Via Sacra

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Via Sacra ACR/CNE – 24/03/2013

I ESTAÇÃO: JESUS É CONDENADO À MORTE V/ - Nós Vos adoramos e bendizemos, ó Cristo. R/ - Que pela Vossa Santa Cruz remistes o mundo. Disse-lhes Pilatos: “Que hei-de fazer então de Jesus chamado Cristo?”. Eles responderam: “Seja crucificado!”. E ele acrescentou: “Mas que mal fez Ele?”. Eles então gritaram mais forte: “Seja crucificado!”. Então soltou-lhes Barrabás e, depois de ter feito flagelar Jesus, entregou-O aos soldados para que fosse crucificado (Mt 27, 2223.26). Meditação: Senhor Jesus, vejo-Vos caldo diante de uma multidão raivosa que Vos calunia acusando-Vos de muitas coisas. À fúria daquela multidão contrapõe-se a vossa serenidade. Perante o vosso silêncio, eles gritavam mais e mais, porque o vosso silêncio, feito de inocência, se tornava cada vez mais incómodo. Que exemplo para a minha vida! Às vezes, acusado injustamente, reajo e protesto com indignação porque me sinto inocente. Quão pouco me pareço convosco o único Inocente injustamente acusado! Dai-me, Senhor, a graça de saber calar naqueles momentos em que o silêncio da inocência grita mais alto que as palavras exaltadas dos caluniadores. V/ - Tende compaixão de nós, Senhor! R/- Tende compaixão de nós! Pai nosso.

II ESTAÇÃO: JESUS CARREGA A SUA CRUZ V/ - Nós Vos adoramos e bendizemos, ó Cristo. R/ - Que pela Vossa Santa Cruz remistes o mundo. Então os soldados do governador, levando Jesus para o Pretório, reuniram toda a corte. Despiram-n’O e puseram-Lhe uma capa escarlate e, tecendo, uma coroa de espinhos, puseram-lha na cabeça e uma cana na mão direita; e depois, enquanto se ajoelhavam diante d’Ele, faziam troça, dizendo: “Salve, rei dos judeus!”. E cuspindo n’Ele, tiraram-Lhe a cana e batiam-Lhe com ela na cabeça. Depois, despiram-Lhe a capa escarlate, vestiram-n’O com as suas vestes e levaram-n’O para O crucificar (Mt 27,2731). 1


Meditação: Senhor Jesus, como se me torna difícil aceitar a cruz da vida. Ela parece-me sempre demasiado pesada para as minhas débeis forças. Por vezes, assaltame o pensamento que ela seria boa para tal ou tal pessoa que nada sofre. Ou então atrevo-me a perguntar porquê? Que mal fiz eu para carregar uma cruz tão pesada? Ao ver-Vos de cruz às costas também posso perguntar: que mal fizestes, Senhor, para sofrerdes tal castigo? Mas a resposta já me tinha sido dada pelo Profeta Isaías: “Ele tomou sobre si as nossas enfermidades e carregou os nossos sofrimentos… Foi castigado pelos nossos crimes e esmagado pelas nossas iniquidades”. Senhor Jesus, dai-me a graça de levar a cruz do dia a dia, em silêncio, com espírito penitente e redentor. V/ - Tende compaixão de nós, Senhor! R/- Tende compaixão de nós! Pai nosso.

