Urban Mag

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JUNHO / JULHO 2010

Design Comunicação em Portugal HU — Artista Visual

Revista de Cultura Urbana


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Editorial por Trevenen morris

g r a nt h a m

Os dias quentes passam devagar e as noites convidam a encontros com os amigos e a longos passeios por ruas desconhecidas. O Verão está aí e não há como negá-lo. Rendemo-nos a ele: seja num concerto de jazz num verdejante jardim, seja numa pintura gigantesca numa agitada avenida de Lisboa, seja num dos festivais de música a acontecer um pouco por todo o país, seja, simplesmente, num desejado mergulho em águas salgadas, a usufruir do merecido descanso. É Verão. O sol ofusca, a boca seca, toda a roupa é demasiada. E a cidade muda por esta altura, mas há sempre surpresas a despontar em locais inesperados. Nestes meses, em que os passos apressados se acalmam e as ruas parecem mais desertas que o normal, a Urban Mag traz-te uma edição repleta de roteiros e descobertas para o Verão. Porque o corpo pode tar em descanso, mas o cérebro não pára na busca de novas sensações. Refugia-te do calor e deixa a tua mente refrescar-se nas páginas seguintes. °

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TYPOGRAPHY AS AN EXPRESSIVE ART IN WHICH THE EMOTIONAL CONTENT OF IDEAS IS REFLECTED IN A MANIPULATION OF THE FORM.


Junho/Julho

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Tipos de Letra escolhidos para este número Brandon grotesque Design de Hannes Von Döhren Calluna Design de Jos Buivenga Capricorn OSF

Director Flávio Tico flaviotico@urbanmag.com

Editor Hans Dieter Reichert

Assinaturas JMTOSCANO Rua Rodrigues Sampaio, 5 2795-175 Linda-a-Velha Tel.: 000 000 000 – Fax: 000 000 000 assinaturas@urbanmag.com

info@urbanmag.com

Colaboradores Nuno Ribeiro Trevenen Morris -Grantham Paulo T. Silva José Bártolo José Luís Neto Luís de Andrade Peixoto Pedro Gadanho Pedro Lapa Pedro Portugal Pedro dos Reis Rui Ribeiro Sílvia Guerra Susana Pomba Tatiana Macedo Teresa Pearce de Azevedo info@urbanmag.com

Administração José Pedro Paço d’Arcos info@urbanmag.com

Conselho Consultivo João Esteves de Oliveira Luís Serpa Manuel Castilho info@urbanmag.com

Propriedade Flávio Tico flaviotico@urbanmag.com

Sede Rua Artilharia, nº 00 – 1º dto. 1250-000 Lisboa Tel.: 000 000 000 – Fax: 000 000 000

Design de Jens Gehlhaar Glyphyx one NF

Produtor Editorial Maria Correia

Design de Nick’s Fonts

info@urbanmag.com

Code Bold Code Light

Direcção de Arte & Design Flávio Tico

Design de Font Fabric

flaviotico@urbanmag.com

Stencil

Produção Gráfica Mr. Print

Design de Guerry Powell

Impressão e Acabamentos Fergráfica - Artes Gráficas S.A. Distribuição VASP MLP Quinta do Granjal – Venda Seca 2739-511 Agualva Cacém Periocidade Bimensal

info@urbanmag.com

Revisão de Conteúdos Raquel Dionísio info@urbanmag.com

Marketing e Publicidade Alexandre Lopes info@urbanmag.com

Tiragem 0 001 exemplares Registada com o Nº ISSN 0000-0000 É expressamente proibida a reprodução da revista, em qualquer língua, no todo ou em parte, sem a prévia autorização escrita de URBAN MAG. Todas as opiniõesexpressas são da inteira responsabilidade do autor. Depósito Legal: 000000/00

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8 1 Editorial Por Trevenen Morris-Grantham 3 Ficha Técnica 8 Design Comunicação em Portugal Por Nuno Ribeiro 16 HU — Artista Visual Por Flávio Tico 22 Destaques de Agenda 26 Design for Life

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Será o Design de Comunicação Português devidamente conhecido e reconhecido?


