Oil security perspectives 2018 flad pse

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Em parceria com

ANUÁRIO

OIL SECURITY PERSPECTIVES 2018

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Programa FLAD Segurança Energética FLAD Energy Security Program Rua do Sacramento a Lapa, 21 1249-090 LISBOA Tel: (351) 21 393 58 00

Imagens: iStockPhoto

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O que é Segurança Energética?

A Agência Internacional de Energia (AIE) define a segurança energética como «uma disponibilidade física ininterrupta por um preço que é acessível, respeitando as preocupações ambientais»

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Petróleo MAIN INSIGHTS: na próxima década, a bacia Atlântica, do Norte ao Sul, tornar-se-á na maior fonte produtora de petróleo do mundo. Os EUA estarão na frente desta mudança (fornecendo 80% do novo crude mundial), a par do Brasil. O cartel da OPEP e a Rússia verão o seu petro-poder recuperar, mas consideravelmente diminuído face ao exercido até 2013, o ano da ascensão do shale oil americano. O mercado asiático consolidar-se-á como a fonte de maior consumo. Incertezas sobre o comportamento do preço do barril permanecerão.

S

e 2016 foi o ano do mercado livre de petroleo, em 2017 começamos a assistir ao regresso do

mercado cartelizado. Em 2014, a OPEP realizou a decisao historica de competir no mercado, com o intuito de nao perder quota e convicta do eminente claudicar dos produtores norteamericanos, sem ter de reduzir a sua produçao. Essa experiencia findou no início de 2017 e

presentemente o mundo vive sob o acordo de reduçao de produçao mais abrangente vivido desde 2008. Com efeito, a decisao da OPEP e de onze produtores nao-OPEP para cortar a produçao nos primeiros seis meses de 2017 levou a um aumento nos preços do petroleo. Ate ao momento da concretizaçao do acordo, os preços continuavam a aproximar-se dos US $ 30/bbl. Esta era uma situaçao indesejavel para todos os produtores, mas certamente muito apreciada pelos consumidores.

Os impactos orçamentais da queda dos preços do petroleo foram significativos tanto para as empresas estatais – que usam estas receitas para financiamento de políticas sociais -, como tambem para o sector privado. Para os países da OPEP, as receitas de exportaçao caíram para US $ 450 mil milhoes em 2016, bem abaixo dos US $ 1,2 trilioes faturados em 2012, causando grandes esforços orçamentais (no caso da Arabia Saudita) e, em alguns casos, dificultando situaçoes políticas (veja-se o caso da Venezuela). Por sua vez, o investimento global no sector do petroleo e gas caiu 25% em 2015 e outros 26% em 2016, uma tendencia que atravessou tanto as grandes empresas, como tambem as independentes. Em 2017, verificaram-se sinais modestos de recuperaçao, devido ao maior investimento dos Estados Unidos.

1. EUA lideram revolução petrolífera Mas se e verdade que os preços caíram, tambem aconteceu o mesmo com os custos: segundo a base de dados da consultora Rystad Energy, parceira do Programa Segurança Energetica FLAD, os custos globais na produçao de petroleo diminuíram 15% em 2015 e 17% em 2016. E neste ponto, mais uma vez os EUA surpreenderam: as reduçoes de custos chegaram aos 30% em 2015 e 22% em 2016. Eis um indicador claro de que muitos produtores americanos sao capazes de inovar na efi-

ciencia operacional para aumentar a produçao num ambiente preços baixos. Com efeito, a capacidade dos EUA para desbloquear novos recursos energeticos de forma economica e inovadora ira fazer com que o aumento da produçao combinada de petroleo e gas seja 50% maior em

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2025, face ao ponto de comparaçao com os valores de 2010. Segundo a Agencia Internacional de Energia (AIE), este e um desempenho inedito no mundo: de maior importador de hidrocarbonetos em 2010, os EUA passaram a ser exportador líquido de gas natural e tornarse-ao num exportador líquido de petroleo no final da proxima decada. As projeçoes da AIE, da Enrgy Information Administration (EIA) e da Rystad Energy apontam para um aumento de 8 mb/d na produçao de shale oil dos EUA no período de 2010 a 2022 (ver graficos a seguir) - a se concretizar este sera o maior período crescimento sustentado de crude gerado por um unico país na historia dos mercados petrolíferos.

