Diálogos do Fórum DRS
Edição 7 Ano 2 Fevereiro/2013
Camilo Santana
Cândido Grybowski
Humberto Oliveira
Leonilde Medeiros
Os Desafios Políticos para a Gestão Territorial do Desenvolvimento Rural
Expediente Coordenador Executivo do Fórum DRS Carlos Miranda
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Apresentação A série “Diálogos do Fórum DRS” é uma publicação exclusiva do Fórum Permanente de Desenvolvimento Rural Sustentável (Fórum DRS). Tem origem na seção “Diálogos”, do Boletim Informativo do Fórum DRS, que brindou durante anos o leitor com entrevistas e debates com personalidades relacionadas ao tema DRS. A série “Diálogos do Fórum” ganhou espaço exclusivo nas publicações do Fórum DRS desde março de 2012. Em novo formato, a série oferece ao leitor conteúdo rico e exclusivo, com pontos de vista distintos, permitindo que você tenha um panorama mais amplo à respeito dos temas relacionados ao DRS. A interação marca este novo espaço, já que os usuários podem interagir com os participantes dos diálogos por meio do site do Fórum DRS.
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Edição 7 Ano 2 Fevereiro/2013
Nesta Edição A sétima edição da série Diálogos do Fórum DRS
Camilo Santana
Cândido Grybowski
aborda, nas palavras dos seus participantes, os desafios políticos, institucionais e de gestão da implementação de estratégias de desenvolvimento rural,
Humberto Oliveira
Leonilde Medeiros
Os Desafios Políticos para a Gestão Territorial do Desenvolvimento Rural
com enfoque territorial. Para tanto, reuniu dois gestores públicos - secretário Camilo Santana e o consultor Humberto Oliveira - um representante das organizações da sociedade civil - Cândido Grybowski, do IBASE - e um representante da academia - Leonilde Medeiros, do OPPA/CPDA - os quais, durante duas horas, debateram temas e aspectos operacionais de grande relevância para as ações dos gestores públicos em âmbito territorial.
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Os Desafios Políticos para a Gestão Territorial do Desenvolvimento Rural A experiência do Governo do Ceará com o tema territórios, o novo conceito de ruralidade e a relação agronegócio/agricultura familiar. Esses foram os temas debatidos na sétima edição do Diálogos do Fórum DRS, que contou com a participação de Camilo Sobreira Santana, secretário estadual das Cidades, governo do Ceará; Leonilde Medeiros, Professora do CPDA/UFRRJ; Cândido Grzybowski, diretor-geral do IBASE; e dos consultores do IICA Ivanilson Guimarães e Humberto Oliveira. O Diálogo aconteceu durante o VII Fórum Internacional de Desenvolvimento Territorial, em Fortaleza, entre os dias 11 e 14 de novembro de 2012. HUMBERTO OLIVEIRA - Acho que podíamos começar comentando o fato de que, pela primeira vez, estamos reunindo um secretário de agricultura e um secretário das cidades em um evento sobre desenvolvimento rural (referindose ao VII Fórum Internacional de Desenvolvimento Territorial: dinâmicas rurais contemporâneas no Brasil e Políticas públicas, realizado de 11 a 14 de novembro de 2012, em Fortaleza). O que é um bom sinal. E também, aqui agora, como secretário das cidades, temos um secretário que já foi secretário do desenvolvimento agrário. Então, eu creio que o Camilo, que teve a experiência FEVEREIRO | 2013
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Participantes reunidos durante o VII Fórum Internacional, em Fortaleza
de implantar aqui no Ceará, com o Ministério do
do Desenvolvimento Agrário dentro dos moldes
Desenvolvimento Agrário (MDA), o Programa de
do Governo Federal. Até porque a grande base da
Desenvolvimento Territorial pode contribuir muito
economia de produção das famílias que moram na
com este debate. Ele tomou a iniciativa de ampliar
área rural são os pequenos produtores. Essa era
o número de territórios, fazendo com que o Ceará
a primeira decisão política de criar uma estrutura
seja um desses estados que tenha um mapa
de estado que pudesse olhar exclusivamente
definido de território, com 13 territórios definidos.
para esse público. E aí foi maior do que isso,
Agora, com essa experiência na Secretaria das
transformou a Secretaria de Agricultura em
Cidades, como é que você vê a possibilidade de
Secretaria do Desenvolvimento Agrário, diferente
um Programa de Desenvolvimento Territorial
do Governo Federal que manteve as duas. Aqui foi
contribuir para a organização de ações da secretaria das cidades nos Estados?
o contrário, transformou a secretaria, criou uma agência de desenvolvimento que era para cuidar do grande, seja na área industrial, seja na área
CAMILO SANTANA - Como o Humberto
agrícola e pecuária. Aí, por exemplo, o Humberto
colocou, quando assumimos a Secretaria
colocou que o Estado, ele olhou, com essa grande
das Cidades, durante o primeiro governo do
política que foi criada pelo MDA e pela Secretaria
governador Cid, foi um desafio para o estado do
de Desenvolvimento Territorial: o olhar a partir
Ceará. Um estado pioneiro que criou a Secretaria
dos territórios. E nós ampliamos e dividimos o www.iicaforumdrs.org.br
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Ceará todo em territórios rurais, baseados na experiência e na proposta do MDA. Uma coisa que eu achei fundamental aqui no estado é que em 70% das propriedades rurais do Estado, as pessoas não tem a propriedade. Nós fizemos uma grande parceria com o MDA e até 2014, o Ceará vai estar 100% regularizado em sua área rural. É uma parceria de meio a meio, muito importante, como também foi uma ação importante o maior programa de cisternas, que é um grande problema do semiárido nordestino e cearense. O maior volume de cisternas talvez tenha sido construído a partir daí. E acho que isso foi além de um olhar, vamos dizer assim, de integrar as políticas de todas as áreas, não só da área rural, não só do MDA, mas da educação, da saúde, que é o grande papel dos territórios. Nas secretarias das cidades, uma experiência que a gente pode expor é que existe um desafio
“
Nós temos um grande desafio,
muito forte na área rural por conta do que está concentrado lá: a pobreza, os menores índices de educação, falta de educação e etc. Quase 80% da população do estado estão nesses dados. Então
porque isso é uma dificuldade
é um desafio hoje do estado que, por exemplo,
dentro do estado, dentro das
não chega a 30% de esgotamento sanitário no
instituições, de integrar as áreas,
estado todo. Ainda tem estados com problemas de abastecimento de água, principalmente
integrar as políticas, isso é um
num momento em que se enfrenta uma seca
desafio muito grande.
