Significado de
Hebreus
Hebreus 1 1.1 — A expressão muitas vezes se refere a períodos da história do Antigo Testamento, e muitas maneiras se refere aos diferentes métodos que Deus usou para se comunicar, entre os quais visitações, sonhos, sinais, parábolas e acontecimentos (Is 28.10). Pelo Filho. Essa expressão poderia ser traduzida como por uma pessoa tal como um Filho. A ênfase aqui se dá no caráter da revelação. É uma revelação do Filho, nem tanto sobre o que Ele disse, mas sobre quem Ele é e o que fez. 1.2 — Herdeiro de tudo. Jesus é o herdeiro de todas as coisas, pois é o próprio eterno Filho de Deus (Is 9.6,7; Mq 5.2). Sua herança é o domínio universal. Há de reinar sobre todos e tudo (Rm 4.13; Ap 11.15). Fez também o mundo. A palavra grega para mundo pode significar também séculos. Assim, mundo indica aqui tanto todo o universo criado quanto o tempo todo ao longo de todas as épocas. O Filho é o Senhor de toda a história. Controla o universo ao longo de toda a história como o Mediador junto ao Pai. 1.3 — O Filho é o resplendor da sua glória, da glória de Deus. Isso significa ser o Seu brilho emanado da glória essencial de Deus (Jo 1.14; 2 Co 4-4,6). O autor de Hebreus enfatiza que esse brilho não é refletido, como da luz da lua, mas sim um brilho inerente, como dos raios do sol. O brilho glorioso de Jesus se deve ao fato de ser Ele essencialmente divino. A locução expressa imagem ocorre somente nesta passagem do Novo Testamento, significando representação exata ou exata natureza. Em grego, era usada para se referir à imagem gravada em uma moeda. O Filho é a representação exata de Deus porque é o próprio Deus (Cl 1.15). Na verdade, a palavra grega traduzida aqui por pessoa significa natureza ou ser. Como disse Jesus, quem me vê a mim, vê o Pai (Jo 14.9). Sustentando significa suportando ou carregando, em alusão ao movimento ou progresso em direção ao fim. O Filho não somente criou o universo, mediante Sua poderosa Palavra, mas também mantém e dirige seu curso. E
Ele o Governante do universo. As leis da natureza são Suas e operam sob Seu comando. Purificar significa limpar ou purgar. A glória da redenção é muito maior do que a glória da criação: o Filho de Deus não veio para nos ofuscar com Seu esplendor, mas para a purificação dos nossos pecados. Assentou-se sugere o ato formal de assumir o ofício de Sumo Sacerdote, em contraste com o sacerdote levítico, que jamais poderia dar por terminado seu trabalho, e então se assentar (Hb 10.11-13). Encontramos no Antigo Testamento um santuário sem assentamento; mas no Novo Testamento, um Salvador assentado. 1.4 — O Filho é mais excelente do que os anjos, ou seja, detém posição mais elevada, por estar assentado à direita de Deus Pai (v. 3) e devido à Sua herança eterna. O Filho obteve um nome maior do que dos anjos. Este retrato majestoso fortalece o dramático convite em Hebreus 4.16 para que cheguemos com confiança ao trono da graça, à presença do Filho. 1.5-14 — O autor de Hebreus usa sete citações do Antigo Testamento para explicar por que o Filho é superior aos anjos. 1.5 — Anjos são filhos coletivamente, no sentido de que foram criados por Deus (Jó 1.6). Mas Cristo é, única e eternamente, o Filho. Ele é superior aos anjos. Hoje te gerei provavelmente se refere ao dia em que Cristo assentouse à direita do Pai, após consumado Seu trabalho na terra como Messias. Nesse dia, o Filho eterno participou da plena experiência de Sua filiação. Eu lhe serei por pai. Esta passagem cita 2 Samuel 7.14, sendo uma profecia de Cristo como Pessoa eterna em quem a linhagem e o reino davídico culminam. 1.6 — E quando outra vez introduz no mundo é uma referência à volta de Cristo. Primogênito se refere à Sua posição, significando Aquele que está acima de todos os outros (SI 89.27). O Filho não adora, mas é adorado pelos anjos. A citação neste versículo é da versão Septuaginta de Deuteronômio
32.43 ou do Salmo 97.7, onde corretamente é usado o termo anjos no texto hebraico. Que os anjos adorem o Filho quando for coroado como Rei sobre toda a terra (Hb 2.5-9), depois de levar a vingança sobre Seus inimigos e restaurar Seu povo! 1.7 — O Filho é superior aos anjos porque é o Soberano que é adorado, enquanto os anjos são ministros, ou seja, servos de Deus. O autor de Hebreus cita o Salmo 104 porque esse salmo relaciona os anjos em uma longa lista da criação que Deus, soberanamente, controla. 1.8 — Ó Deus. Jesus Cristo recebeu o grau de divindade plena. O Filho tem um trono eterno, o que significa que possui um Reino eterno. 1.9 — Companheiros provém de uma palavra que quer dizer amigos próximos ou parceiros. O conceito de os crentes como companheiros de Cristo é fundamental em Hebreus (3.1,14; 6.4; 12.8). O termo se refere àqueles que serão participantes com Cristo em Seu Reino. Assim como o Filho, que obteve o direito de reinar e jubilar graças à Sua vida íntegra, assim também o obterão os Seus companheiros — os crentes que vivam vida santa e que hão de reinar com o Filho em Seu Reino. 1.10-12 — O contexto do Salmo 102, de onde esses versos foram extraídos, indica claramente que o Senhor é Aquele que haveria de vir para Israel e as nações (SI 102.12-16). O salmo só pode estar se referindo, portanto, a Jesus, a Segunda Pessoa da Trindade, o Único que veio em carne. Jesus é um ser divino feito humano. O universo perecerá (2 Pe 3.10-13; Ap 21.1), mas o Filho permanecerá para sempre. O universo mudará, mas o Filho permanecerá o mesmo (Hb 13.8). 1.13 — Cristo se assentou à destra de Deus até a vitória final sobre todos os Seus inimigos (1 Co 15.25-28). 1.14 — Os anjos são meros servos (v. 7), atuando em favor daqueles que hão de herdar a salvação. Salvação aqui não se refere à justificação, porque o verbo está no futuro, não no passado. Refere-se à condição dos crentes quando vierem e herdar o Reino e a reinar com Cristo, como recompensa por seu serviço ao Filho (Hb 9.28; Cl 3.24). O autor está falando sobre o
mundo futuro (Hb 2.5). Outras referências à salvação, em Hebreus 2.3,10; 5.9; 6.9, provavelmente também dizem respeito ao futuro.
Hebreus 2 2.1 — O autor emite a primeira de cinco exortações (Hb 2.1-4; 3.1—4-16; 5.11—6.20; 10.19-39; 12.1-29). Nós, cristãos, temos ouvido o Senhor Deus, porque ouvimos a mensagem do evangelho. A majestade de Deus requer que ouçamos com toda a atenção o que Ele nos diz. Desviar. O público destinatário da epístola era certamente marcado, em grande parte, por imaturidade e negligência espiritual (Hb 5.11,12). O autor alerta seus leitores para que não sejam levados pela opinião popular dos que os rodeiam; deveriam, pelo contrário, apegar-se às palavras de Cristo, por serem as palavras de Deus. E fácil se deixar levar pela corrente. Lembre-se de como foi fácil para o justo Ló se afastar de Abraão e dirigir seus olhos para Sodoma. Estamos todos expostos continuamente às correntes de opinião, aparentemente razoáveis e confortáveis, se comparadas à tarefa de lutar contra a correnteza, tendo os olhos voltados para o nosso Comandante (Rm 12.12). 2.2 — A palavra falada pelos anjos. Deus entregou a Lei a Moisés por intermédio de Seus anjos (Dt 33.2; At 7.38,53; G1 3.19). A desobediência ou obediência à Lei era punida ou recompensada. Em Hebreus 12.5-11, tal disciplina é discutida detalhadamente (Dt 28—30). Se a pessoa transgredisse a Lei, sua punição não era a perda da justificação ou regeneração, mas sim das bênçãos temporais e ela era disciplinada. Compare Deuteronômio 28—30 com Hebreus 12.5-11. 2.3 — Como escaparemos. Se o povo que ouviu a mensagem entregue pelos anjos era justamente punido quando desobedecia à Lei, como acham os cristãos que podem escapar da punição se negligenciarem a mensagem, maior ainda, entregue pelo mais importante Mensageiro, o Filho? O pronome nós é referido cinco vezes nos versículos 1 a 3. O autor adverte a nós, cristãos, incluindo a si mesmo, sobre o erro de descuidarmos da salvação e perdermos a oportunidade de reinar com Cristo.
A grande salvação (Fp 2.12,13) não se refere, aqui, propriamente, à justificação, já que, no caso, a salvação começou a ser anunciada pelo Senhor. A justificação é apresentada desde o Antigo Testamento (Gn 15.6), mas é o Senhor Jesus quem primeiro fala a respeito de Seus seguidores herdarem o Seu Reino e reinarem com Ele (Hb 2.10; Lc 12.31,32; 22.29,30). Pelos que a ouviram. O autor inclui a si mesmo entre aqueles que não ouviram do Senhor pessoalmente a respeito da salvação. O fato de a terceira geração ter tido a mensagem confirmada pela segunda geração, a qual, por sua vez, ao que parece, realizou milagres, indica que muitos milagres podem ter cessado na terceira geração. O tempo verbal de confirmada, no passado, pode levar a essa suposição. Os primeiros leitores podem até ter presenciado milagres, mas não os ter realizado. 2.4 — Sinais e maravilhas se referem aos milagres realizados pelo Espírito Santo por intermédio do Senhor e de Seus apóstolos, em cumprimento das antigas promessas relativas à vinda do Messias (At 2.22,43; 4-30; 5.12; 6.8; 14.3; 15.12; 2 Co 12.12). 2.5 — O autor retorna ao tema do capítulo 1: o Filho é superior aos anjos. De que conecta esta passagem com Hebreus 1.4-14, como indicam a menção dos anjos e a alusão ao Salmo 110 (v. 8), neste versículo. O mundo futuro é o Reino futuro do Filho e de Seus companheiros (Hb 1.9) na terra. 2.6-8 — Como se a humanidade do Filho pudesse representar um aparente empecilho para a declaração de Sua superioridade, o autor de Hebreus cita o Salmo 8, uma reflexão lírica sobre Gênesis 1, para provar que Deus colocou a humanidade acima de toda a criação, o que inclui o mundo angelical. 2.8 — Mas agora. O domínio dos seres humanos sobre a criação de Deus foi adiado por causa do pecado (v. 15). A conivência da humanidade com Satanás levou-a a entrar em conflito com Deus. Ainda não indica que essa demora, porém, é apenas temporária.
2.9 — Os seres humanos dominarão a criação, mas mediante Jesus Cristo. Vemos, porém [...] aquele Jesus. O autor usa o nome humano de Cristo, Jesus, pela primeira vez nesta carta. Citando passagens do Salmo 8, chama a atenção para o fato de que Cristo, por Sua humilhação e exaltação, recuperou o que Adão havia perdido — o chamado original para que os seres humanos reinem sobre a criação de Deus (Fp 2.6-11; Ap 5.1-14). 2.10 — Trazendo muitos filhos à glória não é propriamente uma referência a conduzir os cristãos ao céu, mas sim a levar os companheiros sofredores à glória futura (2 Co 4-17). Ao sofrerem, os cristãos se tornam filhos, no sentido de que se identificam com Cristo. Jesus usou também a palavra filhos nesse sentido (Mt 5.44,45). A palavra grega aqui para príncipe significa, na verdade, capitão, comandante, chefe, criador ou autor. Descreve um pioneiro ou desbravador. A aceitação de Jesus das aflições na terra faz dele nosso líder. Ele experimentou os sofrimentos a que estamos sujeitos a passar. E não somente os suportou, como também, por intermédio deles, triunfou sobre o pecado, a morte e Satanás. Sua vida sem pecado marcou o caminho até Deus, caminho que devemos seguir. Jesus é o nosso modelo, nosso líder, nosso Comandante. Entende nossa dor porque Ele mesmo a sentiu e vivenciou. Salvação, aqui, se refere à nossa salvação futura, à nossa glorificação no Reino vindouro de Cristo. 2.11-13 — Com uma declaração seguida de três citações de apoio do Antigo Testamento, o escritor demonstra a unidade entre o Filho e os muitos filhos de Deus. 2.11 — Todos de um. Esta expressão se refere à humanidade que Jesus compartilha com todos os cristãos, ou ao fato de Jesus e os cristãos pertencerem todos a Deus. Por serem os filhos de um mesmo Pai (Jo 20.17), Jesus pode chamar todos os cristãos de Seus irmãos. 2.12 — O Salmo 22, aqui citado, descreve a agonia de um justo sofredor. O salmo, em última análise, é messiânico. Descreve os sofrimentos de Cristo. Jesus cita o Salmo 22.1 na cruz (Mt 27.46). Nele, o salmista, como o próprio Messias, se refere a meus irmãos, identificando-se com todos aqueles que depositam sua fé em Deus.