Poços em produção vs Preço, EUA

Produção Shale Oil, 2010-2022, EUA

Fontes: Energy Information Administration; Rystad Energy, 2017

Por sua vez, o aumento de 630 bcm na produçao de gas de xisto dos EUA ao longo deste período de 15 anos (mudança que se iniciou em 2008) ira superar o recorde anterior da produçao de gas. A escala desta expansao energetica esta ja a gerar impactos abrangentes na America do Norte, alimentando grandes investimentos em produtos petroquímicos e outras industrias de uso intensivo de energia.

2. Atlântico afirma-se como pilar petrolífero mundial Outra mudança e a reordenaçao dos fluxos de comercio internacional, dos fornecedores, como tambem dos modelos de negocio das empresas incumbentes. Isto porque ha um detalhe importante no tipo de exportador petrolífero que os EUA se irao tornar: manterse-ao num grande importador de crudes mais pesados, mais adequados a configuraçao de suas refinarias, mas posicionar-se-ao como um grande exportador de produtos light crude (competiçao direta com a OPEP, especialmente a Arabia Saudita) e refinados. Isto porque o estrangulamento da capacidade refinadora Medio Oriente e o aumento da procura nesta regiao – devido ao crescimento da urbanizaçao e da intensidade energetica da produçao petrolífera – limitam a sua possibilidade de fornecimento de petroleo extra ao mercado mundial.

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Por isso, a AIE preve que, em 2040, cerca de 70% do comercio mundial de petroleo ira ter como destino final um porto asiatico, ja que as importaçoes de petroleo bruto da regiao aumentarao em 9mb/d. Portanto, o mundo ira assistir a mudança do padrao de riscos, o que implicara uma reavaliaçao significativa da segurança do petroleo e a melhor forma de alcança-la. Com os Estados Unidos a representarem 80% do aumento do fornecimento mundial de petroleo ate 2025 e mantendo-se a pressao descendente a curto prazo sobre os preços, os consumidores do mundo ainda nao estao prontos para dizer adeus a era do petroleo. Segundo as previsoes da AIE (ver grafico seguinte), congregando as produçoes dos EUA, do Canada e do

Brasil, a bacia Atlantica passa a ser a maior fonte de petroleo bruto adicional para o mercado internacional.

Crescimento da Produção Petróleo não-OPEP, países selecionados, 2016-2022

E como se pode verificar no grafico

Fonte: Agência Internacional de Energia, 2017

seguinte, so o crescimento com-

binado da produçao dos EUA e do Brasil e mais do dobro verificado na Arabia Saudita e cinco vezes superior ao da Russia. Se juntarmos os de Angola e Moçambique, verifica-se que o espaço lusofono-americano sera efetivamente uma das principais forças estruturantes da oferta no mercado petrolífero mundial.

Crescimento da Produção Petróleo, países selecionados, 2018-2040

Fonte: Rystad Energy, 2017

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3. Crescimento da procura mundial sólido até meados da próxima década De acordo com as previsoes da AIE, o crescimento da procura em meados da decada de 2020 continuara robusto (ver mapa a seguir). Mas depois diminuira consideravelmente depois disso, uma vez que o crescimento da eficiencia energetica e a substituiçao de combustível (p.e., da gasolina/diesel para o eletrico ou gas natural) irao findar com a predominancia do petroleo como a fonte de energia central para os veículos ligeiros. Serao outros sectores que manterao a procura de petroleo numa trajetoria ascendente de crescimento de para 105 mb/d ate 2040. Crescimento da Procura Mundial de Petróleo 2004-2022

Fonte: Agência Internacional de Energia, 2017

Segundo a AIE, o uso de petroleo para produzir produtos petroquímicos sera a maior fonte de crescimento, seguido de perto pelo aumento do consumo dos veículos pesados (as políticas de eficiencia de combustível cobrem atualmente 80% das vendas globais de automoveis, mas apenas 50% das vendas globais de camioes), pela aviaçao e pelo transporte marítimo.

Na decada de 2030, as previsoes apontam para um recuo da produçao nos EUA e nas zonas nao-OPEP. Ou seja, provavelmente, nessa decada, o mercado mundial tornar-se-a novamente mais dependente do Medio Oriente.

