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Ponta Grossa é a quarta cidade com mais ocorrências de LGBTfobia no Paraná

56 Den Ncias Foram Registradas Na Cidade Entre Janeiro E Novembro De 2022

ALEXDOLGAN

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“Eu estava andando com uma amiga e nem estávamos de mãos dadas, passou um casal heterose‐xual nos empurrando Depois fala‐ram tínhamos que ir para casa se pegar”; esse relato da bissexual Francielle Raush já é conhecido por inúmeros LGBTQIA+.Em2022, Ponta Grossa ficou em quarto lu‐gar nas cidades do Paraná com maior número de denúncias de LGBTfobia por habitantes A cida‐deregistrou56casosnoperíodode janeiro a novembro de 2022, o que equivale a 0,15 por mil habitantes. Entretanto, nem todas as agressões à comunidade LGBT+ são registra‐dasoficialmente Dados divulgados via e‐mail pelo Centro de Análise, Planejamento e Estatísticas da Secretaria de Estado da Segurança Pública do Paraná (Sesp‐PR) mostram que em 2022 o número de ocorrências envolvendo homofobiaetransfobiacaiunoesta‐do Em 2021 foram registradas 1560 ao todo. No período de janeiro a no‐vembro de 2022 o número decres‐ceu para 1.382. Porém, deste núme‐ro não estão computadas ocorrênci‐as referentes ao mês de dezembro e tambémoscasossubnotificados.

A advogada Thaís Boamorte, in‐tegrantedoConselhoMunicipaldos Direitos LGBT de Ponta Grossa (CMLGBT) pela cadeira da Aliança Nacional LGBTI+, explica que casos subnotificados são aqueles enqua‐dradosnoboletimdeocorrênciaco‐mo outros crimes, mesmo que a agressão seja movida pelo precon‐ceito a pessoas LGBT+ “São diver‐sos motivos para que isso aconteça, masoprincipaléafaltadeconheci‐mento técnico nas delegacias. Os crimes podem ser enquadrados em vias de fato, lesão corporal leve ou grave”, aponta A advogada alerta paraqueasvítimasfaçamoboletim de ocorrência junto com um advo‐gado, para que o crime “realmente sejaregistradocomoLGBTfobia”.

No ano de 2022, Ponta Grossa apresentou queda no número de ocorrências de homofobia e trans‐fobia, diminuindo de 183 para 56 ocorrências registradas. Entretanto os números podem não correspon‐der com a realidade da violência LGBT+ na cidade como destaca Thaís Boamorte, “A violência deve ser maior do que mostram os nú‐meros Dependemos dos critérios da Sesp para registar esses boletins, dessaforma,existeumaaltasubno‐tificação mesmo que a LGBTfobia seja equiparado ao crime de racis‐mo” A cidade é a única do Paraná quepossuiumConselhoLGBT.

Para Ulisses Massinhan, de 50 anos,opreconceitonoúltimogover‐no Bolsonaro, voltou a ser escanca‐rado como em sua juventude: “Per‐demos o direito de viver nesses últi‐mos anos Aconteceram tantos as‐sassinatos e tanta violência para a comunidade”, analisa No contexto nacional, os números de violência contra a comunidade LGBTQIA+ vêm aumentando nos últimos anos O levantamento do Anuário Brasilei‐ro de Segurança Pública de 2022 aponta que os registros de crime de lesão corporal dolosa cresceram 494,1%,sendooParanácomamaior variação dos casos Em 2020 foram computados17casosdelesãocorpo‐ral no estado, em 2021 esse número aumentoupara101registros

Os dados de LGBTfobia ainda não foram mapeados com o intuito de promover políticas públicas, mos‐trandoumapagamentodogrupo De acordo com Thaís Boamorte, “o apa‐gamento da comunidade LGBT+ co‐meçadesdeoCensodoIBGEquenão se preocupa em conhecer a popula‐ção dessa comunidade Então isso é maisumapagamentoparaaproteção dacomunidadeLGBT”.