como essa, nas próprias sedes das cidades
”
Camilo Santana
ainda. E o desafio do estado é que ainda existe um déficit em transporte. Uma das estratégias que caracterizamos como importante para a construção das cidades era também ter esse olhar, vamos dizer assim, de não separar o rural, até porque se você for pegar a grande maioria das
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cidades do interior do estado, a base das cidades
CÂNDIDO GRYBOWSKI - É interessante ver
é agrícola. Pessoas que moram no centro da
a perspectiva que você põe, Camilo, que está
cidade, mas que vivem de agricultura. A renda do
passando nesses dois lados, vamos dizer assim.
município é aposentadoria, Bolsa Família, pequeno
Eu acho que a definição melhor, hoje, dessa
comércio, mas basicamente é a agricultura e
relação, é que não dá para pensar em um sem
muitas vezes a agricultura de subsistência.
ou outro. Bom, se não dá para pensar, a única
Um outro fato importante, que também é uma das ações importantes do estado, foi universalizar, basicamente universalizar, ou garantir a safra. Acho que foi a grande política para minimizar o sofrimento todo. Então, nós temos um grande desafio, porque isso é uma dificuldade dentro do estado, dentro das instituições, de integrar as áreas, integrar as políticas, isso é um desafio muito grande. Isso é dentro do Governo Federal, é dentro do governo do estado, é dentro do município, é você integrar com as caixinhas e a partir daí integrar as
possibilidade de enfrentar os desafios nos territórios rurais é se a cidade estiver junta, a sua cidade, vamos dizer, que eles tem, a vida social se organiza como um tecido, essa divisão tem problemas específicos. Mas, na verdade, há impossibilidade de pensar. Inclusive, aquele seminário, no ano passado, da pobreza rural, em Brasília, o IBGE apresentou uma primeira amostragem de onde se localizava a pobreza rural. E na verdade, ali, tão miserável quanto nos campos era ali na periferia das cidades. Claro que questionar, a definição não é essa, mas não
políticas. Então, temos procurado, por exemplo, nós
é questionar, é porque é assim mesmo. Então, é
somos os responsáveis pela política habitacional,
só uma questão de a gente entender melhor essa
onde tiver uma casa construída tem um sistema
dinâmica, porque é exatamente nessas cidades
de placa, que é uma política lá do desenvolvimento
que é a terra de ninguém. Ela não é bem urbana,
agrário. Uma questão que a gente acha que tem
porque as casas que receberam do Minha Casa
que integrar. Então, apesar de ser recente, a gente
Minha Vida, é pequena para isso, mas como temos
tem procurado e resolvemos fazer esse evento com
que ter uma política de prioridade para enfrentar
as duas secretarias participando, acho que as duas
a miséria, então é na base disso. Priorizar onde
tem que estar mais integradas, mais próximas,
está o problema, de modo especifico. Eu acho
para dar essa dimensão a esse olhar.
que conseguir integrar essas duas visões é
Achei fantástico o painel que eu vim participar como coordenador, porque mostra exatamente essa grande diferença, até do ponto de vista legal a questão do rural e urbano. O rural com olhar
fundamental para a gente reconstruir o que está acontecendo com a sociedade na verdade, não é só do desenvolvimento aqui ou lá, mas que tipo social estamos construindo.
apenas da produção, o olhar preconceituoso,
CAMILO SANTANA - Se você olha para a
o olhar do atraso. Tanto que você vai analisar
periferia de Fortaleza, você vê uma miséria muito
algumas políticas e está bastante diferenciado o
maior do que no interior a gente vê em situações
rural do urbano.
aqui. É impressionante. www.iicaforumdrs.org.br
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LEONILDE MEDEIROS - Eu acho que essa perspectiva de desconstruir essa divisão que a gente vem construindo. E que é muito difícil tentar fazer essa inter-relação, porque ela molda um pouco o nosso modo de pensar, porque o raciocínio dualista coloca o urbano ali, parece que há uma fronteira entre os dois. Eu acho que o grande desafio que se coloca para nós, hoje, é tentar perceber exatamente essa área de encontro e desencontro, onde o rural, populações rurais que habitam as periferias urbanas, é isso que você falou, são extremamente empobrecidas. E, por outro lado, são populações que cada vez mais procuram o urbano, porque os serviços básicos estão no urbano, começa pela escola.
“
Eu acho que o grande desafio que se coloca para nós, hoje, é tentar perceber exatamente essa área de encontro e
CÂNDIDO GRYBOWSKI - O próprio IBGE, se pegar as estatísticas, ele define como aglomerados urbanos. Não tem nada que define ser urbano. Estar na cidade. A briga é favorável, são 1.600.0000, não é qualquer coisinha. Eles brigam pelo direito de serem considerados cidades e não que para ser cidade tem que mudar. É como
desencontro, onde o rural, populações
potencializar o que eles são, mas isso é uma outra
rurais que habitam as periferias urbanas,
história. Só para mostrar que essa divisão não dá
é isso que você falou, são extremamente empobrecidas. E, por outro lado, são populações que cada vez mais procuram o urbano, porque os serviços básicos estão no urbano, começa pela escola.
conta do país real. LEONILDE MEDEIROS - Só para insistir no fato que, de toda maneira, historicamente, a legislação, as políticas e etc. trataram o rural como residual. Então é uma reflexão mesmo. E que vai acabar. É a história da profecia que se auto cumpre. Você não tem políticas para o rural, não tem políticas
”
Leonilde Medeiros FEVEREIRO | 2013
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para a população rural, portanto elas vão sair, como não tem políticas elas saem, vão atrás de escola, de saúde, vão atrás de habitação melhor, emprego melhor e saem dali. Isso faz com que a
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própria lógica de refletir sobre o rural provoque o
decisão não só do secretário, mas uma decisão do
esvaziamento do rural, começa a profecia que se
governo, a estrutura da secretaria para integrar
auto cumpre.
essa discussão. Acho que estamos começando.
