Acidentes são a principal causa de mortes e hospitalizações de crianças a partir de um ano de idade no Brasil Rede Nacional Primeira Infância lança relatório e traz o alerta
A
s lesões e mortes decorrentes de acidentes referentes a trânsito, envenenamento, afogamento, quedas, queimaduras e outros são a principal causa de morte com crianças a partir de um ano de idade no Brasil. Esta também é a realidade no mundo onde o trauma é a principal causa de morte em crianças e adultos jovens e um dos maiores problemas de saúde pública mundial. Com o objetivo de levar o alerta às autoridades governamentais e à sociedade para este grande problema, a Rede Nacional Primeira Infância, que trabalha para promover os direitos da criança até seis anos de idade, lança um relatório sobre acidentes nesta faixa etária. O relatório traz uma análise dos dados estatísticos, a identificação dos projetos de governo e das instituições sobre o tema, além das formas de prevenção dos acidentes com crianças.
Análise dos dados estatísticos
Os dados do relatório foram retirados do Datasus, sistema de dados do Ministério da Saúde, de 2012, a partir da subdivisão de faixa etária: menor de 1 ano, 1 a 4 anos e 5 a 9 anos – o sistema não possibilita estratificar a faixa etária de zero a seis anos, para a primeira infância. Portanto foram considerados os dados de zero a nove anos para Primeira Infância. Os acidentes, nesta faixa etária, foram responsáveis por 3.142 mortes e mais de 75 mil hospitalizações de meninos e meninas, o que caracteriza o acidente como um grave problema de saúde pública. Os acidentes de trânsito, que incluem atropelamentos, passageiros de veículos, motos e bicicletas, representaram 33% destas mortes, seguidos de afogamento (23%), sufocação (23%) queimaduras (7%), quedas (6%) e outros (6%).
A principal causa de mortes por acidentes em menores de 1 ano é a sufocação, representando 70% dos óbitos, e o trânsito com 13% das mortes. Na faixa etária de 1 a 4 anos, o afogamento tem o maior número (34%), e os acidentes de trânsito representam 32% das mortes. Já na faixa etária de 5 a 9 anos, os acidentes de trânsito representam quase a metade dos óbitos (49%), principalmente para a criança como pedestre. O afogamento ainda prevalece com 26% das mortes. Os meninos estão em maior risco e respondem por mais de 60% das mortes por acidentes na primeira infância. Esta grande diferença se dá por diversas razões, entre elas, a natureza em geral mais ousada dos meninos, a tendência em assumir maiores riscos, principalmente quando em grupo, e a tendência dos pais e da sociedade de dar mais liberdade aos meninos e mais cuidado às meninas. As raças Branca e Parda somam 91% do total destas mortes. Ainda, é possível verificar que algumas causas atingem mais os pardos, tais como afogamento (60%), envenenamento (59%), queda (56%) e queimadura (55%). Por taxa, o país tem 10,92% de mortes por cem mil habitantes, sendo a menor na região Nordeste com 9,60%, seguido das regiões Sudeste com 10,03%, Sul com 12,16%, Norte com 13,90% e a região Centro-Oeste com 14,31%. As estimativas do relatório mostram ainda que, a cada morte, outras quatro crianças ficam com sequelas permanentes que irão gerar, provavelmente, consequências emocionais, sociais e financeiras a essa família e à sociedade. De acordo com o governo brasileiro, cerca de R$ 70 milhões são gastos na rede do SUS – Sistema Único de Saúde com o atendimento destas crianças. Em 2012, mais de 75 mil crianças foram hospitalizadas em decorrência dos acidentes.
Influência socioeconômica nos acidentes com crianças
Analises feitas com base no estudo, observam que alguns elementos em nossa sociedade e no ambiente que vivemos estão ligados ao aumento da exposição das crianças aos riscos de acidentes. A falta de informação, de infraestrutura adequada, de espaços de lazer, creches e escolas e de políticas públicas direcionadas à prevenção de acidentes são alguns exemplos desta relação. Sabe-se que alguns fatores como pobreza, mãe solteira e jovem, baixo nível de educação materna, habitações precárias e famílias numerosas estão associados aos riscos de acidentes. Por outro lado, é importante ressaltar que qualquer criança, independentemente de sua classe social, está vulnerável à ocorrência de um acidente.
