rússia, em 2009. O parágrafo que registrava essa comparação mostrou-se o mesmo em todas as matérias. No dia do incêndio, 27 de janeiro, estava agendada uma comemoração da FIFA pela proximidade da Copa do Mundo no Brasil. No entanto, o evento, que aconteceria no Rio de Janeiro, foi cancelado devido à tragédia. Essa informação, que pode ser considerada de interesse internacional e aumentaria o âmbito da notícia, foi citada apenas uma vez durante a cobertura do jornal. 5.5. Recursos predominantes A cobertura da tragédia de Santa Maria, feita pelo jornal The New York Times, concentrou-se, principalmente, em histórias e depoimentos particulares. Essa opção do periódico vai ao encontro de um dos critérios de noticiabilidade recorrente no jornalismo, que é a proeminência do ator (TRAQUINA, 2005), ou a personificação, uma vez que a grande maioria dos afetados no incidente foram jovens universitários - ou seja, aqueles que, aos olhos de todos, teriam uma vida inteira pela frente. 5.6.
Contextualização dos fatos
Características do Brasil e de sua população foram muito comentadas no site. Enquanto elogiava o crescimento econômico e social do país, o NYTimes.com também aproveitou para apontar e, de certa forma, criticar catástrofes anteriores “evitáveis”, como o próprio jornal caracterizou. Entre eles são destacados a queda de prédios, explosões de bueiros e problemas no metrô. Críticas feitas pelos próprios jornalistas brasileiros também ganhou espaço em uma das matérias, como foi o caso da frase de André Barcinski, colunista da Folha de SP: “A burocracia e a corrupção também causam tragédias”. 20
5.7. Multimidialidade A multimidialidade presente em praticamente todas as matérias do site envolvendo o episódio de Santa Maria é inegável. Além do texto, os materiais sempre contavam com, no mínimo, uma foto. Vídeos, mesmo amadores, também estiveram muito presentes, e algumas das publicações chegaram a apresentar mapas interativos onde o internauta podia localizar a cidade de Santa Maria e suas proximidades. 5.8. Hipertextualidade Ao contrário da multimidialidade, o hipertexto foi raramente utilizado durante a cobertura. Essa ausência talvez justifique a extensão das matérias, que eram longas e, algumas vezes, repetitivas em suas contextualizações. Se utilizassem o hipertexto com mais freqüência, isso certamente seria evitado e o conteúdo seria mais organizado. Links para outros conteúdos fora do NYTimes.com também não apareceram. 5.9. Erratas Como na maioria das coberturas mais urgentes, o NYTimes.com apresentou erros em diversos momentos. Todos, no entanto, foram apontados e devidamente corrigidos. Os dois primeiros dias da cobertura, 27 e 28 de janeiro, foram os que mais apresentaram problemas e precisaram de atualizações posteriores. Erros na identificação de fontes e na localização da boate (segundo o NYT, a Boate Kiss ficava no Rio de Janeiro), são alguns dos exemplos. Além das confusões com fotos e vídeos remetendo a outros acontecimentos semelhantes (uma das imagens publicadas com legenda remetendo à Santa Maria era, na verdade, de um pertence de uma vítima do incêndio de uma boate de Buenos Aires, em 2004).