2.13 — As citações aqui são de Isaías 8.17,18 e dizem respeito a um profeta, que, tal como Jesus, é perseguido e rejeitado, mas se torna uma referência para o fiel. 2.14-16 — Tendo estabelecido a unidade entre o Filho e os cristãos, o autor conclui que existem dois propósitos nessa identificação. O Filho se tornou humano para que, por Sua morte, pudesse destruir o diabo (v. 14) e libertar todos os que estavam presos ao pecado (v. 15). 2.14 — Participou das mesmas coisas. Jesus Cristo compartilhou de nossa humanidade, humilhandose para tornar-se igual a nós (Fp 2.5-11). Império da morte. O diabo tenta as pessoas ao pecado e depois as acusa de rebelião contra Deus (Gn 3; Jó 1). Ao induzi-las ao pecado, Satanás entrega as pessoas à morte, pena devida pelos seus pecados (Rm 5.12). O diabo está ativo ainda hoje (1 Pe 5.8), mas seu poder sobre a morte lhe foi tirado. A morte de Cristo pagou por nós a penalidade do pecado. Podemos, assim, ao depositarmos nossa confiança em Cristo, ficar livres do perverso domínio de Satanás (Lc 10.18; 2 Tm 1.10; Ap 1.18). O julgamento de Satanás foi feito na cruz, mas sua execução será no futuro (1 Co 15.54-57; Ap 20.10).
Esta é a primeira vez em que o título de sumo sacerdote aparece em Hebreus e a primeira vez em que é aplicado a Jesus Cristo na Bíblia. Expiar, ou seja, fazer expiação, significa satisfazer as exigências de um Deus santo e justo contra os pecadores que violaram Sua lei. Cristo aplacou a justa ira de Deus ao morrer na cruz em nosso lugar (Rm 3.21-26). Embora inteiramente perfeito e sem pecado, Ele voluntariamente se submeteu à penalidade do pecado, ao experimentar a agonizante morte na cruz. Esse sacrifício voluntário do próprio Filho em nosso favor satisfez a justiça e santidade de Deus. E os benefícios de Seu sacrifício são para todos aqueles que nele depositarem sua fé. 2.18 — Sendo tentado. O sofrimento de Cristo incluiu a tentação. Ele experimentou a sedução do pecado, mas jamais se rendeu a ele. Cristo conhece o que é ser tentado; sabe, então, como ajudar aqueles que caem em tentação.
2.15 — O diabo usa o medo da morte para nos escravizar. O Filho de Deus, porém, mediante Sua morte na cruz (v. 14), eliminou o medo e quebrou nossa servidão ao pecado e à morte.
Hebreus 3
2.16 — A descendência de Abraão se refere tanto aos descendentes humanos do patriarca quanto a seus filhos espirituais — aqueles que, como Abraão, depositam sua fé em Deus (G1 3.7,29). O autor pode ter usado essa expressão por serem os destinatários dessa carta principalmente judeus cristãos. O autor ressalta que Cristo veio para ajudar os filhos de Abraão, e não os exércitos angelicais.
3.1,2 — Participantes é a mesma palavra grega traduzida por companheiros em Hebreus 1.9. A vocação celestial desses companheiros é a de herdar a salvação (Hb 1.14) e a glória futura em Cristo (Hb 2.10). O autor de Hebreus convida os cristãos judeus a considerar a fidelidade de Jesus Cristo. Apóstolo significa aquele que é enviado. Essa é a única passagem no Novo Testamento que designa Jesus como o Apóstolo. O título indica que Jesus foi enviado por Deus para revelar o Pai (Jo 4.34; 6.38; 7.28,29; 8.16).
2.17 — Em tudo inclui a humanidade de Jesus (v. 14) e Seu sofrimento (v. 18). Jesus partilhou de nossa natureza e nossos sofrimentos para que pudesse ser um Mediador compassivo entre Deus e a humanidade. Ele entende nossa fraqueza e intercede por nós na presença de Deus Pai. É, assim, um misericordioso [compassivo] e fiel [confiável] sumo sacerdote.
3.1—4.16 — É esta a segunda exortação na epístola (Hb 2.1-4). Irmãos santos a interliga ao conceito de santificação em Hebreus 2.11.
A frase em toda a sua casa é retirada de Números 12.7, onde casa se refere à Casa de Deus, ao tabernáculo, centro da adoração israelita. Moisés havia obedecido fielmente às instruções de Deus em relação ao tabernáculo. Da
mesma forma, Jesus obedeceu em tudo à missão que o Pai lhe dera. Como resultado de Sua obediência, Deus pôde estabelecer Sua nova casa, a igreja. 3.3 ,4 — Mas o que edificou todas as coisas é Deus. O autor iguala Jesus a Deus. Deste modo, Ele, certamente, é tido por digno de tanto maior glória do que Moisés (Hb 1.2,8,10). Conclui-se que o concerto estabelecido mediante a morte de Jesus é mais glorioso do que o estabelecido no monte Sinai. 3.5 — O autor de Hebreus continua a comparação entre Moisés e Jesus. Enquanto Moisés foi fiel como servo, a fidelidade de Cristo foi maior porque exercida pelo Filho. Coisas que se haviam de anunciar indica que o trabalho de Moisés apontava para Cristo (Hb 9.10; 10.1-3). Os preceitos da Lei de Moisés chamam a atenção tanto para o pecado humano quanto para a necessidade de um sacrifício perfeito, a fim de reconciliar o povo com o seu santo Criador. 3.6 — Como Filho sobre a Sua própria casa. O Filho se assentará no trono no Reino vindouro (Hb 1.8). No momento, reina sobre a Igreja. Reinará sobre toda a criação quando Seus oponentes forem completamente derrotados. Sua habitação consiste em todos os que nele creem. Conservarmos firme a confiança [...] até ao fim. Aqueles que perseverarem até o fim, colocando sua esperança firmemente no Filho, viverão com Ele na eternidade. 3.7-11 — O autor de Hebreus cita Salmo 95.7-11 para alertar os cristãos judeus de não endurecerem o coração para com Deus e a salvação que Ele oferece. A geração de Moisés se recusou a crer que Deus supriria suas necessidades no deserto (Ex 17.1-7), e os leitores desta carta estariam igualmente em perigo não crendo na salvação oferecida por Deus mediante Seu Filho. Para que permanecessem firmes até ao final (v. 6), não poderiam endurecer o coração para com Deus (v. 8,13,15). Pelo contrário, teriam de renovar sua fé na Palavra de Deus (v. 12,19), depositá-la em Cristo e obedecer a Ele (v. 18). Repouso é um conceito fundamental em Hebreus. No Antigo Testamento, a conquista da Terra Prometida e o fim das lutas na terra eram vistos como
uma forma de repouso (Dt 3.20; 12.9; 25.19; Js 11.23; 21.44; 22.4; 23.10. No Novo Testamento, significa o lar eterno do cristão e a alegria que há de experimentar na presença de Jesus (Hb 4.1). 3.12 — O autor fala claramente a legítimos cristãos. Dirige-se a eles como irmãos (gr. adelphoi; compare com irmãos santos no versículo 1), que é o tratamento padrão em todo o livro. Não existe a menor sugestão, em parte alguma da epístola, de que se tratasse apenas de cristãos nominais, e não genuínos, como tem sido por vezes suposto. Um coração mau e infiel. Refere-se a um sério problema espiritual. Um coração descrente é mau porque a incredulidade é má. Apartar (gr. aphistemi). Esta palavra dá a ideia de manter-se à distância do Deus vivo. Os incrédulos, aqueles que se recusam a ouvir e são indiferentes a Deus, sofrem com isso sérios prejuízos. Aqui se trata, naturalmente, da descrição de uma recaída do cristianismo para o judaísmo. Jesus é Deus. Afastar-se dele é afastar-se do Deus vivo, o que certamente contraria o conservar-se firme no versículo 6. 3.13, 14 — Exortarmo-nos uns aos outros para permanecermos na fé é importante. Os cristãos devem permanecer firmes na fé até o fim de sua vida para que sejam participantes de Cristo (v. 15-19). Participantes é a mesma palavra traduzida por companheiros em Hebreus 1.9. Os fiéis serão participantes com Cristo do Seu Reino futuro (Ap 2.26,27). 3.15-19 — O autor de Hebreus fala da incredulidade dos israelitas como sendo pecado (v. 17) e desobediência (v. 18). Muitos israelitas não entraram no repouso de Deus, a Terra Prometida (v. 11), porque não creram nas promessas de Deus para eles (Nm 1.1-34). Deixaram de possuir a herança reservada para eles porque não creram em Deus (Dt 12.9; Js 13.7). Cristãos a quem esta carta foi endereçada estavam provavelmente em perigo de seguir os passos dos israelitas. Estavam tentados certamente a duvidar das palavras de Jesus. Ao apresentar questões retóricas nestes versículos, o autor da carta os encoraja a depositar firmemente toda a sua fé em Cristo (Hb 10.26; 12.1,2).
Hebreus 4 4.1-11 — Em Hebreus 3.12-19, o fracasso de muitos de Israel em entrar no repouso que Deus lhes concedera serve de séria advertência aos cristãos. O autor explica o que esse repouso significa para os cristãos e mostra por que e como se encontra disponível para nós hoje.
4.9 — A palavra grega para repouso, neste versículo, é diferente da palavra usada em Hebreus 4-1,3,5,10,11; 3.11,18. A palavra, aqui, significa descanso do sábado e somente nesta passagem é encontrada no Novo Testamento. Os judeus geralmente ensinavam que o Sábado prenunciava o mundo vindouro, falando de um dia que seria sempre sábado.
4.1 — A trágica incredulidade de uma geração inteira de israelitas no deserto (Hb 3.7-19) age como um aviso aos cristãos de hoje para que possam entrar no repouso de Deus, ainda oferecido a Seu povo fiel (v. 611).
4.10 — Repousou de suas obras. Pode ser que se refira ao repouso no qual os cristãos entrarão quando terminarem seu trabalho para o Reino de Deus na terra (Ap 14.13).
4.2 — Foram pregadas as boas novas é tradução de uma única palavra grega, que significa que as boas novas foram anunciadas. As boas novas do repouso de Deus (v. 1) foram proclamadas aos israelitas. A geração mais antiga, liderada por Moisés, falhou em entrar no repouso, a Terra Prometida (Dt 12.9), por causa de sua falta de fé. Do mesmo modo, o evangelho de Cristo foi proclamado aos leitores da carta, e o autor os convoca então para o repouso de Deus, antes que sua incredulidade venha a impedi-los, também, de nesse descanso entrar. 4.3 — Desde a fundação do mundo. O repouso da criação de Deus é o arquétipo e tipo de todas as experiências de repouso posteriores. 4.4 — E repousou Deus. O tema tem início no repouso do próprio Deus logo após a criação. O fato de Gênesis não fazer menção à noite do sétimo dia da criação forneceu a base para alguns comentaristas judeus concluírem que o repouso de Deus há de durar por toda a eternidade. 4.5,6 — Aqueles. Havia um repouso esperando pelo povo de Deus, mas grande parte da geração do Êxodo não conseguiu entrar nele. 4.7,8 — Assim como muitos israelitas não haviam entrado no repouso de Deus, na Terra Prometida, Davi, longos anos depois de Josué haver liderado os israelitas a ingressarem na terra, advertia sua geração para não endurecer seu coração, a fim de que pudesse entrar no repouso de Deus (Hb 3.7-11). E tal como Davi, o autor de Hebreus convoca a geração atual a responder a Deus hoje (Hb 3.13), que é o dia do arrependimento.
