Prova de Língua Portuguesa Muitas das características que são atribuídas ao povo brasileiro têm origem no tempo em que o europeu aqui chegou, 1500. Elas representam o olhar de um povo que se julgava superior ao indígena do Brasil. Tantas atribuições têm sido repetidas por nós brasileiros, através de julgamento que representam, confirmam, validam nosso preconceito, reproduzindo o olhar de superioridade de uns para outros.
Questão 1 Releia o texto I e observe a conversa dos dois personagens. Porque podemos afirmar que entre eles não está acontecendo um diálogo? Questão 2 No 5º quadrado do texto I, o cliente usa uma linguagem características da fala descontraída, e estilo informal. O outro, ao contrário, mantém o estilo formal, durante quase toda a conversa. Responda
a) Em que outro momento da conversa o cliente usa o estilo informal? Transcreva o exemplo. b) Por que o garçom usa o estilo formal e depois o modifica? Questão 4 Observe, atentamente, as imagens do texto I. O cliente usa uma série de adjetivos que desqualificam o povo brasileiro. Responda Na representação visual do personagem, qual é o aspecto físico que melhor expressa o que é dito na linguagem verbal? Texto II Você vai ler um texto produzido pelo professor de História Chico Alencar. Além de uma introdução e de uma conclusão críticas, o desenvolvimento deste texto se organiza através de trechos de primeiro documento escrito sobre o Brasil, introduzidos por comentários instigantes e irônicos.
500 ANOS DE OUTRA COISA Quer saber o que deve ser lembrado na festa dos 500 anos? O primeiro passo é ler a famosa carta de Pero Vaz de Caminha. Ela foi dirigida ao rei mas agora é domínio público. Pode e deve ser utilizada por todos os que quiserem conhecer a visão escrita por um europeu sobre nossa terra. Você vai ficar sabendo das maiores, bem mais fortes do que a da primeira missa no Brasil, celebrada, “voz entoada” por Frei Henrique Soares e outros 16 padres da expedição. Mais do que o “achamento”, que só relatava novidade para os que chegaram, há outros acontecimentos interessantes, que agora completam 500 anos. Eles são testemunhos da enorme diferença dois mundos, duas culturas, duas situações de vida. Caminha, mesmo curioso e, de certa forma, deslumbrado, era “eurocêntrico”: -
o primeiro pistolão (cinco de tráfico de influência e jeitinho): “E pois que, Senhor, é certo que, assim neste cargo com era em outra coisa que de vosso serviço for, Vossa Alteza há de ser de mim bem servida, a Ela peço que, por me fazer singular mercê, mande vir da ilha de São Tomé a Jorge de Osório, meu genro”.(que cumpria por ter assaltado uma igreja).
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a primeira cobiça (a diferença de valores): “ um deles pôs o olho no colar do capitão, e começou a acenar com a mão para a terra e depois para o colar, como que
nos dizendo que ali havia ouro. Também olhou para um castiçal de prata e assim mesmo acenava para a terra novamente para o castiçal, como se lá também houvesse prata.(...) Isto tomávamos nós assim por assim o desejarmos”. -
a primeira desfeita (a diferença de paladar): deram-lhe pão e peixe cozido, confeitos, bolos mel e figos passados. Não quiseram comer quase nada daquilo; e se alguma coisa provaram, logo o lançaram fora. Trouxeram –lhes vinho numa taça; mal lhe puseram a boa, não gostaram nada, em quiseram mais. Trouxeram – lhe a água em um jarro. Não beberam. Mal tomaram na boca, que lavaram, e logo a lançaram fora”.
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a primeira impaciência (a diferença de humores): “trazia este velho o beiço tão furado, que lhe caberia pelo o furo um grande dedo polegar, e metida nele numa pedra verde, ruim, que cerrava por fora esse buraco. O capitão lhe fez tirar. Ele não sei que diabo falava e ia com ela direito ao Capitão, para lhe meter na boca. Estivemos sobre rindo um pouco; e então o capitão enfadou-se e deixou –o”.
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a primeira tentação (a diferença de atrativos): “e uma daquelas moças era toda tingida de baixo a cima daquela tintura; e certo era tão bem-feita e tão redonda, e sua vergonha, tão graciosa, que a muitas mulheres de nossa terra, vendo-lhes tais feições, fizera vergonha, por não terem a sua como ela”.
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O primeiro preconceito (a diferença cultural): “é uma gente bestial, de pouco saber e por isso tão esquiva (...) como animais monteses, como pardais no cevadoiro(...) A barbaria deles é tamanha, que se não entendia nem ouvia ninguém.”
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A primeira análise econômica (a diferença de atividades produtividade produtivas): “eles não lavram, nem criam. Não há aqui boi, nem vaca, nem cabra, nem ovelha, nem galinha, nem qualquer outra alimária que costumada seja ao viver dos homens. Nem comem senão desse inhame, que aqui há muito e dessa semente e frutos, que a terra e as árvores de si lançam”. O primeiro olhar documentado de um grupo sobre a terra que se chamaria Brasil é um olhar superior mas também maravilhado: a terra em que se plantado tudo dá, de muitas águas, onde havia camarões “como em nenhum tempo se viu tamanho”. Terra de belos montes e “muitos arvoredos, tantos, tamanhos, tão bastos, de infindas maneiras”. Terra de papagaios, das pombas, das gaivotas. Pena que, nesses cinco séculos, ela tenha se tornado a terra dos demagogos, dos tubarões, dos agiotas.” (Chico Alencar In: BUNDAS n.23, Rio de Janeiro: novembro de 1999. p.28-29. Adaptação)
VOCABULÁRIO agiota: aquele que faz especulações sobre fundos, câmbio e mercadorias, com o objetivo de obter lucros exagerados; interesseiro; usuário
alimária: animal irracional bastos: compactos; densos; cheios bestial: próprio de besta; grosseiro cevadoiro: lugar onde se põe iscas para atrair e caçar aves demagogo: político inescrupuloso e hábil que se vale das paixões populares para fins ilícitos ou de má fé enfadou-se: cansou-se; aborreceu-se esquiva: aquele que evita o contato com outras pessoas eurocêntrico: aquele que considera o continente europeu e respectivos valores os mais importantes do planeta mercê: favor, benefício tubarão: industrial ou comerciante ganancioso que vale de quaisquer meios para aumentar os seus lucros, contribuindo para o aumento do dusto de vida.
