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Pesquisa revela falta de políticas públicas para o tratamento de transtornos alimentares
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by Foca Livre
Mapeamento aponta apenas seis programas pelo país e nenhum no Paraná
LARISSAONORIO
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Uma pesquisa de iniciação ci‐entífica realizada por Thais Gabri‐ely Aniskievicz, aluna do curso de Serviço Social da Universidade Es‐tadual de Ponta Grossa (UEPG), aborda os aspectos psicológicos e socioculturais dos transtornos ali‐mentares em adolescentes A aca‐dêmica também fez um mapea‐mento das políticas públicas de saúdeexistentesparaotratamento dessaspatologias
Segundo a pesquisa, foram en‐contradosseisprogramasofertados pela rede pública de saúde dedica‐dosatratarTAsnopaís,localizados nascapitaisdeSãoPauloeBrasília, enosestadosdeMinasGeraiseCe‐ará São eles: o Ambulatório de Bu‐limia e Transtornos Alimentares (AMBULIM), o Núcleo de Atendi‐mento aos Transtornos Alimenta‐res (PROATA), o Instituto de Psico‐logia–GrupodeAtendimentoeEs‐tudos Psicanalíticos em Transtor‐nos Alimentares, o Centro de Transtornos Alimentares (CETRA‐TA), o Programa de Tratamento de Transtornos Alimentares (PROTAL) eoGrupodeAssistênciaemTrans‐tornos Alimentares (GRATA).
Calcula‐se que mais de 70 mi‐lhões de pessoas nomundosofram detranstornosalimentares(TA),se‐gundo a Associação Brasileira de Psiquiatria Já a Organização Mun‐dial da Saúde estima que cerca de 4,7% dos brasileiros possuem al‐gum transtorno alimentar, que su‐pera a média mundial de 2,5% No entanto, não há serviços es‐pecializados no assunto como esses sendo ofertados no Paraná “Obser‐vou‐se a existência de poucos pro‐gramas na rede pública para aten‐ der estes indivíduos. Grande parte concentra‐se na rede privada, oca‐sionando a exclusão de muitos jo‐vens que não possuem condições financeiras para realizar atendi‐mentos”, aponta a pesquisa. Visto que o tratamento necessário se en‐contra disponível somente na rede privada, foi onde Gabriela*, de 22 anos, teve de recorrer para tratar a anorexianervosa.
Gabriela é natural de Curitiba, mas mora em Ponta Grossa desde 2018, quando se mudou para fazer faculdade Nessa época, ela tinha obesidade e chegou a pesar 94 kg Tomou a iniciativa de emagrecer no início de 2020, a partir de aulas sobre qualidade de vida que tinha no curso. “Eu comecei a fazer uma dieta extremamente restrita, con‐sumia cerca de 600 calorias por dia Mas todo mundo começou a elogiar e isso foi um grande incen‐tivo para continuar”, conta. A Or‐ganização Mundial da Saúde (OMS) recomenda um consumo que varia de 1800 a 2500 calorias diárias para um adulto
Em menos de um ano, Gabriela perdeu 47 kg A família começou a se preocupar e a encaminharam paraumapsiquiatra,queadiagnos‐ticou com anorexia nervosa Desde então, ela iniciou um tratamento intensivo para recuperar peso e saúde mental. Era acompanhada porpsicóloga,psiquiatraenutricio‐nista, todas especializadas em transtorno alimentar Gabriela des‐taca que “não é qualquer profissio‐nal, não é qualquer psicólogo ou qualquer nutricionista que pode atender uma pessoa com transtor‐no alimentar Ser especializado faz total diferença”. E mesmo na rede privadadesaúde,aestudanterelata a dificuldade em encontrar profis‐sionais especializados no assunto
De acordo com a acadêmica, o tratamento do distúrbio custa ca‐ro “Eu dou graças a Deus que meus pais tinham condições financeiras de bancar tudo, por‐quenãoéumtratamentobarato.É extremamente caro”, afirma Ela ainda comenta que espera ver uma mudança, tanto nas institui‐çõesdeensino,quantonasocieda‐de, em relação a conscientização sobre os transtornos alimentares
Sobreostranstornos
De acordo com o Manual Diag‐nóstico e Estatístico deTranstornos Mentais (DSM), transtornos ali‐mentares são distúrbios do com‐portamento alimentar que resul‐tam em uma alteração do consumo de alimentos e prejudicam a saúde física ou o funcionamento psicos‐social.NapesquisadeThaisAniski‐evicz, são citadas as seguintes pato‐logias: Transtorno Alimentar Res‐tritivo/Evitativo (TARE), Anorexia Nervosa, Bulimia Nervosa e Trans‐torno de Compulsão Alimentar. A psicóloga Sarah Renata específica cadaumdeles.