por

Nu no

Rib e iro

A história do Design de Comunicação português, dos últimos 100 anos, ainda não parece ter dado os passos que permitam conhecer alguns dos seus autores marcantes. Urge assim iniciar-se o processo de divulgação da sua obra através do estudo sistemático da sua produção, catalogação das obras e análise do seu enquadramento no contexto da Sociedade Portuguesa nas vertentes cultural, ideológico e social. O contexto cultural português tem ignorado os designers portugueses que, pela qualidade e dimensão da sua obra, deveriam merecer uma maior divulgação e reconhecimento, quer em ambiente académico quer em termos sociais, excluindo duas excelentes exposições da Fundação Calouste Gulbenkian, Sebastião Rodrigues e Daciano da Costa em 2001. O presente trabalho pretende ajudar a suprir as dificuldades detectadas e contribuir, deste modo, para trazer para o seu lugar alguns dos criadores mais significativos. O foco é feito em quatro designers/ateliers, isto porque os exemplos escolhidos atravessam todo o século XX, permitindo assim uma contextualização mais fundamentada através das influências e formas de trabalho. Urban Mag 7 JUNHO/JULHO 9


1. João Câmara Leme O Homem que Ninguém Via Editora Portugália 2. Manuel Pereira da Silva Da gruta ao Cheltenham Edição do Autor 3. Sebastião Rodrigues Arte do Índio Brasileiro Fundação Calouste Gulbenkian 4. João Câmara Leme O Idiota Editora Portugália

I NÍCIO D E SÉ CULO XX A USPICIOSO A entrada de Portugal no Século XX no que toca à publicidade e às artes gráficas foi auspiciosa sem dúvida. “A transição do século ocorre em plena explosão das artes ilustrativas, mercê do desenvolvimento das técnicas de impressão tipográfica, permitindo a diversidade de cor e a utilização de imagens em complemento do texto”. Os novos processos de impressão irão proporcionar outras abordagens ao material impresso, aplicado das mais diversas maneiras e establecendo novas formas de materializar a comunicação. Cartazes, periódicos, calendários, agendas, bilhetes-postais e até os selos, desenvolvem-se nesta época pelas possibilidades de produção que chegam a Portugal, no entanto a enorme carência de agências especializadas faz com que de uma forma desordenada sejam os próprios anunciantes a contratar desenhadores para que estes “pintem” os seus anúncios. Apesar deste atraso latente e contínuo, o País iniciou um caminho totalmente paralelo em relação ao resto da Europa. Foi no 1º Salão de Humoristas que surgiu o nome de Almada Negreiros. Sem grande margem de erro pode-se concluir que Almada Negreiros é antes de mais um Designer Gráfico, terminologia que naquela época 10 Urban Mag 7 JUNHO/JULHO

não existia, apenas reconhecido como publicitário ou “aqueles da publicidade”. Aliás, é o próprio que se reconhece como desenhador: “O desenhador não era nenhum título nobre, não foram eles que puseram o nome desenhador Almada Negreiros no “Orpheu”, fui eu, que lá coloquei o nome de desenhador”. Os desequilíbrios económicos e políticos do ínicio de século com a queda da monarquia e a instauração da república , levaram a que jovens artistas e poetas ganhassem asas na criação Modernista Nacional, muito influenciados pelos ecos italianos e franceses. Almada deu o rosto para a polémica, para a provocação, muito por culpa de Guilherme Santa-Rita que no regresso de Paris onde viu recusado o ingresso na École des Beaux-Arts, os dois promoveram a 1ª edição de “Portugal Futurista (1917), a mais coerente manifestação nacional da corrente fundada por Marinetti. Mas, meses mais tarde (1918), morre Santa-Rita. A família cumpre-lhe a vontade destruindo as suas obras, apenas sobrevivendo uma notável Cabeça de data incerta e autoria não absolutamente confirmada”. Também em 1918 morreu Amadeu de Sousa Cardoso, o único artista português que viveu directamente a aventura Cubista. O impeto do ínicio do século perdeu assim dois