4.11 — Procuremos. Ao incluir a si mesmo junto com seus leitores, o autor quer exortar os crentes a serem diligentes, a fazer todo o esforço para entrar naquele repouso. Pois o repouso não é automático; exige empenho e dedicação. O perigo está em que os cristãos de hoje, como os israelitas do passado, não persistam, mas caiam em desobediência. 4.12 — A palavra de Deus é o padrão de medida que Cristo usará no juízo (2 Co 5.10). A mensagem de Deus é viva e eficaz, penetrando as partes mais íntimas do ser. Diferencia o que é natural do que é espiritual, assim como os pensamentos (as reflexões) e as intenções (desejos) de cada pessoa. A palavra de Deus, enfim, expõe as motivações naturais e as espirituais do coração do crente (Hb 4.7; 3.8,10,12,15; 8.10; 10.16,22; 13.9). 4.13 — A expressão nuas e patentes significa uma completa exposição e clareza diante de Deus. Todos terão de prestar contas a Deus, que tudo vê e tudo conhece (Rm 14.10-12; 2 Co 5.10). 4.14—10.18 — Esta parte, que discorre sobre o sumo sacerdócio de Cristo, é o âmago de Hebreus. O assunto, mencionado em Hebreus 2.17, é reintroduzido, aqui, em Hebreus 4-14-16, discutido resumidamente em Hebreus 5.1-10 e considerado detalhadamente em Hebreus 7.1—10.18. Nosso Sumo Sacerdote é exatamente tal como dele precisamos: Ele pode purificar o pecaminoso coração humano. 4.14 — Visto que significa voltar ao assunto do sumo sacerdócio de Cristo (Hb 2.17—3.6). Temos indica propriedade. No Antigo Testamento, o sumo
sacerdote de Israel atravessava o pátio e o véu, no tabernáculo, para então penetrar no Santo dos Santos. Nosso Sumo Sacerdote penetrou nos céus, na presença de Deus, onde se assentou à destra do Pai (Hb 1.3). Seu nome e título, Jesus, Filho de Deus, enfatizam Suas duas naturezas — Sua humanidade e divindade. 4.15 — Compadecer implica sofrer com. Expressa o sentimento por outro de quem já experimentou também sofrimento. Em tudo foi tentado. Jesus passou por todos os graus de tentação (Hb 2.18). Sem pecado (Hb 7.26; 2 Co 5.21). Somente quem não se rendeu ao pecado pode conhecer a intensidade total da tentação. Jesus não se rendeu à tentação. 4.16 — Cheguemos é a mesma palavra grega traduzida em Hebreus 10.22. Que contraste com o ficar afastado para que não morra do Antigo Testamento, que os leitores judeus da epístola e seus antepassados certamente cresceram ouvindo! João Batista resume admiravelmente essa diferença, em sua apresentação de Jesus: Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo (Jo 1.29). Não haverá mais a morte de animais em sacrifício. Nunca mais o sumo sacerdote terá acesso exclusivo ao Santo dos Santos. Confiança é a mesma palavra traduzida por ousadia em Hebreus 10.19, significando, aqui, coragem, audácia, destemor. Os cristãos devem aproximar-se corajosamente de Deus em oração, porque dele é o trono da graça e nosso Sumo Sacerdote se assenta à Sua direita, intercedendo por nós.
Hebreus 5 5.1-4 — Estes versículos explicam o que significa ser um sumo sacerdote. Um sumo sacerdote deve ser uma pessoa (v. 1-3) chamada por Deus (v. 4)Ele representa o povo e, assim, deve identificar-se com sua natureza humana. Mas também representa Deus para o povo e, por isso, deve ser chamado por Deus para Seu serviço.
5.1 — Dons e sacrifícios. A principal referência aqui é a do trabalho do sumo sacerdote no Dia da Expiação, único dia do ano em que um sacerdote entrava no Santo dos Santos (Hb 9.7-10) para expiar os pecados do povo e interceder por ele. 5.2 — A expressão ignorantes e errados refere-se àqueles do povo que houvessem pecado sem querer, sem a real intenção de fazê-lo (Nm 15.3036) 5.3 — Era exigido que o sumo sacerdote oferecesse um sacrifício, tanto pelo povo, como também por si mesmo, no Dia da Expiação (Hb 9.7; Lv 16.6). 5.4 — Chamado por Deus. Arão foi nomeado para a função de sacerdote pelo próprio Deus (Ex 28.1); assim também seus sucessores (Nm 20.23-28; 25.10-13). Aqueles que desafiaram o chamado de Arão ou nomearam a si mesmos como sacerdotes foram mortos por Deus (Nm 16). 5.5-6 — Cristo não chamou a si mesmo para o ofício de Sumo Sacerdote; o Pai o chamou. Tanto Salmo 2.7 como o Salmo 110.4 são citados aqui para provar esse fato. O Salmo 2.7 também é citado em Hebreus 1.5, para provar a superioridade de Cristo em relação aos anjos; agora, o autor usa a citação para afirmar o relacionamento especial de Jesus com Deus Pai. A citação de Salmo 110.4 destaca a natureza eterna do sacerdócio de Jesus. Ele é e será o Mediador entre nós e Deus para sempre. 5.7 — Cristo não ofereceu sacrifício por si mesmo, mas ofereceu por nós clamor, lágrimas, orações e súplicas de uma vida e morte de obediência. Foi ouvido e Seu sacrifício aceito por causa de Seu temor (obediência reverente). Foi resgatado da morte pela ressurreição. 5.8 — Aprendeu a obediência. Jesus não precisava aprender a obedecer como se antes fosse desobediente, mas teve de passar pela experiência de obedecer à vontade do Pai como homem. Ele aprendeu a natureza da obediência.
5.9 — Sendo ele consumado. Esta frase não sugere que Jesus não fosse antes consumadamente perfeito. Significa que cumpriu com total sucesso o plano de Deus para Ele. Suportou sofrimento e tentação como ser humano para que pudesse agir verdadeiramente como nosso Sumo Sacerdote, compreendendo nossas fraquezas e intercedendo por nós diante de Deus. "Causa" aqui significa "fonte". A obediência de Jesus ao Pai o conduziu ao Calvário, à própria morte na cruz. O sacrifício do único ser humano sem pecado em nosso lugar tornou-o a causa, a fonte, de nossa salvação. 5.10 — Chamado aqui significa designado, ao introduzir o título formal de Cristo, Sumo Sacerdote. 5.11 — Embora o autor de Hebreus tenha muito mais para dizer sobre o sacerdócio de Jesus, será de difícil interpretação para os leitores desta carta, que são classificados como negligentes para ouvir. Negligente significa descuidado. Quando essas pessoas ouviram a Palavra de Deus, não devem ter-se mostrado certamente prontas e aptas a aceitá-la (Hb 6.11,12). Mostraram-se descuidadas, preguiçosas, na fé. Seria então tarefa difícil explicar a verdade para elas. 5.12—6.20 — O autor prepara seus leitores para receber o ensinamento sobre o sumo sacerdócio de Cristo. Primeiro, reprova a imaturidade espiritual deles (Hb 5.12—6.3) e o fato de haverem abandonado o progresso à maturidade (Hb 6.4-8; observe que todos os verbos nos v. 4-6 estão no passado). Recorda, então, alguns feitos espirituais dignos, da parte deles (Hb 6.9-12), e faz com que se lembrem das promessas que Deus lhes tinha ofertado (Hb 6.13-20). 5.12 — Devendo já ser mestres pelo tempo sugere que muitos dos cristãos já deveriam ser instrutores, não no sentido formal (compare com 1 Co 12.29;Tg3.1), mas já transmitindo a outros o que aprenderam mediante os dons que Deus lhes havia concedido. Primeiros rudimentos significam as verdades básicas aprendidas pelo crente sobre a fé (Hb 6.1,2). A expressão como que se refere ao bê-á-bá na alfabetização ou à tabuada das quatro operações fundamentais em aritmética. Os primeiros rudimentos são, enfim, os elementos básicos a
partir dos quais tudo o mais no saber se desenvolve. Necessitais. Esses cristãos haviam regredido, por causa do não uso do que aprenderam. Se uma pessoa não pratica o que aprende, esquece, e é preciso que lhe ensinem novamente a mesma coisa. Não usar, não pôr em prática, não exercer, é esquecer. Leite [...] alimento sólido. O autor ilustra deste modo os ingredientes do crescimento espiritual. O leite equivaleria aos primeiros rudimentos. O alimento sólido, à revelação mais ampla. Começamos então com o processamento da verdade (1 Pe 2.2), exercitando o princípio da prontidão para aprender. Gradualmente, ativamos o princípio da prática para retenção da verdade. A prática consistente e persistente da verdade resulta em crescimento e a maturidade (esta mesma fórmula é apresentada aos coríntios por Paulo em 1 Co 3.1-4). 5.13 — Não está experimentado na palavra da justiça. Grande parte dos primeiros leitores desta carta não tinham necessariamente falta de informação em relação à justiça; o que não tinham era experiência em praticar a informação que possuíam. A maturidade vem com a prática. Ao praticarmos a justiça, teremos menos dificuldade em distinguir o bem do mal. Menino, aqui, é qualificação da imaturidade cristã. A criança, geralmente, tem pouco discernimento e autodisciplina. Precisa ouvir não constantemente, para poder vir a entender. O crente maduro está apto a saber a diferença entre o bem e o mal e controlar seus apetites pecaminosos. 5.14 — Perfeitos refere-se aos cristãos espiritualmente maduros. Costume significa a prática ou o hábito. Aqueles que têm o costume ou hábito de obedecer à mensagem de justiça amadurecem na fé e estão prontos para discernir tanto o bem quanto o mal.
Hebreus 6 6.1, 2 — O autor insiste em que os leitores de sua carta deixem o que é primário e prossigam até a perfeição, no sentido de maturidade. Ele lista então seis pontos doutrinários, que chama de os rudimentos da doutrina de Cristo (os primeiros rudimentos, em Hb 5.12): (1) Arrependimento de obras mortas se refere à mudança de pensamento quanto às exigências da Lei de Moisés (Hb 9.14). Embora a Lei seja boa (1 Tm 1.8), era fraca, por causa da fraqueza de nossa natureza pecaminosa (Rm 8.3). (2) O que é necessário para a salvação não são as obras mortas, que não podem salvar, mas a fé em Deus. (3) Batismos pode referir-se aos vários batismos citados no Novo Testamento (o batismo de Cristo, o de João, o batismo do crente nas águas, e o espiritual, do crente pelo Espírito Santo), ou também aos diversos ritos de purificação praticados pelos judeus. (4) No livro de Atos, a imposição das mãos era usada para transmitir o Espírito Santo (At 8.17,18; 19.6), assim como para ordenação ao ministério (At 6.6; 13.3). Essa prática é encontrada também no Antigo Testamento, para a delegação de poderes a alguém para serviço público (Nm 27.18,23; Dt 34.9) e no contexto de apresentação do holocausto ao Senhor (Lv 1.4; 3.2; 4.4; 8.14; 16.21). (5) Ressurreição dos mortos se refere à doutrina da ressurreição de todos no final dos tempos (Ap 20.11-15). E um ensinamento do Antigo Testamento (Is 26.19; Dn 12.2), amplamente difundido no judaísmo do século 1, principalmente pelos fariseus. Para os cristãos, tornou-se essencial a crença na ressurreição de Jesus, sem a qual não existiria o perdão dos pecados (1 Co 15.12-17). (6) Juízo eterno se refere à crença de que todos seremos julgados pelo grande Juiz. As Escrituras indicam que existirão dois tipos de julgamento final: o dos cristãos, no qual Jesus determinará a recompensa de cada um (1 Co 3.12-15), e o juízo dos descrentes (Ap 20.11-15). 6.3 — O autor inclui ainda a si mesmo na ação que deva ser realizada pelos cristãos. Se Deus permitir — ou seja, se for da vontade de Deus (Tg 4.15) — indica o imperativo necessário da autoridade divina para que algo aconteça.