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6. ANÁLISE DA COBERTURA JORNALÍSTICA DO THE GUARDIAN O britânico The Guardian realizou uma cobertura curta e intensiva. Ao todo, o jornal divulgou três reportagens, incluindo texto e material multimídia, em apenas um dia – 28 de janeiro, um dia após a tragédia. Vídeos e galerias de fotos somaram um total de seis postagens, que continham no máximo um parágrafo explicativo, nunca uma matéria completa. 6.1. Ritmo de publicações e conteúdo As três reportagens não possuem identificação de horário de publicação, apenas de data. Dessa forma, é possível inferir apenas que foram todas divulgadas no mesmo dia, embora possam ter sido atualizadas posteriormente. Por esse motivo, a análise será feita através de uma ordem cronológica suposta pelo grupo, que corresponde à ordem dos acontecimentos na realidade. A primeira matéria intitula-se “Brazil mourns as Santa Maria nightclub death toll exceeds 200” (tradução adaptada: “Brasil lamenta à medida que o índice de mortes do incêndio de Santa Maria excede 200”), e é o relato do acontecido. O artefato pirotécnico utilizado pela banda que se apresentava no momento da tragédia já é apontado como o causador do incêndio, e divulga-se a inalação de fumaça tóxica como a principal causa de morte. A contextualização inevitavelmente dramática da matéria é feita com informações como o número de corpos que cada caminhão removeu da boate até o ginásio da cidade, somada a um vídeo com imagens de momentos após a tragédia. Em “Santa Maria fire: first funerals held as Brazil declares three days of mourning” (tradução adaptada: “Incêndio de Santa Maria: realizam-se os primeiros funerais e Brasil declara três dias de luto”), são apresentadas declarações de autoridades como a presidenta do Brasil e o secretário-geral das Nações Unidas. Menciona-se o cancelamento da cerimônia de 500 dias para a Copa do Mundo, que seria realizada no Rio de Janeiro no dia seguinte ao do incêndio. Nessa reportagem, são apontados os erros que levaram à tragédia, como a superlotação da boate, a falha do extintor de incêndio, a obstrução da saída pelos seguranças e a única porta de saída existente para o 22
público. Aponta-se o fato de Santa Maria ser uma cidade universitária e de a maioria dos mortos serem jovens, além da repercussão nas redes sociais, durante e após o incêndio. São citados pedidos de socorro publicados no Facebook no momento da tragédia, assim como palavras de luto após o acontecido. Um ponto importante da reportagem é o questionamento feito pela polícia ao proprietário da boate a respeito do alvará de funcionamento – essa pergunta não é respondida e não há atualização da situação em nenhuma matéria posterior. Segundo citações de jornalistas brasileiros, a capacidade do Brasil em sediar a Copa do Mundo é duvidada pelos próprios habitantes do país. O tom de crítica não apenas a respeito da Copa, mas também de todo o sistema legislativo do Brasil acentua-se em “Santa Maria fire: Brazilian police detain two nightclub owners” (tradução adaptada: “Incêndio de Santa Maria: polícia brasileira detêm dois proprietários da boate”). Essa matéria traz à tona o grande problema das irregularidades e da falta de fiscalização no país. Ressalta a indignação da população com a impunidade e a falta de confiança nos órgãos públicos, o que remete a uma problemática muito maior que o próprio incêndio, de âmbito nacional. Relata que quatro pessoas estão detidas para interrogatório da polícia – dois proprietários da boate, um integrante da banda e o produtor da mesma. Há depoimentos de membros da banda, outros sobreviventes, e também repetem-se as declarações
de
algumas
autoridades,
além
do
cancelamento
das
comemorações da FIFA pelos 500 dias para a Copa do Mundo. Em sua totalidade, as reportagens são objetivas e transmitem credibilidade, mas não há, entretanto, acompanhamento da situação nos dias seguintes à tragédia. A cobertura jornalística é suficiente para informar um leitor de outra nacionalidade de maneira completa sobre o fato em si, abordando a repercussão internacional e local do incêndio. São deixados de lado, todavia, os julgados culpados pela tragédia, a melhora ou piora dos sobreviventes, o funcionamento da universidade que perdeu mais de uma centena de alunos, entre outros.