nomes importantes para uma melhor afirmação internacional da pintura portuguesa. No entanto, outros nomes se destacaram desde o Salão dos Humoristas, como sejam os nomes do pintor e desenhador Jorge Barradas (18941971), cujas capas desenhadas para a ABC se transformaram em referência incontornável nos anos 20; o ilustrador Stuart Carvalhais (1887-1961), um dos pioneiros da banda desenhada em Portugal; Bernardo Marques (18981962), um dos mais originais desenhadores e ilustradores de revistas da época; o ilustrador Emérico Nunes (1888-1968), o humorista português mais presente no estrangeiro; e o ilustrador António Soares (1894-1978) que se destacou pela estilização que fazia nas figuras. Caricaturas e ilustrações povoam as peças gráficas. “Abundam as encomendas de jornais e revistas: apesar da intensificação da fotografia, é o desenho que melhor se adequa à definição do estilo da década, como mostra a ABC nas suas capas”. Marca e muito esta época a vinda para Portugal de Fred Kradolfer em 1924 que, segundo Maria Keil, em conversa recente que tivemos o privilégio de realizar, a artista afirma como “o Fred trouxe qualidade ao trabalho gráfico, trouxe um ar fresco, trouxe inovação, no entanto isso não quer dizer que fossemos bem vistos”.


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7 1. João Câmara Leme O Sino Editora Portugália 2. João Câmara Leme Um povo miúdo (As abelhas) Edição de Eduardo Sousa d’Almeida 3. Sebastião Rodrigues Será crime ser Judeu? Editorial Minerva 4. João Câmara Leme Palmeiras Bravas O livro de bolso 5-6. Sebastião Rodrigues Companhia de Teatro NO Fundação Calouste Gubelkian 7. Victor Palla Tempo de Guerra Editora Vasco Pratolini 8. Victor Palla Histórias de Amor Colecção de Victor Palla e Aurélio Cruz

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A C O M U N IC A Ç ÃO AO S E R V I Ç O D O R EGIME

A década de 30 é marcada pela nova ideologia política do Estado Novo, esta nova imagem pretendia acabar com o clássico em Portugal Antigo e projectar a Nação para o futuro através de propaganda bem orientada e construída. Surgiu neste contexto o SPN – Secretariado de Propaganda Nacional, criado em 1933, mais tarde, em 1945, passaria a ser designado por SNI – Secretariado Nacional de Informação. Liderado por António Ferro (1895-1956), os Objectivos podiam resumir-se numa expressão, como escreveu Margarida Acciaiuoli no Anuário de Design 2000, 2(...) era preciso modernizar a imagem do país e humanizar a figura do Chefe. Tratava-se de pôr fim à velha ideia de Portugal-História, projectar o presente e demonstrar os propósitos de novo regime.” No espaço de 10 anos assistiu-se a quatro exposições que denotavam esta intenção com resultados muito positivos, referimo-nos às exposições de 1934 no Palácio de Exposições do Parque Eduardo VII em Lisboa; 1937 Exposição Internacional de Paris; 1939 Exposição Internacional de Nova Iorque e 1940 Exposição do Mundo Português em Lisboa. Para a concretização destas iniciativas ao serviço do regime muito contribuíram Fred Kradolfer e José Rocha que nesta altura asseguravam a modernização das artes em Portugal. No entanto, o nível de iliteracia era muito elevado e o regime necessitava de criar um discurso visual simples, o que fez com que o espaço

à ilustração fosse por vezes muito superior ao tipográfico. José Rocha funda em 1936 a ETP – Estúdio Técnico de Publicidade, tendo sido responsável por um conjunto de trabalho muito significativo da época, como foram as montras do edifício do Diário de Notícias, as montras do SNI no Palácio Foz (Restauradores), os inúmeros rótulos de vinho de José Maria da Fonseca, ou as já mencionadas exposições de Paris e Nova Iorque, trabalhos que faziam deste estúdio uma referência nacional. Alguns dos nomes mais importantes da altura trabalharam aqui: Fred Kradolfer, Emérico Nunes, Carlos Botelho, Francisco Keil e Maria Keil e, como a própria menciona, “era um grupo de bons rapazes, eu andava atrás do meu marido o Xico, com X, fazíamos umas coisas que por muitos eram criticadas, por exemplo o Abel Manta dizia que fazer azulejos era coisa de pedreiro e o trabalho gráfico era meramente negócio desprezível”. O apogeu desta “modernidade” tem data marcada com a exposição do Mundo Português em 1940, organizada por António Ferro. Conta com a participação de Almada Negreiros, Jorge Barradas, Martins Barata, Fred Kradolfer, Stuart de Carvalhais, Bernardo Marques, Carlos Botelho, Tomás de Melo (Tom), Maria Keil, Sarah Afonso, Emérico Nunes, Manuel Lapa, permitindo assim uma coexistência de estilos e expressão. Pode-se afirmar que o SPN/SNI deram um enorme incremento Às artes gráficas e per-

