Arca de Noa

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ISSN 2184-4550

Um presente para todos Boletim de educação para a Sustentabilidade Janeiro de 2019


Ficha técnica Coordenadora Susana Machado

Coordenadora-adjunta Cláudia Martins

Redatores Susana Machado Cláudia Martins Carina Rodrigues Ana Carvalho

Design e paginação Susana Machado

ISSN 2184-4550

Contactos https://susanamachado.wixsite.com/formula-s https://www.instagram.com/susanamachado_autora https://www.facebook.com/susanamachado.autora susanamachado.autora@outlook.pt

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Conteúdo

À descoberta de Noa

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Transformar o Mundo

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Sabias que…?

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Desafios Sustentáveis

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Aprender como se faz

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Vamos fazer…

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Segredos das Abelhas

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Vozes da Terra

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Editorial Conto

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Editorial mundo em que vivemos encontra-se cheio de desafios e dilemas. Muitos deles chegam até nós através das notícias na televisão ou na internet ou mesmo nas redes sociais. Problemas como a guerra na Síria ou a crise dos refugiados, as alterações climáticas ou a saída do Reino Unido da União Europeia, parecem ser questões tão distantes do nosso dia a dia que somos, muitas vezes, levados a pensar que em nada nos dizem respeito. Mas, na realidade, este planeta que nos acolhe é apenas um e a maioria das questões que nele têm lugar estão interligadas, de alguma forma. E os desafios e problemas existem também à nossa volta. Afetam as nossas comunidades, os nossos vizinhos, as nossas famílias. Por isso é cada vez mais importante que todos nós tenhamos consciência das questões que nos atingem e do papel que podemos ter para as resolver. Cada um de nós – eu, tu, os teus amigos, família, professores – temos uma voz que merece e deve ser ouvida e que tem todo o poder para fazer a diferença. Grandes caminhadas começam sempre com pequenos passos! Pequenos passos esses que se podem traduzir em pequenas ações e mudanças na nossa vida quotidiana, mas que podem ter um impacto muito poderoso se forem replicadas por muitas pessoas. É essa a missão que pretendemos atingir com este boletim – inspirar e fornecer ferramentas para fazeres pequenas mudanças no teu dia a dia que contribuam para o Desenvolvimento Sustentável das nossas comunidades. O conceito de Desenvolvimento Sustentável, tendo já uma longa história, ainda não é muito divulgado. No entanto, é fundamental para conseguirmos ter uma sociedade mais justa e equitativa. O Desenvolvimento Sustentável é aquele que nos permite “satisfazer as necessidades atuais sem comprometer a capacidade das futuras gerações de satisfazerem as suas próprias necessidades”1, garantindo dessa forma o respeito pelos direitos das gerações presentes (em qualquer parte da região da Terra) e das que se seguirão. 1

Relatório da Comissão Brundtland, 1987

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Foi com base nessa ideia base que pensamos o título desta que é a edição zero deste boletim. Um Presente para Todos pretende transmitir, simultaneamente, a ideia de que o nosso planeta é um presente do qual todos podemos e devemos usufruir agora, neste momento, mas que devemos estimar e respeitar de modo a presentear as gerações futuras com esse mesmo privilégio. É ass assim, im, um presente que não nos é dado, mas emprestado, e que por isso precisa ser cuidado de uma forma especial. E tantas são as vezes que nos esquecemos de o fazer… Mas, com vontade, empenho e determinação é possível sermos a mudança que desejamos ver no mun mundo. Determinação e coragem são as duas características mais marcadas de Noa,, a protagonista da história que dá o nome a esta publicação. Noa é originária de um mundo diferente, de luz, localizado logo acima das nuvens, mas quando a sua mãe fica misteriosam misteriosamente ente doente é obrigada a descer à Terra Inferior, em busca de uma Arca capaz de a salvar. Ao longo das edições poderás acompanhar a sua história e as suas aventuras para salvar a Terra. No fundo, é isso mesmo que esperamos de ti: que te aventures també também m nesta grande missão de salvar o nosso planeta. Bem Bem-vind@ a esta aventura! Susana Machado Escritora, ex-professora professora e especialista em desenvolvimento sustentável. Criou a Fórmula S, porque acredita que o poder de mudar o mundo está nas nossas mãos!

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Conto

Escrito por Susana Machado

A história de como a coragem e a determinação de uma criança são suficientes para salvar a Terra.