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6.2. Versão impressa O The Guardian online não informa quais matérias foram publicadas na versão impressa, nem sequer se algo foi de fato publicado. Como não foi possível ter acesso a esses exemplares do jornal, torna-se inviável a análise comparativa entre as duas versões (online/impressa). 6.3. Colaboradores e fontes Todas as reportagens foram escritas por Jonathan Watts, correspondente do The Guardian na América Latina. Ele escreveu as matérias do Rio de Janeiro, com informações provenientes de agências internacionais como a Associated Press e a Reuters, e fundamentalmente com o que foi divulgado na imprensa brasileira. Fontes como a TV Globo e o jornal Folha de São Paulo foram recorrentes durante a cobertura. O conteúdo multimídia foi retirado do canal Globo News e de agências internacionais. 6.4. Referências históricas e internacionais As referências históricas são feitas em apenas uma reportagem, quando o incêndio é citado como o segundo maior da história do Brasil e comparado com tragédias similares em Rhode Island (2003), Argentina (2004) e Rússia (2009). A declaração do secretário geral da ONU é repetida duas vezes, assim como a informação sobre o cancelamento da cerimônia de comemoração pelos 500 dias para a Copa do Mundo que a FIFA planejava para o dia 28 de janeiro. A Copa, aliás, é a referência internacional mais citada durante a cobertura. A proximidade do evento deu ainda mais repercussão para a tragédia, que foi um sinal da fragilidade do Brasil para sediar uma competição desse porte. 6.5. Recursos Predominantes Diferentemente do New York Times, o The Guardian não faz uso da personificação. Seu relato dos fatos é muito objetivo, como uma tentativa de tornar o texto o mais informativo e impessoal possível. Foram publicadas declarações de envolvidos diretamente na tragédia, mas não havia continuação de sua história, isto é, essas fontes não protagonizavam a matéria. 24
Informações diversas que não tinham relação entre si foram colocadas no mesmo texto e separadas apenas por parágrafos, privando a reportagem de uma continuidade que é essencial para prender a atenção do leitor. Nota-se muito o uso da “reciclagem dos fatos”, expressão de Margareth Steinberger, que consiste na reutilização da mesma informação de diferentes maneiras, o que faz com que ela pareça ser uma novidade. 6.6 Contextualização dos fatos Não houve uma contextualização da cidade de Santa Maria no cenário nacional, assim como do Brasil no internacional. A cobertura foi muito direta, ateve-se concisamente apenas à tragédia, com poucas informações do exterior. Foi mencionado que a presidente Dilma interrompeu uma viagem que fazia no Chile para visitar Santa Maria e também foi registrada a opinião de alguns jornalistas brasileiros, como Reinaldo Azevedo da VEJA e Igor Gielow, da Folha de São Paulo. Esses artigos opinativos podem ser considerados uma contextualização a respeito do pensamento da população brasileira sobre o incêndio, retratada através da indignação e descrença. 6.7.
Multimidialidade
Em todas as reportagens houve uso de fotos ou vídeos para complementar a informação textual. A essência inevitavelmente dramática desse material envolveu imagens de momentos após a tragédia, onde civis tentavam desesperadamente quebrar a parede da boate e as viaturas da polícia e dos bombeiros tomavam a rua da boate. Além disso, os retratos da dor dos familiares no velório das vítimas e a apreensão das famílias nas portas dos hospitais também foram retratados. O total de imagens apresentadas, separadamente das reportagens, é de cinco vídeos. Um dos vídeos, que mostrava a passeata realizada em homenagem às vítimas, não está mais disponível. O ícone para acessá-lo continua funcionando mas, segundo o site, o prazo para reprodução das imagens sem ferir os direitos autorais expirou.
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6.8.
Hipertextualidade
Os poucos hipertextos utilizados nas reportagens possibilitavam ao leitor consultar todas as notícias do The Guardian a respeito do que foi “hiperlinkado”.
Eles estavam relacionados à presidenta do Brasil, Dilma
Rousseff, ao secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, ao Brasil e à primeira reportagem do jornal que tratava sobre a tragédia. O uso de mais hiperlinks poderia oferecer ao leitor a contextualização que lhe foi privada em todas as reportagens. Talvez como estratégia para não cansar o público e tornar as matérias demasiadamente longas, o The Guardian optou por não abusar desse recurso e se manter estritamente objetivo. Se houvesse mais exploração desse artifício, o site seria mais rico em conteúdo e, eventualmente, mais completo no que se refere a uma plataforma virtual de informação.
6.9.
Erratas
Apenas uma errata foi publicada no site, e se referia a um erro na reportagem “Santa Maria fire: Brazilian police detain two nightclub owners”. Nela, o repórter se referia à Santa Maria como cidade natal da presidenta Dilma Rousseff, erro que foi reparado um dia depois da publicação da matéria. Embora não tenha sido publicada, deveria haver a correção do nome da banda envolvida na tragédia em todas as matérias. O nome correto, “Gurizada Fandangueira”, não foi escrito da forma certa em nenhuma reportagem, sendo confundido com “Gurizada Fananguiera”.
