12 minute read

PÁGINA

8 | Especial Setembro 2022

Centenário do rádio carrega memória afetiva de ponta-grossenses

Advertisement

Paraná tem maior índice de ouvintes

ALEX DOLGAN AMANDA DAL'BOSCO

A região Sul do país concentra o maior índice de consumo de rá‐dio entre os brasileiros: 85% das pessoas declaram‐se ouvintes. Es‐te dado é apresentado na “Inside Rádio 2021”, definida como a mais atual pesquisa Ibope referente ao consumo de mídia. O estudo aponta que 80% dos brasileiros ouvem ao menos um minuto de rádio todos os dias, seja dentro de casa, nos carros ou no trabalho.

Graziela Soares Bianchi, pes‐quisadora da radiodifusão e pro‐fessora da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), fala que a população tem o hábito de es‐cutar rádio por causa da cultura de cada região. “Quando o rádio cresceu e foi se regionalizando, formando memória afetiva de lu‐gares. Então a rádio é um produ‐to cultural e tudo combina em um vínculo afetivo com os ouvin‐tes”. Ainda conforme Graziela, o meio de comunicação continua com uma diversidade de progra‐mas. “Muitas pessoas ainda escu‐tam rádio. Se você passar pelas casas ou pegar um Uber alguém vai estar escutando”.

História

Brasil, dia 07 de setembro de 1922. Centenário da Independên‐cia. Epitácio Pessoa, então Presi‐dente da República, realizava seu discurso para a primeira emissão radiofônica do país. Embora exis‐tam divergências em relação a quando o rádio chegou ao Brasil oficialmente, Graziela diz que ha‐via um pequeno número de re‐gistros e pesquisas na época. “É por causa do tempo em que vivía‐mos. Estávamos em uma época sem industrialização, com meios de transporte precários e grande parte da população morando em zonas rurais, então, quem fazia esses registros? Não tinha como fazer esses registros e os poucos que tinham eram segregados, es‐sas pesquisas não eram unifica‐das”, diz a pesquisadora.

A radiodifusão veio ao Paraná em 1924, com a primeira trans‐missão feita pela Rádio Clube do Paraná, em Curitiba. Além de ser Clube de Pernambuco.”

Na década dos anos 1940, Abí‐lio Holzmann, um amante do rá‐dio que realizava transmissões clandestinas almejava uma emis‐sora em Ponta Grossa. Holzmann e Manoel Machuca, parceiro de atividade, relizaram a criação da primeira emissora no cidade, a Rádio Clube Ponta‐grossense, que inaugurou em janeiro do ano de 1940. Atualmente, a rádio ainda

a primeira rádio presente no es‐tado do Paraná, foi a terceira emissora radiofônica a existir no país. Mantida até hoje, há uma previsão de que a rádio possa fe‐char suas portas em agosto deste ano, após 98 anos no ar. Foi aos poucos que esse meio cresceu e passou a espalhar‐se para fora da capital, chegando aos Campos Gerais. “As primeiras experiênci‐as de rádio foram feitas em expo‐sições com um curto período de tempo e começa os experimentos nas rádios clubes como na Rádio

JOÃO PAULO FAGUNDES

está em atividade.

Em 2022, a emissora Rádio Clube completa 82 anos. Além do aniversário da própria emissora, tais anos também marcam o ani‐versário da chegada do rádio na cidade. Durante toda a trajetória e história deste meio de comuni‐cação, Ponta Grossa já teve várias emissoras e, hoje em dia, conta com 14 estações licenciadas, sen‐do 12 comerciais, uma emissora educativa e uma comunitária.

Graziela Bianchi explica que as rádios comerciais são empre‐sas com fins lucrativos.

“Podem ter prestação de serviço, porém elas estão vendendo publicidade e propaganda”. As comunitárias, como a Rádio Princesa em Ponta Grossa, não podem visar o lucro, possuem sua transmissão restrita e voltada a um público que está em uma determinada localidade geográfica. As emissoras educati‐vas têm na legislação o dever de estar ligadas a alguma instituição educacional, como a Rádio Cescage, e buscam promo‐ver a educação e a pesquisa na cidade de Ponta Grossa.

