A CRIANÇA FALA: O OLHAR DAS CRIANÇAS SOBRE AS BRINCADEIRAS NA EDUCAÇÃO INFANTIL. Sabrina Torres Gomes INTRODUÇÃO Apesar das controvérsias que dizem respeito ao início dos estudos sobre o desenvolvimento humano sabemos que historicamente se trata de uma área de pesquisa recente. Entre as décadas de 1920 e 1939, a maioria dos estudos esteve voltada para conhecimentos sobre o desenvolvimento da criança, com destaque para os aspectos cognitivos com ênfase na inteligência e nos fatores maturacionais. Sem muitas alterações nos objetivos das pesquisas dos anos subsequentes, a partir da década de 1990 foi que surgiram novas perspectivas nos estudos do desenvolvimento, inclusive ampliando o olhar para além da infância ao mesmo tempo em que se constituía em uma ciência cujo diálogo com outras disciplinas passou a se fortalecer. (MOTA, 2005) Anteriormente ao período em que a ciência do desenvolvimento passou a figurar no cenário acadêmico, conforme a breve descrição anterior, durante alguns séculos na história da humanidade, o que existiu em relação à criança e à infância foi um absoluto descaso, pois não havia separação clara entre crianças e adultos, assim como não se considerava a infância como um período especial da vida. (ARIÈS, 1973) Ainda assim, após o reconhecimento da categoria infantil como uma esfera social distinta, principalmente familiar, outros séculos precisaram passar para que se constituísse em uma etapa do desenvolvimento a ser cuidada e protegida. (POSTMAN, 2011) A partir do reconhecimento da criança como alguém que necessita de certos cuidados, foi se constituindo a categoria social que deveria determinar as características para essa etapa da vida a qual se chamou infância. Esta, por sua vez, desde o seu surgimento, configurou-se como a “idade do não”, pois durante muitos anos foi (e ainda tem sido) determinada por aquilo que as crianças ainda não sabem, cerceada por visões de mundo adultocêntricas que vinham reforçando e mantendo esse lugar para elas. (SARMENTO, 2007) Suas influências não somente figuram o cenário familiar, mas também no âmbito escolar e na maneira através da qual as ciências humanas e sociais vinham realizando pesquisas sobre crianças ao invés de pesquisas com crianças. A distinção entre essas duas formas de fazer pesquisa se torna mais clara quando tomamos conhecimento sobre a maneira através da qual a infância veio sendo investigada pela psicologia. Exemplo disso é o estudo de Santos e 63