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GUIA CULTURAL

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Onde está o cinema?

Mais uma afetada pela série de consequências da pandemia, a indústria do cinema está mudando e, para nós, cinéfilos, pode representar uma mudança de cultura. Mas será que muda a natureza do cinema?

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Aproibição de aglomerações por conta da pandemia afetou radicalmente o setor de eventos coletivos. Shows, jogos de futebol, congressos, casamentos, sessões de cinema, enfim, tudo que nos acostumamos a compartilhar com um público no mesmo tempo e lugar. Depois de um período difícil de clausura, aos poucos, alguns eventos encontraram uma forma digital, segura e distanciada para ocorrerem: lives no YouTube para substituir shows ao vivo, retorno dos jogos de futebol sem público nos estádios, congressos realizados por videoconferência, casamentos caseiros e/ou mais íntimos, entre outras estratégias.

O cinema, por sua vez, passou por um dilema. Os serviços de streaming cresceram de forma radical em oferta e procura do público, especialmente por aquele que, tradicionalmente, procura assistir coisas inéditas toda a semana, dentre elas, os grandes lançamentos do cinema. Ao longo de 2020, foram comuns as notícias tristes de adiamento de lançamentos, gravações interrompidas, canceladas, ou mesmo “lançadas diretamente para o home video”. Este último o grande dilema, pois a alta indústria do cinema estava acostumada a um ritual específico que consistia em uma ordem de lançamento temporal: 1) cinema, 2) home video, 3) TV por assinatura, 4) streaming, 5) TV aberta.

Em 2021, com avanço da vacinação, mas ainda com restrições de aglomeração ou insegurança pelo público, grandes estúdios encontraram uma fórmula: lançar o filme no cinema e, ao mesmo tempo, no serviço de streaming exclusivo do estúdio, cobrando uma taxa adicional a da mensalidade já conhecida. Alguns acharam o movimento genial e confortável; alguns acharam ultrajante para arte do cinema, como é o caso do diretor Christopher Nolan, por exemplo, que considera um efeito ruim pegar um filme projetado para a grande tela e vê-lo ir direto para sala de estar. Aqui entra um paradoxo adicional: sempre houve um juízo de valor entre o filme lançado para o Cinema e o filme feito para TV. O próprio Oscar não aceita(va) inscrição de filmes não lançados na grande sala para, entre outras coisas, valorizar a originalidade desta arte feita para ser compartilhada.

Fato é que a indústria está se adaptando rapidamente a pandemia, um acontecimento que irá para os livros de história. Ela também já se adaptou outras vezes por questões tecnológicas, como o surgimento de outras mídias para ver audiovisual ou acontecimentos históricos em escala mundial e, nelas, muitos anunciaram sua morte. A grande questão é como fica a “experiência de cinema” que, claramente, é mais rica quando coletiva numa sala com a tela grande, mas tem algum valor numa tela um pouco menor. Alguns dirão que filme é filme, não importando se é num IMAX ou num smartphone, enquanto outros escolherão em que tela verão certos longas por um juízo de valor pré-estabelecido. A indústria do cinema achou sua fórmula de sobrevivência, e você, já pensou onde vai querer assistir aquele lançamento de 2021?

HILARIO JUNIOR é prof. de Comunicação e Design (Unochapecó). Graduado em Computação, Especialista em Cinema, Mestre e Doutor em Comunicação.

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