Migração do AM para o FM

No dia 7 de novembro de 2013, dia do radialista, a ex‐presidenta Dilma Rousseff assinou o Decreto nº 8.139/13, que autoriza a migra‐ção das rádios na modulação AM (Amplitude Modulada) para FM (Frequência Modulada). Segundo Graziela Bianchi, a mudança da amplitude modulada à frequência modulada tinha o intuito de limpar o espectro radiofônico e melhorar a transmissão de sinais de telefone. “A modulação antiga era propícia a várias interferências ao longo da transmissão de dados”, informa.

Entre as vantagens apontadas pelo Ministério de Comunicação encontram‐se a FM com um som mais limpo e ondas de transmis‐são menores, o que diminui as in‐terferências de dados além de poder possibilitar a sintonização radiofônica em celulares, carros e outros aparelhos digitais. Graziela Bianchi destaca que, na migração de sinal, é necessário que exista um investimento elevado para que haja a troca de equipamentos, podendo ocorrer o fechamento de emissoras que não possuam uma determinada verba para que possa ocorrer a mudança.

Centenário do rádio carrega memória afetiva de ponta-grossenses

ntes de rádio no país, segundo pesquisa

ALEX DOLGAN

Fernando Ribeiro apresentando seu programa na Rádio Clube

Os atores do rádio

Fernando Ribeiro, um homem alto e grisalho, bem humorado, que possui as marcas do tempo desenhadas em seu rosto, dedica sua vida ao rádio há 45 anos. Do‐no de uma voz grave que lembra a do apresentador Cid Moreira, Fernando fez a apresentação de vários programas. Além da voz o carisma que possui marca a liga‐ção com seus ouvintes.

O rádio é uma paixão antiga que se iniciou ao acaso. Quando jovem, Fernando tinha o custume de ouvir a Rádio Clube, pois sua mãe estava sempre sintonizada e acompanhando o programa da comadre Deizi com o objetivo de aprender aquelas simpatias que atraíam dinheiro. “Minha mãe se encantava com aquilo e eu cresci nesse meio”. Aos 18 anos, Fernan‐do trabalhou como recepcionista na Rádio Central, pois apresentava um timbre característico, os donos da rádio o pediram para gravar um pequeno texto. Desde então, não “tirou mais a boca do microfone”, passou por diversas rádios da cidade de Ponta Grossa, hoje trabalha na Rádio Clube, onde está há mais de três décadas.

Depois de décadas, Fernando recorda a surpresa da mãe em ouvir seu filho. "Quando ela ou‐viu minha voz, não esperava que de repente eu tivesse essa facili‐dade de poder me expressar, de tocar o coração das pessoas.” Aos 65 anos, o radialista tem a certeza que o rádio é seu abrigo.

A vitrola quebrada

Marcos Antonio de Andrade, o Marquinho para os fãs, lembra de, quando criança, pegar a Vi‐trola da mãe e brincar como se fosse “um apresentador de pro‐grama de música”, até estragar o aparelho. “Ela ficou muito brava pela vitrola, tomei bronca e após ter conseguido o emprego com‐prei uma nova para ela”, relem‐bra o técnico radiofônico.

No ano de 1995, Marcos deci‐diu que queria trabalhar com rá‐dio. Para aprender as técnicas da mesa usada na radiodifusão, saía de madrugada e ia até a Rádio Di‐fusora. “Eu já cheguei a dormir na emissora, debaixo da mesa de técnica, só para aprender a como lidar bem com os apare‐lhos e fazer o programa das sete horas da manhã”. Marquinho explica que depois de três me‐ses conquistou o primeiro regis‐tro na carteira de trabalho ganhando um salário de R$ 70. Apesar de ter se formado em Licenciatura em Química, ele se consolidou no meio e hoje está trabalhando na Rádio CBN. “Foi muita luta conquistar meu espaço nesse meio e meu desempenho pode mostrar como sou enquanto funcionário da rádio”.