4. Preço: a grande incógnita E aqui chegamos a incognita do comportamento do preço. Isto significa que nos proximos 10 anos acentuar -se-a a necessidade contínua de investimento para desenvolver um total de 670 bilhoes de barris de novos

recursos ate 2040, principalmente para compensar declínios em campos existentes, e nao para corresponder ao aumento da procura. Isto colocara uma pressao e incerteza constantes sobre os custos e os preços, a medida que os mercados de

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fornecimento e serviços esmagarao as suas margens, com as empresas a avançarem para novos projetos mais complexos. Ou seja, anteve-se um cenario de preços de petroleo muito elevados a partir dos finais da decada de 2020. Contudo, a AIE indica que se se conseguisse um aumento ainda maior da produçao de tight oil dos EUA combinado uma mudança mais rapida para a adoçao dos carros eletricos, seria possível manter os preços do petroleo mais baixos por mais tempo. Se este cenario se concretizasse, sera possível a economia mundial manter os preços dentro da banda dos US $ 50-70 / barril ate 2040.

Cenarios benemeritos a parte, o facto e que com o crescimento da procura robusto previsto, tendo sido 2017 um terceiro ano consecutivo de baixo investimento em novos projetos convencionais, constitui indicador preocupante para o futuro saldo do mercado, criando um risco substancial de uma queda de nova oferta nos finais da decada 2020. Portanto, podemos inferir duas tendencias a partir destes dados: que a base de rendimento dos petroEstados esta condenada no medio-prazo, apesar de se antever um pico dos preços do barril algures na decada de 2030; e que o aumento da frota eletrica dos veículos ligeiros nao sera suficiente para acabar com a era do petroleo nos proximos 20 anos.

E de sublinhar que na eventualidade de outro período de queda acentuada dos preços ainda poderia ter ainda atrasado mais as decisoes cruciais de investimento, ameaçando a recuperaçao da produçao necessaria. Mas ha um lado positivo deste evento. Quando se der a recuperaçao do investimento, a industria estara mais eficiente e produtiva, capaz de gerar mais com menos. Os efeitos do acordo de limitaçao da produçao da OPEP ja se fazem sentir nao so no preço (US $ 70 /bbl), como tambem no desempenho produtivo nao-OPEP: depois de cair em 2016, pela primeira vez desde 2008, começou a aumentar, mesmo quando as reservas de petroleo e produtos derivados estao em níveis recordes. Tanto as analises da Rystad Energy, da AIE e da EIA apontam para um estreitamento da oferta e uma expectativa de aumento dos preços. Em media, as previsoes apontam para um mercado de 104 mb/d, sendo que o stock disponibilizado pela OPEP apenas aumenta de 32,2 mb / d em 2016 para 35,8 mb / d em 2022. A OPEP preve reservar a capacidade de produçao adicional de 1,95 mb/d neste período, ou seja abaixo de 2% da capacidade produtiva diaria. Se o stock excedentario for depauperado, os efeitos no preço dependerao do facto do investimento recuperar ou nao. Se os governos e as empresas estiverem confiantes de que os atuais projetos de produçao serao suficientes para constituir uma almofada contra o choque de aumento da procura, a evoluçao dos preços situar-se-a dentro de intervalos conhecidos. Caso esta situaçao nao se verifique, o mundo atravessara um comportamento do preço do barril similar ao de 2008 ou mais agudo ainda.