III ESTAÇÃO: JESUS CAI PELA PRIMEIRA VEZ V/ - Nós Vos adoramos e bendizemos, ó Cristo. R/ - Que pela Vossa Santa Cruz remistes o mundo. Quase no início da caminhada para o Calvário, diz a Tradição, que Jesus caiu. Aquele que tinha dito à filha de Jairo já morta “Menina, levanta-te”, que tinha ordenado ao jovem defunto, filho da viúva de Naim, “Jovem, eu te ordeno, levantate!” que mandara o paralítico levantar-se da enxerga…, estava ali caído por terra sofrendo em silêncio a humilhação daquela queda, enquanto alguns soldados, aos gritos, lhe ordenavam que se levantasse e outros, no meio da multidão, troçavam dele. Como já no Antigo Testamento, Isaías fazia referência ao rebento de Deus: “Ele carregou os nossos sofrimentos, tomou sobre Si as nossas dores como alguém que merece castigo, e é ferido por Deus e humilhado. Ele foi trespassado pelos nossos delitos, esmagado pelas nossas iniquidades. O castigo que nos dá a salvação, caiu sobre Ele; por Suas feridas nós fomos curados. Todos nós andávamos errantes como um rebanho, seguindo cada qual o seu caminho; O Senhor fez cair sobre Ele a nossa iniquidade” (ls 53,4-6). Meditação: Senhor Jesus, ensinai-me a lição do silêncio quando caio. Às vezes, assemelho-me às criancinhas que, quando caem, choram mais se notarem que alguém está a observá-las. Também eu me lamento mais quando a humilhação é conhecida e, por isso, se torna maior para mim. Vós, Senhor, sofrestes a humilhação da primeira queda no caminho do Calvário, no meio de um silêncio total. Nenhuma palavra,

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nenhum gesto a chamar atenção dos outros para Vós. Dai-me um coração semelhante ao vosso para que eu me habitue a sofrer em silêncio qualquer queda ou humilhação. Não permitais que eu ceda à tentação normal de querer chamar a atenção de todos para os meus problemas ou para as minhas quedas e humilhações. V/ - Tende compaixão de nós, Senhor! R/- Tende compaixão de nós! Pai nosso.

IV ESTAÇÃO: JESUS ENCONTRA A SUA MÃE V/ - Nós Vos adoramos e bendizemos, ó Cristo. R/ - Que pela Vossa Santa Cruz remistes o mundo. Há momentos tão importantes na vida humana como um olhar, um abraço ou um beijo que dizem mais que uma torrente de palavras. Foi assim o encontro de Jesus com a sua Mãe no caminho do Calvário. Num simples olhar, terno e silencioso, eles compreenderam-se, falaram-se longamente no mistério daquela hora de redenção. Um encontro silencioso por onde passaram os anos de Nazaré, o encontro no Templo entre os doutores, o trabalho de carpinteiro, o olhar embevecido da Mãe enquanto fiava na pobre oficina do filho… Naquele momento, como eram diferentes as situações… Tal como Simeão dizia na apresentação de Jesus no Templo de Jerusalém a seus pais: “Eis que este menino vai ser motivo de queda e elevação de muitos em Israel. Ele será um sinal de contradição, para que se revelem os pensamentos de muitos corações. Quanto a ti, uma espada trespassará a tua alma”. Sua mãe conservava todas estas coisas em seu coração (Lc 2,34-35.51). Meditação: Senhor Jesus, normalmente enunciamos esta estação com as palavras: “Jesus encontra sua Mãe”. Parece que a formulação devia ser outra porque foi a Vossa Mãe que procurou o encontro convosco. No entanto, isto vem dar razão à vossa Palavra que os místicos compreenderam tão bem: não me terias encontrado se eu não te procurasse primeiro. No silêncio desta Via Sacra peço-Vos, Senhor, a graça de me deixar encontrar por Vós na saúde e na doença, na alegria e na tristeza, nas horas de triunfo ou na subida ao Calvário. Que eu nunca me esconda de Vós atrás do muro das minhas tarefas, das minhas preocupações ou daqueles com quem convivo, com medo de me deixar tocar pelo vosso olhar sedutor. E que eu aprenda com a vossa Mãe aquilo que o evangelista São Lucas repete diversas vezes: “Maria guardava todas estas coisas no seu coração.”

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V/ - Tende compaixão de nós, Senhor! R/- Tende compaixão de nós! Pai nosso. Ave Maria.

V ESTAÇÃO: SIMÃO DE CIRENE AJUDA JESUS A LEVAR A SUA CRUZ V/ - Nós Vos adoramos e bendizemos, ó Cristo. R/ - Que pela Vossa Santa Cruz remistes o mundo. Ao saírem, encontraram um homem de Cirene, de nome Simão que voltava do campo e impuseram-lhe a cruz para a carregasse atrás de Jesus. Está patente a contrariedade que representou para Simão de Cirene levar a cruz de Jesus, mas, depois, numa caminhada silenciosa atrás de Jesus, Simão deixou de barafustar ou de pensar nas suas culturas, na casa, na família que o esperava… A presença daquele Divino Silencioso, que caminhava como um ébrio, impressionou-o. Aquele Jesus, cuja cruz ele carregava, era diferente. Chagado, com as vestes e o rosto manchado de sangue, era, segundo as palavras do Profeta, como ovelha levada ao Matadouro. Nem um queixume, nem a mínima atitude de revolta. Simão meditava e perguntava-se: porquê? E, ao fim de uma caminhada silenciosa, chegou ao Calvário convertido. Jesus disse aos Seus discípulos antes de partir para Jerusalém: “Se alguém quer vir após Mim, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz e siga-Me” (Mt 16,24). Meditação: Senhor Jesus, Vós não quisestes levar sozinho a cruz. Deste-nos a honra de a partilhar connosco para nos associarmos à vossa dor e, como dirá mais tarde o vosso apóstolo Paulo, de completar em nós o que falta à vossa Paixão. No silêncio desta estação da Via Sacra, quero agradecer-Vos a vida de tantos que é uma autêntica subida silenciosa ao Calvário levando, ajudados por outros, a cruz de cada dia: doentes sem esperança de cura, pais de família a braços com graves problemas, pessoas injustamente acusadas ou condenadas, aqueles em cuja inocência poucos acreditam, homens e mulheres que ao volante do seu carro, levam o peso de uma tremenda amargura e mais que a estrada, só vêem na sua frente barreiras de dificuldades. Senhor, na hora em que for detido no curso normal da vida para ajudar alguém a levar a sua cruz, que é também a vossa, eu aprenda a caminhar em silêncio atrás de Vós. Quem sabe se essa será, como o foi para Simão de Cirene, a ocasião de renovar a minha vida… V/ - Tende compaixão de nós, Senhor!

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R/- Tende compaixão de nós! Pai nosso. Ave Maria.

VI ESTAÇÃO: VERÓNICA ENXUGA O ROSTO DE JESUS V/ - Nós Vos adoramos e bendizemos, ó Cristo. R/ - Que pela Vossa Santa Cruz remistes o mundo. O gesto de Verónica é bem o retrato da timidez da alma feminina que, no momento próprio, se torna ousada, capaz de vencer obstáculos, para logo, em seguida, se afastar em silêncio, intimamente feliz por ter cumprido o seu dever. E a recompensa deste gesto silencioso não se fez esperar: o rosto de Jesus ficou impresso naquele pano. As pinturas que retratam esta cena dão-nos a entender que, antes de Verónica, foram os circunstantes os primeiros a verificar o milagre. Ela afastou-se em silêncio, com o pano desdobrado fitando o rosto de Jesus. O que verdadeiramente lhe interessava era aquele rosto que ela tinha enxugado e que irradiava uma imensa ternura. Tal como Isaías profetizava: “Não tem aparência nem beleza para atrair o nosso olhar, nem simpatia que nos leve a apreciá-l’O. Desprezando e rejeitado por todos, homem das dores, familiarizado com o sofrimento; como alguém diante do qual se esconde o rosto…” (ls 53,2-3). Meditação: Senhor Jesus, ensinai-me a difícil ciência de fazer o bem silenciosamente como dissestes no evangelho: não saiba a tua mão esquerda o que faz a direita. Ou como o traduziu a espiritualidade cristã numa conhecida máxima: o bem não faz barulho e o barulho não faz bem. Dai-me, Senhor, a simplicidade e o silêncio de Verónica. Ela, segundo a Tradição, não falou. Quem falou foi o vosso rosto impresso naquele pano e contemplado por muitos que assistiam à vossa subida ao Calvário. V/ - Tende compaixão de nós, Senhor! R/- Tende compaixão de nós! Pai nosso.

VII ESTAÇÃO: JESUS CAI PELA SEGUNDA VEZ V/ - Nós Vos adoramos e bendizemos, ó Cristo. R/ - Que pela Vossa Santa Cruz remistes o mundo. 5


A tradição Cristã, neste piedoso exercício da Vi Sacra, colocou três quedas no caminho de Jesus até ao monte do Calvário. É provável que, ao elaborar esta devoção, o seu autor tenha pensão nas três negações de Pedro em casa do Sumo Sacerdote. Num pequeno espaço de tempo, Pedro caiu três vezes. E cada vez que caía, mais falava, mais se colava à terra negando Jesus, chegando ao ponto de começar a praguejar. Como é diferente a atitude de Jesus ao cair pela segunda vez. (Silêncio absoluto). Um único desejo: cumprir a vontade do Pai, salvar a humanidade. No livro das Lamentações, do Antigo Testamento, fala-nos de um Homem das Dores que sofria: Eu sou o homem que conheceu a miséria sob a vara do seu furor. Ele me guiou e me fez andar nas trevas e não na luz… Murou os meus caminhos com pedras lavradas, obstruiu as minhas veredas… Ele quebrou os meus dentes com cascalho, estendeu-me na cinza (Lm 3,1-2.9.16). Meditação: Senhor Jesus, deixai-me escutar o silêncio desta vossa segunda queda. Após qualquer pequeno desequilíbrio, caístes por terra. Nem um “ai”, nem o menor lamento. Apenas se escutou o ruído das vossas vestes e do vosso corpo ao tombar. Como a minha vida é diferente. Quando caio, apresso-me a dar razões, a desculpar-me, a discutir convosco e, muitas vezes, a proclamar aos quatro ventos, a dizer a toda a gente, os motivos por que caí. Não sei aceitar a humilhação de uma queda em silêncio. Vós, o filho de David, que, dias antes, tínheis entrado triunfalmente em Jerusalém, estais agora prostrado por terra, humilhado, talvez chicoteado por soldados que Vos ordenavam: levanta-te! E a vossa única resposta foi o silêncio. Senhor, ensinai-me a lição de que o amor fala sempre mais alto que o ódio. Ensinai-me, a mim que sou orgulhoso, a lição da pequenez e da fragilidade. V/ - Tende compaixão de nós, Senhor! R/- Tende compaixão de nós! Pai nosso.

VIII ESTAÇÃO: JESUS CONSOLA AS MULHERES DE JERUSALÉM V/ - Nós Vos adoramos e bendizemos, ó Cristo. R/ - Que pela Vossa Santa Cruz remistes o mundo.

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Uma grande multidão O seguia, e as mulheres batiam no peito e lamentavamse por causa d’Ele. Jesus, porém, voltando-Se para as mulheres, disse: “Filhas de Jerusalém, não choreis sobre Mim, mas antes sobre vós mesmas e sobre os vossos filhos. Dias virão em que se dirá: Felizes as estéreis cujas entranhas nunca deram à luz e cujos seios nunca amamentaram. Pois se tratam assim o lenho verde, o que acontecerá com o seco?” (Lc 23,27-29.31). Nesta oitava estação, Jesus quebra o seu silêncio porque se tornava necessário advertir aquelas piedosas mulheres sobre a causa real sobre a causa real do seu sofrimento e sobre os males que estavam para vir. Meditação: Senhor Jesus, como me enche de confiança meditar que Vós pensais nos outros mesmo quando estais cercado de sofrimento. As lamentações daquelas mulheres levavam-Vos a pensar nos sofrimentos que estavam para se abater sobre a cidade de Jerusalém e a confirmar que estaríeis sempre com os que sofrem. Muito obrigado, Jesus, por estas palavras consoladoras da oitava estação da Via Sacra! Dai-me a graça de, perante o sofrimento, ser capaz de me sentir ao lado de todos os que carregam a sua cruz e de dizer, quando for necessário, a palavra oportuna. Que eu nunca me omita num silêncio cobarde quando é preciso denunciar, esclarecer, chamar a atenção ou repreender. Como Vós fizestes, Senhor Jesus, a longo da vossa vida e principalmente nesta oitava estação da Via Sacra. V/ - Tende compaixão de nós, Senhor! R/- Tende compaixão de nós! Pai nosso.