Comodenunciar?

A ocorrência pode ser realizada em qualquer delegacia, não sendo necessário ser uma delegacia espe‐cífica de crimes de LGBTfobia. Quando os crimes forem feitos com o uso da internet podem ser feitos no site SaferNet. Para esse tipo de crime é necessário que a vítima salve as mensagens para que se possacomprovarocrime

Ao fazer a denúncia de LGBTfo‐bia, a vítima deve contar com deta‐lhesaagressão,oferecendoamaior quantidade de informações possí‐veis como o nome e o local onde o agressor reside (caso souber), no‐mes e endereços de testemunhas que presenciaram a agressão Os casos envolvendo mulheres traves‐tis, transexuais e intersexo podem seratendidasnasdelegaciasespeci‐alizadasdeatendimentoàmulher

As denúncias podem ser rea‐lizadas pelo Disque 100, especifi‐camente na Ouvidoria Nacional de Direitos Humanos No caso de mulheres LBTI a denúncia pode ser feita pelo Disque 180 podendo recorrer à Lei Maria da Penha. Os serviços funcionam 24 horas por dia, nos sete dias da semana, incluindo feriados A li‐gação é gratuita.

Documentário retrata as vidas travestis em PG

IOLANDALIMA,LARISSADELPOZO EMATEUSAMANTINO

“A gente tem que mostrar nossa realidade,afaltadeoportunidade,tra‐balho, de uma formação”, analisa uma das protagonistas do documen‐tário “Sobre Vivências Travestis”, De‐borahLee Lançadoemnovembrode 2022, a produção apresenta os relatos de vida de duas sobreviventes de um grupodetravestis,nasdécadasde80e 90, em Ponta Grossa Nesse período, muitas morreram, assassinadas ou porcausadaAids.

O documentário “SobreVivências Travestis” exibe a trajetória das pri‐meiras travestis da cidade, Deborah Lee e Fernanda Riquelme, e da mili‐tância exercida junto à comunidade LGBTQIA+ Os relatos revelam a tra‐jetória destas personalidades diante darepressão,àepidemiadeHIV/Aids e as diversas violências que marca‐ram suas vidas. A produção foi reali‐zada pelo projeto de extensão Elos ‐Jornalismo,DireitosHumanoseFor‐ mação Cidadã, do Curso de Jornalis‐modaUniversidadeEstadualdePon‐taGrossa(UEPG),emparceriacoma ONGRenascer.

Deborahexpõecomoarejeiçãoda sociedade ocasiona a marginalização do trabalho e da sociabilização das travestis, o que resulta, muitas vezes, naprostituiçãodegrandeparcelades‐tegrupo Alémdisso,elaressaltaaim‐portânciadedebater estafragilização dacomunidadetravesticomoumaal‐ternativadelutarcontraopreconcei‐to,vistoqueaexpectativadevidades‐segrupoéde35anos,efatorescomo a violência, preconceito e doenças contribuemparaessenúmero

De acordo com a professora da área de gênero e participante do do‐cumentário,JoseliMariaSilva,ovalor davidadastravestisdeveserquestio‐nado dentro da sociedade brasileira “Amorteéumtemapolítico,ecomo tal,devemosdebatersobreele”,desta‐ca.Elaesperaqueotrabalhocolabore comoumdispositivodedebatesocial sobre a luta das mulheres transsexu‐ aisetravestisnacidade Paraapesqui‐sadora, essa população sofre uma si‐tuaçãodemortelenta,emqueocora‐çãopulsa,masoindivíduonãoéacei‐todentrodecasa,escolaeespaçospú‐blicos,oque,deacordocomela,seria oápicedaexclusãosocial.

Segundoorelatóriopublicadope‐ la Transgender Europe, o Brasil é o país com maior número de assassi‐natos contra travestis no mundo, li‐derando a posição por 13 anos con‐secutivos De acordo com o Antra (Associação Nacional de Travestis e Transsexuais), em 2020, o Brasil re‐gistrou175mortesdetravestis.

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