Capítulo 1- o Início Num horizonte distante, mesmo por cima das nuvens mais altas do céu, existe um mundo desconhecido para a maioria dos humanos, o Coelum. Um mundo habitado por seres radiantes de luz, que saltam de nuvem em nuvem e nunca perdem de vista o Sol. São seres, em quase tudo, semelhantes aos humanos mas, em quase tudo diferentes! Nos dias de chuva, quase os podemos ver a saltar no céu à procura das nuvens brancas de algodão, mesmo antes de começar a chover… Mas, infelizmente, a maioria dos humanos apenas olha para as pedras que pisa ao caminhar e esquece de olhar o céu! Nos dias de trovoada brincam com raios de cor. É um mundo de felicidade, onde estes seres especiais não são perturbados pelas preocupações que a maioria de nós tem, cá na terra.

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Nesse mundo de que vos falo, existe uma menina, cujo nome é Noa, com cabelos cor de prata e a pele mais clara do que a neve. A Noa é apenas uma criança, tal como vocês e, por isso, passa os dias a correr entre as nuvens com o seu melhor e inseparável amigo Lucca. Estes dois amigos conhecem-se desde que nasceram e por isso são como irmãos, para eles seria inimaginável conceber o mundo sem a existência um do outro. Adoram saltar entre os relâmpagos e juntar gotas de vapor de água para formar gotas de chuva e depois ficar a vê-las cair cá em baixo, naquilo a que chamam a Terra Inferior. Nem a Noa, nem o Lucca conhecem a Terra Inferior. Na verdade, são muito raros os habitantes do Coelum que já desceram cá abaixo. De vez em quando ouvem histórias de antepassados seus que já viram de perto as árvores e o mar imenso que tanto os fascina, mas não conhecem pessoalmente alguém que o tenha feito.

Desobedecer ao que lhes é dito, não passa sequer pela cabeça de Noa, nem de Lucca e, por isso, contentam-se em olhar lá de cima, para as montanhas, os rios, as cidades e sobretudo, para o seu preferido, o mar! É tão azul e brilhante… que bom seria vê-lo de perto e poder molhar os pés nele…mas nunca se atreveriam. Noa e Lucca têm praticamente a mesma idade, isto é, nasceram mais ao menos na mesma altura, mas é praticamente impossível especificar quando é que isso foi, porque os Coelinos não contam o tempo como nós! Para eles não existem anos, porque na verdade, não existem dias! Como passam a vida a saltar de nuvem em nuvem, sempre em busca do Sol, os Coelinos não conhecem as noites e sem noite não é possível contar os dias que já passaram, desde que estes dois amigos viram pela primeira vez o Sol. Mas a julgar pelo seu tamanho, diria que terão mais ou menos a vossa idade!

A verdade é que, como já vos disse, os Coelinos não são como nós, não vivem preocupados, irritados, atrasados para qualquer coisa…a vida no Coelum tem outro ritmo, mais calmo, mais de acordo com a Natureza.

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O ritmo de vida é definido em função da velocidade das nuvens…se o vento sopra mais forte, é necessário procurar outra nuvem antes que chova e, é nessa altura que podemos ver os Coelinos mais inquietos e atarefados. Se não corressem a encontrar outra nuvem branca de algodão, antes de chover e a nuvem desaparecer, os Coelinos ficariam expostos, para que qualquer um na Terra Inferior os visse. E eles não desejam isso, porque o Homem é curioso e invasivo e nunca mais teriam descanso, enquanto este não descobrisse tudo sobre eles. E, por isso, se deixam estar escondidos entre as nuvens, embora tenham a capacidade de flutuar no céu como elas! A serenidade reina no Coelum e raras são as vezes em que esta é quebrada, por isso, os nossos amigos saem para correr entre as nuvens, como fazem todos os dias. Quando entram pela porta não vêm de imediato a mãe, por isso correm até ao jardim de gotas de água, que ela gosta de cuidar diariamente, mas a mãe também não está ali…Noa e Lucca começam a ficar preocupados, pois nunca houve um dia em que a mãe não esperasse por eles à porta. Continuam a procurá-la até que a encontram na sua cama. (Continua na próxima edição)

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À Descoberta escoberta de Noa O que sabes sobre as nuvens? Pesquisa sobre a sua formação, composição e tipos de nuvens que existem!

Olha para o céu! Desenha os diferentes tipos de nuvens que observas.

“A mãe está pálida e não brilha como é habitual…os nossos amigos entreolham entreolham-se e ficam estáticos, nunca viram nenhum Coelino sem brilho…o que se estará a passar?! O que tem a mãe?! mãe?!” Na tua opinião, o que se passa com a mãe de Noa? Como poderão Noa a Lucca a ajudar a mãe?