mitiram uma notória evolução na comunicação gráfica nacional. “Praticamente, todos estes artistas de uma forma ou de outra desenvolveram actividades criadoras, pioneiras do design em Portugal. Bernardo Marques; António Soares; Jorge Barradas; a partir de 1927, Fred Kradolfer; de 1928, Tomás de Melo (Tom); António Pedro (galeria de Arte UP, fundada, em 1932, em conjunto com Tom e Castro Fernandes) e Roberto Araújo, constituem nomes fundamentais do que se pode considerar uma “primeira geração” do design gráfico português”. Enquadrado numa geração intermédia do Design Nacional, Frederico George viria a ter um papel muito importante na fundamentação e na introdução do Design como disciplina de direito próprio ao longo dos anos 50. “ Frederico George teve como mestres, primeiro o Pintor António Tomás da Conceição Silva (1869-1958), posteriormente António Soares. Nos anos 30, colaborou regularmente no atelier deste último, participando na 'aventura' a que hoje chamaríamos de 'exercício de design'. Nos finaios da década de 30 iniciou a sua actividade de docente, primeiro na Escola Industrial Marquês de Pombal e depois na Escola de Artes Decorativas António Arroio que na década de 40 e 50 assumiu um papel muito importante para as gerações vindouras de designers e arquitectos nacionais. Em 1918 viajou para os EUA ao abrigo de bolsa de estudo, Urban Mag 7 JUNHO/JULHO 13


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9 1. Victor Palla Cartas e Poemas ao Capitão Paulino 2. Sebastião Rodrigues Três edições da Revista Almanaque Revista Almanaque 3. Sebastião Rodrigues OLIVIA - OLIVIA Editora Odisseia 4. Victor Palla Os melhores contos de Somerset Maugham Editora arcádia 5. Victor Palla Antologia do conto moderno Editora arcádia 6. Victor Palla Pontos de referência Editora arcádia 7. Victor Palla A dança e o ballet no passado e presente Editora arcádia 8. Sebastião Rodrigues VERBO Enciclopédia Luso-Brasileira de Cultura 9. Victor Palla Um Homem na América Editora arcádia 10. Victor Palla Amor não é pecado Editora arcádia

aí contactou com Walter Gropius e Mies van der Rohe, concebeu e entendeu o design como uma disciplina globalizadora, “a arquitectura vem através do design, a arquitectura como uma “braço” do design. Regressou a Portugal para continuar a leccionar tanto na Escola António Arroio como posteriormente na ESBAL. “Mas, acima de tudo, estava o seu atelier na Rua da Escola Politécnica, local priveligiado de reflexão”. Neste espaço que Frederico George designou como “entre os desígnios do design em Portugal” e até ao inicio dos anos 60, aqui se encontravam os colegas, discípulos, colaboradores em verdadeira tertúlia. Entre eles, três nomes muito importantes que atravessaram a segunda metade do século XX com enorme importância na afirmação do Design nacional, Daciano da Costa, Sena da Silva e Sebastião Rodrigues. “A todos eles Frederico George forneceu verdadeiras experiências de design básico, estimulando-os para o design industrial, criando-lhes apetência para a profissão de designer, através de ensaios que iam desde a cerâmica à litografia, passando pela realização de exposições e montras”. Por esta altura ainda não existia nenhuma escola com curso de Design, era na prática profissional e junto dos mestres da “primeira geração” que ganhavam experiência; deve-se a Daciano da Costa e a Sena da Silva a sistematização teórico-académica que provocou a necessidade de desenvolver actividades pedagógicas