HUMBERTO OLIVEIRA - Eu queria aproveitar ainda a presença de Camilo, porque eu acompanhei a gestão dele à frente da Secretaria de Desenvolvimento Agrário. Tanto na gestão dele quanto na do Nelson Martins (atual Secretário
Nós temos que integrar mais os fóruns das discussões, nós temos fóruns dos territórios, fóruns dos conselhos das cidades que precisamos integrar mais. Então, acho que ainda é um desafio muito forte.
de Desenvolvimento Agrário do Ceará) tem uma
Esses interlocutores, por coincidência, a gente
interlocução forte com os atores sociais do campo
tem enfrentado muitos problemas habitacionais,
de desenvolvimento social. Eu queria entender
principalmente na capital de Fortaleza, que é
como ele, agora em uma Secretaria das Cidades,
um problema muito sério. Então, praticamente
se relaciona com seus interlocutores e como esses
todo mês a gente recebe movimentos sociais
interlocutores mais urbanos do desenvolvimento
na luta pela moradia. Engraçado é que um dos
social, como esses interlocutores mais urbanos se
movimentos que hoje está, eu não sei se é uma
relacionam com os interlocutores rurais, com os
decisão estratégica deles, não sei se é só do
quais você se relacionava antes? Ou seja, eu creio
Ceará, mas tem o Estado a frente dos movimentos
que esse desafio do rural passa por integração de
urbanos na luta pela moradia. Isso tem sido uma
políticas, do ponto de vista do gestor organizar as
forma da gente integrar um pouco a discussão,
políticas para fazer chegar até a população, mas
já tivemos várias reuniões com o governador, o
passa também por uma interlocução que conecte as duas partes. Então, um pouco essa experiência seria bom, porque eu aposto no Ceará como sendo talvez um caso em que se possa avançar mais rapidamente nessa discussão sobre uma nova ruralidade, uma vez que tem a particularidade de ter o secretário das cidades, que já foi secretário do desenvolvimento agrário.
Nelson e eu com os movimentos, tanto os que lutam pela habitação rural, como pela habitação urbana. A gente passa a diferenciar o apoio que se tinha antes para habitação urbana, agora vai para habitação rural. Viabilizar o programa, o estado do Ceará não tinha uma unidade habitacional rural ainda sendo feita. Então, dentro da discussão estamos discutindo de forma integrada, para todas as áreas, tanto rural quanto urbana, essa
CAMILO SANTANA - Eu só digo uma coisa, é
diferenciação. Isso é um consenso que estamos,
um desafio muito grande, porque se não houver
você sabe que é difícil chamar o secretário de
uma decisão muito forte dos gestores(...). Porque o
Educação para discutir questões, na época era
dia a dia das demandas dentro do governo, dentro
só a questão da educação, chamar o secretário
da secretária, elas são muito fortes, tanto de um
de estado para discutir a saúde que a população
lado como de outro. Então, isso é uma decisão
rural enfrenta, isso no dia a dia, em um estado
política muito forte dos líderes, de que essa é uma
pobre, que tem um déficit de infraestrutura muito www.iicaforumdrs.org.br
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alto, está acumulado há muito tempo em todas as áreas. Mas eu acho que o fato de ter tido essa experiência, o fato de ter, o secretário Nelson tem uma visão muito forte, aliás, é interessante que tem uma visão também, que ele foi líder do governo na Assembleia, então, ele tem um olhar de tudo que o governo. Eu acho que a gente precisa fortalecer mais essa questão. CÂNDIDO GRYBOWSKI - Você tem formação na questão ambiental. Você não acha que o ambiental, enquanto comum, vamos dizer, a natureza, a atmosfera, território e etc. que se organiza comumente como cidade, produção, lugar de trabalho e vida diferente que outros lugares. Será que isso não facilita uma reconstrução do nosso imaginário coletivo sobre o modelo de sociedade?
“
O comum, natural, ele obriga a gente a pensar na organização que ele tem. Se há uma coisa que o agronegócio não pensa é isso como comum, é um recurso a ser
CAMILO SANTANA - Sem dúvida. Eu acho que hoje esse termo da questão ambiental está de forma que possa aglutinar (...). CÂNDIDO GRYBOWSKI - Tem muitas discussões comuns, por exemplo, trazida ai pela água. É o comum que mais significa, provavelmente, aqui, porque é um problema de todos. Então, ele permitiria reconstruir essa apelação de outra
explorado. Ponto. Tem que garantir
forma, na verdade as cidades são dotadas de rios e
na ponta dele lá. Por isso ele cria
etc., mas como compartir essa água entre todos?
esses vazios sociais. Não tem
Acaba sendo um problema de estruturação social
espaço.
extremamente importante. CAMILO SANTANA - Hoje estamos, vou falar
”
Cândido Grybowski
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de Fortaleza, mas estamos tirando água do interior. Se não fosse a transposição que foi feita, o reservatório de água que nós temos até Fortaleza, teríamos que pedir água para Fortaleza. Então, há uma dependência muito forte.
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CÂNDIDO GRYBOWSKI - E o cuidado, quem cuida dessa água lá? HUMBERTO OLIVEIRA - Mais uma função do rural.
questão foi a turma do parlamento se reunindo com as universidades, com os professores. Que complexo industrial nós queremos para o nosso estado. Então todo aquele levantamento, está
CÂNDIDO GRYBOWSKI - Essa interdependência
havendo a discussão, eu faço parte do Conselho
pode nos levar a, aquela ideia de pacto que
e estamos trabalhando no modelo do plano diretor
apareceu. Se ela for nos comuns, os naturais são
integrado do complexo, com a nova visão de não só
mais evidentes. O comum, natural, ele obriga a
concentrar a questão industrial, mas ele integrar
gente a pensar na organização que ele tem. Se há uma coisa que o agronegócio não pensa é isso como comum, é um recurso a ser explorado. Ponto. Tem que garantir na ponta dele lá. Por isso ele cria esses vazios sociais. Não tem espaço.
áreas, a questão urbana com, a questão rural. Até nisso, nós temos urbanistas aqui no estado, que são experientes. É até uma questão com o ponto de vista de integrar o rural nessa nova concepção, porque a concepção inicial era um bloco industrial fincado no porto, hoje estamos
IVANILSON GUIMARÃES - Do ponto de vista
trabalhando para, inclusive, não ter a experiência
do legislativo, a gente sabe por que às vezes a
que se teve em outros complexos portuários no
gente tem uma situação, uma determinada
Brasil. O parlamento, essa própria estrutura que
administração, pelo seu próprio posicionamento
foi criada no parlamento foi para abrir o debate
político ele consegue dar uma nova dinâmica
para a academia, chamar a sociedade para
ao estado, mas a gente sabe que isso tende a
discutir. Nesse aspecto, eu acho que o parlamento
implementar suplementos mais permanentes
tem, do ponto de vista dos parlamentares, o
e aí eu venho para o lado do legislativo. Até
processo interno do plenário, claro que sempre
que ponto, no legislativo aqui do Ceará, se está
há as limitações.
levando essas descrições para transformar alguns desses avanços que vocês fazem no executivo em uma legislação que faça avançar e garanta a permanência dessas orientações?
