Folha Carioca nº 100

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100x CARIOCA Chegamos a nossa centésima edição de cara nova, e nosso presente para você é um guia de cem programas imperdíveis no Rio

sAÚDE & bEM-eSTAR A pele é sua “roupa” mais importante EDUCAÇÃO & CONHECIMENTO Discos de vinil: uma paixão refinada ARTE & CULTURA A tradicional roda de samba da Pedra do Sal cidadania & sustentabilidade Argus Caruso: a volta ao mundo de bicicleta

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3 Fotografia | Fotos Ervin KERCKHOFF Emilio SCHULTZ Rogério Medeiros Apoena Medeiros

ommerland Quase cem anos de história dos imigrantes pomeranos e seus descendentes integram o livro de fotografia “Pommerland: a saga pomerana no Espírito Santo”. O livro mostra a luta dos imigrantes pomeranos que chegaram ao Brasil e ocuparam a região serrana e o norte do Espírito Santo.

Visite o site e saiba onde encontrar

www.pommerland.com.br

SDC


sumário sumário capa www.folhacarioca.com.br folhacarioca@folhacarioca.com.br Fundadora Regina Luz Conselho Editorial Paulo Wagner (editor executivo) Lilibeth Cardozo (editora de conteúdo) Vlad Calado Arquimedes Celestino Fred Alves Jornalista responsável Fred Alves (MTbE-26424/RJ) Design e Criação www.Ideiatrip.com.br Projeto gráfico Vlad Calado Foto de capa Alex Nikada – Istockphoto

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Diagramação Yuri Bigio, Marcos Vilaça Fotografia Arthur Moura, Fred Pacífico Revisão Marilza Bigio e Petippa Mojarta Colaboradores Alexandre Brandão, Ana Flores, André Leite, Arlanza Crespo, Carmen Pimentel, Fred Alves, Gláucia Pinheiro, Gisela Gold, Haron Gamal, Iaci Malta, Lilibeth Cardozo, Marilza Bigio, Oswaldo Miranda, Renato Amado, Ricardo Lindgren, Samantha Quintães, Sandra Jabur, Tamas Distribuição Gratuita, pontos de distribuição e assinatura postal na página 34 Publicidade Arquimedes Edições:

100x Carioca Com esta edição a Folha Carioca chega ao centésimo número e presenteamos nossos leitores com a seleção de cem programas imperdíveis na cidade. Selecionar as dicas foi um trabalho fácil, pois o Rio é um parque de diversões naturais. Tal como uma senhora experiente, alegre, viva, astuta, inteligente e criativa, a Folha conhece bem como o Rio apresenta, dentre milhares, 100 programas agradáveis para todos os seus moradores e visitantes. No Rio só fica entediado por falta de programa quem quer. Com sua geografia deslumbrante, é só buscar um espaço livre, deliciarse com a paisagem e, sem gastar nada, voltar para casa relaxado. Programas culturais, divertidos, e inusitados agradam crianças, adultos e idosos. Pegue a Folha Carioca, saia de casa com, sem, ou com pouco dinheiro. Nós garantimos que você vai se divertir, e muito. Para os não cariocas, use a Folha como roteiro e quando sair do Rio assegure a amigos e familiares que o Rio está sempre “embrulhado para presente” para quem quiser alegrar-se numa cidade que é patrimônio natural da humanidade.

saúde & bem-estar

8 Sua pele é sua

(21) 2253-3879

“roupa” mais importante

Verônica publicidade@folhacarioca.com.br

9 Avanço na

Uma publicação:

www.arquimedesedicoes.com.br Av. Marechal Floriano, 38 / 705 Centro – Rio de Janeiro – RJ 20080-007

cardiologia: implante de válvula do coração através de cateterismo

14 Entrando no armário

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educação & conhecimento

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VINIL: reserva especial

ARTE & CULTURA

31 Roda de

Samba na Pedra do Sal


editorial Lilibeth Cardozo

colunas & artigos 07 Lilibeth Cardozo 10 Sandra Jabur Wegner 12 André Leite 16 Gisela Gold 17 Alexandre Brandão 22 Iaci Malta 23 Ana Flores 26 Carmen Pimentel 27 Bijux in the Box 28 Oswaldo Miranda 29 Tamas 30 Haron Gamal

cidadania & sustentabilidade

32 Arquitetando sonhos:

A volta ao mundo de bicicleta

A Folha é 100 O centésimo é sempre um acontecimento. Os 100 anos de alguém, cada vez mais comum dada a longevidade de um povo; a centésima peça de uma coleção; o aniversário de um monumento da cidade; os cem metros numa escalada de montanha; o convidado que faltava numa festa; o cento dos docinhos das festas; os 96 meses, aniversário do filho que faz oito anos e quatro meses, (um menino ou menina saindo da primeira infância) e muitas outras comemorações de centenários vão escrevendo uma história. A Folha Carioca nasceu há 100 edições. Como uma criança recém chegada nasceu com muitos cuidados para crescer robusta e saudável. Como uma boa carioca, a Folha cresceu ganhando personalidade, cheia de defeitos, mas destemida, sem muitas pretensões de competir com as publicações da grande mídia nacional. Foi crescendo, ganhando leitores e a confiança dos anunciantes. Hoje faz barulho na zona sul do Rio, divertindo, informando, metendo o bedelho e sendo esperada todos os meses. Estamos em festa e queremos comemorar com você, leitor. Nesta edição, premiamos uma leitora que, dentre inúmeros trabalhos que recebemos, escreveu o que para ela é “Ser carioca em uma Folha”. Um texto muito carioca, descolado, divertido...a cara do Rio! Foi difícil escolher, mas estão aí os quatro melhores trabalhos que recebemos: a vencedora e mais três menções honrosas. Foi com muito orgulho que recebemos as criações. Nossos anunciantes “falam” com os cariocas e é um prazer renovado receber as mensagens e telefonemas dos que pedem informações sobre anúncios, comentam nossos textos, elogiam, criticam, sugerem e até enviam cartas manuscritas como a de um leitor do Leblon, senhor Silvio, elogiando o artigo da Lilibeth, “A TV desastrosa do Brasil” em nossa edição de maio. Ele escreveu: “O conteúdo do artigo e a coragem simples de dar-lhe letras, sem esconder nomes, me fez admirá-la, ainda mais por expressar-se em uma forma de jornalismo cada dia mais ausente, perdendo terreno para as constantes bajulações interesseiras que estão tentando fazer com que a ‘a espada fique mais forte que a pena’. Não acredito que consigam, se vierem a se multiplicar penas independentes e com sua dose de talento.” Nós , equipe da Folha Carioca, somos um grupo de cariocas apaixonados pelo Rio e pela comunicação independente. Não vendemos nossa cidade: oferecemos a quem gosta do Rio, vive seus cantos e recantos. A Folha Carioca é uma revista que mostra sua paixão pelo Rio de Janeiro. Nascida na Gávea, cresceu no Leblon e hoje curte a vida adulta em toda a Zona Sul. Mantemos sempre o compromisso de trazer um conteúdo interessante, fugindo aos clichês da grande mídia. Distribuímos gratuitamente a revista em pontos estratégicos, cobrindo o filet mignon da Zona Sul, oferecendo ao mercado editorial do Rio de Janeiro uma novidade de grande impacto aos leitores e anunciantes. Nosso ideal é tratar de forma atenciosa os problemas cotidianos de quem mora na Zona Sul do Rio. A centésima edição nós dedicamos aos leitores. Foram 11 anos de muito trabalho e muito prazer, somando gente talentosa à nossa equipe e conquistando a confiança dos leitores e anunciantes. Ser carioca é um prazer e nós sempre lutaremos por manter este espírito que nos fortalece por vivermos e trabalharmos nesta cidade, falando sobre ela. A redação

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quem

é

quem

No tempo da delicadeza Arte sobre foto de Arlanza Crespo

Arlanza Crespo

Esta edição da Folha Carioca é especial: número 100. Tenho todas guardadas comigo, e ainda me lembro da primeira reunião quando ela nasceu e se chamava “Folha da Gávea”. Quanta coisa aconteceu nesses onze anos de vida! E quantos “Quem é quem” eu escrevi! Alguns muito bons, outros nem tanto. Às vezes o entrevistado fica com vergonha, às vezes perde a vergonha. Às vezes sou eu que não estou num dia muito inspirado... Mas é tão bom escrever esta coluna que hoje me sinto ganhando um presente. É o meu presente de aniversário! E quando o editor me pediu que entrevistasse alguém com mais de cem anos de idade, eu vibrei. Escolhi a Castorina, moradora da Casa de Betânea, um lar de idosos no Jardim Botânico, onde eu sou voluntária.

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Ana Castorina da Silva começou me dizendo que o nome Ana vem da avó materna e o Castorina da avó paterna. “Deve ter alguma relação com a estrada”, me disse lúcida, no alto dos seus 100 anos de idade. Castorina é solteira, mas teve mais de vinte namorados. Não casou porque eles só queriam “furunfunfá” ou “ticotico no fubá” e ela era uma moça séria. Foi noiva uma vez, mas o noivo (um mineiro sabido) era muito pobre e não tinha nem roupa. Trabalhava na padaria e dormia em cima do forno. Queria era casa, comida e roupa lavada de graça, “mas fazia serenata pra mim e me amava”. Castorina também trabalhou como costureira e fez muito “manteau” de casimira. Trabalhou primeiro com um alfaiate e depois no ateliê de madame Olga na rua Paissandu. Nessa época devia ter uns 20 anos. Também cantava no coral da igreja Santa Inês com a irmã Celina e tem muito orgulho em dizer que é soprano. Aliás sua voz continua afinadíssima. Contou histórias de quando foi morar na Casa de Betânea, não lem-

bra há quanto tempo. Disse que lá, no princípio, ficava junto da Lagoa. Nessa época não existia a rua Lopes Quintas, que foi aterrada. A passagem era pela rua Visconde de Itaúna, onde tinha uma granja e ela pegava frango para fazer galinha ao molho pardo. Depois foi ser doméstica na casa de um comandante da Aeronáutica, ali mesmo no Jardim Botânico. “Tudo dele tinha que ser engomado e ele queria dormir ouvindo o barulhinho da roupa”. Castorina fez todo o primário, era muito inteligente. Mas parou quando já sabia fazer todas as contas e não tinha mais professora para ensinar nada para ela. Seu pai, Aarão Feliciano Lopes da Silva, era acadêmico e trabalhava no governo. Sua mãe, Virginia Maria da Conceição, era índia e tem uma história muito triste porque foi roubada da tribo, mas ela não gosta de falar sobre isso. A delicadeza com que ela vai

discorrendo sobre as histórias, indo e voltando no tempo como se ela fosse dona dele... a meiguice com que ela fala dos sobrinhos... a calma com que ela trata a vida... como foi bom estar ali! Não sei se tudo que ela me contou aconteceu daquela maneira, não sei nem se ela viveu no tempo em que colocou algumas histórias. Mas descobri que isso para mim não tem a menor importância. Conversar com ela foi uma bênção. Esse “Quem é quem” foi só um pouquinho da sua vida, mas foi um pouquinho tão grande e de tamanha delicadeza que eu posso dizer com certeza que foi a entrevista que mais me tocou nesses onze anos de jornal! Castorina não anda mais, está fraquinha. Conversou só meia hora comigo, até cantou, mas depois ficou cansada. Não insisti, amanhã eu volto e a gente conversa mais.