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Transformar o Mundo

Um objetivo de cada vez…

Um guia para compreender os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da Agenda 2030 das Nações Unidas Os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) foram estabelecidos pelas Nações Unidas em 2015. Estes surgiram na sequência dos Objetivos de Desenvolvimento do Milénio, implementados entre 2000 e 2015. Baseiam Baseiam--se nas lições aprendidas com eles e pretendem trabalhar as questões que ficaram ainda por resolver. Neste espaço iremos conhecer e aprof aprofundar undar cada um dos ODS e fornecer fornecer-te te dicas importantes para ajudares a atingir as metas que são propostas para cada um deles.

Mas para começar, quais são os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável?

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Objetivo 1 - Erradicar a Pobreza

Objetivo 2 - Erradicar a Fome

Objetivo 3 – Saúde de Qualidade

Objetivo 4 – Educação de Qualidade

Objetivo 5 – Igualdade de Género

Objetivo 6 – Água Potável e Saneamento

Objetivo 7 – Energias Renováveis e acessíveis Objetivo 8 – Trabalho digno e crescimento económico Saneamento Objetivo 9 – Indústria, inovação e infraestruturas

Objetivo 10 – Reduzir as Desigualdades económico Objetivo 11 – Cidades e comunidades sustentáveis

Objetivo 12 – Produção e consumo sustentáveis económico Objetivo 13 – Ação climática

Objetivo 14 – Proteger a vida marinha económico Objetivo 15 – Proteger a vida terrestre

Objetivo 16 – Paz, justiça e instituições eficazes económico Objetivo 17 – Parcerias para a implementação dos Objetivos

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Sabias que…?

Os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável:

São constituídos por 169 metas e 230 indicadores globais; Representam as prioridades globais para agenda 2030 e foram aprovados por 193 membros em Setembro de 2015; Devem ser implementados por todos os países do mundo até 2030.

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E são tão importantes porque

O número de pessoas com fome atingiu 815 milhões de pessoas, em 2016. Este número aumentou em cerca de 38 milhões de pessoas em apenas um ano (2015)! Os conflitos são atualmente o principal responsável pela insegurança alimentar em 18 países do mundo! Nove em cada dez pessoas que vive nas cidades respiram ar poluído! A degradação dos solos ameaça a subsistência de mais de um bilião de pessoas!

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Desafios Sustentáveis :

Já alguma vez tinhas ouvido falar dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável?

Porque achas importante o estabelecimento destes objetivos, a nível mundial?

Quais os 3 objetivos mais importantes para as crianças e adolescentes?

Dos 17 objetivos de Desenvolvimento Sustentável que te apresentamos, qual te parece ser o mais prioritário a implementar a nível mundial? Porquê?

E a nível da tua comunidade, esse continua a ser o objetivo mais urgente?

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Teste: Quão bem conheces a tua comunidade? Calma, calma! Este teste não conta para nota  É apenas um exercício, bastante divertido para perceberes se conheces bem a comunidade onde vives e/ou estudas. Aceitas o desafio? “ Se nós conseguíssemos pensar de forma local, conseguíamos tomar conta das coisas, muito melhor do que aquilo que fazemos. As perguntas e respostas certas a nível local, também estarão certas a nível global. A questão que os Amish colocam “O que é que isto fará pela tua ua comunidade” será provavelmente a resposta correta para o mundo”. Wendell Berry, agricultor e ensaísta americano.

1. Qual é a espécie da árvore rvore que está mais próxima da ttua casa? 2. É uma espécie nativa/autóctone? 3. A que distância está a antena de telemóveis mais próxima? 4. A que horas nasceu o sol, esta manhã? 5. Quantos dias faltam até à próxima Lua Cheia? 6. Quantos dos vegetais que estão no tteu eu frigorífico poderiam ter sido sid cultivados nas redondezas de tua casa, nesta altura do ano? 7. A partir do sítio o onde está estás a ler isto, aponta o norte! 8. Nomeia 5 aves que podes observar na tua área de residência. 9. Qual foi a última vez que pedi pediste alguma coisa emprestada a um vizinho? E o que era? 10.Qual a paragem de autocarro mais próxima d da tua casa? 11.Qual é o lugar mais ais longe a que foste a pé, a partir de tua casa? 12.Quando uando foi a última vez que falaste com o teu eu carteiro? Qual o seu nome? 13.Quantas pessoas conhece conheces, que vivam num raio de 500 metros de ti? 14.Qual era a atividade ividade humana predominante na ttua área de residência há 100 anos atrás? E há 500? 1000? 15.Quantas constelações de estrelas consegue consegues ver da janela do teu eu quarto? Quando uando foi a última vez que olhaste olhaste?