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As variaveis das alteraçoes climaticas tambem aqui se fazem sentir. Invernos mais frios e veroes mais quentes do que o normal no hemisferio norte geram picos de consumo alimentados por sistemas de climatizaçao que ainda usam o petroleo para o seu funcionamento. Contudo, neste exercício de cenarizaçao, tambem e preciso ter em conta que o período de preços baixos de US $ 50 / barril entre 2015-2016 criou um buyer-market, fazendo com que muitos países aproveitassem a oportunidade para reforçarem as suas reservas estrategicas de crude e derivados, as quais ainda se encontram em níveis recorde, como ja referido, fator que desincentivara a compra de volumes equivalentes de crude nos proximos anos. Com efeito, a queda dramatica de 50% nos preços do petroleo do intervalo de US $ 100 / bbl que marcou os anos de 2011-2014 para o valor de US $ 50 / bbl em 2015-2016 gerou um efeito de crescimento significativo da procura. Os produtores de preços baixos, como a OPEP, ao nao colocar um teto na produçao, impulsionou o aumento do consumo de crude. Segundo os dados da AIE, em 2015, a procura cresceu 2,0 mb/d, o maior aumento anual desde o crash financeiro de 2008. No ano seguinte, em 2016, registou-se uma nova subida de 1,6 mb/d, com um crescimento nos mercados maduros da OCDE, em parte devido ao inverno mais frio e a maior procura por combustível industrial. Tendo em conta todos estes factores, a AIE preve que a procura global de petroleo devera crescer em media de 1,2 mb / d por ano ate 2022. Neste cenario, a procura da OCDE devera cair em media 0.2 mb/d anualmente devido sobretudo ao aumento da escala das melhorias da eficiencia energetica na mobilidade (maior penetraçao dos carros eletricos e motores a combustao mais eficientes). Nos países nao pertencentes a OCDE, ainda existe um grande potencial de crescimento, sendo expectavel um aumento de 1,4 mb/d, por ano, ate 2022. A India sera o grande motor deste crescimento, ao passo que a procura chinesa diminui nao so devido ao aumento de eficiencia do sistema energetico e de mobilidade, mas tambem pela entrada num ciclo de crescimento mais maduro. E preciso ter em consideraçao que os ultimos 20 anos foram marcados por altas taxas de forte crescimento da procura na China, alimentado pela rapida industrializaçao e investimento de infraestrutura. Este e um ciclo que agora se encerra e que emergira uma vaga de desenvolvimento de consumo energetico com uma taxa de aumento mais lenta. Com efeito, os ultimos dados mostram que a economia chinesa move-se em direçao a um perfil mais assente nos serviços e centrado no consumidor. Nos cinco anos ate 2016, a procura petrolífera chinesa cresceu 4,8% ao ano, em comparaçao com um crescimento de 5,5% nos cinco anos anteriores a 2011. E para o período ate 2022, a AIE preve que a procura da China crescera a uma taxa media anual de 2,4%. Por sua vez, atualmente, o consumo de petroleo per capita indiano e de apenas 1,2 barris por ano. A previsao e que atinja 1,5 barris por ano ate 2022. Em contraste, a China consome 3 barris per capita por ano, um volume previsto crescer para 3,5 ate 2022.

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Portanto, se nao levarmos as diferenças sociais e economicas entre a China e a India, mas apenas a dimensao demografica (o país dos Marajas sera mais populoso do que o Imperio do Meio a breve trecho), verifica-se que o mercado do futuro para o crescimento do consumo do crude e o indiano. Mas se tomarmos o mesmo racional de analise para outras economias emergentes de grande escala – Indonesia, Tailandia, Vietname, Nigeria, por exemplo -, tambem se verificara o mesmo padrao de crescimento potencial, a medida que o rendimento das famílias aumenta e adquirem a sua primeira viatura. Portanto, na proxima decada, o petroleo (gasolina e diesel) sera a energia que alimentara a mobilidade social e economica das novas classes medias das economias emergentes, enquanto que as economias avançadas se pautarao pelo avanço da eletrificaçao alimentada pelo gas natural e as renovaveis.

5. Consumo do petróleo só cairá nos veículos ligeiros No que se refere ao comportamento da substituiçao do motor a combustao pelo eletrico nas economias avançadas, as diversas previsoes apontam nao para uma mudança no padrao da procura energetica, mas sim numa diminuiçao gradual da taxa de crescimento do consumo dos combustíveis líquidos. Isto porque embora sejam alcançadas economias significativas na frota de ligeiros, o mesmo nível de eficiencia ainda nao sera alcançado na frota de pesados. Alem disso, tambem e preciso ter em consideraçao que em 2020 entrara em vigor a limitaçao das emissoes de 0,5% de enxofre no transporte marítimo, restringindo fortemente o uso do fuel como fonte energetica, tendo como objetivo a sua total erradicaçao do mix energetico. A AIE estima que sera substituído o consumo de 0,2 mb/d de fuel para GNL.

6. As quatro incertezas sobre a segurança do petróleo Contudo, existe um conjunto de incertezas sobre como a procura de crude podera ser satisfeita de forma esta-

vel e com volatilidade de preços moderada. A primeira das incertezas e o ritmo em que os produtores de shale oil dos EUA conseguirao transformar o aumento da atividade de perfuraçao num crescimento sustentavel da produçao. Tanto a AIE como a EIA, como tambem a Rystad Energy, preveem que ate ao final de 2017, a produçao sera de aproximadamente 500 kb/d superior ao ano anterior. Se os preços do barril se situarem no intervalo dos US $ 40-60/bbl, a produçao mantera o seu crescimento ate 2022, acrescentando 1,4 mb/d ao longo do período. Isto e possível devido a acelerada curva de aprendizagem que o sector presenciou nos ultimos 10 anos, com melhorias de eficiencia operacional e corte de custos na ordem dos 50%.

Portanto, num cenario em que os preços do petroleo aumentassem a um preço de US $ 80 / bbl (no momento de redaçao desta analise o barril de Brent ja se encontra a US $ 80 / bbl), a previsao das diversas agencias internacionais indica que a produçao poderia subir ate 3 mb / d ate 2022.