OTranstornoAlimentar Restriti‐vo/Evitativo (TARE) acontece quan‐do a pessoa come em pequenas quantidades e é seletiva na escolha dos alimentos, devido ao impacto sensorial que a comida pode cau‐sar, como aversão à cor, textura, odor, ou por questões emocionais No caso da anorexia, os pacientes têm uma imagem distorcida dos próprios corpos e se veem com so‐brepeso equivocadamente, de for‐ma que passam longos períodos sem comer, exageram em ativida‐des físicas e usam laxantes Segun‐ do Sarah, nos casos mais graves, a anorexia pode gerar gastrite, hipo‐termia e a inibição do ciclo mens‐trualemmulheres.
A compulsão alimentar ocorre quando a pessoa ingere muita co‐mida (entre 5 mil a 10 mil calorias) em um curto período de tempo. O comportamento se repete e, se muito frequente, pode se desenvol‐ver em um caso de bulimia. Em ambas está presente o medo de jul‐gamento e a sensação de culpa por comerdemais Adiferençaéquena bulimia há comportamentos de compensação após os episódios de compulsão, como por exemplo in‐dução de vômito, exercício físico emexcesso,usoderemédioslaxan‐tesoudiuréticos.
A psicóloga explica o que pode causar os distúrbios “As causas dos Transtornos Alimentares são multifatoriais, desde traumas de infância, restrição alimentar devi‐do a dificuldades financeiras, por razões sociais, psicológicas, bioló‐gicas, devido a profissão, por uma distorção da imagem corporal, ou pelo desejo se enquadrar nos pa‐drões que estão impostos pela so‐ciedade”,esclarece.
O tratamento dos TAs envolve uma equipe multidisciplinar de profissionais da saúde que atuam em conjunto O papel do psicólo‐go nesse momento é entender a relação do paciente com a comi‐da. “Entender quais as crenças e pensamentos fazem parte da vida deles hoje, buscar a normalização da alimentação juntamente com um nutricionista, trabalhar com a imagem corporal e também res‐gatar a confiança, esperança e au‐toestima”, afirma Sara. (*Nome fic‐tícioapedidodafonte).
Nomes de ruas e avenidas revelam machismo em Ponta Grossa
L Viahasmane Naiomimainardes
“Ruas são tradicionalmente esco‐lhidas por vereadores; grande parte delessãoconservadores,eissoacaba refletindononomedasruas”,explica oprofessordehistóriaMatheusCruz sobre o processo por trás da nomea‐ção das ruas da cidade. Segundo o historiador, os nomes são decididos por meio de processos de lei discuti‐dos pela Câmara dos Vereadores “Temos um grande número de ho‐mensaindaocupandoespaçonapo‐lítica,dentrodoCongressoNacional, na Câmara de Vereadores, e isso se refletenessasdecisões”,revela Segundo o levantamento realiza‐do pela reportagem por meio do site dosCorreios,200ruasforamanalisa‐das, sendo 136 nomeadas em home‐nagem a alguma pessoa. Desse total, 85%sãohomenagensafigurashistó‐ricasmasculinaseapenas15%levam nomesfemininos,comoaRuaHele‐naNastasSallumeaRuaAnitaGari‐baldi Apesquisa tambémincluiual‐gumas das principais avenidas da ci‐dade.De15avenidas,apenasumale‐va nome feminino: a Avenida Maria AvelinaBraga.
Ao falar sobre o número de ruas com nomes majoritariamente mas‐culinos,oprofessoresclarece queis‐soéapenasumreflexodaculturada sociedade. Para que haja mudança, segundoele,énecessárioumprojeto de base, que envolve instituições co‐mo igrejas, escolas e centros acadê‐ micos Matheusenfatizaqueoproje‐todebaseprecisaserfeitodesdeain‐fância, mudandoa estrutura da soci‐edade através da conscientização “A maioria das crianças que estudam história acabam tendo muitos exemplos de figuras masculinas, e inconscientemente crescem achan‐do que homens são mais relevantes queasmulheres,justamenteporessa falta de exemplos dentro da própria escola”,lamenta.
Ahistóriaportrásdaprincipal avenidadacidade
Vicente Machado, nome da prin‐cipalavenidadePontaGrossa,éuma forma de homenagem ao ex‐gover‐nadordoParanáqueexerceuocargo no ano de 1883 Também advogado,
Vicente Machado foi o responsável por absolver Alfredo Marques de Campos, assassino de Corina Portu‐gal, vítima de feminicídio considera‐dasantapormuitospontagrossenses
Em 2015, houve a tentativa de mu‐dançanonomedaavenidacomofor‐ma de homenagem à Corina, com a propostasendolevadaparaaCâmara dosVereadores O projeto, no entan‐to,foirecusado Segundooprofessor de história, esse tipo de mobilização pode gerar reflexões na população, pois“mesmosemamudançadono‐me,arepercussãoqueissopodecau‐sar põe em cheque uma discussão”. Contudo, Matheus Cruz acrescenta que sem a pressão popular não há questionamentosediscussõesacerca doassunto