Vou dar um exemplo, a questão programa Minha Casa Minha Vida, aqui do Ceará. Ficamos em penúltimo lugar na execução do programa Minha Casa Minha Vida 1, pela ação do presidente
CAMILO SANTANA - Eu vou colocar duas
Lula. E quando assumi a secretaria, fomos saber
questões aí. Eu não sei se eu entendi a pergunta
qual foi o gargalo, porque o estado teve uma
da forma que você colocou. Eu acho que, para o
execução tão baixa. Chamamos os empresários,
momento, aqui no Ceará, eu considero, vou falar
pessoas no ramo da construção civil e a grande
individualmente, eu considero um dos parlamentos
reclamação era que o preço das unidades era
que mais avançou no país, inclusive na discussão
caro. Você pegar uma cidade como Sobral, onde
de temas importantes, como o que o Conselho
o custo, o valor da terra lá é muito alto, então
de Altos Estudos vem discutindo o pacto do
não era possível viabilizar o programa. Então, o
semiárido, o pacto pela vida (...) quem puxou essa
governo leva a discussão para o parlamento e aí www.iicaforumdrs.org.br
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“
Não é só garantir que a pessoa tenha um teto, claro que isso é importante, mas e as outras questões? O acesso a serviços básicos, o acesso a renda, ao trabalho.
”
Camilo Santana
tivemos uma lei permitindo que o estado colocasse
questões? O acesso a serviços básicos, o acesso
recursos complementares no programa Minha
a renda, ao trabalho. É o que tem acontecido,
Casa Minha Vida. Se hoje temos uma cota de 39
temos discutido isso no ministério. Mesmo limitar
unidades, mais 12 mil, mais 4 mil. Isso que está
o tamanho dos empreendimentos. Segundo, olhar
envolvendo recursos, é um investimento de quase
todos os aspectos, principalmente a vida das
3 bilhões para o estado. Se eu colocar 10% disso,
pessoas. As vezes você faz um empreendimento,
em contrapartida, para viabilizar um pouco mais,
eu falo na área do banco, vai tirar de uma área
imagina que eu posso trazer para a economia
de risco para, as vezes, morar a 3, 4 quilômetros,
geração de emprego, renda, até garantir uma casa, que é o sonho das pessoas. Isso é uma lógica (...) Eu estou entrando em dois pontos de vista aqui, muitas vezes o assunto do parlamento tem sido trazido pelo próprio executivo. E a outra lógica que estamos nos aprofundando na questão habitacional é que não queremos apenas produzir a unidade habitacional, é outro tema interessante.
imagina o impacto que isso traz para a vida da pessoa. Às vezes, temos experiências disso aqui, tira uma pessoa que mora praticamente na miséria, dentro do rio, com esgoto, e ela não quer sair, prefere morar ali do que a 4 quilômetros em uma casa saneada. Acho que o parlamento cearense, enquanto parlamento, eu considero que ele avançou muito aqui no estado.
Não é só garantir que a pessoa tenha um teto,
HUMBERTO OLIVEIRA - Eu queria fazer uma
claro que isso é importante, mas e as outras
pergunta que complementa essa pergunta do
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Ivanilson. Eu vou fazer a pergunta de forma mais
e falta quem pense mais, quem cuide mais, quem
direta, se você puder responder. Eu queria saber é
formule mais. Acho que vocês podem dar uma
o seguinte: nós estamos fazendo um estudo e esse
contribuição muito forte nesse processo para a
estudo pretende, de fato mudar essa situação da
gente do Estado. E, da mesma forma, acho que
ruralidade, quer dizer, ter implicações na vida real
a gente precisa avançar nessa discussão em
e para isso vai ser necessário criar tanto políticas
relação a ruralidade. A gente procura fortalecer
públicas como novas regulamentações, novos
muito a relação federativa entre estado, União
marcos legais para tratar a questão da ruralidade.
e municípios. A gente tem a compreensão que
E você e o Nelson são dois deputados estaduais
no município as coisas acontece, no município
e, evidentemente, nos dá a esperança de que o
as pessoas se conhecem, no município tem a
Ceará possa ser um dos estados pioneiros a ter
possibilidade de acompanhar, fiscalizar, é lá que
uma legislação de ruralidade, seguindo, talvez,
a gente sabe quem é seu Joaquim, seu Pedro,
o exemplo nacional que está em discussão no
quem é o representante do sindicato, quem é o
Senado. Você vê essa possibilidade? Como isso
médico do hospital. Mas o termo da discussão
seria uma iniciativa do executivo como secretário?
dessa questão da ruralidade, dessa relação com
LEONILDE MEDEIROS - Posso pegar uma carona nessa questão, que vai na mesma direção? Esse pacto que você está falando supõe uma relação com as prefeituras, que é um ponto chave nessa discussão da ruralidade. Como vocês estão trabalhando nisso? Como estão vendo essa relação?
entre o urbano e o rural, nós precisamos avançar essa questão com vocês também. Dizer que não tem, estou exagerando, mas é muito pontual. IVANILSON GUIMARÃES - Nessa discussão vocês tem o apoio da universidade? CAMILO SANTANA - Eu acho que a universidade
CAMILO SANTANA - Primeiro acho que
tem. Acho que não tem problema ter o apoio, mas
temos todos os caminhos para construir esse
acho que não há o envolvimento das universidades.
pioneirismo no Ceará. No que depender do
Até porque dentro dessa lógica a universidade está
Nelson e da própria sensibilidade do governador.
se interiorizando. A universidade está presente,
Tem um olhar muito, acho que é totalmente
isso foi uma coisa importante para o Governo
possível e temos um caminho a construir, a gente
Federal criar os campos universitários. Além de
criar um ato legal com relação a essa questão.
ter um papel no centro urbano, ela tem um papel
Acho possível. Acho que apenas precisamos, e
muito forte no interior, hoje, principalmente, estou
vocês podem dar uma contribuição muito forte,
falando basicamente do Ceará, por falta de estar
porque falta um planejamento público dentro
presente. Sempre foi uma dívida muito grande para
da estrutura. As pessoas que estudem mais a
que as universidades, essa falta de integração com
questão, se aprofundem mais nisso. Repito, a
a sociedade, hoje ela está mais presente, do ponto
estrutura do estado, muitas vezes, é tão limitada
de vista geográfico, apostar em um envolvimento,
de pessoal que, as vezes, é ali atendendo o gerir
um engajamento maior nessa discussão. www.iicaforumdrs.org.br
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IVANILSON GUIMARÃES - Salientar alguma
incomodou, é o convívio no caso do agronegócio
coisa ainda, se quiser fazer algum acréscimo,
com a agricultura familiar, colocou-se assim.
alguma coisa que você ache importante.