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CONCLUSÃO Diante de todas as teses e análises apresentadas no decorrer deste material, pondera-se que ambos os jornais fizeram uma boa cobertura sobre o incêndio da boate brasileira. Contudo, avalia-se que por razões editoriais e escolhas distintas, os jornais apresentaram o conteúdo com enfoques preferenciais, fornecendo dimensões diferentes sobre o acontecimento. O The New York Times seguiu um critério mais humanista sobre o acontecimento, com narrativas e transcrições de relatos dos sobreviventes. Essa escolha produziu empatia em seus leitores, que conseguiram se colocar no lugar das vítimas e, indiretamente, compreender, através desse valor humano, as dimensões da tragédia. Em razão dessa decisão, as informações sobre o incêndio tiveram maior continuidade e desdobramentos, fato pouco observado no jornal britânico. Ao todo, o jornal americano apresentou cerca de doze materiais (entre eles, fotos, vídeos, compactos, etc.), durante os quatro dias analisados, contrastando com os oito publicados no site do The Guardian. Observa-se que a postura do The New York Times foi de manter o acontecimento em destaque no site e até mesmo destinou um texto do brasileiro Antonio Xerxenesky, em sua seção de opinião, para que seus leitores pudessem melhor compreender o acontecimento. Considera-se ter sido a proximidade entre Estados Unidos e o Brasil, tanto por razões geográficas quanto por interações internacionais, a provável causa de esse assunto ter se mantido constantemente atualizado no site do The New York Times – também considerado o grande número de brasileiros visitantes e residentes no país. Embora o jornal britânico não tenha expandido sua cobertura sobre o incêndio na boate brasileira, nem tenha o colocado em destaque em seu portal, não é possível desmerecê-la, ou avalia-la como incompleta. Seguindo uma linha editorial mais política e informativa, sem tantos apelos emocionais, o jornal The Guardian apresentou durante os primeiros dias matérias equilibradas e respeitosas sobre a tragédia brasileira. O jornal britânico preferiu, ao contrário do The New York Times, focar na visibilidade política internacional do incidente. A presença de autoridades 27
brasileiras, em especial da presidente Dilma Rousseff, no local do incidente, assim como o posicionamento de entidades internacionais, como a ONU e Fifa, receberam destaque em suas matérias. Essa postura, mais “diplomata” em relação ao acontecimento, pode ser explica pela característica cosmopolita do jornal londrino. Deve ser destacada, no entanto, a inegável seriedade de ambos os jornais, evidenciada através da formalidade, da linguagem séria e do compromisso com a veracidade dos fatos transmitidos ao leitor – afinal os dois jornais preocuparam-se em divulgar suas erratas quando necessário. Esse posicionamento contrastou com de outros jornais de língua inglesa, como o também britânico The Sun. Embora sua história e especificidades não sejam debatidas aqui, através de pequenas publicações sobre esse acontecimento, pode-se caracterizar, genericamente, seu perfil e diferenciá-lo dos recorrentes ao The New York Times e The Guardian. A fim de explicar o que se defende nesse trabalho, realiza-se uma comparação entre os jornais analisados e o The Sun. Um dia após a tragédia, enquanto The New York Times e The Guardian publicavam depoimentos, imagens e informações mais relevantes ao acontecimento, o The Sun aderiu a uma postura mais sensacionalista ao publicar uma matéria sobre a comoção de Lady Gaga ao postar, na rede social Instagram, uma foto em homenagem aos mortos e feridos de Santa Maria. Apesar de as escolhas narrativas do jornal americano e de maior proximidade com o Brasil transmitirem uma aparente superioridade técnica, avaliadas as considerações expostas no presente trabalho, conclui-se que ambos os jornais realizaram um excelente trabalho, enquadrado em políticas editoriais próprias, distintas. Esclarece-se que a presente conclusão estrutura-se a partir da análise de materiais durante três dias – 27 a 30 de janeiro de 2013.
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ANEXOS
Print Screen do início matéria do dia 27 de janeiro, com uma parte da galeria de imagens, o mapa multimídia e algumas citações em evidência. Destaque dos parágrafos onde são citadas as tragédias semelhantes à da Boate Kiss.
Duas das correções feitas pelo site em apenas uma matéria. 29 Uma das imagens individuais publicada em 28 de janeiro de 2013.
Os “problemas do Brasil” apontados pelo NYTimes.com.
Uma das matérias do The Guardian, onde a foto é um fator dramático forte.
Um dos primeiros vídeos disponibilizados pelo The Guardian, que mostrava momentos da tragédia ainda na Boate Kiss.
Vídeo divulgado pelo The Guardian com imagens da passeata em homenagem às vítimas da tragédia.
FICHA DE LEITURA 1 “JORNALISMO INTERNACIONAL” (João Batista Natali, Editora Contexto, 2004) Dimitria Prochnow e Flávia Carboni
O autor do livro Jornalismo Internacional, João Batista Natali, é jornalista da Folha de S.Paulo, onde já foi redator e editor do caderno Mundo, repórter de Cotidiano, correspondente na França e, hoje, atua como repórter da Secretaria de Redação. Graduado em Jornalismo pela USP e em Filosofia pela 30
Universidade de Paris-VIII, fez mestrado (na Escola de Altos Estudos em Ciências Sociais, Paris) e doutorado (na Universidade de Paris-XIII), ambos em Semiologia. Além do livro apontado nesta ficha, Natali também escreveu O Brasil no Contexto (2007). Com esse currículo, João Batista Natali propõe-se a apontar, nesse livro, as principais características do jornalismo internacional e a rotina intensa de uma editoria Internacional que, segundo ele, é a que mais recebe informações diariamente. Escrito de maneira direta, o texto não é acadêmico - embora apoiado em referências de autores consagrados - e fala, de maneira clara e simples, para estudantes, profissionais e até curiosos sobre o assunto. Inclusive a estrutura do livro favorece a consulta de pontos específicos, pois cada um dos capítulos, ou subcapítulos, pode ser lido de forma independente. O autor utiliza a introdução da obra não apenas para apresentar o trabalho, mas também para se apresentar e esclarecer algumas dúvidas mais genéricas sobre o assunto em questão. Com subcapítulos objetivos, como “Quem sou”, “Quem somos” ou mesmo “O que é notícia?”, ele apresenta, ainda na introdução, discussões sobre a cobertura de tragédias – tópico importante e bastante influente na realização deste trabalho -, critérios de noticiabilidade para notícias exteriores e, ainda, dados – que, de acordo com ele, não são precisos porque nenhuma associação ou entidade os dispõe – sobre a quantidade de jornalistas e correspondentes brasileiros trabalhando com a política internacional atualmente. Para João Batista Natali, o que parece óbvio em qualquer cobertura de tragédias, é dar ênfase ao fato com maior número de vítimas. Ele conclui, porém, que a localização do ocorrido e a nacionalidade das vítimas é mais importante: quanto mais próximo e importante for o país onde ocorreu a tragédia e mais relações puderem ser feitas com o jornal, mais espaços na editoria de Internacional ele terá. “Caiu um avião de passageiros fora do Brasil. É notícia para a editoria Internacional. Sempre me perguntei que razão levava um passageiro ou tripulante que morreu em um avião acidentado a se tornar mais importante que um outro passageiro ou tripulante, segundo os critérios esquisitos do jornalismo, já que entram em jogo fatores que vão do glamour do avião que
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se espatifou ao local em que ocorreu o acidente e ainda à nacionalidade das vítimas”. (NATALI, J. 2004)
No livro, dividido em quatro capítulos, além de uma cronologia final e uma bibliografia comentada, Natali compartilha suas experiências e lembranças a todo momento, sejam elas do seu tempo de editorial de Internacional, ou de correspondente na França. Sendo assim, o autor consegue explicar e exemplificar o assunto com mais facilidade e de maneira mais didática. O
primeiro
capítulo
dedica-se,
principalmente,
a
apontar
as
características históricas do jornalismo internacional, além de citar algumas das dificuldades encontradas por jornalistas em períodos mais duros – como a ditadura e a constante censura presente nas redações -. Ainda nessa parte da obra, é trazido à tona o início do jornalismo brasileiro e sua definição de internacional na época. A partir dessa “linha do tempo”, chega-se às características atuais e suas diferenças em outras plataformas, como o rádio e a TV. No segundo capítulo, o autor discorre sobre a importância do jornalismo internacional na época da ditadura. Segundo ele, a editoria Internacional não sofria a censura a que o restante do jornal era submetido, e tornou-se, portanto, uma válvula de escape para temas que não podiam ser tratados com amplitude nas editorias gerais. “Além disso, os leitores liam nas entrelinhas aquilo que os jornalistas informavam nas entrelinhas também. Idi Amin Dada foi um ditador caricatural e horroroso em Uganda, entre 1971 e 1979. Pois me parece que os jornais brasileiros davam àquele país africano um espaço comicamente suspeito. Atiravam-se pedras na direção de uma determinada ditadura para que a pedra caísse em uma outra ditadura bem mais próxima de todos nós.” (NATALI, 2004)
Após a reabertura política do Brasil nos anos 80, o jornalismo internacional perdeu sua força, uma vez que todas as editorias readquiriram a liberdade de escrever sobre tais assuntos. Com o fim da polarização entre EUA e União Soviética nos anos 90, após a Guerra Fria, a imprensa passou a lidar com apenas uma hegemonia, os Estados Unidos. Esse país passou por três fases de comando, representadas por três presidentes: George Bush (pai), Bill Clinton e George Bush (filho). Esse último foi responsável por iniciar a política da “guerra preventiva” no país, que consistia em atacar uma nação assim que ela demonstrasse potencial suficiente para ser considerada uma ameaça. Tornou-se um perigo para qualquer um que ousasse contestá-la e, dessa forma, passou a ser um problema para a imprensa internacional, que não sabia como retratá-lo. O erro dos jornalistas, segundo Natali, é tratar os EUA como 32
vilãos ou bonzinhos – o leitor de jornalismo internacional procura justamente o contrário, isto é, um texto informativo que o possibilite tirar as próprias conclusões. Natali fala também sobre as mudanças para o profissional que trabalha com esse tipo de jornalismo. Por uma questão de corte de despesas, a realização de uma matéria internacional exige muito do profissional de redação no país de origem do jornal, como o redator ou o editor, e não tanto do correspondente. Outra mudança atual é o advento da internet. Para o autor, ela é uma fonte riquíssima de informações, que facilita o trabalho do jornalista na medida em que ele não precisa gastar com telefonemas nem fica devendo favores pessoais a ninguém. A cultura de massas é outro tema abordado por Natali. Para ele, o espaço dedicado às personalidades no jornalismo internacional é utilizado por celebridades, que apenas viraram notícias por fatores de “fetichização” popular. É um bom exemplo da tênue linha que separa o jornalismo do entretenimento. No escândalo sexual que envolveu o ex-presidente dos Estados Unidos Bill Clinton, o fato do adultério ter sido parte da vida particular do político foi ignorado pela imprensa, que divulgou o acontecido sem o menor pudor.