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ilibeth cardozo

lilibethcardozo@folhacarioca.com.br

Maconheiros: por que vocês não fazem suas hortinhas? Muito se discute sobre violência provocada pelo narcotráfico. Muitas também são as defesas ardorosas do “um baseadinho não faz mal nenhum” e lá se vai correndo solto na hipocrisia de comprar maconha, ser usuário “social” (existe isso?) e cair de pau na questão da violência. Ando muito saturada de tanta hipocrisia! Enquanto não se descriminalizar o uso da maconha no Brasil, a erva é ilegal, faz dinheiro, alimenta o narcotráfico, coloca milhares de jovens no mundo do crime vendendo a “tão inofensiva erva” que, na voz dos usuários, “não faz mal nenhum”.

Não quero discutir os malefícios das drogas, até porque sou totalmente ignorante nessas questões químicas X dependência. Nem quero intervir no respeito da individualidade das pessoas. Se drogar, com álcool, maconha, cocaína, crack, heroína ou seja lá o que for, é um movimento individual. Sou fumante e bem sei o que faz uma dependência química da nicotina. Mas não compro o danoso tabaco no mundo do crime, do tráfico. Vou lá no bar, na banca da esquina, na tabacaria e compro, pagando impostos, meu maço de cigarros. Se estou me matando, é uma questão absolutamente individual e fumar meu cigarro, embora me destrua, não alimenta uma rede de ilegalidades. Mas deixaria de ser uma questão minha se, para ter meu vício, muitos morressem ou matassem pelo mundo afora. Se compro uns gramas de maconha, já alimentei a corrente do narcotráfico,

e também é responsabilidade minha saber que quem me entregou a erva não a plantou e faz parte da grande rede. A cada cigarrinho de maconha fumado deve-se ser consciente de que um menino de sete anos pode estar começando seu trabalho de “aviãozinho”; mais um jovem cheio de sonhos de ter dinheiro, posição social

e chegar lá, do outro lado da margem do rio, vendendo a droga.Ele está caminhando num terreno acidentado onde muitos atalhos podem levar a outras drogas, ao banditismo, à violência, à dependência e à morte.Não vou advogar a violência contra os usuários de drogas. Não é o caminho. Não vou propor soluções para o narcotráfico, pois não as tenho. Mas não aguento mais conviver com a hipócrita atitude dos usuários da maconha de que “faz menos mal que o cigarro” e impostam as vozes para discutir politicamente as melhores soluções contra o narcotráfico. Vestidos de branco, cantando, empunhando bandeiras de paz, participam de passeatas contra a violência, fumam o baseado que não plantaram e se horrorizam com as toneladas da droga que movem a engrenagem, enriquecem bandidos e donos do tráfico.

Certamente condenam os horrorosos crimes do narcotráfico! Que se legalize se é tão inócua, mas enquanto for ilegal, que pensem que poderiam fazer uma plantaçãozinha em casa para consumo próprio. Conheço alguns maconheiros assumidos que pegam sua trouxinha do “bagulho” nas mãos do mesmo traficante que, em seu carrão ou carrinho, segue viagem para entregar as outras encomendas de maconha, cocaína, êxtase e crack. E não acham nada demais! Seriam ou não elos na grande corrente do narcotráfico pelo mundo? Se forem pobres de comunidades carentes serão chamados de traficantes. Se forem riquinhos dos bairros ricos da cidade, lógico, serão chamados de “meninos e meninas tendo experiências normais da juventude”. O que não dá é ver gente com discurso de sensibilidade política, contra drogas, contra violência, com boas falas sobre diminuir desigualdade social, aumentar ações educacionais e de saúde, fumando seu “bagulho” e dizendo que não faz mal nenhum. Não faz mal nenhum? A ninguém? É o que proponho discutir! É uma discussão complicada, cheia de tabus, tão cheia que este texto vai dar muita briga contra mim.Que seja. Quem sabe, colocando as cartas na mesa, lemos todos os naipes e o jogo fica menos hipócrita? Quanta hipocrisia!

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SAÚDE

&

BEm-ESTAR

Estética e beleza

Sua pele é sua “roupa” mais importante Gláucia Pinheiro*

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A pele é o maior órgão do corpo humano e, além de formar uma barreira entre o nosso organismo e o meio externo, reflete nosso estado de saúde física e também emocional. É através da pele que percebemos todas as sensações de frio ou calor, de áspero ou macio, de carinho ou dor. Quando uma pessoa está feliz sua pele brilha e adquire uma tonalidade especial que todos percebemos, e quando está triste notamos o contrário. A pele é a responsável pela primeira impressão que se tem de uma pessoa. É onde se notam os primeiros sinais do tempo. Quando o assunto é beleza e juventude vale tudo, ou quase tudo. Lembro-me, quando ainda menina, da vovó me ensinando a lavar o rosto com a água de enxágue do arroz, que ela mesmo separava pra mim, dizendo que isso manteria minha pele jovem por muito tempo. E para deixar os cabelos com brilho doura-

do eu deveria umedecê-los com chá de casca de cebola e deixá-los secar ao sol. Existem muitos truques como esses para se manter bela e jovem, mas todo cuidado é pouco, pois podem resultar em danos irreparáveis. Semanas atrás, a Chayene, personagem da novela “Cheias de Charme”, querendo parecer cinco anos mais jovem, usou no rosto um creme à

proteger, despigmentar, enfim, produtos para atender a todas as necessidades. Tais produtos são resultado de muitas pesquisas científicas e os efeitos regulados por agências da Organização Mundial de Saúde. Nenhum medicamento deve ser usado sem prescrição médica, e cosméticos não são inócuos, portanto algum conhecimento sobre os efeitos se

O Brasil, atualmente, é o terceiro maior mercado consumidor de produtos cosméticos do planeta. A previsão para 2012 é que o país ultrapasse o Japão, tornando-se o segundo maior mercado base de “extrato de mamona brava” e o resultado quase foi uma tragédia. A busca pela beleza e juventude ao longo dos tempos resultou em evolução das técnicas de estética e cirurgias plásticas e em pesquisas e desenvolvimento, pela indústria cosmética, de diversos produtos à base de princípios ativos com diferentes ações como: esfoliar,hidratar, nutrir, c o l o r i r,

faz essencial. Os profissionais de farmácia passam anos debruçados em estudos científicos buscando soluções confiáveis para a produção de cosméticos em todo o mundo.Ao adquiri-los os consumidores devem procurar no rótulo o registro no Ministério da Saúde do país de origem do produto.O Brasil, atualmente, é o terceiro maior mercado consumidor de produtos cosméticos do planeta. A previsão para 2012 é que o país ultrapasse o Japão, tornando-se o segundo. Você sempre encontrará excelentes produtos à venda, nas boas lojas da cidade. Mas, antes de pensar em usar todos esses truques e produtos, que tal tentar primeiro mudar seu olhar para a vida? Buscar atitudes diferentes frente ao problemas do

dia a dia, adquirir hábitos saudáveis e, melhor ainda, buscar a felicidade em coisas mais simples. São pequenas mudanças, mas com certeza evitariam, ou retardariam, as transformações mais radicais obtidas em consultórios. Por isso é preciso cuidar do corpo como um todo, e o primeiro passo é adquirir o hábito de ter uma alimentação saudável. Outro hábito fundamental é a ingestão de água mineral. A mitologia grega já relacionava a água à beleza. Ela favorece todas as funções fisiológicas e é responsável pela hidratação do corpo e até mesmo pela queima de gorduras. Além de saciar a sede, pode agir de forma preventiva, curativa, terapêutica e de embelezamento. O segundo passo é movimentar-se. Pode ser caminhada, dança, musculação ou qualquer outro exercício, tanto faz. O importante é realizar uma atividade física de modo regular e que o/a faça feliz.Escolha-a, com a ajuda do seu médico. A partir daí, todos os cuidados e produtos irão valer a pena. Comece hoje! Nunca esqueça que felicidade e alegria embelezam! A partir daqui, vamos conversar sobre os truques de beleza e juventude, conhecer um pouco melhor os produtos cosméticos utilizados em procedimentos estéticos e, porque não, sobre felicidade! Até a próxima edição. *Gláucia Pinheiro é Farmacêutica glauciapinheiro@folhacarioca.com.br


Avanço na cardiologia: implante de válvula do coração através de cateterismo O aumento da expectativa de mais de 350 mil pacientes com EA 400 implantes já foram realizados, vida mundial está impondo um degenerativa em pessoas acima dos com resultados comparáveis ao novo desafio a prática médica: tratar 75 anos. O tratamento habitual desta resto do mundo. doenças complexas em pacientes doença consiste em substituição da Os resultados de estudos mais cada vez mais idosos. No Brasil, válvula através de cirurgia cardíaca recentes têm demonstrado grande aberta. Entretanto, mais de um terço benefício do implante da prótese segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), dos octogenários com EA são consi- aórtica, observando-se significativa estima-se que em 2030 teremos derados inoperáveis, devido à elevada redução tanto da mortalidade (redu11 milhões de pessoas acima dos fragilidade orgânica e outras doenças ção absoluta de 20% no final de um associadas (enfisema pulmonar, insu- ano) quanto na melhoria da qualida75 anos de idade. Um problema de saúde fre- ficiência renal etc). de de vida quando comparado com Esses fatos estimularam o desen- o tratamento clínico. quente nesta faixa etária é a estenose da válvula aórtica (coração), que volvimento de próteses para implante Concluindo, o implante da acomete mais de 3% da prótese aórtica por catepopulação acima dos 75 terismo cardíaco é uma O implante da prótese aórtica anos. Consiste em proalternativa segura e menos cesso degenerativo em invasiva, sendo no mopor cateterismo cardíaco é uma que ocorre calcificação da mento indicada somente válvula, dificultando sua alternativa segura e menos invasiva para pacientes portadores abertura e reduzindo o de EA e alto risco cirúrgico fluxo de sangue que sai do (idosos acima de 75 anos coração. Os sintomas da estenose através de cateterismo cardíaco, como ou com doenças associadas). Peso implante de stent nas artérias coro- soalmente, entretanto, acho que no aórtica (EA) consistem em fadiga, dor no peito, dificuldade para res- nárias, evitando assim a cirurgia aberta. futuro, com o maior aprendizado, pirar e desmaios. O impacto da EA Duas próteses, a CoreValve e Edwards disseminação da técnica e incresintomática é muito significativo, SAPIEN, já foram aprovadas nos EUA mentos tecnológicos nos materiais, reduzindo a sobrevida e a qualidade e Europa, tendo sido já realizados o implante da prótese através de mais de 50 mil implantes em todo cateterismo será a estratégia domide vida desses pacientes. Se projetarmos os dados esta- mundo, com elevada taxa de sucesso nante no tratamento da EA para a tísticos, em 2030 teremos no Brasil (superior a 90%). No Brasil, mais de grande maioria dos pacientes.