Mas para mim a questão maior é que é mais
CAMILO SANTANA - Eu acho que a importância da discussão desse tema, eu acho que isso abre uma perspectiva futura, do ponto de vista de fortalecer mais o desenvolvimento dos municípios, quando eu falo município também são as cidades rurais, dos estados, para unir
que isso, na verdade, o agronegócio nem é só o agronegócio, ele é um grande negócio, um grande capital mundial, que está por trás de todas as coisas. É um modelo de desenvolvimento, vamos dizer assim, ele é o criador do migrador do rural, ele é algo destruidor, ele se apresenta na forma de agronegócio e que cria um vazio. Ele cria um
as políticas. Eu acho que as políticas precisam
vazio, não precisa de gente, é muito pouco, ele
estar e estão constantemente sendo analisadas,
se apresenta como urbano. E internaliza o rural
sendo reformuladas, ela é muito dinâmica. Eu,
na cidade e internaliza a cidade no campo, desse
particularmente, tenho um carinho grande por
jeito. É um tratamento de recursos, isso foi
essa questão, mas enquanto gestor, enquanto
colocado hoje no debate. Considera o território
estiver assumindo papel de tomador de decisão,
um depósito de recursos e, do outro lado, um
apesar de não ser o nosso superior, eu quero
espaço de organização da vida, da produção, da
poder colaborar um pouco. Nós somos uma
sociedade. Então, mudar isso, é você se colocar
passagem, mas eu quero dar uma contribuição,
para poder criar uma onda democrática capaz
poder colaborar nessa discussão e parabenizar
de por em questão isso nesse país. E que é uma
vocês todos.
questão de uma sociedade que, se isso não passar
HUMBERTO OLIVEIRA - Quem sabe nessa sua passagem você vá para um lugar que você possa tomar todas as decisões. IVANILSON GUIMARÃES - Eu acho que talvez seja importante tratar aqui, na continuidade desse diálogo qual é a importância que tem esse tema hoje para a sociedade e o que, como ele pode avançar e quais são, como eles veem, dentro da sociedade brasileira hoje, que esse tema pode ganhar volume e legitimidade na sociedade. Seria um pouco nesse sentido.
pela cidade não tem solução. Então, é questão de política de forças. Não tem jeito. Daí, como se cria isso? Dado que estamos, vamos dizer, em uma situação em que avançamos em termos de justiça social, bastante, em relação ao que era, mas não é sustentável em grande parte, depende desse desenvolvimento e o avanço é sobre o crescimento dele, não é distribuição da dívida. Você não está enfrentando a raiz da desigualdade e da exclusão, está enfrentando, impondo condições, cresce, mas tem que distribuir. De imediato cria uma sensação de bem estar. Como se levanta uma bandeira de desenvolvimento sustentável? Como vai levantar
CÂNDIDO GRYBOWSKI - Eu não sei por onde
na sociedade isso? Claro, nós estamos indo em
começar isso, mas uma coisa que quase não se
um desastre múltiplo, porque esse, voltando
falou aqui, e quando se falou foi de um jeito que me
ao campo, digamos assim, ele é totalmente
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insustentável, ele que está criando a secura, falta água, tá poluindo. Pega o oeste do Brasil, lá no Pantanal, é o maior desastre ecológico que estão fazendo lá. Em outros lugares, se falta água, nós já estamos reproduzindo aqui o que é a realidade, 25% dos rios ficam secos. O que significa isso? O estoque de água é um estoque dado, mas se o processo de chover, alimentar o aquífero, nascer, criar o sistema de bacias, chegar na terra e evaporar, ir para o mar e evaporar, formar nuvem, esse ciclo não está se reproduzindo mais, porque nós interferimos radicalmente nesse modelo. Inclusive, nas principais fontes de acidificação dos oceanos, que são a principal base de evaporação e a mata que foi destruída para fazer uma coisa homogênea, é outra fonte de evaporação, aí(...). Mas isso é um debate especialista, não é um debate. Como você faz? Nem vamos resolver justiça social e nem vamos resolver o problema da preservação das condições de vida, para gerações futuras. Nós estamos, hoje, criando injustiça com gerações pra frente, que os nossos netos vão ter filhos que não vão conseguir ter as mesmas condições que nós temos. LEONILDE MEDEIROS - Eu acho que é um desafio que essa afirmação traz é até onde vai a possibilidade de uma lógica de convívio, dependendo do agronegócio, nesse modelo que está se colocando, que não é mais urbanizado. O proprietário da terra, o proprietário das empresas, não é mais uma questão fundiária estritamente. Estão multilocalizados. Então, hoje quando falo do agronegócio estou falando de um proprietário que vive em São Paulo ou em outro lugar, mas que está articulado a uma cadeia cuja sede são múltiplas, então as grandes empresas, bancos envolvidos.
“
Para mim a questão maior é que é mais que isso, na verdade, o agronegócio nem é só o agronegócio, ele é um grande negócio, um grande capital mundial, que está por trás de todas as coisas. É um modelo de desenvolvimento, vamos dizer assim, ele é o criador do migrador do rural, ele é algo destruidor, ele se apresenta na forma de agronegócio e que cria um vazio. Ele cria um vazio, não precisa de gente, é muito pouco, ele se apresenta como urbano. E internaliza o rural na cidade e internaliza a cidade no campo, desse jeito.
”
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Então, é uma articulação muito complexa e que
IVANILSON GUIMARÃES - Eu queria fazer
tem colocado justamente, a lógica da agricultura
uma pergunta para vocês dois, então. Seria
familiar é extremamente perversa. O que eu acho
nesse sentido aí. Quando você fala forma de
que a gente tem caminhado muito na direção de
convivência, como vocês veem projetando isso
pensar em uma forma de convívio. Então, políticas
no tempo? Qual a estratégia, ele estava falando
para o agronegócio e políticas de tentativa de
de encontrar uma forma de convivência no
melhorar a situação desse vasto segmento, que
agronegócio tem que definir, como também no
a gente pode chamar de agricultura familiar.
desenvolvimento sustentável. A gente vai partir da
A meu ver essa é uma lógica muito perversa,
seguinte constatação: nós vamos ter que conviver
precisa, os agricultores familiares estão ficando
dessa forma, ou seja, não da forma atual, eu diria,
cada vez mais enrolados, ou em uma lógica de
mas que aperfeiçoamentos ou que forma de
integração com o agronegócio, que pega esse
convivência, que tipo de interferência que o estado
segmento mais enriquecido ou uma lógica de
vai prometer como desenvolvimento sustentável,
marginalização com relação ao agronegócio, aí
mas ao mesmo tempo que leva adiante as políticas
é estritamente dependente de políticas públicas,
de incentivo ao agronegócio. Como vocês projetam
com programas de crédito, programas de apoio,
isso no tempo?