Ao longo do capítulo IV, o autor fala sobre o caráter profissional do jornalista internacional. O desengajamento político e social é, na opinião de Natali, uma fator necessário para a sobrevivência do repórter nesse meio. Militantes, defensores dos direitos humanos e ativistas ambientais começavam a surgir nos anos 70 e, mesmo os jornalistas que assumiam suas causas, não esperavam utilizar o jornal como uma ferramenta para promoção. Acentua-se também a importância de conhecer a história para reportar um fato da atualidade. O repórter não está tratando de um assunto atual isolado, mas de todo o contexto histórico que precedeu o momento. Da mesma forma, ele deve ser fluente em, no mínimo, inglês e espanhol. Um subcapítulo do livro é dedicado apenas à apresentação de falsos cognatos das principais línguas e da relevância desse fatos. Os últimos capítulos dedicam-se à contextualização do jornalismo internacional e, principalmente, como funcionava essa editoria na Folha de São Paulo, local onde o autor trabalhava. Através de várias mudanças históricas e citando diversos jornalistas e acontecimentos, Natali narra uma época de transformação. Compara o que mudou no cenário internacional militar, político, ideológico, social, e até jornalístico. No fim do livro, o autor monta uma linha cronológica do jornalismo internacional que vai desde 1477, ano em que a França constrói sua primeira estrutura de correios, até 1992, quando os primeiros canais de televisão estrangeira chegam ao Brasil. 33
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FICHA DE LEITURA 2 “Os melhores jornais do mundo: uma visão da imprensa internacional” (Matías M. Molina, Editora Globo, 2007) Gabriel Araújo e Martha Porto Matías Molina é um espanhol radicado no Brasil. Molina chegou ao país com 17 anos e tornou-se renomado jornalista da área econômica. Nascido na capital espanhola Madrid, Molina é formado em História na Universidade de São Paulo. Foi redator da revista de negócios Direção e da Folha de São Paulo e o primeiro editor da revista Exame. Depois foi correspondente em Londres trabalhando para a Gazeta Mercantil. Recentemente, Matías publicou no Valor Econômico uma série de reportagens especiais, entre os anos de 2005 e 2006, que deram origem ao livro Os melhores jornais do mundo (680 p.). Nesta obra, publicada pela editora Globo em 2007, o jornalista analisa e conta as histórias dos que considera os principais jornais do mundo. Molina aborda desde o público a que o jornal se destina e atinge até curiosidades sobre casos que envolvem o nome dos jornais historicamente. Dessa forma, mostra a razão destes serem importantes e respeitados e de influenciarem a opinião pública mundialmente. Molina explica o critério usado para a escolha dos jornais que estão presentes em seu livro da seguinte forma: “Há um critério objetivo, sobre qualidade de texto, sobre o tipo de informação; ao mesmo tempo, há outro critério que é o de reputação – você não pode pensar que não há uma reputação do jornal, que às vezes foi feita ao longo de um trabalho sério. A minha ideia de fazer este livro foi trazer ao Brasil algumas informações sobre os principais jornais do mundo. Permitir que algumas pessoas, que não os conheciam, comecem ter contato, a ter o gosto sobre estes jornais. Essa é a ideia básica do livro – não tem outra intenção senão essa.”
O período em Londres como editor-chefe e correspondente da Gazeta Mercantil proporcionou para o historiador e jornalista conhecer mais profundamente os jornais que já acompanhava de longe no Brasil. Isso ativou sua vontade de passar ao público brasileiro um conhecimento maior sobre dezessete dos melhores jornais do mundo (como o título da obra sugere). Nove países estão envolvidos na pesquisa: dois da América do Norte – Estados Unidos e Canadá -, seis da Europa – França, Espanha, Reino Unido, Itália, Alemanha e Suíça – e um da Ásia – Japão. Molina explica que, apesar desses jornais serem completamente diferentes, em razão de suas linhas editorias, número de tiragens e de leitores, são mundialmente relevantes e de interesse para análise jornalística, pois influenciam a agenda de seus países e orientam o entendimento político-econômico mundial. Os jornais elencados como melhores pelo autor são os seguintes: os americanos The New York Times, The Wall Street Journal, The Washington Post e Los Angeles Times; o canadense The Globe and Mail; os franceses Le Monde e Le Figaro; o espanhol El País; os ingleses Financial Times, The Guardian e The Times; o italiano Corriere Della Sera; os alemães Frankfurter Allgemeine Zeitung e Suddeutsche Zeitung; o suíço Neue Zurcher Zeitung; e os japoneses Asahi Shimbun e Nihon Keizai Shimbun. O autor justifica detalhadamente a escolha de cada um desses jornais. Segundo ele, os poderosos de língua inglesa estão entre os mais influentes do mundo, dos quais o The New York Times destaca-se devido ao seu poder virtual – cerca de 20 mil acessos diários. O The Guardian, apesar de suas 35
