Jornal Valor Econômico - 26/12/2016
As apostas certeiras de um vidente em 2016 Por John Authers | Financial Times
As festas de fim de ano estão aí e então é hora de a coluna "The Long View" voltar a visitar os escritórios da Retrospectiva Capital LLC. A Retrospectiva Capital, para quem não conhece, é o fundo hedge que ano após ano supera todos os outros porque tem o dom das previsões perfeitas; pode ver o futuro. Os retornos da clarividência são potencialmente infinitos, então há algumas restrições para nosso fundo: nenhuma empresa específica, nenhuma alavancagem e uma única oportunidade de mudar as posições no meio do ano (o que se mostrou muito útil em 2016). O fundo também pode apostar em ativos cujo preço vai cair, alugandoos e, então, vendendoos. Estes são os negócios que mais renderam em 2016: Mudança para Buenos Aires
A Retrospectiva Capital sempre muda a sede para o país com a moeda mais fraca, já que isso faz com que automaticamente os retornos pareçam melhores. Apesar da forte tentação de mudarse para Londres, onde o fundo já sabia que se votaria a favor da saída britânica da União Europeia, a Retrospectiva Capital escolheu a Argentina, cuja economia estava obviamente assolada por inflação e incertezas, mesmo depois de o novo governo, favorável aos mercados, ter promovido uma desvalorização deliberada no fim de 2015. O peso argentino era a moeda mais fraca do mundo. A Retrospectiva Capital comprou reais brasileiros (a moeda mais forte) contra o peso e ganhou 43,5%. Compre Brasil, venda China
O Brasil entrou no ano às voltas como uma crise política e econômica. Com manifestações nas ruas e uma presidente deparandose com o impeachment, a Retrospectiva Capital viu que era hora de comprar. A Bovespa subiu mais de 70% em dólares. Enquanto isso, a China uma economia muito mais saudável ainda tinha que lidar com as consequências do estouro da bolha do mercado acionário em 2015. Ficar vendido no índice Xangai Composto e investir os lucros na Bovespa rendeu 92,6% em dólares. Compre carvão, venda fontes de energia limpa
A conferência de Paris, em dezembro de 2015, foi um claro divisor de águas, depois de uma campanha contundente para diminuir o uso de combustíveis fósseis. A Retrospectiva Capital viu que a oportunidade de compra da "turma do contra" estava lá. Ficou vendida no índice S&P Global Clean Energy, que caiu, e comprou o índice Stowe Global Coal, cuja pontuação mais do que dobrou. Lucro resultante: 155,7%. Compre bancos dos EUA, venda bancos da região do euro
A região do euro nunca tomou as medidas necessárias para limpar o balanço patrimonial de seus bancos depois da crise. Por outro lado, ainda que aos trancos e barrancos, os Estados Unidos as tomaram. Com as taxas de juros extremamente baixas na Europa, vieram males extremos para os bancos da região do euro, enquanto os bancos dos EUA subiam impulsionados por Donald Trump. As duas operações combinadas deram lucro de 34,6%. A operação Brexit
Naturalmente, os gestores da Retrospectiva Capital previram o resultado do plebiscito no Reino Unido. Venderam libras esterlinas para comprar bitcoins, a volúvel cibermoeda que teve outra onda de alta em 2016. Quando chegou o fim do ano, a Retrospectiva Capital havia ganhado 118%.