para evitar, porque senão não tem como sobreviver. Isso cria um quadro, para mim, muito complexo e que tem dimensões para além da produtiva, pensando um pouco entre as dimensões, tem as dimensões ambientais, que está apontando, cuja dimensão também enfrenta dificuldade em
LEONILDE MEDEIROS - Veja bem, eu não estou falando de convivência necessária, o que eu falei é que hoje existe uma para não dizer convivência, é uma vivência lado a lado. É uma vivência que está de um lado o agronegócio incorpora o semeado dos pequenos agricultores, na sua
mensurar. E o que é assustador, ao meu ver é a
lógica, e transforma em mecanismo de consumo
capacidade de convencimento do seu poder, da
e produção. Agora, você tem uma quantidade
capacidade, da sua eficácia. E a sensação que eu
enorme, continua tendo uma quantidade enorme
tenho, o que eu acho que tem fundamento é o
de população que não tem espaço para sobreviver.
fato de cada vez mais estarem usando os meios
Então, quer dizer, em uma possibilidade de uma
de comunicação, os mais modernos meios de
convivência e de uma dupla política para um e
comunicação, penetrando. Você liga a televisão
para outro, é uma realidade política atual, é o que
no horário nobre da novela e você tem que ouvir a
existe, não estou dizendo que seja o melhor. Você
propaganda do agronegócio, o que ele produz, e
tem movimento, você tem uma possibilidade, você
com um discurso, inclusive, de cuidados. Então, é
tem possibilidades interessantes de resistência,
uma situação extremamente complexa, porque é
que você vê aparecendo tanto esse tipo, tentar
um poder que se auto alimenta, é uma capacidade
uma outra lógica de política, mas é um quadro
enorme de convencer as pessoas de que é o
complicado, porque a força dos segmentos que
modelo adequado.
tem é muito organizada. Houve momentos de
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fortalecimento muito grande, há momentos em que essa força reduz sua capacidade de se mobilizar na luta por melhores condições de produção e de condições de vida, para não tratar dessas populações estritamente de produtores, esse é o grande problema, não são produtores, são pessoas com condições. Isso é um pouco a lógica que tivemos até agora de tratar o rural, foi um pouco do que a gente falou hoje, que é lugar de produção e mais nada. As pessoas que vivem lá, no máximo nascem. CÂNDIDO GRYBOWSKI - Eu não quero ser tratado como cobaia como estão dizendo, isso é um termo que pega, todos envenenando contra eles. O agronegócio é puro veneno. Com uma questão nossa. Essa é uma questão de muitos, não é de pouca gente, como a contaminação por agrotóxicos também, estão enganando, sem provar que não estão enganando. Sabe, eu acho que teríamos espaços para desconstruir uma ideia de vitória. Você fala hoje em investir, vamos dizer,
“
A meu ver essa é uma lógica muito perversa, precisa, os agricultores familiares estão ficando cada vez
70 mil, são 70 mil produtores ou donos em 200
mais enrolados, ou em uma lógica
milhões de hectares e eles vem falar que índio
de integração com o agronegócio,
não merece ter 12% do território de 100 milhões,
que pega esse segmento mais
eles usam 200, e eles são muito menos. Isso é um
enriquecido ou uma lógica de
debate, esses caras que estão dizendo que tem
marginalização com relação ao
a solução, que não tem nem mais sentido esses debates, segurança alimentar, enfim, são coisas
agronegócio, aí é estritamente
de todos, não é, ou a água, quer dizer o consumo
dependente de políticas públicas, com
que eles fazem de água é absurdo. A destruição
programas de crédito, programas de
florestal que afeta o clima.
apoio, para evitar, porque senão não
LEONILDE MEDEIROS - É uma coisa absurda. HUMBERTO OLIVEIRA - Eu queria fazer um comentário sobre essa questão da formação da opinião pública na sociedade, sobre o laudo do
tem como sobreviver.
”
Leonilde Medeiros www.iicaforumdrs.org.br
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agronegócio, os modelos de produção. Nisso, eu
agora nenhuma explicação sobre a natureza
acompanho o pensamento do movimento que diz
disso, porque o avanço do agronegócio faz parte
que comer é um ato agrário, ao decidir o que come
da dinâmica dele. Eu não sei se entendi mal, mas
você toma uma decisão política de que modelo de
entendi como se fosse uma espécie de pacto em
produção você quer. Só que evidentemente isso é
que o agronegócio vai e os agricultores familiares
um debate que está presente em um grupo muito
estão aqui e vamos levando, como você disse, nos
restrito da população e, nesse aspecto, eu queria
próximos 50 anos não teria como mudar esse
saber a opinião de vocês. Como que o território
conceito. Primeiro eu acho que esse pacto de
pode, ou a definição de territórios rurais, pode
convivência não existe, a lógica do agronegócio
ajudar na convivência, do ponto de vista de você ter
é a expansão, enquanto a terra lhe for útil, for
territórios exclusivamente da agricultura familiar,
interessante, vai expandindo, de uma maneira ou
em modelos de agricultura familiar, enquanto ter
de outra. Se você for pensar o que acontece no
territórios reservados a produção do agronegócio?
Mato Grosso, toda área da soja no Mato Grosso,
Nesse aspecto ou na convivência de um mesmo
a forma como a situação se dá é uma coisa, é de
território, você ter áreas dedicadas a uma coisa e a
uma rapidez e de uma capacidade(...), no Mato
outra. O que eu sinto é que o desafio de enfrentar o
Grosso, no sul do Maranhão, no Piauí. É uma
agronegócio, com toda essa opinião da sociedade,
coisa espantosa, porque é uma disputa, que não
favorável, porque é o que percebe, é o que vê, é
dá para você (...). É complicado você dizer quer
um setor que produz alimentos, que alimenta a
ela vai se estabilizar em determinado ponto e
população do país, que exporta e gera divisas para
gerar algum tipo de convivência. Eu acho que a
o país, que tem importância na economia, porque em determinados momentos é responsável pelo crescimento econômico do país. Com toda essa opinião favorável, essa convivência me parece que, embora indesejável, ela vai ocorrer pelos próximos 50 anos, no mínimo, sem muita perspectiva de uma mudança mais radical. Então, o território, a organização de um pensamento sobre a opção de modelos agrícolas, a conexão entre territórios rurais e territórios urbanos poderia ampliar esse debate sobre as opções do que comer e do ato político de decidir-se por modelos agrícolas mais diversificados, em termos de produção, de produtos e de gente.