6.4-6 — Esta passagem, tão difícil com respeito a recair, tem sido interpretada de diversas maneiras. Alguns afirmam que o autor de Hebreus está falando de cristãos nominais, que ouvem a verdade e aparentam crer em Cristo, mas, por fim, demonstram sua superficialidade em relação a Ele, renunciando-o publicamente. Outros interpretam estes versículos como argumento hipotético que o autor de Hebreus estaria usando para advertir àqueles espiritualmente imaturos (v. 1-3) que não rejeitem a oferta de salvação de Deus (v. 6; Hb 3.12). Os que postulam essas duas posições citam, caracteristicamente, as diversas passagens bíblicas que falam da verdadeira segurança eterna do crente (Jo 6.39,40; 10.27-29; Rm 8.28-30). Uma vez que Deus nos salvou, nada pode separar-nos do Seu amor (Rm 8.35-39). Outros ainda, porém, preferem que o autor esteja falando de cristãos genuínos que renunciam a Cristo e deixam de ser cristãos. Alegam ser esta uma leitura clara deste texto, citando várias advertências no Novo Testamento para resistirmos aos enganos de falsos mestres, como evidência adicional a esta sua interpretação (2 Co 11.1-4,13-15; 2 Tm 2.17,18; 1 Jo 2.21-25). É mais provável que a passagem diga respeito a judeus, verdadeiros crentes em Jesus, que, ao sofrerem perseguição, vejam-se tentados a novamente se envolver com a religião judaica e seus ritos, de que haviam sido libertos em Cristo. Em vez de falar da perda da justificação, a passagem se refere ao fracasso de um crescimento à maturidade. O crente que, tentado, é levado a cair (como traduz melhor o grego), depois de já haver obtido progresso na caminhada cristã, como se evidencia nas características do crescimento cristão indicadas nos versículos 4 e 5, após a queda (o abandono não de Cristo, mas da corrida cristã) coloca-se em risco de ficar estagnado no crescimento cristão. 6.6 — A expressão e recaíram pode ser traduzida de forma melhor por e caíram de lado, representando um corredor que cai ao lado da pista durante uma corrida. A expressão, neste caso, pode ser entendida aqui como referindo-se a pessoas para as quais é impossível ter uma mudança de opinião, ou arrependimento, por estarem envolvidas em atividades que contrariam sua confissão de Cristo como seu Salvador.
Renovar (gr. anakainizõ) significa restaurar, restabelecer. É impossível ao empenho de quem quer que seja na comunidade cristã restabelecer a comunhão de alguém com Deus. Este, o motivo da forte advertência em Hebreus 3.13 de que exortemos uns aos outros, a fim de evitarmos um coração endurecido. A imaturidade constante é sempre perigosa. Pense em pessoas que você possa ter conhecido, exultantes testemunhas de Cristo, que se desviaram do caminho e se tornaram frias como pedra. Para o autor, essas pessoas de novo crucificam o Filho de Deus, e o expõem ao vitupério. Ao se afastarem do crescimento cristão, tais apóstatas se colocariam na posição dos que, na prática, crucificaram Jesus e o expuseram à humilhação pública. Em outras palavras, se os leitores originais são cristãos judeus que estão pensando em retornar ao judaísmo, estarão se juntando às fileiras daqueles que crucificaram Cristo, pois sua atitude corresponde, em importância, a uma rejeição pública, a uma nova crucificação (simbólica) do Senhor. 6.7 ,8 — Aqui, uma ilustração baseada na natureza transmite duas verdades: (1) um pedaço de terra que recebe chuva (um dom celestial, v. 4) e que é produtiva e útil para muitos e abençoada por Deus (v. 7); (2) um pedaço de terra (v. 8) que recebe chuva (um dom celestial, v. 4), mas é improdutiva, é reprovada (gr. adokimos), palavra que significa desqualificada, usada em relação a cristãos desqualificados para receber recompensas (1 Co 9.27; 2 Co 13.5,7). Essa terra não é amaldiçoada, mas perto está da maldição (1 Co 11.29-31). A consequência é ser queimada, o que não significa o inferno, mas um juízo temporal de Deus. No Antigo Testamento, o juízo de Deus sobre Seu povo está associado a queima dos campos (Is 9.18-19; 10.17), o que representa morte física, mas não morte espiritual. Talvez exista aqui também uma alusão ao fogo do juízo, quanto ao fundamento de Cristo (1 Co 3.11-15). Existia uma prática antiga de queimar a terra para destruir as ervas daninhas e fazer que o campo fosse útil novamente. Se essa é a alusão pretendida, então a passagem ensina que, embora todas as tentativas humanas de restaurar os apóstatas sejam inúteis (v. 6), existe a esperança de que possam
voltar a produzir novamente. E possível a uma pessoa naufragar na fé e aprender, então, com essa ruinosa experiência (1 Tm 1.18-20). 6.9 — Com o calor e a afeição do título amados, o autor garante aos hebreus que espera coisas melhores deles. Suas boas obras são sinais, para o autor, de que eles teriam recebido Cristo verdadeiramente (v. 10). 6.10 — Serão então recompensados, porque Deus não é injusto. Ele os recompensará pelo que tiverem realizado. 6.11 — Os cristãos correm constantemente o perigo de não permanecer inteiramente fiéis na esperança que devem ter em Cristo. Devemos manter nosso compromisso com Cristo firme até o fim. 6.12 — Negligentes é a mesma palavra usada em Hebreus 5.11, que deu início a esta exortação para que os hebreus crescessem na fé em Cristo (Hb 5.11—6.12). 6.13-15 — Abraão é um exemplo de fé e paciência para com a promessa de Deus (v. 12). Ele esperou 25 anos desde que foi feita a promessa até Isaque, o filho prometido, nascer (Gn 12.4; 21.5). 6.16,17 — Confirmação significa garantia. O juramento é usado para garantir o cumprimento do acordo. 6.18 — O Senhor confirmou Seu juramento a Abraão ao jurar por si mesmo (v. 13) porque Ele, por si só, é maior do que tudo. As duas coisas imutáveis são a Palavra de Deus e o juramento de Deus. Como Deus não mente e é todo-poderoso, há de cumprir todas as Suas promessas. Essa natureza imutável de Deus é a consolação e o fortalecimento do crente. 6.19 — A esperança do crente em Cristo é segura como uma âncora. Essa âncora não está na areia, mas na presença do Todo-poderoso. Interior do véu se refere ao Santo dos Santos, o lugar onde Deus habita.
6.20 — A palavra grega para precursor era usada no século 2 d.C. com relação a barcos menores enviados para o porto pelos grandes navios impossibilitados de lá atracar devido ao mau tempo. Esses barcos carregavam a âncora através da arrebentação para o porto e a prendiam lá, segurando assim o navio maior. Precursor pressupõe que outros o seguirão. Deste modo, Jesus é não somente a própria âncora do crente, mas também o barco que leva a âncora para o porto e a segura firmemente. Não há dúvida de que o nosso navio está indo para o porto. A única questão é se está indo com a tranquilidade de um navio bem posicionado nas águas. Os cristãos que conservam sua esperança na presença de Deus hão de chegar com confiança ao trono da graça (Hb 4.14-16). Como a esperança dos cristãos é segura e não pode ser abalada, devem usá-la com perseverança.
Hebreus 7 7.1-25 — O capítulo 7 é o início do ensino avançado para a maturidade (Hb 5.14). Os versículos 1 a 10 descrevem a superioridade do sacerdócio de Melquisedeque. Segundo informa Gênesis 14.18-20, Melquisedeque foi maior que Abraão e Levi. Os versículos 11 a 25 descrevem a superioridade de Cristo, o sacerdote como Melquisedeque. Como diz Salmo 110.4, Cristo é sacerdote eterno. E é maior que os sacerdotes levíticos, descendentes de Arão (v. 11-25). 7.1 — A menção de Melquisedeque lembra a referência já feita a esse antigo sacerdote em Hebreus 5.10,11. Melquisedeque foi tanto rei quanto sacerdote, uma combinação comum nos tempos antigos. Salém, tempos depois, foi chamada Jerusalém. 7.2 — O nome Melquisedeque significa rei de justiça. Salém significa paz. O rei ideal reina em justiça, o que assegura a paz (Is 32.17). 7.3 — Sem pai, sem mãe, sem genealogia. Gênesis, um livro com muitas genealogias, não tem nenhuma para Melquisedeque. O autor não está dizendo que Melquisedeque nasceu sem pai e mãe, o que seria um absurdo, apenas que não existe nenhum registro de seu nascimento nas genealogias
de Gênesis. Essa descrição de Melquisedeque prefigura o sacerdócio eterno de Jesus. E tal como ele, Jesus é tanto Sacerdote como Rei, pertencendo a um sacerdócio de justiça independente do de Arão. Alguns comentaristas referem-se a essa passagem com a suposição de que Melquisedeque seria uma manifestação pré-encarnada de Jesus, o que é improvável, pois, como o autor afirma aqui claramente, ele é semelhante ao Filho de Deus, não o mesmo que Ele. 7.4-7 — Melquisedeque foi grande porque Abraão deu a ele os dízimos. No texto grego, a palavra patriarca é enfática. A grandeza de Abraão, aquele que possuía as promessas de Deus (v. 6), ressalta a posição ainda maior de Melquisedeque, o sacerdote de justiça. 7.8-10 — Melquisedeque era não apenas superior a Abraão, mas superior ao sacerdócio levítico de duas maneiras. Primeiro, os sacerdotes levíticos eram homens comuns, que morrem, e, deste modo, diferentes sacerdotes representavam o povo em diferentes épocas; Melquisedeque, pelo contrário, vive, no sentido de que o Antigo Testamento não registra sua morte (v. 3). Em segundo lugar, até Levi deu o dízimo a Melquisedeque por meio da oferta de Abraão. A epístola usa da expressão e, para assim dizer, para afirmar que Levi, embora ainda não nascido naquela época e não tendo, assim, dado o dízimo literalmente, pelo fato de descender de Abraão deve ser contado como tendo dado o dízimo a Melquisedeque também. 7.11-25 — Por que Cristo, o Sacerdote segundo a ordem de Melquisedeque, substituiu o sacerdócio levítico 1 Interpretando o Salmo 110.4 frase por frase, o autor de Hebreus dá a resposta: O sacerdócio de Cristo foi profetizado (v. 11-14); Seu sacerdócio era baseado na virtude da vida incorruptível (v. 15-19); o juramento de Deus estabeleceu o sacerdócio de nosso Senhor (v. 20-22); Cristo não tem sucessor, mas permanece eternamente (v. 23-25). Debaixo desse novo plano, a Lei (v. 12) foi substituída por uma melhor esperança (v. 19) e um melhor concerto (v. 22). 7.11 — Se o sacerdócio levítico tivesse sido capaz de levar as pessoas à perfeição, não seria necessário um sacerdote superior, da ordem de Melquisedeque (SI 110.4). Se os sacerdotes sob a Lei de Moisés pudessem oferecer reconciliação entre Deus e Seu povo, não haveria necessidade da
vinda de um Messias, Aquele que restabelecesse o relacionamento dos israelitas com Deus.
avalia que existiram 83 diferentes sumo sacerdotes de Arão até a queda do templo, no ano 70 d.C.
7.12 — Mudança significa remoção (Hb 12.27). Se o sacerdócio de Melquisedeque removeu o sacerdócio levítico, então a lei de Moisés foi também removida. Em suma, o crente não está sob a lei, mas sim sob a justiça de Cristo (Rm 6.14; G13.24-25). Qualquer sistema religioso que tente permanecer sob a Lei não pode ter Cristo porque Cristo foi o único que cumpriu plenamente a Lei e pode justificar-nos.
7.25 — Cristo pode também salvar por ser inteiramente divino e inteiramente humano (Hb 2.18; 4.15). Se este versículo for tomado como se referindo à presente intercessão de Jesus por nós, a palavra salvação adquire o significado de santificação, processo contínuo pelo qual somos libertos do poder do pecado. Esse processo deverá ser um dia completado com a nossa glorificação, quando formos enfim resgatados totalmente do poder do pecado.