IX ESTAÇÃO: JESUS CAI PELA TERCEIRA VEZ V/ - Nós Vos adoramos e bendizemos, ó Cristo. R/ - Que pela Vossa Santa Cruz remistes o mundo. Quanto mais perto do Calvário, mais Jesus se sente sem forças. Caminha penosamente, embora já aliviado do peso da cruz por Simão de Cirene. Cada passo é um novo sacrifício. O sangue que tinha perdido na bárbara flagelação e na coroação de espinhos, as duas quedas, o peso da cruz que transportou sozinho até ao encontro com o Cirineu… tudo fez com que Ele caísse mais uma vez. Alguns perante o quadro de dor d’Aquele condenado, chegaram a pensar que tinha desfalecido, que acabava ali mesmo a história daquela condenação à cruz.

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Ao vê-lo prostrado por terra houve um breve momento de silêncio tanto da parte dos que O acompanhavam como dos próprios soldados. Só um coração duro como a pedra não sentiria um assomo de compaixão diante Dele. Após uns segundos de total imobilidade e de silêncio Jesus fez esforço para se levantar. Teve talvez até a ajuda da mão de algum soldado porque era preciso que Jesus chegasse ao local da execução com vida. Jesus terá olhado à sua volta com olhar magoado e, no íntimo da alma terá rezado esta pequena oração que sempre acompanhou durante toda a vida: “Eis, ó Pai, que venho para fazer a tua vontade.” Meditação: Senhor Jesus, mais uma vez admiro o vosso silêncio e a coragem que tivestes em Vos levantardes. Fosse eu o caído pela terceira vez, no caminho do Calvário, e teria utilizado as poucas forças que me restavam para levantar a voz e incriminar todos os que me tinham maltratado de maneira tão cruel. Vós não. Obrigado, Senhor, por me terdes dado esta lição de coragem a mim, que, quando me sinto abatido ou recaio no mesmo defeito, sou capaz de desabafar a sós comigo ou com os outros. Convosco, Senhor, quanto mais as dificuldades cresciam, mais aumentava a vossa vontade de nos salvar, de amar até ao fim. Obrigado , Senhor, por nos terdes amado com esse amor que foi mais forte que as vossas quedas e que as nossas muitas quedas provocadas pela fragilidade humana. V/ - Tende compaixão de nós, Senhor! R/- Tende compaixão de nós! Pai nosso.

X ESTAÇÃO: JESUS É DESPOJADO DAS SUAS VESTES V/ - Nós Vos adoramos e bendizemos, ó Cristo. R/ - Que pela Vossa Santa Cruz remistes o mundo. Depois de todas as afrontas que Jesus tinha sofrido (prisão, falsas acusações, farsa de julgamento, flagelação, coroação de espinhos, imposição da cruz, quedas…) faltava uma última, silenciosa mas muito mais dolorosa: o desnudamento. Este atrevido atentado ao pudor, feriu profundamente o coração de Jesus. No entanto, Ele suportou-o em silêncio. A dignidade de Jesus desnudado e a eloquência do seu silêncio, também aqui, gritaram mais alto que as vozes dos soldados desvairados ou que a multidão habilmente manipulada pelos inimigos.

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Foi ao acto supremo de despojamento daquele que sendo rico se fez pobre e que nos quis dar tudo, dando-se a si mesmo, tal como nos fala a Carta aos Hebreus: “pela sua morte expiou os pecados, cometidos no decorrer do primeiro testamento, para que os eleitos recebam a herança eterna que lhes foi prometida.(Heb. 9,15). Meditação: Senhor Jesus, dai-me a graça de me despojar de tanta coisa inútil, de tanta “armadura” que, como impedia de também a mim de combater o mal. Tornaime interiormente livre, desnudado da roupagem de afectos e projectos que não se coadunam com a vossa nudez na cruz. Obrigado, Senhor, por terdes aceite essa suprema humilhação, pela lição de silêncio que me estes quando me despojam do meu bom nome ou da aparência de boa pessoa em que sou tido. Obrigado pelo amor infinito que se desprende do vosso absoluto despojamento. V/ - Tende compaixão de nós, Senhor! R/- Tende compaixão de nós! Pai nosso.