crises internas, também lidera essas influencia mundial, devido ao seu caráter liberal, e tem expandido seus negócios via internet. Os clássicos jornais franceses Le Monde e Le Figaro detém a ideia do jornalismo político, seguidor de ideologia. Já o suíço Neue Zurcher Zeitung representa os jornais tradicionais, ocupando o posto do mais antigo da lista de Molina, contrastando com o jovem El País, considerado o jornal de língua espanhola mais lido no globo. Já os jornais alemães e japoneses, para Molina, lideram em termos de audiência, dentre os quais se destacam o Süddeutsche Zeitung e o Asahi Shimbun. Molina apresenta em cada um dos jornais sua história. Explica como todos eles chegaram ao nível de relevância e influência que exercem sobre a população e governos de seus respectivos países. Para entender um jornal e como ele se posiciona perante assuntos do cotidiano, é preciso conhecer sua linha de atuação histórica, sua forma de funcionamento, assim bem como suas políticas editoriais. Matías Molina, através desses critérios, mostra como os títulos acima citados se portaram frente a crises internas e mundiais. Os Melhores Jornais do Mundo divide-se em capítulos, destinando-os, individualmente, para cada um dos jornais avaliados. Todos possuem, relativamente, o mesmo espaço e têm primeiramente a sua apresentação histórica feita para situar o leitor sobre o que representa o título. A grande maioria dos dezessete é de jornais antigos que já passaram por muitas situações e as mais curiosas e impactantes histórias apresentadas por Molina. Não só o passado é tratado no livro. A obra é um bom material para quem quiser saber, além do que foram os jornais, o que eles atualmente representam e como eles projetam seu futuro. A questão histórica é muito bem explorada, visto o fato do autor ser também um historiador, e é o norteia cada capítulo. A partir dela, Molina explica como se sustentam os jornais: quais as crises que enfrentam, o desenho que utilizam, o formato, o posicionamento político e o que hoje eles combatem para continuar com a reputação que adquiram. A partir dessa ideia o jornalista apresenta os projetos dos donos das empresas as quais os jornais pertencem para fazer deles senão ainda maior do que são pelo menos com a mesma forte influência que muitos ainda exercem. Molina trabalha a entrada da internet e da tecnologia em cada um desses jornais. O modo como eles enfrentam os desafios que esses novos canais impõem para a imprensa impressa do mundo inteiro. Apresenta dados de como já se portam as publicação de cada periódico na rede virtual e analisa os projetos individuais de cada um. No livro Os Melhores Jornais do Mundo, também apresentados e analisados os graus de independência dos jornais. Muitos dizem que são livres de pressões externas. Molina explica quais as relações das publicações com empresas investidoras e, principalmente, com os governos locais. Como a maioria dos jornais é antiga, diversos momentos marcantes da história mundial e suas posições influenciaram o pensamento de uma grande parte da população. Isso é discutido durante os capítulos da obra. A cada encerramento de capítulo e, por consequência análise da apresentação da projeção de cada um dos jornais, Matías Molina faz um breve perfil do periódico em uma ficha técnica. São expostos itens como: primeira edição, endereço, endereço eletrônico, direção, editor, razão social, impressão, periodicidade, edição na internet, características, receitas do grupo, sucursais e 36
correspondentes, circulação, dentre outros aspectos que específicos de cada jornal. É uma leitura aconselhável para quem se interessa por história e acompanha o jornalismo de uma forma mais crítica sobre quem o faz. Ao ler cada capítulo, ficamos mais inteirados sobre os jornais apresentados e passamos a ter uma base maior para acompanha-los em suas publicações, tanto na internet quanto na edição física. É curioso e importante para quem costuma ler os jornais saber como eles enfrentaram as crises internas, de que modo superam ou ainda as superam. O livro aborda diversos aspectos relevantes para os leitores e para quem também não é leitor. Molina cumpre com o objetivo de apresentar os jornais aos brasileiros e fazer com que tenham conhecimento desses que são os principais formadores de opinião da imprensa mundial.
FONTES DE PESQUISA
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