7.13-19 — O autor fornece dois argumentos para demonstrar que a antiga aliança foi substituída. A primeira está nos versículos 13 e 14, e a segunda, nos versículos 15 a 19. 7.13,14 — Aquele de quem estas coisas se dizem é o Senhor, que se levantou de outra tribo, a de Judá. De acordo com a lei, a tribo de Judá não tinha a ver com o sacerdócio. O argumento se baseia no Salmo 110.4 (Hb 5.6). Se o Antigo Testamento dizia que outro sacerdote de outra tribo estava por vir é porque, claramente, aquela aliança estava por ser substituída. 7.15-19 — A lei que regulava o sacerdócio era carnal, no sentido de que regulava as ações externas das pessoas. O Senhor, no entanto, é um Sacerdote segundo a virtude da vida incorruptível, como afirma o Salmo 110.4, citado no versículo 17. Jesus é um tipo diferente de Sacerdote — outra indicação de que a aliança mudou. O mandamento não foi ab-rogado; houve uma reinterpretação da lei. 7.20-28 — Tendo provado que a antiga aliança foi substituída, o autor argumenta ter sido trocada por algo melhor. 7.20-22 — O sacerdócio de Cristo é superior ao sacerdócio levítico porque foi estabelecido por um juramento de Deus (jurou o Senhor, em Salmo 110.4). 7.23, 24 — Como Cristo vive eternamente, Seu sacerdócio é perpétuo. No sistema levítico, a função de sumo sacerdote estava sempre mudando de mãos. Ao morrer um sumo sacerdote, outro assumia a função. Flávio Josefo
A palavra perfeitamente talvez se refira a essa glorificação, à nossa salvação completa, integral. Que se chegam. O verbo grego para chegar está no presente, o que indica que Jesus continua a salvar aqueles que se chegam a Ele. Em outras palavras, nossa justificação é um acontecimento definitivo, consumado na cruz, mas a santificação é um processo contínuo. Como Cristo tem um sacerdócio eterno, Ele pode salvar perfeitamente (gr. panteles), palavra que significa completamente ou inteiramente. Para sua salvação completa (1 Ts 5.23), deve o crente se chegar a Deus por meio de Cristo, que intercede por ele. É essa a última e a maior das três grandes aptidões ou possibilidades que se oferecem ao crente, apresentadas neste texto (Hb 2.18; 4.15). 7.26-28 — O autor conclui este capítulo com um resumo de por que o sacerdócio de Jesus é superior a qualquer outro. Mais sublime do que os céus significa que Cristo é exaltado acima de tudo e se assenta na glória, à direita do Pai (Hb 1.3; 2.9; 4.14). Como os sumos sacerdotes, de oferecer cada dia sacrifícios. O sumo sacerdote oferecia um sacrifício contínuo, anualmente, no Dia da Expiação, por si mesmo e pelos pecados do povo (Hb 9.7; 10.1), enquanto os demais sacerdotes ofereciam sacrifício contínuo diariamente pelas culpas e pecados diante do Senhor (Ex 29.36). Jesus, porém, ofereceu sacrifício de si mesmo uma única vez, sacrifício não por pecado próprio, mas suficiente e perfeito pelos pecados de todos nós. Por ser Ele perfeito, não precisou oferecer sacrifício por pecado próprio. A natureza estável, permanente e eterna do sacerdócio de Jesus, estabelecido
por juramento de Deus, contrasta com a natureza frágil e temporal do sacerdócio levítico.
Hebreus 8 8.1-6 — O ministério sacerdotal de Cristo pertence ao Reino celestial. Ele ministra no céu, e não no tabernáculo de Moisés (v. 1,2,5). Seu sacrifício foi algo eterno, não oferecido como dons segundo a lei (v. 3,4). Pois Ele é o Mediador de um novo concerto (v. 6). Esses tópicos são desenvolvidos mais adiante, em Hebreus 8.7—10.18. 8.1 — O tema mais importante desta parte de Hebreus (v. 1-6) é o sumo sacerdócio de Cristo, mencionado antes, em Hebreus 2.17—3.1, e desenvolvido em Hebreus 4-14—7.28. 8.2,3 — Santuário se refere à realidade celestial, representada na terra no Santo dos Santos (Hb 9.2,8,24; 10.19; 13.11). Esta realidade é a presença de Deus. Nosso Sumo Sacerdote serve lá e é para lá que nos levará (Hb 10.19). 8.4 — Segundo a lei. Tão-somente os da tribo de Levi podiam servir como sacerdotes. Cristo, homem, não era levita, mas da tribo de Judá (Hb 7.13,14). 8.5 — O sacerdócio levítico servia de exemplo do futuro sacerdócio celestial. O mesmo, em relação ao tabernáculo. A Moisés foi apresentado um modelo, uma amostra do verdadeiro tabernáculo (Êx 25.40). 8.6 — Cristo não apenas serve em um santuário melhor (v. 1-5), como também exerce um ministério mais excelente e é mediador de um melhor concerto, tendo por base melhores promessas (v. 10-12). 8.7 — Aquele primeiro refere-se ao primeiro concerto, feito por meio de Moisés (v. 9; Ex 19.5).
8.8-12 — A citação de Jeremias 31.31-34 demonstra que mesmo no Antigo Testamento já era reconhecido que haveria de vir um outro ou segundo (v. 7) concerto. 8.8, 9 — O novo concerto é o mesmo melhor concerto do versículo 6. Esse pacto foi feito com os antigos Israel e Judá, mas é a Igreja que desfruta das bênçãos espirituais desse concerto. O concerto abraâmico, feito com Abraão e seus descendentes (Gn 17.7), que herdariam a terra (Gn 12.7; 13.14,15), continha também promessas espirituais (Gn 12.3), das quais a Igreja participa (Rm 11.11-27; G1 3.13,14). O novo concerto é, de fato, o cumprimento da redenção espiritual, prometida nos pactos de Deus com Abraão e Davi (Mt 26.26-29; Lc 22.20). 8.10-12 — Existem quatro pontos característicos no novo concerto: (1) a lei de Deus ser escrita na mente e no coração dos cristãos, em contraste com a lei de Moisés, escrita em tábuas de pedra; (2) os cristãos terem um relacionamento com Deus, em cumprimento à promessa em Levítico 26.12 (2 Co 6.16); (3) todos conhecem a Deus — os fariseus e escribas não precisariam mais ensinar a complexidade da Lei ao povo; (4) Deus perdoaria os pecados dos remidos e de seus pecados não se lembraria mais. O contínuo sacrifício de animais para expiação dos pecados cessaria. 8.13 — A presença de um novo e melhor concerto demonstra não só que o primeiro concerto não era mais suficiente (v. 7), mas também que foi tornado velho e perto de acabar. Na época em que o autor de Hebreus escreveu essas palavras, é possível que as leis cerimoniais ainda fossem observadas no templo em Jerusalém. Em 70 d.C., no entanto, o general romano Tito destruiria o templo, cumprindo essas palavras.
Hebreus 9 9.1—10.10 — Os versículos 1 a 10 do capítulo 9 descrevem os sacrifícios no Dia da Expiação, no tabernáculo terreno (Lv 16). Esses sacrifícios não eram capazes de limpar a consciência. Em contraste, o oferecimento de Cristo de si mesmo, conquistando Sua entrada no santuário celestial (Hb 9.11-14), estabeleceu um novo concerto (Hb 9.15-22), provendo nossa salvação de uma vez por todas (Hb 9.23-28). Sua obediência tornou eficaz Seu sacrifício (Hb 10.1-10). 9.1 — O primeiro concerto incluía um santuário terreno, o tabernáculo (v. 2), no qual eram oferecidas ordenanças de culto divino. 9.2-5 — Esses versículos descrevem de forma simples o material principal que havia no tabernáculo. No pátio do tabernáculo, encontravam-se um altar para o sacrifício de animais, uma bacia para lavagem cerimonial e a tenda em si (a palavra tabernáculo significa, literalmente, tenda). O tabernáculo era dividido em dois cômodos por um véu. A primeira parte era o santuário ou Lugar Santo, onde ficava o candelabro, a mesa com os pães da proposição e o altar de incenso. O segundo cômodo [mais íntimo] era o Santo dos Santos (v. 3), onde se achava a arca do concerto, ou arca da aliança, na qual estavam guardados símbolos do pacto feito por Deus com Israel por meio de Moisés. O vaso do maná lembrava o povo de Israel da provisão miraculosa de Deus para ele no deserto. A vara de Arão era sinal da autoridade do sacerdócio: Deus havia ordenado que Arão e seus filhos fossem os representantes do povo perante Ele. As tábuas eram os Dez Mandamentos, dados à nação no monte Sinai. Sobre a arca ficava o propiciatório, lugar onde Deus tornava Sua presença conhecida. Incensário de ouro. Nessa passagem, parece como se o incensário estivesse no Santo dos Santos, quando, na verdade, estava ao lado do véu que separava o Santo dos Santos do Lugar Santo. Por causa de sua função, no entanto, o incensário era normalmente associado ao Santo dos Santos (Êx 30.6; 40.6).
9.6 — Entravam os sacerdotes no Lugar Santo pela manhã e à tarde para queimar incenso no altar de ouro e acender as lâmpadas (Êx 30.7,8). Toda semana, no Sábado, eram trocados os pães da proposição (Lv 24.5-8). 9.7 — Só o sumo sacerdote podia entrar no Santo dos Santos. Uma vez por ano, no Dia da Expiação, o sumo sacerdote oferecia sangue sacrificial por si mesmo e pelas culpas do povo de Israel (Lv 16). No antigo concerto, o acesso a Deus era limitado (compare com as promessas do novo concerto, em Hb 8.10,11). 9.8 — O fato de que o sumo sacerdote podia entrar no Santo dos Santos apenas uma vez por ano indica o evidente propósito divino de a Lei não visar propriamente a levar os crentes à presença de Deus. 9.9 — O tabernáculo era uma alegoria, uma ilustração das verdades espirituais. Para o tempo presente se refere à época do tabernáculo, ou seja, a do Antigo Testamento. Não podem aperfeiçoar. O concerto feito mediante Moisés cobria temporariamente os pecados e a culpa (v. 7), mas não os pecados premeditados, tampouco o pecado inato de todas as pessoas (SI 51). Em outras palavras, o sistema era falho, não reconciliando propriamente o pecador com Deus. 9.10 — Justificações da carne. Isso indica que eram ordenanças externas e temporárias. Correção (gr. diorthõsis) significa nova ordem. Aqui, é realçada novamente a natureza temporária do concerto via Moisés. 9.11-14 — O primeiro concerto (v. 1) contava com um santuário (v. 2-5) e um serviço de adoração sacrificial (v. 6-10). Cristo, do mesmo modo, teve santuário (v. 11) e ofereceu sacrifício (v. 12-14). 9.11 — O tabernáculo de Cristo é mais perfeito, bem melhor, do que o tabernáculo do Antigo Testamento (v. 1-5). Os bens futuros incluem o acesso a Deus (Hb 8.10-12). Por um maior. A preposição por, neste contexto, significa em conexão com. Assim, o maior e mais perfeito tabernáculo não é uma referência ao corpo de Cristo, mas sim ao verdadeiro tabernáculo celestial (Hb 8.2).
9.12 — A cerimônia sacrificial do sacerdote levítico alcançava um tipo de redenção simbólica, limitada e recorrente. Cristo, por seu próprio sangue, alcançou para nós eterna redenção. Seu sacrifício jamais precisará ser repetido, porque foi perfeito. Milhões e milhões de sacrifícios animais para a expiação dos pecados foram dispensados e substituídos pelo sacrifício único e culminante de Jesus, nosso perfeito Salvador. Seu sangue derramado foi o caminho de nosso acesso a Deus. 9.13 — De acordo com a lei, o sangue de touros e bodes dos sacrifícios feitos no Dia da Expiação era um pagamento temporário pelos pecados do povo (v. 12). Já a cinza de uma novilha, misturada com água, era usada para a purificação de alguém que tivesse se tornado imundo, pela lei, por haver tocado uma pessoa morta (Nm 19). Destaca o autor de Hebreus que essas cerimônias alcançavam apenas o exterior do ser, não o seu coração. 9.14 — O Espírito eterno é o Espírito Santo — as três pessoas da Trindade estão envolvidas na purificação. Purificará a vossa consciência. A contaminação espiritual de alguém é interna, não externa (v. 13). A morte de Cristo tem o poder de purificar a mente e a alma da pessoa. Obras mortas referem-se aos rituais da Lei de Moisés, que não podiam dar vida (Hb 6.1). Depositar fé e confiança naquilo que já serviu ao seu propósito e já se extinguiu é inútil. E desobediência a Deus. O autor de Hebreus conclama seus leitores a libertarem sua consciência das regras da lei e se apegarem a Cristo, para sua purificação. Ao fazê-lo, poderiam, em vez de servir às obras mortas, servir ao Deus vivo, verdadeiramente. 9.15 — O novo testamento apresenta duas bênçãos para o crente: redenção e herança. Os crentes recebem redenção dos pecados cometidos sob a lei. Cristo pagou o preço para nos libertar de nosso próprio pecado. Sua morte substitui nossa morte, a pena pelos nossos pecados. Como os israelitas, os cristãos recebem uma herança, mas a uma herança é eterna (v. 14). Ao imitar a fé e a paciência de Abraão, os cristãos têm a garantia de que herdarão as maravilhosas promessas que Deus lhes fez (Hb 6.12; 8.6-12 ).