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que potenciaram o seu trabalho profissional e os fundamentos do ensino do Design. Daciano da Costa, apoiado numa equipa em que encontrámos os nomes de Frederico George, Roberto de Araújo e Lagoa Henriques, deu, de facto, um curso de design básico, por onde passaram nomes hoje fundamentais daquela que é já a “terceira geração”, entre outros, José Brandão (1944-), José Moura George (1944), Cristina Reis (1945-). Os anos 60 foram fundamentais para a história do Design em Portugal. Foi uma década de afirmação culminando com a fundação da primeira escola de Design em Portugal, o IADE, em 1969. O nascimento do Design em Portugal aconteceu de forma empírica e fora dos quadros tradicionais do ensino académico. “A Escola António Arroio perdera entretanto o dinamismo que conhecera nos anos 40-50, e esse papel viria a caber à sociedade Nacional de Belas Artes onde foi criado, em 1965, o Curso de Formação Artística (CFA). Programado por José-Augusto França… O CFA/Técnicas de Design tinha a duração de três anos e proporcionava a especialização em três áreas do design: Comunicação Visual, Equipamento e Objectos ou Textéis/Moda. A esta sucedeu-se o IADE (Instituto de Artes Visuais e Design), criado em 1969, primeira escola vocacionada para o ensino específico e continuado do design, e em 1973 seria ainda criado o AR.CO”. O ensino público, alheio a estas iniciativas, apenas reconhece o

Design como uma disciplina autónoma em 1975 com a criação do Curso de Design Gráfico na Escola Superior de Belas Artes do Porto. A afirmação de nomes como Fernando Azevedo, Victor Palla, Sebastião Rodrigues e António Garcia são alguns exemplos de designers que viram o seu trabalho reconhecido nacional e internacionalmente. Sebastião Rodrigues constou da primeira edição da Who's who in Graphic Arts, publicada em 1962, pela Graphic Press e também na segunda edição publicada em 1982 pela De Clivo Press. Os primeiros anos da década de 70 ficaram marcados por duas exposições do Design português organizadas por Sena da Silva nos anos de 1971 e 1973 e que reclamaram para o Design, através de manifesto informal, a responsabilidade de dar resposta a problemas sociais sérios, carregando em si uma tomada de posição política. A acção da Cooperativa Praxis liderada pelo pintor e designer Tomás de Figueiredo (1930-1994), foi também determinante para o Design Gráfico. Aqui destacaram-se Madalena Figueiredo (1946-), Filipa Tainha (1946), Alda Rosa (1936-), Luís Carrolo (1946-), Assunção Cordovil (1947-) e, a partir de 1973, Robin Fior. Em destaque no campo do design gráfico estiveram também João Machado e José Brandão e, numa fase posterior, Henrique Cayatte, com assinalável projecção nos anos 80 e 90. As mudanças avizinhavam-se, o 25 de Abril estava à porta e com ele muita coisa mudou.°

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HU A RT ISTA V ISU AL por

Fláv io

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HU é Hugo Travanca um jovem talento que tem uma enorme paixão pelo que faz, é licenciado em Artes Plásticas pela Universidade de Évora e com uma Pós-Graduação em Comunicação e Imagem pelo IADE, onde apresentou como projecto uma empresa de intervenção artística a Arte Nossa. Para além do seu percurso ligado à Pintura, também gosta de diversificar e realiza projectos nas áreas de Design Gráfico e Multimédia, onde já ganhou menções honrosas e alguns concursos públicos.

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1 Página de Apresentação Untitled Técnica mista sobre cartão 160x180 cm Ano 2009 Colecção Momento Raso 1. Untitled Acrílico e pastel de óleo sobre cartão 110x113 cm Ano 2010 Colecção Momento Raso 2. Untitled Pastel de óleo e acrílico sobre cartão 99x141 cm Ano 2010 Colecção Momento Raso 3. Untitled Acrílico e pastel de óleo sobre cartão 100x80 cm Ano 2009 Colecção Momento Raso 4. Untitled Acrílico e pastel de óleo sobre cartão 100x80 cm Ano 2009 Colecção Momento Raso