XI ESTAÇÃO: JESUS É PREGADO NA CRUZ V/ - Nós Vos adoramos e bendizemos, ó Cristo. R/ - Que pela Vossa Santa Cruz remistes o mundo. No meio de um burburinho de vozes, de olhares curziosos e lágrimas nos olhos dos amigos, Jesus foi deitado sobre a Cruz. Depois de O crucificarem, fizeram um sorteio, repartindo entre si as suas vestes. E ficaram ali sentados a guardá-l’O. Acima da cabeça de Jesus puseram o motivo da sua condenação: “Este é Jesus, o Rei dos Judeus”. Com Ele forma crucificados dois ladrões, um à direita, outro à esquerda. E os que passavam perto, injuriavam-n’O, meneando a cabeça e dizendo: “… Se Tu és o Filho de Deus, desce da cruz!”. Também os chefes dos sacerdotes, juntamente com os escribas e os anciãos caçoavam d’Ele: “Salvou os outros, e não pode salvar-Se a Si mesmo. Se é o Rei de Israel, desça agora da cruz e acreditaremos n’Ele” (Mt 27,3542). Meditação: Senhor Jesus, chego a pensar que não há sofrimento como o meu: sofrimento físico ou sofrimento moral. Quando vejo outros ainda mais crucificados que eu, geralmente isso não passa de uma constatação passageira pois logo penso que eu é que sou a grande vítima necessitada de uma atenção particular.

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“A Vossa cruz permanecerá inseparável do vosso amor, como o vosso amor é inseparável da vossa pessoa”. Obrigado, Senhor, pelo vosso silêncio e pelo vosso amor! Quem ama, mesmo no meio dos maiores sofrimentos, não se queixa. V/ - Tende compaixão de nós, Senhor! R/- Tende compaixão de nós! Pai nosso.

XII ESTAÇÃO: JESUS MORRE NA CRUZ V/ - Nós Vos adoramos e bendizemos, ó Cristo. R/ - Que pela Vossa Santa Cruz remistes o mundo. Alguém afirmou que a Via Sacra é uma espécie de recapitulação da Vida de Jesus: a prisão, julgamento, condenação e caminho para o calvário seriam a sua vida oculta. As três horas de cruz seriam os três anos de vida pública. Perante o ódio dos inimigos, a serena calma do Mestre que tinha insistido que era preciso amar os que nos fazem mal e que se dirige ao Pai com uma oração breve mas de conteúdo imenso: “Pai, perdoai-lhes porque não sabem o que fazem!” Desde o meio-dia até às três horas da tarde fez-se escuridão em toda a terra. Pelas três horas, Jesus deu um grande grito: “Eli, Eli, lamá sabactâni?”, que significa: “Meu Deus, meu Deus, porque Me abandonaste?”… E Jesus, dando um grande grito, entregou o espírito dizendo “Pai, nas Tuas mãos entrego o meu espírito.”(Mt 27,4546.50). Meditação: Senhor Jesus, peço-Vos suficiente serenidade de espírito para rezar no meio da dor. É tão difícil rezar no meio da dor. É tão difícil rezar quando se sofre! Como Vós, quero sofrer em silêncio, perdoar, ter sede de levar a mensagem de salvação aos outros, pensar na Mãe que me destes, não me perturbar com o ruído que se faz ao meu redor nem com os comentários dos que me querem mal ou com as notícias que me trazem. Mais que nunca, nesses momentos, dai-me a graça de entrar na solidão do meu quarto e aí, Divino Mestre do Silêncio do Calvário, ensinai-me a fazer silêncio para entrar em contacto com o Pai. V/ - Tende compaixão de nós, Senhor! R/- Tende compaixão de nós!