Futebol, cerveja e música

Acordar cedo, tomar um ba‐nho, ligar o rádio e poder tomar uma bela xícara de café faz parte da rotina de Altair Mendes. Com quase 70 anos, ele conta que um dos motivos de gostar tanto do rá‐dio é por apresentar praticidade: “Eu posso levar o rádio para qual‐quer lugar, posso também sinto‐nizar as emissoras no carro”.

Altair sintoniza em qualquer lugar. Em 2015, na final do Cam‐peonato Paranaense, seu Altair foi até o Couto Pereira, em Curiti‐ba, para conseguir ver o Fantas‐ma (Operário Ferroviário Futebol Clube) erguer a taça de campeão. Altair não deixou o rádio em ca‐sa. Pelo contrário, se as pessoas olhassem em suas mãos poderi‐am ver o aparelho radiofônico li‐gado. “Eu estava ali com o rádio ligadinho, ouvindo o jogo e assis‐tindo”. No auge dos seus 69 anos, Altair Mendes passa muitas tar‐des sintonizado nos jogos de seu time com uma cervejinha bem gelada em sua mão.

VANESSA GALVÃO

Multirão realiza testes preventivos

População sofre com precarização da saúde pública

Fechamento de UPAs e demora no atendimento são as principais reclamações

TAYNÁ LANDARIN

Nos últimos quatro meses, moradores de Ponta Grossa vêm enfrentando dificuldades para ter acesso ao serviço médico. Os principais problemas apontados pela população são o fechamento de unidades básicas de saúde e a demora para o atendimento. De‐vido às constantes reclamações a respeito dos problemas no siste‐ma de saúde do município, a Câ‐mara de Vereadores iniciou, em 31 de maio, os trabalhos da Co‐missão Parlamentar de Inquérito da Saúde (CPI) que tem como ob‐jetivo investigar o atual cenário da saúde da cidade.

Segundo relato do Ponta‐gros‐sense, Cosmi Acassio, no dia 29 de julho ele buscou atendimento para o seu filho na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) Santa Paula. Ele estava sofrendo há du‐as semanas com dores de cabeça e naquela manhã não estava con‐seguindo se movimentar. Acassio conta que chegou ao local por volta das 7h30 e às 12 horas o seu filho ainda não tinha sido atendi‐do.

“Se você chegar cedo na UPA vai sair tarde daqui, perde dia de trabalho e compromissos. Além dos médicos e enfermeiros não terem nenhuma empatia pela si‐tuação que estamos passando”.

O profissional da saúde que trabalhou na UPA Santana e que prefere não ser identificado con‐ta que o atual cenário de super‐lotação continua o mesmo desde o período em que trabalhou no estabelecimento. O fechamento do Hospital Municipal e o au‐mento populacional da cidade agravou ainda mais a situação, resultando na carência dos ser‐viços prestados à sociedade e na superlotação dos hospitais.

O profissional ressalta que é visível o recuo do poder público municipal, face às transferênci‐as de suas responsabilidades para outras esferas, sejam pelas parcerias com o Estado, como também pelas parcerias públi‐co‐privadas. A terceirização de contratos por exemplo, pode impactar diretamente na quali‐dade dos serviços prestados, co‐mo também nas condições de trabalho das pessoas que exer‐cem funções na saúde.

C CP PII

De acordo com o requerimento apresentado para criar a Comissão Parlamentar de Inquérito da Saúde (CPI), vereadores afirmaram que estão investigando os processos de contratação de médicos, o fecha‐mento de unidades básicas de saú‐de e o remanejamento de suas equipes, a demora por atendimen‐tos médicos nas unidades básicas de saúde e o planejamento da Saú‐de para o atendimento primário municipal, como a doação do Hospital da Criança para o Esta‐do, e o pretexto da demora na re‐alização da reforma do Hospital Municipal Amadeu Puppi.