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Aprender como se faz Entrevista a Sílvia Marcão Fundadora undadora da Wheelhouse

Sílvia Maria Marcão tem 49 anos e é natural de Portalegre. Aprendeu crochet e bordados quando ainda era criança, o que acabou por se tornar um hobby que nunca abandonou. Mas as estava longe de imaginar que um dia iria abraçar esta paixão como a sua profissão. A Wheelhouse lev leva o tricot, crochet e bordados,, até onde a imaginação deixar,, criando bonecas, vestuário e acessórios com materiais novos e reciclados. É pura lã…pura dedicação…

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Sílvia, de onde surgiu o seu gosto pelo artesanato.

A minha primeira experiencia com tricot ffoi fazer uma "corda" para atar a cesta dos brinquedos à bicicleta. A minha mãe fazia tricot tricot… No verão quando estávamos cá, andávamos sempre re na rua no quintal. quintal... E eu adorava ter qualquer ualquer coisa atada à bicicleta. Normalmente era a cesta dos brinquedos. Mas gastava muito ccordel.l. E foi quando achei que um género de corda em tricot era mais forte, durava mais. Mas nova nova, ainda criança… Depois percebi como se fazia faziam os pontos básicos e comecei a entusiasmarentusiasmar me com os fios e a trabalhá trabalhá-los. Conte-nos nos como nasceu a Wheelhouse. Durante muito tempo fui administrativa. O artesanato foi desd desdee sempre um hobby.. Aprendi muito nova tricot, crochet e bordados. Sempre fiz, para mim mim, para amigas... Há um ano fiz uma boneca em crochet para oferecer a uma menina, filha de uma amiga. Fui incentivada por ela, que a mostrou a algumas colegas, e começaram-me a pedir para fazer. A segunda já foi em tricot. E desde aí, há um ano, ainda não parei de as fazer. O nome tem origem em na minha família. Os meus av avóss maternos eram ingleses. Tinham indústria da cortiça cá em Portalegre. Eram Wheelhouse Robinson. Daí ter escolhido o nome Wheelhous Wheelhouse.

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Todas as suas bonecas se chamam “Rosete”, não é verdade? Porquê? Quando mostrei à minha Mãe esta segunda boneca ela olhou para ela e, disse “Ahhhhhh, parece a Rosete!!” E eu perguntei quem era. “A boneca de trapos que tinha quando era crianç criança. Era a boneca da minha Avó”. E foi assim que as bonecas ficaram batizadas. A primeira Rosete, a original era da minha bisavó. Eu, sem querer fiz a réplica... Onde se inspira para criar as suas peças? A inspiração vem de dentro. Muit Muitas vezes dou por mim a imaginar: “se se fizer assim com esta cor e estas agulhas, fica giro”...outras ...outras vezes olho para objectos ou mesmo peças de roupa e imagino imagino-as feitas em tricot. Não passo nada para o papel em forma de desenho… vou fazendo e vendo se fica bem ou não não. Na internet há imensaa coisa. Gosto de navegar pelo Pinterest e guardo muitos pins pins, mas até agora nunca fiz nada tirado de lá. Talvez um dia, se a imaginação fugir… Fale-nos nos um pouco sobre o processo de criação. Antes de tudo começar, omeçar, tenho de sab saber o que quero fazer e, qual o fio indicado. Como o objetivo da Rosete é durar muitos anos, para o corpo escolho um fio que dure re muito. O da Rose Rosete é merino e mohair (tipo de lã de ovelha). Por experiência sei que é muito bom. A Rosete é feita em seis partes partes: cabeça, tronco e membros. embros. É preenchida com pura lã cardada, que depois da tosquia é lavada em várias ááguas para tirar as palhinhas e sujidades do pêlo. Depois coso oso as peças para formar o corpo. E começa a ganhar vida. A seguir faço a roupa. Aqui só utiliz utilizo pura lã, que vem da Serra ra da Estrela. Escolho as cores e imagino como fica. Depois de vestida, faço todos os detalhes que gosto… Pompons, laços, cachecóis…

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Durante todo este processo tento melhorar alguma coisa. Falo algumas vezes com uma senhora polaca, p que também faz bonecas, para trocar ideias e pedir ajuda nalgumas técnicas. Tudo pelo messenger. Não nos conhecemos, mas tem-me me ajudado e aconselhado imenso. Quando a Rosete está pronta, olho para ela e, gosto do que vejo. Quanto tempo demora a criar iar uma Rosete? Rosete Três dias… mais ou menos seis horas por dia… Nunca contabilizei bem. É quando me consigo sentar um bocado. Mas, ao todo, são três dias para cada boneca. E quais são os trabalhos que mais gosta de realizar? Gosto muito de fazer os acabamentos ntos das bonecas. Fico com a sensação ensação de ser teletransportada para um sítio onde estou sozinha com as cores e os fios. As mãos trabalham sozinhas. E digo para mim: “e agora assim e depois passa por este lado e agora agor aquela cor...ah não. Esta fica feia”... (risos). Não gosto, de fazer duas peças iguais, nem de seguir padrões. Gosto de criar os meus. Como é viver exclusivamente do artesanato, em Portugal? No meu caso. Não se vive. Não paga contas. O artesanato em Portugal está muito desvalorizado. Mas percebe-se porquê. Se der uma "voltinha" nalgumas páginas na internet, vê "coisas" muito mal feitas, sem criatividade e com preços de loucos. E, com isto, não se dá valor a quem utiliza materiais com qualidade. Muito menos a mão-de-obra obra é paga. Talvez alvez um dia mude e volte a ser valorizado e estimado… Mas quando vê as pessoas darem uso a darem uso às peças que cria...qual é a sensação? Fico com um super-hiper-ego ego de feliz!

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Para terminar fale fale-nos das preocupações que tem, em termos de sustentabilidade, no seu trabalho? Tento ser o mais natural que consigo. As lãs são provenientes de produtores locais. Os rebanhos são pequenos pequenos, vivem ao ar livre e alimentam alimentam-se das pastagens. Para alem das lãs, s, quando ponho pom pompons laços... esse género de coisas, não compro feito, faço eu. Eu aproveito tudo! Tenho sacos de coisas. Ainda hoje,, por exemplo, enviei uma encomenda em papel pardo duns moldes que uma vez fiz para capas, tipo poncho. Apaguei as medidas e escrevi as moradas. E o boneco ia dentro duns sacos dumas almofadas. A lã, o fio, com que faço o tricot, é cem por cento pura lã. lã As cores mais claras às vezes ainda trazem palhinhas dos pastos. Gosto do fio. E o enchimento é natural, depois da tosquia tem duas ou três lavagens em autoclave (uns uns tanques de lavagem muito grandes onde cabem muitas peças ao mesmo tempo). tempo) Outra coisa que não uso nas bonecas, são colas. as. É tudo cosido cos à mão. Os cabelos são postos fio a fio e dou três nozinhos para ara não saírem e poderem derem ser penteados. penteados Sabe, quando ouço ou falar em sustentabilidade ntabilidade hoje em dia, lembro-me me imenso duma tia minha minh que era professora de trabalhos manuais. Dantes, dava-se dava também uma disciplina economia doméstica. domé Só para raparigas.. Ela dava também. também E muitas das coisas que ela me ensinou na altura,, hoje h chamamos sustentáveis… Aproveitar roveitar o que a natureza nos dá dá, não desperdiçar...enfim…

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Sílvia, muito obrigada por nos ter contado um pouco da sua história. Como podemos fazer p para conhecer um pouco mais do trabalho da Wheelhouse? Podem visitar itar a página do facebook facebook: bonecaswheelshouse.. Ou entrar em contacto comigo através do email email: bonecaswheelshouse@gmail.com ou do telemóvel: 967991156.

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Vamos fazer… …um brinquedo rinquedo caseiro e divertido divertido: “Peão de CD” Por Carina Rodrigues Mãe a tempo inteiro. Acredita que com pouco se pode dar muito. Apaixonada por crianças, artes a plásticas e trabalhos manuais, ais, adora pegar em coisas aparentemente sem utilidade e transformá-las transformá em diversão.

Uma proposta a de construção de brinquedo muito divertida, envolvendo desenho, pintura, recorte, colagem e material reciclável.

Material: - 2 CD/DVD sem uso - 2 Berlindes grandes ( abafador) - 2 tampas de garrafa pet (de água, por exemplo) - cola quente - Eva, feltro ltro ou papel para decorar - Caneta de feltro - Tesoura

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1º passo Começamos por decorar o lado brilhante do CD como desejarmos, nós optamos por aproveitar bocados de feltro que tínhamos ali guardados (podiam servir para algo, e não é que serviram?!). No primeiro CD fizemos formas geométricas (triângulos em feltro vermelho). No segundo começamos por cortar papel em formato redondo - um pouco mais pequeno que o CD - e decoramos, fazendo bolas com a caneta, de forma fazer um efeito bem giro, quando rodar. Tenham sempre atenção para não decorar junto ao buraco central, pois mais à frente vamos ter de fazer uma colagem nessa zona.

2º passo Passamos a cola quente bem rente ao buraco do meio do CD, pelo lado não brilhante (o lado oposto ao que decoramos antes) e fixamos o berlinde ali. Após prender a bolinha, aplicamos mais uma camada de cola quente ao redor, para ficar bem firme. Tenham sempre cuidado ao aplicar cola quente. Se necessário recorram à ajuda de um adulto para este passo!

3º passo Passamos a cola quente na borda da tampinha de garrafa pet, pelo lado de baixo, fixando-a bem no meio do buraco do CD, pelo lado decorado, o oposto ao que tem o berlinde. No segundo ainda improvisamos mais um pouco, colocando cola na tampa de pet e ‘’polvilhando’’ com purpurinas, para um efeito mais brilhante!

Os peões estão prontos. E, quando rodam, fazem um efeito lindo!!! 23


Segredos das AAbelhas Nós. Eles. Sustentabilidade. Por Cláudia Martins Professora do 1º ciclo. É uma ativista, apaixonada por animais, desde o dia em que nasceu. Por eles, dedica-se dedica a aprender mais sobre saúde e bem-estar. bem

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uito se tem ouvido falar sobre sustentabilidade e da sua urgência para as gerações futuras. Mas de que forma a questão da sustentabilidade poderá condicionar as váriass vertentes do nosso quotidiano?

Poderá, por exemplo, aplicar-se se também aos animais de estimação? De que forma podemos ser tutores mais sustentáveis e ecologicamente camente responsáveis?

- Resistir à tentação! Temos que pensar antes de comprar! Resistir é a palavra de ordem! Resistir a comprar aquela coleira ou trela catitas de que o nosso amigo não precisa mesmo, ou aquele brinquedo super bonito e que parece espetacular, mas sabemos que irá durar apenas 5 minutos com as suas brincadeiras doidas.

Quem gosta de animais e os tem como companheiros, decerto saberá como é por vezes difícil resistir a adquirir “a ultima grande novidade”, ou “a ultima grande moda”. Afinal, só lhes queremos bem e o mimar também faz parte! Portanto, tendo ndo em mente uma tentativa de redução no consumo e sustentabilidade, como podemos adaptar estas premissas aos nossos companheiros não humanos?

O que nos traz ao ponto seguinte: a durabilidade.

Antes de qualquer alquer outra coisa:

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No que respeita ao consumismo para o nosso animal de estimação, a durabilidade afeta quase todas as outras premissas: se durar mais, compramos menos, utilizamos mais vezes e quem sabe com diversos animais. E se tudo correr bem, demorará algum tempo até enviarmos o brinquedo para a reciclagem. Sustentabilidade, portanto.

beleza do brinquedo devemos pensar quanto tempo ele vai durar e de que forma vai estimular o nosso nos companheiro. Há brinquedos que estimulam com recurso à comida, outros com recurso aos cheiros, outros simulam presas, outros proporcionam mais tempo de qualidade com o tutor, etc.

Como encontramos os melhores? Como em tudo, precisamos priorizar determinadas rminadas características:

Se considerarmos ainda a qualidade do produto, ou as suas várias aplicações, facilmente percebemos que menos é mais. Preferimos qualidade à quantidade.

Exemplos? Bem, há vários tipos de brinquedos no mercado e para todos os gostos. Uns mais úteis, outros totalmente inúteis, uns interessantes, outros nem por isso. Na verdade, o mais importante será termos em mente o tipo de animal que temos como companheiro,, a sua espécie, tamanho, idade e privilegiar a estimulação mental. Todo e qualquer animal, seja de que espécie for, precisa de estimulação. Portanto, antes da

 Durabilidade; Durabilidade  Adaptação daptação às várias fases da vida do animal;  Tamanho amanho (por uma questão de segurança);  Mentalmente estimulante;  Divertido. Divertido Animais jovens, adultos, seniores, grandes, pequenos ou minis podem e devem usar brinquedos. Há os de rechear com o treat favorito, que podemos até confecionar em casa, e temos horas de diverti divertimento garantido. ido. Se congelarmos o treat dura ainda mais e é perfeito para alimentarmos o nosso amigo ou para quando tivermos que o deixar sozinho.