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Os países líderes desta vaga de crescimento produtivo, para alem dos EUA, sao o Brasil, o Canada e o Cazaquistao, que verao a sua produçao cumulativa subir 2,2 mb/d ate 2022. Vao colher os benefícios das decisoes de realizaçao do investimento tomadas no inicio da queda dos preços do barril. Os stocks nao-OPEP vao crescer 3,3 mb/d durante esse período, o que significa que estes 3 países com os EUA serao os swing producers face ao cartel da OPEP. A segunda das incertezas e o processo do regresso ou nao das sançoes contra o Irao, um produtor de crude importante que esta a operar muito abaixo do seu potencial. A terceira incerteza reside em dois aspetos de contexto relacionados com os EUA: se existira a introduçao do imposto de ajuste de fronteira (que impactara no custo e volume das importaçoes); se existira reversao do objetivo de eficiencia de combustível de 4,5 milhas por galao. A quarta incerteza reside na situaçao de risco político da Líbia, da Nigeria e da Venezuela. Sao tres produtores importantes da OPEP, mas cuja instabilidade política impede progressos na capacidade produtiva do crude. As previsoes da AIE indicam que a maior parte do crescimento ate 2022 provira dos membros do Medio Oriente, que suprirao 1,79 mb/d ao crescimento total da capacidade de produçao da OPEP de 1,95 mb/d. A mudança de decada sera marcada pela mudança do padrao dos fluxos de comercio global. A previsao da AIE e que as exportaçoes líquidas Países da OPEP aumentara nao mais do que 0,5 mb/d. E um volume significativamente inferior ao crescimento incremental previsto no potencial de exportaçao do Brasil e do Canada, o qual se situa em 1,6 mb/d. Ou seja, os produtores do Medio Oriente vao deixar de ser os principais fornecedores das crescentes necessidades dos mercados asiaticos. O saldo importador da Asia ira passar de 21 mb/d em 2016 a 25 mb/d em 2022, devido ao crescimento da procura e ao declínio na produçao regional. A evoluçao dos fluxos comerciais evidencia a necessidade de aumento capacidade de armazenamento adicional. Nos ultimos dois anos, o excesso de oferta global criou oportunidades de comercio e armazenamento, particularmente nos países nao pertencentes a OCDE, onde o aumento da procura e dos requisitos de importaçao levaram a uma acumulaçao de reservas comerciais.

MAIN CONCLUSIONS: Em suma, os dados e previsões evidenciam que a manutenção da segurança do petróleo no sistema energético mundial, por diminuir o risco de surgimento de preços elevados decorrente da escassez de crude disponível para consumo, depende do aumento do investimento em três frentes:

• Aumentar o investimento em projetos de produção • Aumentar o investimento na capacidade de armazenamento • Aumentar o investimento na melhorai da eficiência energética nos sistemas de mobilidade e de transporte baseados no combustível líquido

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NOTA METODOLÓGICA

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NOTA METODOLÓGICA A nova ordem da geopolítica mundial do petróleo e gás

Fonte: Programa Segurança Energética FLAD, 2017-18

O

s geografos organizam a visao do mundo em regioes compartimentadas para assim caracterizar zonas espaciais que se distinguem umas das outras. Contudo, estas divisoes nao constituem imagens verdadeiras da realidade, porque estao dependentes da valorizaçao que o observador faz deste ou daquele factor caracterizador.

Para o Oil Security Perspectives FLAD 2017-18, a fim de definir o contexto geopolítico da segurança energetica dos EUA e de alguns países da CPLP, procedeu-se a uma compartimentaçao do mundo com base numa unica característica geopolítica estruturante da dinamica de poder: o recurso energetico petroleo e gas. A compartimentaçao do mundo apresentada tem como base o modelo teorico de Saul Cohen (1973 e 2003), estando dividido segundo a tipologia dominante de hidrocarbonetos existente em cada agrupamento regional. Sao distinguidos dois tipos de regioes:

As regioes geoestrategicas, uma extensao espacial com significado global (no presente caso, no domínio do petroleo e gas), suficientemente ampla para possuir características e funçoes que tenham influencia mundial [na oferta mundial de hidrocarbonetos], expressao das inter-relaçoes existentes numa vasta parte do mundo, analisado em termos de localizaçao, circulaçao, comercio e orientaçoes políticoideologicas

As regioes geoeconomicas, que tem extensoes regionais, sendo uma subdivisao da regiao geoestrategicas. Expressa a unidade de características geograficas [relativas a dependencia ou auto-suficiencia de hidrocarbonetos]. A contiguidade de posiçao e a complementaridade dos seus recursos sao sinais especialmente diferenciadores da regiao geoeconomica.