(HOLANDA, Aurélio Buarque. Novo dicionário da língua portuguesa. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, S/d.)
Questão 5 Relacione os fragmentos abaixo destacados do texto II, com as idéias de causa e conseqüência. 1) 2) 3) 4)
“a primeira cobiça” (4º parágrafo)___________________________________ “terra dos demagogos, dos tubarões, dos agiotas” (10º parágrafo)__________ “(...) Mande vir a ilha de São Tomé a Jorge de Osório, meu genro”. (3º parágrafo) “Cinco séculos de tráfico de influência e jeitinho” (3º parágrafo)____________
Questão 6 Observe o seguinte trecho do 7º parágrafo do texto II “(...) e certo era tão bem-feita e tão redonda, e sua vergonha tão graciosa, que a muitas mulheres da nossa terra, vendo-lhe tais feições, fizera vergonha (...)” O cronista brinca com a palavra “vergonha”, deslizando entre o sentido objetivo e o figurado. Dê significado das expressões:
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“vergonha graciosa”: ________________________________________ “fizera vergonha”:___________________________________________
Questão 7 Na frase: “ O Capitão lha fez tirar.” (texto II, 6º parágrafo): o pronome sublinhado se refere a dois termos anteriormente mencionados. Reescreva a frase, substituindo este pronome, retomado dois termos Questão 8 Observe a seguinte afirmação relativa ao texto II A repetição da palavra “primeiro / primeira” está associado ao significado da expressão “novidades fortes”, presente no seguinte trecho do 2º parágrafo.
“Você vai ficar sabendo das maiores novidades, bem mais fortes do que a da primeira missa no Brasil”(...) Escolha, entre as palavras do quadro abaixo, aqueles que sintetizam o efeito produzido por essa aproximação de significados. Ironia-repetição-acontecimentos-reflexão-humor-crítica-esclarecimento-deslumbramento
Questão 9 No texto I, o cliente reconhece o índio e o negro como “preguiçoso” e “safado”. Esta visão é fruto de uma história de dominação que ainda não terminou. O poder, na nossa sociedade, nos faz, irrefletidamente, a mesma atitude negativa dos colonizadores. A partir dessas reflexões, responda: a) Aponte o quadro em que o cliente se exclui da condição de “povo” brasileiro. b) Que atitude do cliente melhor demonstra a contradição entre o que ele fala e o que ele faz? c) Transcreva, do texto II, a passagem em que aparece a mesma avaliação eurocêntrica, percebida na voz do cliente. Questão 10 “Que saber o que deve ser lembrado na festa dos 500anos?” Suponha que associação dos mercadores do seu bairro organizou uma reunião para discutir o assunto.
A vocﾃｪ coube a responsabilidade de redigir a CARTA-CONVITE. ELABORE, ENTﾃグ, ESSA CARTA, ESCLARECENDO OS PONTOS QUE SERﾃグ ABORDADOS NO ENCONTRO.
Bom trabalho!
Gabarito Questão 1 – Não há um diálogo, porque não há uma troca de opiniões entre os dois /ou/ porque o garçom, apenas concorda com freguês por cortesia profissional /ou/ outra resposta equivalente. (0,5 pontos) Questão 2 – A palavra qualificadora é sacana
(0,5 pontos)
Questão 3 – a) o cliente usa estilo informal em “Pudera, né, Jarbas”. Quadro 3 b)O garçom modifica o estilo de sua linguagem; porque ele precisa manter a formalidade, enquanto o cliente está presente. Porém, quando o cliente sai de se sente à vontade para expressar suas opiniões. (1,0 pontos) Questão 4 – O aspecto é boca exageradamente aberta, com a língua solta, demonstrando estar exaltado. (1,0 pontos) Questão 5 – 1)Causa 2)Conseqüência 3)Causa 4)Conseqüência
(2,0 pontos)
Questão 6 –“Vergonha graciosa” órgão genital feminino bem-feito “Fizera vergonha” ficariam diminuídos, /ou/ outra resposta similar com sentido equivalente (1,0 pontos) Questão 7 – O Capitão fez o velho tirar a pedra
(0,5 pontos)
Questão 8 – ironia-refleção-humor-crítica-esclarecimento
(0,5 pontos)
Questão 9 – a) os quadro 1,2,3 e 4 são aceitos como respostas corretas b)A atitude de melhor demonstrar a contradição do cliente é a dele sair do restaurante sem pagar a conta, outra vez. c) “Eles não lavra, nem criam (...)” (1,5 pontos) Questão 10 – Texto em forma de carta, convidando pessoa para uma reunião. É imprevisível que o candidato relacione os pontos que considerar relevantes para a discussão. (20 pontos)