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Há marcas cas no mercado que fazem tudo isso, podem durar anos e como são praticamente indestrutíveis, podem ser usados ao longo de várias gerações de animais. Há de várias resistências, consoante o porte ou a idade do animal.

até ser feitos por nós em casa, basta para isso procurar um dos vários tutoriais existentes na internet.

E ainda acerca cerca da estimulação mental ntal… não há melhor estímulo que um longo e calmo passeio. Deixemos que o nosso cão (ou outra espécie, caso esteja treinada para isso) usufrua de longos e calmos passeios ao lado do seu humano preferido. Os passeios não servem só para satisfazer as necessidades necessidade fisiológicas, lembremo-nos lembremo sempre disso. Os nossos amigos devem ter oportunidade de apreciar a natureza e explorar enquanto se estreitam os nossos laços.

O entretenimento não passa só pelos tempos livres. A hora da refeição pode também ser um estímulo para qualquer animal. As taças de alimentação lenta ou os snufflemat são excelentes exemplos.. Adaptam-se se a várias espécies, tamanhos e idades, são duradoiros, evitam que o nosso animal engula a comida em vez de a mastigar, ajuda ajuda-o a comer lentamente e de uma forma mais divertida. Os snufflemat podem

Nestes passeios temos obviamente que relembrar a existência de sacos de dejetos biodegradáveis e das d trelas. Há-as as em vários materiais, mas damos preferência às trelas de corda para que o nosso animal tenha liberdade suficiente para explorar, evitando as trelas extensíveis que, além de terem plástico, são desaconselháveis à segurança do nosso companheiro.

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E agora que passamos pelas brincadeiras, pelas refeições e passeios, chegamos à hora do descanso! Um local para descansar é muito importante para o nosso companheiro de estimação. Tal como nós, também ele precisa ter um sono relaxado, confortável e silencioso, com a possibilidade de se isolar caso precise.

Novamente, a palavra “indestrutível” é o que devemos procurar, sem esquecer que deve ser adaptada à sua condição física e/ou idade.

Finalmente, a saúde! De que forma a manutenção da saúde do nosso companheiro se adequa a uma vida sustentável? Simples! Proteger roteger e fomentar a saúde física e mental do nosso animal faz parte da nossa responsabilidade social. Protegê-lo lo é também proteger os outros, animais ou pessoas e esta afirmação faz ainda mais is sentido se

considerarmos a vacinação e a socialização do nosso companheiro de estimação.

Ser tutor de um animal implica tomadas de decisão quase constantes. São aqueles que dependem exclusivamente de nós e devemos garantir-lhes garantir as melhores condições que q podemos oferecer.

Possuir diversos objetos, como tivemos oportunidade de ver, é totalmente desnecessário para ter um animal feliz e saudável física e psicologicamente. E uma tutoria sustentável, também.

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Vozes da Terra Mariana e o Pinheiro inheiro da sua altura Por Ana Carvalho Mãe, ãe, terapeuta holística e agricultora. Em 2007 especializou-se se em Desenvolvimento Sustentável, conhecimento que incorpora no seu trabalho terapêutico. Considera que a conexão com a natureza é essencial a todos os processos de cura.

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A

Mariana gosta muito de andar descalça pelo quintal, por entre as couves que a mãe plantou. Sempre que o sol de inverno vem vemnos brindar com o seu quentinho, a Mariana anda perdida e achada lá atrás, passeando por entre aass favas e cumprimentando as couves galegas, que já são mais altas que ela. Por lá é fácil encontrar lesmas e caracóis e às vezes sapos beiçudos. E todos eles são muito fofinhos. Bom, pelo elo menos assim o diz a Mariana Mariana! 28


Ao fundo, lá para trás, existe um pinh pinhal, al, onde se destaca um pinheiro muito alto, de tronco grosso, que rasga o céu, para além dos muros dos vizinhos e dos carvalhos centenários. É tão alto que parece que sempre lá esteve. Por entre as ervas húmidas da sua sombra, crescem cogumelos. Por entre as agulhas espalhadas pela terra nascem urtigas e flores silvestres. De cada lado do pinheiro-mãe mãe crescem mais dois pinheiros, são seus filhos pequeninos.

O pinheirinho da esquerda é exatamente da altura da Mariana e curiosamente parece ter a mesma idade que ela. Em silêncio, a Mariana senta senta-se a seu lado num tronco velho de um pinheiro, que já foi cortado há muito tempo, e que dá um rico banco, banhado pelo sol quentinho de inverno. A Mariana fecha os olhos e o sol penetra para dentro das pálpebras fechadas adas e começa a sonhar acordada com o Pinheiro da sua altura.