Conforme o regimento da Câ‐mara, os vereadores têm o prazo máximo de até três meses para a realização das investigações. Porém, caso seja necessário, o tempo pode ser prorrogado por mais três meses para a conclu‐são da investigação da CPI.

A vereadora do Partido Social Cristão (PSC) e membro da co‐missão, Joce Canto, destaca que a investigação é realizada por núcleos de trabalho e que nesse primeiro momento a CPI está se concentrando no Hospital Muni‐cipal Amadeu Puppi, na UPA Santana e nos contratos de pro‐fissionais da área da saúde.

Conforme Joce, a investigação em razão das prerrogativas legais da CPI vai permitir que os verea‐dores tenham acesso a informa‐ções importantes a respeito do sistema de saúde. Além de terem a oportunidade de ouvirem as pessoas que são protagonistas na área da saúde, sejam eles servi‐dores, administradores públicos e também pacientes com o intui‐to de entender o atual cenário em que se encontra o sistema de saúde do município.

A vereadora Joce Canto apon‐ta que outro desafio é tentar aperfeiçoar a atenção primária que realiza o atendimento de ca‐sos menos graves nas unidades básicas de saúde. O objetivo é não sobrecarregar as Unidades de Pronto Atendimento, respon‐sáveis por atender os casos de urgência na cidade.

Ela acredita que em decorrên‐cia da falta de um planejamento dos administradores públicos, os hospitais não possuem leitos su‐ficientes para suprir a demanda. “Nos últimos tempos, o poder público municipal deixou ocor‐rer o sucateamento da saúde e um exemplo é a falta de investi‐mentos na manutenção da estru‐tura do Hospital Municipal Amadeu Puppi que acabou sendo fechado pela atual gestão”, afir‐ma a vereadora Joce Canto. RAFAELA COLMAN

Ocorreu no dia 16 de julho, em Ponta Grossa, um mutirão de exa‐mes preventivos em 5 unidades básicas de saúde: UBS Egon Ros‐kamp, na Santa Paula; UBS Cyro de Lima, em Oficinas; UBS Luiz Con‐rado Mansani, em Uvaranas; UBS Rômulo Pazinato, na Nova Rússia e UBS Zilda Arns, no Parque Nossa Senhora das Graças. O exame, co‐nhecido também como Papanico‐lau, tem como objetivo avaliar o colo de útero e buscar vestígios do HPV, vírus responsável pelo câncer de colo uterino e por outras doen‐ças transmitidas sexualmente.

Um levantamento feito em 2019 pela Pesquisa Nacional de Saúde (PNS), estima que as Regiões Sul (84,8%) e Sudeste (84,1%) apresen‐taram percentuais acima da média nacional em exames preventivos realizados, em comparação às ou‐tras regiões. O Ministério da Saú‐de recomenda que as mulheres realizem o exame anualmente, entre a faixa etária 25 a 64 anos.

A professora Carolina Apareci‐da Santiago, paciente do mutirão, afirma que sempre fez os exames preventivos regularmente, mas por conta da sua rotina durante a pandemia não pode realizá‐los. Ela considera importante os cui‐dados com a saúde, pois assim é possível saber se o corpo está funcionando de maneira correta, além de prevenir futuras doen‐ças. Carolina enfatiza que graças ao mutirão voltou a realizar o exame regularmente.

A ginecologista, Maria Por‐tela, afirma que a orientação do Ministério da Saúde é baseada em pesquisas de especialistas. A pesquisa aponta que até os 25 anos de idade a defesa do corpo da mulher é capaz de eliminar o vírus do HPV. Porém, inde‐pendente da idade, se houver suspeita de qualquer doença sexualmente transmissível, é necessário que a mulher procu‐re um profissional de ginecolo‐gia com urgência.

Segundo a enfermeira Dani‐ela de Paula, que trabalha em uma das Unidades Básicas de Saúde que oferta o exame pre‐ventivo, o objetivo do mutirão é justamente atender as mulhe‐res que não conseguem realizar o exame preventivo por conta da rotina do cotidiano.

This article is from: