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Arte e Inteligência Artificial. A ascensão das máquinas?

Ao longo dos últimos meses, várias tecnologias de Inteligência Artificial têm gerado milhões de imagens e músicas. Qual a relação destas “criações” com o mundo da Arte? E quais as consequências?

Em abril, o fotógrafo alemão Boris Eldagsen foi notícia em todo o mundo, ao recusar um prémio dos Sony World Photography Awards. A razão para esta recusa, explicou Eldagsen, residiu no facto de a imagem submetida a concurso ter sido gerada com recurso a tecnologias de Inteligência Artificial. O objetivo do fotógrafo era mesmo iniciar um debate sobre “o que queremos ou não considerar fotografia”, deixando uma pergunta: “Quantos de vocês sabiam ou suspeitavam que esta imagem tinha sido gerada com Inteligência Artificial?”

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O caso de Boris Eldagsen não é único. No verão de 2022, uma competição anual de arte nos Estados Unidos da América premiou um trabalho de Jason M. Allen que tinha sido criado com recurso ao programa de Inteligência Artificial Midjourney. “Ganhei e não quebrei nenhuma regra”, disse o artista ao The New York Times, “não vou pedir desculpas por isso”.

Ainda que a arte gerada através de Inteligência Artificial não seja uma novidade – há 50 anos, o pintor Harold Cohen desenhou um programa que criava pinturas geradas, por exemplo – o surgimento de soluções como DALL-E 2 ou Midjourney têm permitido a milhões de pessoas em todo o mundo gerar trabalhos artísticos a partir de um conjunto de palavras chave. Esta possibilidade tem levado ao debate sobre a ligação entre conceitos como arte, autoria ou criatividade.

“Mais uma ferramenta”

Parte do debate encontra na Inteligência Artificial um “aliado” para a arte. Como salienta Louis Anslow, na plataforma Freethink, a ligação entre tecnologia e arte não é nova. Recordando invenções como a prensa de Gutenberg, a fotografia ou até o sintetizador, Anslow sublinha que “a arte sempre foi o produto de novas técnicas – de desenhos nas paredes de uma caverna pincéis com tinta, de penas até aos processadores de texto”. O autor recorda a reação do poeta Charles Baudelaire à fotografia enquanto nova expressão artística. Em 1859, Baudelaire escrevia que se tratava de criatividade sintética, classificando a fotografia um substituto artificial e sintético para a verdadeira arte. “É uma noção que seria atraente na altura, tal como críticas semelhantes e atuais que são colocadas à arte gerada por Inteligência Artificial”, destaca Anslow. Dentro do próprio universo artístico, alguns sectores parecem abraçar as possibilidades criadas pela Inteligência Artificial enquanto “mais uma ferramenta”. Uma galeria de arte em São Francisco, nos Estados Unidos da América, apostou, no final de 2022, na criação de uma exposição de trabalhos criados ou inspirados por programas como o DALL-E. “É apenas mais uma ferramenta”, disse à CNN o fundador da galeria, Steven Sacks, sublinhando: “É um parceiro criativo brilhante”.

Artificial se baseiam em trabalhos já realizados, podendo copiar ou emular traços ou elementos característicos de autores.

Esta é uma dinâmica que fica sobretudo clara em novas tendências como as “AI Covers” – versões de músicas criadas por Inteligência Artificial que emulam as vozes de artistas a interpretar temas de outros autores. É possível, por exemplo, ouvir Kanye West a cantar Coldplay ou Michael Jackson a Interpretar Blinding Lights de The Weeknd, entre muitos outros. A mesma preocupação já levou grandes estúdios como a Universal a destacar como “as plataformas devem parar de ingerir conteúdo que viola os direitos de artistas e outros criadores”. “[Isto] prejudica os artistas”, destacou um porta-voz do grupo ao Finantial Times.

Rage Against The Machine

Por outro lado, a massificação da criação de imagens a partir de inteligência artificial tem levado alguns grupos a chamar a atenção para possíveis consequências. A campanha #NotoAIArt tem recebido várias contribuições nas redes sociais, nomeadamente de artistas de todo o mundo. Uma das questões levantadas por vários artistas é a forma como estas tecnologias de Inteligência

Para além das questões ligadas à autoria, há quem reflita também sobre a própria essência da arte e do processo criativo. O ilustrador britânico Rob Biddulph, por exemplo, disse ao The Guardian considerar que o conceito de arte gerada por Inteligência Artificial é algo “sem sentido”. “É o exato oposto do que acredito ser arte”, realçou, explicando que, na sua opinião, “arte consiste em traduzir alguma coisa que sentes internamente para qualquer coisa que existe externamente”. “Em qualquer forma artística, a verdadeira está muito mais ligada ao processo criativo do que à peça final”, reforçou, concluindo: “E pressionar um botão para gerar uma imagem não é um processo criativo”

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