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E na magia do silêncio, sem uma única palavra, o pinheiro da sua altura diz-lhe lhe que nasceu da semente caída dos ramos da sua mãe. Conta que, por causa disso, cresce mais forte e cheio de vida, pois as raízes de ambos comunicam, entrelaçam e partilham os nutrientes da terra. Pois então, também cada um de nós precisa da presença da mãe, do amor e do amparo, para que possamos crescer firmes, protegidos e amados. E sem usar palavras, o pinheirin pinheirinho ho da sua altura conta à Mariana sobre a seiva que corre por todo o seu tronco acima, fazendo fazendo-o crescer, tomar corpo, ganhar altura e desenvolver os ramos em direção ao sol. Pois então, também no nosso tronco corre seiva, a que chamamos de medula, que nos corre pela coluna vertebral, que distribui ligações nervosas por todo o corpo, ajudando a engrossar o nosso tronco, fazendo crescer os nossos braços em direção ao sol. O pinheirinho conta à Mariana como a água da chuva transporta tudo o que ele precisa de desde sde as raízes até aos ramos e para todos os seus lados, para todas as suas pontas, ajudando a que todo o seu ser esteja vivo e a comunicar entre a terra e o céu. Também nós não somos secos por dentro, somos mais de 60% de água, que nem chuva, que vem do cé céu para a terra.

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E com isto o pinheirinho mostra as suas folhas, que se estendem para absorver a luz do sol e que quanto mais crescem, mais sol apanham, e quanto mais sol apanham, maiores ficam os ramos onde podem pousar os passarinhos. E o pinheirinho da altura da Mariana mostra-lhe lhe o seu sonho de albergar um ninho.

O amigo da sua altura mostra-lhe lhe as suas folhas, que funcionam como alvéolos, inspirando o dióxido de carbono que a Mariana expira expira, expirando o oxigénio que a Mariana inspira. Umaa troca, uma oferenda, uma ligação invisível como o ar, feita em silêncio. As folhas do pinheirinho são finas e longas como os cabelos na cabeça da Mariana e ambos conseguem sentir o vento a passar, são acariciados pela luz do sol de inverno; e mesmo sem falar, ali continuaram ontinuaram perdidos na conversa. Por fim o pinheirinho, em jeito de viagem pelas grandes flores florestas do mundo, mostra à Mariana raízes de centenas de árvores, todas elas bem maiores que os ramos, indo fundo na terra, agarrand agarrando as terras batidas pela chuva. O Oferecendo ferecendo à terra as folhas que se desprendem, multiplicando o húmus, amparando o chão com nutrientes. nutrientes Oferecendo a sombra aos cogumelos e fungos, fazendo despontar seme sementes, dando pasto aos animais. Oferecendo ferecendo sombra aos caracóis e às lesmas e aos sapos os beiçudos, alimentando a seiva das couves e das favas que a sua mãe plantou, para serem servidas na sopa. A Mariana abriu os olhos e abraçou o seu querido amigo pinheirinho da sua altura, um abraço de gratidão, um abraço de alegria por tudo o que as árvores ores nos dão, por tudo o que elas partilham e por tudo o que fazem por nós e por todos os seres.

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Meditação da Árvore

Procura lá fora, num dia de sol, uma árvore de tronco da largura do teu tronco. Se for confortável, descalça os sapatos sapatos, tira as meias e senta-te ao seu pé.

Encosta o teu tronco, as tuas costas, contra o tronco da árvore escolhida e deixa que ele te ampare, dando conforto à tua meditação.

Fecha os olhos e sente a luz do sol ir além das tuas pálpebras. Aproveita o quentinho do sol para relaxares enquanto imaginas que, da planta dos teus pés, crescem raízes que se vão entrelaçar com as raízes da árvore.

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Com as costas alinhadas alinhada com o tronco onco da árvore, percebe que os teus braços se envolvem com os braços da árvore e os teus cabelos são como as folhas batidas pela suave brisa que passa.

Foca a tua atenção plena no teu corpo, em contacto com a árvore e deixa que ela te faça sentir presente, com o espaço onde estás.

Sente como os teus pés estão bem firmes no chão, amparados a pela terra, e deixa continuar a crescer as tuas raízes da planta dos pés, sabendo que quanto maiores forem as raízes que te ligam à terra, mais estável será o teu próprio tronco. E quanto mais estável for o tronco, maiores são os ramos e mais fortes tes serão os teus braços. Com essa firmeza, estabilidade e força poderás construir tudo o que sonhas, com os fios do teu cabelo ao vento, generoso como uma árvore, que tanto dá a todos nós. 33


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