Verificamos nesta divisao dois grandes espaços, duas grandes regioes geoestrategicas: a do Mundo Petrolífero Nao-Convencional (onde sao dominantes as fontes fosseis e tecnologias de extracçao nao-

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convencionais) e a do Mundo Petrolífero Convencional (onde sao dominantes as fontes fosseis e tecnologias convencionais). A regiao geoestrategica do Mundo Petrolífero Nao-Convencional compreende as Americas, a Africa subsaariana e Australia. E uma regiao praticamente coincidente com a do Mundo Marítimo Dependente do Comercio de Cohen (1973 e 2003). Abrange os oceanos Atlantico, Indico e o Pacífico. As recentes descobertas de fontes de hidrocarbonetos nao-convencionais estao a transformar este agrupamento regional de um conjunto de dependentes de petroleo e gas para um conjunto de regioes autosuficientes e exportadoras petrolíferas. Esta regiao geoestrategica ja e responsavel por 30% da produçao mundial de petroleo e gas proveniente da exploraçao marítima em aguas profundas e ultra-profundas e detera 25% das reservas de gas natural do mundo, devido a fonte do gas de xisto (vulgo shale gas). A sua transformaçao em regiao produtora com escala mundial nao so gerara uma profunda reconfiguraçao das rotas comerciais, mas tambem da presente teia mundial de interdependencias energeticas.

Sendo o Atlantico Norte uma das maiores zonas mundiais de grande trafego comercial, estas novas descobertas provavelmente criarao novas rotas de transporte de hidrocarbonetos nao so no Atlantico Norte, mas tambem no Sul, no Indico e no Pacífico para as regioes dependentes de hidrocarbonetos, reconfigurando a presente teia mundial de interdependencias energeticas, aumentando, por exemplo, a importancia do Gas Natural Liquefeito (GNL), transportado por mar, mitigando a dependencia do gas transportado por gasoduto. A Regiao Geoestrategica do Mundo Petrolífero Convencional e composta por duas regioes geoeconomicas produtoras e duas regioes geoeconomicas dependentes de petroleo externo. Sao as regioes coincidentes as do Heartland, Europa Marítima, Asia Marítima e Shatterbelt do Medio Oriente de Cohen (1973 e 2003). As duas regioes geoeconomicas produtoras de petroleo sao: • O Heartland Petrolífero, constituído pela Russia e os produtores do Mar Caspio. O nucleo desta re-

giao e a Russia, um dos tres maiores produtores de petroleo e gas do mundo. Constituindo o Coraçao Continental (Heartland) do continente Eurasiatica, o seu poder energetico assenta sobretudo na distribuiçao terrestre do gas para as duas regioes geoeconomicas petro-dependentes: o Bloco Asiatico Petro-dependente e o Bloco Europeu Marítimo Petro-dependente. Especialmente sobre este ultimo, a Russia exerce uma forte dependencia energetica, utilizando essa força como poder repressivo como arma política sobre países transito do gas natural para a Europa, como por exemplo, a Ucrania. A Russia concluiu o Nordstream, o gasoduto que fornece a Alemanha via Baltico. E tem projetado a construçao do Turskish Stream, via Mar Negro e Turquia. Existem diversos projetos de gasodutos alternativos patrocinados pela UE para transporte de gas dos países do Caspio. Esta tambem prevista a construçao de gasodutos para transporte do gas natural russo e dos países produtores do Caspio para a China e India. Esta regiao e maioritariamente constituída por regimes autoritarios, com risco geopolítico moderado ou elevado.

• O Shatterbelt Petrolífero, constituído na maioria por países da OPEP (Medio Oriente e Norte de