possibilidade dessa espécie de convivência em uma divisão de território, ao meu ver, é muito complicada. Agora, você tem a resistência, que tem momentos maiores, capacidade, momentos de recuo, mas politicamente você tem que apostar em receber assistência, porque eu não consigo, a médio prazo, uma espécie de convivência em territórios definidos. O agronegócio aqui, uma agricultura familiar aqui, como uma espécie de pacto de convivência. Então vai ocupando o que pode e quando pode, da maneira como pode. você viu hoje, por exemplo, toda essa discussão deles, em relação as áreas indígenas. Claro, porque cada área em risco, as reservas, de todo tipo, reservas indígenas, reservas florestais, cada assentamento,
LEONILDE MEDEIROS - Olha, eu acho o
cada viés que é criada, ela retira terra para onde
seguinte: hoje, nós temos uma convivência,
eles estão indo. Essa é uma, é só ver o que a
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CNA anda falando das suas publicações e no
não consegue ter maior expressão nessa relação.
convencimento, isso que me preocupa, essa
O problema, que eu vejo, mudou muito, mas, assim
insistência do convencimento da sociedade, é
como foi rápida a mudança, pode ser rápida a
muito preocupante. É o horário das oito, o horário
desconstrução. Não é pelo ser impossível que não
em que está todo mundo ligado. Então, atrás
pode ser possível. Hoje eu diria, sim, é possível,
disso se reproduzem as antigas disputas, que
não sei por onde começar, porque tem muitas
se acuam nesse agricultor familiar, populações
variáveis políticas, que foram mudadas nisso aqui.
indígenas e etc., populações tradicionais, todos
Quer dizer, eu vou pegar uma força importante,
em uma guerra permanente, que eu não vejo
mudar o sentido da resistência. Cadê ela? Cadê,
muita possibilidade de pacto de convivência. Eu
que no rural foi extremamente importante, mas
acho que os territórios estão, a política territorial
também nas áreas urbanas. Então, ter uma
é extremamente importante, mas para reforçar esses atores. No sentido de alimentar essa disputa, a convivência.
variável política também é importante. Quais os canais de você construir e disputar significados, porque seguindo, é uma questão de disputa de sentidos. Como você faz isso? É extremamente
CÂNDIDO GRYBOWSKI - Há um pacto do
complexa essa questão. Eu só acho que ela é uma
governo. Mas isso não explica a convivência. Então,
questão da sociedade, portanto é uma questão www.iicaforumdrs.org.br
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que se vamos ganhar, temos que ganhar também
que levá-lo de outro modo, mais imprudente.
na área urbana, não tem como ganhá-la com os
Bom, estamos fazendo. Até pouco tempo, eu
indiozinhos, não tem. Mas eu queria entrar nessa
diria, os riscos, já sabemos pelas experiências
disputa e começar por ela, eu acho que tem mais
consistentes, aqui é ainda mais inconsistente,
universalidade na resistência de quem resiste,
porque o preço que estamos pagando é um preço
uma mineradora que resiste a floresta homogênea,
abaixo de mesa, dando tudo para essa negociante
que resiste ao desmatamento, hoje passa a ser
do planeta, toda facilidade para poder funcionar.
catalogado como as coisas tem no futuro, como a favela. A mudança que tem na área urbana hoje, em função do impasse que estamos chegando, em um modelo de civilização, um carro é feito para não andar, isso aqui devia ser uma viagem de 10 minutos, não com esse trânsito, mas não dá para andar, porque olha. Então, nessas cidades que todo mundo diz que tem que voltar a convivência, voltar o compartilhamento, onde tem isso nas cidades? Na favela ainda tem. Até hoje foi negado o direito da cidade, até hoje preserva coisas do bem comum que é a cidade. Pois é, a resistência hoje, são mais de 1 bilhão de pessoas no mundo vivendo em favelas, então é uma urbanização. O que isso significa como ameaça a sociedade, esse modo de se organizar? São questões que a gente deveria encontrar politicamente na forma de construir. Nós somos pautados, esse é um problema, eu diria da nossa geração.
LEONILDE MEDEIROS - Agora, tem um dado novo nesse quadro que você está colocando e que eu concordo, que é o crescimento de uma percepção de riscos ambientais, que eu acho que pesa, que é uma percepção importante, está provocando a reorganização. CÂNDIDO GRYBOWSKI - Mas até nisso estamos perdendo, os caras estão aceitando negociar justiça ambiental com preservação ambiental. Eu vim de um encontro há uma semana, na Alemanha, que o tema era esse, encontrar as duas grandes redes que lutam por justiça social, porque estamos chegando a um impasse. Eles negociam basicamente com o governo e, sobretudo, com multinacionais, e daí impõem penas para nós. Em termos de justiça social, o comércio de carbono, o que é? É o direito de continuar poluindo e nós pagando a conta. Eles dizem que pagam para
As categorias que tínhamos para analisar, isso
a gente, não, eles economizaram, não vamos
não serve, elas nos levaram a isso. Nós somos
esquecer isso. E não querem pagar essa conta.
atores disso aqui. E foi progresso interno, se você
Mas os ambientalistas, com a história que
olhar a construção que levou a esse governo, com
precisa ser já, estão aceitando qualquer negócio.
essas políticas sociais mais inclusivas, se você
Então, para eles, Belo Monte, claro que é um
olha a história desse país é um baita progresso.
debate complexo, mas a hidrelétrica é melhor
Mas foi isso só que criamos ao nosso modo de
que termoelétrica, sim, e daí? Mas quem disse
ver, porque nós somos impulsionadores desse
que tem que fazer daquele jeito? Eu volto a uma
desenvolvimento da nação. A visão Marxista, que
tese, porque eu estou falando em tese, pegamos
formou na minha cabeça, era apostar nisso, só
exemplos de onde isso está menos desestruturado,
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ou nos debates que tivemos ontem e hoje. Que é
CÂNDIDO GRYBOWSKI - Acho que está nos
uma agricultura familiar um pouco estruturada,
faltando espaço de reflexão mais estratégica, um
com polos urbanos integrando e contabilizando
debate como esse, eu acho extremamente útil,
isso e etc. Comparando com a outra, como tem
mas ao mesmo tempo não sei de nada que está
áreas empobrecidas, que estão degradadas,
falando, a gente não fez um debate, foi uma mini
digamos assim, e as áreas socialmente vazias, foi
apresentação. Eu acho que a gente devia encontrar
a definição que hoje de manhã me deram. Se você
formas que essas questões aparecessem mais,
olhar nisso, a tese com uma maior relocalização
a gente conseguindo captar as diversas visões,
e territorialização é a única saída possível, porque
porque a gente está precisando criar uma espécie
você trazer a questão para o nível da gestão de
de corrente de pensamento. Estamos muito
onde as pessoas estão é a única maneira de
fragilizados para poder virar um polo de criação de
enfrentar, porque se você olhar a decisão do
agenda pública; que eu acho que a mais estratégica
agronegócio. Onde se faz? A Monsanto está
e onde mais perdemos, que foi capacidade disso na
onde? A Cargill, que controla 20% do comércio do
mídia, o espaço público criar notícia, fato, nós que
agronegócio, onde ela está? Ela está no governo,
estamos perdendo. Talvez priorizamos a posição
na OMC.
legislativa de alguma forma. Eu, pessoalmente,
HUMBERTO OLIVEIRA - Já estão no assentamento.
acho estrategicamente necessário isso, só que eu digo que quem dá condições para isso não é exatamente o Congresso, é o movimento na rua.
