Mais um: eleição, escolha, imposição, ou pura falta de opção?

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Mais um: eleição, escolha, imposição ou pura falta de opção? Leandro Alves Rodrigues dos Santos*

A comunicação aqui proposta origina-se de minha experiência pessoal, portanto diretamente ligada ao conjunto de encontros, desencontros, laços, formação e dissolução de grupos, tentativas e desistências, atravessando um percurso que já chega perto de duas décadas. No que diz respeito especificamente ao cartel, sempre me interroguei pela dificuldade de implantação dessa invenção criada por Lacan, mais ainda, da quase inexistência dessa modalidade de trabalho na região onde atuo; nos limites do Grande ABC, ao lado da cidade de São Paulo. Meu objetivo é justamente problematizar de forma rápida essa constatação, tomando como mote para avançar nas questões que julgo pertinentes quanto ao que subjaz à indicação de um nome como “mais-um”, até mesmo antes do contato propriamente dito. Afinal, antes dessa definição mais ou menos formal, os três, quatro ou cinco participantes de uma empreitada que se pretenda nomear como um cartel inevitavelmente tem de se defrontarem com essa dúvida: quem ocupa esse lugar delicado? Por que ocupa? Como ocupa? Sendo assim, pergunto-me se com isso não se favorece – ou ao menos se potencializa – o surgimento de algo análogo ao que Freud (1921, p. 170) denuncia em seu clássico texto acerca do funcionamento grupal, sobre a psicologia das massas, que rege certa lógica de laço. Ouçamo-lo: Ora, muito mais resta a ser examinado e descrito na morfologia dos grupos. Teremos de partir do fato verificado segundo o qual uma simples reunião de pessoas não constitui um grupo enquanto esses laços não se tiverem estabelecido nele; teremos, porém, de admitir que em qualquer reunião de pessoas a tendência a formar um grupo psicológico pode muito facilmente vir à tona.

A partir desse alerta freudiano, ou ainda, em outras palavras e dito de outra forma, podemos com segurança nos perguntar se, por trás de uma “eleição” de um nome para esse lugar, não há o risco de surgimento de algum tipo de subordinação a uma *

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instância maior (concreta ou imaginária), ou seja, o “mais um” advir necessariamente de um grupo ou instituição, com o obvio e consequente risco dos efeitos de idealização, de uma verticalização nociva, fenômeno que considero ocorrer com relativa frequência na já citada região do Grande ABC. Fica então a pergunta; como minimizar esse risco e manter certa condição mínima de iniciação de um processo sabidamente complexo que é fazer surgir e funcionar um cartel, como proposto por Lacan, trata-se apenas de um ideal?

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA: FREUD, S. (1921). Psicologia de grupo e análise do ego. Tradução sob a direção de Jayme Salomão. Rio de Janeiro: Imago, 1987. (Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud, v. 18, p. 91-184).


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