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O exemplo das favelas.........................................................................................................................23
SUMÁRIO
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02. Favelas x Periferias........................................................................................................................... 10
03. Os pioneiros da crítica.......................................................................................................................12
04. Projetos de arquitetura.......................................................................................................................13
05. O contexto de Brasília........................................................................................................................15
06. A rodoviária......................................................................................................................................17
07. O exemplo das favelas.........................................................................................................................23
10. A proposta........................................................................................................................................37
11. Referências bibliográficas......................................................................................................................50
INTRODUÇÃO
Este trabalho procura acrescentar a um assunto relevante para o meio da arquitetura e urbanismo que é o estudo do espaço das favelas e das periferias ou como são popularmente chamadas, “quebradas”. É necessário entender que existem condições globais que fortalecem a permanência e a propagação desse tipo de espaço. A explosão das cidades e a população urbana superando a rural é uma realidade, tendo o espaço urbano absorvido quase dois terços da explosão populacional do mundo desde 1950. A maior parte do aumento populacional previsto ainda até 2050, se dará nas áreas urbanas dos países em desenvolvimento (DAVIS, 2006).
Os resultados dessa nova ordem urbana se darão, entretanto por um incremento da desigualdade tanto dentro de variadas cidades quanto entre elas (DAVIS, 2006). Forças que empurram as pessoas para fora do campo e um crescimento urbano rápido no contexto de desvalorização da moeda e redução do estado fazem parte da fórmula permanente de surgimento de favelas. O mercado habitacional formal dos países menos desenvolvidos mal oferece 20% do estoque necessário de residências, deixando nas mãos da informalidade e da ilegalidade a maioria das residências das cidades do hemisfério sul dos últimos trinta anos (DAVIS, 2006).
Mais dados que reforçam a importância da problemática das favelas, são que, desde 1970, o crescimento das favelas em todo hemisfério sul vem ultrapassando o próprio crescimento urbano. Sendo que segundo estudos urbanísticos sobre a Cidade do México do final do século XX examinaram que até 60% do crescimento da cidade resulta de pessoas, principalmente mulheres, que constroem suas próprias moradias em terrenos periféricos sem uso. Sobre o panorama brasileiro, as favelas de São Paulo significavam 1,2% da população em 1973, mas em 1993 já eram 19,8% (DAVIS, 2006).
Para lidar com o problema da habitação e urbanização de favelas no Brasil temos um longo processo de programas governamentais e projetos de arquitetura que visaram atender a essas demandas tão presente no cenário urbano brasileiro. Entretanto desde o Banco Nacional de Habitação (BNH), até o Programa Minha Casa Minha Vida (PMCMV), é possível encontrar pendencias quanto ao atendimento das demandas da população e na boa qualidade do habitat.
Um exemplo que pode ser citado aqui é o desenvolvimento urbanístico da Cidade de Deus ao longo dos anos. Esta que inicialmente se tratava de um conjunto habitacional, fazia parte de um planejamento do governo do Estado da Guanabara que, na década de 1960, buscava um modelo para o Programa Habitacional. Coube à Companhia de Habitação Popular do Estado da Guanabara (Cohab-GB) a incumbência da concepção e da realização do projeto urbanístico inovador, solicitado pelo então governador Carlos Lacerda e financiado pelo Banco Nacional da Habitação (BNH). Como analisa Machado (2016, p.81), os arquitetos responsáveis pelo projeto previam uma hibridização de conjuntos habitacionais aos moldes americanos com técnicas brasileiras de construção e acreditavam que essa interação iria legitimar o estilo estrangeiro no país.
O espaço da Cidade de Deus mesmo oriundo de um projeto habitacional regularizado seguiu naturalmente através da auto-organização e da autoconstrução para uma relação público-privado menos enrijecida. Trouxe para si uma dinâmica existente na favela e também na cidade tradicional, onde o comércio acontece no térreo e a moradia no piso superior, não à toa ganhando posteriormente também a alcunha de favela. Por isso me permito aqui voltar um passo atrás para entender antes do desenho da prancheta, característico dos assentamentos perifericos formais, a configuração natural que possui o espaço da favela, suas origens e potencialidades.
O trabalho percorre uma linha que investiga através das ilustrações de cenas urbanas e também sob a ótica dos críticos do urbanismo formal, as lições que podemos tirar do espaço da favela. Entende uma unidade cultural entre favela e periferia na constituição da ideia de “quebrada”, através dos modos de vivenciar a cidade comuns a esses dois tipos de espaço que abrigam as pessoas segregadas das partes privilegiadas das cidades. Pessoas essas em sua maioria negras e pardas, um dado presente no Distrito e Federal e na maioria das metrópoles do país, sendo assim inevitável a adoção de uma ótica etnográfica no trabalho.
Segundo Clemente e Silva (2014, p.87), a segregação socioespacial é uma dimensão que aproxima os territórios negros da noção de gueto, mesmo que na história do país inexistam leis segregacionistas, é possível notar formas indiretas de sparação entre os considerados indesejáveis, consolidadndo uma política de afastamento do negro das regiões tidas como as melhores (SILVA, 2012 apud CLEMENTE e SILVA, 2014, p.88). Clemente e Silva (2014, p.89) trazem ainda a noção de sociabilidade desenvolvida por George Simmel, mais que finalidades econômicas, o sentimento de pertença, o fato de “estarem sociados” e a “satisfação derivada disso” (SIMMEL, p. 168) são os elementos que possibilita práticas de sociabilidade. O que ajuda a compreender os processos culturais que conduziram à elaboração de importantes instituições nos territórios negros: clubes, terreiros, escolas de samba.
Ao fim concluo com uma proposta do que poderia ser essa quebrada utópica, um redesenho que mantém o que já funciona e tenta suprir as demandas existentes nas quebradas. Reforçando no projeto a manutenção de alguns desses espaços de sociabilidade da periferia.
ORIGEM DO NOME
A ideia inicial surge de um projeto de história em quadrinhos produzida por dois autores oriundos de Cidade Ocidental-GO, cidade periférica do entorno do Distrito Federal, o ilustrador Oberas e Angie Pereira, o responsável pelo roteiro da hq. A hq Logunn, como pode ser identificado já no significado do título escolhido para a obra - Uma versão estilizada para o nome do orixá Logun Edé, orixá guerreiro e caçador- , se trata de uma história protagonizada por personagens negros e se desenvolve através de narrativas comuns a vivência das populações negras na periferia.
Embora os projetos do quadrinho Logunn e desse trabalho final de graduação tenham ponto de partida em comum, os dois projetos possuem identidades próprias e distintas em vários pontos. O desenvolvimento do projeto do trabalho final de graduação, segue um caminnho que fez com que sua forma final tornasse esse projeto de cidade diferente das ideias propostas para o cenário e ambientação da cidade da Hq Logunn de Oberas e Angie.
Capa do quadrinho Logunn, ilustração por Oberas.