Dr. Edno Wallace Especialista em Cardiologia pela Sociedade Brasileira de Cardiologia Cardiologista na Clínica São Vicente e no Instituto Nacional de Cardiologia

EMERGÊNCIA

GERAL

Tel.:2529-4505

Tel.:2529-4422

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SAÚDE

&

S

BEm-ESTAR andra Jabur sandrajabur@folhacarioca.com.br

Medo d’água

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A vida de todos os seres humanos começa na água. Afinal, ficamos imersos durante toda a gestação, no acolhedor útero materno. Entretanto, devido a alguns imprevistos em diversas fases da vida, somados à fragilidade psicológica individual, algumas pessoas adquirem temor a água. Medo d’água, também conhecido como aquafobia, pode ser deflagrado a partir de situações traumatizantes às partes físicas, emocionais e biológicas, através de circunstâncias banais como brincadeira de criança de empurrar para dentro da piscina, aprender a nadar à força ou ainda banhos inadequados quando bebê ou situações de afogamento. Pode decorrer também de acontecimentos

• Natação Adulto e 3ª Idade em raias de 25m • Natação Infantil e Bebês • Atividades para portadores de necessidades especiais • Treinamento para travessias e performance • Hidroginástica • Alongamento Aquático trata educa habilita recupera

atividades aquáticas

complexos como parto demorado, partos cesários complicados, retirada do bebê a fórceps, por gravidez indesejada, pré-maturidade, traumas relativos ao primeiro banho, afogamento, traqueostomia, etc. Esse medo atinge graus variados, podendo provocar desde um simples receio ou desconforto em relação à água até uma fobia asfixiante que impede o indivíduo de colocar a cabeça embaixo do chuveiro. Felizmente, como para quase todas as adversidades da vida, existe solução para este trauma. É possível reverter esse quadro através de sessões de relaxamento, aulas individuais na água visando à adaptação e à perda gradual desse medo e, finalmente, iniciando a

• Hidroterapia especializada • Relaxamento Aquático (Watsu e Ai Chi) • Hidrotri

Direção:

Sandra Jabur Wegner CREF 003947/G-RJ CREFITO 2/20502-F

Gávea Medical Center Av. Padre Leonel Franca, 110 - Gávea - RJ (Início da auto-estrada Lagoa/Barra) Tel.: 21 3478-1700 estacionamento www.hidrovida.com.br hidrovida@hidrovida.com.br rotativo

natação, galgando uma futura sensação de bem-estar definitivo no meio líquido. O maior enfoque será sempre dado à respiração, conscientizando os movimentos respiratórios, com a musculatura abdominal trabalhando o diafragma, o músculo mais importante desse processo. A partir do momento em que a respiração for trabalhada da maneira correta, ela passará a influir no sistema nervoso central e acalmar o aluno ou paciente. Ele passará a sentir os movimentos do corpo em relação à água: na inspiração, o corpo flutua;

na expiração, o corpo afunda, naturalmente. Dúvidas sobre o assunto podem ser esclarecidas através do e-mail hidrovida@hidrovida.com.br


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SAÚDE

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A

BEm-ESTAR ndré leite | gastronomia andreleite@folhacarioca.com.br

Memória gustativa: sabores, cheiros e sensações

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Gastronomia é termo amplo, que não pode se restringir a conceitos como “cozinha francesa” ou “culinária vegetariana”. Normalmente é utilizado para agregar cultura, arte e história ao que conhecemos como culinária. Não que esta seja pobre de conteúdo, pelo contrário: o mundo das receitas, técnicas e gestual exige anos de preparação para atingir o nível ideal. Sendo assim, uma discussão sobre assuntos Gourmet não pode simplesmente se limitar à degustação, pois há que se abordar também o abstrato, os prazeres, questões não tão simples, visto que ligadas a memórias disparadas por sabores, cheiros e sensações tácteis, armazenadas de modo a servir, posteriormente, a comparações. Nesse ponto, tenho a impressão de que os idosos levam vantagem. Por anos treinaram seus paladares

...tenho a impressão de que os idosos levam vantagem. Por anos treinaram seus paladares e cérebros para compreenderem complexos estímulos ofertados por infindáveis refeições

e cérebros para compreenderem complexos estímulos ofertados por infindáveis refeições. Tiveram tempo para sedimentar tal conhecimento e construir conexões com fatos e sentimentos, abafando as prováveis perdas naturais descritas pela ciência. Há algum tempo, tive a oportunidade de conversar sobre o tema com uma senhora de mais de noventa anos. Saboreei suas histórias como quem está sentado sob uma jabuticabeira em plena safra. Curti a textura de cada palavra e imaginei seu perfume. Fantástico! Foi uma experiência que me fez aprender mais sobre Gastronomia. Escrever pela primeira vez esta coluna me emocionou e fez perceber que o objetivo aqui é compartilhar sentimentos ligados aos prazeres e a arte da boa mesa. Espero vocês aqui!


G ASTRONOMIA CARIOCA

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SAÚDE

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BEm-ESTAR

TUDONOVODENOVO

Entrando no Samantha Quintães

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Mulheres, mães, governantas, empregadas domésticas, babás, faxineiras, passadeiras... A dinâmica da arrumação da casa sempre dependeu de mãos de fadas; da delicada e paciente dedicação do feminino. O feminino transbordou. Hoje está presente não somente nos lares, mas nos bares, empresas, palcos e planalto. Somos motoristas de ônibus, fogões e carrinhos de cachorro-quente. Se necessário, batemos o martelo nas paredes e o fazemos com justiça nos tribunais. Somos provedoras, e é fora do lar que encontramos nosso sustento. Voltar para casa e encontrar tudo fora do lugar? Jornada dupla de trabalho? Não mais. As “Mulheres Maravilha” de hoje querem organização, funcionalidade, independência e tudo no seu devido lugar. Criativas, sensatas, “antenadas”, sempre buscando soluções e bem estar, para si e para os que as cercam.

armário

Somos o feminino, o que cria, cuida e mantém. Surge então uma nova profissão no mercado: a organizadora, uma especialista em padronização e organização ou, como o mercado batizou: personal organizer. Essa coluna nasce do desejo de dividir com você, leitor, os preciosos segredos de organização em casa. Você mesmo pode fazer. Caso não tenha tempo, contrate um profissional para colocar tudo em ordem e mantenha você mesmo, nunca sem exigir a participação de todos da casa. Todos os meses, eu, uma profissional da organização, além de organizar minha casa, onde vivem sete pessoas, entre adultos, jovens e crianças, vou passar a vocês, leitores da Folha Carioca, dicas de organização que podem facilitar suas vidas em casa, gerar economia de tempo, dinheiro, espaço e conflitos. E não há como deixar de passar pela criatividade na reciclagem de móveis e objetos que geram pouco lixo e muitas vezes dinheiro! Nada de sair jogando fora. O lugar onde vivemos diz muito

sobre nós. Seu armário está desorganizado? Você tem dificuldade de encontrar o que deseja? Perde tempo? Sua roupa está sempre amarrotada? Sente desânimo só de olhar pra ele? Você pode melhorar sua qualidade de vida, otimizar seu espaço e ganhar tempo. Mãos à obra!O primeiro passo é descartar o que não serve mais. Desapegar, doar, consertar ou simplesmente jogar na lata de lixo! Acumulamos roupas, sapatos e acessórios que não usamos. Apertados, largos, descosturados, faltando botões, fora de moda... “encalham” em nossos armários e cômodas, ocupando um lugar que já não pertence a eles. Atenção! Não deixe o descarte no canto do seu quarto. Vá até o fim e dê destino ao que você separou. Doe; para muita gente, o que não serve pra você, pode ser um verdadeiro tesouro. Sugiro que selecione as peças por cor, tamanho, ocasião... Crie “looks”, faça como preferir. Padronizar é um dos “preciosos segredos”. Quando for preciso, você encontrará o que

procura com facilidade. Além de se sentir confiante, restará muito mais tempo para estar com a família e evitará atrasos e correria matinal.Muitas vezes o investimento se torna necessário. A padronização dos cabides cria a harmonia visual, a reutilização de caixas de presentes, de ovos, ou bombons, guardam as meias, cuecas e calcinhas, anéis e brincos. Se preferir, lojas especializadas oferecem organizadores em forma de colmeias, caixas transparentes que dispensam etiquetas, sacos para embalar a vácuo roupas de cama e cobertores e mais uma infinidade de produtos. Vale a pena organizar , reutilizar e deixar tudo novo de novo. samanthaquintaes@folhacarioca.com.br


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MENÇÃO HONROSA ONCURSO CULTURAL

SER CARIOCA EM UMA FOLHA

O I-Pad já tem dono! Carioca da gema, Da gema de ovo, Do ovo com linguiça, Da linguiça sem trema, Que vende o almoço, Com muito alvoroço, Na fila do trem, Que não sabe se vem. Carioca pacato, Que banca o pato, Que vive sorrindo, Sem dente nenhum, Que vida caolha, É ser carioca em uma folha.

É uma pitada de gentileza, esporte, cultura, música, sexo, malandragem e cerveja gelada. Mistura tudo e deixa de molho na água salgada durante nove meses. Rafael Teixeira Chacon

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TRAVESSEIRO ESPERTO - RICARDO BRAULE

GILDA MARIA MARTINS SOARES, ganhadora do concurso “Ser Carioca em uma Folha”

selma medina quintella


G

isela Gold

giselagold@folhacarioca.com.br

Pequenos

notáveis

Velho pedaço de cortiça espalhado pelo chão. Alguém lhe arrancou das velhas fotos, amores que vão, já em vão, já vão tarde. O vento o arrastou, tirou-lhe propriedade. De cara amassada, passou pela casca de banana, guimba de cigarro, lata de cerveja, ninguém quis papo.

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Tinha centímetros suficientes para ser notada. Velho pedaço de gente espalhado pelo chão, após umas e outras, a fez voar dali ao cambalear na lata de lixo. Encontro comum em qualquer calçada deu à cortiça destino incomum. O velho pedaço de gente ao acordar continuou com aquele gosto amargo na boca, tão seca feito coração que esmola, antes mesmo de pedir a sua caninha ou o trocado do dia,

fez de seu tempo o encontro. Tão abandonados velho pedaço de cortiça foi acarinhado por aquele pedaço de gente. Após passar-lhe flanela, a mesma que passava nos carros nas noites de frio em que as luzes brilhavam para os mais afortunados, o velho de barbas, de posse de seu canivete, retalhou o velho pedaço . Fez dele flor. O velho pedaço de gente chorou. E só depois sorriu. Sorriu de novo. De novo não de novamente, que nunca sorria. Sorriu, de novo que se sentia. Algo já não era como antes. Como já não era velho o pedaço de cortiça. Naquele exato momento, ali não havia pedaços. Tinha alma.


a LEXANDRE brandão

| no osso

alexandrebrandao@folhacarioca.com.br

Perversão e verdade Lendo o artigo de Francisco Goldman (publicado originalmente na revista “The New Yorker” e reproduzido na Piauí de maio), Filhos da guerra suja, duas questões brotaram dele. A primeira tem a ver com a perversão. Tenho tendência a pensar na perversão como uma questão de foro íntimo. Desvio que acontece na relação entre homem e mulher, adulto e criança, mas, claro, há a perversão comandada pelo Estado, sempre houve, talvez haja sempre. Cito Herodes, que, para liquidar um futuro homem, mandou exterminar todas as crianças de até dois anos de idade. Cito também Hitler, disposto a fazer uma limpeza racial. Perversos ambos. Mas também a ditadura argentina mais recente foi perversa, possivelmente a mais perversa de todas, haja vista que não planejou o extermínio das crianças, mas o sequestro delas. Arrancadas das famílias transgressoras da ordem, seriam educadas num ambiente de pureza ideológica. O artigo, na realidade, usa essa questão como pano de fundo, pois o que está em jogo é a suposta origem dos filhos adotados da mandatária do Clarín, jornal importante, verdadeiro império da informação nas terras de Maradona e do tango. Depois de idas e vindas, sobre as quais falarei em seguida, a situação atual é que não há evidência de que o casal de jovens adotados pela senhora

tenha origem em famílias que contestavam a ditadura. Todavia, não se esgotaram todas as possibilidades de pesquisa. Pois bem, as tais idas e vindas lançam luz sobre a questão da verdade. O Clarín é um jornal poderoso, digamos assim. Pertence à tal grande imprensa, essa sobre a qual sempre há suspeita de locupletação com o poder. É uma discussão infindável essa da ligação entre imprensa e poder, foge ao escopo dessa crônica, mas acho que a concorrência (o fato de existirem vários grupos) diminui a chance de uma aliança maliciosa entre essas duas instituições da democracia.

Volto ao caso argentino, baseando-me no artigo do senhor Francisco Goldman. Enquanto o casal Kirchner (no poder desde 2003) manteve boas relações com o grupo Clarín, a questão da adoção irregular dos filhos da proprietária não emergiu, ou não passou de assunto que correu à franja da profusão de fatos ligados ao sequestro de crianças na Argentina. No entanto, quando a presidência e o grupo jornalístico passaram a estar em lados opostos, surgiram as leis que de certa forma obrigaram o uso do DNA para confirmar a origem dos adotados. Os filhos da senhora do Clarín, em nome da lei, sofreram uma série de constrangimentos, que também souberam contornar de forma burlesca. Leiam o artigo, vale a pena. Enfim, tudo isso para dizer que a verdade é uma construção. A turma lá de cima faz das tripas coração para que o fato em si seja a versão dele. Nesse momento, estamos vivendo, no Brasil, momentos decisivos ligados ao “mensalão”. Claro, há um jogo de interesse tremendo na questão. O episódio, ainda mal contado (pelo menos sem uma versão definitiva), do encontro entre Lula, Gilmar Mendes e N e l s on J ob i m é apenas uma onda pequena que pode estar anunciando um tsunami. Espero uma imprensa comprometida com a verdade. Com a verdade dos fatos. Sem perversão.

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Lilibeth Cardozo

Os anos passam e a Folha Carioca continua cada vez mais jovem. Completar 100 edições nos faz pensar que, graças às maravilhas desta cidade e seu povo, é tão prazeroso pensar, curtir e refletir sobre o que existe e passa ao nosso redor. É o que nos alimenta e estimula nossa renovação. Não é a toa que o Rio de Janeiro foi a primeira cidade do mundo a deter o título de Patrimônio Cultural da Humanidade, na categoria Paisagem Cultural, tendo sido escolhida pela Unesco. Em homenagem a essa preciosidade na qual moramos e em celebração à nossa centésima edição, listamos 100 programas que amamos curtir pela cidade. São tantas boas opções que ficam difíceis de selecionar. Seja na Zona Sul, Norte, Oeste ou no Centro, procuramos lembrar de dicas já trazidas pela Folha, em sua história, e que estão ao alcance de todos. Cariocas da gema ou de coração. E o melhor, a maioria é gratuita. Aproveite e nos leve consigo em seus passeios. Garantimos um ótimo programa e excelente companhia.

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Visitar o Cristo Redentor pelo trem do Corcovado

2 Passear no Pão de Açúcar

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Caminhar pela pista Cláudio Coutinho, também na Urca

5 Passear pelo Parque do Flamengo

3. Passear pelo calçadão e sentar nas muretas da Urca – O bairro conserva sua característica residencial. Um passeio por suas ruas arborizadas é uma oportunidade de desfrutar tranquilidade, de conhecer a fortaleza de São João, se encantar com o relevo dos morros Cara de Cão e Pão de Açúcar, observar o percurso dos barcos que procuram seu abrigo e admirar uma das mais belas vistas da enseada de Botafogo


6 Visitar o Jardim Botânico

Wikimedia

7 Visitar o Museu de Arte Moderna e passear em seu jardim

8 Visitar o pier atrás do aeroporto 9 Visitar o Outeiro da Glória 10

Andar pela Praça Paris e pelo Passeio Público

11 Visitar o Palácio Gustavo Capanema, no Centro

25 Visitar o Museu Nacional

12 Passear pela Cinelândia – A praça

26 Visitar o Mosteiro de São Bento

abriga alguns dos mais importantes e marcantes prédios públicos da cidade, como o Theatro Municipal, o Museu Nacional de Belas Artes e a Biblioteca Nacional. Abriga também o Cine Odeon, o Centro Cultural da Justiça Federal e o tradicional bar Amarelinho. Tudo rodeado por um importante e belíssimo conjunto arquitetônico da belle époque brasileira Conhecer o Real Gabinete Português de Leitura

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Passear pela Feira de Antiguidades da Praça XV, todo sábado pela manhã, e pela Feira Rio Antigo, na rua do Lavradio – Primeira rua residencial da cidade, a rua do Lavradio ganha um clima especial durante a feira, todo primeiro sábado do mês, com os lojistas, antiquários, expositores, bares e restaurantes locais colocando mesas e cadeiras ao ar livre, criando um clima de festa

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Passear pela Praça Tiradentes e seus arredores – A Praça

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Comprar algo tecnológico no Edifício Central

29 Andar de bicicleta pelas ciclovias da Orla

30 Passear ao redor da Lagoa Rodrigo de Freitas

31 Curtir o happy hour na Cobal do Humaitá

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32 Ouvir um samba na Pedra do Sal Tiradentes abriga a mais antiga estátua do Rio de Janeiro, assinada pelo escultor francês Louis Rochet: o monumento a D. Pedro I. Nas ruas paralelas encontram-se alguns dos mais importantes teatros da cidade – o Teatro Carlos Gomes e o Teatro João Caetano, além do Centro Cultural Carioca e diversas galerias de arte, como a Durex Arte Contemporânea, a Gentil Carioca, o Largo das Artes e o Centro Cultural Hélio Oiticica

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Bater perna na Saara – Formado por 11 ruas, neste que é o mais interessante mercado popular da cidade, a Saara é um programa indispensável para quem quer sair do circuito tradicional

17 Andar pelo Corredor Cultural – Partindo da Igreja da Candelária, passando pelo CCBB, Centro Cultural dos Correios, até chegar à Praça XV, cruzando pelos Arcos dos Teles, é uma experiência que te leva para um Rio de outra época

18 Visitar o Paço Imperial 19 Visitar a Ilha Fiscal 20

Passear de barco da Marinha pela Baía de Guanabara

21 Visitar Paquetá 22 Visitar o Maracanã, o Maracanãzinho e o Museu do Futebol

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Visitar o parque Quinta da Boa Vista – O jardim da antiga residência da Família Real faz a alegria de visitantes e cariocas da gema, que aproveitam os fins de semana para passear pela área

24 Visitar o Jardim Zoológico do Rio

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Comer e beber no Beco da Sardinha

34 Tomar café da manhã e passear no Parque Lage Fred Pacífico

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27 Conhecer a Central do Brasil


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Wikipedia

61 Comer um cabrito no Nova Capela

35 Tomar banho na Cachoeira dos Macacos, no Horto

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62 Conhecer a Escadaria Selaron, na Lapa

Passear pelas Paineiras e tomar banho de “bica”

63 Subir a Pedra Bonita (520m) – para

37 Passear pelo Parque da Floresta da

ver o visual e observar cariocas e turistas saltando de asa-delta

Tijuca – A reserva é um impressionante exemplo da capacidade regenerativa da floresta tropical. As fazendas de café que ocupavam toda região, ainda no século XIX, ameaçavam os mananciais de água que abasteciam a cidade e, por conta do risco, D. João VI ordenou o reflorestamento da área, resultando na maior mata urbana do mundo

64 Voar de asa-delta – A experiência de pular da Pedra Bonita, bailando sobre São Conrado e a Praia do Pepino, destino final, presenteia o aventureiro com uma vista cinematográfica da Cidade Maravilhosa

65 Visitar o Sítio de Burle Marx – Transformado em museu, o sítio escolhido pelo paisagista como moradia abriga, além de coleções de arte e móveis de época, 3.500 espécies de plantas tropicais em seu jardim e as cinzas do cantor Renato Russo

38 Passar uma tarde olhando as vitrines de Ipanema e Leblon

39 Observar a cidade da Vista Chi-

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Passear pelas ruas, bares e ateliês de Santa Teresa

Comprar plantas e comer um bacalhau na Cadeg

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Visitar as feiras livres dos bairros

55 Andar pela orla de Copacabana

49 Assistir algum filme nos cinemas de rua de Botafogo

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41 Andar de Bonde em Santa Teresa – in memoriam

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Andar de pedalinho na Lagoa

43 Lanchar na Confeitaria Colombo olhando a orla e e aproveitar para conhecer o Forte de Copacabana

44 Sentar ao lado da estátua do poeta Carlos Drummond de Andrade no calçadão e observar a vida

45 Comer os quitutes da Confeitaria Colombo, no Centro

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Feira de São Cristóvão – Em nenhum outro lugar o Rio é tão nordestino

56 Comprar peixe fresco na Colônia de Pescadores do Posto Seis em Copacabana

50 Conhecer o Cemitério São João Batista, em Botafogo, e procurar pelos nomes de cariocas ilustres para história da cidade General Glicério, em Laranjeiras – Tomar uma caipirinha no Luizinho, ouvindo os músicos que encantam os visitantes aos sábados