9.16,17 — Testamento significa uma vontade manifesta legalmente. Antes que a vontade manifesta em um testamento tenha efeito, aquele que fez o testamento deve morrer. 9.18-21 — O testamento feito mediante Moisés foi ratificado pelo sangue, isto é, pela morte. Não, porém, a morte daquele que fazia o testamento, mas dos animais oferecidos como sacrifício a Deus (Êx 24-1-8). Para confirmar a proposição de que a morte é necessária para a ratificação de um testamento, o autor ilustra o assunto recorrendo à ratificação do antigo concerto (Êx 24-3-8). 9.22 — Quase indica que existiam exceções para a purificação com sangue (Lv 5.11-13), mas eram poucas em comparação com a importância dos sacrifícios feitos para a remissão de pecados (Lv 17.11). 9.23 — Se as figuras tinham de ser purificadas pelo sangue, então um sacrifício ainda melhor era necessário para a realidade do verdadeiro santuário. 9.24 — O sacrifício de Cristo foi melhor do que os feitos sob o antigo concerto porque, ao fazê-lo, Ele não entrou em um santuário feito por mãos, figura do verdadeiro, mas ingressou no verdadeiro santuário, que está no céu —perante a face de Deus. 9.25, 26 — O sacrifício de Cristo foi melhor do que os feitos sob o antigo concerto porque Ele não ofereceu um sacrifício de animais periódico, anual, mas ofereceu sacrifício de si mesmo e de uma só vez. Na consumação dos séculos. A vinda de Cristo marca o clímax da época do Antigo Testamento. 9.27, 28 — Como as pessoas morrem uma vez só, Cristo morreu uma só vez — não como os repetitivos sacrifícios do sistema levítico. Todavia, diferente das demais pessoas, Cristo não morreu e enfrentou o juízo. Ele morreu uma vez, para então vir a aparecer uma segunda vez para a salvação (Hb 1.14). Aqueles que o esperam não são propriamente todos aqueles que se dizem crentes, mas somente os que se mantêm firmes até o fim.
Hebreus 10 10.1-4 — E não a imagem exata das coisas significa não a sua representação exata. Aperfeiçoar quer dizer remover o sentimento de pecado (v. 2; 8.12; 9.9). Os sacrifícios do concerto mosaico prefiguram o sacrifício final de Cristo. Eles não podiam purificar por completo os pecadores que os ofereciam; do contrário, já teriam deixado de se oferecer. Em vez de expiar de forma completa os pecados do povo, o sacrifício anual no Dia da Expiação era mais, na verdade, um lembrete visível dos pecados de todos. 10.5-7 — Então. Dada a inadequação dos sacrifícios animais, chega-se a uma conclusão. Está escrito de mim. O autor apresenta o Salmo 40 como um cântico messiânico, já que tão somente Cristo, e não Davi, poderia vir a cumprir as profecias do livro, ou seja, das Escrituras. Para fazer, ó Deus, a tua vontade. Profetas no Antigo Testamento advertiram os israelitas de que sacrifícios somente não agradariam a Deus. Ele desejava obediência (SI 51.16,17; Is 1.13-17; Mc 12.33). Esse salmo messiânico revela que a extrema obediência de Jesus ao Pai foi também uma das razões pelas quais Seu sacrifício foi melhor do que os sacrifícios do Antigo Testamento. 10.8,9 — O autor explica o Salmo 40, concluindo que Deus tira o primeiro, significando o sistema sacrificial levítico, para estabelecer o segundo, ou seja, o sacrifício obediente do Filho. O verbo traduzido por tirar significa abolir. Os sacrifícios imperfeitos foram abolidos, para que o sacrifício perfeito pudesse conceder vida verdadeira. 10.10 — Santificados significa literalmente separados [para Deus]. Pelo sacrifício definitivo de Cristo, os crentes foram afastados de seus pecados e separados para Deus. 10.11,12 — O autor de Hebreus contrasta os sacerdotes levíticos com Jesus, nosso Sumo Sacerdote. Os sacerdotes levíticos sempre ficavam de pé diante de Deus. Não havia assentos no santuário, porque o serviço dos sacerdotes nunca terminava. Havia sempre pecados para serem expiados. Por sua vez, Cristo se assentou à destra do Pai (Hb 1.3; 8.1) depois de haver oferecido a si mesmo como sacrifício. Isso indica que Seu trabalho de expiação
terminara. Suas palavras finais na cruz, está consumado (Jo 19.30), declaram essa realidade espiritual. 10.13 — O ato de redenção de Cristo está consumado, e tudo o que Ele tem a fazer é esperar até que os seus inimigos sejam postos por escabelo de seus pés. 10.14 — O ato de Cristo ao morrer pelo pecado (v. 10) aperfeiçoou (v. 1) para sempre os que são santificados, isto é, aqueles que foram separados para Deus (v. 10). Observe que a santificação citada no versículo 10 é posicionai; refere-se à nossa justificação, ao fato de que fomos declarados justos. No versículo 14, porém, santificação se refere ao processo gradual pelo qual os cristãos se tornam cada vez mais perfeitos. 10.15-18 — Uma vez que foi alcançado perdão completo e final, Deus não se lembra mais do pecado (v. 17), e nenhum outro sacrifício se faz necessário. Jamais me lembrarei de seus pecados não significa propriamente esquecer, mas sim não manter mais o pecado voltado contra nós. 10.19-25 — Nestes versículos, o autor de Hebreus demonstra a relação entre fé, esperança e amor. A fé em Deus leva o crente a depositar sua esperança nas promessas dele. O restabelecimento de um relacionamento apropriado com Deus motiva o crente a restabelecer seu bom relacionamento com as outras pessoas. O amor por Deus é demonstrado em amor pelo próximo. O autor exorta seus leitores a terem fé, esperança e amor, por meio de três conclamações: cheguemo-nos (v. 22); retenhamos firmes (v. 23); consideremo-nos (v. 24). 10.19 — Pois lembra o pois em Hebreus 4.16. O autor usou cinco capítulos para explicar a superioridade do sacerdócio de Cristo em relação ao sacerdócio levítico, e a do novo concerto em relação ao antigo. Diferente dos israelitas, que temeram aproximar-se de Deus no monte Sinai (Êx 20.18-21), nós podemos aproximar-nos do Senhor até com ousadia, com total confiança (Hb 3.6; 4.16; 10.35), pois a justiça que possuímos é de Cristo, não nossa. Santuário se refere à presença de Deus. A maioria de nós provavelmente não tem acesso imediato aos governantes de nossa nação ou
comunidade. No entanto, mediante o sangue de Cristo, temos, acesso imediato e perpétuo ao próprio Deus!
mensagem do evangelho é pregada e a Palavra de Deus é aplicada às circunstâncias de nossa vida.
10.20 — O sacerdote do Antigo Testamento tinha de passar por um véu divisório, no tabernáculo, para ingressar no Santo dos Santos. Já o crente entra na presença de Deus por intermédio da carne de Cristo, ou seja, de Sua morte sacrificial.
Aproximando poderia ser traduzido também por chegando (Rm 13.12; Fp 4.5; Tg5.8; 1 Pe 4-7; Ap 1.3). Por saberem que a volta de Cristo pode ser iminente, os cristãos têm de encorajar cada vez mais uns aos outros para que permaneçam todos fiéis a Ele (Hb 3.13).
10.21 — Os cristãos têm um grande sacerdote que, tendo sido tentado, pode compadecer-se da fraqueza deles e representá-los perfeitamente diante de Deus (Hb 4.14,15).
10.26-39 — As advertências encontradas nestes versículos se assemelham às de Hebreus 6. O que há de adicional em Hebreus 10 é a declaração sobre pecado intencional e linguagem dura usada em relação ao julgamento do transgressor. Há comentaristas que chegam a considerar os versículos 26 a 39 como direcionados diretamente aos não regenerados; na verdade, porém, são endereçados aos cristãos. A palavra porque mostra que a passagem completa e explica a anterior, que é uma exortação aos cristãos (v. 19-25).
10.22 — Cheguemo-nos é a mesma palavra usada em Hebreus 416. Inteira certeza significa segurança (Hb 6.11). Os corações purificados [...] o corpo lavado. Nossa consciência pode ser purificada pelo sangue de Cristo (Hb 9.14). Assim como o sumo sacerdote se purificava antes de entrar no Santo dos Santos (Lv 16.3,4), também são os crentes purificados antes de chegar à presença de Deus. 10.23 — A confissão da nossa esperança é o testemunho da expectativa confiante do crente em relação ao seu futuro. Prometeu, aqui, pode referirse à promessa de Deus de entrarmos em Seu repouso (Hb 4-1). 10.24,25 — Considerar significa, no caso, ter em boa conta, ser compreensivo para com, olhar sob uma perspectiva favorável. Observe que caridade e boas obras precisam ser estimuladas, pois não acontecem por acaso. A palavra grega traduzida por estimular em português significa mais paroxismo, convulsão. Neste contexto, fala do tremendo impacto benéfico que os cristãos podem causar uns aos outros. Eis por que o autor exorta os hebreus a congregar e a manter-se unidos. E provável que alguns cristãos deixassem de comparecer às reuniões da Igreja por talvez temerem perseguições. O autor não usa a palavra usual para igreja em grego, porque pode ser que o termo já tivesse passado a significar o corpo espiritual e invisível de crentes. Em vez disso, usa uma forma composta da palavra sinagoga para significar especificamente o local de reunião dos cristãos (SI 40.9,10; 42.4). A congregação local é onde a
O verbo fexionado na primeira pessoa do plural (nós) indica que o autor se inclui, tolerantemente, entre aqueles passíveis de receber a advertência. Quanto à frase depois de termos recebido o conhecimento da verdade, podese argumentar que a palavra grega para conhecimento aqui empregada significa conhecimento pessoal experimental. Além disso, conforme se admite, os cristãos aos quais se dirige a passagem são santificados pelo sangue de Cristo (v. 29), são chamados povo de Deus (v. 30) e sofreram por causa de Cristo (v. 32,34). Do que precisam, enfim, é de paciência (v. 36). 10.26 — Se pecarmos voluntariamente. A referência aqui não é a um ato ocasional de pecado (que pode ser confessado e perdoado — 1 Jo 1.8,9), mas a uma rejeição consciente de Deus. O Antigo Testamento fala, em Números 15.30,31, sobre cometer pecado deliberadamente. Uma pessoa que pecasse de forma arrogante seria extirpada do meio do povo. Neste versículo, sobre a centralidade da congregação para o fortalecimento e amadurecimento dos santos, o pecado voluntário depois de termos recebido o conhecimento da verdade é considerado rejeição desse conhecimento e querer seguir seu próprio caminho individualista, esquivo e egoísta. Não é do plano de Deus promover o isolamento, mas sim a ligação dos cristãos uns com os outros.
Se o cristão se rebela contra a provisão de Deus, já não resta mais sacrifício pelos pecados. Não existe sacrifício disponível, portanto, para o pecado da arrogância (Nm 15.29-31). Tal ato é desprezo pela Palavra do Senhor. 10.27 — Sem esperança de perdão (v. 26), tudo o que se pode esperar é o juízo, para o qual, é dito aqui, há uma expectação horrível. Acredita-seque essa seja uma referência ao inferno. Mas o fogo é mencionado nas Escrituras para outras coisas. O fogo aqui pode ser o juízo temporal ou o tribunal de Cristo, semelhante ao Antigo Testamento, em que a ira de Yahweh contra Seu povo que havia pecado é descrita pela metáfora do fogo (Is 9.18,19; 10.17). Aqueles que escolhem desobedecer a Deus se tornam Seus adversários (Tg 4.4). 10.28,29 — O pecado específico do Antigo Testamento que requeria duas ou três testemunhas era a idolatria (Dt 17.2-7). O castigo previsto era a morte por apedrejamento. Uma vez que a idolatria era punida com a morte física, quanto maior punição deve receber alguém que trate a palavra de Cristo com desrespeito e desdém! Tiver por profano o sangue do testamento significa tratar o sangue de Cristo sem diferençá-lo do sangue de um homem comum ou mesmo do sangue do sacrifício de um animal. Fizer agravo ao Espírito da graça é uma referência ao Espírito Santo, Agente do gracioso dom de salvação de Deus. Quem comete essas ofensas está sujeito a ser sentenciado com punição pior do que morte física. Não é propriamente uma referência à morte espiritual ou ao inferno. Existem formas de juízo temporal de Deus piores do que a morte física — algumas até que fazem da morte física um alívio bem recebido (Lm 4.6,9; compare com 2 Cr 26.21). 10.30, 31 — O autor cita duas passagens de Deuteronômio 32 para sustentar que o juízo pertence ao Senhor e que o povo de Deus não está livre desse julgamento. Horrenda coisa é cair nas mãos do Deus vivo, porque não existe mais qualquer outro sacrifício pelo pecado além do sacrifício já feito por Cristo na cruz (v. 26), apenas uma expectação horrível de juízo (v. 27). Todo pecado não expiado pelo sangue de Cristo resultará em grande expiado para quem o tiver cometido, no tribunal de Cristo (1 Co 3.15; 2 Co 5.10).