Africa). E uma regiao geoeconomica especial, porque, segundo Cohen (2003), e uma cintura fragmentada: «grande regiao estrategicamente situada, ocupada por um certo numero de Estados em conflito e refem dos interesses opostos de grandes potencias contíguas». Portanto, e uma zona de constante perturbaçao geopolítica. No conjunto, ainda exercem um forte poder sobre a oferta mundial de petroleo e gas disponível e a formaçao do preço do barril de petroleo. Alem disso, ainda exercem um forte condicionamento no transporte marítimo de petroleo, ja que mais de 60% tem de passar pelos chokepoints do Estreito de Ormuz, Golfo de Aden e Canal do Suez, zonas afetadas por constante conflitualidade e ataques de pirataria. O Shatterbelt Petrolífero e o fornecedor estrategico de petroleo do Bloco Europeu Marítimo Petro-dependente e cada vez mais do Bloco Asiatico Petro-dependente, e cada vez menos da zona do Novo Petroleo Ocidental. Com efeito, os EUA, tornaram-se em 2014 os maiores produtores de petroleo e gas do mundo, sendo prevista a sua autosuficiencia em 2020. Se a esta tendencia juntarmos a produçao da regiao do Novo Petroleo Marítimo, verificamos que o atual poder mundial do Shatterbelt Petrolífero, como do Heartland Petrolífero ve-se desafiado pelo Mundo Petrolífero Nao-Convencional. Por outro lado, as duas grandes regioes geoeconomicas dependentes do fornecimento externo de petroleo

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sao: • A Europa Marítima Petro-dependente, com uma elevada dependencia fornecimento de gas da Rus-

sia (como ja mencionado), dos fornecedores do Mar Caspio, Medio Oriente e Norte de Africa. A exceçao da Escocia e da Noruega, produtores excedentarios de petroleo e gas no Mar do Norte, o Bloco Europeu Marítimo Petro-dependente e extremamente dependente de fornecedores localizados no Shatterbelt Petrolífero e no Heartland Petrolífero. Embora com perspetivas de produçao petrolífera no Mediterraneo Oriental, a oposiçao política e publica europeias a exploraçao do gas de xisto, e as limitaçoes da produçao baseada em energias renovaveis, anteveem que a Europa manter-se-a exposta em elevado grau ao fornecimento externo de hidrocarbonetos. A ascensao das regioes do Novo Petroleo Marítimo e do Novo Petroleo Ocidental abrirao novas perspetivas nao so de diversificaçao de fornecimento, mas tambem de oportunidades de cooperaçao na inovaçao tecnologica a nível da geologia e engenharia que permitirao desbravar fontes alternativas de combustíveis fosseis.

• O Bloco Asiatico Petro-dependente, com destaque para a crescente consumo da India e da China.

Com efeito, esta ultima tornou-se o maior importador mundial de petroleo em Setembro de 2013, tomando o lugar que os EUA ocupavam ha quatro decadas, desde o 1º Choque Petrolífero. Igualmente crescentemente dependente do Shatterbelt Petrolífero e do Heartland Petrolífero, o Bloco Asiatico Petro-dependente testa a diversificar a sua captaçao de reservas para as regioes do Novo Petroleo Marítimo e do Novo Petroleo Austral. A China e a India tem estado muito ativas na entrada na exploraçao no Indico (Moçambique, Tanzania e Quenia), na Africa Ocidental (Angola) e no Brasil. Quanto a este ultimo, tem revelado alguma apreensao a crescente presença das estatais chinesas (Sinopec, CNOOC) no pre-sal brasileiro, manifestando receios de domínio da China na exploraçao petrolífera, em concorrencia com a Petrobras. Atente-se que recentemente o Brasil fez questao de «plantar» a Bandeira da Naçao na plataforma continental do pres-sal. Por sua vez, a China tem aumentado cada vez a sua presença ativa no Shatterbelt Petrolífero, com destaque para a preponderancia crescente no Iraque. Entretanto, dada a avidez de petroleo e gas do Bloco Asiatico Petro-dependente, e tambem expectavel que se tornem um dos grandes importadores da regiao Novo Petroleo Ocidental. Portanto, o Bloco Asiatico Petro-dependente sera, de certa forma, um competidor ou um cooperante do Bloco Europeu Marítimo Petro-dependente no acesso a reservas de hidrocarbonetos.

Por sua vez, a Regiao Geoestrategica Mundo Petrolífero Nao-Convencional e composta maioritariamente por democracias estaveis e relativamente estaveis, de baixo ou moderado risco geopolítico, conforme os dados do Worldwide Governance Indicators, do World Bank. Nesta regiao, uma parte importante das reservas petrolíferas tem a particularidade de estarem localizadas no territorio e em países costeiros, ou totalmente rodeados por mar (Australia). No limite, estamos perante um mundo marítimo dos hidrocarbonetos. A regiao geoestrategica do Mundo Petrolífero Nao-Convencional subdivide-se em tres regioes geoeconomicas produtoras petrolíferas, cada uma com o seu nucleo:

A do Novo Petroleo Ocidental, composta pelos EUA e Canada. O nucleo desta regiao geoeconomica e os EUA, dado o enorme poder energetico baseado nas recentes reservas de gas e petroleo de xisto (nao convencionais), possibilitadas pela inovaçao tecnologica, que assegurarao a autossuficiencia energetica em 2020, passando assim de maior importador de petroleo mundial para um dos tres maiores produtores, segundo as previsoes da Energy Information Administration. O Canada e um fornecedor importante de petroleo baseado nas areias betuminosas. As previsoes apontam para importantes reservas de petroleo e gas de xisto na tambem na Argentina (America do Sul). Esta regiao esta localizada, do lado Atlantico, junto a uma regiao dependente de petroleo (Bloco Europeu Marítimo Petro-dependente), e do lado Pacífico tambem podera fornecer, por via marítima, o Bloco Asiatico Petro-dependente. Com efeito, neste momento, encontra-se prevista a construçao de 17 terminais de GNL nas duas costas dos EUA, com a finalidade de exportar este hidrocarboneto. E previsível assim a criaçao de duas novas rotas comerciais marítimas gasíferas. Alem disso, os EUA estao a aproveitar a nova abundancia de petroleo e gas nao so para se reindustrializarem, mas tambem para exportar a tecnologia de exploraçao de hidrocarbonetos nao-convencionais,

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utilizando o seu poder científico-tecnologico para diminuir a influencia geoeconomica russa baseada no fornecimento de gas natural. Por exemplo, a China, potencial detentora de reservas significativas de shale gas e um dos principais dependentes da Russia, ja esta a desenvolver cooperaçao com os EUA para a exploraçao daquela fonte energetica. •

A do Novo Petroleo Austral, composta pela Australia, sendo esta o seu nucleo. A sua importancia prende-se com as enormes reservas existentes de petroleo e gas de xisto. Localizado no sul da Asia-Pacífico, rodeado por mar, o continente australiano posiciona-se, a medio prazo, como um importante fornecedor de petroleo e gas para o Bloco Asiatico Petro-dependente.

A do Novo Petroleo Marítimo, composta pelas Caraíbas, parte dos EUA (Golfo do Mexico), America Central (Mexico), Brasil e Africa Subsaariana, Ocidental e Oriental. O nucleo desta regiao geoeconomica e o Brasil, que ja e praticamente autossuficiente energeticamente devido as gigantescas reservas de hidrocarbonetos localizadas nas aguas profundas e ultra-profundas, a qual tambem e classificada como nao convencional devido a formaçao geologica onde se encontra (pre-sal) e a tecnologia inovadora utilizada na sua extraçao, criada pela Petrobras em conjunto com as empresas de serviços de petroleo e gas (OFS). A Petrobras tem como um dos seus objectivos exportar esta tecnologia para a exploraçao do pre-sal da Africa Ocidental, dado que os dois continentes partilham a mesma plataforma continental. Portanto, o elemento científico-tecnologico e estrategico para a projeçao do poder brasileiro na sua zona de influencia do Atlantico Sul.

Convem referir que 50% das novas descobertas de hidrocarbonetos realizadas na ultima decada estao localizadas na regiao geoeconomica do Novo Petroleo Marítimo, em países de língua portuguesa (Brasil 25%, Moçambique 20% e Angola 5%). Moçambique destaca-se por possuir uma das maiores reservas de gas natural do mundo, sendo considerado um «2º Qatar». Alem do Brasil, no Atlantico Sul, esta regiao integra os dois maiores produtores africanos subsaarianos de petroleo (Angola e Nigeria) e um dos maiores produtores africanos de gas natural (Guine Equatorial). Sendo assim, a regiao do Novo Petroleo Marítimo posicionase como uma das principais fornecedoras, no Atlantico, do Bloco Europeu Marítimo Petro-dependente, mas tambem do Bloco Asiatico Petro-dependente, nao so por via do Indico, mas tambem do Atlantico Sul. Com efeito, as empresas estatais chinesas tem realizado aquisiçoes agressivas de reservas de hidrocarbonetos na Africa Subsaariana, no Atlantico Sul brasileiro, angolano e nigeriano e no Indico moçambicano. Este constitui o modelo de dinamica de poder geopolítico da segurança energetica global , o qual conjugado com a analise dos relatorios e dados da AIE, EIA e da Rystad Energy, serviu de base a elaboraçao do Oil Security Perspectives 2018.

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Em parceria com

ANUÁRIO

OIL SECURITY PERSPECTIVES 2018

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