52 Tomar um chope e comer um filé à milanesa no Lamas

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Curtir o samba da Praça São Salvador

Passear pelos jardins do Museu da República

57 Visitar o Beco das Garrafas 58

Comer um sanduíche do Cervantes

59 Tomar água de coco no Costão do Leme e observar os pescadores

60 Curtir a noite da Lapa – Tradicional reduto boêmio do Rio desde o início do século passado, abriga agitada vida cultural e etílica para todos os gostos

66 Comer frutos do mar nos restaurantes de Guaratiba Fred Pacífico

nesa e da Mesa do Imperador – Quem passeia pela região dificilmente imagina que a estrada Dona Castorina empregou em sua construção trabalhadores chineses, ainda no século XIX, e que o pagode em estilo oriental foi construído em homenagem a esses trabalhadores

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Lilibeth Cardozo

Fred Pacífico

85 Praia da Reserva, no Recreio 86 Prainha – Os poucos metros de areia são protegidos por morros cobertos por Mata Atlântica. Vale a pena chegar cedo para aproveitar o sol, que se esconde atrás das montanhas no meio da tarde. Mar azulado, transparente e limpo, areia branquinha e fininha embelezam este local paradisíaco apropriado para relaxar e se divertir

67 Ver o visual do Parque do Penhasco Dois Irmãos, no Alto Leblon

68 Tomar água de coco no Mirante do Leblon

69 Assistir ao pôr do sol da Pedra do Arpoador

70 Assistir ao pôr do sol do Vidigal 71 Assistir ao pôr do sol do Mirante da Paz, no Cantagalo

72 Assistir ao pôr do sol de qualquer lugar da cidade – Já é um espetáculo, principalmente no outono

73 Andar pelo Parque dos Patins 74

Fazer arvorismo no Parque da Catacumba

76 Assistir ao turfe no Jockey Clube Brasileiro e apreciar suas edificações

77 Tomar um café e ver uma expo-

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Praia de Grumari – Encontra-se em meio a uma reserva ambiental e a orla é certada por vegetação de restinga e casuarinas. Mar de águas limpas, transparentes e areias douradas

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90 Praia do Leme

Tomar um chope pós praia em qualquer boteco do Rio

91 Praia da Joatinga – No local tem-se

93 Ir a algum ensaio das Escolas de

uma belíssima vista para o por do

Samba

sol. Esta praia se localiza entre o bairro de São Conrado e da Barra

94 Passear no Morro da Conceição

da Tijuca, no meio da estrada do

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Joá, dentro de um condomínio.

Passear pela região do porto e conhecer mais de sua história,

Local bem tranquilo cercado

além de ver a revitalização que

por mansões e vizinho ao clube

está em curso na região

Costa Brava

96 Passear no teleférico do Alemão Fred Pacífico

75 Visitar o Planetário na Gávea

87 Praia da Barra de Guaratiba

89 Praia Vermelha

97 Visitar o Parque de Madureira 98

Ir ao baile do Viaduto de Madureira

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Bater perna no Mercadão de Madureira

sição no Instituto Moreira Salles

78 Tomar um chope no Baixo Gávea 79 Passar na Pizzaria Guanabara no

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fim da noite

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Passear de barco pelas Ilhas Cagarras

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Passear pela Feira Hippie de Ipanema

83 Ir à praia em Ipanema – Palco de tendências há muitas décadas, passear pelas areias desta praia, que vai do Arpoador ao canal do Jardim de Alá, é ver as mais distintas tribos que a cidade pode abrigar. Tem para todos os gostos e é diversão garantida para cariocas e turistas

84 Conhecer o Baixo Bebê na Praia do Leblon e o Ipa Bebê, em Ipanema

Subir a escadaria da Igreja da Penha e fazer uma oração pelo futuro desta Cidade Maravilhosa Arthur Moura

Tomar sorvete na Sorveteria Mil Frutas

Fred Pacífico

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i aci malta iacimalta@folhacarioca.com.br

O homem e a mulher ou o masculino e o feminino Estava eu pensando sobre o que não mais me lembro, quando me vi refletindo sobre o homem e a mulher. Mais especificamente, sobre a diferença entre eles. E consegui, para mim, sintetizar: a diferença básica entre o masculino e o feminino é que a mulher é movida pela necessidade de se sentir segura e o homem de se sentir potente. Eu me dei conta de que isso aparece nas mais diversas componentes da nossa vida: nas aspirações ditas pessoais e em todos os tipos de relações. Essa diferença está

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presente nas relações amorosas, nas parentais, nas relações de amizade, nas relações de trabalho. O feminino busca segurança, o masculino poder. É claro que imediatamente podemos atribuir isso ao elemento cultural, afinal a sociedade se estruturou já há muito tempo a partir do patriarcado onde o homem detém o poder e a mulher a obrigação de cuidar. Mas, talvez, possamos cavar mais fundo, chegando nas funções de cada um, determinadas biologicamente: a mulher tem que gerar, parir e cuidar de sua cria (proteger, ter e dar segurança), já o homem tem que ser potente para conquistar uma fêmea o que, em si, isto é, vencer essa disputa entre outros machos, seria indício da capacidade de aumentar as chances de sobrevivência da espécie. Durante a gestação, a mulher fica (fisicamente) mais frágil, ela precisa de segurança, necessita ser protegida. Uma vez nascido, seu bebê, que é muito dependente (e por um longo tempo) precisa ser protegido, necessita de segurança (e parece que mãe se habitua com isso e permanece a vida inteira preocupada com

a segurança de seus filhos, mesmo quando eles já estão bem maduros e capazes de cuidar de si mesmos). Essa idéia me remeteu ao Rabino Nilton Bonder e seu (transmutador) livro, A Alma Imoral (Editora Rocco, 2008). Nele, Nilton Bonder fala das duas forças básicas da natureza humana: a conservação e a transgressão. Pensei então que a conservação (representada pela moral, segundo ele) nos fala de segurança, isto é, para conservar precisamos ter segurança e, paradoxalmente, para ter segurança precisamos conservar o que conquistamos. Por outro lado, a transgressão (para ele representada pela alma) fala de riscos e, correr riscos exige potência assim como, também paradoxalmente, a potência se afirma pela experiência do risco, da transgressão. Ou seja, acabei por estabelecer uma ligação entre as duas forças de Nilton Bonder e o homem e a mulher, ou melhor, entre o masculino e o feminino: a mulher é moral, o homem é alma. E, se o homem é alma, a mulher é corpo.


A No 1 e a No100

A na flores anaflores@folhacarioca.com.br

Velha é a vovozinha! Imagine que ousadia alguém pensar que eu, uma jovem antenada, bem informada, sensível e com senso de humor afiado, possa ser chamada de velha, só porque completei 100 edições! Quem quer, vê: estou sempre me renovando, a começar pelo nome: já fui Folha da Gávea, depois acrescentei “e Leblon” na minha capa, mas circulei tanto, agradei tanto, que resolvi me rebatizar de Folha Carioca. Assim contento a todos os meus leitores. Sempre fui e continuarei sendo inconformada com certos “malfeitos” que insistem em acontecer à minha volta. Em vez de esperar soluções de fora, faço as coisas acontecerem. Eu mesma escrevo sobre eles, sugiro mudanças, baixo o sarrafo quando é preciso, cutuco os dorminhocos com minhas críticas, sensibilizo meus leito-

res com minha poesia e meus textos cheios de sentimentos, faço campanhas e me meto em tudo o que acho que é preciso meter minha colher. Ou melhor, minhas palavras e ideias. Descubro pessoas interessantes nos nossos bairros; entrevisto gente simples que faz sua parte importante no dia a dia sem querer aparecer nem fazer firula; divulgo a obra de artistas que não têm como derrubar muros e panelinhas apesar do talento mais que provado; informo sobre saúde, educação e esportes; provo e divulgo os sabores inesquecíveis de nossos quitutes e nossos bares, estejam eles na Lagoa, na Ilha do Governador, em Vila Isabel, na Tijuca ou na Gávea, meu bairro natal.

Pois é, completei 100 números, sempre bem acompanhada por meus editores, colaboradores, revisores, gráficos, fotógrafos, distribuidores, amigos, leitores e anunciantes, essa turma toda que me põe na rua – no bom sentido, é claro! Merecemos, sim, cumprimentos, homenagens, paparicos e chamegos, que afinal ninguém é de ferro, como dizia nosso poeta mineiro, hoje sentadinho lá na orla de Copacabana. Parabéns a nós todos, já preparados para os próximos 100 números, que de velhos não temos nada... Porque velha é a vovozinha de quem pensa isso, não é mesmo? Até a próxima!

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educação

&

conhecimento

VINIL: 24

re s e r v a e s p e c i a l

Ricardo lindgren A música desempenha diferentes papéis nas nossas vidas: ora é coadjuvante nas atividades diárias, no carro, no avião, no bate-papo com os amigos, ora é protagonista em momentos de lazer solitário, ou de celebração coletiva. Se para uns ouvir música é como tomar um chope, uma caipirinha, para outros é saborear um vinho de excelência.

É desses “outros” que estou falando! O vinil surgiu em 1948, substituindo os goma-laca de 78 rpm. Trouxe melhoria na qualidade sonora, estimulou o desenvolvimento de equipamentos sofisticados, e introduziu conceitos artísticos de alta qualidade na sua apresentação. No Rio surgiram

lojas como a Modern Sound, especializadas em LPs importados. O mestre Josias criou seus primeiros estúdios residenciais, hoje denominados home theaters, e o que era apenas “ouvir um som”, tornou-se um ritual! Soberano, o vinil compartilhou sua glória com as outras mídias (fitas de rolo, cassetes, etc). Mas a felicidade não é eterna, e no final dos anos 80 surgiu o CD, um arqui-inimigo criado pela tecnologia Digital. Som limpo, sem chiados, compacto, resistente, boa maneabilidade e portabilidade, com grande capacidade de armazenamento. Proporcionava ainda, expressivo ganho de eficiência na produção e na logística de distribuição. Não deu para encarar! Rei deposto, as gravadoras entronizaram o CD, e ao fim do Século XX, o vinil se tornou obsoleto, quase extinto. No Brasil de 1992 as

vendas despencaram. Os benefícios da Tecnologia Digital e as medidas de redistribuição de renda transformaram o perfil do consumidor. O sucesso do Real em 1995, consagrou uma nova classe consumidora e seus gêneros

Soberano, o vinil compartilhou sua glória com as outras mídias (fitas de rolo, cassetes, etc). Mas a felicidade não é eterna, e no final dos anos 80 surgiu o CD, um arqui-inimigo criado pela tecnologia Digital

favoritos: o sertanejo, o pagode, o axé. Em 1997, artistas renomados não mais gravaram em vinil e muitos cederam o lugar de honra a novos nomes. Solidário, o velho LP também desapareceu das lojas. As rádios e TVs acompanharam essa mudança e as gravadoras influenciavam as grades musicais, instituindo-se o famigerado “jabá”. Na época, somente duas rádios (a 98 e a Rádio Cidade) detinham mais de 70% da audiência FM no Rio de Janeiro. As vendas de CD cresceram e proporcionaram, durante anos, ganhos substanciais às gravadoras, mas as mudanças de paradigma provocadas pela socialização do uso dos computadores; a dramática queda de preços dos equipamentos; os downloads; a pirataria e outros meios de distribuição via internet, viraram o jogo e o CD, de “pedra” passou a “vidraça”. Atual-


mente, cada vez menos artistas obtêm marcas vencedoras em vendas de CD. Ironicamente a mídia digital tornouse o pior pesadelo da indústria fonográfica, e foi responsável pela derrocada de importantes selos. Com tantas facilidades, artistas consagrados, e também aqueles que não teriam chance no ambiente cartorial das majors, dispensaram essas super estruturas, e passaram a gravar os seus próprios discos. Mesmo assim, devemos reconhecer o mérito das gravadoras nos quesitos distribuição, comercialização, e assistência jurídica, o que talvez explique o maior número de talentos comerciais e de marketing, do que artísticos, nos seus postos de comando.

O ressurgimento do vinil A mídia digital deverá manter, ainda por muito tempo, a hegemonia no campo de batalha das inovações disruptivas, mas, ao final da primeira década de 2000, observamos um movimento crescente de aficionados a procura do vinil. Atentas à demanda, as gravadoras retomaram sua produção, e as lojas especializadas passaram a promover esforços contínuos para captação de LPs usados. Confirmando os excelentes resultados obtidos em todo o mundo, nos cinco anos anteriores, a Inglaterra emplacou 2011 com um crescimento de 40% no nicho do vinil, e uma queda de 13% em CDs. No Brasil, ainda sem números confiáveis, fala-se

em aumento de 400% nas vendas no triênio 2009-2011, e 170% no primeiro trimestre de 2012. A PolySom, desativada em novembro de 2007, reabriu suas portas em 2009. Dimensionada para uma prensagem inicial de 40 mil unidades/ mês, mostrou grande otimismo projetando quantidades três vezes maior para os anos seguintes. A despeito dos elevados custos de produção e da tributação, os preços nacionais estão cada vez mais acessíveis, e a luta vai continuar. No ostracismo dos anos 90, o vinil sobreviveu graças às mãos habilidosas dos DJs, e aos fiéis escudeiros que garimpavam nos sebos, em meio a poeira e arranhões. Atualmente espaços privilegiados e confortáveis oferecem LPs e compactos novos em folha, como também exemplares usados em bom estado. O fenômeno é universal! Cada vez mais artistas nacionais e internacionais fazem tiragem de seus novos trabalhos em vinil, e clássicos e raridades fora de catálogo são re-editados. Curiosamente, apesar de toda a intimidade com a tecnologia, o público mais interessado no vinil é formado por jovens de 14 a 25 anos. Fanáticos por rock, MPB, jazz e blues, parecem ter percebido o quanto a mídia digital subtraiu em qualidade. Na contra-mão desse cenário meio retrô, vejo os “coroas” desfilando com seus IPODs, numa cena insólita de pares trocados.

Muito se fala da qualidade de reprodução do vinil, superior às mídias digitais nos contrastes sonoros e baixas frequências. Não creio que seja apenas isso. Assim como entre leitores e livros, e enófilos e vinhos, existe uma sintonia diferente entre o audiófilo e os seus vinis, algo especial e que por alguma razão não percebo na lida com outras mídias. Uma interação que se manifesta no manuseio, na preservação, no exame frequente do conteúdo, na apreciação do texto e ilustrações ... quase um namoro.

Mas quais as verdadeiras razões desse retorno?

Nunca soube de alguém que namorasse um pen drive! ... e então, vem a lembrança do disco girando, a agulha sulcando as entranhas da trilha e de lá extraindo sons surpreendentes, uma visão hipnótica e improvável no mundo dos CDs e HDs.

Colaborou nesta matéria Heitor Trengrouse de Araújo

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educação

& conhecimento C armen pimentel | língua portuguesa carmenpimentel@folhacarioca.com.br

Vc tb escreve axim?

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Quando digo que sou professora de língua portuguesa, logo me perguntam: você acha que a internet está acabando com o português? Sou professora há mais de 20 anos e já lecionei nos diversos segmentos do ensino: da Educação Infantil ao 9º ano do Ensino Fundamental, do Ensino Médio ao Superior. Desenvolver o gosto pela leitura e a habilidade da escrita sempre foi o foco da minha prática docente. Quando a informática chegou à escola, lá pelos anos 90, provocou uma revolução na Educação. De lá pra cá, não houve escapatória: o computador entrou em nossas vidas para ficar. Com a internet, vieram os emails, os sites, os chats, os blogs, o orkut, o facebook, o twitter, enfim, as redes sociais – o terror dos pais de crianças e adolescentes. Mas por quê? Por que os adultos andam tão assustados com o Português que se usa na internet e nas redes sociais? Nunca na história da comunicação se trocou tanta correspondência como hoje. Pela internet, contatamse pessoas de todas as partes do mundo para trocar ideias, conversar, pesquisar, estudar, informar-se.

Encontram-se pessoas que não se via há tempos. Desenvolvem-se teorias científicas. E, por isso mesmo, a internet é um meio de uso intenso da escrita e da leitura. A questão é que escrita e que leitura se faz na internet, quando se é jovem. A internet é lugar de agilidade, rapidez, dinamicidade. Ali, tudo muda de um minuto para outro. As notícias são postadas praticamente em tempo real. As conversas acontecem também em tempo real. Daí a necessidade de escrever rápido e pouco... Surgiu, assim, o internetês: linguagem utilizada nos espaços virtuais. Junto com o internetês, a pergunta que inicia este texto. E respondo, com certa cautela, mas com a vontade de ajudar a entender o que se passa: não, a internet não vai acabar com o Português. O internetês é simplesmente uma variante do Português, da mesma forma que o “juridiquês” ou a linguagem dos surfistas, dos policias, dos militares, e por aí vai... E cada um desses grupos usa a sua variante em local e situação apropriados, da mesma forma como nos vestimos. Ninguém vai à praia

de fraque, nem à missa de biquíni. Não se fala juridiquês na mesa do bar, nem se usam gírias no tribunal. Então, por que motivo as pessoas andam tão alarmadas com a escrita na internet? Justamente por isso: ela é escrita! E mais: por jovens! O nosso exemplo do juridiquês não assusta porque é usado por adultos, formados, com certo discernimento... O internetês é de todo mundo, principalmente dos jovens. Jovens ainda estão em formação, ainda estão na escola, ainda não têm uma profissão. E é aí que entra a minha defesa! Apesar de tudo, eles sabem direitinho em que momentos usar a tal variante da língua! Corrijo centenas de redações por mês, milhares na época de provas de vestibular, e, pasmem!, não encontro nenhum vestígio de internetês nos textos dos alunos. O que isso mostra? Que eles dominam as variações da língua com muito mais segurança do que imaginamos: o internetês é para a internet, para as redes sociais, para twitter e outros espaços virtuais.

Se algum dia ele vai sair do ciberespaço e chegar aos textos do “mundo real”, não sei. Mas posso dizer que as variantes de uma língua não são melhores ou piores, superiores ou inferiores. Elas existem de fato, determinadas por fatores sociais, temporais, espaciais. Não são exclusivas da língua portuguesa, são universais e inerentes a todas as línguas.

B-FST 2GO = Breakfast to go stp dsl pr la kestion = S’il te plaît, désolé pour la question vc tb escreve axim? = Você também escreve assim? * Carmen Pimentel é doutora em Língua Portuguesa.


B ijux in the box

bijux@folhacarioca.com.br

MMO - minha modesta opinião A televisão deve ser colocada como uma das 4 ou 5 maiores invenções do século 20 (se baixou curiosidade, as outras são: a bomba atômica, a pílula, o viagra e a coca-cola). Na Minha Modesta Opinião. A internet (na verdade a sua popularização) coloco como a primeira deste nosso século – e já temos a segunda: a descoberta do tal Bóson de Higgs, seja lá o que isso aí for. Isso porque a internet deslanchou de verdade a partir da escalada de novas tecnologias iniciada neste século. Hoje se dá à internet uma megaimportância (se o Huck pode falar assim, eu também posso). Mas o que seria da web sem a TV para repercutir, quando não provocar, a ação da rede? Tanto é assim que ficamos conhecendo o que vai na internet através de programas como Pingou na Rede, Vídeos Incríveis e Domingão Você Sabe de Quem.

Enquanto a internet informa muitas vezes em primeira mão, municiando o jornalismo e o entretenimento da TV, é a câmera de TV que está no Egito, na Síria, na Alemanha, nos EUA, no Rio. Tudo o que está na web esteve primeiro na reportagem das emissoras de TV. Tal é a importância da TV – porém há mais: ela é hoje a maior fonte de entretenimento democraticamente espalhado para o mundo inteiro. Molda comportamentos sociais, vende produtos aos bilhões, mas também é rápida e eficaz em denúncias, reivindicações e apoio às causas sociais. Não há quem não veja TV. Mesmo de raspão, mesmo através da internet. A TV é inexorável, indefectível, inevitável. E é bom que seja assim. Pelo menos na Minha Modesta Opinião.

Eu vi... Mais do mesmo Um monte de programas novos na TV. Novos? O da Fátima Bernardes e o do Bial nos fornecem mais do mesmo: plateias sonolentas, temas mais do que batidos (adoção, obesidade, desaparecimentos, o tal do politicamente correto, as obviedades, e outras mazelas que tais). Já o da Adriane Galisteu nem se atreve a querer ter plateia, e usa basicamente a internet para um também batido programa de fofocas. O do Gentilli – que nem é tão novo – é mais um dos que oferece a Band dentro do que parece ser o seu objetivo: chocar, causar, dar o que falar (e tem dado certo), como o CQC e o recém importado Pânico. Tudo igual do Leme ao Pontal.

De olho no umbigo TODOS, absolutamente TODOS os programas da Globo – até mesmo os novos, do Bial e da Fátima – têm SEMPRE alguns preciosos segundos e até minutos dedicados a enaltecer seus próprios programas e profissionais. A Globo sempre fez isso, mas era mais comedida. Agora, só olha o seu próprio umbigo.

Gabriela 2 Olha o microfone! No jogo Fla Flu na Band, um microfone ficou aberto e pôde-se ouvir um monte de sonoros palavrões.

Que me perdoe o excelente Nacib de Humberto Martins, mas “moço bonito” mesmo é o Mundinho Falcão do Mateus Solano.

*Bijux é Marilza Bigio, jornalista e telespectadora fiel

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educação

&O conhecimento swaldo miranda oswaldomiranda@folhacarioca.com.br

Mulatas do gênio Lan eternizadas no bronze

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Lan, o grande chargista (ele detesta ser chamado de cartunista), escolheu Pedro do Rio, o bucólico recanto de Petrópolis para morar, quem sabe? em busca de mais inspiração para suas famosas mulatas. Não bastasse a convivência diária com a sua, exclusiva, Olivia, uma das três celebérrimas Irmãs Marinho de shows e carnavais passados. Lan foi tudo no carnaval da minha cidade, Petrópolis. Ganhou homenagem como enredo de escola de samba e produziu com suas mulatas toda a decoração do Centro. Rei Momo passou-lhe as chaves da cidade então recebidas do prefeito Paulo Mustrangi. Bacana! Agora leio na revista do Globo, em matéria de Mariana Filgueiras, que Lan, que já tem suas mulatas materializadas nas maravilhosas passistas das escola de samba, também vai tê-las eternizadas no bronze, sim, no bronze, como informa a confrade. São vinte esculturas inspiradas em doze de seus belos desenhos, 30 centímetros de altura,

numeradas para serem comercializadas. Diz Mariana que era mesmo um sonho de Lan ver sua criação assim, no bronze, sendo difícil encontrar então um escultor. Paulo Brocá, publicitário, amigo de Lan há 30 anos, foi quem conseguiu com o professor de escultura Marcus André Salles, dar forma aos desenhos apresentados - um malandro, uma passista, a mulata com a lata d’água na cabeça, o torcedor do Flamengo... e ainda as próprias Irmãs Marinho como acabei de ler. As obras de arte serão vendidas por 3.500 reais; uma já foi presenteada à presidente do Flamengo, Patrícia Amorim e outra a Oscar Niemeyer pelos seus 104 anos. Tem mais, como informa Mariana: os diretores Murilo Saroldi e Claudio Henrique vão fazer um documentário sobre a vida de Lan, e uma de suas mulatas será reproduzida em desenho de quatro metros de extensão no calçamento da Cidade do Samba em pedra portuguesa, enquanto uma

retrospectiva “Simplesmente Lan” será aberta no fim do ano em Fortaleza e Salvador. Vibro com tais informações, eu que sempre tive profunda e sincera admiração pelo amigo desde os saudosos tempos de convívio na redação da Última Hora.

Acima, o cartunista Lan e o colunista; à direita: Lata d’água na cabeça... Lan certamente se inspirou no sambão de Luiz Antonio e Jota Junior, carnaval de 1952, quando Linda Batista estava no auge e era nossa colega na Última Hora.

Adeus...

“Se vivêssemos eternamente significaria•termos uma velhice eterna. Alguém está interessado em ser cada vez mais velho ao longo da eternidade? Não posso crer. É claro que precisamos da morte. A vida precisa da morte.” José Saramago, o grande e saudoso escritor português, me consola com estas palavras na hora em que minha esposa, companheira de mais de dez anos, se vai, depois da dor com que acompanhamos sua longa agonia. O filósofo americano Dr. Wayne Dyer teoriza com sua meta: “O céu é o limite”. Não. O de Maria Helena é um céu sem limite. Por que ela, pura que era, boa, generosa, humana, conquistaria na sua brava jornada, esse direito, o de ir, serena, pelo além afora, até chegar ao ponto mais alto do seu destino, de suas potencialidades. Para ficar ali, premiada pela grandeza de sua nobre missão cumprida na vida terrena, eternizando-se, sentadinha ao lado Dele...


METRO: “ Lula: se necessário, morderei as canelas dos adversários para eleger Haddad”. Esse rapaz não tem jeito mesmo. O GLOBO: “Excelente matéria sobre a casa da morte, em Petrópolis, onde havia mortes e torturas na ditadura, como conta o organizador de tudo, Paulo Malhães. Uma nódoa negra na minha cidade. RECORD NEWS: “Marco Archer, brasileiro condenado à morte na Indonésia por tráfico de drogas. “Lá é assim... MÍDIA: “Morreu Dom Eugênio Salles.” Fico com Dom Orani Tempesta, arcebispo do Rio de Janeiro: Ele adormeceu aqui e acordou junto de Deus! ESTADÃO: “WikiLeaks – Rio + 20 - Bush e Obama eram contra o evento. Agora, em razão do grave momento porque passa a Europa, e Hillary achou-o precipitado, sugerindo 2017”. Quanto ao planeta..... Não entendi, Lili. TRIBUNA DE PETRÓPOLIS: “ Trono de Fátima no roteiro do turismo religioso”. Na expectativa da Jornada Mundial da Juventude, ano que vem. HOJE: “O risco de morte por quedas dentro de casa é maior seis vezes do que o de doenças”. Os tapetes. MÍDIA: Cientistas comprovam que existe a partícula de Deus, o bóson de Higgs, um dos doze blocos presentes após o Big Bang, a explosão que deu origem a todas as coisas, ocorrida há 14 milhões de anos. Sergio Lietti, o físico brasileiro que participou com outros 3.380 do estudo, diz que a descoberta melhora o entendimento da humanidade sobre o mundo. “ Nós, sete bilhões, agradecidos, ignorantes, ficamos na esperança de que seja para o nosso Bem. O GLOBO.- Arnaldo Bloch: “ A Rio+20 não passa de um teatrinho homologatório daquilo que só será real quando a água dos poderosos faltar”. Aí é que a cobra vai fumar... se ainda as houver por aí... FOLHA DE SÃO PAULO - THE NEW YORK TIMES: “Carl Zimer - Tratamento contra bactérias com antibióticos está mudando e cientistas informam que elas, 100 trilhões que nos têm como casa, microbioma, podem, as benéficas, se cultivadas, melhorar nossa saúde. Universidade de Idaho diz que o leite tem 600 espécies de bactérias e quanto mais as boas prosperam, mais difícil será o crescimento das espécies nocivas”. É a ecologia médica com boa novidade sobre esses bichinhos (?) , moradores invisíveis que moldam nossas vidas.

Numa esquina onde dor cruza com amor, te encontrei parada. Parei e você parada. Parti e te deixei parada, nessa esquina onde não se cruza mais nada.

“De rima em rima vou fazendo minha sina.” “A desvantagem de reciclar papéis é que eles acabam voltando.” “A equação matemática é muito útil na vida. O que é mesmo equação?” “Três coisas que me fazem feliz: a felicidade a felicidade a felicidade.” “Quanto mais vejo o voo da gaivota menos entendo o avião.” “O bêbado beijou o poste. Paixão traumática à primeira vista.” “É certo: Existe uma pedra no meu caminho. E pessoas que me ajudam o caminhar.” “Com tanta virtude no mundo, quando eu peco, ninguém percebe.” “Perdi o nexo. Que bom que o N vem antes do S!”

Pensamentos Pró-fundos

MÍDIA: “ Seeedorf 801 partidas oficiais sem nenhum cartão vermelho”. Vamos ver agora, Botafogo, qual será a relação dele com nossos juízes.

Instante Fugaz

t amas

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H aron Gamal harongamal@folhacarioca.com.br

O céu dos escritores Resenha de No osso, crônicas selecionadas, de Alexandre Brandão

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A crônica é um gênero enganoso: fácil de ler, difícil de escrever. Muitos são os que tentam esse gênero malagradecido, poucos os que conseguem dominá-lo. E quem tem talento para se firmar como autor de crônicas, sabe que jamais será considerado escritor maior. Temos aí Rubem Braga, um dos grandes mestres da crônica. Quem se arriscaria a dizer que foi mais hábil na escrita do que Guimarães Rosa? E foi muito mais lido. O cronista é feliz não por se saber passageiro, mas por insistir em escrever crônicas, apesar de ter toda a literatura contra si, apesar de também saber que nunca lhe elevarão ao céu dos escritores. Crônica vem de Cronus, o deus grego que devorava os próprios filhos. Por isso, é associado ao tempo, que sempre está a nos devorar. O cronista tem acordo com esse deus impossível de ser vencido. Já que não pode derrotá-lo, conta-lhe os dias, sobretudo os mais prazerosos. Depois de longo período distante dos jornais e revistas, a boa crônica ressurge em publicações que não pertencem à grande imprensa mas que não deixam de ter seu valor. Preocupados com o culto às celebridades, jornais e revistas de grande circulação desprezaram-na para publicar cronistas de ocasião, que mais se ocupam de capítulos de telenovelas e fuxicos políticos do que da herança deixada por Paulo Mendes Campos, Fernando Sabino, o já citado Rubem Braga e até mesmo Carlos Drummond de Andrade. Em publicações de menor tiragem, eis que ressurge o verdadeiro cronista, desenvolto, livre para jogar conversa fora, porque pode desenvolver seu texto ora com a lentidão que o gênero exige, ora com a agilidade necessária para mergulhar no passado em voos

rápidos e logo retornar ao presente, sempre trazendo o lirismo nas asas da imaginação. Assim podemos dizer sobre as crônicas selecionadas por Alexandre Brandão neste seu novo livro, que tem o mesmo título de seu blog, No osso. São abordagens muito sensíveis e interessantes que o autor, nascido em Passos, Minas Gerais, traz para a literatura não do Rio de Janeiro, mas brasileira. Na leitura das 45 crônicas, o leitor acompanhará Brandão no seu percurso ora de exaltação e alegria, ora de reflexão e, às vezes, de algum lamento. “A casa do beco dos aflitos” é um dos textos que destaco. Nele, o autor faz o histórico da casa onde morou durante a infância e a adolescência, citando também parentes e amigos que passaram por lá. Mas o principal é saber do espaço de privacidade que lhe incutiu o estímulo à imaginação. Foi em cima de uma mangueira do quintal, que surgiu o protótipo do futuro escritor. A casa, como tudo na vida, passou, mas ficaram as marcas. Elas, vez ou outra, ainda lhe doem: “descobri o encanto da solidão”, mais adiante: “apartado agora do sobrado, ando na contramão do tempo até me ver de novo com as marcas de antigos arranhões, que ardem como nunca”. “Com quem eu vou” aborda a chegada da internet e o que ela pode nos proporcionar. “De certa forma, nossa presença virtual é ensaio de um antigo desejo humano: a onipresença.” Após descobrirmos que sempre quisemos brincar de ser Deus, percebemos também os pontos positivos de estar conectado. Mas Brandão, apesar da presença constante nos blogs e no Facebook, afirma: “as