1. Eras daqueles miúdos que desenhavam em todos os papeis, nos cadernos, mesas? Sei que desenhava as paredes e sofás lá de casa mas não era uma coisa muito intensa, de vez em quando lá riscava qualquer coisa. Por sorte o meu pai também sabe desenhar e sempre me incentivou o gosto pelo desenho, daí nasceu todo o resto, lembro-me de ir até ao escritório do meu pai e ir ao cesto de papeis, para desenhar nas costas dos envelopes amarrotados. 2. Quando é que descobris-te que as Artes Plásticas eram a tua vocação? Isso foi acontecendo gradualmente e por exclusão de partes, eu sabia desde os 12/13 anos que queria trabalhar na área criativa, mas não sabia bem qual. No final do secundário e depois de ter pensado em Arquitectura e nos vários Designs, cheguei à conclusão que o que eu gosto é de desenhar e a formação em Pintura ficou muito clara. 3. Quais são as tuas motivações? Quem é que te inspira? Eu acho que sou uma pessoa com um bom sentido de observação, e inspiro-me sempre na realidade que me rodeia, depois filtro essa realidade no meu trabalho, aproveitando o que me fica na memória de forma mais palpitante. Gosto de pegar em estereótipos (não físicos) da sociedade e dar-lhe um rosto visível e palpável. 4. Que materiais usas nos teus trabalhos? Tenho usado nas minhas pinturas como suporte o cartão que aprendi a gostar e hoje já é quase imagem de marca dos meus trabalhos, depois sobre o cartão uso tintas acrílicas, pastel de óleo e lápis de cor. Por vezes utilizo outros materiais, mas estes têm sido usados em praticamente todos os trabalhos. 18 Urban Mag 7 JUNHO/JULHO

5. E gostas de diversificar: Pintura, Fotografia, Vídeo... Sim, não gosto de fazer sempre a mesma coisa, vou alternando entre as aulas, a pintura, a multimédia, o design gráfico e até de vez em quando o teatro. 6. Há áreas onde gostavas de investir mais? Neste momento estou a ponderar, propor-me a um Doutoramento em Arte Pública, que é uma área que me interessa bastante. 7. Os teus gostos pessoais aproximam-se muito daquilo que fazes, ou são muito diferentes? Na pintura eu faço exactamente o que gosto e tem tudo a ver com o meu equilíbrio e sensibilidade estética, que depois também se evidencia em todas as outras coisas, que me rodeiam. 8. Entre Exposições, trabalhos por conta própria e aulas, como consegues orientar a tua criatividade? Aproveito todos os momentos em que posso pensar para planear tudo mentalmente, como por exemplo no trânsito, ou quando vou passear o meu cão, entre outros momentos de rotina diária. Para mim são esses momentos que fazem toda a diferença, porque é nessas alturas que nós lembramos das coisas que realmente ficaram retidas na nossa memoria.


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1. Untitled

“…inspiro-me sempre na realidade que me rodeia, depois filtro essa realidade no meu trabalho, aproveitando o que me fica na memória de forma mais palpitante. Gosto de pegar em estereótipos (não físicos) da sociedade e darlhe um rosto visível e palpável.”

Pastel de óleo e acrílico s/mdf 40x80 cm Ano 2010 Colecção Momento Raso 2. Auto-Retrato

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9. Qual foi o projecto que mais gostaste de realizar? Uma pergunta difícil, cada projecto teve toda a minha dedicação num certo momento, mas considero que o projecto “Super Notáveis”, de criação de uma associação fictícia, que pôs em causa a toda a tradição da Universidade de Évora, um dos que mais me envolveu. 10. Costumas usar a internet para te auto-promoveres? Sim, tenho um site onde estão à venda os meus trabalhos e ultimamente também no facebook tenho divulgado as exposições e alguns trabalhos de fotografia. 11. Que conselho darias a uma pessoa que quer ingressar nesta área? Os conselhos ficam sempre para quem os tem, mas o que posso dizer é que é preciso muito mas muito trabalho e nunca desistir, pois quem escolhe esta área não escolhe uma profissão, escolhe uma vida. 12. Se não fosses Artista Plástico, o que serias? Bem se não fosse Artista Plástico, talvez trabalha-se no mundo do teatro que é uma área que me fascina bastante, não me vejo numa vida que não seja criativa e nas Artes Visuais consigo atingir o meu pleno criativo, pois posso abarcar várias materializações.°

Hu go Tra v a n ca 20 Urban Mag 7 JUNHO/JULHO

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agenda ALCOCHETE

LISBOA

COLECTIVA Obras de colecção de Arte Contemporânea da Portugal Telecom Fórum Cultural de Alcochete ATÉ 31 JULHO

ANA PÉREZ-QUIROGA Le mur, l´humour, l´amour, 2010 ESPAÇO BÁ ATÉ 02 JULHO

Ana Pérez-Quiroga, l´humour, l´amour, 2010. João Pedro Vale, Please don’t go!, 1999.

