Lugar de mulher? Onde ela quiser? Cartilha Feminista

Page 1

Lugar de mulher?

Onde ela quiser! Cartilha feminista



Lugar de mulher?

Onde ela quiser! Cartilha feminista


Expediente Lugar de Mulher? Onde ela quiser! Cartilha feminista Organizada pelo Mandato Vereador Henrique Vieira - PSOL Niterói www.henriquevieirapsol.wordpress.com Textos: Júlia Silveira e Talíria Petrone Projeto Gráfico e Capa: Flávia Mattos Equipe do mandato: Elen Del Giudice, Vinicius Codeço, Vinicius Almeida, Matheus Rodrigues. Colaboradores: Daniel Nunes e Roberto Gatti Impressão: Gráfica EDG - 1.000 unidades - Distribuição gratuita O mandato agradece aos artistas que cederam, gentilmente, suas obras para a publicação. Todxs participam da exposição “Mulher, Luta e Arte: Não à violência”: Elisa Riemer (contracapa) é artista gráfica, atualmente, militante no Coletivo Feminista Maria Lacerda. Dentre as temáticas trabalhadas em suas artes, discute-se a questão da opressão sofrida por mulheres. pinterest.com/liriemer/ Regiane Bento (verso da capa) é professora de arte. (11) 98429-9350 Thais Linhares (verso da contracapa) é uma autora carioca de livros, roteiros e HQs. facebook.com/zinegrimoire e zinegrimoire.blogspot.com.br Rachel Vitorelo (pag.4) é ilustradora, designer e fotógrafa e propaga a vida de mulheres que fizeram história. facebook.com/rvitorelo e rvitorelo.com. Lissandro Garrido (pag.6): é fotógrafo há 12 anos. Valoriza a ampla gama de assuntos e objetivos a que a fotografia serve. Acumula vasta experiência em fotojornalismo, retrato e fotografia publicitária. Facebook.com/IsoFotografia Carlos Latuff (pag. 10) é cartunista e ativista político. latuffcartoons.wordpress.com Júlia Silveira (pag.17) é jornalista, pesquisadora e assessora de comunicação. www.juliasilveira.com.br Bruna Escaleira (pag.18) é uma jornalista e escritora paulistana, autora do livro de poesia entranhamento e integrante do coletivo de poesia erótica feminista Circular de Poesia Livre. facebook.com/entranhamento.


Sumário

5

Pra que feminismo?

7

Violência contra as mulheres Violência doméstica Violência física / Lesão corporal: Ameaça Assédio Sexual Estupro Assédio Moral e Violência Moral Violência patrimonial Violência obstétrica

9

Proteção À Mulher Lei Maria da Penha e Medida Protetiva de Urgência Como denunciar Delegacia de Mulheres Medidas protetivas de urgência Central de Atendimento à Mulher

13

Saúde, direitos reprodutivos e sexuais Aborto: por que legalizar? Mulheres mães: maternidade é um direito Saúde para combater as diferentes formas de opressão

15

Direito à cidade em Niterói: uma vida difícil para as mulheres OUC Choque de ordem Militarização e prostituição Educação Saúde Transporte Violência

19

Mandato Vereador Henrique Vieira a serviço da luta feminista Ampliação da licença paternidade dos servidores do município Combate ao machismo nas escolas Transporte gratuito para mães de crianças que estudam em escola pública Medalha Patrícia Galvão – Pagu Exposição “Mulher, luta e arte: Não à violência”


Raquel Vitorelo


Mandato Vereador Henrique Vieira - PSOL

Pra que feminismo?

Feminismo, diferente do que alguns dizem por aí, não é o contrário de machismo. Machismo é um sistema de dominação e feminismo é a luta por direitos iguais. Feminismo é a tentativa de superar as desigualdades entre homens e mulheres. É a afirmação dos princípios de liberdade e autonomia das mulheres. É a luta pelo fim da dominação de um gênero sobre outro. Se você concorda que homens e mulheres devem ter salários iguais, se você acredita que nenhuma mulher deva sofrer violência porque usa roupa curta ou se comporta de uma determinada maneira, se acha que homens e mulheres têm os mesmos direitos, você defende o feminismo. Desde crianças, somos ensinados sobre o que é “ser homem” e o que é “ser mulher”. Meninos usam azul; meninas rosa. Meninos brincam de lego, carrinho e dinossauro; meninas de boneca e casinha. Na adolescência, as meninas aprendem que não devem ficar com muitos meninos ou ficarão “mal faladas”; já os meninos que ficam com todo mundo estão apenas sendo “homens”. Esses são exemplos de reprodução do modelo patriarcal na nossa sociedade. O patriarcalismo, que é o domínio do gênero masculino sobre o feminino, é responsável pela reprodução do machismo nos dias atuais. E é por isso que a luta feminista é ainda hoje tão importante! Para que todos entendam que as tarefas domésticas são de responsabilidade de homens e mulheres igualmente; para que a violência contra as mulheres não seja todos os dias invisibilizada; para que as mulheres ocupem os espaços públicos e de poder tanto quanto os homens; para que as escolas tenham uma educação não sexista, que combata o machismo e valorize as mulheres; para que a discriminação e a violência não façam mais parte do cotidiano das mulheres! Por um mundo, como disse a filósofa e militante Rosa Luxemburgo, “onde sejamos socialmente iguais, humanamente diferentes e totalmente livres”!

5


Lissandro Garrido


Mandato Vereador Henrique Vieira - PSOL

Violência contra as mulheres

Violência é qualquer uso de força física, psicológica ou intelectual contra a vontade de alguém para agredir, constranger, incomodar, ameaçar ou impedir a manifestação dos próprios desejos e vontades. É uma ofensa física ou moral. A violência de gênero, violência sexista ou violência contra a mulher se dá quando um homem assume o papel de agressor, dominador ou disciplinador. Casos como esse acontecem com mulheres de diferentes cores, etnias, níveis de instrução e posição profissional, em todas as classes sociais, porém a maioria das vítimas é pobre e negra[1]. A agressividade masculina e a submissão feminina não são características naturais de cada gênero, mas sim comportamentos apreendidos através dos costumes, da educação e da socialização. Não existe nenhuma justificativa para que os homens controlem os desejos, as opiniões e as liberdades das mulheres em qualquer tipo de relação, seja afetiva, familiar ou profissional. A violência é uma grave violação aos direitos humanos e às liberdades essenciais e impede que a vítima exerça sua cidadania e autonomia.

Violência doméstica Violência doméstica e familiar contra a mulher é qualquer ação ou omissão baseada no gênero que lhe cause morte, lesão, sofrimento físico, sexual ou psicológico e dano moral ou patrimonial, em casa, na família ou em qualquer relação íntima de afeto. São agressões físicas, sexuais, psicológicas ou patrimoniais por parceiros ou ex-parceiros. Nesses casos, o agressor conhece a personalidade e os hábitos da vítima, o que a deixa ainda mais vulnerável aos ataques. Em geral, o objetivo é dominar e controlar a vítima, determinando o que ela deve fazer, falar e vestir, onde ir e com quem se relacionar. A mulher é tratada como propriedade do agressor. Muitas vezes esse tipo de violência pode ter consequências mais graves como sequelas e até morte (feminicídio). [1] Segundo dados do Mapeamento das Delegacias da Mulher no Brasil, a maioria das usuárias dessas instituições tem entre 19 e 34 anos, baixo nível de escolaridade e baixa qualificação profissional. A cor também é uma variável importante nesses casos: mais de 60% das mulheres assassinadas no Brasil entre 2001 e 2011 eram negras, segundo o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).

7


Lugar de Mulher? Onde ela quiser!

Violência física / Lesão corporal Qualquer agressão que ofenda a integridade do corpo e da saúde da vítima, inclusive podendo gerar sequelas, traumas, deformidades ou doenças permanentes, além de aceleração do parto e aborto.

Ameaça Ameaçar alguém com palavras, textos, gestos ou qualquer meio simbólico é crime no Brasil. É a forma mais comum de controlar e dominar as mulheres. Segundo a Lei nº 11.340/2006, a ameaça é entendida como uma das formas de violência psicológica. É uma tentativa de causar dano emocional e diminuir a autoestima, com prejuízo e perturbação do pleno desenvolvimento da mulher.

Assédio Sexual Perseguição insistente e constrangedora física e moralmente. Investidas, chantagens, exibição de pornografia, humilhação, insulto ou intimidação feitas por quem ocupa uma posição superior e utiliza seu poder para obter favores sexuais. Em 99% dos casos, as vítimas são mulheres e 52% das brasileiras afirmam já terem sofrido assédio sexual no trabalho.

Estupro Constranger e obrigar alguém a ter relações sexuais sem consentimento e vontade através da violência física, psicológica e ameaças diversas. Em caso de posterior gravidez, o aborto, nesses casos, é legalizado.

Assédio Moral e Violência Moral Comportamentos abusivos através de gestos, palavras e atitudes; formas diversas de constranger trabalhadores de cargos inferiores ou forçar suas demissões. No Brasil, as mulheres são as maiores vítimas desse tipo de violência e correspondem a 65% dos casos. Já a violência moral é qualquer ato no qual o parceiro ofende a reputação da vítima com mentiras, insultos e xingamentos.

8


Mandato Vereador Henrique Vieira - PSOL

Violência patrimonial Reter ou destruir objetos, instrumentos de trabalho, documentos pessoais, bens e recursos econômicos da vítima.

Violência obstétrica Gritos, constrangimentos, cortes e procedimentos dolorosos sem consentimento ou informação praticados por qualquer profissional de saúde no momento do parto. Outros exemplos desse tipo de agressão são: infusão para acelerar o trabalho de parto (ocitocina sintética), pressão sobre a barriga para empurrar o bebê (manobra de Kristeller), uso rotineiro de lavagem intestinal, retirada dos pelos pubianos (tricotomia) e exame de toque frequente para verificar a dilatação. Impedir procedimentos simples para aliviar a dor e a presença de um acompanhante na hora do parto também integram essa lista. A forma mais comum de violência obstétrica é agendar uma cesariana sem necessidade. Esse procedimento é muito comum, já que faz com que o parto seja mais rápido, menos trabalhoso, mais cômodo e rentável para os profissionais de saúde e os hospitais. Na rede privada de saúde, o agendamento ocorre em mais de 80% dos casos! Na rede pública o percentual é de 40%. De acordo com a Organização Mundial de Saúde, a cesariana só deveria ocorrer em 15% dos partos, já que só é indicada em situações nas quais a mãe ou o bebê correm risco de morte ou de traumas e sequelas pós-parto.

Perfil das vítimas de estupros:

88,5%

são mulheres

70%

46%

51%

são crianças e adolescentes

têm baixa escolaridade

são negras Fonte: SINAN/DASIS/SVS/Ministério da Saúde - 2011

9



Mandato Vereador Henrique Vieira - PSOL

Proteção à Mulher

Lei Maria da Penha e Medida Protetiva de Urgência A Lei 11.340/2006, conhecida como Lei Maria da Penha, foi criada com o objetivo de proteger as mulheres vítimas de agressão doméstica e familiar, seja violência física, psicológica, sexual ou patrimonial. O nome da lei vem de Maria da Penha Fernandes, brasileira que foi baleada por seu ex-marido enquanto dormia e depois mantida em casa e submetida a diversas formas de tortura. O tiro sofrido a deixou paraplégica. Hoje Maria é uma militante dos direitos das mulheres e do combate à violência de gênero. A lei vale para todos os tipos de relacionamentos afetivos, como maridos, companheiros, noivos ou namorados, mesmo que não morem juntos e pode ser aplicada após o fim do relacionamento. Também vale para casais homoafetivos, compostos por duas mulheres.

Como denunciar O primeiro passo é buscar ajuda e proteção na Delegacia da Mulher (DEAM), onde será feito um Boletim de Ocorrência (BO). O procedimento pode ser feito sozinha ou na companhia de pessoas de confiança. Essas informações são então levadas ao Ministério Público, que apresentará a denúncia à Justiça. Toda mulher tem direito a ser defendida gratuitamente por advogados da Defensoria Pública. O caso é julgado no Juizado da Violência Doméstica, nas Varas de Violência Doméstica e nas Varas Criminais, que vão determinar as medidas de proteção necessárias e a sentença ao agressor. Todas as vítimas de violência sexual têm acesso à pílula do dia seguinte, tratamento de doenças sexualmente transmissíveis e aborto legal em qualquer Hospital Público que ofereça esses serviços.

Delegacia de Mulheres As delegacias da mulher são subordinadas à Delegacia Geral da Polícia Civil de cada Estado, mas têm autonomia para oferecer auxílios diferentes. Em geral, os serviços são aconselhamento, mediação, investigação e

11


Lugar de Mulher? Onde ela quiser! atendimento à crimes de violência doméstica ou contra a mulher, como agressões, estupros, lesões corporais e assassinatos. É fundamental capacitar as policiais desse setor para que os atendimentos possam ser mais humanos, eficientes e adequados!

Medidas protetivas de urgência Em caso de necessidade urgente de proteção, o agressor poderá ser afastado do lar, perder a posse de arma e ser proibido de se aproximar da mulher e dos demais familiares. Quando há risco de morte, o juiz pode determinar que a mulher e seus filhos sejam acolhidos em Casas Abrigo ou outro lugar protegido, sendo o transporte de responsabilidade da Delegacia de Polícia.

Central de Atendimento à Mulher – Ligue 180

Perfil dos agressores de estupros:

98,2%

70%

65%

são homens

são parentes ou conhecidos da vítima

das agressões foram dentro de casa

49,6%

dos casos em que as vítimas adultas não conheciam o agressor, os estupros ocorreram principalmente em via pública

Fonte: SINAN/DASIS/SVS/Ministério da Saúde - 2011

12


Mandato Vereador Henrique Vieira - PSOL

Saúde, direitos reprodutivos e sexuais

É muito importante que os direitos reprodutivos e sexuais das mulheres sejam reconhecidos. Para isso, a autodeterminação reprodutiva e a liberdade sexual das mulheres devem ser garantidas. Também é fundamental que o sistema público de saúde parta de uma perspectiva de saúde integral da mulher, levando em conta os diferentes ciclos da sua vida, percebendo-a não apenas em suas atividades reprodutivas, como gestante e mãe, mas entendendo também sua sexualidade como constitutiva das relações humanas.

Aborto: por que legalizar? Em nosso país, uma das maiores causas de morte materna é o abortamento inseguro. Estima-se que mais de um milhão de abortos inseguros sejam feitos por ano, por mulheres, em geral, casadas, com filhos e que utilizam contraceptivos. No entanto, destas mulheres, cerca de 250 mil dão entrada em hospitais públicos com complicações, a maior parte pobres e negras, aquelas que não podem pagar por uma clínica clandestina com “melhor estrutura”. Muitas destas mulheres morrem sem atendimento adequado. Na vida real, as mulheres brasileiras que engravidam contra a própria vontade, planos ou desejos, prosseguem interrompendo gestações de forma clandestina e insegura, morrendo ou adquirindo sequelas que na maioria das vezes impedem os futuros planos reprodutivos. O movimento de mulheres tem como bandeira a necessidade de revisão da legislação punitiva sobre aborto, entendendo que a lei hoje se fundamenta em bases fundamentalistas, rompendo com o Estado Laico, que existe justamente para garantir a liberdade de ser, de crer e de não crer. Não se trata de ser contra ou a favor do tema. Ser contra o aborto é uma opinião pessoal, mas a criminalização das mulheres que pensam diferente é uma questão política, coletiva e de saúde pública. A criminalização destas mulheres e a ilegalidade do abortamento não impedem que, por diferentes

13


Lugar de Mulher? Onde ela quiser! motivos, estas mulheres interrompam sua gravidez. E elas estão morrendo todos os dias. É papel do Estado garantir a saúde e a vida destas mulheres, o direito a métodos contraceptivos nas unidades públicas de saúde e a autonomia das mulheres que optarem por interromper sua gestação de forma segura. A legalização e a regulamentação do aborto em alguns países, como o Uruguai, têm levado à redução de mortes maternas.

Educação sexual para prevenir, contraceptivo para não engravidar e aborto legal e seguro para não morrer Mulheres mães: maternidade é um direito É também papel do Estado guardar os direitos das mulheres que optarem pela maternidade, garantindo acesso a bons hospitais e pré-natal de qualidade. Assegurar o direito dessas mulheres serem mães é melhorar os serviços e políticas públicas, como oferta de creches, restaurantes populares, lavanderias públicas, garantia de licença maternidade e paternidade, transporte e moradia dignos. Além disso, é fundamental o fortalecimento de uma educação pública não sexista, que reveja o papel da mulher na sociedade e promova a divisão igualitária das tarefas domésticas entre homens e mulheres.

Saúde para combater as diferentes formas de opressão As mulheres pobres são as mais prejudicadas com o sucateamento do sistema público de saúde, especialmente aquelas que sofrem também outras formas de opressão. O Estado precisa garantir o uso do nome social para mulheres trans, além do direito à redesignação corporal, quando estas desejarem, e atenção básica para suas especificidades no sistema de saúde. As mulheres lésbicas têm de ter, pelo sistema público de saúde, a garantia de assistência reprodutiva, pois é direito de toda mulher ser mãe se desejar! As mulheres negras têm direito à vida: o índice de mortalidade materna entre as mulheres negras elas é altíssimo. É papel do poder público apresentar um planejamento para reversão deste quadro.

14


Mandato Vereador Henrique Vieira - PSOL

Direito à cidade em Niterói: uma vida difícil para as mulheres Niterói é governada com uma gestão mais comprometida com a especulação imobiliária e as empreiteiras do que com a construção de uma cidade de direitos, mais preocupada com o lucro de poucos empresários do que com os interesses públicos. Esse modelo de cidade-negócio prejudica os trabalhadores, porém mais ainda as mulheres pobres e trabalhadoras.

OUC A Operação Urbana Consorciada (OUC)[2], aprovada recentemente, prevê a revitalização de 5 (cinco) bairros. Na realidade, é o aprofundamento de um modelo de cidade-empresa. Ignora a necessidade de um programa de habitação popular em Niterói, encarecerá a vida na área central da cidade e potencializará a expulsão dos mais pobres destas regiões. As mulheres, que geralmente são as principais responsáveis pelo cuidado da casa, vão ficar mais longe da escola dos filhos e do trabalho, além de enfrentar o precário sistema de transporte público para se deslocar para uma moradia mais distante da área central, ficando mais sujeitas à violência.

Choque de ordem Para fortalecer este “modelo de cidade”, foi instituído o choque de ordem. Trabalhadoras ambulantes, como as da praça da Cantareira e as feirantes do Largo da Batalha, são impedidas de trabalhar. Quantas trabalhadoras ficaram e ficarão sem o sustento dos seus lares?

[2] A Operação Urbana Consorciada consiste em uma nova lei, aprovada no final de 2013, que regulamenta a chamada “revitalização” do centro de Niterói. Inspirada no projeto do Porto Maravilha do Rio de Janeiro, a OUC prevê a construção de inúmeros prédios comerciais novos, obras de infra-estrutura e uma mudança no perfil socio-econômico da região central da cidade de Niterói.

15


Lugar de Mulher? Onde ela quiser!

Militarização e prostituição As operações policiais no prédio da Caixa Econômica, conhecido reduto de prostituição, têm sido constantes e as prostitutas trabalhadoras têm feito graves denúncias de violência e violação de direitos por parte dos policiais. É fundamental debater este tema e a segurança das mulheres prostitutas, que não podem ficar submetidas à violência do Estado e ao estigma carregado de preconceito que subtrai sua dignidade.

Educação Quase 20% de crianças de até 6 anos não têm acesso à creche. Niterói tem uma das maiores redes privadas educacionais do Brasil. Creche é direito para mães, pais e filhos e o sistema educacional é um suporte fundamental à autonomia da mulher.

Saúde A única maternidade pública, a Alzira Reis, em Charitas, sofre constantes ameaças de ser fechada. Pensar a saúde integral da mulher em Niterói é difícil, já que não há hospital das mulheres e maternidades em boas condições. Uma das maiores causas de morte em Niterói, por exemplo, é o câncer de mama. A privatização, através da criação de fundações e organizações sociais, tem sido a resposta para o quadro atual da saúde e não a oferta do serviço público, universal e gratuito.

Transporte Além de caro - o aumento para três reais contraria um dos relatórios da CPI dos transportes, que indica o valor de R$2,45 -, os ônibus não circulam de madrugada e estão sempre cheios, especialmente aqueles com destino para áreas mais pobres. Sem dúvida, o aumento da violência contra as mulheres em Niterói está casado com a precarização dos transportes públicos.

16


Mandato Vereador Henrique Vieira - PSOL

Violência Niterói ocupa o 9o lugar no ranking do Estado do Rio de Janeiro no índice de violência contra a mulher. O número de estupros em Niterói, segundo o ISP (Instituto de Segurança Pública) aumentou 250% em 2012 comparado aos quatro anos anteriores. A cada dois dias uma mulher é estuprada na cidade. É fundamental que o poder público garanta a divulgação sobre os direitos das mulheres e orientação às vítimas de violência. É necessário criar/ampliar estruturas de acolhimento e acompanhamento da mulher vítima de violência, sobretudo no sistema de saúde e assistência social. São fundamentais também iniciativas que ajudem na prevenção da violência contra a mulher, a partir de campanhas, projetos educacionais, iniciativas culturais que combatam o machismo e a violência contra as mulheres de um modo geral.

Júlia Silveira

17


a garota do hímen ½ rompido lá vai a garota do hímen meio rompido abalado, mas resistente resquício de honra confuso - você é virgem? - mais ou menos. -? lá vai ela, vontade errante metade, rompeu com um a outra, perdeu com outro o restinho, foi-se com um terceiro - quem tirou sua virgindade? - ninguém. - então ainda é donzela? -? lá vai a garota, agora sem hímen foi-se a película, nasceu a pele de corpos em corpos, conhece seu próprio amarras alheias já não lhe seguram - afinal, você perdeu a virgindade? - não, ganhei a liberdade. - e foi com quem? - comigo. lá vai ela, mundo afora nem tente acompanhá-la hímen rompido integridade intacta

Bruna Escaleira entranhamento, Editora Patuá, 2014


Mandato Vereador Henrique Vieira - PSOL

Mandato Vereador Henrique Vieira (Psol-Niterói) a serviço da luta feminista Desde o seu começo, em 2013, o mandato do vereador Henrique Vieira (PSOL – Niterói) tem apoiado a luta pela ampliação dos direitos e valorização das mulheres na cidade, combatendo todas as formas de machismo e opressão de gênero. Conheça algumas das nossas iniciativas.

Ampliação da licença paternidade dos servidores do município Já é lei a ampliação da licença paternidade dos servidores de Niterói, de 5 para 30 dias, proposta pelo vereador Henrique Vieira, em coautoria com a bancada do PSOL e outros vereadores. A Lei Orgânica Municipal 40/2014 garante mais tempo para que os pais dividam com suas companheiras o cuidado com a casa e as crianças recém-nascidas, evitando que as mães fiquem sobrecarregadas durante a recuperação pós-parto. A medida leva em consideração ainda a importância do pai na primeira infância dos seus filhos. É um primeiro passo para redução da desigualdade de gênero.

Combate ao machismo nas escolas O Projeto de Lei Nº 00018/2014 institui a campanha permanente de combate ao machismo e valorização das mulheres nas escolas públicas de responsabilidade da Prefeitura de Niterói. A proposta é de que cada unidade escolar crie uma equipe multidisciplinar, sem prejuízo da autonomia político-pedagógica dos educadores e das escolas, com a participação de docentes, estudantes, pais e voluntários, para a promoção de atividades didáticas, informativas, de orientação e conscientização sobre os direitos das mulheres.

19


Lugar de Mulher? Onde ela quiser!

Transporte gratuito para mães de crianças que estudam em escola pública O Projeto de Emenda à Lei Orgânica Nº 50028/2013 garante a gratuidade nos transportes coletivos urbanos para mães de crianças regularmente matriculadas na rede pública de ensino. Este projeto parte do princípio de que é responsabilidade do Estado garantir o acesso e a permanência em relação à educação em todos os níveis.

Medalha Patrícia Galvão – Pagu Protocolamos a proposta da medalha Patrícia Galvão – Pagu para ser entregue aos cidadãos e cidadãs que se destacarem na defesa dos direitos das mulheres e da luta feminista. Patrícia Rehder Galvão, conhecida pelo pseudônimo de Pagu, foi uma escritora, poeta, diretora de teatro, tradutora, desenhista e jornalista brasileira. Teve grande destaque no movimento modernista iniciado em 1922, apesar de só ter 12 anos de idade na época. Militante comunista, foi a primeira mulher presa no Brasil por motivações políticas. Nasceu em São João da Boa Vista, em 1910, e morreu em Santos, em 1962.

Exposição “Mulher, luta e arte: Não à violência” Exposição Mostra gratuita de poemas e artes visuais promovida na Câmara Municipal de Niterói com o objetivo e de dar visibilidade ao Dia Internacional de Luta Contra a Violência Sobre a Mulher, 25 de novembro. Todos os artistas que enviaram seus trabalhos em inscrição aberta e gratuita foram contemplados e seus direitos sobre as obras foram mantidos. A exposição ficou em cartaz na Câmara Municipal de Niterói, dos dias 24 a 28 de novembro de 2014 e continua online no endereço eletrônico:

mulher, luta

arte: não à violência

www.mulherlutaearte.wordpress.com

20



Elisa Riemer


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.