CÂNDIDO GRYBOWSKI - Pois é. Você trazer,
Também teria, estou falando das perspectivas
que é um complô de onde funciona, acontece.
sociais e civil, a gente deveria tentar trazer esse
Você trazer para mais perto e claro que isso como
debate, pautá-lo antes, como um debate público,
correlato você colocar em questão o porquê de
para poder, porque esse é o campo em que temos
exportar tanto assim. Eu uso um exemplo, acho
condição de derrotá-los redondamente, para daí
até que já usei aqui, que sentido tem, o Rio de
criar condições de mudanças, porque a mudança
Janeiro, um estado pequeno, nós usarmos uma
vai acontecer se houver mudança nas leis, nas
área irrigável do norte do estado para produzir
instituições, nas políticas. Mas usar o estado
etanol e para exportar, era essa a ideia, para
para democratizar isso, acho que tem como, para
importar frutas, quando nós somos um pomar no
mudar.
país. Tem sentido isso? Lá no Rio, que importa, lá tem 7% que come, podia produzir no quintal. Por que não produz? Nem agricultura familiar tem naquele estado. Agora, tem a grande plantação de cana. IVANILSON GUIMARÃES - Mais alguma colocação?
HUMBERTO OLIVEIRA - Eu quero dar destaque para a questão da diversificação dos atores desse debate sobre ruralidade. Eu penso que se deu um passo importante, a medida que abrimos um pouco para os não agrícolas se manifestarem e estarem presentes no 7º fórum. Essa é a única forma de ter perspectivas de alianças entre o www.iicaforumdrs.org.br
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urbano e o rural. Trazer esses atores sociais para esse desafio de colocar um tema desse, que pode ser organizador de um movimento que, como disse, pode conectar o ato de comer com o ato de produzir comida. O ato de comer como um ato de escolher qual o modelo de produção agrícola, de um papel para os territórios. Então, acho que esse aspecto da diversificação dos atores deveria ser uma linha de insistência no futuro dos nossos debates sobre o desenvolvimento rural, em uma perspectiva de uma nova ruralidade. LEONILDE MEDEIROS - Eu tendo a ver essas questões, não propriamente de uma maneira otimista, embora esse seja o momento em que a gente vê os movimentos sociais da sociedade civil, mas não só de uma posição de recuo, de falta de estratégia. Tem sinais aqui, há alguns
“
Essa é a única forma de ter perspectivas de alianças entre
sinais interessantes, que eu não sei para onde vão apontar, mas são, indicam alguns avanços. Esse encontro de agosto, dos povos, da floresta, enfim, para mim foi uma coisa interessante, juntar as diferentes vertentes do sindicalismo rural, o
o urbano e o rural. Trazer esses
movimento de sem terras, quilombolas, juntar
atores sociais para esse desafio
em um espaço para começar uma conversa.
de colocar um tema desse, que
Isso, há 10 anos, nem pensar, era impensável,
pode ser organizador de um movimento que, como disse, pode conectar o ato de comer com o ato de produzir comida.
eles estão percebendo uma dificuldade muito grande, o seu isolamento, as disputas internas e acho que há uma sinalização interessante, que é a seguinte: nós vamos continuar disputando, não vamos ser os mesmos, vamos continuar as brigas, mas há algumas coisas em comum
”
Humberto Oliveira
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que tem que ser estudada. Isso, para mim, me deu um alento, ler a documentação do encontro, ouvi muitos comentários a respeito, isso me dá um alento, porque há muitas possibilidades de postura, que eu não sei onde vai dar, se essa
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postura vai ocorrer ou não. Mas, efetivamente,
em que a gente desenvolve. A gente não rompe
conseguiu se sentar entorno de um grande
com a nossa história assim.
debate MST, quilombolas, grupos indígenas. Quer dizer, conseguiu sentar o pessoal, ficar dois dias juntos tentando discutir um conjunto de leis. Isso,
CÂNDIDO GRYBOWSKI - Eu acho que é uma coisa que não estamos discutindo mais, mas
para mim, abre uma perspectiva interessante,
nunca teve. O maior princípio para a democracia
sinal que eles estão começando a perceber as
está ligado a terra, hoje é a grande questão do
dificuldades, não é para unificar, mas unificar
mundo. A experiência de terra e concentração
entorno de algumas grandes questões, juntar
é a maior ameaça em escala planetária. Daí
entorno de algumas grande questões. Acho que
a gente tem uma coisa, eu não sei como, mas
isso, eu vejo como um sinal promissor, dentro
devia elaborar essa nova definição do rural
disso que você está falando, como reogarnizar
como uma questão de sociedade. Por exemplo,
essa forma de pensar. Como reorganizar uma
a Conferência do Desenvolvimento Rural em 2013
iniciativa política com um desenho de projetos
devia ter um espaço para o urbano. Que tipo de
políticos. Só para concluir, tem uma coisa que
sociedade queremos construir, dado que não tem
tem que ser pensada, acho que a lógica dos territórios aponta para isso, que é a oscilação rural e urbana, desgasta. Essa população que está morando no campo e trabalhando na cidade, a população que trabalha no campo não necessariamente é agrícola. Então, tem uma forma de pensar isso que se esgarçou. O que eu
sociedade sem terra. LEONILDE MEDEIROS - E não há urbano sem terra. CÂNDIDO GRYBOWSKI - Os grandes conservadores do patrimônio comum. Vamos ficar
ponho é que a gente repense nessas relações.
sem água na cidade, sem alimento. Acho que,
Isso já existe há alguma tempo, é difícil. Acho
nessa linha, uma redefinição que vocês também
que a gente continua muito falando de um rural,
estão querendo, é uma coisa que puxa para
embora a gente negue o rural agrícola, acho que,
transformar o cálculo em questão de sociedade,
no fundo, a gente tem o raciocínio nele mesmo. A
não como a questão que ainda está resistindo,
gente nega de um lado e afirma de outro na hora
ela também é deles, mas ela é de todos.
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