A prevenção
A boa notícia é que estudos da Ong Safe Kids Worldwide mostram que pelo menos 90% dessas lesões podem ser evitadas a partir das seguintes estratégias: Avaliação; Educação; Modificações de Engenharia e do Meio Ambiente; Criação e Cumprimento da Leis e “Empoderamento” da comunidade. As crianças são mais frágeis fisicamente, inexperientes, não tem medo e ainda estão desenvolvendo suas habilidades de reação aos perigos. Por isso, é muito importante adequar os ambientes em que elas vivem (escola, casa, parquinhos, etc.) e educar seus cuidadores para reconhecerem estes perigos e terem uma supervisão ativa sobre as crianças. Em cada fase do desenvolvimento, as crianças precisam de cuidados específicos. Até um ano, elas são frágeis fisicamente e estão mais vulneráveis principalmente as quedas e a sufocação. De dois a quatro anos, elas são curiosas e inconsequentes. Já de cinco a nove anos, são influenciáveis e com habilidades motoras abaixo do julgamento crítico fazendo. Nestas duas faixas etárias estão em maior risco de sofrer acidentes letais como de trânsito e afogamentos, e hospitalizações com quedas e queimaduras. Alguns exemplos da prevenção de acidentes com crianças indicados no relatório são:
No banheiro nunca deixar os bebês sozinhos nas banheiras e sempre testar a temperatura da água antes de coloca-lo. Guardar medicamentos, venenos, produtos de higiene e limpeza longe do alcance das crianças até quatro anos. Ao escolher brinquedos observar sempre o selo do Inmetro e considerar a idade, a habilidade da criança e busque, e evitar brinquedos com pontas afiadas e os que produzem sons altos. No berço, retirar todos brinquedos, travesseiros e objetos macios. As grades devem ter no máximo seis centímetros entre elas. Não deixar bebês dormirem em camas de adulto pois pode causar sufocação e graves quedas. As janelas, lajes e sacadas precisam ter grades ou redes de segurança e portões de segurança no topo e na base das escadas. As armas de fogo devem ser trancadas e armazenadas fora do alcance de crianças. A munição deve ser trancada em local separado. A cozinha é o local de maior risco da casa, portanto, é importante evitar e entrada da criança quando estiver fazendo alimentos quentes. Usar as “bocas” de trás e vire o cabo das panelas para dentro do fogão. No carro, as crianças com menos de 10 anos devem sentar no banco de trás, transportadas em cadeiras de segurança de acordo com o seu tamanho e até os 36Kg. Acima de 1,45m de altura elas devem usar sempre o cinto de segurança de 3 pontos. O relatório também sugere ensinar a criança a se comportar com segurança no trânsito, a parar na calçada ou no canto da rua e olhar para os dois lados antes de atravessar as ruas. Crianças com menos de 10 anos não devem atravessar a rua sozinhas e quando acompanhada de um adulto, devem ser seguradas pelo pulso. Nos parquinhos, as quedas representam as mais severas lesões. O risco é quatro vezes maior se a criança cai de um brinquedo mais alto que 1,5m. Importante sempre verificar se os equipamentos são apropriados para a idade da criança e fique atento aos perigos como ferrugem, pregos expostos, superfícies instáveis ou quebradas. Os afogamentos são rápidos, silenciosos e de grande gravidade, por isso as crianças devem sempre ser supervisionadas por um adulto, quando próximas à água. Os baldes e bacias devem ser guardados no alto quando com água e virados para baixo e fora do alcance das crianças quando sem uso. Ensinar a criança a brincar com o animal de estimação, nunca quando ele estiver se alimentando, e estar sempre por perto. Manter as vacinas do animal em dia. O relatório também sugere que as famílias, professores, agentes de saúde e cuidadores profissionais busquem cursos primeiros socorros. Também deve-se não subestimar a idade e a capacidade da criança, dar autonomia com supervisão direta, ensinar dando o exemplo, educar sem violência, promovendo a cultura de paz desde os primeiros anos de vida.
Recomendações
Tendo em vista que esta ação finalística “ Evitando Acidentes na Primeira Infância”, referencia do Plano Nacional Primeira Infância, considerando que a RNPI é composta por organizações relacionadas à infância, e que os acidentes são a principal causa de mortes a partir de um ano de idade no Brasil; este Relatório propõe um chamamento para a proteção das crianças, para aprovação dos projetos de lei e para os governos municipais e estaduais trabalharem o tema nos seus programas, projetos e ações de saúde, assistência social, educação e de trânsito.