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Pai nosso.

XIII ESTAÇÃO: JESUS É DESCIDO DA CRUZ E COLOCADO NOS BRAÇOS DE SUA MÃE V/ - Nós Vos adoramos e bendizemos, ó Cristo. R/ - Que pela Vossa Santa Cruz remistes o mundo. Após a morte de Jesus, a natureza quebrou o silêncio d’Aquele que tinha exalado o último suspiro. O Sol escureceu-se, o véu do templo rasgou-se em duas partes de alto a baixo, a terra tremeu, fenderam-se as rochas, os sepulcros abriram-se. A multidão apavorada afastou-se do Calvário. Quando os soldados, por mandato de Pilatos, se certificaram da morte de Jesus, um pequeno grupo de amigos desceu-o com todo o respeito da cruz. Como era natural e conta a Tradição, despuseram o cadáver ensanguentado nos braços da Mãe. Também ela, num silêncio cortado por algum suspiro, fixou aquele rosto desfigurado, acariciou-o com os olhos rastos de emoção e, ternamente, cerrou-lhes as pálpebras. Foi um velório silencioso e breve porque era a véspera do Grande Sábado. Meditação: Senhor Jesus, ao ver o respeito sagrado com trataram o vosso cadáver, eu penso na frieza e quase indiferença com que hoje convivemos com a morte. Os nossos velórios, muitas vezes, são ocasião de encontro para negócios, críticas ou convivência social. É certo que estão ali os restos mortais, mas aquele corpo, que foi templo do Espírito Santo, deve-nos merecer respeito. Senhor, ajudai-nos a agradecer o muito que destes àquele ou àquela cujo corpo está diante de nós e a rezar para que não leveis em conta qualquer falta sua, cometida mais por fragilidade que por maldade. Ao contemplar o vosso corpo descido da cruz, eu vejo a vossa última entrega aos homens depois de terdes entregado toda a vossa vida ao longo de trinta e três anos. V/ - Tende compaixão de nós, Senhor! R/- Tende compaixão de nós! Pai nosso.

XIV ESTAÇÃO: JESUS É SEPULTADO

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V/ - Nós Vos adoramos e bendizemos, ó Cristo. R/ - Que pela Vossa Santa Cruz remistes o mundo. Ao entardecer, chegou um homem rico de Arimateia, chamado José, que também se tornara discípulo de Jesus. Ele dirigiu-se a Pilatos e pediu-lhe o corpo de Jesus. Então Pilatos ordenou que lhe fosse entregue. José, tomando o corpo de Jesus, envolveu-O num lençol limpo e colocou-O num túmulo novo, que mandou escavar na rocha. Em seguida, rolou uma grande pedra para fechar a entrada do túmulo e retirou-se. Maria Madalena e a outra Maria estavam ali sentadas, defronte do sepulcro. Neste gesto parece transparecer, além do mais, a sua fé na ressurreição. Nem o facto de ser véspera do Grande Sábado, nem a Ceia Pascal as moviam. O que lhes importava era Jesus… e só Jesus. Ele era o centro das suas preocupações, a razão de ser das suas vidas. Meditação: Senhor Jesus, quando entro numa igreja e vejo, na penumbra do templo quase deserto, alguns poucos adoradores, em silêncio diante do vosso tabernáculo, acode-me à memória a cena de Maria Madalena e da outra Maria, silenciosas, sentadas defronte do túmulo, em Sexta-Feira Santa. Só que estes adoradores não diante do vosso túmulo mas diante de Vós, vivo e vivificador, nos sacrários das nossas igrejas. Mas o seu amor, ao fazer-Vos companhia, é o mesmo de Madalena e da outra Maria. Obrigado, Senhor, pelo vosso amor silencioso. Dai-me a graça de me parecer com Maria que Vos escutava em Betânia ou como estas duas Marias que ficaram sentadas lá, diante desse túmulo, que não foi capaz de encerrar o vosso amor infinito. V/ - Tende compaixão de nós, Senhor! R/- Tende compaixão de nós! Pai nosso.

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