redes sociais não substituem os locais de convívio, onde o velho olho no olho continua comandando a praça, inclusive a Tahir.” Pungente, da mesma forma, a crônica “Cachorro”. Aqui, o autor não apenas descreve os cães que teve na infância, mas narra sua volta à casa materna na ocasião da morte da mãe. Restam no local dois cães, e eles se encontram em profunda depressão por causa da ausência definitiva da dona. Uma vez que não pode ficar com eles, o cronista arranja quem os adote. No entanto, depois constata: “quando saíram os cães, fiquei quatro dias sem nenhuma companhia na casa vazia. Vazia daquela espécie única de que ficam as casas depois da morte da pessoa que viveu nelas uma vida inteira.” Todos tivemos um amigo mentiroso, aquele que sempre sabia contar histórias extraordinárias que jurava serem verdadeiras, contar vantagens e sustentá-las bravamente. Assim aconteceu na roda de amigos de infância do autor e ele nos conta na crônica “A perna curta da mentira”. Está numa rodoviária e se depara com esse tal amigo dos tempos de menino. O garoto ficara famoso por contar entre outras bravuras “sua luta contra uma horda de morféticos”, relatara também que seu pai tinha tanto dinheiro (e era apenas um professor) que caso quisesse poderia comprar todas as casas da rua. No encontro, diz que viveu pelo Norte, casou-se; o irmão enriqueceu e o trouxe para o Sul, convidou-o para cuidar de uma das empresas, cuidava da logística. Mas o cronista não lhe quer estimular a fabulação, depois de trinta anos ainda desconfia do amigo. Após

despedirem-se e cada um seguir o seu caminho, Brandão conscientizase da própria infantilidade: “deixei de ter uma conversa quem sabe até instrutiva – um sujeito que morou no Norte e vive em São Paulo cuidando de uma grande empresa sempre tem o que dizer – para ficar nos meus devaneios, comandado por um tirano nostálgico que não me dá de presente o presente.” Talvez o bom cronista seja sempre um nostálgico. Difícil manejar esse gênero sem uma pitada de lembranças, de saudade de um mundo que poderia ter sido e que não foi. Ou foi? Após refletir, ainda na mesma crônica vêm à tona alguns versos de Neruda: “Onde está o menino que eu fui? / Está dentro de mim ou se foi? / Por que andamos tanto tempo / crescendo para nos separarmos? / Por que não morremos os dois quando minha infância morreu?” Brandão promete buscar as respostas. Mas também reconhece: o mentiroso pode ter sido ele próprio.

No osso, crônicas selecionadas Alexandre Brandão Ed. Cais Pharoux, 152 páginas


arte

&

cultura

ROTEIRO BOÊMIO CARIOCA

Retorno

às origens Roda de samba na texto_RENATO AMADO Fotos_arthur moura

Nesta série de matérias você conhecerá opções permanentes da agenda cultural carioca. No Rio há vários encontros musicais, literários e de outras artes que passaram a ser patrimônio da cidade. Vamos descobrilos e mostrar como nascem, crescem e se solidificam. Manteremos o foco nos dias de semana, que são considerados semimortos, mas em que sobra vida. E sim, há muitas alternativas para os que precisam acordar cedo. Por exemplo, você sabia que é possível aproveitar um dos melhores e mais tradicionais sambas da cidade em plena segunda-feira e chegar em casa por volta das 23h? Falo da Roda de Samba da Pedra do Sal, na Gamboa. O Morro da Conceição, ao qual uma escada esculpida no escorregadio granito da Pedra do Sal dá acesso, é um dos berços do samba. O local que teve colonização mais intensa no século XIX, sobretudo

por negros baianos recém-chegados ao Rio de Janeiro egressos da Guerra do Paraguai ou buscando oportunidades, tornou-se rapidamente o principal endereço na cidade da religiosidade afro-brasileira. O elemento musical sempre foi extremamente presente, tanto que, segundo alguns, lá nasceu o samba e o primeiro rancho. A par de minúcias históricas, é fato que a região do Morro da Conceição é um dos mais tradicionais pontos de samba do país. Aos pés de suas escadarias, num passado mais recente, tocaram bambas como Jorge Aragão, Beth Carvalho e João Nogueira. Sentado na Pedra do Sal e deixando a mente divagar, ainda é possível visualizar Pixinguinha, Donga e outros tais daquele tempo que também deram o ar da graça. Lá o movimento musical sempre foi espontâneo, mas desde 2006 foram organizadas rodas de samba que ocorrem, atualmente, todas as segundas e sextas-feiras. Na segunda-feira, mais raiz, toca o grupo Samba do Sal. Uma clássica roda de samba. Sem microfone,

31 o vocal se faz ouvir pela voz do povo. O público é essencialmente formado por pessoas que trabalham no Centro, sobretudo na casa dos trinta, e moradores do Morro da Conceição. Na alta temporada, quando o público aumenta consideravelmente, veem-se muitos estrangeiros e pessoas mais jovens. Na sexta-feira toca Thiago Torres e o Samba de Lei, já com uso de microfone, e o público é mais variado. O horário, na segunda-feira, é a partir das 19h, indo até aproximadamente às 23h. Na sexta o samba começa às 21h e termina justamente a tempo de você ir para a Lapa, cair na noite. Programa altamente recomendado para desanuviar a alma às segundasfeiras.

Serviço Roda de Samba da Pedra do Sal Rua Argemiro Bulcão, 38, Gamboa (próximo ao Largo São Francisco da Prainha)

Segundas: a partir das 19h Sextas: a partir das 21h Grátis


&

sustentabilidade

Arquitetando

sonhos

Argus Caruso deu a volta ao mundo de bicileta, cruzando 28 países em 3 anos e meio e visitando mais de 200 escolas texto_fred pacífico fotos_argus caruso

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Arthur Moura

cidadania

A curiosidade pode nos levar por caminhos maravilhosos de aprendizado. A inquietude de conhecer mais do mundo fez com que o arquiteto Argus Caruso Saturnino, 37, pegasse um sonho, uma bicicleta e, após planejar cuidadosamente o início de sua aventura, pedalasse ao redor do planeta Terra com a cara e a coragem, além de muita saúde e disposição. Baseou sua aventura na educação, ligando todos os povos através do projeto “Pedalando e Educando”. A proposta, pioneira no país para a época, se baseou na educação à distância e, durante os três anos e meio do percurso, Argus alimentou com relatórios e imagens um site (arguscaruso.com.br), no qual crianças

e escolas pudessem pegar material para, se divertindo, aprender sobre o mundo. Toda a viagem foi elaborada para utilizar-se de rotas que potencializassem o interesse pela História, a Geografia e o dia a dia dos locais visitados. Além da comunicação digital, mais de 200 escolas foram visitadas no percurso, onde o ciclista apresentou os seus caminhos e histórias acumuladas, alimentando os sonhos e educando cerca de três mil estudantes sobre a diversidade cultural e as histórias da humanidade. “Não podemos temer o desconhecido. Uma coisa que aprendi foi que o ser humano é muito bom. Sempre tive em mente que o melhor

caminho para a transformação, para melhorar o mundo, é através da educação. O fato da bicicleta ter sido meu transporte já estabelecia uma conexão imediata com as crianças. Ensinei e continuo ensinando o que vi e vivi, mas, mais importante, aprendi e continuo aprendendo muito com esse projeto. É indescritível a satisfação de ver os olhos das crianças brilhando com as aventuras”, conta o professor e aprendiz Caruso. Infinitas experiências vividas, 20 mil imagens captadas, somados aos mais de 35 mil quilômetros percorridos no pedal.

Escola global Ao todo foram cruzados 28 países, passando por importantes rotas que fazem parte da história mundial: Rotas Inca, das Caravanas do Império Romano, da Seda, da Companhia das Índias Orientais, da Expansão do Islamismo, dos Mercadores Africanos e Asiáticos, Estrada Real, dentre outras. Várias escolas ao redor do mundo foram se cadastrando e acompanhando a viagem. “Comecei com 20 escolas cadastradas, mas esse número foi crescendo exponencialmente ao longo do trajeto. Teve um momento que consegui a parceria da Cultura Inglesa, que ia traduzindo meus relatórios, e a BBC passou a me seguir na viagem e convidar outras instituições de ensino. Cheguei a ter escolas na Rússia me acompanhando. A proporção e o alcance global do Pedalando e Educando são surpreendentes”, diz.

Toda essa rica experiência de vida e aprendizado resultou na exposição “Caminhos – Volta ao mundo de bicicleta”, e em um livro homônimo, editado pelo Sesc SP, com uma compilação de 150 belíssimas imagens. A exposição só foi possível graças ao apoio dado pela Firjan, Telsan, Atex e Be.Bo, e já rodou diversos países e várias cidades brasileiras. Pode ser vista, até o dia 18 de agosto, no Casarão dos Prazeres, em Santa Teresa. Já se passaram sete anos que terminou a volta ao mundo e, desde então, Argus tem continuado sua peregrinação educacional por instituições de ensino e realizando palestras por todo o país. A exposição no Rio de Janeiro tem servido para o arquiteto experimentar um novo modo de passar sua mensagem. “Visitar as escolas é positivo, mas muitas vezes me deparo com a falta de infraestrutura no local. Isso não impede do encontro ser proveitoso, mas restringe, pois poder projetar imagens, filmes da aventura,


À esquerda: margem do Rio Ganges, na India. Abaixo, mulheres de vermelho contrastam com o verde do campo de arroz, no Nepal, e a Estrada Kathmandu-Bidur, no Nepal

enquanto trocamos ideias é muito mais rico para as crianças. Por isso resolvi montar a exposição no Rio e passar a receber as escolas aqui. É a primeira vez que testo este novo formato, mas digo que é muito positivo. As turmas adoram a experiência, além de que, eles poderem sair da escola para um passeio, é também uma aventura”, explica.

Sonhar como realidade Rodar o mundo de bicicleta é um sonho que o aventureiro vinha alimentando desde seus 14 anos, quando assistiu a um documentário em que um casal francês realizava a viagem desta forma. “Vi que era possível e fiquei com essa ideia na cabeça. Depois, já com meus 17 anos, experimentei pedalar de Minas até o litoral, passando pelo Rio até o Espírito Santo. Isso me mostrou como seria uma experiência maior”, explica Caruso. O espírito desbravador foi crescendo junto com o sonho de infância. A fotografia veio

como ferramenta. Apesar da paixão pela arte, o arquiteto sempre fotografou por hobby. Percebeu que a imagem teria um papel fundamental em seu projeto e não é de se surpreender que a estrada tenha mudado a visão do homem. “É clara a evolução da minha fotografia do início até o fim da viagem. A cada quilômetro rodado, mais minha forma de perceber o mundo foi mudando. É tão forte que não vai nunca sair de mim”. Com a certeza de que realizar só dependia de si mesmo, o arquiteto aos pouco foi estruturando sua aventura até concretizá-la. “Hoje dou outro valor a palavra sonho. Na viagem encontrei um senhor de 80 anos que também estava peregrinando e rodando o mundo. Não podemos deixar de sonhar. Muitas vezes somos nós mesmos que criamos impeditivos e dificuldades. Tendo saúde, acredito que tudo é possível”, diz o menino que continua sonhando e fazendo deste mundo um lugar melhor para se viver.

fotografia

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33 Caruso e uma turma de estudantes de uma das escolas visitadas, e ao lado, a criançada na bicicleta do arquiteto-aventureiro


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