IDANHA-A-NOVA CARLOS NO Intifada Centro Cultural Raiano ATÉ 13 JUNHO

PEDRO CABRITA REIS Uma casa e outros sítios mais Caroline Pagès Gallery ATÉ 31 JULHO

COIMBRA STEFAN BRÜGGEMANN Show Titles (Audio) Kunsthalle Lissabon ATÉ 6 JUNHO

COLECTIVA Museu s.m. Museu Nacional Machado de Castro ATÉ 20 JUNHO

Stefan Brüggemann, Show Titles, sd.

João Nora, The Story of Art II, 2008.

DANI SOTER Do começo ao fim VPF Rock Gallery ATÉ 19 JUNHO

JEAN-FRANÇOIS PIRSON Dessine-moi un voyage Centro de Artes Visuais Pátio de Inquisição ATÉ 26 JUNHO

Jean-François Pirson, Famille, Ispahan, Iran, 2002.

FARO

Dani Soter, Epílogo, 2010. Pedro Cabrita Reis, Sem Título, 2005.

RENÉ BERTHOLO Pássaro em Terra Casa Rural da Villa Romana de Milreu (Estói) ATÉ 13 JUNHO

Carlos No, Intifada, 2010.

BRAGANÇA JOÃO LOURO The Great Houdin Centro de Arte Contemporânea Graça Morais ATÉ 25 JUNHO

JOÃO PENALVA Pavlina e o Dr. Erlenmeyer Espaço Fidelidade Mundial Chiado 8 Arte Contemporânea ATÉ 25 JUNHO

PAULIANA VALENTE PIMENTEL Trans-Caucásia 3+1 Arte Contemporânea ATÉ 29 MAIO

René Bertholo, Anjo, 1972 — 2001. Pauliana Valente Pimentel, Praia de Poti (Georgia), 2009.

João Louro, Inferno, 2001. João Penalva, Pavlina e o Dr. Erlenmeyer, 2010.

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ÓBIDOS

PONTA DELGADA

PEDRO VALDEZ CARDOSO Theatron Galeria NovaOgiva Arte Contemporânea ATÉ 16 MAIO

JOÃO QUEIROZ Pintura e Desenho Galeria Fonseca Macedo Arte Contemporânea 20 MAIO — 30 JUNHO

ANDRÉ PRÍNCIPE Master and Everyone Galeria Fernando Santos ATÉ 29 MAIO

JOÃO QUEIROZ, Sem Título, 2010.

André Príncipe, Sem Título (série Master and

INTERNACIONAL

MADRID

COLECTIVA Arte SOnoro La Casa Encendida ATÉ 13 JUNHO

Everyone), 2010.

MOURÃO

Pedro Valdez Cardoso, Theatron, 2010.

NUNO CERA Terra Largo da Igreja da Nossa Sra. da Luz ATÉ 25 JULHO

ÂNGELO DE SOUSA Ângelo de Sousa Galeria Quadrado Azul ATÉ 22 MAIO

BRAGA

Angela Bulloch, Disenchanted Forest, 2005.

SANTIAGO VILLANUEVA Santiago Villanueva Galeria Mário Sequeira ATÉ 29 MAIO

SANTIAGO DE COMPOSTELA GILBERTO ZORIO Gilberto Zorio CGAC — Centro Galego de Arte Contempoânea ATÉ 27 JUNHO Ângelo de Sousa, Sem Título, 10-01-10 PD2, 2010. Nuno Cera, Terra #3 (Guadiana), 2008.

PORTO ADRIANA MOLDER Adriana Molder Galeria Presença ATÉ 29 MAIO

LOURDES CASTRO E EMANUEL ZIMBRO A Luz da Sombra Museu de Arte Contemporânea de Serralves ATÉ 13 JUNHO

João Pedro Vale, Please don’t go!, 1999.

Gilberto Zorio, Canoa che avanza, 2007.

Adriana Molder, Sem Título, 2010. Lourdes Castro, Sombra Projectada de Adami, 1967.

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