10.32—12.17 — Aqueles que têm uma vida de fé em Deus estão sempre sujeitos a sofrer. Entre esses sofredores, estão desde os leitores aos quais se dirige Hebreus (Hb 10.32-39) até os fiéis do Antigo Testamento (Hb 11.140) e, mais do que ninguém, o próprio Jesus (Hb 12.1-4). Deus usa o sofrimento para fortalecer Seus verdadeiros filhos (Hb 12.5-11). Sejamos, então, corajosos (Hb 12.12-17). 10.32, 33 — Para encorajar seus leitores, o autor insiste em que se lembrassem de sua própria perseverança dos dias passados, ocorrida logo após terem sido iluminados, Elesh (Hb 6.9-12). Haviam perseverado mesmo sendo ridicularizados por causa de sua fé. 10.34 — As pessoas para quem Hebreus foi escrito haviam mostrado compaixão pelos que estavam nas prisões, e com gozo souberam passar por dificuldades econômicas. 10.35, 36 — Rejeitar a confiança é perder a convicção no valor do compromisso cristão. Para os destinatários de Hebreus, retornar à suposta segurança do judaísmo significaria a perda de um grande e avultado galardão eterno no tribunal de Cristo. 10.37, 38 — Estes versículos concentram sua atenção no enfrentamento do julgamento pessoal, ante a iminente volta do Senhor, e na necessidade de o justo viver pela fé (Hb 3.12,13). 10.39 — Aqueles que se retiram estão em perigo de destruição. O escritor tem confiança de que ele e seus leitores creem para a conservação da alma. Aqueles que vivem pela fé (v. 38) investem sua vida para receber dividendos eternos.
Hebreus 11 11.1-39 — Tendo concluído a quarta exortação com a declaração de que os crentes deveriam viver pela fé (Hb 10.38-39), o autor, agora, discute a fé em detalhes, dando exemplos diversos, extraídos do Antigo Testamento, de pessoas que confiaram em Deus.
11.8,9 — Abraão não sabia para onde ia, mas depositou sua total confiança em Deus. Fé significa entrar obedientemente no desconhecido (v. 1). Abraão agiu assim, e Deus o considerou justo por causa disso (Gn 15.6; Rm 4-1-12).
11.1 — Este versículo não constitui propriamente uma definição de fé, mas a descrição do que a fé pode fazer. Fundamento significa essência ou realidade. A fé trata as coisas que se esperam como realidade. Prova significa evidência ou convicção. A própria fé prova que o que é invisível é real, como serão, por exemplo, as recompensas do crente na volta de Cristo (2 Co 4.18).
11.10 — A cidade é a Nova Jerusalém (Ap 21.2,10). Abraão viveu na terra esperando pela futura, e ainda invisível, cidade que virá.
11.2 — Os antigos são os fiéis do tempo do Antigo Testamento. Testemunho se refere à aprovação de Deus. Ele os considerou justos por causa da fé que manifestaram (v. 4,5,7). 11.3 — Mundos. Pela fé entendemos que o nosso Deus, invisível, criou esse vasto universo. 11.4 — O sacrifício de Abel foi aceitável a Deus por causa de sua fé, ele foi então declarado justo. Caim oferecera seus sacrifícios sem fé (Gn 4) Abel ainda fala pelo seu exemplo, pois seu ato justo ficou registrado nas Escrituras. 11.5,6 — Aquele que se aproxima de Deus. A palavra aproximar é usada repetidamente em Hebreus para se referir ao privilégio de chegar perto de Deus (Hb 4.16; 7.25; 10.1,22). Aqui o autor de Hebreus explica que a fé é obrigatória àqueles que se aproximam do Senhor (Hb 10.22). Galardoador. Deus dá a recompensa, o galardão, àqueles que o buscam e que praticam boas obras no poder do Espírito Santo (Ap 22.12). 11.7 — Noé nunca tinha visto (v. 1) o dilúvio que Deus lhe revelou. Ainda assim, acreditou em Deus e deu toda a atenção a Seus avisos. Sua fé não só o salvou da inundação, mas também do juízo de Deus, pois se tornou herdeiro da justiça.
11.11,12 — Embora o livro de Gênesis não fale explicitamente, Sara evidentemente acreditava que nada era difícil para o Senhor (Gn 18.15). Como resultado, Deus a abençoou com o filho prometido, apesar de ela estar fora da idade de conceber. Como as estrelas do céu, e como a areia [...] na praia do mar. Essa comparação costumava ser ridicularizada quantitativamente pela ignorância humana com relação às estrelas. Hoje, os astrofísicos reconhecem a real legitimidade numérica nessa admirável comparação das estrelas do céu com os grãos de areia da praia do mar. 11.13,14 — Todos estes se referem a Abraão, Sara, Isaque e Jacó (v. 8,9,11), que morreram antes de tomar posse da terra ou ver qualquer outra das provisões do concerto de Deus. Apesar disso, persistiram na fé até o fim de sua vida terrena. Estrangeiros e peregrinos na terra. Esses homens e mulheres de fé sabiam que este mundo é temporário e que seu lar eterno seria junto a Deus. 11.15,16 — Os patriarcas e Sara não retomaram para Ur, embora pudessem tê-lo feito se quisessem. Os leitores destinatários da Epístola aos Hebreus deveriam seguir o exemplo dos patriarcas, recusando-se a retornar à religião de seus ancestrais, um sistema religioso que não oferecia a expiação do pecado (Hb 8.7-13). Da mesma forma, os cristãos devem recusar-se a retornar às atrações e perdições deste mundo (2 Tm 2.3,4; 4.10). 11.17-19 — Quando Abraão foi provado, creu que Deus, se necessário, podia fazer Isaque dos mortos ressuscitar (Gn 22.5). O incidente é uma metáfora do que Deus tem feito por nós. Isaque não seria tão bom se morto, de modo que Deus providenciou um cordeiro para ser sacrificado em seu
lugar (Gn 22.9-14). Para Deus, tudo é possível. É Ele o Todo-poderoso, e Seu Filho triunfou sobre a morte (Jo 11.38-44; 1 Co 15.54-57; Ap 1.18).
Se assim fosse, teria sido um milagre maior ainda que o exército egípcio tivesse se afogado em um pântano!
11.20-22 — Isaque, Jacó e José acreditaram até o final de sua vida no futuro invisível que Deus lhes havia prometido com relação a Seu povo.
11.30-34 — Foi preciso fé para que os guerreiros de Israel destruíssem os muros da cidade de Jericó de maneira tão incomum. Seu ato de fé produziu os resultados que desejavam; Deus deu-lhes a vitória sobre seus inimigos (Js 6). Os caminhos de Deus nem sempre parecem ser os mais lógicos para a compreensão humana (Is 55.8), mas cumprem sempre os propósitos divinos.
11.23 — Os pais de Moisés tiveram fé em Deus, sem temerem a opressão de Faraó. 11.24-28 — Moisés creu em Deus ao recusar alta posição na corte de Faraó. Em vez disso, escolheu sofrer com seu povo, abandonar o Egito e aceitar a Páscoa. 11.25 — Para Moisés, teria sido grave pecado abandonar o povo de Deus (Hb 10.25). 11.26 — O vitupério de Cristo se refere à terrível morte que Cristo receberia. Tal como Cristo, Moisés escolheu sofrer o ultraje do povo de Deus, em lugar de abraçar os prazeres terrenos da corte do Egito. A possibilidade de recompensa espiritual é a grande motivação para permanecermos na fé (Mt 5.10-12; 16.24-27; 1 Co 3.12-15; 2 Co 4.16-18; 2 Tm 2.11-13; 1 Jo 2.28; Ap 22.12). 11.27 — Deixou o Egito. Alguns comentaristas interpretam isso como uma referência à fuga de Moisés para Midiã. No entanto, a menção de não temendo a ira do rei se encaixa melhor com os acontecimentos do Êxodo. Naquela ocasião, Moisés mostrou verdadeira coragem e fé resoluta no Senhor (Êx 14.13,14). 11.28 — Deus ordenou a Moisés que o povo israelita aspergisse sangue nos umbrais de suas portas. Moisés creu na palavra de Deus, e o povo deu também atenção e obedeceu à advertência; como resultado, os primogênitos de todas as famílias judias foram salvos (Êx 12.1-13). 11.29 — Terra seca [...] se afogaram. Já houve quem tentasse explicar o milagre da travessia do mar Vermelho dizendo que o local era pantanoso.
11.35, 36 — A referência a mulheres que receberam pela ressurreição os seus mortos é provavelmente uma alusão à ressurreição do filho da viúva de Sarepta (1 Rs 17.17-24) e à do filho da mulher sunamita (2 Rs 4.32-37). Mas o autor de Hebreus ressalta também que nem todos que tiveram fé alcançaram vitórias — pelo menos, não de imediato. Torturados. É geralmente entendido como sendo uma alusão aos mártires da época dos macabeus, bem conhecidos do povo judeu. Uma melhor ressurreição é referência à ressurreição final e entrada magnífica no Reino (2 Pe I.11), nossa aguardada recompensa eterna. 11.37, 38 — Zacarias foi apedrejado (2 Cr 24.20,21). De acordo com a tradição judaica, o profeta Isaías foi serrado ao meio. Urias foi morto afio de espada (Jr 26.20-23). Andaram vestidos de peles de ovelhas e de cabras é provavelmente uma referência a Elias (2 Rs 1.8). 11.39,40 — Aperfeiçoados significa tomados completos. Essa finalização, a realização de todas as promessas de Deus na vinda do Reino de Cristo, aguarda todos os crentes.
Hebreus 12 12.1 — Tão grande nuvem de testemunhas se refere às pessoas de fé mencionadas no capítulo II. Não são meros espectadores; são testemunhas comprovando a verdade da fé (Hb 11.2,4-6). Embaraço é todo e qualquer empecilho que nos impeça de crer. 12.2 — Olhando, aqui, significa fixando os olhos de forma confiante. Precisamos concentrar-nos de forma constante em Cristo, em lugar de nas circunstâncias. Consumador. Cristo fez tudo o que foi necessário para que ganhássemos fé e nela permanecêssemos. E Ele nosso exemplo e modelo, porque se concentrou no gozo que lhe estava proposto. Sua atenção não estava enfocada na agonia da cruz que o esperava, mas na vitória sobre o mal, para glória do Pai; não no sofrimento, mas na salvação que iria propiciar à humanidade e na recompensa que isso traria para todos. Assentou-se. Jesus está à destra do trono do Pai, para, ao final, vir a ser entronizado também (Ap 3.21). 12.3 — Considerar envolve a ideia de ponderar, como, por exemplo, um contador que compara e pondera sobre as várias colunas numéricas em um balanço. Os cristãos deveriam ponderar, comparando seus sofrimentos às torturas que Cristo suportou por nossa causa (v. 4). 12.4 — Ainda não resististes até ao sangue. Cristo derramara por todos o Seu sangue (v. 3); mas a comunidade judaica que o havia aceito, e que recebeu a Epístola aos Hebreus, ainda não havia sofrido perseguição mortal. 12.5-11 — Cristãos são filhos adotados de Deus mediante o sumo sacerdócio de Cristo, o Filho eterno. Os pecadores nos perseguem para fazer o mal (v. 3). Mas Deus transforma tal perseguição em correção — Sua disciplina paternal própria, que nos ensina a tornar-nos como Jesus. 12.5, 6 — Provérbios 3.11,12 ensina que a disciplina divina demonstra o amor divino. Açoites significa chicotadas, aqui usado metaforicamente para designar punição. No contexto destes versículos, a disciplina inclui a perseguição (v. 3,4).
12.7 — Que filho há. Os filhos são disciplinados por causa do amor de seus pais. Têm de aceitar e aprender pela disciplina paterna. Da mesma maneira, Deus nos disciplina porque nos ama como Pai e quer que sejamos perfeitos. 12.8 — Nas sociedades antigas, geralmente o filho bastardo, ou ilegítimo, não tinha direito à herança. Sem sofrer disciplina (literalmente, educação infantil), os crentes não poderão ser considerados filhos legítimos, mas sim bastardos, no sentido de que não serão como o Pai (Hb 2.10). Não irão, portanto, receber herança nem recompensa (Hb 1.14) no Reino. 12.9 — Os cristãos devem não só receber disciplina de Deus, mas estar sujeitos inteiramente ao Pai celestial. 12.10,11 — Para nosso proveito. Embora os pais disciplinem os filhos como acham melhor, Deus nos disciplina tendo em vista todo o nosso bem. A cada experiência, Deus nos molda como povo santo, separado para os Seus bons propósitos (Hb 12.14; 10.10). Fruto pacífico de justiça indica que o resultado da correção de Deus é paz e justiça. 12.12,13 — Tomando emprestada a linguagem de Isaías 35.3, o autor adverte seus leitores a renovar suas forças para que possam suportar a carreira da fé (v. 1). 12.14 — Ver às vezes significa, como aqui, estar na presença do Senhor. Daí se deduz que sem santificação não se pode permanecer em Sua santa presença. Na verdade, até Satanás chega diante de Deus (Jó 1), e um dia todos dobrarão seus joelhos diante do Senhor (Fp 2.10,11). Mas o versículo fala em santidade querendo significar que a retidão prática determina a percepção de uma pessoa. Tal retidão nesta vida nos permite ver o Senhor agora (Gn 32.30; Êx 24.9-11). 12.15-17 — O crente que segue a paz e a retidão prática (v. 14) deve ter cuidado com três perigos: (1) o de se privar da graça de Deus — isto é, recusar a graciosa oferta de Cristo da salvação e Sua provisão para suas necessidades (Hb 4.16); (2) permitir que uma raiz de amargura brote no seu coração ou na sua congregação — talvez permitindo idólatras na igreja (Dt 29.18); (3) tornar-se descrente ou sexualmente imoral. Esaú exemplifica
aqueles que são descrentes. De acordo com a lei, o filho mais velho receberia uma herança em dobro (Dt 21.17). Esaú perdeu sua herança, que incluía as promessas preciosas de Deus, ao desprezá-la e trocá-la por um prato de lentilhas, por valorizar muito mais o prazer físico pela comida (Gn 25.34). 12.18-24 — Nestes versículos, o autor de Hebreus contrasta o concerto feito mediante Moisés com o novo concerto [ou nova aliança], comparando dois montes: o Sinai e o Sião. No monte Sinai, os israelitas receberam a lei da parte de Deus, com temor e tremor, porque Deus lhes revelava então Seu maravilhoso poder (Êx 19.10—20.26). Já os cristãos chegam à Jerusalém celestial, no monte Sião, por meio do sangue de Jesus. Este monte é uma verdadeira celebração de Deus Santíssimo, com a presença de anjos e justos. O autor torna vívido o contraste entre os dois concertos, para, mais uma vez, exortar seus leitores a não rejeitarem a salvação oferecida por Cristo (v. 25-29). 12.23 — No Antigo Testamento, os primogênitos recebiam a herança em dobro (Dt 21.17). São estes os herdeiros das promessas, que estarão no céu aguardando o Reino (Hb 1.14) - Justos aperfeiçoados se refere aos crentes que já deixaram esta vida. São justos porque foram justificados, e perfeitos porque, agora, são completos no céu. 12.24 — O sangue de Abel clamou por vingança (Gn 4.10); o de Cristo fala de redenção. 12.25 — Aquele que é dos céus é, naturalmente, Cristo, que advertiu na terra e agora está junto ao Pai. Muito menos nós. Quanto maior a revelação, maior a responsabilidade (Hb 2.1-4). Se os israelitas foram sentenciados por não acreditarem nas promessas de Deus (Nm 14.20-25), muito mais o seremos por incredulidade. 12.26-28 — A terra tremeu no monte Sinai. A terra e o céu tremerão nos últimos dias (Mt 24.29). Mas o Reino de Deus não se abalará, porque durará por toda a eternidade (Lc 18.29).
12.29 — O nosso Deus é um fogo consumidor. O autor conclui sua longa advertência àqueles tentados a abandonar a fé (Hb 2.1— 12.29) com uma descrição vívida do juízo de Deus (Dt 4.24). O Senhor julgará Seu povo (Hb 10.27,30).
Hebreus 13 13.1-19 — Estas instruções práticas conclusivas nos mostram como servir a Deus agradavelmente (Hb 12.28). 13.1 — Permaneça. Os destinatários dessa carta certamente exerciam com constância o amor fraternal (Hb 6.10); mas o autor temia que a ideia de retornarem de alguma forma ao judaísmo pudesse impedi-los de encorajarem uns aos outros na fé (Hb 10.24,25). 13.2 — Hospedaram anjos é uma referência aos homens do Antigo Testamento que foram visitados por seres celestiais. Dentre esses, estão Abraão (Gn 18), Ló (Gn 19), Gideão (Jz 6) e Manoá (Jz 13). A ideia, aqui, é a de que, quando você pratica a hospitalidade, pode estar recebendo um apóstolo, um mensageiro de Deus, sem perceber. 13.3 — Lembrai-vos dos presos provavelmente se refere aos então perseguidos por causa da fé. Os destinatários dessa carta deveriam também se lembrar dos enfermos e de todos que estivessem sofrendo na carne (Hb 10.32-34). No corpo não é uma referência ao corpo de Cristo, mas sim ao corpo físico das pessoas. Deveriam ter em conta, sempre, serem também vulneráveis a perseguições e sofrimentos similares. 13.4 — Venerado seja entre todos o matrimônio. O autor agora se volta para alguns problemas relacionados ao amor humano. Para determinar a intenção completa deste versículo, um ponto gramatical deve ser resolvido. Na original, em grego, o verbo é omitido e deve ser fornecido pelo leitor, como é comum no hebraico e no grego. Pode-se fornecer um verbo no subjuntivo,
seja o matrimônio, e transformar a frase em uma exortação. Ou pode-se usar um verbo no indicativo. O casamento deve, e passar a ter um imperativo, como ocorre, aliás, em algumas versões e traduções das Escrituras. O primeiro caso parece ser o mais adequado, uma vez que o contexto é de admoestação e o autor está levantando novo tópico de exortação. Além disso, sendo a primeira metade do versículo uma exortação, a segunda metade se adapta melhor. É este, assim, um mandamento de purificação, em vez de ser uma declaração contra o ensino ascético, que considerava as relações matrimoniais como sendo prejudiciais. O ensino ascético era um sério problema naquela época (compare com 1 Tm 4.3); mas não parece ser a intenção do autor. O casamento, para ele, é nobre, e o leito matrimonial, imaculado. Deve ser mantido assim. Porém (gr. gar) poderia ser traduzido pela conjunção porque. Manter o relacionamento matrimonial, porque Deus julgará os que assim não o fizerem. Os que se dão à prostituição são aqueles que fazem concessões, geralmente de modo excessivo e sem controle, aos desejos sexuais, sejam heterossexuais ou homossexuais, fora dos laços do matrimônio. Adúlteros são os infiéis aos seus votos matrimoniais. 13.5,6 — A avareza é tratada no último dos Dez Mandamentos (Êx 19.17). Essa atitude destrói a herança de uma pessoa no Reino (1 Co 6.9-10). Não te deixarei, nem te desampararei. Esta citação é uma das mais enfáticas declarações no Novo Testamento. No grego, há duas negativas duplas, o que, traduzido, equivaleria a nunca, jamais, te deixarei. Jesus usa o mesmo tipo de locução enfática para expressar, por exemplo, a certeza de vida eterna para o crente (Jo 10.28). 13.7 — Dos vossos pastores. Também traduzido por vossos guias. A referência, provavelmente, é a líderes cristãos que já haviam morrido. Talvez fossem aqueles que primeiro falaram a palavra de Deus para os leitores de Hebreus. A maneira de viver dos santos a quem tenhamos conhecido nos inspira a sermos persistentes na fé. O versículo 17, adiante, irá falar sobre o respeito aos líderes atuais. 13.8 — O mesmo. A natureza imutável do Filho é mencionada no início do livro (Hb 1.12). Ontem. Cristo deu Sua graça a todos os que confiaram nele
(v. 7). Hoje, e eternamente. A graça de Cristo continua, agora e permanentemente, disponível para todos os que nele creem. 13.9 — Doutrinas vazias e estranhas se refere a ideias que nada têm que ver com a verdadeira mensagem do evangelho e que podem até distorcê-la ou contrariá-la. Assim, por exemplo, são muitas das ideias que o autor de Hebreus apresenta e confronta no livro, originariamente judaicas, relacionadas sobretudo a práticas rituais, sacrifícios e diversas leis que classificavam o que era limpo e o que era imundo. 13.10,11 — A palavra altar é usada de forma figurada em relação ao sacrifício de Cristo. No Dia da Expiação, o sumo sacerdote não tinha o direito de comer o animal sacrificado, porque havia expiado os pecados do povo. Em vez disso, o holocausto era queimado fora do arraial. O crente tem o sacrifício, já realizado, em Jesus Cristo. Ele expiou os pecados da humanidade com Sua morte na cruz. Todavia, diferentemente dos sacerdotes do Antigo Testamento, os crentes recebem seu alimento de Cristo, de maneira simbólica, ao crer nele (Jo 6.41-58). 13.12,13 — Estar fora da porta era considerado uma desgraça para os judeus porque significava estar separado da comunidade. Mas o autor exorta seus leitores a saírem a Cristo, levando consigo seu vitupério, sua desgraça (Hb 11.26). Na verdade, este chamado para sair a Cristo é uma forte conclamação a abandonarem o judaísmo. Qualquer um achado com Cristo — fora da porta da cidade — seria, naturalmente, considerado excluído da comunidade judaica. 13.14 — Os crentes não têm um lar permanente na terra. Buscam a cidade eterna, que é o eterno Reino (Hb 11.10,16; 12.22,28). 13.15,16 — Embora os sacrifícios do Antigo Testamento houvessem se tornado, com Cristo, obsoletos (Hb 8.13), os crentes poderiam e deveriam oferecer a Deus sacrifícios espirituais, entre os quais seu louvor, seus bens, sua vida (Rm 12.1,2). 13.17 — Os líderes atuais prestarão contas do seu serviço no dia do tribunal de Cristo (Rm 14.10-12).
13.18,19 — Boa consciência é aquela que não acusa quem a possui. Para que eu mais depressa vos seja restituído. Alguma coisa parece que impedia o retorno do autor à comunidade a que se dirige na carta, e à qual certamente devia pertencer, muito embora provavelmente não fosse o caso de prisão (v. 23). 13.20 — A expressão Deus de paz é usada cinco outras vezes no Novo Testamento (Rm 15.33; 1 Co 14.33; 2 Co 13.11; Fp 4.9; 1 Ts 5.23). Toda vez que era usada, algum tipo de dificuldade existia entre os destinatários da carta. E esse também o caso aqui: os leitores de Hebreus estavam pensando muito se deveriam abandonar o cristianismo e retornar ao judaísmo, por causa, certamente, do acirramento da perseguição aos cristãos. Nosso Senhor Jesus Cristo é o grande pastor das ovelhas porque deu Sua vida por elas, conforme havia previsto (Jo 10.15); e continua a interceder por elas, sempre (Hb 7.25). O novo concerto é um concerto eterno; nunca será superado ou obsoleto, como o antigo (Hb 8.13). 13.21 — O propósito dessa bênção é que Deus nos pode aperfeiçoar. Não a perfeição que o autor declara antes, como resultado do sacrifício único de Cristo (Hb 10.14; 11.40). Aquela (gr. teleioo) envolve a santificação do remido. A palavra para aperfeiçoar aqui, em Hebreus 13.21 (gr. katartizõ) dá mais a ideia de preparar ou equipar para uma tarefa. Ê necessário equipar-se para se poder fazer toda a boa obra. 13.22 — A palavra desta exortação se refere à própria epístola. E uma exortação de encerramento aos leitores para que não se afastem do Deus vivo (Hb 3.12), mas alcancem a maturidade (Hb 6.1) e permaneçam na fé até o fim (Hb 3.6,14). Abreviadamente é uma justificativa de não ser necessário uma carta mais extensa do que parece ter sido ou poderia ser (Hb 5.11; 9.5). 13.23 — Timóteo é o mesmo e bem conhecido companheiro de jornadas de Paulo, a quem o apóstolo dedicou duas de suas cartas. Já está solto provavelmente significa que Timóteo estava livre da prisão.
13.24 — Os de Itália pode referir-se a irmãos que ali residiam, ou que talvez fossem nascidos lá, mas estivessem até morando em outro lugar. Fonte: https://bibliotecabiblica.blogspot.com/2015/08/significado-da-carta-aoshebreus.html